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COMISSÃO DE ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL

INTRODUÇÃO À DEONTOLOGIA PROFISSIONAL DO ADVOGADO


Estrutura da Apresentação

I. Contextualização da
Deontologia e sua Relevância.
II. Deontologia Profissional do
Advogado e sua Relevância.
III. Princípios Deontológicos do
Advogado.
CONTEXTUALIZAÇÃO DA
DEONTOLOGIA E SUA
RELEVÂNCIA
CONTEXTUALIZAÇÃO DA DEONTOLOGIA

Para compreender a deontologia e a sua relevância para a


advocacia, é preciso primeiro ter em mente a sua origem e
desdobramento até os dias de hoje.

Com efeito, começaremos por introduzir a ética de um modo geral, de


seguida passaremos para a ética profissional e por fim é que vamos
partir para o estudo da deontologia profissional, com particular
enfoque para a deontologia profissional do Advogado e a sua
relevância.

Uma vez compreendida a deontologia profissional do Advogado,


seguiremos para os estudo dos princípios norteadores desta
profissão.
O QUE É A ÉTICA, QUAL É A SUA ORIGEM E
IMPORTÂNCIA?

De um modo geral, ética, que também é conhecida como filosofia


oral, é a reflexão moral sobre uma determinada acção humana, ou
seja, é um campo fundamental da filosofia que se preocupa com a
moralidade das acções humanas e os princípios que orientam o
comportamento humano.

A palavra ética tem a sua origem no grego “ethos” que significa


carácter, comportamento, e é justamente por esta não tratar somente
das relações pessoais de cada indivíduo, bem como tratar sobre a
análise das relações em sociedade, que a ética é um conceito que
pode ser aplicada na conduta de diversas profissões, tal como é o
caso da nossa profissão de Advogados.

A ética é importante na medida em que, como indivíduos que vivem


em sociedade, nos permite saber o que é certo e o que é errado
enquanto indivíduos, ou seja, no fundo é sobre o saber ser e saber
estar.
O QUE É A ÉTICA PROFISSIONAL?

De um modo geral, a ética profissional é um conjunto de valores e


normas de comportamento e de relacionamentos adoptados num
determinado ambiente organizacional, ou seja, é o respeito pelas
regras, convenções e limites, sejam eles impostos por leis ou sugeridos
pelas convenções sociais no trabalho.

Por que é que a ética profissional é importante?


• Ela busca estabelecer padrões de conduta que transcendam as
diferenças individuais e culturais.
• Contribui para o bom andamento das actividades e propicia a
criação de um clima organizacional saudável e harmonioso.
• Contribui para a maior clareza nos processos e melhoria na
reputação organizacional.
• Contribui para o estabelecimento de maior confiança entre os
colaboradores, o que contribui para aumento da productividade e
maior engajamento da equipe.
O QUE É DEONTOLOGIA E QUAL É A SUA
ORIGEM?
Entende-se por um conjunto de normas, derivadas essencialmente da ética,
que regulam o comportamento público e profissional, ou seja, trata-se no
fundo de uma disciplina da ética especial adaptada ao exercício de uma
profissão.

É “conjunto de regras e princípios que regulam determinadas condutas do


profissionais, condutas de carácter não técnico, exercidas ou vinculadas,
de qualquer modo, ao exercício da profissão e atinentes ao grupo
profissional”.

É uma das teorias normativas, segundo a qual as escolhas são moralmente


exigidas, proibidas ou permitidas, portanto, inclui-se entre as teorias morais
que orientam nossas escolhas sobre o que deve ser feito, e entende-se
também como a parte da Filosofia que trata dos princípios, fundamentos e
sistemas da moral

A palavra deontologia tem a sua origem nestas no grego conforme segue:


• “deon”, que significa obrigatório, justo, adequado; e
• “logos”, que significa tratado, ciência.
Importância da Deontologia Profissional

Por que é que a deontologia profissional é importante?

De um modo geral a deontologia profissional desempenha 2


papéis importantes, a saber: (i) controle; e (ii) orientação.

• Papel de controle – ajuda a controlar as acções dos


membros de um determinado grupo profissional; e
• Papel de orientação – ajuda a orientar a conduta desses
membro, colaborando para a formação de um grupo que
se identifica e é identificado por um determinado modo de
agir.
Por favor note que de um modo geral a deontologia
encontra a sua fundamentação neste tripé:
• a existência de um dever;
• a natureza daquele dever; e
• as consequências que advêm do taldever.
DEONTOLOGIA PROFISSIONAL DO
ADVOGADO E SUA RELEVÂNCIA
Deontologia Profissional do Advogado

De um modo geral compreende as normas, que derivam da ética, que


regulam o comportamento público e profissional do Advogado, ou seja, em
suma é o conjunto de regras ético-jurídicas pelas quais o Advogado deve
pautar o seu comportamento

Oferece princípios e noções capazes de informar a conduta moralmente


boa, digna e perfeita do Advogado, e garante que os profissionais da
advocacia ajam em benefício dos seus clientes, o que significa que o
Advogado deve tomar decisões e realizar acções que visem promover e
salvaguardar os interesses do seu cliente, claro, em estrito cumprimento aos
imperativos legais.

Em Moçambique, as principais fontes da deontologia profissional do


Advogado são:
• Estatuto da Ordem dos Advogados de Moçambique (“EOAM”),
aprovado pela Lei n.º 28/2009, de 29 de Setembro;
• Lei das Sociedades de Advogados (“LSA”), aprovada pela Lei n.º 5/2014
de 5 de Fevereiro; e
• Manual de Deontologia do Advogado – Conselho Jurisdicional da
Ordem dos Advogados de Moçambique (“MDA - CJOAM”).
Importância da Deontologia Profissional do
Advogado

• A preeminência da ordem normativa da moral


sobre o Direito: a moral reside no interior do
homem, actua na consciência e é através da
consciência que o indivíduo decide cumprir ou não
o Direito.
• Só o Advogado que tiver a virtude moral da justiça
decide colocar em prática a norma jurídica.
• Neste sentido, a ordem normativa moral é
importante para a efectividade da ordem
normativa jurídica.
PRINCÍPIOS DEONTOLÓGICOS
DO ADVOGADO
PRINCÍPIOS DEONTOLÍGICOS DO ADVOGADO

• Independência;
• Legalidade;
• Honestidade;
• Sinceridade;
• Urbanidade;
• Cortesia;
• Boa-fé;
• Integridade;
• Lealdade;
• Zelo; e
• Solidariedade.
Princípio da Independência
É condição essencial para o exercício da advocacia, e
significa:
➢ Decidir e actuar como deve ser;
➢ Agir de forma autónoma;
➢ Rejeitar qualquer tipo de sujeição ou pressão, quer seja
do cliente, autoridades juridiciárias ou outros poderes;
➢ O limite da independência é a estricta observância do
quadro deontológico; e
➢ Actuar de forma independente, não quer dizer,
desrespeitar as normas deontológicas.
➢ Base legal: Artigo 74 do EOAM.
Princípio da Legalidade

• O Advogado funda a sua acção e conduta na Lei;


• Não deve litigar de forma contrária à lei;
• Não deve aceitar patrocínio de interesses ilegais
e/ou causas que contendam com as normas legais
de qualquer ordem; e
• Base legal: artigos 74/1 e 3, 4/d); 76/ b), d) e h), do
EOAM e 58 da LSA.
Princípio da Honestidade

• Em suma, significa “dar a cada um o que lhe pertence


e a ninguém prejudicar”;
• Considera-se atitude desonesta por parte do
Advogado, o facto deste, de antemão, fazer promessas
de resultados satisfatório ao Constituinte, induzindo-lhe a
aceitar os seus serviços; e
• Base legal: artigos 72/2, 74/1, 76/ j), 81/ f) e g), e 78/3 al.
e), do EOAM.
Princípio da Sinceridade

• É veracidade e transparência;
• Falta à sinceridade o Advogado que assuma o caso só
por causa dos honorários, mesmo sabendo que não há
chances para o seu Constituinte;
• Falta à sinceridade o Advogado que defende
conscientemente falsidade, ou faz interpretação
deturpada da lei, doutrina ou jurisprudência, com vista
a tão somente “ganhar a causa”.
• Base Legal: artigos 72/2 e 81/ c), do EOAM.
Princípio da Urbanidade

• Educação e respeito pelos outros (Advogados,


Clientes, Juízes e entre outros intervenientes);
• É um dever geral de conduta (dentro e fora da
profissão); e
• Base legal: artigos 88 e 85/1 al. a), do EOAM.
Princípio da Cortesia

• É dever específico, impõe ao Advogado:


(i) a comunicação prévia ao
Advogado/Magistrados quando pretenda
demandá-los;
(ii) A realização de diligências junto do cliente para
pagar honorários do anterior mandatário, em
caso de substituição.
• É regra de trato social entre os profissionais juridicos;
• Base legal: artigos 72/2, 87/1, 85/2 do EOAM.
Princípio da Boa-fé

• Dever geral de conduta do Advogado face à


confiança que merecer terceiros (constituintes,
instituições e a sociedade em geral);
• Proibição de “agir, conscienciosamente, visando
prejudicar as pessoas e instituições com quem se
relaciona”;
• Base legal: artigos 72/1, 78 b), do EOAM e 456 do CPC.
Princípio da Integridade

• Um comportamento público e profissional compatível


com a dignidade da Profissão: respeito de normas
técnicas (jurídicas), costume, usos e tradições da
profissão;
• É sinónimo de rectidão/probidade; e
• É o conjunto de virtudes que devem caracterizar a
personalidade do Advogado, tornando-o firme na sua
honradez, reputação e dignidade.
• Base legal: artigo 72/2 do EOAM.
Princípio da Lealdade

• Ser fiel ao processo, ao seu constituinte, aos outros


intervenientes processuais e consigo mesmo.
• Em suma, o Advogado deve:
– Manter-se firme nos compromissos assumidos com a
parte contrária, ainda que esta seja desleal; e
– Evitar o mau uso do processo com o objectivo de
perturbar o seu normal decurso.
• Base legal: artigos 72/2, 81/c), f) e g), do EOAM.
Princípio do Zelo

• O Advogado deve estudar de forma cuidadosa e


cautelosa a causa que lhe for confiada, e aplicar todo
o seu saber e experiência à defesa da mesma;
• O Zelo impõe vocação, ou seja, o Advogado sente-se
gratificado pelo exercício da profissão em si,
independentemente dos ganhos económicos que daí
podem resultar;
• Base legal: artigos 81/ d), 74/1, do EOAM e 30/2, da LSA.
Princípio da Solidariedade

• Os Advogados devem ser solidários uns com os outros.


Daí os deveres de:
– Assegurar que o seu Constituinte mantenha respeito
para com a parte contrária;
– Insurgir-se quanto a abusos cometidos contra outros
Advogados; e
– Reconhecer o Advogado da parte contrária como
colega e não como “inimigo”.
• O princípio da solidariedade está na base dos deveres
recíprocos dos Advogados”.
• Base legal: artigos 4 al. g), 85/1, al.a), e n.º 2, do EOAM.
Questões

• Como caracteriza o comportamento do Advogado


que trata os outros colegas, juízes e/ou agentes da
justiça sem consideração e/ou respeito, ou que nas
peças processuais apelide de o colega de “faminto”
"ignorante" "energúmeno" e entre outros nomes?
• Como caracteriza o comportamento do Advogado
que aceita patrocinar um cliente por um lado, e por
outro lado aconselha a contra-parte e/ou recebe
dividendos da parte contrária?
• Considera que a perda de um prazo constitui a
violação de algum princípio do?
- Se a resposta for sim, diga qual e fundamente; e
- Se a resposta for não, também fundamente.
Caso Hipotético
A empresa X contratou a firma de Advogados Y para assessorar na instrução de um
processo disciplinar contra o seu trabalhador Z, tendo sido nomeado o Advogado W como
instrutor do processo.

Sucede que, a firma de Advogados Y não foi diligente em sede do processo disciplinar
tendo, de forma intencional cometido determinadas falhas e sugerido a aplicação da
sanção disciplinar de despedimento sem que fossem observados os pressuposto legais para
o efeito.

Esta prática da firma de Advogados Y era mesmo com o intuito de motivar que o
trabalhador Z tivesse oportunidade de recorrer em Tribunal e, consequentemente, a
empresa X contratasse novamente a firma de Advogados Y para assessorar no processo
judicial visto que os honorários seriam mais elevados do que no processo disciplinar.

Sucede que, esta prática do Advogado W da firma de Advogados Y não era isolada, ou
seja, era recorrente e levou com que o Tribunal desconfiasse pois todos os processos judiciais
que este patrocinava derivavam de um mesmo vício.

Face ao caso acima, quid iuris quanto:


• Postura do Advogado W e da firma de Advogados Y.
• Tribunal.
• OAM.
• Cliente(s) envolvido(s).
MUITO OBRIGADA PELA ATENÇÃO!

Comissão de Ética e Deontologia Profissional

04 de Março de 2024.

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