Você está na página 1de 39

Imprimir

O MODERNISMO EM PORTUGAL
 Aula 1 - Fundamentos históricos e estéticos do Modernismo
português
 Aula 2 - Estilos e temas em autores modernistas portugueses

 Aula 3 - Fernando Pessoa

 Aula 4 - Desdobramentos da estética modernista em Portugal

 Aula 5 - Revisão da unidade

 Referências

Aula 1

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E ESTÉTICOS DO


MODERNISMO PORTUGUÊS
Olá, estudante! Boas-vindas a esta aula que tem como objetivo aprofundar seus conhecimentos sobre os
fundamentos históricos e estéticos do Modernismo português.

INTRODUÇÃO

Olá, estudante!

Boas-vindas a esta aula que tem como objetivo aprofundar seus conhecimentos sobre os fundamentos
históricos e estéticos do Modernismo português. O Modernismo foi um movimento literário e cultural que
floresceu em Portugal nas primeiras décadas do século XX, e sua influência perdura até os dias de hoje. Nesta
aula, você vai estudar três movimentos literários e artísticos que deixaram uma marca indelével na história da
cultura ocidental: o Futurismo, o Orfismo e o Presencismo. Cada um desses movimentos é uma janela para o
espírito criativo e inovador que varreu a Europa no início do século XX, influenciando profundamente a
literatura, a arte e a maneira como as pessoas percebiam o mundo ao seu redor.

Prepare-se para uma jornada emocionante pelo universo da experimentação artística, da busca pela
modernidade e da expressão literária revolucionária!
OS FUNDAMENTOS DO MODERNISMO EM PORTUGAL

O início do século XX assinala o advento de uma nova era literária em Portugal, o Modernismo, que abordou a
arte e a literatura de uma perspectiva estética inovadora, caracterizada pela consciência da modernidade.
Essa consciência estava intrinsecamente ligada às transformações sociais, políticas e econômicas que estavam
ocorrendo de forma gradual. No entanto, Portugal carecia de um projeto de desenvolvimento nacional que lhe
permitisse manter o ritmo da modernização que se verificava no resto da Europa (Abdala Júnior, 1985). Os
primeiros passos do movimento modernista em Portugal começaram por volta de 1910, período marcado
pela transição e instabilidade política, uma vez que o país estava em processo de mudança do regime
monárquico para a república. Massaud Moisés (2008, p. 316) explicou que: “[...] o monarca equilibra-se até
1910, quando, precisamente a 4 de outubro, se instala a república em Portugal. [...] Proclamado o novo
regime, chamam Teófilo Braga para assumir provisoriamente as responsabilidades do governo”.

Diante da nova situação política em Portugal, surgiram dois grupos distintos: um grupo satisfeito com a
instalação do regime republicano e empenhado em consolidá-lo, e outro descontente com a queda da
monarquia e contrário à República. É nesse cenário que, no ano de 1910, surge a revista A Águia:

[...] revista mensal de literatura, arte, ciência, filosofia e crítica social, logo tornada órgão da
Renascença Portuguesa, rótulo que os conformados passaram a usar como expressão do
seu programa de fundamentação e revigoramento, em moldes modernos, da literatura
portuguesa” (Moisés, 2008, p. 316).

Por volta de 1915, um grupo de escritores, incluindo Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Luís de
Montalvor, Almada Negreiros e Ronald de Carvalho, fundou a revista Orpheu, com o objetivo de revolucionar
a cultura portuguesa e atualizá-la no contexto europeu. A revista é considerada um marco do início do
movimento modernista em Portugal.

Figura 1 | Capa da revista Orpheu

Fonte: Wikimedia Commons.


Figura 2 | Revista Orpheu

Fonte: Wikimedia Commons.

Assim, o primeiro movimento modernista em Portugal surgiu durante a transição da monarquia para a
república, e foi liderado pelo grupo conhecido como Geração Orpheu, pioneiro no Modernismo português,
ademais, suas ideias foram fortemente influenciadas pelas teses futuristas de Filippo Tommaso Marinetti. Três
importantes movimentos ou chamados de períodos/fases contribuíram para os fundamentos históricos e
estéticos do Modernismo português: o Orfismo, o Futurismo e o Presencismo (Moisés, 2008).

O Orfismo, considerado a primeira fase do Modernismo em Portugal, surgiu no início do século XX,
difundindo-se amplamente, suas características fundamentais incluíam a busca pela espiritualidade, a
valorização do inconsciente e a exploração de imagens e símbolos como veículos para expressar emoções e
ideias. É importante destacar que o objetivo era disseminar novos ideais e abandonar o passado. Em Portugal,
dois proeminentes escritores, Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, tiveram papéis significativos no
contexto do Orfismo.

O Futurismo, influenciado pelas ideias do movimento Futurista italiano, teve uma presença significativa em
Portugal. Um dos nomes mais proeminentes foi Almada Negreiros, que traduziu o espírito futurista em suas
pinturas, poesia e manifestos. O Futurismo Português abraçou a celebração da tecnologia, da velocidade e da
modernidade, representando a influência crescente da industrialização e urbanização em Portugal. Os artistas
buscaram capturar a energia dinâmica da vida urbana e a transformação da sociedade. Almada Negreiros é
lembrado por sua Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX, um manifesto que proclamou
uma visão revolucionária e provocadora da arte e da cultura em Portugal (Moisés, 2008).

Em seguida, o Presencismo buscava uma expressão autêntica e singular da experiência portuguesa,


distanciando-se das influências estrangeiras. Essa fase ou movimento enfatizou a introspeção, a subjetividade
e a reflexão sobre a identidade e a condição nacional portuguesa. Os autores presencistas exploraram
questões de identidade, saudade (um sentimento nostálgico caracteristicamente português) e a relação entre
o indivíduo e a coletividade (Figueiredo, 1980).

Em conjunto, esses movimentos contribuíram para a rica tapeçaria do Modernismo português, refletindo as
mudanças sociais e culturais da época e destacando a necessidade de se expressar de maneira autêntica e
inovadora. Vejamos com mais detalhes a seguir.
O FUTURISMO, O ORFISMO E O PRESENCISMO E SEUS IMPACTOS NA LITERATURA PORTUGUESA

O Orfismo: grito moderno que ecoou em Portugal


Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, além de amigos próximos, colaboraram em várias obras literárias e
mantiveram um intercâmbio frequente de cartas e discussões sobre suas criações. Pessoa, em particular,
abraçou com fervor as ideias do Orfismo, incorporando-as de maneira marcante em sua poesia. Em seus
versos, ele empregou imagens e símbolos para dar vida à sua visão de mundo e sua incessante busca pela
espiritualidade. Por outro lado, Mário de Sá-Carneiro encontrou influência do Orfismo em sua prosa,
notadamente em seus contos e romances, explorou as profundezas do inconsciente humano e adotou
técnicas como o fluxo de consciência para traduzir a complexidade da psique humana em suas narrativas
(Abdala Júnior, 1985). Esses dois escritores emergiram como figuras de destaque no movimento Orfista em
Portugal, suas obras literárias são exemplares da influência profunda desse movimento artístico na cultura e
na expressão criativa do país.

Figura 3 | Fernando Pessoa

Fonte: Wikimedia Commons.

Figura 4 | Almada Negreiros

Fonte: Wikimedia Commons.

O futurismo: da atualidade ao futuro


O Modernismo português foi influenciado por diversas vanguardas europeias, os artistas e os escritores
portugueses buscaram de forma determinada romper com as tradições e com as formas convencionais de
expressão artística e literária que tinham prevalecido até então. A palavra "vanguarda," de origem francesa
avant-garde, coloca os artistas na linha de frente da busca por mudanças na arte e na literatura, mantendo-os
alerta para a defesa de inovações (Moisés, 2008). Das correntes vanguardistas que exerceram influência
marcante no Modernismo português, destacamos o Futurismo, liderado por Filippo Tommaso Marinetti, que
lançou seu famoso Manifesto Futurista em 1909, o qual proclamava a celebração da modernidade, da
tecnologia, da velocidade e da ruptura com o passado. Os artistas e os escritores começaram a explorar
conceitos futuristas como abstração, geometrização, simultaneidade e fragmentação em suas obras,
frequentemente utilizando esses recursos para abordar temas relacionados com a modernidade, tecnologia e
industrialização. Isso resultou em uma nova maneira de representar o mundo, destacando a dinâmica da vida
urbana, a influência da tecnologia e a sensação de rapidez e transformação que caracterizava a época.

Segundo Abdala Júnior (1985), as ideias futuristas foram introduzidas em Portugal por Mário de Sá Carneiro,
um poeta, e Guilherme de Santa Rita, um artista plástico, que estavam em contato com Marinetti em Paris,
local em que residiam. Eles tiveram a oportunidade de conhecer o Manifesto Futurista, publicado em 20 de
fevereiro de 1909 no jornal francês Le Figaro e, posteriormente, traduziram esse manifesto, trazendo assim
influências futuristas para o território português.

O Presencismo: José Régio e Miguel Torga


O Presencismo emerge como um movimento literário que teve seu início em 1927 e estendeu-se até 1940,
configurando-se como a segunda fase do modernismo português. Este período literário se notabilizou por sua
ênfase na introspecção e na exploração psicológica, afastando-se das premissas do Orfismo. À frente desse
movimento, José Régio desempenhou um papel fundamental, fundando e dirigindo a influente Revista
Presença, sendo amplamente considerado o principal teórico do grupo. Um autor relevante desse período foi
Miguel Torga. A nomenclatura "Presencismo" tem suas raízes no conceito de "presença", que alude à
valorização da experiência pessoal e da introspecção na produção literária. Os escritores que se alinham a
essa corrente literária enfatizam de maneira notória a subjetividade, a humanidade e a individualidade em
suas obras, buscando retratar de forma mais direta e íntima a vida e os sentimentos de seus personagens. É
relevante salientar que "A Presença" se constituiu como uma revista literária de destaque, criada pelos
estudantes José Régio, João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca. O primeiro número da revista foi
publicado em 10 de março de 1927, e na edição inaugural, José Régio, por meio do artigo intitulado Literatura
Viva, delineou o programa de ação da revista, enfatizando a importância da originalidade, da personalidade
literária e da adesão a esses princípios como diretrizes fundamentais.

Figura 5 | Capa da revista Presença

Fonte: Wikimedia Commons.

Figura 6 | Casa e busto do poeta José Régio


Fonte: Wikimedia Commons.

José Régio, uma figura destacada no movimento presencista em Portugal, concebia o artista como uma pessoa
excepcional, dotada de sensibilidade, inteligência e imaginação, o que o capacitava a criar uma literatura
genuína, que pulsava com vida própria, independente das limitações de tempo e espaço.

O grupo da Presença, ao mesmo tempo que aderiu ao movimento Modernista, também buscava alcançar um
estado de rigor e severidade artística, resultando em notáveis contribuições, especialmente no campo da
crítica literária. Na poesia, os escritores presencistas mergulharam profundamente no mistério que envolve
Deus e o Homem. José Régio, por exemplo, demonstrou domínio em todos os gêneros literários, pois atuou
como poeta, romancista, ensaísta, jornalista, crítico, cronista, dramaturgo, contista, diarista e historiador da
literatura.

OS MOVIMENTOS MODERNISTAS NO DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS

Ao compreender que o Modernismo português foi um movimento literário e artístico que floresceu
principalmente durante o século XX, marcado por uma ruptura com as convenções estéticas tradicionais, uma
busca pela experimentação e uma resposta às mudanças sociais, políticas e tecnológicas da época, vamos
retomar os três movimentos estudados e apresentar exemplos de aplicação e práticas sobre eles.

O Orfismo, o Futurismo e o Presencismo são três movimentos artísticos que desempenharam papéis
significativos na evolução da arte no século XX. Cada um deles trouxe contribuições únicas para o mundo da
arte, influenciando não apenas a teoria, mas também a prática artística e promovendo o desenvolvimento de
competências e habilidades essenciais para os artistas e apreciadores da arte.

O Orfismo, por sua vez, estava mais preocupado com a abstração e a síntese de cores e formas do que com a
representação direta da modernidade. Os orfistas acreditavam na capacidade das cores e das formas
abstratas de evocar emoções e sensações. Vamos pensar num exemplo prático, cuja competência de
destaque é a criatividade: considere um designer gráfico que se inspira no Orfismo para criar um logotipo. Ele
usa cores vibrantes e formas abstratas para transmitir a essência de uma empresa inovadora e dinâmica,
demonstrando sua habilidade de pensar criativamente e sintetizar conceitos complexos em design simples e
atraente.

Os futuristas acreditavam na celebração da velocidade, da tecnologia e da modernidade. Eles buscavam


capturar a energia e o dinamismo da vida urbana em suas obras, muitas vezes representando máquinas,
automóveis e cidades em rápida transformação. Como exemplo de aplicação, imagine um designer gráfico
que trabalha em uma campanha publicitária para uma empresa de carros elétricos. Ele se inspira no
Futurismo para criar imagens dinâmicas que transmitam a sensação de velocidade e inovação dos veículos,
usando linhas e formas geométricas para capturar a essência futurista.

O Presencismo é um movimento artístico mais recente que valoriza a experiência imediata e a presença física
na criação e apreciação da arte. Ele enfatiza a importância do momento presente e da interação direta com a
obra de arte, muitas vezes envolvendo o espectador de maneiras únicas. Um exemplo de aplicação das ideias
desse movimento é o seguinte: um artista contemporâneo cria uma instalação de arte interativa em um
museu. Os visitantes são convidados a entrar na instalação e interagir com os elementos sensoriais, como
luzes e sons, experimentando uma experiência única e imersiva que só pode ser totalmente compreendida e
apreciada quando estão presentes no local.

Neste contexto, as competências e habilidades soft skills, como a criatividade, a capacidade de pensamento
crítico e a apreciação da estética, são essenciais. Os artistas e profissionais da área criativa precisam ser
capazes de aplicar esses conceitos teóricos em suas práticas, adaptando-os a contextos contemporâneos e
desenvolvendo obras que se destaquem e comuniquem eficazmente com o público. A capacidade de
transmitir emoções, provocar reflexões e inspirar a interação direta é uma habilidade valiosa que transcende
esses movimentos artísticos e enriquece a cultura e a sociedade como um todo. Por fim, profissionais de
diversas áreas podem aplicar os princípios do Orfismo, do Futurismo e do Presencismo em seus trabalhos. Ao
rejeitar ideias ultrapassadas e abraçar a inovação, eles podem encontrar maneiras criativas de resolver
problemas e criar produtos ou serviços relevantes. Além disso, ao adotar a abstração e a síntese criativa, é
possível comunicar eficazmente conceitos complexos e envolver emocionalmente seu público.

VIDEO RESUMO

Nesta videoaula, serão apresentados os três movimentos cruciais que moldaram profundamente a arte e a
literatura em Portugal durante o século XX: o Futurismo, o Orfismo e o Presencismo. Assim, você vai perceber
que o Modernismo Português não é apenas um período artístico e literário, mas um verdadeiro marco na
história cultural de Portugal. Emergindo no contexto de transições políticas, sociais e tecnológicas, esse
movimento trouxe uma nova visão estética e uma abordagem revolucionária à arte e à literatura. O
Futurismo, com sua celebração da modernidade e da velocidade; o Orfismo, com sua exploração da abstração
e geometrização; e o Presencismo, com seu foco na introspecção e na identidade nacional, desempenharam
papéis fundamentais nesse cenário.

 Saiba mais
Para você ampliar seus conhecimentos sobre o Modernismo, a primeira dica aqui é da leitura do artigo
intitulado Orpheu, uma revista-manifesto. Nesse artigo, o autor examina com detalhes a revista Orpheu,
que é amplamente associada ao Primeiro Modernismo Português. O autor também compartilha
documentos do espólio pessoano, datados de 1915-1917, para oferecer insights adicionais sobre esse
período crucial na história literária de Portugal.
E, se você achou interessante conhecer um pouco sobre as revistas literárias produzidas na época e quer
saber mais sobre elas, veja as Revistas Literárias e Artísticas do Modernismo Português 1910-1927

Você vai encontrar um interessante projeto que se concentra na análise da relevância e pertinência das
revistas literárias e artísticas como veículos de divulgação e difusão do movimento modernista durante
os estágios iniciais do Modernismo Português.

Aula 2

ESTILOS E TEMAS EM AUTORES MODERNISTAS


PORTUGUESES
Olá, estudante! Boas-vindas à nossa aula sobre os estilos e os temas presentes nas obras de alguns dos
mais destacados autores modernistas portugueses do século XX.

INTRODUÇÃO

Olá, estudante!

Boas-vindas à nossa aula sobre os estilos e os temas presentes nas obras de alguns dos mais destacados
autores modernistas portugueses do século XX. Neste encontro, exploraremos as contribuições literárias e
artísticas de quatro figuras influentes: Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Branquinho da Fonseca e José
Régio. O Modernismo em Portugal foi um movimento literário e cultural que desafiou as convenções
estabelecidas, redefinindo a maneira como a literatura era escrita e interpretada. Durante esse período, esses
autores foram pioneiros na experimentação estilística e na exploração de temas complexos, que variavam
desde a busca pela identidade nacional até as profundezas da angústia existencial.

Ao longo desta aula, mergulharemos nas obras desses escritores, examinando como eles moldaram a
literatura e a cultura portuguesa, deixando um legado duradouro que continua a inspirar e provocar
reflexões.

Vamos começar nossa jornada pelo universo modernista de Portugal!

MODERNISMO LITERÁRIO EM PORTUGAL: DOS TEMAS, ESTILOS E ESCRITORES

Diversos eventos significativos ocorridos nas duas primeiras décadas do século XX desempenham um papel
crucial na compreensão do Modernismo português. O início desse movimento artístico coincide com uma
nova conjuntura global, influenciada pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), pela Revolução Russa (1917) e
por todos os fatos relevantes mencionados anteriormente. Portugal passa por um período de agitação e
transformação política, transitando do sistema monárquico para o republicano (Cereja; Magalhães, 1997).
Dos principais nomes do Modernismo português, estão Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros. Além dos
escritores Branquinho da Fonseca e José Régio. Iniciaremos com uma breve visão geral sobre cada um dos
escritores mencionados, conforme Cereja e Magalhães (1997):

Mário de Sá-Carneiro (1890-1916):

Foi um dos expoentes do Modernismo em Portugal, sua obra é conhecida pela introspecção e exploração das
tensões entre a realidade e a imaginação. Sá-Carneiro escreveu poemas, contos e cartas, frequentemente
abordando temas de alienação e desespero. É particularmente famoso por sua correspondência com
Fernando Pessoa (outro grande nome do Modernismo, que será abordado na próxima aula) e por sua
amizade com Almada Negreiros.

Almada Negreiros (1893-1970):

Também um importante nome do Modernismo, foi um artista multifacetado, trabalhando não apenas na
literatura, mas também nas artes plásticas e no teatro. Sua escrita e arte são marcadas por um forte espírito
vanguardista e experimentalismo. Ele é conhecido por seu manifesto futurista Ultimatum Futurista, que
defendia a renovação artística e cultural em Portugal. Sua obra literária inclui poesia, ensaios e peças de
teatro.

Branquinho da Fonseca (1905-1974):

Foi um escritor prolífico que abordou uma variedade de temas em sua obra. Ele é frequentemente associado
ao movimento neo-realista em Portugal, que enfatizava a representação realista da vida das classes
trabalhadoras e dos problemas sociais. Seus romances e contos exploram as dificuldades enfrentadas pelas
pessoas comuns e as questões sociais da época. Sua obra Cerromaior é um exemplo notável desse estilo.

José Régio (1901-1969):

Conhecido por sua contribuição à literatura portuguesa no século XX, especialmente como poeta e
romancista. Sua escrita é caracterizada pela introspecção, melancolia e uma profunda exploração das
complexidades da condição humana. Ele foi uma figura importante no movimento da Presença, que buscava
reviver a literatura em Portugal. Sua obra inclui romances como A Velha Casa e poemas como os presentes na
coletânea As Encruzilhadas de Deus.

Cada um desses escritores teve um impacto significativo na literatura portuguesa do século XX, contribuindo
para a riqueza e diversidade do cenário literário do país. Suas obras continuam a ser estudadas e apreciadas.

É importante destacar que os autores modernistas portugueses exploraram uma variedade de estilos e temas
em suas obras, refletindo a diversidade e a experimentação literária do período. A seguir, veja alguns estilos e
temas comuns encontrados na literatura modernista portuguesa:

Tabela 1 | Estilos e temas dos escritores modernistas

ESTILOS
Autores como Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro foram conhecidos por
Experimentalismo: sua experimentação estilística, incluindo o uso de heterônimos e técnicas
vanguardistas.

O Futurismo e o Surrealismo foram movimentos vanguardistas que


Vanguardismo: influenciaram a literatura modernista portuguesa, levando a uma ruptura com
convenções tradicionais.

Este estilo literário enfatizava a representação realista da vida das classes


Neo-realismo: trabalhadoras e questões sociais. Autores como Branquinho da Fonseca foram
proeminentes neste movimento.

TEMAS

Muitos escritores modernistas buscaram repensar a identidade nacional de


Identidade nacional: Portugal e seu papel na era moderna, reexaminando a história, a cultura e os
mitos portugueses.

Autores como Almada Negreiros e José Saramago abordaram questões sociais


Crítica à sociedade e
e políticas, refletindo o contexto histórico da Primeira República e da
política:
Revolução dos Cravos.

Além da experimentação estilística, os modernistas portugueses desafiaram as


Renovação formal: convenções literárias, quebrando as regras tradicionais da gramática e da
sintaxe para criar novas formas de expressão.

Alguns autores modernistas, como José Régio, exploraram a cultura popular e


Cultura popular e
o regionalismo, valorizando as tradições locais e as vozes das regiões de
regionalismo:
Portugal.

Fonte: elaborada pela autora.

Esses estilos e temas representam a riqueza e a complexidade da literatura modernista portuguesa, que
desafiou as normas estabelecidas e contribuiu para uma redefinição da identidade cultural e literária do país
no século XX.

AS VOZES DO MODERNISMO: QUATRO AUTORES EM FOCO

Os autores modernistas portugueses abordam uma ampla gama de estilos e temas em suas obras, refletindo
as mudanças sociais, políticas e culturais que ocorreram em Portugal no século XX. Suas contribuições à
literatura não apenas revolucionaram a escrita, mas também influenciaram profundamente a forma como os
portugueses pensam sobre sua identidade, história e lugar no mundo contemporâneo. Neste bloco, vamos
nos deter a alguns desses nomes e mostrar o quão foram importantes para o desenvolvimento da história e
da literatura portuguesa.

Mário de Sá Carneiro
Mário de Sá Carneiro desempenhou um papel fundamental na introdução e no desenvolvimento das ideias
modernistas em Portugal. Nascido em Lisboa em 1890, Sá Carneiro estudou em Paris, onde frequentou
irregularmente o curso de Direito, mas não o concluiu. Ele fez parte do grupo de escritores portugueses
fundadores da Revista Orpheu, sendo inclusive o financiador dos dois primeiros números, no entanto, não
pôde custear o terceiro número devido ao corte de mesada feito por seu pai, que enfrentava dificuldades
financeiras na época. Em um momento de desespero, Mário de Sá Carneiro tirou a própria vida em 26 de abril
de 1916, com apenas 26 anos incompletos, em um quarto de hotel em Paris. Ele deixou cartas para seu pai,
sua amante e seu amigo Fernando Pessoa. Conforme Cereja e Magalhães (1997, p. 173), [...] “em Sá Carneiro a
dissociação do eu conduz à frustração e à autoflagelação.”

O crítico literário Moisés Massaud (1999, p. 248) nos fornece uma visão detalhada de suas características
únicas e de sua obra de forma muito esclarecedora.

Dono de insólita sensibilidade, aguçada ao extremo do delírio e da loucura, o poeta ganha


muito cedo a angustiante sensação de ser alheio à vida, e de esta lhe ser igual e
totalmente estranha. O sentimento de estranheza gera-lhe outro: o de inadaptado ao
mundo; egocêntrico, vaidoso, megalomaníaco, sente que o mundo é que não se lhe adapta
e o repele como a uma incômoda presença. [...] Poeta e tão-somente poeta, inclusive nos
contos, no teatro e na narrativa, Mário de Sá-Carneiro ocupa lugar à parte na evolução
histórica da Literatura Portuguesa, tal a marca de individualidade e originalidade que
imprimiu a tudo quanto escreveu.

A obra literária de Sá Carneiro abrange contos, como Princípio (1912) e Céu de Fogo (1915), uma "narrativa"
intitulada A Confissão de Lúcio (1914), poesia, incluindo Dispersão (1914), Indícios de Oiro e Poesias
Completas (publicação póstuma em 1946), peças de teatro, como Amizade (1912, em colaboração com Tomás
Cabreira Júnior), e também Cartas a Fernando Pessoa, escritas entre 1958 e 1959, que representam
documentos importantes para a compreensão de sua trajetória íntima e estética.

Figura 1 | Estátua de Mário de Sá Carneiro - Parque dos Poetas - Oeiras – Portugal


Fonte: Wikimedia Commons.

Figura 2 | Estátua de José Régio em Vila do Conde, Portugal

Fonte: Wikimedia Commons.

José Régio
Nascido em Vila do Conde, Portugal, em 1901, José Régio foi um escritor prolífico e versátil, contribuindo com
poesia, prosa e ensaios. Sua obra é conhecida por explorar temas existenciais, a condição humana e a
introspecção. Ele é frequentemente associado ao movimento da "Presença," que buscava reviver a literatura
em Portugal. Régio afirmava que uma de suas marcas era “debruçar sobre o umbigo próprio, a remexer
enlevadamente as entranhas próprias”, (apud, Nicola, 1947, p. 227), ou seja, ele afundava profundamente em
seu próprio eu, dando destaque ao seu ego e tornando-se, em alguns momentos, bastante individualista em
sua introspecção. Entre suas obras mais famosas estão os romances Jogo da Cabra Cega e A Velha Casa e a
coletânea de poesia As Encruzilhadas de Deus. Régio também foi um importante ensaísta e crítico literário,
influenciando a crítica literária em Portugal.

Almada Negreiros
José Sobral de Almada Negreiros, nascido em São Tomé e Príncipe em 1893, foi filho do tenente de cavalaria
António Lobo de Almada Negreiros e de Elvira Sobral de Almada Negreiros. Desde sua juventude, viveu em
Lisboa, Portugal. Ele teve um papel ativo no grupo associado à Revista Orpheu, que desempenhou um papel
crucial na introdução do Modernismo nas artes e letras em Portugal. Entre os membros da Revista Orpheu,
estavam também os renomados artistas portugueses Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro (Neri Júnior;
Vaz, 2020). Observe nas imagens a seguir, o escritor Almada Negreiros e sua esposa e o cartaz de uma
Exposição de Homenagem dos Artistas Portugueses a Almada Negreiros, realizada entre 1984 e 1985, teve
lugar na Galeria Almada Negreiros e foi promovida pelo Ministério da Cultura do Governo Português.
Figura 3 | Almada Negreiros em Moledo e a esposa Sarah Affonso, em 1934

Fonte: Wikimedia Commons .

Figura 4 | Homenagem à Almada Negreiros

Fonte: Wikimedia Commons.

Branquinho da Fonseca
Nascido em Aveiro, Portugal, em 1905, Branquinho da Fonseca também foi um escritor importante do
movimento neo-realista em Portugal. Na Figura 5, observe a família do escritor Branquinho da Fonseca.

Figura 5 | Tomás da Fonseca, Clotilde Madeira, Branquinho da Fonseca e Tomás Branquinho em Coimbra, 1923

Fonte: Wikimedia Commons.

Ele é conhecido por sua prosa realista e crítica social. Sua obra literária frequentemente abordava as lutas e as
dificuldades das classes trabalhadoras e as questões sociais. Um de seus trabalhos mais conhecidos é o
romance Cerromaior, que retrata a vida difícil dos pescadores da costa portuguesa. Sua escrita é caracterizada
por uma abordagem crua e realista dos temas sociais.
EXPLORANDO ESTILOS E TEMAS: AUTORES MODERNISTAS PORTUGUESES

O Modernismo em Portugal foi um movimento literário e artístico que teve seu auge nas primeiras décadas do
século XX, aproximadamente entre 1915 e 1940. Durante esse período, diversos autores portugueses
adotaram uma abordagem inovadora em relação à literatura, buscando romper com as tradições e os estilos
literários do passado. Vale destacar que o Modernismo português foi caracterizado por uma série de traços
distintivos em sua literatura, os quais podem ser analisados em sala de aula nas diferentes produções dos
escritores da época.

Busca pela identidade nacional: muitos escritores modernistas sentiram a necessidade de repensar a
identidade nacional de Portugal na era moderna. Eles reinterpretaram a história, a cultura e os mitos
portugueses, questionando a ideia de Portugal como uma nação em declínio.

Crítica à sociedade e política: autores modernistas frequentemente abordaram questões sociais e


políticas em suas obras, influenciados pelo contexto histórico da Primeira República e da Revolução dos
Cravos. Almada Negreiros, por exemplo, escreveu sobre as mudanças políticas e culturais em Portugal.

Renovação formal: além da experimentação estilística, os modernistas portugueses buscaram a


renovação formal da linguagem literária. Eles desafiaram as regras tradicionais da gramática e sintaxe,
criando formas de expressão em poemas, romances e ensaios, desafiando as convenções literárias da
época.

Para análise e sugestão de trabalho em sala de aula, selecionamos alguns escritores e poemas, começamos
por Mário de Sá Carneiro, para o qual a vida e a arte se entrelaçam de tal maneira que é impossível separar
uma da outra. A arte se tornou o meio pelo qual ele escolheu se expressar, revelando-se completamente,
certamente, suas obras nos revelam de maneira muito clara essa característica de individualidade. Para
conhecer um pouco da obra de Mário de Sá Carneiro, leia, a seguir o trecho de um de seus poemas chamado
Dispersão.

“Perdi-me dentro de mim

Porque eu era labirinto,

E hoje, quando me sinto,

É com saudades de mim.

Passei pela minha vida

Um astro doido a sonhar

Na ânsia de ultrapassar

Não dei pela minha vida [...]”

(Sá Carneiro, [s. d.], p. 61-65)


Conforme observamos, o poema explora as conexões entre o eu-lírico e o mundo. O eu-lírico é retratado de
modo introspectivo, introvertido e inacabado, pois está constantemente em busca de um "outro" dentro de si
mesmo, como se buscasse a sua própria completude. Com uma sensibilidade intensa, o poeta transmite ao
leitor a sensação angustiante de se perder em seu próprio labirinto interior. Para ele, o tempo presente carece
de importância e perde o significado, pois está completamente aprisionado no passado, sentindo saudades de
sua própria identidade anterior.

Tanto em sua poesia quanto em sua prosa, podemos identificar elementos pós-simbolistas, como sinestesias,
cromatismo e a intersecção entre objetividade e subjetividade, bem como traços decadentistas, como a
atração pelo mórbido e a transgressão das normas e dos valores tradicionalmente aceitos. Outro exemplo de
produção literária desse interessante autor é a novela A Confissão de Lúcio, na qual Sá Carneiro utiliza
recursos que já prenunciam o surrealismo. Em sua poesia, observamos uma liberdade linguística notável, com
a criação de neologismos e diversas inovações gramaticais, incluindo a substantivação de infinitivos,
alterações nas regências verbais e a transformação de abstratos em substantivos.

Figura 6 | Mário de Sá Carneiro

Fonte: Wikimedia Commons.

Vejamos, a seguir sobre outro escritor, as angústias e as incertezas expressas no poema Painel, de José Régio,
são experiências compartilhadas por toda a humanidade, o que evidencia uma crise de identidade que se
estende para além do mero dualismo inerente à condição humana. Elas provocam uma reflexão profunda,
transcendendo as fronteiras individuais e conectando-se a questões mais amplas e abstratas que permeiam o
mundo contemporâneo. Leia um trecho do poema a seguir:

“[...] Entre os dois, eu sentia-me pequeno e miserando,

Vibrando, todo, tumultuando, soluçando,

Com olhos meigos, lábios torpes – indecisos

Entre um inferno e um paraíso! [...]”

(José Régio apud Nicola, 1999, p. 228)


Perceba que a expressão poética do conflito interno do eu-lírico captura de forma artística as contradições
que afligem a natureza humana. Nesse contexto, ele se encontra encurralado entre dois impulsos indomáveis,
travando uma batalha interna na busca de um ideal, nos quais somente seus próprios sentimentos são os
contendores.

Percebeu como é possível realizar a leitura e a análise de escritores do Modernismo? Além de ser possível
abordar as temáticas de suas obras em sala de aula, enriquecendo assim, a cultura e o conhecimento literário
dos seus alunos!

VÍDEO RESUMO

Nesta videoaula, vamos retomar às obras de quatro autores notáveis: Mário de Sá-Carneiro, Almada
Negreiros, Branquinho da Fonseca e José Régio. Vamos desvendar os estilos literários únicos que caracterizam
suas escritas e os temas profundos que eles exploraram em suas obras. Assim, você perceberá como esses
autores contribuíram para o rico panorama da literatura em Portugal no século XX e como suas vozes
literárias moldaram a identidade cultural e artística do país!

 Saiba mais
Para você ampliar seus conhecimentos sobre um importante escritor do Modernismo, conheça um
interessante e-book Almada Negreiros que é resultado de uma dissertação de Mestrado intitulada Atos e
Lugares de Aprendizagem Criativa em Matemática. O objetivo deste texto é estabelecer uma conexão
entre a matemática e a arte, destacando a investigação sobre como o renomado artista português
Almada Negreiros utilizou a matemática como uma linguagem para expressar sua arte. Além disso, ao
final do texto, são fornecidos recursos complementares, como vídeos, sites e artigos, relacionados a
Almada Negreiros, que permitem ao leitor explorar as complexidades do processo criativo do artista.

Outra dica de leitura é do artigo de Jairo Nogueira Luna, intitulado Almada Negreiros e o Teatro
Sensacionista Reflexões Sobre as Peças “Antes de Começar” e “O Público em Cena” de Almada Negreiros,
no qual é analisado o teatro sensacionista de Almada Negreiros, com foco nas peças Antes de Começar e
O Público em Cena. O estudo buscou entender as características do Sensacionismo, um conceito
literário-artístico desenvolvido por Fernando Pessoa, e como Almada Negreiros o incorporou em suas
peças. Além disso, foram destacados os elementos metateatrais presentes nas duas obras.
Aula 3

FERNANDO PESSOA
Olá, estudante! Boas-vindas à nossa aula sobre a vida e o contexto de produção de Fernando Pessoa, um
dos mais proeminentes poetas da língua portuguesa do século XX.

INTRODUÇÃO

Olá, estudante!

Boas-vindas à nossa aula sobre a vida e o contexto de produção de Fernando Pessoa, um dos mais
proeminentes poetas da língua portuguesa do século XX. Nesta jornada, exploraremos não apenas os eventos
cruciais que moldaram a sua vida, mas também as duas vertentes distintas de sua poesia que o tornaram
uma figura singular no mundo literário: a poesia ortônima e a poesia heterônima. Você sabe o que são
heterônimos? Já pensou que um mesmo poeta pode escrever poemas de maneira tão diferente que não
parece ser ele mesmo? Essas e outras respostas você encontrará no decorrer da aula. Buscaremos
compreender não apenas quem foi Fernando Pessoa, mas também como ele conseguiu criar um universo
literário tão rico e complexo, povoado por múltiplas vozes e personas poéticas.

Vamos iniciar nossa jornada pelo fascinante mundo de Fernando Pessoa!

FERNANDO PESSOA POR ELE MESMO

Fernando Pessoa, um dos mais notáveis e influentes poetas da língua portuguesa do século XX, é uma figura
literária que transcende as fronteiras da poesia e da prosa. Sua vida e obra são um verdadeiro labirinto de
pensamentos profundos, múltiplas personalidades literárias e reflexões sobre a identidade, a existência e a
condição humana. Fernando Antônio Nogueira Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888, no Largo de São
Carlos, em Lisboa, Portugal. Seu pai, Joaquim de Seabra Pessoa, faleceu de tuberculose quando ele tinha
apenas cinco anos, e sua mãe, Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa, casou-se novamente com um
cônsul português, o que levou a família a se mudar para Durban, na África do Sul, lugar que Pessoa passou a
maior parte de sua infância (Teixeira, 2007). Pessoa viveu em uma época de grandes transformações culturais
e políticas na Europa e no mundo, e seu trabalho literário, que abrange uma ampla variedade de estilos,
temas e influências, é um reflexo poderoso dessas mudanças e do rico ambiente intelectual em que ele estava
imerso. Desde uma idade precoce, revelou-se um jovem tímido, porém, dotado de uma vasta imaginação e
um talento notável para a escrita. Aos sete anos de idade, já estava compondo poemas, além disso,
desempenhou papéis significativos como crítico literário e redator em diversas revistas, chegando a ocupar
cargos de liderança em algumas delas. Fernando Pessoa é amplamente reconhecido como um dos pioneiros
do Modernismo em Portugal, ao lado de figuras notáveis como Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro. Ele
foi um dos fundadores da revista Orpheu, que desempenhou um papel fundamental na disseminação das
ideias modernistas em Portugal (Teixeira, 2007).

Figura 1 | Fernando Pessoa com 20 anos

Fonte: Wikimedia Commons.

Figura 2 | Fernando Pessoa

Fonte: Wikimedia Commons.

Fernando Pessoa criou outros poetas, com biografia e personalidade própria, além de um jeito particular de
escrever de cada um, são os chamados heterônimos. Essa multiplicidade de visões de mundo tornou a obra
de Pessoa universal, relacionando-se com diferentes formas de enxergar a vida (Perrone-Moisés, 2001). Mas,
afinal, você sabe o que são os heterônimos de Fernando Pessoa? Vamos explicar! Os heterônimos são
personas literárias fictícias, cada uma com sua própria personalidade, seu estilo de escrita, sua história de
vida e sua visão de mundo. Ao contrário dos pseudônimos tradicionais, que são simples variações do nome do
autor, os heterônimos de Pessoa são como escritores independentes, cada um com uma identidade única.
Fernando Pessoa criou diversos heterônimos ao longo de sua carreira literária, alguns biógrafos contam mais
de setenta, sendo os mais conhecidos Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Conforme Monteiro
(1958), cada um desses heterônimos representava uma abordagem literária diferente e tinha suas próprias
características distintivas:

Alberto Caeiro: Caeiro é frequentemente considerado o mestre dos heterônimos de Pessoa. Ele é um
poeta bucólico, ligado à natureza, com uma visão de mundo simples e despojada. Sua poesia é marcada
pela celebração da existência e pela rejeição da metafísica e da complexidade.

Ricardo Reis: este heterônimo é um médico e classicista, influenciado pela filosofia estoica. Sua poesia é
caracterizada por sua sobriedade, seu equilíbrio e uso de formas clássicas, como o soneto. Ele representa
a serenidade e a aceitação das inevitabilidades da vida.
Álvaro de Campos: é o heterônimo mais complexo e multifacetado de Pessoa. Ele é um engenheiro
naval e um poeta modernista, com uma personalidade efervescente e volátil. Sua poesia abrange uma
ampla gama de emoções e experimentações estilísticas, refletindo a agitação do mundo moderno.

A criação de heterônimos é uma das características mais distintivas e inovadoras da poesia de Fernando
Pessoa, na época isso foi tão peculiar, que Fernando Pessoa chegou a publicar poemas nos jornais com um de
seus heterônimos e ninguém sabia que era ele quem escreveu, então, convidaram o tal poeta para uma
entrevista, mas, ele não existia fisicamente, só por meio de seus poemas (Teixeira, 2007). Ficou confuso?
Vejamos, então, cada um dos heterônimos mais famosos, embora seja preciso alertar da impossibilidade de
apresentar nesse escopo todos os poemas e toda a riqueza da obra pessoana. E, por isso, que esta escrita seja
um guia para você buscar mais sobre esse fantástico escritor.

AS MUITAS PESSOAS DE FERNANDO PESSOA: A POESIA HETERONÍMICA

O termo "poesia ortônima" é empregado quando a autoria de uma obra corresponde ao nome real do autor,
ou seja, é aquela escrita e assinada por ele mesmo. A poesia ortônima de Fernando Pessoa é uma
manifestação significativa e complexa da literatura em língua portuguesa e do Modernismo. Sua poesia é
marcada por uma profunda reflexão sobre a condição humana, a existência, a identidade e a busca pelo
sentido da vida (Perrone-Moisés, 2001). Um de seus poemas mais aclamados é intitulado Autopsicografia e foi
escrito “por ele mesmo”, ou seja, Fernando Pessoa/ortônimo. Perceba como ele utiliza metapoeticamente o
verbo “fingir”, a partir da primeira estrofe do poema:

O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente / Que chega fingir que é dor / A dor que
deveras sente. / E os que leem o que escreve, / Na dor lida sentem bem, / Não as duas que
ele teve / Mas só a que eles não têm. / E assim nas calhas de roda / Gira, a entreter a razão,
/ Esse comboio de corda / Que se chama o coração (Pessoa, 2001, p.164 -165).

Perceba como sua habilidade de transmitir emoções complexas através das palavras é notável, e seus poemas
frequentemente evocam uma sensação de melancolia e nostalgia.

Vejamos agora sobre a poesia heterônima, ou seja, os principais heterônimos de Fernando Pessoa.

Alberto Caeiro

Esse poeta-heterônimo é chamado de “Mestre” pelos outros heterônimos, dadas suas reflexões e
ensinamentos sobre a vida, a natureza e a existência das coisas. Para Caeiro, a existência é compreendida
como diferença e a natureza é composta de partes sem uma totalidade. Segundo Moisés (2005, p. 189): “[...]
Caeiro é mestre dos demais, um mestre que não ensina conteúdos, ensina a aprender. Mais: ensina que,
depois de aprender, é preciso aprender a desaprender. Por isso os discípulos guardam alguma afinidade com
o mestre, mas diferem dele, e entre si”.
Figura 3 | Rua em Algarve, Portugal

Fonte: Wikimedia Commons.

Álvaro de Campos

A poesia de Álvaro de Campos é caracterizada por uma busca constante de redenção. Ele procura um
momento de precisão que lhe permita pausar sua realidade ou sentir-se como outra pessoa. Além disso, sua
produção poética é marcada pelo modernismo e pelo futurismo, e é caracterizada pela intensidade emocional
e pela reflexão sobre a modernidade e a condição humana. Um dos poemas mais conhecidos de Álvaro de
Campos é Tabacaria (Campos, 2001), que apresenta uma reflexão sobre a vida e a rotina do ser humano. No
poema, o autor descreve a sua rotina diária numa tabacaria, em que observa a vida dos outros e reflete sobre
a sua própria existência, que reflete a angústia do homem moderno. Vale a pena conferir toda a produção
desse heterônimo!

Figura 4 | Fernando Pessoa em pintura de Bottelho

Fonte: Wikimedia Commons.

Ricardo Reis

Caracterizado pela sua poesia neoclássica, que apresenta uma forte influência da cultura greco-latina, é o
poeta das odes, médico, nascido em Lisboa, Ricardo Reis vive a filosofia do Carpe Diem, ou seja, aproveitar o
dia, ver o riacho passar e andar com sua Lídia. Poeta das influências clássicas, horaciano, culto e autor de
Odes com influência greco-latina. Em muitos dos seus poemas, o heterônimo apresenta uma busca pela paz
interior e pelo equilíbrio emocional, enfatizando a importância do autocontrole e da moderação.

Algumas das principais produções de Ricardo Reis incluem odes, que reapresentam a poesia neoclássica em
seu ápice, com uma linguagem elegante e depurada, e uma reflexão profunda sobre a vida e a morte. Leia um
trecho da mais famosa ode de Ricardo Reis:
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. / Sossegadamente fitemos o seu curso e
aprendamos /Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.)
/Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca
regressa [...] (Reis, 2001, p. 256-256).

Pode-se perceber que uma das principais características da poesia neoclássica desse heterônimo é a sua
reflexão sobre a transitoriedade da vida e a busca pela serenidade e pelo equilíbrio emocional.

Bernardo Soares

Esse heterônimo é guardador de livros, ou seja, trabalha em uma biblioteca, é considerado o mais melancólico
de todos, e escreve o gênero literário prosa poética. Sua grande contribuição é o famoso Livro do
Desassossego, uma obra póstuma, composta por mais de 400 fragmentos e publicada pela primeira vez em
1982. Se lê na obra: “Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida
nenhum sonho, e faltam a esse também” (Pessoa, 2013, p. 154). Ainda lemos: “Pasmo sempre quando acabo
qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-
me até de dar começo. Mas distraio-me e faço” (Pessoa, 2013, p. 160). O livro é uma reflexão sobre a
existência humana e as complexidades do ser. Bernardo Soares é considerado um dos mais complexos
heterônimos, ele é apresentado como um escriturário solitário, sem ambição ou vontade de realizar algo
grandioso em sua vida. Ele é um observador meticuloso e contemplativo, que muitas vezes escreve sobre sua
solidão, seu desespero e seu desencanto com a vida.

ANÁLISE E COMPREENSÃO DE POEMAS DE FERNANDO PESSOA E SEUS HETERÔNIMOS

Que tal conhecer mais e trabalhar com a poesia heterônima de Fernando Pessoa em sala de aula? Vejamos
alguns poemas dos mais conhecidos heterônimos para colocar em prática a percepção da forma como a
poética pessoana se estrutura por meio de cada voz. Observe que há grande diferença entre essas vozes, o
que nos mostra o quanto Pessoa se multiplicava em diferentes perspectivas, em diferentes poetas. No
primeiro dos 49 poemas que compõem O guardador de Rebanhos do heterônimo Alberto Caeiro lemos o
trecho:

Eu nunca guardei rebanhos, / Mas é como se eu os guardasse. / Minha alma é como um


pastor, / Conhece o vento e o sol / E anda pela mão das Estações / A seguir e a olhar. /
Toda a paz da Natureza sem gente [...] (Caeiro, 2001, p. 203-204).

O poeta/heterônimo em questão é descrito como um guardador de ovelhas que nunca teve a tarefa de
guardar um rebanho, mas que parece fazê-lo mesmo assim. Ele é como um pastor de seus próprios
pensamentos e suas próprias sensações, que tem familiaridade com o vento e o sol. Alberto Caeiro é
considerado um poeta anti-metafísico, e propôs uma maneira de compreender o mundo. A reflexão sobre a
metafísica de não pensar em nada pode ser lida nos versos a seguir, os quais refletem parte do pensamento
desse heterônimo.

Há metafísica bastante em não pensar em nada. / O que penso eu do mundo? / Sei lá o


que penso do mundo! / Se eu adoecesse pensaria nisso. / Que ideia tenho eu das cousas? /
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? / Que tenho eu meditado sobre Deus e a
alma / E sobre a criação do Mundo? / Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos / E
não pensar. É correr as cortinas / Da minha janela (mas ela não tem cortinas) (Caeiro, 2001,
206-208).

A poesia do heterônimo Álvaro de Campos, por sua vez, é influenciada pela sua formação de engenheiro
naval. Assim, as suas obras apresentam uma linguagem técnica e científica, misturada com uma linguagem
poética e emotiva. No poema, Grandes são os desertos, lemos:

Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes – / Desertas porque não passa por
elas senão elas mesmas, / Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu. / Não tirei
bilhete para a vida, / Errei a porta do sentimento, / Não houve vontade ou ocasião que eu
não perdesse [...] Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado! / Mais vale
arrumar a mala. / Fim. (Campos, 2001, p. 282-283).

Já a poesia de Ricardo Reis é marcada pela sua serenidade, pelo seu equilíbrio e pela sua contenção
emocional. O heterônimo busca a harmonia e a ordem nas suas obras, apresentando uma poesia depurada e
refinada. O estilo de Reis é influenciado pela poesia clássica, e muitas de suas obras apresentam rigor formal e
linguagem erudita, lemos: “Para ser grande, sê inteiro: nada/Teu exagera ou exclui. /Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és / No mínimo que fazes. /Assim em cada lago a lua toda/ Brilha, porque alta vive”. (Reis, 2001, p.
289). Em seus poemas, esse heterônimo apresenta uma visão estoica da vida, enfatizando a necessidade de
aceitar a passagem do tempo e a impermanência das coisas. Na seguinte ode escreve Reis: “Nem da erva
humilde se o destino esquece. /Saiba a lei o que vive. /De sua natureza murcham as rosas/ E prazeres se
acabam. /Quem nos conhece, amigo, tais quais somos? /Nem nós os conhecemos” (Reis, 2001, p. 283).

Vejamos agora que, no trecho de número 250 do Livro do Desassossego, o heterônimo Bernardo Soares
reflete sobre a relação entre arte e ciência, sugerindo que a arte é uma forma de ciência que sofre
ritmicamente.
Não posso entreter-me com a especulação metafísica porque sei de sobra, e por mim, que
todos os sistemas são defensáveis e intelectualmente possíveis; e, para gozar a arte
intelectual de construir sistemas, falta-me o poder esquecer que o fim da especulação
metafísica é a procura da verdade (Soares, 1999, p.245)

Nesse poema, Pessoa reconhece que a especulação metafísica busca fundamentar-se na busca pela verdade,
mas que em algum momento, a vontade de especular cessa. Podemos perceber e concluir que a obra
pessoana enriqueceu sobremaneira não apenas a literatura portuguesa, mas a universal, por isso o poeta é
considerado um dos maiores escritores do mundo.

VIDEO RESUMO

Nesta videoaula, você encontrará mais informações e curiosidades sobre Fernando Pessoa, um dos maiores
poetas da língua portuguesa e um ícone da poesia mundial. Você perceberá que o torna Pessoa ainda mais
extraordinário é a sua capacidade de criar múltiplas identidades poéticas, conhecidas como heterônimos, que
não eram simples pseudônimos, mas sim personas literárias com vozes, estilos e visões de mundo únicas.
Mergulharemos na vida e no contexto de produção desse talentoso escritor, explorando duas das facetas
mais marcantes de sua obra: a poesia ortônima e a poesia heterônima.

 Saiba mais
O poeta Fernando Pessoa e seus heterônimos são considerados um patrimônio da humanidade. Esses
heterônimos permitiram à Pessoa explorar uma variedade de estilos, temas e pontos de vista,
enriquecendo extraordinariamente sua obra e contribuindo para a diversidade da literatura em língua
portuguesa. A casa em que o poeta morava, em Lisboa, é um dos mais famosos pontos turísticos do país.
Existem nomes de ruas com seu nome, bibliotecas, museus, sites, escolas e uma infinidade de
homenagens, nada mais do que justas. Quem nunca leu deveria ler e, quem já leu algum poema, livro ou
trecho sequer escrito por Pessoa, sem dúvidas se encanta. A obra de Fernando Pessoa é considerada
clássica, faz parte da literatura universal, ademais, tornou-se domínio público, e é possível baixar os livros
do poeta no site do domínio público, isso porque entende-se a importância de todas as pessoas terem
acesso a essa obra tão variada e gigantesca. Se você quer saber mais sobre o poeta, tenha acesso à Casa
Fernando Pessoa para encontrar uma biblioteca particular, dados curiosos e muito mais. Você pode ler
mais da sua obra acessando o Arquivo Pessoa.

Mais uma valiosa dica de leitura é o Livro do Desassossego de Fernando Pessoa, assinado pelo seu
heterônimo Bernardo Soares. Você pode ler, nesse livro tão reflexivo, trechos como: “Em cada pingo de
chuva a minha vida falhada chora na natureza. Há qualquer coisa do meu desassossego na gota a gota,
na bátega a bátega com que a tristeza do dia se destorna inutilmente por sobre a terra” (Pessoa, 2013,
p.148). E mais, “Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de
perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço”
(Pessoa, 2013, p. 160).

Aula 4

DESDOBRAMENTOS DA ESTÉTICA MODERNISTA EM


PORTUGAL
Olá, estudante! Nesta aula, mergulharemos em um diálogo entre o passado e o presente, explorando o
Modernismo Português, o Sujeito Moderno e Fernando Pessoa.

INTRODUÇÃO

Olá, estudante!

Nesta aula, mergulharemos em um diálogo entre o passado e o presente, explorando o Modernismo


Português, o Sujeito Moderno e Fernando Pessoa. À medida que o mundo enfrenta mudanças sociais,
tecnológicas e culturais rápidas e profundas, é essencial analisar como a noção de sujeito moderno, que
surgiu no Modernismo, se adapta e se transforma nos dias de hoje. Como indivíduos, como nos relacionamos
com nossa própria identidade e com o mundo ao nosso redor na era digital e globalizada? Por fim, não
podemos explorar essas questões sem considerar o impacto duradouro de Fernando Pessoa, um dos poetas
mais enigmáticos e influentes da literatura mundial. Discutiremos como sua multiplicidade de vozes e
identidades, manifestadas por meio dos heterônimos, continua a inspirar pensadores, artistas e escritores
contemporâneos, desafiando-nos a repensar nossa própria autenticidade e identidade na era da
complexidade cultural.

Vamos explorar os ecos desses temas na literatura, na arte e na nossa própria existência.

Prontos para embarcar nessa jornada?

ECOS DO MODERNISMO PORTUGUÊS NA CONTEMPORANEIDADE

Nossa primeira abordagem será entender como os princípios e as inovações do Modernismo continuam a
ressoar na cultura contemporânea, influenciando a produção literária, artística e intelectual. De acordo com
Massaud Moisés (2008), o início do século XX marca um ponto crucial na história artística e literária de
Portugal, com a chegada do Modernismo. Este movimento introduziu uma nova perspectiva estética à arte,
incluindo a literatura, ao abraçar a noção de modernidade. Essa consciência de modernidade já estava
deixando sua marca nas transformações sociais, políticas e econômicas que estavam ocorrendo
gradualmente, embora Portugal, de certa forma, estivesse um tanto reservado, já que o país não tinha um
projeto nacional de desenvolvimento que o permitisse acompanhar o ritmo acelerado da modernização que
estava acontecendo no restante da Europa.

O Modernismo Português, teve seu auge no início do século XX com figuras proeminentes como Fernando
Pessoa, Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro, que deixaram marcas na cultura e na literatura de Portugal.
Ademais, seus ecos ainda ressoam na contemporaneidade, influenciando diversas áreas da cultura e do
pensamento. Os desdobramentos do modernismo não foram somente na literatura, mas também nas Artes
Visuais e na Arquitetura. A estética inovadora de artistas como Almada Negreiros, com sua combinação de
abstração e figurativismo, continua a inspirar arquitetos e artistas visuais. A obra de Fernando Pessoa é um
exemplo claro de como o modernismo português influencia a literatura contemporânea. Sua exploração da
multiplicidade de vozes e personas influenciou muitos escritores contemporâneos que exploram a
fragmentação da identidade e da subjetividade.

Por consequência desse período também temos a concepção de sujeito moderno, que emergiu no contexto
do Modernismo Português e do movimento literário da "Geração de Orpheu", continua a ser uma figura
relevante na contemporaneidade. No entanto, essa noção de sujeito evoluiu e se adaptou aos desafios e às
mudanças do século XXI. Hoje, o sujeito moderno muitas vezes lida com uma identidade fragmentada e
multifacetada. Assim como Fernando Pessoa explorou várias personas, indivíduos contemporâneos
frequentemente lidam com múltiplas identidades on-line e off-line. A globalização e a conexão digital
redefiniram a forma como os sujeitos modernos se relacionam com o mundo. A internet e as redes sociais
permitem uma maior interconexão, mas também trazem desafios para a construção da identidade. Conforme
explica Stuart Hall:

[...] o sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não
são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias,
empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo
continuamente deslocadas [...]. A identidade plenamente unificada, completa, segura e
coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida que os sistemas de significação e
representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade
desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais
poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente (Hall, 2006, p.13).

Considerando o exposto, precisamos destacar a figura de Fernando Pessoa na Contemporaneidade, um dos


expoentes do Modernismo Português, mantém sua relevância na contemporaneidade, continuando a inspirar
artistas, escritores e pensadores. Aliás, a multiplicidade de personas explorada por Fernando Pessoa encontra
eco na era digital, onde as pessoas podem criar identidades online diversas. A obra de Pessoa, com suas
influências e diálogos com outras culturas, ressoa na contemporaneidade, onde o diálogo intercultural é cada
vez mais importante. Sua busca pelo universalismo literário ainda inspira escritores a transcenderem
fronteiras culturais. Muitos usam pseudônimos e avatares, refletindo a influência duradoura de Pessoa.
Seus versos frequentemente estão repletos de metáforas e simbolismo, criando um mundo poético rico em
significados ocultos e interpretações múltiplas. Seus poemas muitas vezes exploram temas como a solidão, o
tempo, a morte e a efemeridade da vida. A obra de Fernando Pessoa é considerada uma das mais
importantes da literatura portuguesa do século XX, e continua a ser estudada e admirada pela sua
profundidade e pelo seu refinamento estético.

Vale destacar que Fernando Pessoa criou uma rica obra poética com diferentes heterônimos, sendo a
ortônima a faceta mais pessoal e foi muito homenageado no mundo todo, atualmente, há várias estátuas suas
espalhadas por diferentes lugares de Portugal.

Figura 1 | Estátua de Fernando Pessoa em Braga, Portugal

Fonte: Wikimedia Commons.

Figura 2 | Estátua de Fernando Pessoa em Lisboa, Portugal

Fonte: Wikimedia Commons.

Sendo assim, os ecos do Modernismo Português, o sujeito moderno e a obra de Fernando Pessoa continuam
a desempenhar papéis importantes na cultura e no pensamento contemporâneos, refletindo a evolução da
sociedade e da identidade em um mundo cada vez mais interconectado e digital.
O SUJEITO MODERNO, O MODERNISMO E A HERANÇA DE FERNANDO PESSOA

Provavelmente você já se questionou sobre o significado de "modernidade", e, quem é afinal o sujeito


moderno na contemporaneidade. Definir com clareza o que é ser moderno é, sem dúvida, uma tarefa
desafiadora. Aqui, entendemos a modernidade como um processo interno e contínuo, que teve início no
século XVI e se renovou ao longo dos séculos XIX e XX, assumindo ao longo do tempo diversas formas e
variações. No entanto, é válido levar em consideração as reflexões de alguns estudiosos sobre o significado da
modernidade. Segundo Berman (1987), ser moderno implica estar imerso em um contexto que oferece a
promessa de aventura, poder, felicidade, crescimento e a capacidade de transformar tanto a si mesmo quanto
o mundo. Simultaneamente, esse contexto ameaça destruir tudo o que possuímos, tudo o que conhecemos e
tudo o que somos. As experiências e os ambientes modernos transcendem todas as barreiras geográficas e
étnicas, sociais e nacionais, religiosas e ideológicas. Nesse sentido, a modernidade pode ser vista como uma
força unificadora que abrange toda a humanidade.

A definição de Berman nos leva a considerar a coexistência de sentimentos opostos, como euforia e angústia,
que caracterizaram o início do século XX na Europa. Por um lado, havia a promessa de progresso tecnológico e
científico sem precedentes, com inovações como eletricidade, automóveis, cinema, crescimento urbano, entre
outros. Por outro lado, essas mudanças eram acompanhadas por revoltas, insatisfações e ansiedades,
incluindo revoluções e guerras. O termo "modernidade", conforme apresentado pelo autor, reflete uma
dialética, ou seja, um conflito decorrente da contradição entre eventos e estados de espírito, criando uma
realidade caracterizada por um movimento incessante e contraditório. Suas palavras evidenciam uma tensão
constante e, ao mesmo tempo, uma ligação entre o efêmero e transitório, de um lado, e o duradouro e
inalterável, do outro.

De acordo com Linhares Filho (1988), a modernidade se alinha em grande parte com o movimento
modernista, sendo interpretada como a expressão estética contemporânea. Esse conceito engloba a
produção literária luso-brasileira do século XX, marcando o início em Portugal por volta de 1915, com a
formação do grupo Orpheu, e no Brasil a partir de 1922, quando ocorreu a Semana da Arte Moderna.
Considerando o escritor Fernando Pessoa e sua presença desde o Modernismo à Contemporaneidade, para
Linhares Filho (1988, p. 15):

[...] a obra de F. Pessoa, tanto o a ortônima quanto a heterônima se apresentam como


padrão de modernidade. As diversas personalidades de Pessoa, isoladas ou em seu
conjunto, representam o homem e o mundo do século XX, época que viveu e presenciou
tantas mudanças (político-sociais, científicas, tecnológicas) e até mesmo catástrofes (em
nível mundial e no próprio país).

Assim, podemos entender que Fernando Pessoa apresenta vários fatores de modernidade e que permanece
como um poeta influente na contemporaneidade. Percebemos isso “pelo requinte da elaboração estilística ou
pela sugestão de cálculo expressivo da obra pessoana que o intencional se sobrepõe ao inintencional”
(Linhares Filho, 1988, p. 23). Tais considerações tanto valem para poesia ortônima quanto para poesia
heterônima, já que ambas marcaram época e se destacam até os dias de hoje.

Figura 3 | Fernando Pessoa

Fonte: Wikimedia Commons.

Quando se trata dos heterônimos adotados por Fernando Pessoa, é fundamental recordar que cada um deles
assume uma biografia singular, uma personalidade distinta, além de contar com uma data de nascimento e
um mapa astral meticulosamente elaborados pelo próprio Fernando Pessoa. Para Massaud Moisés (2008, p.
334), os heterônimos de Fernando Pessoa são “[...] meios de conhecer a complexidade do real, impossível
para uma única pessoa. O poeta não poderia, obviamente, multiplicar-se em número igual aos seres viventes
nas três dimensões temporais”.

Os ecos do Modernismo Português reverberam de forma marcante na contemporaneidade, deixando um


legado cultural que continua a influenciar diversas esferas da sociedade. As obras de figuras emblemáticas
como Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro ainda ressoam em nossa compreensão da
literatura, da arte e da identidade. A exploração da multiplicidade de vozes, personas e perspectivas, tão
característica do modernismo, encontra eco na forma como os indivíduos contemporâneos lidam com a
complexidade de suas identidades em um mundo cada vez mais diversificado e globalizado. Além disso, o
Modernismo Português também deixou sua marca na arquitetura, nas artes visuais e na cultura como um
todo, demonstrando sua capacidade de transcender fronteiras temporais e geográficas, mantendo-se
relevante e inspirador na contemporaneidade.

OS ECOS DO MODERNISMO PORTUGUÊS E O SUJEITO MODERNO NA CONTEMPORANEIDADE DA

OBRA DE FERNANDO PESSOA

Considerando a importância e presença de Fernando Pessoa na contemporaneidade, considerando também o


sujeito moderno e os ecos do modernismo português, que tal apresentar para seus alunos a obra desse
marcante escritor e propor novas releituras? Mas, como? Bom, você pode sugerir que seus alunos leiam
alguns poemas de Pessoa e que também escrevam, e além disso, pode propor novas linguagens artísticas
com base nas obras dele.
Você sabia que muitas personalidades de diferentes países já produziram releituras poéticas da obra
pessoana, além de pinturas de Fernando Pessoa? Veja a seguir, nas Figuras 4 e 5, o exemplo de um renomado
escritor venezuelano, chamado Eleazar Molina, cujo pseudônimo artístico é “Gonzalo Fragui”, que fez
releituras de Fernando Pessoa em óleo sobre tela.

Figura 4 | Pintura de Fernando Pessoa, feita por Eleazar Molina

Fonte: cedida pelo artista, Venezuela, 2023.

Figura 5 | Pintura de Fernando Pessoa, feita por Eleazar Molina

Fonte: cedida pelo artista, Venezuela, 2023.

Percebeu como Fernando Pessoa é reconhecido e admirado mundialmente? E esse é apenas um exemplo. A
seguir, veja o trecho de um poema contemporâneo que foi escrito a partir de Fernando Pessoa:

Tabela 1 | Poemas e releituras

O “Poema em Linha (p)Reta” de Rodrigo Mesquita Poema em linha reta, de Fernando Pessoa
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

“Nunca conheci quem tivesse sido racista Todos os meus conhecidos têm sido campeões em

Todos que conheço têm sido corretos em tudo tudo.

E eu, que conheci tanta gente moderna, tanta gente


fina, tantos descolados E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas

E tantos deles irrespondivelmente classe média vezes vil,

Indesculpavelmente brancos [...]” Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo [...]”

Fonte: Revista Úrsula (2020).

Percebeu como os poemas de Pessoa marcam assuntos contemporâneos, como a discussão sobre o racismo?
E, assim demonstram desdobramentos, ecos do Modernismo.

Desse modo, a proposta de apresentar a obra de Fernando Pessoa aos alunos e incentivá-los a fazer releituras
é uma excelente maneira de explorar a importância duradoura desse renomado escritor na
contemporaneidade e sua influência sobre o sujeito moderno e os movimentos literários e artísticos que se
seguiram. Aqui estão algumas sugestões de como abordar essa ideia em sala de aula:

Comece com uma breve introdução à vida e à obra de Fernando Pessoa, destacando sua importância
como figura emblemática da literatura portuguesa e seu papel no modernismo. Explique como Pessoa
utilizou heterônimos para criar diferentes vozes poéticas e perspectivas em sua escrita.

Escolha alguns poemas representativos de Fernando Pessoa para que os alunos leiam. Você pode incluir
obras de seus principais heterônimos, como Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, para
mostrar a diversidade de estilos e os temas abordados.

Peça aos alunos que escolham um poema de Pessoa que tenha ressoado com eles e que façam uma
releitura desse poema. Eles podem reinterpretar o poema sob uma perspectiva contemporânea,
adicionando suas próprias experiências e visões. Incentive os alunos a refletirem sobre como a obra de
Pessoa se relaciona com questões atuais, como identidade, existência, individualismo e a busca por
sentido na vida.

Além da escrita, é possível explorar outras formas de expressão artística inspiradas na obra de Pessoa.
Os alunos podem criar pinturas, ilustrações, músicas, performances teatrais ou mesmo vídeos baseados
em poemas ou conceitos de Pessoa.

Essa atividade permite que os alunos expressem sua compreensão da obra de Pessoa de maneira criativa e
pessoal, experimentando diferentes formas de arte. Os alunos podem pesquisar como Pessoa é percebido em
diferentes partes do mundo e como sua obra é traduzida e interpretada em diferentes contextos culturais.
Você pode conclua essa sequência de aulas com apresentações dos alunos, onde eles compartilham suas
releituras, criações artísticas e insights sobre a obra de Pessoa. Ao explorar a obra de Fernando Pessoa dessa
forma, os alunos não apenas desenvolvem uma compreensão mais profunda da literatura e da arte, mas
também terão a oportunidade de refletir sobre questões fundamentais da contemporaneidade e explorar sua
própria criatividade. A influência duradoura de Pessoa na literatura e na cultura torna esse projeto relevante e
enriquecedor para estudantes de diferentes idades e origens culturais.

VIDEO RESUMO

Esta videoaula nos levará a uma jornada fascinante pelo mundo da literatura e da cultura, explorando temas
interligados que têm desempenhado um papel crucial na formação da identidade cultural portuguesa e na
compreensão da contemporaneidade. Nesta videoaula, você encontrará mais sobre Fernando Pessoa na
contemporaneidade, sobre o sujeito moderno e os ecos do Modernismo, além de imagens especialmente
selecionadas para você!

 Saiba mais
A primeira dica de leitura desta aula é para que você amplie seus conhecimentos e reflita sobre a
concepção de identidade e sujeito na pós-modernidade, trata-se do artigo intitulado A identidade cultural
na pós-modernidade, de Elisabeth Teixeira.

A segunda indicação é do site do domínio público, no qual você encontra grande parte da obra de
Fernando Pessoa, e com o acesso gratuito! Isso mesmo! Você pode ler poemas dos heterônimos
pessoanos e conhecer mais sobre essa marcante produção.

Boas leituras!

Aula 5

REVISÃO DA UNIDADE

O PERCURSO PELO MODERNISMO EM PORTUGAL

O Modernismo em Portugal foi um movimento literário e artístico que teve um profundo impacto no país
durante o século XX. Neste resumo, abordaremos as principais aulas e os tópicos estudados sobre o
Modernismo em Portugal. Os primeiros indícios do movimento modernista em Portugal surgiram por volta de
1910, um período caracterizado por profundas transformações políticas e instabilidade, já que o país estava
em pleno processo de transição do regime monárquico para a república.
Primeiramente você estudou a base histórica e estética do Modernismo português, destacando-se três
correntes influentes: Futurismo, Orfismo e Presencismo. O Futurismo, liderado por Almada Negreiros,
promovia a exaltação da máquina, da velocidade e da modernidade. O Orfismo, com influência de artistas
como Amadeo de Souza-Cardoso, buscava a abstração e a geometria na arte. O Presencismo, liderado por
Fernando Pessoa, valorizava a sensação de estar presente no momento.

Destacamos também o estudo dos estilos e os temas em autores modernistas portugueses, como Mário de
Sá-Carneiro e Almada Negreiros, que se destacaram pelo experimentalismo e pela abordagem de temas
relacionados à angústia existencial e à modernidade. Também foram discutidos autores como Branquinho da
Fonseca e José Régio, que trouxeram temas sociais e psicológicos para a literatura modernista.

Um destaque desses autores portugueses é a figura icônica de Fernando Pessoa. Você estudou sua vida e
seu contexto de produção, destacando a importância de seus heterônimos na literatura modernista. A poesia
de Fernando Pessoa é notável não apenas pela qualidade de sua escrita, mas também por sua complexidade
e multiplicidade de vozes. Duas das facetas mais marcantes de sua poesia são a ortônima e a heterônima,
que representam distintos modos de expressão literária e perspectivas poéticas. A poesia ortônima de
Fernando Pessoa refere-se aos poemas escritos sob o seu próprio nome. Nessa vertente, Pessoa expressa
seus próprios sentimentos, suas reflexões e suas visões de mundo. Sua poesia ortônima é frequentemente
introspectiva e lírica, abordando temas como a saudade, a efemeridade da vida e a busca por identidade e
significado. Por outro lado, a poesia heterônima de Fernando Pessoa é caracterizada pela criação de
diferentes personalidades literárias, cada uma com seu próprio estilo, sua voz e sua visão de mundo. Entre os
mais conhecidos heterônimos estão Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Cada um desses
heterônimos representa uma abordagem poética distinta. A criação de heterônimos permitiu a Fernando
Pessoa explorar uma ampla gama de estilos poéticos e perspectivas filosóficas, tornando-o uma figura única
na literatura mundial. Seus heterônimos não eram apenas pseudônimos, mas sim personalidades literárias
completas, cada uma com sua própria voz e suas ideias. Esse aspecto singular de sua obra contribuiu para a
riqueza e complexidade de sua contribuição para a literatura portuguesa e universal.

Por fim, destacamos os desdobramentos da estética modernista em Portugal e o seu impacto na


contemporaneidade. Os ecos do modernismo português puderam ser observados na literatura, na arte e na
cultura do país. O sujeito moderno, caracterizado por uma busca por identidade e uma relação complexa com
a modernidade, continuou a ser relevante na contemporaneidade. Além disso, a figura de Fernando Pessoa
permaneceu uma referência significativa na literatura e na cultura portuguesa, evidenciando sua duradoura
influência. O Modernismo em Portugal não se limitou apenas à literatura, mas, também deixou sua influência
nas artes plásticas, no teatro e na música. Foi uma época de ruptura com as convenções e de busca por novas
formas de expressão, uma resposta ao contexto histórico e social da época.

Em resumo, o Modernismo em Portugal foi um movimento multifacetado que abordou uma variedade de
estilos, temas e experimentações estéticas. Com nomes notáveis como Fernando Pessoa, Mário de Sá-
Carneiro e Almada Negreiros, o modernismo deixou um legado duradouro na cultura portuguesa e continua a
ser estudado e apreciado na contemporaneidade.
REVISÃO DA UNIDADE

Estudante, veja a nossa videoaula sobre o Modernismo em Portugal, um movimento literário e artístico que
deixou uma marca indelével na cultura do século XX. Durante as aulas, exploramos as principais correntes, os
autores e os temas que moldaram essa época de efervescência criativa e o questionamento das normas
estabelecidas. Ao longo desta jornada, mergulhamos nas correntes modernistas, como o Futurismo, o
Orfismo e o Presencismo, que trouxeram inovação e vanguardismo à arte portuguesa. Também exploramos a
figura emblemática de Fernando Pessoa e seus heterônimos, que deram voz a diferentes perspectivas e
sensibilidades poéticas.

ESTUDO DE CASO

Estudo de Caso: O Modernismo em Portugal na Literatura Contemporânea


Cenário:

Você é um editor literário renomado que trabalha para uma prestigiosa editora em Portugal. Sua empresa
está interessada em publicar uma nova antologia de poesia contemporânea que explore e dialogue com os
princípios do Modernismo em Portugal. A direção da editora acredita que essa abordagem inovadora pode ser
uma maneira emocionante de conectar a tradição literária do país com os leitores contemporâneos.

Situação-Problema:

Você foi designado para liderar este projeto e precisa encontrar jovens poetas contemporâneos cujas obras
dialoguem de alguma forma com os fundamentos estéticos do Modernismo português, como o Futurismo, o
Orfismo e o Presencismo. Além disso, você deve selecionar poetas cujos estilos e temas se assemelhem ou
contrastem de maneira significativa com os autores modernistas estudados, como Fernando Pessoa, Mário de
Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Branquinho da Fonseca e José Régio.

Desafios:

Identificação de poetas contemporâneos: você deve pesquisar e identificar poetas contemporâneos


em Portugal cujas obras demonstrem influência ou conexão com os fundamentos estéticos do
Modernismo. Isso envolve compreender como os elementos do Futurismo, Orfismo e Presencismo se
manifestam em suas poesias.

Análise comparativa: você deve realizar uma análise crítica das obras desses poetas contemporâneos e
compará-las com as obras dos autores modernistas estudados nas Aulas 5 e 6. Procure por semelhanças
e diferenças em termos de estilo, temas e abordagem artística.

Seleção de poemas para a Antologia: com base em sua pesquisa e análise, selecione os poemas que
serão incluídos na Antologia. Certifique-se de que os poemas escolhidos ilustrem de forma eficaz o
diálogo entre o Modernismo e a contemporaneidade, bem como ofereçam uma experiência literária
envolvente para os leitores.
Consideração da relevância atual: avalie como as obras desses poetas contemporâneos se relacionam
com os desdobramentos da estética modernista na contemporaneidade, como discutido na Aula 8.
Considere como elas refletem o sujeito moderno e a resposta às questões da atualidade.

Comunicação eficaz: apresente seus achados e seleções à equipe editorial da sua empresa de forma
clara e persuasiva, destacando a relevância e o potencial comercial da antologia.

Espera-se que, ao final deste estudo de caso, você seja capaz de demonstrar a compreensão dos princípios do
Modernismo em Portugal, aplicar essa compreensão na seleção de poetas contemporâneos e poemas
relevantes, bem como articular como essas obras refletem a continuidade e a evolução da estética modernista
na literatura portuguesa contemporânea. Além disso, espera-se que você aprimore suas habilidades de
pesquisa, análise crítica e comunicação no contexto editorial.

 Reflita
Refletir sobre os poetas do Modernismo em Portugal é embarcar em uma viagem pela rica tapeçaria da
literatura portuguesa do século XX. Cada um desses poetas contribuiu de maneira singular para a
construção do cânone literário de Portugal, trazendo vozes distintas e explorando temas e estilos
variados.

Fernando Pessoa é, sem dúvida, a figura mais icônica desse grupo. Sua genialidade se manifesta não
apenas em sua poesia ortônima, mas também em seus heterônimos, como Alberto Caeiro, Álvaro de
Campos e Ricardo Reis. Sua poesia heterônima, em particular, desafia as fronteiras entre a realidade e a
ficção, explorando a multiplicidade da condição humana.

Mário de Sá-Carneiro, por sua vez, trouxe uma aura de rebeldia e vanguardismo à literatura
portuguesa. Sua poesia e prosa exploram a angústia existencial, a busca por sentido e o impacto da
modernidade na psique humana.

Almada Negreiros é conhecido não apenas como poeta, mas também como um artista visual
multifacetado. Sua poesia, assim como suas pinturas e seus manifestos, celebram a velocidade, a
máquina e a energia urbana. Ele personifica o espírito futurista, promovendo uma visão de um mundo
em constante movimento e transformação.

Branquinho da Fonseca, por sua vez, trouxe uma voz singular à poesia modernista. Sua obra muitas
vezes aborda temas sociais, explorando a luta do homem comum em meio à mudança de paradigmas.
Suas poesias trazem à tona a humanidade nas questões sociais, criando uma conexão profunda entre o
leitor e a experiência humana.

José Régio, por fim, é conhecido por sua poesia lírica e reflexiva. Sua obra examina as complexidades das
emoções humanas, a espiritualidade e a busca por significado na vida cotidiana. Régio aborda questões
universais com uma sensibilidade profunda, conectando-se com o leitor por meio de sua sinceridade
poética.
Esses poetas, juntos, formam um panorama diversificado da literatura portuguesa modernista,
representando diferentes facetas da experiência humana e da inovação artística. Eles nos lembram da
riqueza da tradição literária de Portugal e da capacidade da poesia de transcender as fronteiras do
tempo e da cultura, continuando a inspirar e enriquecer a vida das pessoas.

RESOLUÇÃO DO ESTUDO DE CASO

Para resolver seu estudo de caso, você pode percorrer os seguintes passos:

Identificação de poetas contemporâneos: para encontrar poetas contemporâneos cujas obras dialoguem
com os fundamentos estéticos do Modernismo em Portugal, é preciso pesquisar o cenário literário atual. Após
uma pesquisa cuidadosa, foram identificados três poetas que se destacam:

Sofia Teles: uma jovem poetisa portuguesa conhecida por seu estilo inovador que abraça elementos do
Futurismo. Suas obras frequentemente exploram a tecnologia, a velocidade e a urbanidade, refletindo o
espírito futurista. Seu poema Cidade em Movimento é um exemplo marcante dessa abordagem.

João Amaral: um poeta contemporâneo que demonstra influência do Orfismo em sua escrita. Seus
poemas são caracterizados pela experimentação com formas poéticas e pela busca por uma linguagem
mais abstrata e simbólica. A Dança das Cores é um de seus poemas que exemplifica o uso de imagens
abstratas e metafóricas.

Marta Silva: uma poeta que se encaixa no Presencismo contemporâneo. Sua poesia foca na experiência
individual, na reflexão sobre o presente e na exploração da subjetividade. O poema Instante Eterno é um
exemplo de sua abordagem.

Análise comparativa: comparando as obras desses poetas contemporâneos com os autores modernistas
estudados nas Aulas 5 e 6:

Sofia Teles dialoga com o Futurismo de Almada Negreiros ao explorar a modernidade e a tecnologia, mas sua
abordagem é mais pessoal e reflexiva.

João Amaral compartilha algumas características do Orfismo, como a experimentação com a linguagem, mas
ele aborda temas contemporâneos, enquanto os orfistas estavam mais preocupados com o abstrato.

Marta Silva segue a tradição do Presencismo, mas sua poesia é mais voltada para a reflexão interior e o
presente, contrastando com os temas sociais do Presencismo original.

Seleção de Poemas para a Antologia:

Com base na análise comparativa, selecionamos os seguintes poemas para a antologia:

Cidade em Movimento (Sofia Teles)

A Dança das Cores (João Amaral)

Instante Eterno (Marta Silva)


Esses poemas oferecem uma variedade de estilos e temas que dialogam de maneira significativa com o
Modernismo e são representativos da literatura contemporânea em Portugal.

Consideração da relevância atual: esses poetas contemporâneos refletem o sujeito moderno na


contemporaneidade ao abordar temas como a tecnologia, a identidade individual e a reflexão sobre o
presente. Suas obras são uma resposta aos desafios e questionamentos da sociedade atual, demonstrando
como o Modernismo continua a influenciar e inspirar a literatura portuguesa contemporânea.

Comunicação eficaz: apresentei os resultados da pesquisa e a seleção de poemas à equipe editorial da nossa
empresa de forma clara e persuasiva. Destaquei como essa antologia será uma ponte entre o passado
modernista e o presente literário em Portugal, oferecendo aos leitores uma visão única da evolução da
literatura no país.

Com essa solução, espero que a antologia seja um sucesso e que os leitores apreciem a conexão entre o
Modernismo em Portugal e a literatura contemporânea, permitindo que a riqueza da tradição literária inspire
as gerações futuras.

RESUMO VISUAL

Fonte: elaborada pela autora.

REFERÊNCIAS

Aula 1

ABDALA JÚNIOR, B.; PASCHOALIN, M. A. História social da literatura portuguesa. São Paulo: Ática, 1985.
CARPEAUX, O. M. História da literatura ocidental - Volume IV – 3. ed. Brasília: Senado Federal, Conselho
Editorial, 2008. 4 v. (Edições do Senado Federal; v. 107-C). Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/04/17/classico-de-otto-maria-carpeaux-e-oferecido-em-
versao-digital-para-download-gratuito. Acesso em: 4 set. 2023.

FIGUEIREDO, F. de. História literária de Portugal. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1980.

MARQUES, R. Arquivo Virtual da Geração de Orpheu. Blog Modernismo. Revistas Literárias e Artísticas do
Modernismo Português 1910-1927. Disponível em: https://modernismo.pt/index.php/revistas. Acesso em: 9
set. 2023.

MOISÉS, M. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2008.

MOISÉS, M. Presença de literatura portuguesa – Modernismo. São Paulo: Difusão Europeia de Livro, 1971. v.
5.

PIZARRO, J. Orpheu, uma revista-manifesto. Revista Desassossego, 7(14), 44-56, 2016. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/desassossego/article/view/105343. Acesso em: 4 set. 2023.

TEIXEIRA, J. Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo português. Lisboa: Presença, 2007.

Aula 2

ABDALA JUNIOR, B.; PASCHOALIN, M. A. História social da literatura portuguesa. São Paulo: Ática, 1982.

CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. A. C. Panorama da literatura portuguesa. São Paulo: Atual, 1997.

DE NICOLA, J. Literatura portuguesa: das origens aos nossos dias – São Paulo: Scipione, 1999.

LUNA, J. N. Almada Negreiros e o teatro sensacionista reflexões sobre as peças “antes de começar” e “o
público em cena” de Almada Negreiros. Cena, (18), 2016. Disponível em:
https://seer.ufrgs.br/index.php/cena/article/view/52004/36506. Acesso em: 7 set. 2023.

MOISÉS, M. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 1999.

MOISÉS, M. A literatura portuguesa através de textos. São Paulo: Cultrix, 2006.

MOISÉS, M. Presença da literatura portuguesa. Modernismo. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1970.

NEGREIROS, A. Almada - Obra Completa, Volume Único. Bueno, Alexei (org) Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1997.

NERI JÚNIOR, E. dos P.; VAZ, C. L. D. Almada Negreiros. Belém: EditAedi/UFPA, 2020. 11 p. Disponível em:
https://livroaberto.ufpa.br/jspui/handle/prefix/848. Acesso em: 7 set. 2023.

PERRONE-MOISÉS, L. Altas literaturas. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SÁ CARNEIRO, M. Obras completas de Mário de Sá Carneiro. Poesias. Lisboa: Ática, [s. d.], v. 2, p. 61-65.
Aula 3

BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2006.

CAEIRO, A. Poemas completos de Alberto Caeiro. In:____. Obra poética. Organização, Introdução e Notas de
Maria Aliete Galhoz. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001. p.200-250.

CAMPOS, Á. Poesias de Álvaro de Campos. In:____. Obra poética. Organização, Introdução e Notas de Maria
Aliete Galhoz. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001. p. 297-423.

COELHO, A. P. Os fundamentos filosóficos da obra de Fernando Pessoa. 2v. Lisboa: Verbo, 1971.

FIGUEIREDO, F. de. História literária de Portugal. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1980.

MONTEIRO, A. C. Estudos sobre a poesia de Fernando Pessoa. Rio de Janeiro: Agir, 1958.

MOISÉS, M. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2008.

PERRONE-MOISÉS, L. Fernando Pessoa aquém do eu, além do outro. 3. ed. São Paulo Martins Fontes, 2001.

PESSOA, F. Obra em prosa. Organização, introdução e notas de Cleonice Berardineli. 2. ed. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1998.

PESSOA, F. Controvérsia entre Álvaro Campos e Ricardo Reis. Lisboa: Ática, 1996. Disponível em:
http://arquivopessoa.net/textos/2910. Acesso em: 18 mar. 2023.

PESSOA, F. Antologia poética. Introdução e seleção de Walmir Ayala. São Paulo: Ediouro, 2001.

PESSOA, F. O eu profundo e os outros eus. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira. 32ª impressão. 2001.

PESSOA, F. Obra poética. Organização, Introdução e Notas de Maria Aliete Galhoz.

3.ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001.

PESSOA, F.; SOARES, B. Livro do desassossego. 2. ed. São Paulo: Editora Brasiliense. Domínio Público. 1985.

REIS, F. Ricardo Reis visto por Frederico Reis. In: ____. Obra em prosa. Organização, Introdução e Notas de
Cleonice Berardineli. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.

REIS, R. Odes de Ricardo Reis. In: Obra poética. Organização, introdução e notas de Maria Aliete Galhoz. 3. ed.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001. p.251-296.

SOARES, B. Livro do desassossego. Composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de
Lisboa. Organização Ricardo Zenith. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

TEIXEIRA, J. Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo português. Lisboa: Presença, 2007.

Aula 4

BERMAN, M. Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

HALL, S. A identidade cultural da pós-modernidade. São Paulo: DP&A, 2006.


LINHARES FILHO. A modernidade em Fernando Pessoa. Fortaleza: EUFC, 1988.

MACHADO, Á. M. Dicionário de literatura portuguesa. Lisboa: Presença, 1996.

MOISÉS, M. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2008.

MOISÉS, M. Presença de literatura portuguesa – Modernismo. São Paulo: Difusão Europeia de Livro, 1971. v.
5.

O “Poema em Linha (p)Reta” de Rodrigo Mesquita. Úrsula, 2020. Disponível em:


https://revistaursula.com.br/entressafra/o-poema-em-linha-preta-de-rodrigo-mesquita/. Acesso em: 10 nov.
2023.

PERRONE-MOISÉS, L. Fernando Pessoa aquém do eu, além do outro. 3. ed. São Paulo Martins Fontes, 2001.

TEIXEIRA, E. A identidade cultural na pós-modernidade. Texto & Contexto - Enfermagem, 15(1), 2006. 162–
163. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tce/a/9MVDsFYtgQ8ncnK7NVJXNcs/. Acesso em: 24 set. 2023.

Aula 5

ABDALA JÚNIOR, B.; PASCHOALIN, M. A. História social da literatura portuguesa. São Paulo: Ática, 1985.

CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. A. C. Panorama da literatura Portuguesa. São Paulo: Atual, 1997.

DE NICOLA, J. Literatura Portuguesa: das origens aos nossos dias – São Paulo: Scipione, 1999.

FIGUEIREDO, F. de. História literária de Portugal. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1980.

MACHADO, Á. M. Dicionário de literatura portuguesa. Lisboa: Presença, 1996.

MOISÉS, M. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2008.

MOISÉS, M. Presença de literatura portuguesa – Modernismo. São Paulo: Difusão Europeia de Livro, 1971. v.
5.

NEGREIROS, A. Almada - Obra Completa, Volume Único. Bueno, Alexei (org) Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1997

PERRONE-MOISÉS, L. Fernando Pessoa aquém do eu, além do outro. 3. ed. São Paulo Martins Fontes, 2001.

PESSOA, F. Obra em prosa. Organização, Introdução e Notas de Cleonice Berardineli. 2. ed. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1998.

TEIXEIRA, J. Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo português. Lisboa: Presença, 2007.


Imagem de capa: Storyset e ShutterStock.

Você também pode gostar