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Uso da Sketamina Intranasal e Cetamina Intravenosa Para Casos de

Depressão Refratária e Ideação Suicida

Lucas Machado Campos1; Maria Paula Tecles Brandão Vargas2; Lais Ribeiro Cerqueira
de Oliveira2; Maria Paula Maia Alves 2; Elisa Almeida Rezende2 & Vitória
Hagge da Silva Santos2

1. Docente do curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora –


SUPREMA
2. Discente do curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora -
SUPREMA

Palavras-chave: Cetamina; Depressão; Ideação Suicida

Introdução
O transtorno depressivo maior (TDM) é o diagnóstico psiquiátrico mais
prevalente, afetando 300 milhões de pessoas mundialmente, aumentando em 20 vezes as
chances de tentativa de suicídio (CANUSO et al., 2018; CORREIA-MELO et al., 2019).
Ainda há uma crescente demanda para identificar novas terapêuticas do TDM, isso se
deve ao fato de mais de 30% dos portadores serem refratários ao tratamento e do tempo
prolongado de resposta medicamentosa, mesmo naqueles em que os antidepressivos já
existentes geram resposta (DALY et al., 2019). A cetamina, um antagonista do receptor
N-metil-d-aspartato (NMDA), tem efeitos antidepressivos quando usada em dose
subanestésicas, geralmente é administrada via intravenosa (IV), o que limita seu uso
(DALY et al., 2018). O seu S-enantiômero, a Sketamina, possibilita a administração
intranasal (IN), o que faz com que seu efeito seja mais rápido e permita seu uso
ambulatorial, por isso, vem se tornando uma forte opção terapêutica (DALY et al.,
2018).
Objetivo
Comparar e avaliar o uso da Sketamina IN e da Cetamina IV para casos de
depressão refratária e seus efeitos sobre a ideação suicida.
Método
Trata-se de uma revisão de artigos científicos presentes na base de dados
MedLine, analisando estudos em inglês, realizados em humanos, nos últimos 5 anos,
utilizando-se os descritores: "Ketamine", "Depressive Disorder" e "Treatment", e suas
variações segundo o MeSH. Após aplicar critérios de inclusão e exclusão, 9 artigos
fizeram parte do escopo final.
Resultados
Para inclusão dos participantes e avaliação da melhora dos sintomas depressivos,
foi utilizada a Escala de Depressão de Montgomery & Asberg (MADRS). SINGH et al.,
2016 comparou grupos que receberam Cetamina IV com grupos que receberam placebo,
obtendo melhora na escala MADRS dos pacientes que utilizaram a medicação no
primeiro mês, e este resultado foi mantido em até 4 a 6 semanas, sendo mais
significativo entre os dias 8 e 11. Em WILKINSON et al., 2018 foi percebido que a
Cetamina IV reduz significativamente a ideação suicida (IS), com efeitos moderados a
grandes nas primeiras 24 horas, e podem se estender por até 7 dias. Além disso, assim
como no estudo anterior, PHILIPS et al., 2019, foi constatado que a redução da IS é
independente da melhora da escala MADRS. Já WITT et al., 2019, mostrou que a IS foi
reduzida com uma infusão de Cetamina IV, porém, essa resposta durou até 72 horas
apenas. Já em relação ao enantiômero, CANUSO et al.,2018, FU et al., 2019 e WEI et
al., 2020 compararam um grupo que recebeu Sketamina IN com um grupo placebo, e
ambos mostraram melhora na escala em relação à IS nas primeiras 4 horas da Sketamina
IN, sem diferença significativa após 24 horas. WEI et al., 2020 ainda comparou com
infusão única de Cetamina, obtendo o mesmo resultado. Além disso, CORREIA-MELO
et al., 2019, evidenciou menos episódios de dissociação no uso da Sketamina IN em
comparação à Cetamina IV, um efeito adverso comum a elas. MCINTYRE et al., 2020,
observou que a Sketamina IN teve melhor resposta nas primeiras 24 horas, em
detrimento da maior efetividade da Cetamina IV entre 2 e 6 dias.
Conclusão
Em virtude das análises feitas, conclui-se que pelos altos índices de suicídio na
população é imprescindível que sejam estabelecidas medidas de combate emergencial,
uma vez que o limiar terapêutico dos antidepressivos orais são de 3 semanas, podendo
inclusive aumentar o risco de suicídio pela melhora motora ocorrer antes do humor.
Portanto, os medicamentos IV e IN mostraram-se extremamente eficazes na redução da
ideação suicida na primeira semana de administração, sendo que a Sketamina IN
apresenta efeito significativo nas primeiras 24 horas.
Referências
CANUSO, C.M. et al. Efficacy and Safety of Intranasal Esketamine for the Rapid Reduction of
Symptoms of Depression and Suicidality in Patients at Imminent Risk for Suicide:
Results of a Double-Blind, Randomized, Placebo-Controlled Study. Am J Psychiatry, v.
175, p. 620-630, 2018.
CORREIA-MELO, F.S. et al. Efficacy and safety of adjunctive therapy using esketamine or
racemic ketamine for adult treatment-resistant depression: a randomized, double-blind,
non-inferiority study. J Affect Disord, v. 264, p. 526-534, 2019.
FU, D.J. et al. Esketamine Nasal Spray for Rapid Reduction of Major Depressive Disorder
Symptoms in Patients Who Have Active Suicidal Ideation With Intent: Double-Blind,
Randomized Study (ASPIRE I). J Clin Psychiatry, v. 81, p. 19m13191, 2020.
MCINTYRE, R.S. et al. The effect of intravenous, intranasal, and oral ketamine in mood
disorders: A meta-analysis. Journal of Affective Disorders, v. 276, p. 576-584, 2020.
PHILIPS, J. L. et al. Single and repeated ketamine infusions for reduction of suicidal ideation
in treatment-resistant depression. Neuropsychopharmacology, v. 45, p. 606-612, 2020.
SINGH, J. B. et al. A Double-Blind, Randomized, Placebo-Controlled, Dose-Frequency Study
of Intravenous Ketamine in Patients With Treatment-Resistant Depression. Am J
Psychiatry, v. 173, p. 816-826, 2016.
WEI, Z. et al. Adjunctive intranasal esketamine for major depressive disorder: A systematic
review of randomized double-blind controlled-placebo studies. J Affect Disord, v. 265,
p. 63-70, 2020.
WILKINSON, S. T. et al. The effect of a single dose of intravenous ketamine on suicidal
ideation: a systematic review and individual participant data meta-analysis. Am J
Psychiatry, v. 175, p. 150-158, 2018.
WITT, K. et al. Ketamine for suicidal ideation in adults with psychiatric disorders: A
systematic review and meta-analysis of treatment trials. Aust N Z J Psychiatry, v. 54, p.
29-45, 2020.

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