2 Disciplina: História da Filosofia Medieval Discente: Cristian Gaspar Teixeira
Fichamento do texto Diálogo com Trifão - de Justino de Roma
1. O texto mostra uma visão anterior à de emancipação da Teologia com relação
à Filosofia. Nele, percebe-se a intenção de que esta última reflita questões sobre Deus que, para a época, fazia sentido tomar como parte dela, mas que hoje é naturalmente imaginado como temática, de certo modo, separada e independente. 2. É perceptível, também, a pontuação crítica ao modo helenista de priorizar questões psicológicas, em detrimento à lida com aquelas de cunho metafísico. Critica-se, do mesmo modo, a liberdade ampla que essas filosofias propõem, como sendo libertinagem que banaliza a importância da preocupação com castigos e recompensas divinos. 3. Justino destaca claramente sua posição: a liberdade humana deve respeitar os limites que Deus lhe propõe, julgando que para os atos bons ou maus haverá consequências justas. 4. Ele coloca a Filosofia como sendo o único caminho para Deus, para a santidade. E trata a existência de várias correntes filosóficas como sendo implicação da numerosidade de visões deturpadas sobre o que a Filosofia é. 5. Julga que as escolas filosóficas não trabalham para buscar a verdade, como seus fundadores, mas somente para replicar seus posicionamentos, e que isso leva a algo como uma cegueira e soberba intelectuais que impediriam que aceitassem a verdade de outras fontes que não aquela de sua corrente própria. 6. Ao deixar um peripatético que lhe cobrou honorários, deixou clara a sua influência platônica na percepção de que aquele que pretende ter lucro com a reflexão, nem filósofo é. Essa influência se destaca ainda mais no elogio que adiante ele atribui ao transcendentalismo e à percepção teleológica de Deus que encontrou nos platônicos. 7. Propõe a superioridade da reflexão filosófica em relação às ações práticas, como condutora ética delas. Define a Filosofia como teoria ontológica, e epistemologia da verdade, e à felicidade como sendo recompensa disto. Já a Deus, conceitua como sendo imutável e causa ontológica de tudo. 8. Justino e o Ancião refletem sobre como a alma pode conhecer cientificamente a Deus, sendo que as outras ciências exigem algum conhecimento prévio ou percepção sensível de seu objeto e Ele, por sua definição, está além do conhecimento humano e é suprassensível. A resposta que formulam é que, a alma humana, que é divina imortal, é uma partícula da inteligência soberana: e, como esta contempla a Deus, a alma também o pode, em proporção menor. 9. No parágrafo 5 da página 82, mais especificamente no trecho "[a alma humana] desligada do corpo e tornada ela mesma", o Mártir dá indício de que pensa a ligação da alma ao corpo como algo que de certa forma a impede de ser ela mesma. 10. Não fica claro se essa percepção de Justino será superada mais à frente no texto, mas, quando ele se refere ao acorrentamento em corpos de feras como sendo castigo das almas julgadas indignas de contemplar a Deus, sua resposta parece profundamente carregada de orfismo e desligada do modo cristão de ver as coisas. O próprio ancião é que demonstra como ilógicas as implicações nas quais a visão de Deus e a transmigração da alma acarretariam. 11. O texto parece, repetidamente, julgar erroneamente que a potência de finitude nas coisas tenha de se converter, necessariamente, em ato. Porém, essa percepção é suspensa quando o diálogo se lhe supera. Se algo é quebrável não quer dizer que se quebrará: uma bomba, que é explosível, pode ficar para sempre sem ser explodida. Logo, dizer que a alma é criada não é dizer que é findável e, até mesmo afirmar que ela seja findável não implica em que irá mesmo findar-se. 12. Porém, algo de mais coerente (e, fora a noção de criação, até aristotélico) se encontra na afirmação de que a alma exista em vista de um corpo e não por si mesma. Este ponto de vista permanece predominante na Teologia Católica até a atualidade. 13. Citando Platão e Pitágoras como "muralhas da filosofia", demonstram a profundidade de sua influência. 14. Se elogia e valoriza o conteúdo profético, provavelmente em referência aos profetas das Sagradas Escrituras, como fonte segura para a reflexão e a demonstração filosóficas.