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PLANEJAMENTO Mozart Bezerra da Silva
Como identificar
e priorizar riscos
A matriz proposta pelo PMBOK ajuda a cercar os imprevistos
nos projetos
A diretriz internacional na área do gerencia-
mento de riscos da construção civil está foca-
da na pesquisa sobre os itens de incerteza e na
melhor metodologia a se aplicar para reduzir o
impacto negativo de certos fatores sobre empresas
e projetos.
O ponto inicial é a identificação. Sabe-se que é
difícil lutar contra um inimigo sem saber quem é,
onde está e quando ou como atacará. Algumas ativi-
dades precisam de maior atenção, devido ao seu
potencial de causar transtornos.
Tipos de risco
Uma primeira dica consiste em classificar os fatores
ARQUIVO
de risco em função de suas origens. O Guia do
Conjunto de Conhecimentos em
Gerenciamento de Projetos, livro
conhecido como PMBOK, publica-
Dificilmente do pelo PMI (Project Management
alguém Institute) define quatro fontes de ris-
consegue atuar co: os riscos técnicos, os riscos
no mercado externos, os riscos organizacionais e
os riscos da gerência do projeto.
da construção
civil sem ser Categorias de riscos
incomodado por segundo o PMBOK
despesas extras
R I S C O S T É C N I C O S Relacionados
com a tecnologia utilizada, o
método construtivo, as especificações, a complexi-
dade do projeto, as interfaces dos sistemas e a qua-
lidade dos serviços.
RISCOS EXTERNOS Incertezas relacionadas com o mer-
cado, com as leis e regulamentos em geral, com a
postura perante o risco da empresa contratante e com
as condições climáticas do local da obra.
RISCOS ORGANIZACIONAIS Referem-se à cultura da
empresa construtora, à disponibilidade de recursos
para atender os projetos simultâneos e à garantia da
existência de recursos financeiros.
RISCOS GERENCIAIS Relacionados com o gerencia-
mento do projeto, à qualidade do planejamento exe-
cutivo, à elaboração de estimativas e orçamentos, aos
controles de custo e qualidade e com a comunicação
entre os executores do projeto.
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A aceitação de uma estrutura de análise orga-
niza o estudo e facilita o rastreamento dos fatores
de incerteza.
Técnicas de identificação
A maneira mais econômica de detalhar os itens
de risco consiste em aprender com a experiência
divulgada por terceiros. A leitura de jornais, o
exame de literatura técnica, a participação em even-
tos técnicos e a conversa com outros empresários
estão recheados de citações e comentários sobre
eventos inesperados e suas conseqüências. O regis-
tro e a classificação dessas informações são muito
úteis, principalmente para quem está disposto a
conhecer mais do assunto. Deve-se fugir do pensa-
mento natural: "Isso só acontece com os outros".
Também deve-se evitar uma postura pessimista. O
conhecimento dos riscos amplia a percepção e reduz
as chances de ser surpreendido.
Uma segunda técnica é a consulta aos profissio-
nais da equipe interna da empresa construtora. Pode-
se promover um debate sobre os problemas enfrenta-
dos em projetos anteriores, função da experiência de
cada um. Dificilmente alguém consegue atuar no
mercado da construção civil sem ser incomodado por
despesas extras. A técnica chamada de brainstorming
consiste na programação de reuniões para se discutir
a possibilidade da ocorrência de problemas com o
projeto a iniciar, podendo-se contar com a ajuda de
especialistas multidisciplinares externos. O custo do
aprendizado pela experiência é elevado, mas a conta
já foi paga por alguém.
Outro método para identificar riscos consiste em
entrevistar os parceiros do empreendimento: investi-
dores, clientes, agentes financeiros, projetistas, for-
necedores, entre outros. Normalmente, eles já partici-
param de projetos semelhantes e foram prejudicados
por itens de risco que não gostariam de ver repetidos
no projeto atual.
Na rede de planejamento do empreendimento,
deve-se prestar atenção nas atividades do caminho
crítico. Os riscos surgem em atividades importantes
que exigem muitos recursos simultâneos, nos servi-
ços que dependem de vários outros e na execução de
tarefas que fazem uso de recursos restritos.
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Check-list
Os itens de risco divulgados por terceiros, informados
pela literatura técnica, pela experiência pessoal de
profissionais internos e de consultores externos e
pelas observações dos parceiros do empreendimento
podem ser utilizados para a elaboração de um check-
list. Uma lista de verificação para servir de referência
na composição do preço das próximas obras. No
"Manual de BDI" são apresentadas listas de itens de
risco, classificados pelo grau de dificuldade de serem
estimados na orçamentação: situações previsíveis,
riscos propriamente ditos, incertezas e incertezas de
força maior. Alguns desses itens são apresentados
nos quadros abaixo.
SITUAÇÕES PREVISÍVEIS
■ Atrasos de pagamento rotineiros já conhecidos no
mercado
■ Falta de correção monetária integral em contratos
com correção monetária anual
■ Dificuldades para executar serviços externos em
época de chuva
RISCOS PROPRIAMENTE DITOS
■ Desperdício de materiais decorrentes de projetos
complexos
DESPERDÍCIO DEVIDO A RETRABALHO
■ Prejuízos com furto ou roubo de equipamentos não
cobertos por seguro
■ Baixa produtividade de mão-de-obra gerada por
projetos incompatíveis
Técnicas de priorização
Um estudo detalhado certamente identificará cen-
tenas de itens de risco. Faz-se necessário destacar os
mais importantes, a serem considerados no planeja-
mento do empreendimento e na formação dos preços.
As variáveis a serem utilizadas para medir a impor-
tância dos riscos são as probabilidades de ocorrência
e o impacto que podem gerar nos objetivos do proje-
to (qualidade, prazo, custo).
A priorização é efetuada com base em uma aná-
lise qualitativa, que faz uso de uma abordagem sim-
plificada, onde probabilidades e impactos são clas-
sificados em níveis (alto, médio, baixo, por exem-
plo). O PMBOK propõe a construção de uma
matriz para representar graficamente os riscos,
chamados de ameaças quando relacionados com
fatores negativos e de oportunidades quando vincu-
lados a fatores positivos.
A Matriz de Probabilidade e Impacto é construí-
da ordenando-se os fatores de risco pela probabili-
■ Maiores custos de rescisão pela rotatividade de
operários maior que a prevista
■ Pagamento de dias não trabalhados referente à
doença de operários acima do nível previsto
■ Aumento do prazo da obra por responsabilidade
do construtor
■ Acertos indevidos efetuados por pressão da
Justiça do Trabalho
■ Riscos de engenharia não cobertos por seguro
RISCOS CLASSIFICADOS COMO INCERTEZA
■ Custo do capital superior ao previsto no
orçamento e não repassável
■ Danos contra terceiros não cobertos por seguro
de danos contra terceiros
■ Rigor fiscal excessivo na medição
■ Mudança de poder político
■ Despesas com ações judiciais
■ Erro no levantamento de quantidades de serviço
em contrato por preço global
RISCOS CLASSIFICADOS COMO INCERTEZAS
DE FORÇA MAIOR
■ Pacotes econômicos
■ Queda de raios
■ Inundações
■ Terremotos
■ Guerras
■ Depredações
dade (90%, 70%, 50%, 30% e 10%) e pelo impac-
to percentual relacionado com todo o projeto (fai-
xas de 5%, 10%, 20%, 40% e 80%). A matriz apre-
senta o resultado da multiplicação das duas variá-
veis, sendo os riscos identificados incluídos em
cada um dos retângulos. Os itens mais importantes
podem ser destacados por uma escala colorida ou
em tons de cinza.
Definidos os riscos mais importantes (normal-
mente representados por retângulos pintados em
cinza-escuro ou em vermelho), podem ser desenvol-
vidas análises matemáticas mais elaboradas, as análi- Mozart Bezerra da Silva
ses quantitativas, que dão suporte a decisões mais é especialista no
complexas na área de gerenciamento de riscos, gerenciamento de
assunto do próximo artigo. custos e riscos,
mestrando pela
Universidade Federal
do Paraná e autor do
Próximos temas: Análise quantitativa – o impacto dos riscos em livro "Manual de BDI",
orçamentos e na análise de opções de negócios; Como reagir aos das editoras Edgard
riscos e mantê-los sob controle Blücher e PINI.
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