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SOLOS APLICADA
Cleber Floriano
Aspectos teóricos de
estabilidade de taludes,
seus métodos de cálculo
de estabilidade e
considerações gerais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Neste capítulo, vamos conhecer os tipos de movimentos de massa asso-
ciado ao seu mecanismo especialmente para os taludes e encostas de solo.
Você vai entender alguns métodos de equilíbrio limite que possibilitam
calcular o fator de segurança de um talude. Por fim, veremos como verificar
a estabilidade de uma massa sujeita a ruptura planar.
Figura 1. Exemplo de movimento de massa numa rodovia do Rio Grande do Sul (Foto
de 2015).
Características do movimento,
Processos material e geometria
Características do movimento,
Processos material e geometria
Tipo de
movimento Representação
de massa Exemplo na natureza tridimensional
Rotacional
Planar
Translacional
Tipo de
movimento Representação
de massa Exemplo na natureza tridimensional
Rolamento
Tombamento
(queda)
Escoamentos
e rastejos
Tipo de
movimento Representação
de massa Exemplo na natureza tridimensional
Corridas de Detritos
Estado: fluido
Noção de escala de
Velocidade:> 3,0m/s
Tipo de material:
solos de superfície.
Diversas rupturas
Figura 14. Timbé do Sul (1995). Figura 15.
se encontram em
Fonte: Bressani (2009). Fonte: Adaptado de USGS
um talvegue (onde
(2006).
forma-se a corrida
de detritos)
Movimento rotacional
Os movimentos rotacionais são típicos de solos homogêneos, sendo mais
comuns em aterros. Em solos residuais, ocorrem quando as estruturas reli-
quiares (de origem da rocha) foram apagadas pelo intemperismo avançado. São
geralmente lentos, com diagnóstico precoce, pois evidenciam com surgimentos
de trincas e abatimentos no topo, bem como deformações e soerguimentos na
base. A Figura 16 mostra que o mecanismo de movimento rotacional está rela-
cionado a uma superfície potencial de ruptura circular, ou seja, esta superfície
apresenta um centro e um raio de giro (R). Você deve estar se perguntando
o motivo da superfície ser circular? Ocorre um equilíbrio natural entre uma
superfície de cisalhamento (resistência ao cisalhamento) e o peso de solo.
Embora o problema, na prática, seja tridimensional, a análise de estabili-
dade pode ser realizada com uma largura infinita ao plano ortogonal à página
252 Mecânica dos solos aplicada
Onde:
FS - é o fator de segurança.
Wi - é o peso de cada fatia.
αi - é o ângulo da base da fatia com a horizontal.
μi - é o valor da poro-pressão na base da fatia.
bi - é a largura da base da fatia.
c’ i - é a coesão do solo na base da fatia .
Planar
Ocorrem em camadas permeáveis, mais porosas e pouco espessas de solo,
geralmente associadas às encostas íngremes, portanto, típicas de solos coluvio-
nares e/ou residuais sobre um maciço mais resistente. O movimento de massa
Aspectos teóricos de estabilidade de taludes, seus métodos de cálculo de estabilidade ... 255
tem como gatilho o fluxo de água nesse meio que pode ser paralelo quando
a camada abaixo é bem menos permeável que a camada rompida, e pode ser
perpendicular quando a camada abaixo é muito mais porosa ocorrendo o que
se conhece- por artesianísmo. As rupturas podem ocorrer também através
de uma contribuição por artesianismo (fonte) devido ao tipo de estrutura do
material. Os movimentos planares podem ser divididos em rupturas encaixadas
e amplas. Sendo que a ruptura encaixada leva em conta a contribuição da
resistência ao cisalhamento das laterais, e a ampla somente da base de contato
com a camada rompida. A definição do mecanismo de ruptura segue a relação
de equilíbrio de forças na consideração de um talude infinito. A Figura 18
mostra os dois tipos de potenciais de ruptura planar.
Onde:
FS - é o fator de segurança.
hs - é a altura da camada de solo.
γ - é o peso específico do solo (considera-se o peso específico
natural).
hw - é a altura da superfície de água, cuja a direção de fluxo é
paralela ao talude.
γ w - é o peso específico da água (no sistema internacional de
unidades considera-se 10 kN/m³).
φ - é o ângulo de atrito interno do solo.
β - é o ângulo do talude com a horizontal.
c’ - é o valor da coesão do solo.
Aspectos teóricos de estabilidade de taludes, seus métodos de cálculo de estabilidade ... 257
Note que para solos puramente arenosos e sem presença de umidade, tem-
-se c’=0 e ru=0, assim, a expressão torna-se uma razão entre ângulo de atrito
interno e ângulo do talude:
Onde:
Onde:
258 Mecânica dos solos aplicada
Pesquise mais sobre o efeito da direção de fluxo de água. Busque entender o fenômeno
de artesianismo que pode acontecer em alguns taludes sujeitos a rupturas planares
com a base pouco impermeável. Imagine que fluxo de água deixa de fazer um caminho
paralelo à base e passa a ser horizontal. Esta é uma situação pior ou melhor para a
segurança do talude?
Se o fluxo for vertical, como se a água da chuva percorresse um caminho vertical e
o solo da base fosse tão poroso que infiltrasse a água percolada. Esta é uma situação
pior ou melhor para a segurança do talude?
Movimentos translacionais
Este tipo de movimento está relacionado à existência de planos com resistência
menor devido à formação e constituição do maciço. Estes movimentos, por-
tanto, ocorrem em planos de disjunções, estratificações, xistosidades e até de
bandeamentos, que podem também perder resistência pela diferenciação da
velocidade de alteração do maciço. Em geral, o mecanismo é disparado pela
saturação e elevação de poro-pressão na base e/ou em juntas verticalizadas
de contribuição. O movimento translacional pode ocorrer em solos residuais,
rochas alteradas e também em contatos rochosos quando ocorrem combinação
favoráveis de planos de falha ou fratura da rocha. Neste último caso, pode
ocorrer um movimento translacional em dois planos guiado por um vertente,
conhecido como movimento em cunha.
Movimento de queda
A queda de massa corresponde à queda livre de um fragmento por conta de
um desprendimento do maciço. Isso ocorre em alteração diferencial em taludes
muito verticalizados, como nas rochas sedimentares de deposição rítmica.
Mas também pode ocorrer em outros tipos de maciço onde a combinação de
planos de falhas e fraturas propiciam o tombamento.
Aspectos teóricos de estabilidade de taludes, seus métodos de cálculo de estabilidade ... 259
Movimento de rastejo
É um tipo de movimento de escoamento de solos, que ocorre especialmente
nos colúvios (depósitos de meia encosta por gravidade). São movimentos lentos
e de estabilização difícil. Os movimentos de rastejo também vistos em solos
residuais, mas de interferência insipiente em qualquer obra de engenharia,
pois são superficiais (creep).
Movimentos de fluxo
Ocorrem em talvegues relativamente íngremes cujas margens são acometidas
de movimentos planares e outros movimentos que contribuem para um canal
coletor (talvegue). São movimentos catastróficos e de elevada energia de
transporte de blocos e lama.
Leituras recomendadas
CRUDEN, D. M.; VARNES, D. J. Landslides types and process. In: TURNER, A. K.; SCHUS-
TER, R. L. (Ed.). Landslides: investigation and mitigation. Washington, DC: National
Academy Press, 1996. p. 36-75.
FIORI, A. P.; CARMIGNAMI, L. Fundamentos de mecânica dos solos e das rochas: aplicações
na estabilidade de taludes. 2. ed. rev. ampl. Curitiba: Ed. UFPR, 2009.
FIORI, A. P. Estabilidade de taludes: exercícios práticos. São Paulo: Oficina de Textos, 2016.
GERSCOVICH, D. Estabilidade de taludes. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2016.
GROTZINGER, J.; JORDAN, T. Para entender a terra. 6. ed. Porto Alegre : Bookman,
2013. E-book.
GUIDICINI, G.; NIEBLE, C. M. Estabilidade de taludes naturais e de escavação. São Paulo:
Blucher, 1983.
ORTIGAO A.; SAYAO, A. (Ed.). Handbook of slope stabilization. Germany: Springer-
-Verlag, 2004.
REIS, F. A. G. V. Curso de geologia ambiental via internet. 2001. Disponível em: <http://
www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/>. Acesso em: 10 fev. 2017.
RIO DE JANEIRO. Fundação Instituto de Geotécnica. Manual técnico de encostas. Rio
de Janeiro: GeoRio, 2000. v. 2.
VARNES, D. J. Slope movement types and processes. In: SCHUSTER, R. L.; KRIZEK, R. J.
(Ed.). Special Report 176: Landslides: Analysis and Control. Washington, DC: National
Academy of Science, 1978. p. 11-33.
WASHINGTON STATE DEPARTMENT OF NATURAL RESOURCES. Landslides. 2017. Dispo-
nível em: <http://www.dnr.wa.gov/programs-and-services/geology/geologic-hazards/
landslides#types-of-landslides.9>. Acesso em: 10 fev. 2017.