Carlos Eduardo Straus de Albuquerque Turma: DR1S34
Fé? Razão? Fé ou Razão? ou Fé e Razão?
No século V, a doutrina de Santo Agostinho que tem como base o pensamento
platônico de Mundo Ideal e Sensível, foi apresentada em seu livro Cidade de Deus como a defesa da Igreja e do Cristianismo às críticas após a queda de Roma explorando os conceitos de Pecado Original, Justiça, Bem Comum, Lei Divina e Humana. Onde foi rapidamente estabelecida como doutrina oficial da Igreja e até parte final da Idade Média não houve filosofia que rivalizasse com a agostiniana. O pensamento de Aristóteles foi traduzido por Sírios, Árabes e Judeus que também desenvolviam seus próprios conhecimentos matemáticos, astronômicos e científicos, que chegavam a ser superiores ao conhecimento cristão. Acredito que isso seja justificado pela ideia de Completude, onde seus objetivos são realizados apenas no plano divino, tendo a resposta de algumas questões pautada na revelação divina por meio de antigas escrituras, não sendo necessário o uso do conhecimento humano, assim como os Sofistas da Grécia Antiga faziam o uso do “bom discurso”. Entendo também que é uma maneira radical de se referir a essa ideia, tendo em vista os conceitos de subordinação às leis mundanas, ainda que sejam injustas, que dá ao homem ao menos o direito de ser “instrumento da graça divina”. Com a redescoberta do pensamento aristotélico foi demonstrada uma incapacidade dos cristãos de lidar com a melhor filosofia da época (a aristotélica) por conter justificativas racionais para diversos posicionamentos. A igreja tentou por um momento perseguir e invalidar o pensamento aristotélico, porém ao tempo de São Tomás de Aquino (Século XIII), a Igreja passou a dialogar com o pensamento de Aristóteles. São Tomás de Aquino através de sua obra Suma Teológica veio a ser um expoente da Escolástica: um movimento filosófico que procurava conciliar a fé cristã com a razão aristotélica. Para São Tomás de Aquino o Pecado Original de Adão e Eva afetou a natureza humana, entretanto essa inclinação ao mal resultante do pecado original pode ser restaurada tanto pela graça divina, quanto pelos atos bons e justos, pelo fato do homem ser racional (Deus ter dado ao homem a capacidade de ser virtuoso). Ao contrário de Agostinho, onde a razão é subordinada à fé, São Tomás a tem como complemento, a fé e a razão se complementam em prol da racionalidade da justiça nos atos do homem para com outrem. Tratando-se das leis, Aquino refinou o pensamento agostiniano insistindo no fato de que o homem encontra na natureza, atos, comportamentos e medidas justas. Para Aquino, uma lei que não é voltada para o bem comum, não pode ser considerada lei, sendo assim, toda lei ordena-se ao bem comum. Tratando-se das leis, temos a Lei Eterna, que é a razão divina e transcendente, que governa o mundo, a Lei Divina, que é a regra de Deus anunciada aos homens por meio da revelação, sendo o homem subordinado à lei eterna mesmo sem compreendê-la. Ainda neste mesmo contexto, mas agora se tratando do que é inteligível à razão do homem sem o intermédio de revelação sobrenatural temos a Lei Natural, que é divina pela sua origem na lei eterna, mas a lei natural é o conjunto de valores pré-estabelecidos ao indivíduo e sua natureza humana (sendo atribuída também aos animais) ao nascer, é mutável, visando novos tempos, situações e demandas, sendo o direito natural adaptável. Por fim, a Lei Humana, que não é necessariamente injusta e corruptível, Aquino defende que o homem de fé e virtude pode confeccionar leis racionais que auxiliarão no bem comum. Sendo assim as Leis Eternas e Divinas, não compreensíveis pela razão humana, são reveladas e conhecidas através da graça divina, a Lei Natural criada por Deus, mas passível da descoberta do homem pela razão dada também por Deus e A Lei dos Homens, que antes considerada como injusta por Agostinho, agora não necessariamente são injustas, podendo o homem se orientar do conhecimento da Lei Natural (Razão) e da Lei Divina (Revelação Sobrenatural de Deus) Tratando-se da justiça é considerado por Aquino o bem do outro, o direito natural de Aquino é aristotélico por se tratar de uma doutrina jurídica de ação justa conforme a lei natural, aquilo que o homem em sua razão entende que seja justo para com outrem. A justiça para Aquino é o que por natureza (pela razão) é ajustado ou proporcional a outrem, sendo distributiva (distribuindo recursos de forma justa) e retributiva (punindo de forma justa, proporcionalmente ao que tenha causado), sendo dado a cada um o que lhe é devido, de acordo com um senso de igualdade em razão do que é entendido como “justo” pela lei natural, onde é construída a virtude do homem com base nas leis eternas e divinas. Eu compreendo que é de extrema importância que a religião não censure a razão do homem, no sentido de que o condene antes de seus atos. Acho interessante Aquino concordar com a ideia de pecado original, não o tomando como uma condenação fatal “nasceu pecador, morre pecador”, e sim como uma comorbidade que pode ser sanada a partir da embriaguez da fé, da virtude e da boa razão a partir do ideal de bem comum que também é a base para as leis mundanas, não sendo negociável a partir do seu ponto de vista, generalizando-as, onde todas as leis hão de ser pensadas visando o Bem Comum, o que também dá autonomia ao homem em relação ao julgamento dos seus semelhantes, outros homens, quando declara que a justiça é ajustada ou proporcional a outrem, sendo dado a cada um o que lhe é devido.