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MECÂNICA DOS

SOLOS APLICADA

Cleber Floriano
Aspectos teóricos de
estabilidade de taludes,
seus métodos de cálculo
de estabilidade e
considerações gerais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Conhecer os tipos de movimento de massa.


„„ Entender os métodos de equilíbrio limite.
„„ Compreender alguns métodos de cálculo de estabilidade de talude.

Introdução
Neste capítulo, vamos conhecer os tipos de movimentos de massa asso-
ciado ao seu mecanismo especialmente para os taludes e encostas de solo.
Você vai entender alguns métodos de equilíbrio limite que possibilitam
calcular o fator de segurança de um talude. Por fim, veremos como verificar
a estabilidade de uma massa sujeita a ruptura planar.

O que são movimentos de massa?


Você já teve que desviar o seu percurso de viagem por conta de bloqueio da
rodovia? Ao buscar informação sobre o motivo do bloqueio, aparece a notícia da
ocorrência de “queda de barreira”, “deslizamento. Veja o exemplo da imagem
de uma rodovia, no estado do Rio Grande do Sul, apresentado na Figura 1. São
termos utilizados pelos comunicadores para generalizar o que tecnicamente
você vai chamar de movimento de massa de taludes ou encostas (landslide,
246 Mecânica dos solos aplicada

em inglês). Neste capítulo, vamos absorver um pouco de embasamento técnico


para entender o que são os movimentos de massa.

Figura 1. Exemplo de movimento de massa numa rodovia do Rio Grande do Sul (Foto
de 2015).

O termo “movimento de massa” é uma referência genérica para diferentes


tipos de movimentos de solo, lama, detritos, rocha, gelo, entre outros, que se
manifestam por diversos mecanismos.
Quase que na totalidade, esses eventos são antecedidos por precipitações
intensas e/ou prolongadas. Os movimentos de massa ocorrem de muitas ma-
neiras a depender das características físicas peculiares do local. O ramo da
geologia de engenharia que estuda profundamente estes mecanismos busca
classificar através de padrões de movimento deflagrado observando seu estado
físico e sua origem natural. Evidentemente, há mais de uma classificação para
os movimentos de massa. No entanto, Varnes (1978) e Cruden e Varnes (1996)
tornaram-se referência para as publicações que tratam deste tema. Estes autores
diferem os movimentos de massa em: queda; tombamento; escorregamento
translacional, rotacional e composto; escoamento; e corrida. Uma simplifi-
cação dos movimentos é proposta pelo Centro Nacional de Monitoramento
e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), que divide em quatro principais
tipos de movimento: (1) queda, tombamento e rolamento; (2) deslizamento
e escorregamento; (3) fluxo de detrito e lama; (4) subsidência e colapso, e
Aspectos teóricos de estabilidade de taludes, seus métodos de cálculo de estabilidade ... 247

afirma que os movimentos de massa mais frequentes são os deslizamentos e


escorregamentos.
A ruptura de um talude é notada quando ela interfere na atividade humana,
como é o caso do bloqueio de uma rodovia. Grande parte dos movimentos de
massa, em ambientes modificados pelo homem, são devido à interferência
provocada pelo próprio homem que facilitou a ocorrência do evento. Um
corte formatando taludes mais íngremes, aterros de materiais não controlados,
inadequação de sistemas de drenagem, são apenas alguns exemplos das causas
principais de movimento de massa em áreas urbanizadas. Por outro lado, a
ciência geológica explica que os movimentos de massa são processos naturais
de degradação e desenvolvimento do ciclo do sistema Terra.
Todavia, o engenheiro civil geotécnico precisa conhecer e entender os
mecanismos que promovem o movimento de massa para que possa prever
problemas, bem como dimensionar, projetar e construir obras de estabilização,
quando necessário.
Veja no Quadro 1, alguns destes movimentos de massa, relacionados com
o estado físico e a natureza de ocorrência.

Augusto Filho (1992) reuniu, de forma resumida, os principais tipos de movimentos de


massa mais frequentes na dinâmica ambiental de clima tropical e subtropical (refere-se
ao clima brasileiro) baseando-se na classificação de Varnes (1978). A Tabela 1 apresenta
as características do conjunto de diferentes tipos de movimentos gravitacionais de
massa, diretamente relacionados à dinâmica das encostas do Brasil.

Tabela 1. Características do conjunto de diferentes tipos de movimentos gravi-


tacionais de massa.

Características do movimento,
Processos material e geometria

Rastejo Vários planos de deslocamento (internos)


(creep) „„ Velocidades muito baixas a baixas (cm/ano) e
decrescentes com a profundidade
„„ Movimentos constantes, sazonais ou intermitentes
„„ Solo, depósitos, rocha alterada e/ou fraturada
„„ Geometria indefinida
248 Mecânica dos solos aplicada

Características do movimento,
Processos material e geometria

Escorregamentos „„ Poucos planos de deslocamento (externo)


(slides) „„ Velocidades médias (m/h) a altas (m/s)
„„ Pequenos a grandes volumes de material
„„ Geometria e materiais variáveis:
„„ Planares – solos pouco espessos, solos e rochas
com um plano de fraqueza
„„ Circulares – solos espessos homogêneos e rochas
muito fraturadas
„„ Em cunha – solos e rochas com dois planos de
fraqueza

Quedas „„ Sem plano de deslocamento


(falls) „„ Movimentos tipo queda livre ou em plano
inclinado
„„ Velocidades muito altas (vários m/s)
„„ Material rochoso
„„ Pequenos a médios volumes
„„ Geometria variável: lascas, placas, blocos, etc.
„„ Rolamento de matacão, tombamento

Corridas „„ Muitas superfícies de deslocamento (internas e


(flows) externas à massa em movimentação)
„„ Movimento semelhante a um líquido viscoso
„„ Desenvolvimento ao longo de drenagens
„„ Velocidades médias a altas
„„ Mobilização de solo, rocha, detritos e água
„„ Grandes volumes de material
„„ Extenso raio de alcance, mesmo em áreas planas
Aspectos teóricos de estabilidade de taludes, seus métodos de cálculo de estabilidade ... 249

Quadro 1. Movimentos de massa, relacionados com o estado físico e a natureza de


ocorrência.

Tipo de
movimento Representação
de massa Exemplo na natureza tridimensional

Rotacional

Estado físico: sólido


Noção de escala
de Velocidade:1,5
m/mês
Tipo de material:
Figura 2. Formato rotacional de
solos homogêneos Figura 3.
espessos ou rocha movimento de um solo residual
Fonte: Adaptado de USGS
muito fraturada. de gnaisse em Piquete/SP (2014).
(2006).

Planar

Estado físico: sólido


Noção de escala de
Velocidade: 1,5m/dia
Tipo de material:
camadas
permeáveis finas
de solo geralmente Figura 5.
associadas às Fonte: Adaptado de USGS
encostas íngremes. (2006).

Figura 4. Ruptura em São Ven-


delino/RS (2000).
Fonte: Bressani e Heidemann (2013).

Translacional

Estado físico: sólido


Noção de escala
de Velocidade:
0,3m/min
Tipo de material:
solos ou rochas
com planos de Figura 7.
maior fraqueza. Fonte: Adaptado de USGS
Figura 6. Encosta na SP-125,
Vinculado à origem (2006).
do maciço rochoso. Saprólito de xisto (2010).
Fonte: Azambuja (2015).
250 Mecânica dos solos aplicada

Tipo de
movimento Representação
de massa Exemplo na natureza tridimensional

Rolamento

Estado físico: sólido


Noção de escala de
Velocidade:>3,0m/s
Tipo de material:
solos residuais com
matacões dispersos. Figura 8. Local desconhecido.
Fonte: Joshua Rainey Photography/ Figura 9.
Shutterstock.com Fonte: Adaptada de Cemaden
(2016).

Tombamento
(queda)

Estado físico: sólido


Noção de escala de
Velocidade:> 3,0m/s
Tipo de material:
solos residuais e/
ou rochas com Figura 11.
degradação Fonte: Adaptada de USGS
diferencial de (2006).
camadas em taludes
verticalizados.

Figura 10. Serra do Espigão/


SC (2013).
Fonte: Floriano (2015).

Escoamentos
e rastejos

Estado físico: viscoso


Noção de escala
de Velocidade:>
0,3m/5anos
Tipo de material: Figura 12. Rastejo de colúvio
solos residuais de basalto da formação Serra Figura 13.
(escoamento Geral/RS. Fonte: Adaptado de USGS
superficial) e solos Fonte: Azambuja (2015). (2006).
coluvionares
(rastejo).
Aspectos teóricos de estabilidade de taludes, seus métodos de cálculo de estabilidade ... 251

Tipo de
movimento Representação
de massa Exemplo na natureza tridimensional

Corridas de Detritos

Estado: fluido
Noção de escala de
Velocidade:> 3,0m/s
Tipo de material:
solos de superfície.
Diversas rupturas
Figura 14. Timbé do Sul (1995). Figura 15.
se encontram em
Fonte: Bressani (2009). Fonte: Adaptado de USGS
um talvegue (onde
(2006).
forma-se a corrida
de detritos)

Descrição de mecanismos e alguns métodos


de cálculo
Faremos uma breve descrição dos principais movimentos de massa incluindo
formas mais simples de matematizar o mecanismo de movimento.

Movimento rotacional
Os movimentos rotacionais são típicos de solos homogêneos, sendo mais
comuns em aterros. Em solos residuais, ocorrem quando as estruturas reli-
quiares (de origem da rocha) foram apagadas pelo intemperismo avançado. São
geralmente lentos, com diagnóstico precoce, pois evidenciam com surgimentos
de trincas e abatimentos no topo, bem como deformações e soerguimentos na
base. A Figura 16 mostra que o mecanismo de movimento rotacional está rela-
cionado a uma superfície potencial de ruptura circular, ou seja, esta superfície
apresenta um centro e um raio de giro (R). Você deve estar se perguntando
o motivo da superfície ser circular? Ocorre um equilíbrio natural entre uma
superfície de cisalhamento (resistência ao cisalhamento) e o peso de solo.
Embora o problema, na prática, seja tridimensional, a análise de estabili-
dade pode ser realizada com uma largura infinita ao plano ortogonal à página
252 Mecânica dos solos aplicada

representando o eixo principal. Note quanto maior a coesão (c’) do material


homogêneo, maior será esta profundidade de ruptura.

Figura 16. Mecanismo do movimento rotacional.

Existem muitas formas de realizar a análise de estabilidade do talude em


potencial movimento rotacional. As análises são iterativas, pois não conhece-
mos a geometria que proporciona a menor resistência ao cisalhamento. Assim,
a forma de calcular é discretizando a massa potencial de ruptura em fatias.
Este método é chamado de “método das fatias” ou “método sueco”.
O método das fatias, portanto, consiste no princípio do equilíbrio limite,
não somente de cada fatia, mas também do conjunto de fatias. Se formos
contabilizar as diversas incógnitas resultantes para uma fatia, teremos 6n-2
incógnitas. No entanto, o número de equações é de 4n+3 equações. Portanto,
para representar o problema, com este sistema seria possível até 2 fatias, o que
não representa uma discretização de uma curva. A forma de tornar o problema
possível de se resolver é simplificando o sistema. Na Figura 17, mostra-se a
simplificação de Fellenius (1936) apud Guidicini e Nieble (1983), também
conhecido como o método ordinário. Neste método, a resultante das forças
de empuxo (E) combinada com o cisalhamento entre as laterais das fatias,
resultam numa inclinação αi, a mesma inclinação da base daquela fatia. Ao
mesmo tempo, despreza-se o efeito de poro-pressão nas laterais.
Aspectos teóricos de estabilidade de taludes, seus métodos de cálculo de estabilidade ... 253

Figura 17. Método das fatias por Fellenius (1936).

O método ordinário é o mais simples e conservador entre os principais


métodos de cálculo de estabilidade de taludes. O fator de segurança para
Fellenius, após um pouco de álgebra, resulta na seguinte formulação:

Onde:

FS - é o fator de segurança.
Wi - é o peso de cada fatia.
αi - é o ângulo da base da fatia com a horizontal.
μi - é o valor da poro-pressão na base da fatia.
bi - é a largura da base da fatia.
c’ i - é a coesão do solo na base da fatia .

A Tabela 2 mostra os principais métodos utilizados para o cálculo de es-


tabilidade de taludes, como desenvolve o equilíbrio limite, a forma potencial
da ruptura e a consideração para tornar o método convergente.
Atualmente, existem muitos programas computacionais que não somente
resolvem complexas equações, como realizam a iteração para descobrir o
menor fator de segurança.
254 Mecânica dos solos aplicada

Tabela 2. Principais métodos de análise de estabilidade por fatias.

Método Equilíbrio Consideração

Fellenius Momentos Despreza força entre fatias

Bishop simplificado Momentos Força entre fatias é


horizontal e se anuam

Jambu simplificado Forças Força entre fatia é horizontal


com fator de correção

Jambu generalizado Momentos Força entre fatias é definida por


uma linha de empuxo arbitrária

Spencer Forças e Momentos Força entre fatias tem


inclinação constante

Morgenstern-Price Forças e Momentos Introduz uma função para a


direção da força entre fatias

Sarma Forças e Momentos Considera cisalhamento


nas cunhas

Atualmente, existem muitos programas computacionais que não somente resolvem


complexas equações, como podem realizar a iteração para descobrir o menor fator
de segurança. Busque manipular estes softwares, mas use com sabedoria, sempre com
a visão crítica de um grande engenheiro.

Planar
Ocorrem em camadas permeáveis, mais porosas e pouco espessas de solo,
geralmente associadas às encostas íngremes, portanto, típicas de solos coluvio-
nares e/ou residuais sobre um maciço mais resistente. O movimento de massa
Aspectos teóricos de estabilidade de taludes, seus métodos de cálculo de estabilidade ... 255

tem como gatilho o fluxo de água nesse meio que pode ser paralelo quando
a camada abaixo é bem menos permeável que a camada rompida, e pode ser
perpendicular quando a camada abaixo é muito mais porosa ocorrendo o que
se conhece- por artesianísmo. As rupturas podem ocorrer também através
de uma contribuição por artesianismo (fonte) devido ao tipo de estrutura do
material. Os movimentos planares podem ser divididos em rupturas encaixadas
e amplas. Sendo que a ruptura encaixada leva em conta a contribuição da
resistência ao cisalhamento das laterais, e a ampla somente da base de contato
com a camada rompida. A definição do mecanismo de ruptura segue a relação
de equilíbrio de forças na consideração de um talude infinito. A Figura 18
mostra os dois tipos de potenciais de ruptura planar.

Figura 18. Mecanismo do movimento rotacional.


Fonte: Azambuja (2010).

A análise de um movimento planar é conduzida pelo princípio do equi-


líbrio local. Por este princípio, postula-se que se um elemento unitário da
encosta é estável, então toda a encosta também é. A análise é chamada de
talude infinito.
Desprezando as influências de qualquer resistência ao cisalhamento de
bordo, você está assumindo que o movimento é amplo, pois a única contribuição
de resistência ao cisalhamento de contato será com o material subjacente. A
Figura 19 apresenta o diagrama de um elemento unitário com a presunção de
fluxo paralelo ao talude.
256 Mecânica dos solos aplicada

Figura 19. Mecanismo do movimento rotacional.


Fonte: Azambuja (2010).

O fator de segurança à condição de movimento planar amplo, após um


pouco de álgebra resulta na seguinte formulação:

Onde:

FS - é o fator de segurança.
hs - é a altura da camada de solo.
γ - é o peso específico do solo (considera-se o peso específico
natural).
hw - é a altura da superfície de água, cuja a direção de fluxo é
paralela ao talude.
γ w - é o peso específico da água (no sistema internacional de
unidades considera-se 10 kN/m³).
φ - é o ângulo de atrito interno do solo.
β - é o ângulo do talude com a horizontal.
c’ - é o valor da coesão do solo.
Aspectos teóricos de estabilidade de taludes, seus métodos de cálculo de estabilidade ... 257

Esta expressão pode ser simplificada utilizando um parâmetro de referência


chamado de ru, que corresponde a razão de poro-pressão:

Portanto, o fator de segurança à estabilidade planar ampla pode ser calculado


através da seguinte expressão:

Note que para solos puramente arenosos e sem presença de umidade, tem-
-se c’=0 e ru=0, assim, a expressão torna-se uma razão entre ângulo de atrito
interno e ângulo do talude:

Quando ocorre a condição de uma ruptura encaixada, significa que esta-


mos considerando uma parcela adicional no fator de segurança. Esta parcela
corresponde à contribuição lateral pelo efeito do encaixe. Portanto, quando
o escorregamento é encaixado – B < 0,5 L, temos a seguinte equação geral:

Onde:

FS - é o fator de segurança na condição encaixada da ruptura.


FS0 - é o fator de segurança na condição ampla de ruptura (contribui-
ção de resistência ao cisalhamento da base).
ΔFS - é o acréscimo no fator de segurança na condição encaixada
devido à contribuição das laterais.

Assim, temos que:

Ou também pode ser representado por:

Onde:
258 Mecânica dos solos aplicada

Pesquise mais sobre o efeito da direção de fluxo de água. Busque entender o fenômeno
de artesianismo que pode acontecer em alguns taludes sujeitos a rupturas planares
com a base pouco impermeável. Imagine que fluxo de água deixa de fazer um caminho
paralelo à base e passa a ser horizontal. Esta é uma situação pior ou melhor para a
segurança do talude?
Se o fluxo for vertical, como se a água da chuva percorresse um caminho vertical e
o solo da base fosse tão poroso que infiltrasse a água percolada. Esta é uma situação
pior ou melhor para a segurança do talude?

Movimentos translacionais
Este tipo de movimento está relacionado à existência de planos com resistência
menor devido à formação e constituição do maciço. Estes movimentos, por-
tanto, ocorrem em planos de disjunções, estratificações, xistosidades e até de
bandeamentos, que podem também perder resistência pela diferenciação da
velocidade de alteração do maciço. Em geral, o mecanismo é disparado pela
saturação e elevação de poro-pressão na base e/ou em juntas verticalizadas
de contribuição. O movimento translacional pode ocorrer em solos residuais,
rochas alteradas e também em contatos rochosos quando ocorrem combinação
favoráveis de planos de falha ou fratura da rocha. Neste último caso, pode
ocorrer um movimento translacional em dois planos guiado por um vertente,
conhecido como movimento em cunha.

Movimento de queda
A queda de massa corresponde à queda livre de um fragmento por conta de
um desprendimento do maciço. Isso ocorre em alteração diferencial em taludes
muito verticalizados, como nas rochas sedimentares de deposição rítmica.
Mas também pode ocorrer em outros tipos de maciço onde a combinação de
planos de falhas e fraturas propiciam o tombamento.
Aspectos teóricos de estabilidade de taludes, seus métodos de cálculo de estabilidade ... 259

Movimento de rastejo
É um tipo de movimento de escoamento de solos, que ocorre especialmente
nos colúvios (depósitos de meia encosta por gravidade). São movimentos lentos
e de estabilização difícil. Os movimentos de rastejo também vistos em solos
residuais, mas de interferência insipiente em qualquer obra de engenharia,
pois são superficiais (creep).

Movimentos de fluxo
Ocorrem em talvegues relativamente íngremes cujas margens são acometidas
de movimentos planares e outros movimentos que contribuem para um canal
coletor (talvegue). São movimentos catastróficos e de elevada energia de
transporte de blocos e lama.

Pesquise mais como dimensionar os blocos em movimento de translação. Em ver-


dade é uma mecânica muito semelhante a rupturas planares, pois trata-se da análise
de equilíbrio de forças. Você terá que absorver um pouco de conhecimento sobre
mecânica das rochas! Busque entender a equação de Barton, ela é fundamentada na
equação de Coulom já estudada.

Movimentos de queda e fluxo são assuntos que estão sendo atualizados


constantemente com novas soluções e tecnologias de estabilização, cabe a você
investigar mais sobre o assunto. Já os rastejos são movimentos difíceis de serem
controlados, embora muitas vezes, os solos, que são propícios à ocorrência
de rastejo, sofram movimentos rotacionais progressivos, e estes movimentos,
do ponto de vista mecânico, se somam e formam uma grande superfície de
deslizamento, complexa, mas passível de ser definida por equilíbrio limite.
Obras de contenção nestes ambientes costumam ser robustas.
Para finalizar o capítulo, apresentamos a metodologia da NBR-11682
(ABNT, 2009) que define o nível de segurança, ou seja, o fator de segurança
mínimo para um talude à estabilidade global, expresso nas Tabelas 3, 4 e 5
adiante.
260 Mecânica dos solos aplicada

Avalia-se o critério de segurança na Tabela 3 e na Tabela 4, para então


fazer um cruzamento na Tabela 5, e definir o fator de segurança desejável
para o talude.

Tabela 3. Nível de segurança desejado contra a perda de vida humana (NBR-11.682:2009).

Tabela 4. Nível de segurança desejado contra danos materiais e ambientais (NBR-


11.682:2009).

Tabela 5. Fator de segurança mínimo para o deslizamento (NBR-11.682:2009).


Aspectos teóricos de estabilidade de taludes, seus métodos de cálculo de estabilidade ... 261

Uma análise de estabilidade é completamente dependente da parametrização ade-


quada. Na geotecnia de taludes e encostas além dos ensaios de laboratório para
definição de resistência ao cisalhamento, principalmente, existe a ferramenta do cálculo
de trás para frente chamado de retroanálise. A retroanálise nada mais é que colocar
o modelo matemático em equilíbrio, ou seja, atribuir ao fator de segurança o valor de
FS=1,0 e resolver as equações para o par de resistência ao cisalhamento. No entanto,
veja que para a realização da retroanálise é necessário que a ruptura já esteja deflagrada
e de preferência a grandes deformações para que possamos estabelecer parâmetros
de resistência residuais. Note que para definirmos a resistência ao cisalhamento através
dos parâmetros φ’ e c’, devemos ter planialtimetria da seção crítica, controle do nível
freático e posição da superfície de ruptura. É sempre importante que uma análise
critica deve ser realizada por um engenheiro geotécnico ou geólogo com experiência.

1. O rastejo é um tipo de movimento e) Possui, em geral, dois


de massa muito comum. Quais planos de fraqueza,
são suas características principais ocorrendo deslizamento
de acordo com a classificação de de um bloco rochoso.
Augusto Filho (1992)? 2. De acordo com a figura,
a) Não possui um plano de como você classificaria esse
deslocamento com grande parte movimento de massa?
do movimento se desenvolvendo
em queda livre ou rolamento.
b) Possui superfície de ruptura
circular e velocidade elevada.
c) Possui sazonalidade, velocidades
muito baixas, vários planos
de deslocamentos internos
e a umidade do solo exerce
Fonte: Adaptado de USGS (2006)
uma influência considerável.
d) É muito semelhante ao a) Escorregamento circular.
movimento de um líquido b) Rastejo.
viscoso, com desenvolvimento c) Tombamento.
ao longo das drenagens d) Corrida de detritos
de uma encosta, com ou debris flow.
velocidades médias a altas. e) Escorregamento planar.
262 Mecânica dos solos aplicada

3. Nos escorregamentos rotacionais 4. Calcule a estabilidade de um talude


em aterros homogêneos, quanto infinito de solo com as seguintes
maior for a coesão do material, maior características: superfície de ruptura
deve ser a profundidade da ruptura. com declividade de 25°, camada
Esta afirmação é verdadeira ou falsa? de solo com 2 m, peso específico
Por quê? natural igual a 18kN/m³, ângulo de
a) Verdadeira, pois a coesão atrito 33° e coesão igual a zero. Não
representa um acréscimo de há presença de água.
resistência na estabilidade a) FS = 1,40
do talude, fazendo com que b) FS = 2,80
deva haver mais material (mais c) FS = 0,70
peso) para gerar uma superfície d) FS = 1,0
instável, o que ocorre através do e) FS = 0
aumento da sua profundidade. 5. Considere o mesmo talude
b) Verdadeira, pois o aumento da da questão anterior. O que
coesão causa uma diminuição ocorreria com sua estabilidade
do fator de segurança, caso houvesse um nível d’água
gerando uma superfície de a 0,5 m de profundidade a
ruptura mais abrangente. partir da sua superfície?
c) Falsa, pois uma maior coesão a) Sua estabilidade não sofreria
deve fazer com que o talude nenhuma alteração.
apresente uma superfície b) O talude continuaria se
de ruptura mais rasa. mantendo estável, com FS=1,6.
d) Falsa, pois uma maior c) O talude continuaria se
coesão deve fazer com que mantendo estável, com FS=1,20.
a ruptura se torne planar. d) O talude romperia, pois seu
e) Falsa, pois a coesão não altera em novo FS é igual a 0,40.
nada a estabilidade do talude. e) O talude romperia, pois seu
novo FS é igual a 0,81.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 11.682:2009. Estabilidade


de Encosta. Rio de Janeiro: ABNT, 2009.
AUGUSTO FILHO, O. Caracterização geológico-geotécnica voltada à estabilização de
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SEMINÁRIO DE ENGENHARIA GEOTÉCNICA DO RIO GRANDE DO SUL, 8., abr. 2015,
São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Unisinos, 2015.
Aspectos teóricos de estabilidade de taludes, seus métodos de cálculo de estabilidade ... 263

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CEMADEN. Movimento de massa. [Cachoeira Paulista: Cemaden, 2016]. Disponível em:
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FLORIANO, C. F. Estudo da adesão nata-rocha na ancoragem em dois arenitos da Serra
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Leituras recomendadas
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TER, R. L. (Ed.). Landslides: investigation and mitigation. Washington, DC: National
Academy Press, 1996. p. 36-75.
FIORI, A. P.; CARMIGNAMI, L. Fundamentos de mecânica dos solos e das rochas: aplicações
na estabilidade de taludes. 2. ed. rev. ampl. Curitiba: Ed. UFPR, 2009.
FIORI, A. P. Estabilidade de taludes: exercícios práticos. São Paulo: Oficina de Textos, 2016.
GERSCOVICH, D. Estabilidade de taludes. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2016.
GROTZINGER, J.; JORDAN, T. Para entender a terra. 6. ed. Porto Alegre : Bookman,
2013. E-book.
GUIDICINI, G.; NIEBLE, C. M. Estabilidade de taludes naturais e de escavação. São Paulo:
Blucher, 1983.
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REIS, F. A. G. V. Curso de geologia ambiental via internet. 2001. Disponível em: <http://
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WASHINGTON STATE DEPARTMENT OF NATURAL RESOURCES. Landslides. 2017. Dispo-
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