Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Orientador:
Data da Aprovação
16/11/2021
Orientador:
Avaliadores:
Prof. Dra. Lia de Azevedo Almeida
UFT
This papers analyzes the role of the Brazilian Army in public professional education policies
in Brazil through the Citizen Soldier project, which aims to provide professional training for
corporals and soldiers that are leaving active service in order to enable them entering into labor
market. This study intends to contribute to the improvement of the project by diagnosing
opportunities for improvement in the allocation of resources in Brazilian regions, aiming to
optimize the project in the most socioeconomically vulnerable places, points to be rethought
in order to expand it into the most vulnerable socioeconomic regions of Brazil. This is a matter
of great importance since public politics based on education, especially professional, urges for
improvements and reallocation at a nacional wide scope to make them more effective and
efficient.
This paper was possible thanks to a study of case based on quantitative research through GDP
analysis over country's regions, performance indicators of the project provided by Defense
Ministry, throughout the period between 2014 and 2020, and professional teaching data
obtained through Nilo Peçanha plataform - National Goverment.
As a result, the study reveals that the Soldado Cidadão project needs to increase the amount of
resources destined to fund it in Brazil's Northeast region, either by expanding the available
budget or by transferring part of the resources destined for the South region to the Northeast.
The project meets the demand for professional education proposed for insertion of young
people, leaving the military service, in all regions of the country, however it was verified the
need of altering the resource's distribuction policy, on strategic level, destinated to finance
the project as the focal point for its optimization.
Keywords: Public Education Policies, Ministry of Defense, Brazilian Army, Citizen Soldier
Project
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 7
2.REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................... 8
2.1 Políticas Públicas ........................................................................................................ 8
2.2 Políticas Públicas Educacionais no Brasil ................................................................ 11
2.3 O Projeto Soldado Cidadão ...................................................................................... 14
3. METODOLOGIA ....................................................................................................... 17
4. ESTUDO DE CASO .................................................................................................. 18
5 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 23
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 25
1 INTRODUÇÃO
7
competição econômica em um ambiente em constantes evoluções. O Ministério da
Defesa, observando esta necessidade, lançou em 2004, o projeto Soldado Cidadão que
objetiva a formação profissional dos cabos e soldados que prestam o último ano de serviço
militar a fim de lhes proporcionar melhor inserção no mercado de trabalho, como forma
de colaborar, através de um direcionamento profissional, com o desenvolvimento
econômico local e regional .
Hoje, após 21 anos de sua criação, faz-se necessário a avaliação do projeto como
forma de colaborar para sua otimização nos diversos quartéis do território nacional onde
o projeto se desenvolve. Sendo assim, pergunta-se: como aperfeiçoar o projeto Soldado
Cidadão de forma a aprimorar sua eficácia?
O trabalho foi desenvolvido, inicialmente, através de uma revisão bibliográfica
em que o autor analisa a inserção do Projeto Cidadão nas políticas públicas e trabalhos
científicos sobre o tema. Posteriormente, são analisados os dados disponibilizados no
Portal da Transparência do Governo Federal, da Plataforma Nilo Peçanha e do Portal do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística que ofereceram informações pelas quais se
pode desenhar o status quo do Projeto Soldado Cidadão, ponto de partida para a análise
do projeto.
2.REVISÃO DE LITERATURA
8
Uma análise mais profunda destas definições demonstra a correlação entre elas.
Tem-se, desta forma, um governo que busca uma ou mais soluções a fim de resolver os
problemas públicos e o faz por meio de escolhas. Segundo Souza (2007, p. 5) as escolhas
estão geralmente baseadas em interesses e preferências.
Mais o que seria um problema público? Qual a amplitude de um problema para este
se tornar público exigindo a ação de um governo? Segundo Secchi (2013), o problema
público é a diferença do status quo da situação vivida para a situação ideal possível. O
que o torna público é a subjetividade de escolha do ator político.
“[...] a objetivação do que seja um problema público, a quantidade e a
qualidade das pessoas que ensejam uma política pública também são
suscetíveis a interpretações. Um exemplo: a situação de desamparo de três mil
trabalhadores demitidos de uma empresa privada é geralmente interpretada
como problema público por algumas vertentes políticas, entretanto outras
consideram esse mesmo desamparo um problema particular de cada um dos
trabalhadores”. (SECCHI, 2013, p. 16).
9
levando-se em conta a importância da política. Desta forma, a criação de um ministério
de segurança pública, por exemplo, revela a primazia desta questão dada por certo
governo.
A formulação destas políticas públicas inicia-se com a formação da agenda. Para
isso, o governo elenca, em nível estratégico, os problemas públicos que entende serem os
mais relevantes. Por outro turno, Kingdon (2003) aborda a agenda governamental como
sendo a gama de assuntos que o governo concentra suas atenções em um dado momento.
Para cada assunto, a equipe de governo, no mais alto escalão, elege uma série de soluções
formando uma agenda decisória. De acordo com Capella (2018, p.30):
Essas questões compõem a agenda decisória: um subconjunto da agenda
governamental que contempla questões que estão prontas para a tomada de
decisão pelos formuladores de políticas, ou seja, prestes a se tornarem políticas
públicas.
O governo, então, decide pela direção a ser tomada deliberando sobre as diretrizes
para a formulação e implementação da política pública. Inicia-se, então, o ciclo de gestão
de política pública que, neste estudo, será delimitada pelo ciclo PEAC (planejamento,
execução, avaliação e controle) criado por Walter Shewhart (1931). O Ciclo PEAC,
segundo Malmegrin (2014), busca ordenar a gestão através de um modelo explicativo,
ordenando as ações de maneira lógica à medida que acontecem. Portanto, o ciclo se inicia
com um planejamento que visa definir as orientações e as metas de ação. Em seguida,
inicia-se a fase de execução que busca a capacitação de pessoas ao desempenho de tarefas
que foram planejadas e a produção propriamente dita. Simultaneamente a produção, tem-
se a etapa de avaliação que compara o que foi planejado com o que foi realizado para que
na fase de controle o processo possa ser aprimorado. O ciclo PEAC compreende toda a
hierarquia estrutural do Estado. Tem-se, segundo Malmegrin (2014), a gestão estratégica
que, no nível mais elevado, responsável pela construção, formulação, avaliação e
correção de rumos da política.
No nível denominado tático ocorre a formulação dos planos diretores e plurianuais
e leis orçamentárias. Compreende o segundo nível hierárquico de governo, também
conhecido como segundo escalão. No último nível hierárquico estão os executores
operacionais da política. São eles que realizarão a gestão das ações, seu monitoramento e
o controle junto à população. Este nível é formado pelos cidadãos, servidores públicos ou
não, que fazem com que a política pública aconteça de fato. Estão em contato direto com
a população atendida e por isso os que sofrem maiores desgastes se ela não funcionar.
10
O modelo de Gestão PEAC enseja que todo processo de gestão siga uma sequência
lógica e racional, composta pelo planejamento, execução, avaliação e controle. Dentre
estas etapas, Prittwitz (1994) destaca como imprescindíveis a avaliação e controle uma
vez que se traduzem em aprendizagem política. É pela avaliação que se tem a coleta de
indicadores de determinada política. Com estes dados, torna-se possível a verificação dos
níveis de eficiência, eficácia e efetividade da política pública, sendo possível a ratificação
ou retificação dos caminhos adotados pelas decisões tomadas no mais alto escalão.
11
"[...] talvez seja na educação profissionais e tecnológicas que os vínculos entre
educação, território e desenvolvimento se tornem mais evidentes e os efeitos
de sua articulação, mais notáveis”.
1
http://plataformanilopecanha.mec.gov.br/
12
Federais de Ensino Profissional atenderam apenas 24% da demanda nacional por cursos
técnicos. Já em estudo realizados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Sistema
Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) em 2012 pode-se concluir que a demanda
por cursos de educação profissional aumentou cerca de 10% entre os anos de 2004 e 2010.
Segundo estes mesmos estudos, cerca de 60% dos alunos que concluíram o curso estava
trabalhando em área afim ao curso concluído. Esta ampliação justifica-se graças à
ampliação das oportunidades no mercado trabalho que, segundo o mesmo estudo, cresceu
cerca 30,7% para os possuidores de cursos profissionais
Mas qual o motivo levaria a esse aumento de demanda por profissionais técnicos?
A resposta está na necessidade de desenvolvimento econômico do país que, segundo
Colares e Vieira (2014), constitui-se no crescimento acompanhado pela melhoria das
condições de vida da população. A capacitação do trabalhador tornou-se fundamental
para o aprimoramento de suas atividades funcionais nos setores primários, secundários e
terciários da economia. Segundo Grabowski e Ribeiro (2010, p.277)
[...] a educação profissional tem servido para preparar mão de obra
(qualificação da força de trabalho) para as relações de produção
capitalistas vigentes no Brasil [...] e necessária para que “o trabalhador
fosse capaz de executar as funções que lhes são reservadas de forma
mecânica e tecnicista.
13
2.3 O Projeto Soldado Cidadão
Em um país em que é crescente a demanda de profissionais qualificados para o
mercado de trabalho, o Projeto Soldado Cidadão (PSC) nasceu com a iniciativa do
Ministério da Defesa (MD) em 2004, quando se verificou a necessidade de
direcionamento profissional ao jovem por ocasião de seu desligamento das Forças
Armadas. Este projeto, segundo BRASIL (2005) destina-se a “[...] oferecer aos militares
a oportunidade de frequentar um curso profissionalizante, criando melhores condições de
competir no mercado de trabalho”. A descrição do projeto é oferecida pelo Plano de
Gestão do projeto Soldado Cidadão (2018, p.1)
...capacitação do jovem brasileiro incorporado às fileiras das Forças
Armadas, por intermédio de cursos profissionalizantes que lhes
proporcionem qualificação social e profissional, complete a formação
cívico-militar e facilitem seu ingresso no mercado de trabalho [...].
O Plano de Gestão (2018, p.3) do projeto elegeu vários cursos de interesse nas
áreas profissionais de telecomunicações, automobilística, alimentação, construção civil,
artes gráficas, confecção, têxtil, informática, eletricidade, comércio, comunicações,
conservação e zeladoria, atividades rurais, saúde e lazer e desenvolvimento social.
No Exército Brasileiro, a gestão estratégica do projeto é realizada pelo Comando
de Operações Terrestres (COTER), sediado em Brasília – DF. Através de sua Assessoria
de Programas de Governo, o COTER participa de reuniões junto ao Ministério da Defesa
14
captando suas diretrizes, no mais alto nível (estratégico), para que possa articular e
realizar as gestões junto aos seus oito Comandos Militares de Área dando-lhes as diretivas
relativas ao projeto.
O Plano de Gestão do Projeto Soldado Cidadão é elaborado anualmente pelo
COTER. Este Plano define o comitê gestor no qual o presidente é um General de Exército,
oficial de último posto da carreira, o que denota a importância do projeto. Ainda,
determina a realização de visitas de supervisão e acompanhamento das atividades
desenvolvida, visitas controle e avaliação (VAO) nas quais as Organizações Militares
participantes do projeto são submetidas.
A Portaria nº8/MD, assinada pelo Ministro de Estado da Defesa em 2018,
modificou a composição do Comitê Gestor do Projeto com a inserção de três
representantes da Chefia de Logística e Mobilização do Ministério da Defesa. Essa
modificação permitiu o alinhamento das demandas da mobilização para o caso de guerra
através da designação dos cursos de interesse das Forças. É importante destacar que o
Plano de Gestão do Projeto Soldado Cidadão (2018, p. 3) manteve como principal
orientação o acesso do jovem ao mercado de trabalho, convergindo, entretanto, para as
necessidades das Forças Armadas em caso de guerra. Ainda, a referida portaria determina
a obrigatoriedade de cadastramento dos militares concludentes do projeto nas agências
vinculadas ao Sistema Nacional de Emprego (SINE) o que facilita o acesso dos militares
ao mercado de trabalho após seu serviço militar obrigatório.
No nível tático de gestão do Projeto Soldado Cidadão, o Exército Brasileiro conta
com os Comandos Militares de Área dentre os quais estão o Comando Militar da
Amazônia (CMA), Comando Militar do Norte (CMN), Comando Militar do Nordeste
(CMNE), Comando Militar do Oeste (CMO), Comando Militar do Planalto (CMP),
Comando Militar do Leste (CML), Comando Militar do Sudeste (CMSE) e Comando
Militar do Sul (CMS).
Todos estes Comandos possuem em sua estrutura, um coordenador de área que
realiza a gestão do projeto no território compreendido pelo seu Comando. Este
coordenador gerencia a distribuição de recursos, coordena as atividades dos gerentes do
projeto nos quartéis e realiza, também, visitas técnicas de orientação.
No nível operacional, o projeto é executado nas unidades militares participantes.
Uma unidade militar compreende uma organização administrativa e/ou operacional
formada por um efetivo variado de militares e sob um comando único. Nelas são
escalados oficiais gestores responsáveis por verificar o desempenho individual, a
15
assiduidade dos soldados nas aulas, a resolução de problemas disciplinares e de toda a
documentação do projeto necessária para a prestação de contas e dados para a
transparência pública que, periodicamente, deve ser remetida ao escalão superior. Estes
oficiais, ainda, contribuem para o estreitamento laços junto às entidades provedoras dos
cursos ampliando, assim, a inserção do Exército Brasileiro junto à sociedade civil.
A rotina dos militares participantes do projeto é bastante simples. Nos dias de
aulas os militares se deslocam para as escolas ou centros de formação e cumprem seu
expediente na instituição de ensino assistindo as aulas teóricas e prática. Existem casos
em que os cursos são ministrados nos próprios quartéis que fornecem a infraestrutura com
salas de aulas, refeitório e banheiros para a realização dos cursos.
O número de quartéis participantes do projeto varia de acordo com a
disponibilidade de recursos. Entretanto, é certo afirmar que todas as regiões do país são
contempladas com o projeto uma vez que o Exército Brasileiro é sinônimo de presença
nacional nos mais longínquos rincões da nação.
O alcance nacional do projeto alinhado às demandas socioeconômicas locais é
uma premissa estabelecida pelo Comitê Gestor visando à integração laboral do cidadão
junto a seu município evitando os movimentos migratórios. Em seus estudos, Honorato
(2012, p. 127) captou muito bem esta intenção concluindo que a “[...] preocupação com
a formação da especialidade local, principalmente para manter o futuro jovem trabalhador
em seu local de origem, diminuindo a imigração para centros maiores em busca de
oportunidades de emprego. [...]”
Rocha (2007), em estudo sobre o projeto, elenca como aspectos positivos do
programa o aumento da autoestima dos participantes, o fortalecimento da imagem das
Forças Armadas e a oportunidade de conciliar o projeto com os objetivos de
desmobilização dos militares. O autor ainda relata que, para maior efetividade do projeto,
seria necessária que os quartéis que possuam capacidade de formação profissional técnica
fossem creditados junto ao Ministério da Educação, tornando-se, assim, um centro de
formação homologado e habilitado a emissão de certificados. Com isso, o projeto seria
potencializado sem custos adicionais para a União.
Esta ação é possível uma vez que o Exército possui uma série de quartéis
vocacionados a atividades logísticas e de manutenção nos quais os oficiais e sargentos,
tecnicamente habilitados, poderiam ministrar determinados cursos do projeto. Bastaria
para isso, adaptações e a congruência das atividades segundo o estabelecido por lei pelo
Ministério da Educação. Com isso, os Arsenais de Guerra, os Batalhões Logísticos e os
16
Parques de Manutenção poderiam se tornar quarteis-escolas com formação técnica-
profissional nas áreas de manutenção de viaturas, tornearia mecânicos, técnicos em
logística dentre outros.
Além dos profissionais, os quartéis contam com o ambiente necessário ao
desenvolvimento de atividades de ensino com a infraestrutura necessária a determinados
cursos. Como exemplo pode-se citar a existência de oficinas mecânicas com viaturas que
demandam manutenção nas quais os alunos poderiam praticar os ensinamentos teóricos
colhidos em sala de aula. Mesmo com essas oportunidades de melhorias, segundo o
Exército Brasileiro (2018), desde 2004 já se formaram 195 mil jovens no projeto, o que
demonstra a importância de suas ações para a formação do jovem brasileiro no contexto
de demanda por ensino profissional.
3. METODOLOGIA
Este estudo tem por objetivo realizar uma análise do Projeto Soldado Cidadão, entre
anos de 2014 e 2020, com a finalidade de buscar sua otimização como forma de ampliar sua
eficácia nas regiões geopolíticas brasileiras.
A estratégia da pesquisa foi desenvolvida pela ótica do Estudo de Caso do projeto
Soldado Cidadão. Para a análise, optou-se pela subdivisão geográfica do Brasil como
ferramenta de comparação do desenvolvimento do projeto nas cinco regiões socioeconômicas
brasileiras.
Posteriormente, buscou-se o diagnóstico do nível de desenvolvimento econômicos das
regiões utilizando-se o pressuposto que as áreas com menor desenvolvimento econômicos são,
necessariamente, as que mais demandam por investimentos em projetos. Para isso, foram
coletados os indicadores “Participação das regiões socioeconômicas no PIB brasileiro” entre
2014 e 2017 e o indicador “PIB sob ótica da renda” entre 2014 e 2020 no sítio eletrônico do
IBGE.
Diagnosticadas as regiões com menor PIB, passou-se a analisar o valor dos recursos
destinados ao financiamento do projeto através de dados obtidos no Portal da Transparência do
Governo Federal. Com os dados do PIB e a monta de distribuição de recursos foi possível
estabelecer a correlação entre estes indicadores viabilizando a hipótese que o Exército distribui
maiores montas de recursos às regiões com menores PIB, excetuando-se a região Nordeste e
Sul.
Para aprofundamento da análise, passou-se ao estudo da distribuição territorial dos
militares do Exército no Brasil e o percentual de militares formados no projeto visando
17
compreender se o Exército distribui maiores montas de recursos para regiões que possui
maiores efetivos. Esta nova hipótese foi confirmada excetuando-se, novamente, a região
Nordeste.
Ainda, foram examinadas a relação entre o número de matrículas de Cursos de
Formação Inicial (FIC) e o número de formados no projeto Soldado Cidadão visando
compreender se as regiões com maiores demandas por formação profissional foram as mais
atendidas pelo projeto. Esta hipótese foi confirmada e mais uma vez a região Nordeste destacou-
se como exceção.
As três hipóteses confirmadas pelo estudo levaram a análise do custo hora/aula do
projeto nas regiões como tentativa de se compreender o motivo pelo qual a região Nordeste não
atendeu a lógica das outras regiões ficando evidente o alto custo do projeto naquela.
Por fim, com base na confirmação das hipóteses elencadas, pode-se identificar os
pressupostos levados em consideração pelo Exército para efetuar a distribuição de recursos para
o projeto nas regiões socioeconômicas brasileiras e diagnosticar a necessidade de se ampliar
tais investimentos na região Nordeste como forma de trazer mais eficácia ao projeto naquela
região.
4. ESTUDO DE CASO
18
consequência, do desenvolvimento econômico. O desenvolvimento econômico elencado
pelos autores é entendido neste trabalho pelo Produto Interno Bruto (PIB) considerado
por Heilbroner e Thurow (2001) como indicador da relação do emprego/produção.
Assim, através dos dados colhidos no portal eletrônico do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística pode-se verificar o desequilíbrio do PIB das sub-regiões
socioeconômicas brasileiras que se apresentaram estáveis entre 2014 e 2017.
40 2014
(%)
20 2015
2016
0
Norte Nordeste Sul Sudeste Centro - oeste 2017
Regiões
Pelo gráfico é possível observar que a região Sudeste participa de 54% do PIB
brasileiro, que, por meio deste indicador, é considerada a região mais desenvolvida do
Brasil. Em contrapartida, a região norte encontra-se bastante defasada em termos de
desenvolvimento econômico representando apenas 5% do PIB nacional. Esta região é
seguida pelas regiões centro-oeste, com apenas 10% de participação, e Nordeste,
representando 14% do PIB do Brasil. Mesmo ampliando o período temporal e alterando
a análise para o PIB com ótica na renda, o cenário supracitado não se altera demonstrando
que as sub-regiões têm mantido seu desenvolvimento econômico estagnado.
R$ 3.000.000,00
R$ 2.500.000,00
R$ 2.000.000,00
R$ 1.500.000,00 R$ 1.068.287,20
R$ 902.059,30
R$ 1.000.000,00 R$ 622.054,85
R$ 344.311,83
R$ 500.000,00
R$ 0,00
Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul
Regiões
Fonte: IBGE
19
A simples análise do PIB das regiões sub-regionais do Brasil direcionaria a dedução
que as regiões com menor PIB necessitariam de maiores investimentos em projetos de
todas as áreas das políticas públicas, incluindo a educação profissionalizante
caracterizada neste trabalho pelo Projeto Soldado Cidadão. Esta constatação leva à análise
de necessidade de investimento deste projeto nas sub-regiões conforme gráfico abaixo.
R$ 6.000.000,00 R$ 4.702.129,91
R$ 4.000.000,00 R$ 2.887.731,90
R$ 2.000.000,00
R$ 0,00
Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul
Regiões
20
proporção menor ao efetivo existente naquela região. Movimento similar ocorre na região
Sudeste. Entretanto, este trabalho não levará em consideração esta região visto que o
projeto, nesta área, ocorre através de um sistema de parceria entre o Comando Militar e o
Sistema “S” em que a maior parte dos cursos não gera custos para essa Força Armada.
14,71% a 2017
15% 12,06%
percentual de distribuição de
9%
10% cabos e soldados por regiões
7%
de 2014 a 2017
5%
0%
Norte Nordeste Sul Sudeste Centro -
oeste
Como nova conclusão parcial, pode-se afirmar que, quando analisada a relação
entre a distribuição territorial do Exército e o percentual de formados no projeto, as
regiões Norte e Sul foram as que obtiveram os melhores resultados, de 2014 a 2017. O
projeto logrou formar cerca de 60% do efetivo total do projeto e compondo 38% da
distribuição territorial dos militares no país o que promove nova tese que os maiores
investimentos do projeto (vide Gráfico 3) foram destinados para as áreas de maior
presença militar, excluídas a região Nordeste do país.
Outro dado que contribui para a análise do Projeto Soldado Cidadão é a relação
entre o número de matrículas em Cursos de Formação Continuada (ou formação
profissionalizante) fornecido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (INEP) e o número de militares formados pelo projeto como se observa
no gráfico abaixo.
21
40,00%
30,00%
percentual de matrículas em
20,00%
%
cursos profissionalizantes em
10,00% 2018 por região
0,00% percentual médio de
formados no projeto de 2014
a 2017
A região nordeste foi o local onde mais ocorreram matrículas atingindo o patamar
de 34% demonstrando a demanda pelo ensino profissionalizante na região. Em proporção
equilibrada, têm-se as regiões Sul e Sudeste, com cerca de 25% das matrículas em cada
uma delas, certificando a existência de um equilíbrio de demanda profissional nas duas
regiões. A região Norte possui cerca de 13% de matrículas, caracterizando que, apesar de
ser uma área afastada dos grandes centros industriais, a busca por cursos de FIC é alta.
Quando comparados as porcentagens de matrículas e a proporção de formados no
projeto, apenas as regiões Nordeste e Sudeste apresentaram, novamente, movimentos
inversos aos apresentas pelas demais regiões podendo-se concluir que a região Nordeste
demanda pela expansão do Projeto Soldado Cidadão. Novamente, a região Sudeste foi
excluída desta análise tendo em vista que a parceria entre o Comando Militar do Sudeste
e o Sistema “S” promoveram o oferecimento de grande parte dos cursos de forma gratuita.
Este curso gratuito neste estudo promoveria divergências estatísticas.
Passando a análise dos custos de hora/aula do projeto Soldado Cidadão fica
evidente que a região Nordeste é o local que, em média, este custo é mais elevado.
Enquanto as demais regiões apresentaram entre 2014 e 2020, em média, um custo de R$
4,15 para uma hora de aula, a região Nordeste destacou-se com o valor de R$ 8,27. Este
fato enseja a necessidade de maiores investimentos no projeto naquele local e deve ser
levado em consideração pelo gestor de nível estratégico a fim de produzir maior alcance
na formação de jovens na região.
Gráfico 6: Valor médio de hora/aula entre 2014 e 2020 – Projeto Soldado Cidadão
22
9,00
8,00
7,00
6,00
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul
Gráfico 6: Número de formados no projeto entre 2014 e 2020 – Projeto Soldado Cidadão
15000
10000
5000
0
Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul
5 CONCLUSÃO
23
uma lógica que prioriza maiores montas financeiras as regiões com menores PIB e com a
existência de maiores efetivos militares com exceção feita à região Nordeste.
A região Nordeste apresentou-se neste trabalho como a subárea nacional que mais
demandou matrículas em cursos profissionalizantes. Além disto, esta região foi a que
menos recebeu recursos financiadores do projeto quando levado em consideração que a
região Sudeste é caso atípico na análise tendo em vista sua parceria com o Sistema “S”.
Este quadro levou a região Nordeste a formar menos militares no projeto sendo a única
região a ter um percentual menor de formados na comparação com o efetivo existente
naquela área.
Diante este cenário, o presente trabalho sugere uma redistribuição de recursos, a
nível estratégico, caso não seja possível a ampliação orçamentária do financiamento do
projeto. Esta redistribuição seria realizada passando parte do financiamento da região Sul
para a região Nordeste como forma de suprimir a demanda existente nesta última.
Com a redistribuição supracitada, o Exército Brasileiro alteraria sua política de
investimentos no projeto que atualmente se baseia na distribuição territorial de seu efetivo
reorganizando-a de acordo com a demanda das regiões. Ainda, a transferência de
investimentos da região Sul para o Nordeste promoveria a ampliação de matrículas nesta
última tendo em vista o alto custo da hora/aula nesta região.
Isto posto, este artigo conclui que há necessidade de o Exército Brasileiro ampliar
a monta de investimentos do projeto Soldado Cidadão na região Nordeste do país a fim
de otimizar o projeto naquela importante área subnacional.
24
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, M.; GAZZOLA, R.; Políticas públicas Prestação de contas dos atores.
Revista de Política Agrícola. Brasília, n. 1, p 25-37, 2017.
25
HEILBRONER, R. L.; THUROW, L. Entenda a economia: tudo que você precisa
saber sobre como funciona e para onde vai à economia. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
KINDON, J.W. (2003) Agendas, Alternatives, and Public Policies. 2nd Edition,
Addison-Wesley Longman Inc., Boston.
MASLOW, A. H. The Farther reaches of human nature. 3. ed. New York, Viking
Press, 1973.
ROSSETTI, J. P.; Introdução à economia. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
26
SAVIANI, D. História das Ideias pedagógicas no Brasil. 3ª ed: Revista Conforme
Nova Ortografia. Campinas. Autores Associados, 2010.
SEN, Amartya. Desenvolvimento como Liberdade. São Paulo: Companhia das Letras,
2000.
SECCHI, L.; Política Pública: Conceitos, esquemas de análise, caos. Brasil. São Paulo:
Cengage Learning, 2013.
27