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As razões de uma derrota - Midway

O relato do Comandante Fuchida sobre as primeiras levas


de ataque a Midway e a fraca oposição das aeronaves
baseadas em terra :

A 4 de julho, às 3 horas da madrugada, fui acordado pelo


barulho dos motores. Levantei-me, mas custava-me a
agüentar sobre as pernas. O Akagi preparava-se para
lançar os seus aviões sobre Midway.

Incapaz de resistir ao desejo de assistir a partida, deslizei


para fora da enfermaria. Toda a tripulação ocupava já seus
postos de combate. Os aparelhos que iam constituir a
primeira onda de ataque estavam alinhados sobre a
coberta, com os motores ligados. O Capitão-de-Fragata
Masuda, que comandava a aviação do Akagi, dirigia os
últimos preparativos.

Os meus camaradas mostravam-se preocupados comigo,


ao me verem abandonar a enfermaria no estado em que
me encontrava. "Impossível ficar lá dentro - respondi -
enquanto escuto o barulho dos motores." Examinei o céu.
O tempo estava mau, mas não impedia o vôo. O mar, em
troca, estava tranqüilo.

- A que horas nasce o sol? - perguntei ao tenente


Furukawa.
- Às cinco horas, comandante.
- Já foram enviados aviões de reconhecimento?
- Ainda não, partirão ao mesmo tempo que o primeiro grupo
de ataque.
- Farão, portanto, o reconhecimento na altura da largada
para o ataque?
- Sim, comandante, como de costume.
- E que reconhecimentos foram previstos?
Furukawa conduziu-me diante do mapa.

- Haverá sete, entre o sul e o leste, centrado sobre Midway.


Utilizamos um avião do Akagi, um do Kaga, dois
hidroaviões do Tone, outros dois do Chikuma e um último
do Haruna. O raio de ação será de quinhentos quilômetros
para todos, exceto para o aparelho do Haruna, que é do
modelo 95, e só pode percorrer metade desta distância.

Eu teria preferido realizar o reconhecimento em duas fases.


Um só reconhecimento era suficiente para confirmar a não
existência de qualquer força inimiga nas proximidades.
Mas, se o resultado deixasse qualquer dúvida, seria
necessário um segundo reconhecimento para descobrir a
posição exata do inimigo e permitir-nos tomar a iniciativa do
ataque.

Mas o Almirante Nagumo desejava empregar todos os


meios disponíveis na operação contra Midway e só o
indispensável nas explorações preliminares, embora
tivesse sido advertido. Como não desconfiava da presença
de forças inimigas naquelas paragens, calculou ser
suficiente um simples reconhecimento.

Os aviões, a que se encomendou esta missão, partiram do


Akagi e do Kaga às 4h 30min, ao mesmo tempo que a
primeira onda de ataque contra Midway.

O tempo estava ideal para o ataque: brisa de sudeste e


calmaria no mar. Quarenta minutos antes de nascer o sol,
os alto-falantes gritaram: "Aviadores, para a formatura!" Os
pilotos precipitaram-se até a sala de operações, sob a
ponte. Demasiado cansado para os seguir, fiquei no posto
de controle. Daí a pouco tempo, vi os homens correndo
para os aviões. O comandante de aviação voltou para o
meu lado e principiou a dar ordens:
- Preparem-se para a decolagem! Liguem os motores.
Capitão, coloque a proa contra o vento, com velocidade
relativa de 14 metros por segundo.

Jorraram chamas dos tubos de escape e a ponte encheu-


se de ruídos. Era um inferno.

- Tudo pronto para a decolagem, capitão! - avisou o


comandante da aviação.

O Akagi navegava agora de proa ao vento e aumentara sua


velocidade. Quando o anômetro indiciou que a velocidade
era conveniente, deu-se a ordem para a decolagem. O
comandante da aviação traçou um grande círculo no ar,
com uma lanterna verde.

Um caça Zero deslizou com o motor a toda a força sobre a


coberta e elevou-se, saudado por uma vibrante aclamação
da tripulação do Akagi, que agitava loucamente bonés e
braços. Outros oito Zeros o seguiram, depois coube a vez
aos bombardeiros de mergulho, cada um dos quais
transportava uma bomba de 250 Kg.

No espaço de um quarto de hora, 108 aparelhos decolaram


dos quatro porta-aviões: o Akagi, o Kaga, o Soryu e o
Hiryu. Descreveram um grande círculo por cima da
esquadra e puseram-se em formação, subindo quatro mil
metros; depois rumaram para sudeste, às 4h 45min.

Alguns marinheiros, arrumando o material, circulavam pela


coberta de vôo do Akagi, tão ruidosa momentos antes, e na
qual reinava agora o silêncio. Mas os alto-falantes não
tardaram rompê-lo, gritando: "Preparem a saída do
segundo grupo!"

Depressa apareceram novos aparelhos, trazidos para cima


pelos elevadores; foram postos em posição de decolagem.
Marinheiros colocavam os torpedos sob as fuselagens.
Toda a gente trabalhava febrilmente. Não havia tempo a
perder, pois viam-se já os primeiros clarões da
madrugada.

Aproximadamente a 240 Km dos seus objetivos, os


aparelhos do primeiro grupo foram avistados por um
hidroavião inimigo, que passou despercebido e os seguiu
até menos de 50 Km da ilha. Aí, tomando altura, lançou um
foguete luminoso para dar sinal de alarme à aviação de
caça, que estava, aliás, de sobreaviso.

Entre as 6h 45min e 7h 10min, travaram-se encarniçados


combates aéreos, mas a superioridade de manobras do
Zero acabou por se impor. Os caças norte-americanos não
conseguiram impedir o primeiro ataque contra Midway.

Apesar disso, esta operação não produziu os resultados


que se esperavam. O inimigo avisado, pôs no ar todos os
seus aviões, uns para atacarem o assaltante, outros para
evitar que fossem bombardeados em terra. Tomonaga, que
comandava este primeiro grupo, destruiu facilmente os
hangares, estrago de bem pouca importância; mas não
dispunha de aparelhos suficientes para inutilizar por
completo o campo de aviação. Sabia perfeitamente que o
objetivo principal do reide era neutralizar a aviação de
Midway. Como se tornava evidente que esse objetivo não
fôra alcançado, decidiu realizar um novo ataque para
destruir as instalações e base inimigas. Voltou, pois, até o
ponto de partida, assinalando previamente: "Necessário
segundo ataque: Hora 0700."

As nossas baixas foram insignificantes. As baterias


antiaéreas derrubaram três bombardeiros de grande
altitude e um de mergulho, Só dois caças não
regressaram.

A bordo do Akagi, depois da largada da primeira vaga,


esperávamos ansiosamente as notícias. A mensagem do
Tenente Tomonaga, reclamando um segundo ataque sobre
Midway, fez compreender que a aviação norte-americana
não fôra destruída.

Às 7h 15min soou o alarme. Consegui aproximar-me o


suficiente da vigia para verificar que o dia estava bom, com
um teto de nuvens a uns 1.800 m; abaixo delas a
visibilidade era excelente. Um dos destróieres que
tínhamos à proa, içou de repente uma bandeira: "Aviões
inimigos à vista!"

- Seis aviões procedentes de terra, a vinte graus a


estibordo no horizonte. Aproximam-se! - gritou um vigia.

Os cruzadores abriram fogo, logo depois os destróieres. E


logo o couraçado Kirishima, a estibordo do Akagi, disparou
sua artilharia principal. Os atacantes continuaram a
avançar sobre nós, voando muito baixo, a rasar a água,
rodeados pela fumaça dos projéteis ao explodir. Por sua
vez, o Akagi disparou. Três aviões Zero, desafiando nossa
própria cortina de fogo, caíram então sobre os americanos.

O ataque foi repelido. Daqueles aviões todos, que tinham


decolado de Midway transportando torpedos, sem escolta,
às 6h 15min, só um TBF e dois B-26 regressaram a ilha,
segundo o comunicado norte-americano. Todos soltamos
um suspiro de alívio.

O Almirante Nagumo não precisava de mais provas para se


convencer da necessidade de bombardear novamente
Midway. Em conseqüência, às 7h 15min, mal terminado o
ataque, ordenou que fossem preparados para o
bombardeio os aparelhos do segundo grupo, mantidos até
então em situação de alerta. Para isto era indispensável
trocar os torpedos por bombas nos bombardeiros do Akagi
e do Kaga. Os que já se encontravam na coberta de vôo
foram de novo baixados ao hangar, um por um,
trabalhando-se febrilmente para realizar a mudança.
O alívio não durou muito tempo, porém. Às 8 horas foi
assinalada a presença de aviões que atacavam o Hiryu.
Vimos esguichos d´água jorrarem a volta deste porta-
aviões e, pouco depois, outros idênticos surgiram ao redor
do Soryu. Não se divisou entretanto qualquer fumaça
negra, indicando que tivessem acertado no alvo. Os dois
continuaram a sua rota, aparentemente incólumes.

Nesse momento, todos os Zeros do segundo grupo se


elevaram no espaço, para aumentar os efetivos da patrulha
de combate. Às 8h 5min, um vigia anunciou a chegada de
um grupo de aviões pequenos que procediam de Midway.
Os destróieres abriram fogo sobre eles. Perguntávamos a
nós próprios o que pretendiam fazer, pois voavam
excessivamente alto para atacar com torpedos e
demasiado baixo para atacar em vôo picado. Eram 16,
muito dispersos e dirigiam-se para o Hiryu. Uns dez Zeros
precipitaram-se sobre eles e derrubaram rapidamente
metade. Impressionou-me que os nossos adversários não
tivessem empregado, naquela circunstância, a sua técnica
de ataque em vôo picado que costuma ser tão eficaz.

Encontrei a explicação nos comunicados norte-americanos.


Tratava-se de 16 bombardeiros do Marine Corps que
haviam decolado de Midway uma hora antes. O
comandante sabia que seus pilotos não estavam treinados
no ataque de vôo picado; ao avistar os porta-aviões
japoneses recorreu, por isso, à única tática de ataque que
lhe era possível adotar.

Sofremos, pois, todos os gêneros de ataques: com


torpedos, com bombardeiros de grande altitude e de
mergulho, sem termos registrado qualquer dano. Tirei a
conclusão de que os aviadores inimigos não davam prova
de grande habilidade e esta também foi a opinião do
Almirante Nagumo e do seu Estado-Maior. Deduzimos que
uma ofensiva deste tipo não era muito de temer, o que,
paradoxalmente, iria contribuir, de maneira considerável,
para a nossa derrota posterior.
Naqueles instantes, a nossa formação era incorreta.
Deveríamos ter nos reagrupado; mas o regresso de
Tomonaga impunha uma tarefa mais urgente. Tínhamos,
não obstante, nessa altura, pilotos tão bem treinados que,
para eles, era uma brincadeira de crianças pousar sobre a
coberta durante o combate. Um quarto de hora depois do
porta-aviões se colocar com a proa para o vento, todos os
seus aparelhos estavam de novo a bordo. Passava pouco
das 9h quando os quatro porta-aviões terminaram o
reembarque.

Quase uma hora antes do regresso de Tomonaga


produziu-se, entretanto, um acontecimento que mudou por
completo a situação. Um dos nossos aviões enviou esta
mensagem:

"À popa, grupo inimigo, acompanhado pelo que parece ser


um porta-aviões."

A notícia nos eletrizou. Era essencial, segundo resolveu o


Almirante Nagumo, atacar este grupo antes de efetuar um
novo bombardeio sobre Midway. Mas tal operação
esbarrava em numerosos obstáculos, pois todos os Zeros
do segundo grupo tinham decolado para reforçar a patrulha
de caça destacada contra os aviões de Midway. Na
realidade, apenas os 36 bombardeiros de mergulho do
Hiryu e do Soryu estavam prontos para serem lançados
contra os navios do inimigo. O dilema se tornava difícil de
resolver. Se Nagumo enviasse os bombardeiros, não podia
dar-lhes uma escolta de caças e expunha-se a graves
perdas. Por outro lado, que fazer dos aviões torpedeiros já
alinhados nas cobertas do Akagi e do Kaga e armados com
bombas de 800 quilos?

Segundo a opinião de Nagumo, o envio de bombardeiros


sem escolta implicava riscos enormes. Era mais prudente
recolher primeiro os aviões que regressavam de Midway e
os caças de patrulha de combate, reorganizar logo depois
as forças e fazer um deslocamento para o norte, subtraindo
desse modo a nossa esquadra a novos ataques aéreos.
Uma vez terminados estes preparativos, daria meia volta e
se lançaria ao ataque da esquadra inimiga, com todos os
meios de combate ao seu dispor.

O raciocínio tinha lógica. A esquadra de Nagumo estava


distribuída e parecia possuir grande superioridade. Seria
assim fácil destruir o adversário, ao lançar-se em um
ataque maciço. Isto era exato, mas não contava com o fator
tempo. Num combate, a vitória não corresponde sempre ao
mais forte, mas também ao que atua mais rapidamente e
com a audácia necessária à resolução de qualquer
conjuntura imprevista.

Nos quatro porta-aviões da esquadra de Nagumo (que já


se dirigia para o norte) trabalhava-se febrilmente na
preparação da força de ataque. Esta devia ser composta
por 36 bombardeiros de mergulho e 54 aviões torpedeiros.
Foi impossível escoltá-la adequadamente porque os
ataques inimigos não tardaram a repetir-se; limitou-se a
escolta a doze aviões Zero. Estes 102 aparelhos deviam
estar preparados para decolar às 10h 30min.

Logo que o avião do Tone assinalou a presença de um


porta-aviões, esperamos o ataque de um momento para o
outro e até nos admiramos que demorassem tanto. Depois
de finda a guerra, soubemos que o adversário aguardava a
ocasião mais favorável, pois os hidroaviões de Midway
mantinham-no perfeitamente a par de nossos movimentos.
O Almirante Spruance calculava que essa oportunidade se
apresentaria quando regressassem os aparelhos que
bombardeavam a ilha. E esperou pacientemente. A caça
estava a descoberto e o caçador dispunha de todas as
vantagens.
Entre 7h 2min e 9h 2min, os norte-americanos lançaram
sobre nós 131 bombardeiros de mergulho e aviões
torpedeiros.

Os atacantes chegavam por ambos os lados, voando em


fila, em vôo rasante sobre a água; estavam a menos de 8
Km e pareciam dirigir-se para o Akagi. Tive a impressão
que não poderíamos escapar aos seus torpedos. Mas já os
nossos caças os metralhavam, pois também eles não
traziam escolta. Acompanhamos com paixão os dramáticos
combates, lançando aclamações cada vez que um avião
americano era derrubado.

Dos 14 aviões inimigos que se apresentaram por boreste, 7


foram destruídos e dos 12 de bombordo, não ficaram mais
que 5. O Akagi abriu fogo sobre eles.

Os restantes conseguiram colocar-se em posição de tiro e


vigiamos com ansiedade o instante em que os torpedos
caíram na água. Surpreendeu-nos que não tivessem
atirado nenhum contra nós.

Entretanto, 7 aviões inimigos lançaram suas bombas sobre


o Hiryu, 5 por boreste e 2 por bombordo. Os nossos caças
os perseguiram o mais distante possível. O Hiryu girou
completamente sobre boreste, para evitar as bombas. Ao
verificarmos que não se dava nenhuma explosão, todos
respiramos fundo.

Este brilhante êxito foi devido aos pilotos dos caças de


nosso navio-capitânia, cuja audácia e habilidade
admiramos. Também nos impressionou, porém, a valentia
dos pilotos americanos que, mesmo em face das suas
baixas, não retrocediam. Sempre que os Zeros esgotavam
suas munições, pousavam sobre a coberta para
reabastecerem. Os homens de serviço aclamavam os
pilotos, davam-lhes palmadas nas costas e diziam-lhes
palavras de estímulo. Quando um avião voltava a estar
pronto (pouco precisaram de gasolina) o piloto fazia um
aceno com a cabeça, acelerava e decolava de novo. A
cena repetia-se indefinidamente enquanto a luta
continuava.

No intervalo, os preparativos prosseguiam. Os elevadores


traziam os aparelhos para a coberta, onde eram
gradualmente alinhados. Às 10h 20min, o Almirante
Nagumo ordenou que partissem para o ataque o mais
depressa possível. Na coberta do Akagi, os motores
aqueciam. Dentro de cinco minutos, os aparelhos
decolariam. Cinco minutos! Quem teria podido pensar que
a sorte da batalha ia ser jogada neste breve lapso de
tempo?

A visibilidade era boa. Contudo, as nuvens tornavam-se


mais espessas próximo dos 1.000 metros e, apesar dos
intervalos descobertos, ofereciam boa proteção para os
atacantes. Às 10h 24min, a ponte de comando ordenou a
decolagem. O primeiro Zero ganhou velocidade, atirou-se
na direção da proa. Neste mesmo instante, um vigia gritou:

- Bombardeiros, mergulhando!

Ergui o olhar e avistei três aparelhos inimigos que se


arremessavam contra o nosso navio. A silhueta do
Dauntless aumentou rapidamente e, de súbito, alguns
objetos negros desprenderam-se das asas. Bombas!
Caíam em linha reta sobre mim! Instintivamente, deitei-me
de barriga para baixo. Varreu-me uma lufada de ar quente.
Fez-se um estranho silêncio. Levantei-me e olhei para o
céu. Os aviões já tinham desaparecido.

Não haviam encontrado oposição, pois os nossos caças,


ocupados até então em repelir o ataque dos torpedeiros,
não conseguiram recuperar altura a tempo. Pode-se
portanto dizer que o êxito dos bombardeiros norte-
americanos deve-se ao sacrifício dos seus camaradas dos
torpedeiros. Fôramos surpreendidos nas piores condições
possíveis: com a coberta atulhada de aparelhos (incluindo
as suas correspondentes bombas e torpedos) e os
depósitos cheios de gasolina.

Fiquei horrorizado ao ver as destruições causadas em tão


pouco tempo. Havia um grande buraco na coberta de
decolagem e precisamente por detrás do elevador central.

- A coberta - gritou Masuda - Abriguem-se todos que não


têm missões a cumprir!

Como eu não podia ser útil, desci cambaleando por uma


escada e fui dar à sala de operações, que estava cheia de
homens com queimaduras. Tornei a subir à ponte e vi
então grandes colunas de fumaça negra que se elevavam
do Kaga e do Soryu, igualmente atingidos, horrível
espetáculo.

O Akagi estava fora de combate; e como, além disso,


perdera todos os meios de comunicação com o exterior, o
Contra-Almirante Kusaka, chefe do Estado-Maior, declarou
ser necessário transferir, sem perda de tempo, a insígnia
de comando para o cruzador ligeiro Nagara.

O Capitão-de-Fragata Nishibayashi, ajudante de ordens do


almirante, chegou naquele momento.

- Todas as passagens estão pegando fogo, lá embaixo -


disse ele a Kusaka - Há só uma forma de sair daqui: descer
ao longo de um cabo, pela proa da ponte de comando, e
depois tentar alcançar a câmara da popa. O bote vindo do
Nagara atracará a bombordo. Os senhores poderão
embarcar utilizando uma escada.

- Fuchida - disse-me o comandante da aviação - não


podemos continuar aqui. É melhor que você desça, antes
que seja tarde demais.
Mas, no meu estado, a descida não se tornava fácil.
Ajudado por alguns marinheiros, consegui sair da ponte e
deixei-me deslizar ao longo do cabo que principiava a
fumegar. Encontrava-me ainda a três metros acima da
coberta de decolagem. A escada de ligação estava rubro
vivo, assim como a chapa sobre a qual me sustentava. Não
tinha outra alternativa senão saltar, e assim fiz. Nesse
instante, a onda expansiva de outra explosão no hangar
atirou-me sobre a coberta, felizmente para um lugar onde
as chamas ainda não atingiam; em razão do choque perdi
os sentidos durante algum tempo. Quando voltei a mim,
tentei, em vão, me levantar: tinha fraturado os tornozelos.

Às 11h 30min, a transferência do Estado-Maior e dos


feridos terminara. O cruzador pôs-se de novo em marcha,
com o pavilhão do Almirante Nagumo tremulando no
mastro.

A 5 de junho, às 3h 50min, Yamamoto enviou a ordem de


torpedear os restos do Akagi.

No Soryu, terceira vítima dos bombardeiros, os estragos


foram consideráveis. No momento do ataque, os grupos
que trabalhavam na coberta preparavam a decolagem dos
aviões.

Em três minutos, três bombas acertaram-lhe em cheio: a


primeira rebentou a coberta diante do elevador da proa; as
outras duas caíram ao redor do elevador central,
devastando a coberta e incendiando depósitos de
combustível e munições. Às 10h 30min, o barco
convertera-se em um inferno de fumaça e chamas, onde as
explosões se sucediam ininterruptamente.

Não tardaram, entretanto, a verificar que o capitão do


navio, Yanagimoto, permanecera na ponte de comando.
Comandante algum era tão admirado como ele, em toda a
frota. Gozava de tal popularidade que, quando se
anunciavam palavras suas dirigidas à tripulação, os
marinheiros se reuniam com uma hora de antecedência
para garantir lugares nas primeiras filas. Portanto, nada
tem de estranho o fato de quererem salvá-lo a todo o
custo.

O primeiro contramestre, Abé, campeão de luta na


marinha, foi encarregado de ir buscar o capitão e trazê-lo
pela força, se necessário. Ao subir à ponte do Soryu, Abé
viu o Capitão Yanagimoto, imóvel, com o sabre na mão e
os olhos cravados na proa. Abé avançou.

- Capitão - disse - venho da parte de sua tripulação para o


conduzir a um lugar seguro. Esperam-no. Faça o favor de
me acompanhar até o destróier.

Como não obtivesse qualquer resposta, avançou de novo,


com a intenção de agarrar o capitão pela cintura e levá-lo.
Mas Yanagimoto voltou-se então para ele. O seu rosto
mostrava tal determinação que o contramestre parou e,
depois, com lágrimas nos olhos, retirou-se. No momento
que deixava a ponte, ouviu o capitão cantar o Kimigayo, o
hino nacional.

Às 19h 30min, o Soryu mergulhou no seu túmulo líquido,


arrastando para a morte 728 homens, entre os quais o seu
capitão, aos 30º 38' de latitude norte e 179º 13' de
longitude oeste.

Nenhuma das testemunhas que assistiram ao seu


desaparecimento perceberam o menor sinal de presença
de submarino, nem viram qualquer rastro de torpedo. Antes
do barco afundar, produziram-se explosões; mas
provinham indiscutivelmente das munições de bordo. Os
arquivos americanos atribuíram ao submarino Nautilus a
honra de haver assestado o golpe de misericórdia no
Soryu. Erro evidente, por que, como vimos, os torpedos
não contribuíram para a destruição do Soryu.

Se bem que a derrota agora fosse provável, devíamos


continuar a luta enquanto dispuséssemos de recursos
ofensivos. O Contra-Almirante Sunumu Kimura, chefe da
10ª Esquadra de Destróieres, recebeu ordens de ficar junto
ao porta-aviões à deriva, com o Nagara e seis de suas
unidades, já que o cruzador tinha a missão de recolher o
Almirante Nagumo e seu Estado-Maior. O resto da
esquadra - centrada ao redor do Hiryu - prosseguiu a sua
rota na direção norte. Mas quando, por sua vez, o Hiryu foi
posto fora de combate, os oficiais de Nagumo
compreenderam que a batalha estava perdida e que a
única coisa importante era evitar novas destruições. Mas,
como cada qual sentia a responsabilidade da decisão a
tomar, ninguém propunha a retirada.

A situação, contudo, era clara. As nossas forças aéreas


haviam sido aniquiladas, o inimigo contava ainda, pelo
menos, com um porta-aviões intacto. Não tínhamos
inutilizado os aeródromos de Midway e os nossos navios
permaneciam dentro do raio de ação da aviação inimiga
com base em terra firme. O resultado fatal já não oferecia
qualquer dúvida. Nagumo compreendeu-o e resolveu
retirar-se para salvar as forças que lhe restavam. Os
destróieres receberam ordem de regresso.

A esquadra rumou para noroeste. O Hiryu, a arder, tentou


seguí-la durante algum tempo, mas logo se atrasou. Os
destróieres Kasagumo e Yugumo ficaram junto dele.

Em Tóquio, o Alto-Comando do Estado-Maior seguira o


desenrolar da batalha com inquietação crescente. Ao tomar
conhecimento de que o Hiryu sofrera a mesma sorte do
Akagi e do Soryu, compreendeu que a operação finalizara
em uma derrota.

Perdêramos os nossos quatro melhores porta-aviões. A


aviação de Midway não fora aniquilada. O inimigo possuía
ainda, pelo menos um, possivelmente dois porta-aviões
incólumes. Em vista disso, os estrategistas de Tóquio
decidiram que seria loucura continuar a operação.

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