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2020 / 2023
Vice-Presidente
Suzana Arenhart Pessini
Secretário
Jesus Paula Carvalho
Membros
Angélica Nogueira Rodrigues
Caetano da Silva Cardial
Delzio Salgado Bicalho
Eduardo Batista Candido
Etelvino de Souza Trindade
Fernando Maluf
Francisco José Cândido dos Reis
Georgia Fontes Cintra
Marcia Luiza Appel Binda
Mirian Helena Hoeschl Abreu Macedo
Renato Moretti Marques
Ricardo dos Reis
Sophie Françoise Mauricette Derchain
Descritores
Neoplasias do colo do útero; Saúde da mulher; Adenocarcinoma; Carcinoma invasivo
Como citar?
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Câncer do
colo do útero. São Paulo: FEBRASGO; 2021. (Protocolo FEBRASGO _ Ginecologia, n. 8/Comissão
Nacional Especializada em Ginecologia Oncológica).
Introdução
O câncer de colo do útero é a quarta neoplasia maligna mais frequen-
te em mulheres, com incidência mundial estimada de 595.414 casos
novos e mortalidade de 311.365 mulheres em 2018.(1) É responsável
por 7,5% de todas as mortes por câncer em mulheres. Cerca de 85%
dos casos de câncer de colo uterino são diagnosticados em países em
desenvolvimento, nos quais são registrados 87% dos óbitos pela do-
ença. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, a estimativa de novos
casos de câncer de colo no Brasil para cada ano do triênio 2020-2022
é de 16.590, sendo a terceira neoplasia maligna (excluindo-se câncer
de pele não melanoma) mais frequente em mulheres, com estimati-
va de 15,48 casos para cada 100 mil mulheres. O câncer de colo ute-
rino foi a quarta causa de morte por câncer em mulheres em 2018,
no Brasil, tendo sido responsável por 5.448 óbitos nesse grupo, com
estimativa de 4,88 mortes para cada 100 mil mulheres.(2)
* Este protocolo foi elaborado pela Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Oncológica e
validado pela Diretoria Científica como Documento Oficial da FEBRASGO. Protocolo FEBRASGO de
Ginecologia, n. 8. Acesse: https://www.febrasgo.org.br/
Todos os direitos reservados. Publicação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (FEBRASGO).
Prevenção secundária
As lesões precursoras são geralmente assintomáticas e detectadas
pelo rastreamento por exame citopatológico. O objetivo da preven-
ção secundária é detectar e tratar lesões de alto grau, NIC2 ou NIC3.
Como as NIC2 ou 3 são mais frequentes em mulheres em torno de 35
e 40 anos e o carcinoma invasor é extremamente raro em mulheres
com 25 anos ou menos imunocompetentes, recomenda-se o início
do rastreamento a partir dos 21 ou 25 anos de idade.(4)
Fatores prognósticos
O principal fator prognóstico em mulheres com câncer de colo do
útero é o estádio ao diagnóstico. Quando se compara doença es-
tádio IA com estádio IVA, a proporção de metástases a distância
após o tratamento é de 3% no estádio IA e 75% nos estádios IVA.
Em mulheres com tumores clinicamente restritos ao colo do úte-
ro, invasão angiolinfática, volume tumoral e invasão estromal são
os principais fatores associados com invasão linfonodal e sobrevi-
da livre de doença.(5) Em mulheres diagnosticadas em estádios II a
IV com invasão linfonodal pélvica ou paraórtica, volume tumoral,
idade avançada e performance status comprometido interferem no
prognóstico.
O padrão de disseminação dos adenocarcinomas parece diferir
daquele dos carcinomas escamosos: carcinomas escamosos parecem
ter disseminação eminentemente linfática, enquanto adenocarcino-
mas parecem ter disseminação hematológica mais frequente. Há
mais proporção de metástases ovarianas nos adenocarcinomas, as-
sim como de metástases a distância, com mais tendência a apresen-
Estadiamento
O câncer de colo do útero é estadiado segundo classificação sugeri-
da pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO)
(Quadro 1).
Continuação.
Estádio Descrição
IIIC Metástases linfonodais pélvicas e/ou paraórticas (incluindo micrometástasesc)
independentemente do tamanho do tumor e da extensão (com anotações r e p)d
IIIC1 Metástases linfonodais pélvicas apenas
IIIC2 Metástases linfonodais paraórticas
IV O carcinoma se estende além da pelve verdadeira ou envolve (com biópsia
confirmando) a mucosa da bexiga ou do reto. Um edema bolhoso, por exemplo,
não permite alocar o caso como estádio IV
IVA Propagação para órgãos adjacentes
IVB Metástases a distância
Fonte: Revised FIGO staging for carcinoma of the cervix uteri.(6,7)
a) Imagem e avaliação patológica podem ser utilizadas quando disponíveis para suplementar
achados clínicos em relação ao tamanho do tumor e sua extensão, em todos os estádios. A
avaliação patológica supera as imagens e os achados clínicos.
b) O envolvimento do espaço vascular/linfático não muda o estádio. A extensão lateral do tumor
não é mais considerada.
c) Células tumorais isoladas não mudam o estádio, mas devem ser referidas no laudo.
d) Adicionar anotações para r (imagem) e p (patologia), para indicar o método que foi utilizado
para alocar o caso em estádio IIIC. Por exemplo, se for a imagem que detectou a metástase em
linfonodo pélvico, o estádio será IIIC1r; se a metástase for confirmada pela patologia, será estádio
IIIC1p. O tipo de imagem e a técnica patológica utilizadas deverão sempre ser documentadas.
Quando houver dúvida, o menor estádio deverá ser atribuído.
Tratamento
Conduta em mulheres com carcinomas
invasores IA1 e IA2
O carcinoma do colo do útero identificado apenas microscopica-
mente e com invasão estromal inferior ou igual a 5 mm de profun-
didade, independentemente de extensão lateral, é classificado em
estádio IA. Essas lesões só poderão ser diagnosticadas por coniza-
ção ou histerectomia, pois toda lesão estará incluída para avaliação
histopatológica. Quando a lesão é clinicamente visível (o chamado
“colo tumoral”), independentemente do tamanho, deve ser classifi-
cada em estádio IB. O estádio IA é dividido, ainda, em IA1, quando a
profundidade de invasão estromal é inferior ou igual a 3 mm e IA2,
quando superior a 3 mm e inferior ou igual a 5 mm. À histologia,
a invasão estromal superficial se caracteriza por um ou mais focos
de células neoplásicas que ultrapassam a membrana basal de lesão
Protocolos Febrasgo | Nº8 | 2021
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CNE em Ginecologia Oncológica
** **
IA1 IA2 IB1
Sem invasão Com invasão Traquelectomia radical com Traquelectomia radical com
vascular vascular biópsia do linfonodo sentinela biópsia do linfonodo sentinela
e/ou linfadenectomia pélvica e/ou linfadenectomia pélvica
** ** **
IA1 IA2 IB1/IB2/IIA1
Sem invasão Com invasão Histerectomia radical com Histerectomia radical com
vascular vascular biópsia sentinela e/ou biópsia sentinela e/ou
linfadenectomia pélvica linfadenectomia pélvica
Sim Não
Avaliar/ Tratamento Avaliar/ Tratamento
complementar concluído complementar concluído
o tratamento Seguimento o tratamento Seguimento
Tratamento Avaliar/ com com
concluído complementar radioterapia/QT radioterapia/QT
Seguimento o tratamento
com ** Ooforectomia opcional nos carcinomas escamosos.
radioterapia/QT De acordo com a idade, realizar nos adenocarcinomas.
Doença residual?
Sim Não
Aguardar, no mínimo, 90 dias
para reavaliação clínica/imagem
Seguimento
Sim Não
Exenteração pélvica
Discutir em equipe multidisciplinar
(cirurgião, anestesista, clínico, estomaterapia, psicologia)
Controle pós-tratamento
É recomendado que a primeira avaliação de resposta ao tratamento
da doença inicial seja realizada entre oito e 12 semanas após o térmi-
no do tratamento radical com exame físico. A maior parte das reco-
mendações sugere que o controle das pacientes seja trimestral nos
primeiros dois anos e semestral até os cinco anos naquelas de alto
risco. Pacientes de baixo risco poderão fazer seguimento semestral
nos primeiros dois anos e anual até os cinco anos. A realização do
citopatológico anual é recomendada pela ASCO por um período de
cinco anos,(49) mas é importante ressaltar que o efeito da radiotera-
pia causa frequentemente atipias em células escamosas. Em caso
de citopatológico com atipias de alto grau, deve-se realizar colpos-
copia. Ainda não há consenso sobre a utilidade da RM do controle
Protocolos Febrasgo | Nº8 | 2021
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CNE em Ginecologia Oncológica
Considerações finais
O câncer de colo do útero é uma doença potencialmente evitável, seja
com vacinação em idade precoce contra HPVs de alto risco oncogê-
nicos, seja por meio de um programa de rastreamento com citologia
ou testes de detecção de HPV. Em casos de doença invasora, o trata-
mento adequado e sem atraso é um fator prognóstico independente
significativo. Técnicas complexas de estadiamento, como exames
sofisticados de imagens ou cirurgias para biópsias linfonodais, não
devem postergar o início do tratamento.
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