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Informação independente para o uso racional de medicamentos Ano II Nº 01 - 2004

Não Apresenta Novidade: fármaco não oferece


Butoconazol vantagem em relação aos existentes

Evidências clínicas: A candidíase vulvovaginal (CVV) é predominantemente causada pelo fungo Candida albicans
e, ocasionalmente, por outras espécies. Estima-se que 75% das mulheres terão pelo menos um episódio de CVV
durante a vida; entre 10 e 20% terão a forma complicada da doença. Os compostos imidazólicos são os mais
efetivos no tratamento da CVV, promovendo alívio dos sintomas/sinais e cura microbiológica em 80 a 90% das
pacientes. As formulações tópicas para tratamento de curto-prazo (1 e 3 dias) tratam adequadamente a forma não-
complicada de CVV. A candidíase vulvovaginal recorrente (CVVR) e outras formas graves requerem tratamento
tópico de maior duração (7 a 14 dias). Em estudo envolvendo 709 pacientes, Brown D et al. (1986) compararam o
butoconazol (creme vaginal, 1 e 2%, por 3 e 6 dias) ao miconazol (creme vaginal, 2%, por 6 dias) e ao placebo,
com seguimento de até 30 dias após o tratamento. Este estudo não apresentou diferença estatisticamente significativa
na eficácia dos antifúngicos. O butoconazol 2%, administrado por 6 dias, apresentou para o índice terapêutico
combinado (cura microbiológica + clínica): *NNT = 21,7 (**IC 95%: 15,7–29,9); ***RR = 0,9 (IC 95%: 0,65–1,24;
p = 0,527). Em 1999, Brown D et al. publicaram resultado de outro estudo que comparou o butoconazol 2% creme
vaginal, em dose única, ao miconazol 2% creme vaginal, por 7 dias. Neste estudo o butoconazol apresentou
eficácia inferior ao miconazol e os dados obtidos também não foram estatisticamente significativos. Ambos os
estudos apresentaram deficiências metodológicas importantes. O uso do butoconazol, em creme a 2%, por 3 ou 6
dias, é eficaz no tratamento da CVV (recomendação grau B); contudo, ainda não há evidências suficientes de sua
equivalência ou superioridade terapêutica em relação a outros imidazólicos já disponíveis. Embora apresente melhor
comodidade posológica, que pode influenciar na observância ao tratamento, a formulação para dose única (Gynazole-
1®) não foi suficientemente testada e apresenta custo de tratamento 75% a 338% superior às demais alternativas
disponíveis, que incluem produtos genéricos do miconazol e clotrimazol.
*NNT= Número Necessário para Tratar **IC= intervalo de confiança ***RR= Risco Relativo

Classificação ATC: G01AF15 – Antiinfecciosos Contra-indicações: Hipersensibilidade ao butoconazol ou


ginecológicos (antifúngico).1,2 a qualquer dos excipientes do produto, diabetes, teste
positivo para o vírus da imunodeficiência humana (HIV) ou
Registro no Brasil: Gynazole-1® (Sigma Pharma Ltda); portador da síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA)
creme vaginal 2%, embalagem com um aplicador com 5 g.3 e gravidez (1º trimestre).5
Registro em outros países: A formulação para aplicação Reações adversas: Nos ensaios clínicos com Gynazole-
em dose única (Gynazole-1®) está disponível apenas no 1®, em dose única, das 314 pacientes tratadas, 18 (5,7%)
Brasil e nos EUA. A formulação para administração em 3 relataram queixas como ardência vulvar/vaginal, prurido,
e 6 dias está disponível em diversos países: Femstal® edema, dor ou cãibra pélvica ou abdominal, ou uma
(México), Femstat® (Argentina, Chile, Equador),
combinação de dois ou mais destes sintomas/sinais. Em
Gynomyk® (Bélgica, Holanda, França, Marrocos).1,4,5
3 pacientes (1%), estas queixas foram correlacionadas
Descrição: O butoconazol é um agente antifúngico ao tratamento. Cinco das 18 pacientes que relataram
imidazólico.4,5,14,15,16 eventos adversos interromperam o estudo. As reações
adversas mais relatadas com o uso intravaginal do
Indicações: O butoconazol está indicado no tratamento butoconazol creme a 2%, por 3 e 6 dias, foram: queimadura
de candidíase vulvovaginal.5,6,14,15,16,17,18 vulvar/vaginal (2,3%), prurido vulvar (0,9%), eliminação de
secreção, dor e edema (0,2%). Nove pacientes (1,6%)
Precauções: O uso do butoconazol deve ser interrompido deixaram o estudo devido a eventos adversos. Um odor
se ocorrer irritação ou sensibilização no local da aplicação. desagradável foi relatado em até 20% das pacientes.
O butoconazol não deve ser administrado em caso de dor 4,5,14,15,17,18
local, febre ou presença de secreção de odor desagradável.
As preparações intravaginais de butoconazol podem Gravidez e lactação: King et al. (1998) relataram uma
danificar contraceptivos de látex, masculino ou feminino, incidência de 2,9% de malformações em 1167 exposições
requerendo o uso de outras medidas contraceptivas ao butoconazol durante o primeiro trimestre da gravidez.
adicionais durante sua administração. 4,5,6 Nenhum efeito adverso foi observado nas mães ou fetos,
Evidência Farmacoterapêutica Ano II Nº 01 - 2004

com o uso do antifúngico por 3 a 6 dias, em estudos clínicos 2. Norwegian Institute of Public Health. WHO Collaborating Centre for Drug
Statistics Methodology. ATC/DDD Index 2003. Acessado em 11.03.2004:
envolvendo 200 grávidas, no segundo ou terceiro trimestre http://www.whocc.no/atcddd/
da gravidez. A FDA, EUA, enquadra o butoconazol na 3. PRVS. Produtos e Resoluções em Vigilância Sanitária. São Paulo: Optionline,
categoria C quanto ao risco na gravidez.5 versão 1.4.3, 2004.
4. Butoconazole. In: Sweetman S (Ed), Martindale: The Complete Drug Reference.
London: Pharmaceutical Press. Electronic version, MICROMEDEX, Greenwood
Interações medicamentosas: O efeito inibitório dos Village, Colorado, Vol. 119, 2004.
antifúngicos imidazólicos sobre o citocromo P450 3A pode 5. Butoconazole. In: Hutchison TA & Shahan DR (Eds): DRUGDEX® System.
promover potencialização dos efeitos dos MICROMEDEX, Greenwood Village, Colorado, Vol. 119, 2004.
6. Butoconazole nitrate. In: BIAM (Banco de dados de medicamentos da França).
benzodiazepínicos. Embora não haja relato de problema Acessado em março 2004: http://www.biam2.org/www/Sub373.html
desta natureza relacionado ao uso do butoconazol tópico, 7. Brown D, Henzl MR, Kaufman RH, Bowes W, Chichester D, Copper J, et al.
esta possibilidade não deve ser descartada.5 Butoconazole Nitrate 2% for Vulvovaginal Candidiasis. The Journal of
Reproductive Medicine 1999; 44(11): 933-8.
8. Nava EH, Castañeda RB, Escalona S, Gutierrez M, Lopez GZ. Nitrato de
Mecanismo de ação: O butoconazol produz seu efeito
butoconazol en candidiasis vulvovaginal. Estudio comparativo con clotrimazol.
antifúngico pela ação na membrana celular, inibindo a Ginecología y obstetricia de México 1988; 56: 138-42.
biossíntese do ergosterol ou outros esteróis, alterando a 9. Fiesco AL, Ruíz AA, Romo LM, Zamora G. Efficacy of butoconazole nitrate
in the treatment of vulvo-vaginal candidiasis compared with clotrimazol and
permeabilidade, o que resulta na redução da resistência
isoconasol. Proc. West. Pharmacol. Soc 1993; 36:185-8.
osmótica e viabilidade dos fungos. Ensaios in vitro 10. Ruf H, Vitse M. A comparison of butoconazole nitrate cream with econazole
demonstraram atividade contra Candida albicans, Candida nitrate cream for the treatment of vulvovaginal candidiasis. The Journal of
tropicalis, Candida spp, Trichophyton spp, Microsporin spp International Medical Research 1990; 18:389-99.
11. Weinstein L, Henzel MR, Tsina IW. Vaginal retention of 2% butoconazole nitrate
e Epidermophyton spp5 cream: Comparison of a standard and a sustained-release preparation. Clinical
Therapeutics 1994; 16(6): 930-4.
Farmacocinética: A resposta terapêutica inicial, em 12. Anonymous. The Medical Letter 2001; 43(1095): 3-4.
candidíase vaginal, ocorre em 3 a 5 dias. A absorção pela 13. Reef SE, Levine WC, McNeil MM, Fisher-Hoc S, Holmberg SD, Duerr A, Smith
D, Sobel JD, Pinner RW. Treatment options for vulvovaginal candidiasis.
mucosa vaginal é da ordem de 5,5%. Cerca de 2,7% da Clinical Infectious Diseases 1995; 20 (Supplement 1): S80-S90.
dose administrada são excretadas na urina e 2,8% nas 14. Bradbeer CS, Mayhew SR & Barlow D: Butoconazole and miconazole in treating
fezes. Sua meia-vida de eliminação varia entre 21 e 24 vaginal candidiasis. Genitourin Med 1985; 61:270-2.
15. Adamson GD, Brown D Jr, Standard JV et al: Three-day treatment with
horas.4,5 butoconazole vaginal suppositories for vulvovaginal candidiasis. Journal Reprod
Med 1986; 31:131-2.
Posologia: A dose recomendada de butoconazol, creme 16. Droegemueller W, Adamson DG, Brown D et al: Three-day treatment with
a 2%, para tratar candidíase vaginal é de 5 g, pela via butoconazole nitrate for vulvovaginal candidiasis. Obstet & Gynecol 1984;
64:530-4.
intravaginal, ao deitar, por 3 dias. Se necessário, este 17. Brown D Jr, Henzl MR, LePage ME et al: Butoconazole vaginal cream in the
esquema pode ser repetido. Em gestantes (2º e 3º treatment of vulvovaginal candidiasis: comparison with miconazole nitrate and
trimestres), a duração do tratamento deve ser de 6 dias.4,5 placebo. Journal Reprod Med 1986; 31:1045-8.
18. Jacobson JB, Hajman AJ, Wiese J et al: A new vaginal antifungal agent -
O fabricante do Gynazole-1® recomenda a aplicação do butoconazole nitrate. Acta Obstet Gynecol Scand 1985; 64:241-4.
produto em dose única.19 19. Gynazole-1®. In: PDR®. Physicians’ Desk Reference. MICROMEDEX,
Greenwood Village, Colorado, Vol. 119, 2004.
20. Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico. Revista ABCFARMA. Ano
Referências bibliográficas 12, Nº 151, Março/2004.
1. Butoconazole. In: Hutchison TA & Shahan DR (Eds): INDEX NOMINUM®.
MICROMEDEX, Greenwood Village, Colorado, Vol. 119, 2004. Útima Revisão: 04.05.2004

Novidade Terapêutica Especial: fármaco eficaz para uma situação clínica que não possuía
tratamento medicamentoso adequado.
Melhora Terapêutica de Interesse: fármaco apresenta melhor eficácia e (ou) segurança em
relação aos existentes.
Utilidade Eventual: fármaco oferece modesta vantagem em relação aos existentes. Pode ser
útil em alguma situação clínica eventual.
Não Apresenta Novidade: fármaco não oferece vantagem em relação aos existentes.
Experiência Clínica Insuficiente: os ensaios clínicos e a literatura disponível sobre o
fármaco são insuficientes e não permitem estabelecer conclusões significativas

Realização: Apoio:
Conselho Regional de Farmácia do Distrito Federal
Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal
Associação Médica de Brasília

O boletim Evidência Farmacoterapêutica é uma publicação bimensal elaborada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) - Centro Brasileiro de Informação sobre
Medicamentos (Cebrim). O objetivo desta publicação, de caráter orientativo, é fornecer informações independentes que favoreçam a utilização racional dos medicamentos
novos. As informações contidas neste boletim devem ser submetidas à avaliação e à crítica do prescritor, responsável pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado
clínico de cada paciente. Coordenação: Dr. Rogério Hoefler. Consultores: Dr. Aroldo Leal da Fonseca, Dr. Carlos Cesar M. Schleicher, Dr. Carlos Cezar Flores Vidotti, Dra. Emília
Vitória Silva, Dra Isabela Judith Benseñor, Dra. Liana Holanda Leite, Dr. Marcus Tolentino Silva, Dr. Mauro Birche de Carvalho, Dr. Tarcísio José Palhano. Estagiária: Amanda
Alves Ferreira. Informações adicionais: End: SBS Quadra 01 Bloco K Ed. Seguradoras 8º andar Brasília - DF 70093-900; Tel: (61) 321-0555 / 321-0691 Fax: (61) 321-0819;
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