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ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

VINICIUS VIDON CARNEIRO DA ROCHA

PROJETO SOLDADO CIDADÃO: UMA PROPOSTA DE OTIMIZAÇÃO DO


PROJETO.

São Paulo - 2021


ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

VINICIUS VIDON CARNEIRO DA ROCHA

PROJETO SOLDADO CIDADÃO: UMA PROPOSTA DE OTIMIZAÇÃO DO PROJETO.

Estudo de casdo apresentado à Escola


de Administração de Empresas de São
Paulo da Fundação Getúlio Vargas,
como requisito para aobtenção do título
de Mestre em Gestão e Políticas
Públicas.
Linha de pesquisa: Administração Pública.

Orientador:

Prof. Dr. Ricardo Corrêa Gomes


ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

VINICIUS VIDON CARNEIRO DA ROCHA

PROJETO SOLDADO CIDADÃO: UMA PROPOSTA DE OTIMIZAÇÃO DO PROJETO.

Trabalho de Conclusão apresentado à


Escola de Administração de Empresas
de São Paulo da Fundação Getúlio
Vargas, como requisito para aobtenção
do título de Mestre em Gestão e
Políticas Públicas.
Linha de pesquisa: Administração Pública.

Data da Aprovação
16/11/2021

Orientador:

Prof. Dr. Ricardo Corrêa Gomes


FGV/EAESP

Avaliadores:
Prof. Dra. Lia de Azevedo Almeida
UFT

Prof. Dr. Welles Matias de Abreu


UNB
RESUMO

O artigo analisa a participação do Exército Brasileiro nas políticas públicas de educação


profissional no Brasil através do projeto Soldado Cidadão que tem como finalidade a formação
profissional de cabos e soldados que se despedem do serviço ativo a fim de viabilizar a entrada
desses cidadãos no mercado de trabalho. Este estudo pretende contribuir com o aprimoramento
do projeto diagnosticando pontos a serem repensados visando ampliar seu alcance nas regiões
brasileiras socioeconômicas mais vulneráveis. Esse assunto reveste-se de grande importância
uma vez que as políticas públicas voltadas para a educação, sobretudo a profissionalizante,
carecem de aprimoramento e redirecionamentos a nível nacional com o propósito de torná-las
eficazes e eficientes. Este trabalho viabilizou-se através do estudo de caso com pesquisa
quantitativa através da análise do PIB das regiões do país e de indicadores de desempenho do
projeto fornecidos pelo Ministério da Defesa, entre os anos de 2014 e 2020 e indicadores do
ensino profissionalizante fornecidos pela Plataforma Nilo Peçanha, do Governo Federal. Como
resultado, o estudo revela que a política de distribuição de recursos necessita ser alterada em
nível estratégico ponto focal para sua otimização.

Palavras-chave: Políticas Públicas de Educação, Ministério da Defesa, Exército Brasileiro,


Projeto Soldado Cidadão.
ABSTRACT

This papers analyzes the role of the Brazilian Army in public professional education policies
in Brazil through the Citizen Soldier project, which aims to provide professional training for
corporals and soldiers that are leaving active service in order to enable them entering into labor
market. This study intends to contribute to the improvement of the project by diagnosing
opportunities for improvement in the allocation of resources in Brazilian regions, aiming to
optimize the project in the most socioeconomically vulnerable places, points to be rethought
in order to expand it into the most vulnerable socioeconomic regions of Brazil. This is a matter
of great importance since public politics based on education, especially professional, urges for
improvements and reallocation at a nacional wide scope to make them more effective and
efficient.
This paper was possible thanks to a study of case based on quantitative research through GDP
analysis over country's regions, performance indicators of the project provided by Defense
Ministry, throughout the period between 2014 and 2020, and professional teaching data
obtained through Nilo Peçanha plataform - National Goverment.
As a result, the study reveals that the Soldado Cidadão project needs to increase the amount of
resources destined to fund it in Brazil's Northeast region, either by expanding the available
budget or by transferring part of the resources destined for the South region to the Northeast.
The project meets the demand for professional education proposed for insertion of young
people, leaving the military service, in all regions of the country, however it was verified the
need of altering the resource's distribuction policy, on strategic level, destinated to finance
the project as the focal point for its optimization.

Keywords: Public Education Policies, Ministry of Defense, Brazilian Army, Citizen Soldier
Project
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 7
2.REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................... 8
2.1 Políticas Públicas ........................................................................................................ 8
2.2 Políticas Públicas Educacionais no Brasil ................................................................ 11
2.3 O Projeto Soldado Cidadão ...................................................................................... 14
3. METODOLOGIA ....................................................................................................... 17
4. ESTUDO DE CASO .................................................................................................. 18
5 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 23
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 25
1 INTRODUÇÃO

O Brasil tem apresentado, nos últimos anos, grandes deficiências no


desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a educação, sobretudo na educação
profissionalizante, ou seja, aquela que visa formar e certificar jovens e adultos para
funções e cargos demandados pelo mercado de trabalho. Segundo Saviani (2010), as
políticas públicas voltadas para a educação profissional, também denominada educação
tecnicista, foram foco dos governos militares das décadas de 60 a 80 graças ao modelo
econômico desenvolvimentista adotado no Brasil.
Com a redemocratização em 1985, a economia brasileira passa a ser reestruturada
através da abertura do capital internacional e a quebra do protecionismo econômico
brasileiro, por pressões internacionais como da Organização Mundial do Comércio que,
segundo Borges (2009), concebem a educação como uma mercadoria. No Brasil, grupos
com capital internacional e nacional passaram a atuar no setor educacional promovendo
sua expansão através da democratização e a universalização dos cursos superiores
adotando da acessibilidade pelo baixo custo. Inicia-se, no período, intensa competição no
mercado de ensino superior entre entidades privadas que, segundo Durham (2003),
promoveu as transformações do sistema de financiamento no ensino ampliando o acesso
à universidade. O INEP (2001) aponta que no início do ano 2000, o setor privado
representava 76% do número de instituições de ensino superior no Brasil sendo
responsável por 65% das matrículas da educação superior.
Na sociedade brasileira, o imaginário da necessidade do diploma de nível superior
como pressuposto ao sucesso determina o desinteresse pela educação profissional, afinal,
segundo Rodrigues (2016), nas classes baixas e altas passou a existir a primazia do
“diploma” de curso superior. No entanto, o mercado aberto, globalizado e competitivo
exige, também, mão de obra capaz de operar modernos equipamentos e produzir serviços
com qualidade elevada. Infelizmente estas operações e serviços não são realizados apenas
por profissionais oriundos do ensino superior visto que, na cadeia produtiva, existe a
necessária hierarquia de funções dotadas de especificidade na linha de produção.
Há, portanto, a necessidade da formação e capacitação de pessoas em cursos
profissionalizantes caracterizados por sua peculiaridade, prática e direcionados a
atividade – fim dos diversos setores da economia. Tal ideia é corroborada por Lourenço
(2015) que afirma que os cursos profissionalizantes buscam preencher a lacuna existente
entre a oferta e a procura por mão de obra qualificada, imperativa para impulsionar a

7
competição econômica em um ambiente em constantes evoluções. O Ministério da
Defesa, observando esta necessidade, lançou em 2004, o projeto Soldado Cidadão que
objetiva a formação profissional dos cabos e soldados que prestam o último ano de serviço
militar a fim de lhes proporcionar melhor inserção no mercado de trabalho, como forma
de colaborar, através de um direcionamento profissional, com o desenvolvimento
econômico local e regional .
Hoje, após 21 anos de sua criação, faz-se necessário a avaliação do projeto como
forma de colaborar para sua otimização nos diversos quartéis do território nacional onde
o projeto se desenvolve. Sendo assim, pergunta-se: como aperfeiçoar o projeto Soldado
Cidadão de forma a aprimorar sua eficácia?
O trabalho foi desenvolvido, inicialmente, através de uma revisão bibliográfica
em que o autor analisa a inserção do Projeto Cidadão nas políticas públicas e trabalhos
científicos sobre o tema. Posteriormente, são analisados os dados disponibilizados no
Portal da Transparência do Governo Federal, da Plataforma Nilo Peçanha e do Portal do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística que ofereceram informações pelas quais se
pode desenhar o status quo do Projeto Soldado Cidadão, ponto de partida para a análise
do projeto.

2.REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Políticas Públicas

O Estado democrático, com sua tripartição de poderes, busca o bem-estar de sua


população através do desenvolvimento de ações que gerem melhores condições de vida
ao cidadão. Tais ações são conhecidas como políticas públicas. Termo este que, nos
últimos anos, tem sido objeto de inúmeros estudos nos quais cientistas políticos,
sociólogos e administradores públicos tem se debruçado na busca da formulação de
conceitos, modelos e, sobretudo, na capacidade de entender as relações político-
administrativas que modelam um governo.
Segundo Secchi (2013, p. 16) política pública (public policy) “... é uma diretriz
elaborada para enfrentar um problema público. Por seu turno, Dye (1985), acredita que
política pública se resume no que o governo escolhe ou não fazer.

8
Uma análise mais profunda destas definições demonstra a correlação entre elas.
Tem-se, desta forma, um governo que busca uma ou mais soluções a fim de resolver os
problemas públicos e o faz por meio de escolhas. Segundo Souza (2007, p. 5) as escolhas
estão geralmente baseadas em interesses e preferências.
Mais o que seria um problema público? Qual a amplitude de um problema para este
se tornar público exigindo a ação de um governo? Segundo Secchi (2013), o problema
público é a diferença do status quo da situação vivida para a situação ideal possível. O
que o torna público é a subjetividade de escolha do ator político.
“[...] a objetivação do que seja um problema público, a quantidade e a
qualidade das pessoas que ensejam uma política pública também são
suscetíveis a interpretações. Um exemplo: a situação de desamparo de três mil
trabalhadores demitidos de uma empresa privada é geralmente interpretada
como problema público por algumas vertentes políticas, entretanto outras
consideram esse mesmo desamparo um problema particular de cada um dos
trabalhadores”. (SECCHI, 2013, p. 16).

A subjetividade na conceituação de problema público gera insegurança, incertezas


e dúvidas quando da formulação de uma política pública. No estado democrático de
direito, as divergências de opiniões imperam nas mais variadas camadas da sociedade e
conduzem, sobretudo no Brasil, a desconfianças baseadas no conflito de interesses das
classes ou partidos políticos com maiores poderes no governo.
Isso porque, os atores envolvidos na política pública não se resumem a agentes
públicos. Para Araújo e Gazzola (2017, p. 36), “[...] os atores das políticas públicas são
instituições públicas, empresas privadas, políticos, prefeituras, cooperativas, associações,
sindicatos e organizações sociais que assumem alguma ação integrante do programa”.
Esta diversidade de interesses gera o conflito entre estes atores.
Neste arranjo, Secchi (1993), de forma didática, divide as políticas públicas
praticadas segundo a área de intervenção do Estado: saúde, educação, segurança, gestão,
meio ambiente, saneamento, habitação, emprego e renda, previdência social e
planejamento urbano, justiça, economia, assistência social, relações internacionais,
cultura, ciência e tecnologia e infraestrutura. Esta divisão permite observar que as
políticas públicas se propõem a promover o que Maslow (1973) define como a hierarquia
das necessidades humanas primárias e secundárias convergindo para as demandas do
homem por necessidades fisiológicas, de segurança, sociais e de estima.
A forma didática da divisão das políticas públicas de Secchi (1993), permite ainda
a observância da prioridade de políticas adotada pelos governos. Este processo decorre
do fato de que a composição ministerial do executivo é organizada ou reorganizada

9
levando-se em conta a importância da política. Desta forma, a criação de um ministério
de segurança pública, por exemplo, revela a primazia desta questão dada por certo
governo.
A formulação destas políticas públicas inicia-se com a formação da agenda. Para
isso, o governo elenca, em nível estratégico, os problemas públicos que entende serem os
mais relevantes. Por outro turno, Kingdon (2003) aborda a agenda governamental como
sendo a gama de assuntos que o governo concentra suas atenções em um dado momento.
Para cada assunto, a equipe de governo, no mais alto escalão, elege uma série de soluções
formando uma agenda decisória. De acordo com Capella (2018, p.30):
Essas questões compõem a agenda decisória: um subconjunto da agenda
governamental que contempla questões que estão prontas para a tomada de
decisão pelos formuladores de políticas, ou seja, prestes a se tornarem políticas
públicas.

O governo, então, decide pela direção a ser tomada deliberando sobre as diretrizes
para a formulação e implementação da política pública. Inicia-se, então, o ciclo de gestão
de política pública que, neste estudo, será delimitada pelo ciclo PEAC (planejamento,
execução, avaliação e controle) criado por Walter Shewhart (1931). O Ciclo PEAC,
segundo Malmegrin (2014), busca ordenar a gestão através de um modelo explicativo,
ordenando as ações de maneira lógica à medida que acontecem. Portanto, o ciclo se inicia
com um planejamento que visa definir as orientações e as metas de ação. Em seguida,
inicia-se a fase de execução que busca a capacitação de pessoas ao desempenho de tarefas
que foram planejadas e a produção propriamente dita. Simultaneamente a produção, tem-
se a etapa de avaliação que compara o que foi planejado com o que foi realizado para que
na fase de controle o processo possa ser aprimorado. O ciclo PEAC compreende toda a
hierarquia estrutural do Estado. Tem-se, segundo Malmegrin (2014), a gestão estratégica
que, no nível mais elevado, responsável pela construção, formulação, avaliação e
correção de rumos da política.
No nível denominado tático ocorre a formulação dos planos diretores e plurianuais
e leis orçamentárias. Compreende o segundo nível hierárquico de governo, também
conhecido como segundo escalão. No último nível hierárquico estão os executores
operacionais da política. São eles que realizarão a gestão das ações, seu monitoramento e
o controle junto à população. Este nível é formado pelos cidadãos, servidores públicos ou
não, que fazem com que a política pública aconteça de fato. Estão em contato direto com
a população atendida e por isso os que sofrem maiores desgastes se ela não funcionar.

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O modelo de Gestão PEAC enseja que todo processo de gestão siga uma sequência
lógica e racional, composta pelo planejamento, execução, avaliação e controle. Dentre
estas etapas, Prittwitz (1994) destaca como imprescindíveis a avaliação e controle uma
vez que se traduzem em aprendizagem política. É pela avaliação que se tem a coleta de
indicadores de determinada política. Com estes dados, torna-se possível a verificação dos
níveis de eficiência, eficácia e efetividade da política pública, sendo possível a ratificação
ou retificação dos caminhos adotados pelas decisões tomadas no mais alto escalão.

2.2 Políticas Públicas Educacionais no Brasil


As políticas públicas educacionais são de fundamental importância para o
desenvolvimento das nações em virtude de sua influência direta na formação de jovens
que em breve período estarão à frente das decisões do país, através de sua inserção no
mercado de trabalho público ou privado.
Dentre os vários conceitos atribuídos as políticas públicas educacionais, Oliveira
(2010, p. 9) as determinam como políticas “[...] que regulam e orientam os sistemas de
ensino, instituindo a educação escolar”. Para tal, o governo brasileiro regula seu sistema
educacional pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9.394 de 1996 que, após
sua promulgação, passou por constantes atualizações caracterizando a constante
preocupação dos vários governos que se sucederam.
Saviani (2016, p.380) relata que “[...] a LDB foi modificada por trinta e nove leis
desde 1996[...]”, destacando-se a aprovação da Lei nº 11.741, de 16 de julho de 2008, que
produziu grande repercussão, pois buscou “[...] redimensionar, institucionalizar e integrar
as ações da educação profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos
e da educação profissional e tecnológica” (Brasil, 2008). Ampliou-se, neste cenário, a
abrangência da educação brasileira o que permitiu a inserção de inúmeros projetos nesta
área. A exemplo, tem-se o Programa Universidade para Todos (PROUNI), o Programa
de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) e
a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização
do Magistério (FUNDEB).
Em 2007, o Governo Lula, com a finalidade de impulsionar educação profissional
promoveu a formulação do Plano de Desenvolvimento da Educação, instituído pelo
Decreto 6.094/2007, criou cerca de cinquenta projetos distribuídos por todas as etapas e
modalidades de educação previstas em lei, com destaque a Educação Profissionalizante.
Segundo este diploma legal (BRASIL, 2007):

11
"[...] talvez seja na educação profissionais e tecnológicas que os vínculos entre
educação, território e desenvolvimento se tornem mais evidentes e os efeitos
de sua articulação, mais notáveis”.

A Educação Profissional passou a abranger a formação inicial, continuada, de


qualificação profissional, de formação técnico nível médio e a formação tecnológica de
graduação e de pós-graduação. Segundo a legislação da LDB (BRASIL, 2004),
“[...] a formação inicial de trabalhadores inclui a capacitação, o
aperfeiçoamento, a especialização e a atualização e são ofertados em
todos os níveis de escolaridade objetivando o desenvolvimento de
aptidões para a vida produtiva e social”.

A diferença de cursos técnicos para os cursos de formação inicial e continuada


encontra-se na carga horária. Os cursos técnicos são considerados de longa duração com
carga horária mínima de oitocentas horas, podendo ser cursado juntamente ou após a
conclusão do ensino médio. Estes cursos capacitam os alunos a uma habilitação técnica
nos mais variados setores produtivos.
Por seu turno, os cursos de formação inicial e continuada possuem carga horária
reduzida e certifica o aluno a exercer uma função específica no mercado de trabalho
focalizando o ensino para o desempenho de atividades estritamente técnicas, manuais em
que o profissional é destinado a ações não-gerenciais. Estes cursos são oferecidos pela
rede pública de Educação Profissional, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem (Sistema
“S”) e por instituições privadas de educação profissional e tecnológica. O Ministério da
Educação estipulou pela LDB a carga horária mínima de 160 horas para os cursos
profissionalizantes. Entretanto, o Decreto nº 8.268/2014 permite a proposição de cursos
em caráter experimentais tendo-se, desta forma, cursos com carga-horária menor.
A demanda pelo ensino profissional tem aumentado substancialmente no Brasil.
Segundo o Relatório Anual de Análise dos Indicadores de Gestão das Instituições
Federais de Educação Profissional, Científica e Tecnológica do ano de 2017, a relação de
inscritos para o concurso de admissão para um curso técnico que era de 2,85 alunos por
vaga em 2013 passou para 5,45 em 2017. O relatório aponta, ainda, que o índice de
desistência nestes cursos diminuiu passando em 2013 de 2,62% na relação entre
formados/matrículas para o índice de 19,04% em 2017.
Realizando a análise da plataforma Nilo Peçanha1, um ambiente virtual de coleta
de dados oficiais da Rede Federal de Educação Profissional da Secretaria de Educação
Profissional do Ministério da Educação, conclui-se que no ano de 2018 as Instituições

1
http://plataformanilopecanha.mec.gov.br/

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Federais de Ensino Profissional atenderam apenas 24% da demanda nacional por cursos
técnicos. Já em estudo realizados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Sistema
Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) em 2012 pode-se concluir que a demanda
por cursos de educação profissional aumentou cerca de 10% entre os anos de 2004 e 2010.
Segundo estes mesmos estudos, cerca de 60% dos alunos que concluíram o curso estava
trabalhando em área afim ao curso concluído. Esta ampliação justifica-se graças à
ampliação das oportunidades no mercado trabalho que, segundo o mesmo estudo, cresceu
cerca 30,7% para os possuidores de cursos profissionais
Mas qual o motivo levaria a esse aumento de demanda por profissionais técnicos?
A resposta está na necessidade de desenvolvimento econômico do país que, segundo
Colares e Vieira (2014), constitui-se no crescimento acompanhado pela melhoria das
condições de vida da população. A capacitação do trabalhador tornou-se fundamental
para o aprimoramento de suas atividades funcionais nos setores primários, secundários e
terciários da economia. Segundo Grabowski e Ribeiro (2010, p.277)
[...] a educação profissional tem servido para preparar mão de obra
(qualificação da força de trabalho) para as relações de produção
capitalistas vigentes no Brasil [...] e necessária para que “o trabalhador
fosse capaz de executar as funções que lhes são reservadas de forma
mecânica e tecnicista.

Barros e Mendonça (1997) estudaram os impactos da expansão da educação


brasileira para o desenvolvimento econômico. Concluíram que se a educação do Brasil
atingisse o patamar sul-coreano, o Brasil teria um crescimento da renda per capita e de
exportação, em média, de 15 a 30%. Os autores concluíram, ainda, que a eliminação do
atraso educacional do Brasil em relação à Coréia do Sul produziria uma redução do
crescimento populacional entre 10 e 15%. Mariano (2010), em estudo de variáveis
educacionais, percebeu que estas podem explicar, aproximadamente, 50% do Produto
Interno Bruto (PIB) per capita de um país.
No quesito desenvolvimento econômico, Silva e Colares (2014, p. 2) afirmam que
“[...] uma nação é competitiva quando sua população possui alto nível de capacitação”.
Em seu estudo sobre a importância da educação profissional no desenvolvimento
econômico, os autores demonstram que no cenário mundial a média de anos de estudo
por nível educacional é crescente nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. E
possível concluir que grande concorrência entre os mercados obriga um país buscar o
desenvolvimento econômico dentro de um ambiente de intensas inovações tecnológicas.

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2.3 O Projeto Soldado Cidadão
Em um país em que é crescente a demanda de profissionais qualificados para o
mercado de trabalho, o Projeto Soldado Cidadão (PSC) nasceu com a iniciativa do
Ministério da Defesa (MD) em 2004, quando se verificou a necessidade de
direcionamento profissional ao jovem por ocasião de seu desligamento das Forças
Armadas. Este projeto, segundo BRASIL (2005) destina-se a “[...] oferecer aos militares
a oportunidade de frequentar um curso profissionalizante, criando melhores condições de
competir no mercado de trabalho”. A descrição do projeto é oferecida pelo Plano de
Gestão do projeto Soldado Cidadão (2018, p.1)
...capacitação do jovem brasileiro incorporado às fileiras das Forças
Armadas, por intermédio de cursos profissionalizantes que lhes
proporcionem qualificação social e profissional, complete a formação
cívico-militar e facilitem seu ingresso no mercado de trabalho [...].

O projeto é regulado pelas Portarias Normativas do Ministério da Defesa nº


1.227 de 27 e nº 8 de 8 de março de 2018. Esta última incluiu o Projeto Soldado
Cidadão no preparo e mobilização de pessoal do Exército “[...] ao capacitar recursos
humanos para o exercício de funções em organizações militares [...]”. (BRASIL,
2018, p 3). Esta inclusão permitiu que as organizações militares pudessem conduzir
o Projeto de forma a atender suas necessidades operacionais uma vez que vários
cursos profissionais atendem ao interesse das Forças Armadas. Houve, dessa forma,
a convergência de interesses da formação de um profissional e a demanda por
qualificação dos quadros dos quartéis.
Para a definição dos cursos, o Plano de Gestão do Projeto Cidadão do
Exército Brasileiro elencou como balizadores de escolha aspectos econômicos
regionais agregando as necessidades dos quartéis.
“[...] o perfil socioeconômico do jovem bem como sua inclinação
pessoal, o perfil socioeconômico da região com base nas características
do mercado de trabalho e as especificidades das Organizações Militares
participantes”. (PLANO DE GESTÃO DO PROJETO SOLDADO
CIDADÃO, 2018, p.3).

O Plano de Gestão (2018, p.3) do projeto elegeu vários cursos de interesse nas
áreas profissionais de telecomunicações, automobilística, alimentação, construção civil,
artes gráficas, confecção, têxtil, informática, eletricidade, comércio, comunicações,
conservação e zeladoria, atividades rurais, saúde e lazer e desenvolvimento social.
No Exército Brasileiro, a gestão estratégica do projeto é realizada pelo Comando
de Operações Terrestres (COTER), sediado em Brasília – DF. Através de sua Assessoria
de Programas de Governo, o COTER participa de reuniões junto ao Ministério da Defesa

14
captando suas diretrizes, no mais alto nível (estratégico), para que possa articular e
realizar as gestões junto aos seus oito Comandos Militares de Área dando-lhes as diretivas
relativas ao projeto.
O Plano de Gestão do Projeto Soldado Cidadão é elaborado anualmente pelo
COTER. Este Plano define o comitê gestor no qual o presidente é um General de Exército,
oficial de último posto da carreira, o que denota a importância do projeto. Ainda,
determina a realização de visitas de supervisão e acompanhamento das atividades
desenvolvida, visitas controle e avaliação (VAO) nas quais as Organizações Militares
participantes do projeto são submetidas.
A Portaria nº8/MD, assinada pelo Ministro de Estado da Defesa em 2018,
modificou a composição do Comitê Gestor do Projeto com a inserção de três
representantes da Chefia de Logística e Mobilização do Ministério da Defesa. Essa
modificação permitiu o alinhamento das demandas da mobilização para o caso de guerra
através da designação dos cursos de interesse das Forças. É importante destacar que o
Plano de Gestão do Projeto Soldado Cidadão (2018, p. 3) manteve como principal
orientação o acesso do jovem ao mercado de trabalho, convergindo, entretanto, para as
necessidades das Forças Armadas em caso de guerra. Ainda, a referida portaria determina
a obrigatoriedade de cadastramento dos militares concludentes do projeto nas agências
vinculadas ao Sistema Nacional de Emprego (SINE) o que facilita o acesso dos militares
ao mercado de trabalho após seu serviço militar obrigatório.
No nível tático de gestão do Projeto Soldado Cidadão, o Exército Brasileiro conta
com os Comandos Militares de Área dentre os quais estão o Comando Militar da
Amazônia (CMA), Comando Militar do Norte (CMN), Comando Militar do Nordeste
(CMNE), Comando Militar do Oeste (CMO), Comando Militar do Planalto (CMP),
Comando Militar do Leste (CML), Comando Militar do Sudeste (CMSE) e Comando
Militar do Sul (CMS).
Todos estes Comandos possuem em sua estrutura, um coordenador de área que
realiza a gestão do projeto no território compreendido pelo seu Comando. Este
coordenador gerencia a distribuição de recursos, coordena as atividades dos gerentes do
projeto nos quartéis e realiza, também, visitas técnicas de orientação.
No nível operacional, o projeto é executado nas unidades militares participantes.
Uma unidade militar compreende uma organização administrativa e/ou operacional
formada por um efetivo variado de militares e sob um comando único. Nelas são
escalados oficiais gestores responsáveis por verificar o desempenho individual, a

15
assiduidade dos soldados nas aulas, a resolução de problemas disciplinares e de toda a
documentação do projeto necessária para a prestação de contas e dados para a
transparência pública que, periodicamente, deve ser remetida ao escalão superior. Estes
oficiais, ainda, contribuem para o estreitamento laços junto às entidades provedoras dos
cursos ampliando, assim, a inserção do Exército Brasileiro junto à sociedade civil.
A rotina dos militares participantes do projeto é bastante simples. Nos dias de
aulas os militares se deslocam para as escolas ou centros de formação e cumprem seu
expediente na instituição de ensino assistindo as aulas teóricas e prática. Existem casos
em que os cursos são ministrados nos próprios quartéis que fornecem a infraestrutura com
salas de aulas, refeitório e banheiros para a realização dos cursos.
O número de quartéis participantes do projeto varia de acordo com a
disponibilidade de recursos. Entretanto, é certo afirmar que todas as regiões do país são
contempladas com o projeto uma vez que o Exército Brasileiro é sinônimo de presença
nacional nos mais longínquos rincões da nação.
O alcance nacional do projeto alinhado às demandas socioeconômicas locais é
uma premissa estabelecida pelo Comitê Gestor visando à integração laboral do cidadão
junto a seu município evitando os movimentos migratórios. Em seus estudos, Honorato
(2012, p. 127) captou muito bem esta intenção concluindo que a “[...] preocupação com
a formação da especialidade local, principalmente para manter o futuro jovem trabalhador
em seu local de origem, diminuindo a imigração para centros maiores em busca de
oportunidades de emprego. [...]”
Rocha (2007), em estudo sobre o projeto, elenca como aspectos positivos do
programa o aumento da autoestima dos participantes, o fortalecimento da imagem das
Forças Armadas e a oportunidade de conciliar o projeto com os objetivos de
desmobilização dos militares. O autor ainda relata que, para maior efetividade do projeto,
seria necessária que os quartéis que possuam capacidade de formação profissional técnica
fossem creditados junto ao Ministério da Educação, tornando-se, assim, um centro de
formação homologado e habilitado a emissão de certificados. Com isso, o projeto seria
potencializado sem custos adicionais para a União.
Esta ação é possível uma vez que o Exército possui uma série de quartéis
vocacionados a atividades logísticas e de manutenção nos quais os oficiais e sargentos,
tecnicamente habilitados, poderiam ministrar determinados cursos do projeto. Bastaria
para isso, adaptações e a congruência das atividades segundo o estabelecido por lei pelo
Ministério da Educação. Com isso, os Arsenais de Guerra, os Batalhões Logísticos e os

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Parques de Manutenção poderiam se tornar quarteis-escolas com formação técnica-
profissional nas áreas de manutenção de viaturas, tornearia mecânicos, técnicos em
logística dentre outros.
Além dos profissionais, os quartéis contam com o ambiente necessário ao
desenvolvimento de atividades de ensino com a infraestrutura necessária a determinados
cursos. Como exemplo pode-se citar a existência de oficinas mecânicas com viaturas que
demandam manutenção nas quais os alunos poderiam praticar os ensinamentos teóricos
colhidos em sala de aula. Mesmo com essas oportunidades de melhorias, segundo o
Exército Brasileiro (2018), desde 2004 já se formaram 195 mil jovens no projeto, o que
demonstra a importância de suas ações para a formação do jovem brasileiro no contexto
de demanda por ensino profissional.

3. METODOLOGIA
Este estudo tem por objetivo realizar uma análise do Projeto Soldado Cidadão, entre
anos de 2014 e 2020, com a finalidade de buscar sua otimização como forma de ampliar sua
eficácia nas regiões geopolíticas brasileiras.
A estratégia da pesquisa foi desenvolvida pela ótica do Estudo de Caso do projeto
Soldado Cidadão. Para a análise, optou-se pela subdivisão geográfica do Brasil como
ferramenta de comparação do desenvolvimento do projeto nas cinco regiões socioeconômicas
brasileiras.
Posteriormente, buscou-se o diagnóstico do nível de desenvolvimento econômicos das
regiões utilizando-se o pressuposto que as áreas com menor desenvolvimento econômicos são,
necessariamente, as que mais demandam por investimentos em projetos. Para isso, foram
coletados os indicadores “Participação das regiões socioeconômicas no PIB brasileiro” entre
2014 e 2017 e o indicador “PIB sob ótica da renda” entre 2014 e 2020 no sítio eletrônico do
IBGE.
Diagnosticadas as regiões com menor PIB, passou-se a analisar o valor dos recursos
destinados ao financiamento do projeto através de dados obtidos no Portal da Transparência do
Governo Federal. Com os dados do PIB e a monta de distribuição de recursos foi possível
estabelecer a correlação entre estes indicadores viabilizando a hipótese que o Exército distribui
maiores montas de recursos às regiões com menores PIB, excetuando-se a região Nordeste e
Sul.
Para aprofundamento da análise, passou-se ao estudo da distribuição territorial dos
militares do Exército no Brasil e o percentual de militares formados no projeto visando

17
compreender se o Exército distribui maiores montas de recursos para regiões que possui
maiores efetivos. Esta nova hipótese foi confirmada excetuando-se, novamente, a região
Nordeste.
Ainda, foram examinadas a relação entre o número de matrículas de Cursos de
Formação Inicial (FIC) e o número de formados no projeto Soldado Cidadão visando
compreender se as regiões com maiores demandas por formação profissional foram as mais
atendidas pelo projeto. Esta hipótese foi confirmada e mais uma vez a região Nordeste destacou-
se como exceção.
As três hipóteses confirmadas pelo estudo levaram a análise do custo hora/aula do
projeto nas regiões como tentativa de se compreender o motivo pelo qual a região Nordeste não
atendeu a lógica das outras regiões ficando evidente o alto custo do projeto naquela.
Por fim, com base na confirmação das hipóteses elencadas, pode-se identificar os
pressupostos levados em consideração pelo Exército para efetuar a distribuição de recursos para
o projeto nas regiões socioeconômicas brasileiras e diagnosticar a necessidade de se ampliar
tais investimentos na região Nordeste como forma de trazer mais eficácia ao projeto naquela
região.

4. ESTUDO DE CASO

O projeto Soldado Cidadão no Exército Brasileiro consumiu de 2014 a 2020, o


montante de R$ 28.612.694,47. Este recurso foi descentralizado pelo Governo Federal ao
Exército Brasileiro que, através do Comando de Operações Terrestres, os descentralizou
aos Comandos Militares de Área a fim de promover o projeto em todos os rincões do
território nacional.
Pela representatividade do valor apresentado, e levando-se em consideração outros
projetos desenvolvidos pelo Exército Brasileiro, optou-se por um estudo pormenorizado
da distribuição regional dos recursos do projeto, o efetivo de profissionais formados, as
demandas regionais por cursos profissionalizantes, sendo controlado pelo Produto Interno
Bruto das cinco regiões. Este último, entendido neste estudo como dado representativo
do desenvolvimento subnacional.
A relação entre o Projeto Soldado Cidadão e o desenvolvimento subnacional é
demonstrada por Deitos e Lara (2016). Em seu estudo, os autores destacam a relação
direta entre educação profissional e a ampliação da renda per capita dos cidadãos e, por

18
consequência, do desenvolvimento econômico. O desenvolvimento econômico elencado
pelos autores é entendido neste trabalho pelo Produto Interno Bruto (PIB) considerado
por Heilbroner e Thurow (2001) como indicador da relação do emprego/produção.
Assim, através dos dados colhidos no portal eletrônico do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística pode-se verificar o desequilíbrio do PIB das sub-regiões
socioeconômicas brasileiras que se apresentaram estáveis entre 2014 e 2017.

Gráfico 1: Participação das regiões socioeconômicas no PIB brasileiro


60
Porcentagem de
participação

40 2014
(%)

20 2015
2016
0
Norte Nordeste Sul Sudeste Centro - oeste 2017
Regiões

Fonte: sítio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Pelo gráfico é possível observar que a região Sudeste participa de 54% do PIB
brasileiro, que, por meio deste indicador, é considerada a região mais desenvolvida do
Brasil. Em contrapartida, a região norte encontra-se bastante defasada em termos de
desenvolvimento econômico representando apenas 5% do PIB nacional. Esta região é
seguida pelas regiões centro-oeste, com apenas 10% de participação, e Nordeste,
representando 14% do PIB do Brasil. Mesmo ampliando o período temporal e alterando
a análise para o PIB com ótica na renda, o cenário supracitado não se altera demonstrando
que as sub-regiões têm mantido seu desenvolvimento econômico estagnado.

Gráfico 2: Média do PIB sob ótica da renda – 2014 - 2020


R$ 4.000.000,00
R$ 3.390.024,37
R$ 3.500.000,00
Valores em Reais

R$ 3.000.000,00
R$ 2.500.000,00
R$ 2.000.000,00
R$ 1.500.000,00 R$ 1.068.287,20
R$ 902.059,30
R$ 1.000.000,00 R$ 622.054,85
R$ 344.311,83
R$ 500.000,00
R$ 0,00
Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul
Regiões

Fonte: IBGE

19
A simples análise do PIB das regiões sub-regionais do Brasil direcionaria a dedução
que as regiões com menor PIB necessitariam de maiores investimentos em projetos de
todas as áreas das políticas públicas, incluindo a educação profissionalizante
caracterizada neste trabalho pelo Projeto Soldado Cidadão. Esta constatação leva à análise
de necessidade de investimento deste projeto nas sub-regiões conforme gráfico abaixo.

Gráfico 3: Valor investido pelo Exército Brasileiro no projeto – 2014 - 2020


R$ 10.000.000,00
R$ 7.699.178,86
Valores em Reais

R$ 8.000.000,00 R$ 7.170.536,49 R$ 7.312.954,85

R$ 6.000.000,00 R$ 4.702.129,91
R$ 4.000.000,00 R$ 2.887.731,90
R$ 2.000.000,00
R$ 0,00
Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul
Regiões

Fonte: Portal da Transparência do Governo Federal

Observa-se que, os maiores montantes de recursos do projeto são distribuídos pelo


Exército nas regiões Centro-Oeste, Sul e Norte confirmando a premissa de maiores
investimentos do projeto para as regiões com menor PIB para as sub-regiões Norte e
Centro-Oeste. A mesma premissa não foi confirmada na região Sul uma vez que esta área
possui o 2º maior PIB e o segundo maior investimento no projeto.
Realizando-se a correlação estatística entre investimento no projeto e PIB das sub-
regiões nacionais chegou-se a uma correlação forte e negativa de 0,84 demonstrando que
quanto menor o PIB maiores são os investimentos realizados pelo Exército exceção feita
às regiões Sul e Nordeste. Desta forma, pode-se concluir parcialmente que sob a ótica da
relação PIB e investimentos no projeto Soldado-Cidadão a otimização do projeto estaria
calcada na redistribuição dos recursos investidos no projeto na região Sul para a região
Nordeste uma vez que esta área maior demanda por desenvolvimento que é diretamente
proporcional a inserção de pessoas no mercado de trabalho.
Passando a análise da distribuição territorial do Exército Brasileiro no país,
observa-se que o percentual de jovens formados pelo projeto Soldado Cidadão é maior
nas sub-regiões com maiores efetivos militares o que sugere uma distribuição de recursos
vinculado ao efetivo militar existente. Novamente, a região Nordeste apresentou um
movimento inverso às outras regiões sendo a única a formar militares no projeto em

20
proporção menor ao efetivo existente naquela região. Movimento similar ocorre na região
Sudeste. Entretanto, este trabalho não levará em consideração esta região visto que o
projeto, nesta área, ocorre através de um sistema de parceria entre o Comando Militar e o
Sistema “S” em que a maior parte dos cursos não gera custos para essa Força Armada.

Gráfico 4: Relação entre formados no projeto e distribuição de efetivo


35% 32%
29,39%
30% 28%
25,75% 25%
25%
percentual médio de
20% 18,08% formados no projeto de 2014
%

14,71% a 2017
15% 12,06%
percentual de distribuição de
9%
10% cabos e soldados por regiões
7%
de 2014 a 2017
5%

0%
Norte Nordeste Sul Sudeste Centro -
oeste

Fonte: sítio Dados Abertos do Ministério da Defesa

Como nova conclusão parcial, pode-se afirmar que, quando analisada a relação
entre a distribuição territorial do Exército e o percentual de formados no projeto, as
regiões Norte e Sul foram as que obtiveram os melhores resultados, de 2014 a 2017. O
projeto logrou formar cerca de 60% do efetivo total do projeto e compondo 38% da
distribuição territorial dos militares no país o que promove nova tese que os maiores
investimentos do projeto (vide Gráfico 3) foram destinados para as áreas de maior
presença militar, excluídas a região Nordeste do país.
Outro dado que contribui para a análise do Projeto Soldado Cidadão é a relação
entre o número de matrículas em Cursos de Formação Continuada (ou formação
profissionalizante) fornecido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (INEP) e o número de militares formados pelo projeto como se observa
no gráfico abaixo.

Gráfico 5: Percentual de matrículas em FIC por região em 2018 e percentual


médio de formados no projeto Soldado Cidadão entre 2014 e 2017

21
40,00%
30,00%
percentual de matrículas em
20,00%
%
cursos profissionalizantes em
10,00% 2018 por região
0,00% percentual médio de
formados no projeto de 2014
a 2017

Fonte: sítio Dados Abertos do Ministério da Defesa e INEP

A região nordeste foi o local onde mais ocorreram matrículas atingindo o patamar
de 34% demonstrando a demanda pelo ensino profissionalizante na região. Em proporção
equilibrada, têm-se as regiões Sul e Sudeste, com cerca de 25% das matrículas em cada
uma delas, certificando a existência de um equilíbrio de demanda profissional nas duas
regiões. A região Norte possui cerca de 13% de matrículas, caracterizando que, apesar de
ser uma área afastada dos grandes centros industriais, a busca por cursos de FIC é alta.
Quando comparados as porcentagens de matrículas e a proporção de formados no
projeto, apenas as regiões Nordeste e Sudeste apresentaram, novamente, movimentos
inversos aos apresentas pelas demais regiões podendo-se concluir que a região Nordeste
demanda pela expansão do Projeto Soldado Cidadão. Novamente, a região Sudeste foi
excluída desta análise tendo em vista que a parceria entre o Comando Militar do Sudeste
e o Sistema “S” promoveram o oferecimento de grande parte dos cursos de forma gratuita.
Este curso gratuito neste estudo promoveria divergências estatísticas.
Passando a análise dos custos de hora/aula do projeto Soldado Cidadão fica
evidente que a região Nordeste é o local que, em média, este custo é mais elevado.
Enquanto as demais regiões apresentaram entre 2014 e 2020, em média, um custo de R$
4,15 para uma hora de aula, a região Nordeste destacou-se com o valor de R$ 8,27. Este
fato enseja a necessidade de maiores investimentos no projeto naquele local e deve ser
levado em consideração pelo gestor de nível estratégico a fim de produzir maior alcance
na formação de jovens na região.

Gráfico 6: Valor médio de hora/aula entre 2014 e 2020 – Projeto Soldado Cidadão

22
9,00
8,00
7,00
6,00
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul

Fonte: sítio Dados Abertos do Ministério da Defesa

Outro ponto a ser destacado refere-se ao total de militares formados projeto no


período em questão. A região Nordeste foi a que menos formou militares em cursos
profissionalizantes seguido pela região Sudeste. Mais uma vez verifica-se como uma
oportunidade de melhoria a expansão do projeto na região Nordeste.

Gráfico 6: Número de formados no projeto entre 2014 e 2020 – Projeto Soldado Cidadão
15000

10000

5000

0
Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul

Fonte: sítio Dados Abertos do Ministério da Defesa

5 CONCLUSÃO

O presente estudo analisou o projeto Soldado Cidadão, do Exército Brasileiro,


entre os anos de 2014 e 2020, visando sugerir oportunidades de melhorias em busca da
otimização do projeto. A análise dos indicadores econômicos das sub-regiões
socioeconômicas do Brasil, aliados aos dados de transparência pública fornecidos pelo
Exército Brasileiro e aos índices da educação profissional brasileiros da Plataforma Nilo
Peçanha, no período em questão, demonstram que o investimento para o projeto segue

23
uma lógica que prioriza maiores montas financeiras as regiões com menores PIB e com a
existência de maiores efetivos militares com exceção feita à região Nordeste.
A região Nordeste apresentou-se neste trabalho como a subárea nacional que mais
demandou matrículas em cursos profissionalizantes. Além disto, esta região foi a que
menos recebeu recursos financiadores do projeto quando levado em consideração que a
região Sudeste é caso atípico na análise tendo em vista sua parceria com o Sistema “S”.
Este quadro levou a região Nordeste a formar menos militares no projeto sendo a única
região a ter um percentual menor de formados na comparação com o efetivo existente
naquela área.
Diante este cenário, o presente trabalho sugere uma redistribuição de recursos, a
nível estratégico, caso não seja possível a ampliação orçamentária do financiamento do
projeto. Esta redistribuição seria realizada passando parte do financiamento da região Sul
para a região Nordeste como forma de suprimir a demanda existente nesta última.
Com a redistribuição supracitada, o Exército Brasileiro alteraria sua política de
investimentos no projeto que atualmente se baseia na distribuição territorial de seu efetivo
reorganizando-a de acordo com a demanda das regiões. Ainda, a transferência de
investimentos da região Sul para o Nordeste promoveria a ampliação de matrículas nesta
última tendo em vista o alto custo da hora/aula nesta região.
Isto posto, este artigo conclui que há necessidade de o Exército Brasileiro ampliar
a monta de investimentos do projeto Soldado Cidadão na região Nordeste do país a fim
de otimizar o projeto naquela importante área subnacional.

24
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