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Criação legalizada de fauna silvestre no Brasil: distribuição e sua relação com


PIB municipal / Legal wild fauna breeding in Brazil: distribution and its
association with GDP of mu...

Conference Paper · July 2009

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1 47

5 authors, including:

Théa M. Machado Antonio Bento Mancio


Universidade Federal de Viçosa (UFV) Universidade Federal de Viçosa (UFV)
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Paulo José Hamakawa


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Criação legalizada de fauna silvestre no Brasil: distribuição e sua relação com PIB municipal1

Théa Mírian Medeiros Machado2, Antônio Carlos Csermak Júnior3, José Marinaldo Gleriani4, Antônio
Bento Mâncio2, Paulo José Hamakawa5
1
Parte da dissertação de mestrado do segundo autor
2
Professores do Departamento de Zootecnia da UFV, Pesquisadores do INCT-CA. E-mail: thea@ufv.br, amancio@ufv.br
3
Eng. Agrônomo, Mestre em Zootecnia e Doutorando em Medicina Veterinária pela UFV. E-mail: antoniocarloscj@gmail.com
4
Professor do Departamento de Engenharia Florestal da UFV. e-mail: gleriani@ufv.br
5
Professor do Departamento de Engenharia Agrícola da UFV. E-mail: hamakawa@ufv.br

Resumo: O acentuado declínio de muitas populações da fauna silvestre torna importante o


manejo sustentável destas. A criação em cativeiro é uma alternativa tecnicamente viável, que pode ser
utilizada também como estratégia conservacionista, gerando dados da biologia destes animais, integrando
programas de conscientização ambiental e multiplicando espécimes, às vezes de espécies raras. O Brasil
conta com respaldo legal para criação em cativeiro de sua fauna silvestre, mas dados sobre a distribuição
destes criadouros são escassos. Objetivou-se verificar a influência da economia sobre a existência de
criadouros legalizados comerciais, científicos e conservacionistas no território nacional. Para isto,
relacionou-se o município do criador com o perfil do Produto Interno Bruto (PIB) de sua municipalidade
e contabilizou-se o número de criatórios segundo as grandes regiões brasileiras. Foram utilizadas
informações referentes a registros de criadouros efetuados entre os anos de 1976 e 2001, disponibilizados
pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Para o PIB
municipal, foram utilizados dados oriundos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os
criadouros estão inseridos principalmente em municípios onde o PIB é composto majoritariamente pelo
setor de serviços, seguido do PIB devido ao setor industrial e minoritariamente onde o PIB é devido à
agropecuária. Isto sugere que esta atividade não é desenvolvida predominantemente pelo pecuarista
tradicional. Em relação à distribuição geográfica, a maior concentração de criatórios se dá nas regiões
Sul e Sudeste e minoritariamente na região Norte, o que também sugere a influência da economia sobre a
criação legal da fauna silvestre.

Palavras–chave: conservação da fauna, criação em cativeiro, conservação ex-situ, recursos faunísticos,


economia da conservação, zoogeografia

Legal wild fauna breeding in Brazil: distribution and its association with GDP of municipalities

Abstract: The accented decline of many populations of wild fauna makes important the
sustainable handling of them. Captive breeding is technically viable alternative, it may be used as a
conservationist strategy, generating biological data from these animals, integrating environmental
awareness and increasing a number of specimens, sometimes of rare species. Brazil counts on legal
endorsement for captive breeding of its wild fauna, but data about distribution of these breeders are
scarce. It was aimed in this study to relate the economy influence over the distribution of commercial,
scientific and conservationist legal breeders in national territory. To concern that, the municipality of the
breeder was related to the profile of Gross Domestic Product (GDP) in his municipality and the amount
of breeding registers account by great Brazilian region. It was used records from fauna breeders between
1976 and 2001, available from the Brazilian Environmental and Renewable Natural Resources Institute
(IBAMA). For GDP profile of the municipalities, it was used data from the Brazilian Institute of
Geography and Statistics (IBGE). The fauna breeders was inserted in cities where GDP is composed
mainly by service sector, following by cities where GDP is composed mainly by industrial sector and
finally by cities where the GDP is composed mainly by agriculture activities. These results suggest that
fauna breeding isn’t done by traditional farmer. In relation to the geographic distribution, the biggest
concentration of captivity breeders was found in South and Southeastern regions and is minoritory in the
North region. That also suggests an economy influence over legal breeding of Brazilian fauna.

Keywords: Fauna conservation, captive breeding, ex-situ conservation, fauna resources, economy of
conservation, zoogeography

1
Introdução
A manutenção e produção em cativeiro de espécies silvestres podem ser usadas para sua própria
conservação. Maior quantidade de informações geradas em um menor intervalo de tempo, no cativeiro,
pode contribuir, em determinados casos, para com programas de conservação da fauna, a exemplo da
reprodução assistida (Andrabi & Maxwell, 2007). A criação legalizada da fauna em cativeiro ou sua
extração sustentável também pode se prestar a reduzir a pressão aos animais de vida livre, uma vez que o
produto chega ao mercado por vias legais e sustentáveis. É, ainda, uma alternativa de diversificação para
produtores rurais que, por vezes, mantêm uma relação de conflito com estes animais em suas
propriedades (Lobão, 2006).
Na literatura não são encontrados relatos sobre a distribuição dos criadouros de fauna silvestre em
função do Produto Interno Bruto (PIB) municipal e do setor predominante em participação no PIB na
economia de tal localidade. Conforme IBGE (2005), “as características municipais permitem identificar
as áreas segundo o grau de desenvolvimento econômico produzindo informações que captam as
especificidades do país, estabelecem objetivos e definem prioridades possibilitando o planejamento de
políticas públicas e a alocação de recursos públicos”.
Os autores deste trabalho objetivaram verificar a influência da economia sobre a existência de
criadouros legalizados no território brasileiro.

Material e Métodos
Foram utilizados dados referentes aos criatórios das três diferentes finalidades - científica,
comercial e conservacionista - disponibilizados pelo IBAMA. Além da finalidade do criatório, estes
dados dizem respeito a ano do registro, município e classe das espécies criadas. O gênero e a espécie
animal não constam para alguns registros. Este banco de registros contêm dados compreendidos entre os
anos de 1976 a 2001. Investigou-se a ocorrência de criadouros nas diversas finalidades em função da
atividade econômica mais expressiva do município, ou do equilíbrio entre estas atividades.
Dados oriundos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística trazem o PIB discriminado por
município, além da composição deste. Nesta composição participam a soma dos valores dos setores da
agropecuária, da indústria, dos serviços, e da administração pública. Um destes setores é considerado
predominante no PIB, quando 70% ou mais do PIB gerado no município tem origem em tal setor.
Quando este valor se encontra entre 40% e 70% (exclusive), o setor participa com ‘maioria’ no PIB. No
caso de municípios com a economia mais diversificada, a contribuição ao PIB por cada um dos setores
caracteriza situações de equilíbrio entre setores. Se dois setores têm participação relativa maior ou igual a
40%, e a diferença entre estes valores não excede 5%, eles são considerados em equilíbrio (IBGE, 2005).
Para verificar estatisticamente a relação da distribuição do total de criadouros em função do PIB
municipal, bem como desta relação para as diferentes categorias, optou-se pelo uso do teste
Chi-quadrado. Este teste se presta à análise de freqüências em categorias discretas, para determinar a
significância das diferenças entre grupos independentes. Para a realização dos cálculos, foram obtidas as
freqüências de cada classe de PIB dentro de cada categoria.

Resultados e Discussão
A análise das categorias de criadouros em relação às classes de PIB (Tabela 1) mostrou uma
tendência de concentração daqueles em municípios que apresentam o setor de serviços como maior
contribuinte na constituição do PIB. Este comportamento foi observado para todas as regiões e para todas
as finalidades da criação. O fato da criação de fauna silvestre estar menos associada à classe de PIB
composto predominantemente pela agropecuária, em relação a serviços e indústria, sugere que esta
atividade não é desenvolvida predominantemente pelo pecuarista tradicional. Nas categorias científicas e
conservacionistas efetivamente não se visa o lucro e, por definição, se cria espécies sem fins comercial.
No caso específico da categoria conservacionista, o maior número de registros se dá para pessoas
jurídicas, o que ajuda a explicar o fato da distribuição estar possivelmente associada às classes de PIB
compostas em sua maioria pelo valor adicionado da indústria ou do setor de serviços.

2
Tabela 1 Distribuição percentual dos criadouros de fauna silvestre em função das classes de PIB1

Categoria2
Classe PIB3
Comerciais Conservacionistas Científicos Total de Registros
Agropecuária (%) 12,5 4,5 0,00 8,9
Indústria (%) 23,6 27,7 11,1 23,2
Serviços (%) 54,4 65,2 81,9 60,5
Equilíbrio (%) 9,5 2,6 7,0 7,4
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
1
Percentagens calculadas pelos autores
2
Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA);
3
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE)

Os criatórios das três categorias mostraram-se fortemente concentrados nas regiões Sul e Sudeste
(72,3%), a região com menor número de criatórios foi a Norte, com 5,1% do total de registros. A região
Sul é aquela de melhor índice de desenvolvimento humano (IDH) no Brasil, seguido da região Sudeste,
enquanto as regiões Norte e Nordeste são as piores colocadas (CEPAL/PNDU/OIT, 2008).

Conclusões
A relação do setor que contribui predominante para o PIB municipal na distribuição dos
criatórios legalizados de fauna silvestre em cativeiro sugere que esta atividade não é desenvolvida
predominantemente pelo pecuarista tradicional.
A maior concentração de criatórios nas regiões Sul e Sudeste e minoritariamente na região Norte
sugere que o desenvolvimento econômico regional propicia a criação legalizada, em cativeiro, da fauna
silvestre, no Brasil.

Literatura citada
ANDRABI, S.M.H.; MAXWELL, W.M.C. A review on reproductive biotechnologies for conservation
of endangered mamalian species. Animal Reproduction Science, v.99, n.3-4, p.223-243, 2007.
IBGE. Produto interno bruto dos municípios: 1999-2003. Rio de Janeiro: IBGE, 2005. (Contas
Nacionais, 16) [CD-ROM]. Rio de Janeiro: IBGE, 2005.
IBAMA. Fauna. Lista dos criadouros. Disponível em http://www.ibama.gov.br/fauna/criadouros,
último acesso 3/6/2006.
CEPAL/PNDU/OIT. Emprego, desenvolvimento e trabalho decente: a experiência brasileira
recente. Brasília: CEPAL/PNDU/OIT, 2008. 176p.
LOBÃO, E.S.P. Análise dos Conflitos entre Produtores Rurais e Mamíferos Silvestres na Região
Cacaueira do Sul da Bahia - Corredor Central da Mata Atlântica. Dissertação de Mestrado,
Universidade Estadual Santa Cruz. Ilhéus, Brasil, 2006.

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