Você está na página 1de 30

ESTRATÉGIA

PARA ENSINO
LÚDICO

PROFESSOR (A): COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA


INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

SUMÁRIO

1 EVOLUÇÃO E HISTÓRIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS ...................... 03

1.1 Teorias sobre os jogos ............................................................................... 07

2 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR .................................................................. 10

3 JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ............................. 16

3.1 O lúdico como processo educativo ............................................................. 18

3.2 Algumas classificações e tipos de jogos .................................................... 20

4 A FORMAÇÃO LÚDICA DO PROFESSOR ................................................. 23

REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS .......................................... 27

2
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

1 EVOLUÇÃO E HISTÓRIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS

O brinquedo é tão antigo quanto o homem. Conservaram-se, ao longo


dos tempos, bonecas pré-históricas micenianas, cretenses, egípcias, astecas,
etruscas e outras, feitas de madeira, massa, barro cozido, pano, pedra,
alabastro, osso ou metal.

Nas escavações arqueológicas de vários lugares encontram-se bolas de


couro cheias de crina ou palha. As crianças da Grécia e de Roma antigas
brincavam com bonecas articuladas por meio de barbantes e com vários
objetos, como piões, chocalhos, móveis em miniaturas, o que demonstra a
universalidade das peças usadas como brinquedo.

Os brinquedos costumam ser divididos em materiais (boneca, bola,


carro, trenzinho) e imateriais (barra, círculo, alvo, esconde-esconde, pega-
pega). Ou podem ser classificados em folclóricos (que alguns chamam de
artesanais ou tradicionais) e mecânicos (ou atuais).

Podemos considerar como brinquedos folclóricos aqueles que vêm de


longa data, passando de pai para filho e para neto, com pequenas
modificações, ocorridas com o passar do tempo. Quando os brinquedos são
feitos individualmente, em casa ou em pequenas oficinas, recebem o nome de
artesanais ou populares. Mas, muitos deles são, hoje, fabricados em escala
industrial, então, apesar de serem folclóricos, deixam de ser artesanais
(GOMES et al, 2002).

Os brinquedos populares aparecem, geralmente, nas feiras de


artesanato, feitos de madeira ou de lata, pintados e atraentes, ao alcance de
todos. A construção de brinquedos artesanais deveria ser incluída nos
currículos escolares, na disciplina de Educação Artística, fazendo com que as
crianças e adolescentes se vejam incentivados a mostrar suas próprias
criações.

Mecânicos ou atuais são diversos tipos de brinquedos geralmente


industrializados, como os feitos de plásticos ou de metal, movidos por meio de
corda, fricção ou de eletricidade. Na moderna indústria de brinquedos a

3
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

madeira foi utilizada em primeiro lugar, a cera, a massa e os metais e a


porcelana foram introduzidos pelos alemães, no século XIX. Existe, hoje, uma
infinidade de brinquedos eletrônicos, baseados nos princípios de informática, e
geralmente, instrutivos e atraentes (GOMES et al, 2002).

Para Elkonin (1998), o jogo surge apenas quando a sociedade humana


atinge um nível de desenvolvimento, dos meios de produção, que inviabilize a
participação da criança, de forma que, ela passe a correr riscos, ou, não
consiga mais desempenhar a atividade, devido à complexidade desta.

Kishimoto (2008) promove uma retrospectiva muito interessante acerca


da evolução dos jogos e brincadeiras ao longo dos séculos e fazendo um
recorte, nos interessa a história a partir do século XVIII, que tem como
característica a popularização dos jogos educativos. Antes restritos aos
príncipes e nobres, agora tornam-se veículos de divulgação, crítica e
doutrinação popular. Utilizados para o desempenho de papéis, difusão de
ideias e crítica de personagens, tais jogos penetram no cotidiano popular. A
lanterna mágica, inventada por Athanase Kircher, no século anterior, permite
ao povo deslumbrar-se com espetáculos inusitados. Os jogos de ganso contam
a glória dos reis e celebram suas qualidades. Inaugura-se, assim, a prática da
exploração do jogo como instrumento de propaganda.

É ainda no século XVIII que nasce a concepção de infância construída


ao longo de cinco longos séculos e postulada por Rousseau em Emílio, como a
necessidade de uma educação ajustada à natureza infantil.

A infância, entendida como período especial na evolução do ser


humano, dotada de uma especificidade, batizada por Àries (1986)
posteriormente como “sentimento de infância” traz em decorrência a adoção de
práticas educativas que prevalecem até hoje: a criança passa a ser vestida de
acordo com sua idade, brinca com cavalinhos de pau, piões e passarinhos e
tem permissão para se comportar de modo distinto do adulto.

Abre-se, assim, um espaço propicio ao nascimento da Psicologia Infantil,


que desabrocha, no século XX, com a produção de pesquisas e teorias que
discutem a importância do ato de brincar para a construção de representações
infantis. Estudos e pesquisas de caráter psicogenético, encabeçados por

4
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

Piaget, Vygotsky, entre outros, fecundam relevantes pressupostos para a


construção de representações infantis relacionadas às diversas áreas do
conteúdo, influenciando as atividades curriculares dos novos tempos.

Complementam tais estudos, pesquisas de caráter interdisciplinar,


demonstrando que o ato de brincar, assim como outros comportamentos do ser
humano, sofre intensa influência da cultura na qual está inserida a criança. O
fato de cada cultura apresentar uma relativa continuidade histórica e, de certa
forma, uma especificidade que pode se refletir nas condutas lúdicas, faz
emergir a valorização dos brinquedos e brincadeiras tradicionais como nova
fonte de conhecimento e de desenvolvimento infantil (KISHIMOTO, 2001).

O início do século XIX presencia o término da Revolução Francesa e o


surgimento das inovações pedagógicas. As escolas esforçam-se para colocar
em prática princípios de Rousseau, Pestalozzi e Froebel. Rousseau, por
exemplo, já aponta duas facetas no brinquedo: o objeto e a ação de brincar. A
primeira não merece sua atenção, uma vez que considera os sentidos uma
fonte nem sempre fidedigna de conhecimento. É a ação do sujeito, a relação
estabelecida pela inteligência, que julga relevante ao desenvolvimento infantil.
Pestalozzi segue o mestre e procura estudar a ação mental da criança,
pesquisando as intuições necessárias ao estabelecimento de relações. Mas é
com Froebel que o jogo, entendido como objeto e ação de brincar, passa a
fazer parte da história da educação pré-escolar.

Partindo do pressuposto de que, manipulando e brincando com materiais


como bola, cubo e cilindro, montando e desmontando cubos, a criança
estabelece relações matemáticas e adquire noções primárias de Física e
Metafísica , aliando a utilização de materiais educativos, que denomina dons,
ao canto e às ocupações manuais (recorte, colagem, tecelagem, dobradura
etc.), o pai das atuais caixas de construção elabora uma proposta curricular
para a pré-escola que contém, em seu bojo, a relevância do brinquedo
(KISHIMOTO, 2001).

À semelhança de Froebel, Óberlin propõe na França, em 1769, um


currículo pré-escolar em que prevalece a orientação pedagógica, apoiada no
uso de materiais de ensino. O primeiro protótipo de escola maternal francesa

5
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

ensinava tricô, Geografia, História Natural, Botânica, Educação Moral e


Religiosa, exercícios para o corpo, desenho, recorte e recursos como o
passeio, para educar crianças de quatro a sete anos de idade. Essa prática foi
continuada e aperfeiçoada por Pape-Carpantier, Kergomard e outros
(KISHIMOTO, 2001).

Com a expansão de novos ideais, crescem as experiências que


introduzem o jogo com o intuito de facilitar tarefas do ensino, trazendo, em
decorrência, algumas características que vale ressaltar. Ao pretender tornar o
estudo da História mais atraente, tais jogos servem para divulgar, ao mesmo
tempo, atitudes de respeito, submissão e admiração ao regime vigente. O
florescimento de jogos históricos no século XIX sobressai na iconografia dos
alfabetos que estampa a inicial de um rei da França ou de personagem célebre.
Da mesma forma, jogos de ganso, de cartas e de loto veiculam, à semelhança
do século anterior, a propaganda política.

O desenvolvimento da ciência e da técnica constitui a fonte propulsora


dos jogos científicos e mecânicos. Surgem jogos magnéticos para ensinar
História, Geografia e Gramática. As fábulas de La Fontaine e os contos de
Perrault inspiram puzzles e jogos de cubo. A expansão dos meios de
comunicação, bem como o avanço do comércio estimulam o ensino de línguas
vivas. Aparecem jogos como o Bazar Alfabético, destinado ao aprendizado do
vocabulário e o poliglota para ensinar até cinco línguas ao mesmo tempo.

Os jogos existentes no século XIX perduram até a I Guerra Mundial, mas


com a aproximação da guerra cresce a oferta de jogos militares. Findo o
conflito, jogos militares dão lugar às práticas esportivas, predominando, no
mercado, trens elétricos, autoramas, bicicletas, patins etc., mostrando a
valorização do esporte em detrimento do militarismo (KISHIMOTO, 2001).

A expansão dos brinquedos ocorre em virtude de outros fatores de


ordem comercial. A produção de brinquedos é impulsionada pelas
propagandas em torno do Natal e a participação de editores especializados,
como Fernand Nathan. Esse editor estabelece uma linha de “brinquedos
educativos”, usando slogans como “instruir divertindo”. Outras modificações na
linha de produção de brinquedos relacionam-se com a apresentação do

6
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

material: os brinquedos são mais vistosos e adaptados ao gosto da criança; há


o emprego de materiais diversificados e um cuidado maior com a segurança.

Na mesma época, a médica italiana Maria Montessori elabora uma


metodologia de ensino destinada às crianças deficientes mentais, empregando
materiais criados por Itard e Séguin, com o objetivo de implementar a educação
sensorial. Em sua obra, traduzida em Língua Portuguesa cromo Pedagogia
Científica (1965), há uma relação desses materiais, bem como a forma de
utilização. Embora o Método Montessori tenha penetrado no Brasil desde
primórdios do século XX, sua expansão ocorrerá mais tarde, quando a linha
Lubienska-Montessori começa a ser adotada pelas escolas católicas
destinadas à elite. Atualmente existe um grande número de pré-escolas
montessorianas, orientadas por associações montessorianas presentes nos
vários pontos do País.

A importância do jogo na educação tem oscilado ao longo dos tempos.


Principalmente nos momentos de crítica e reformulação da educação, são
lembrados como alternativas interessantes para a solução dos problemas da
prática pedagógica. Tais oscilações dependem, basicamente, de
reestruturações políticas e econômicas de cada país. Geralmente, em períodos
de contestação, de inquietações políticas e crises econômicas, aumentam as
pesquisas e os estudos em torno dos jogos (KISHIMOTO, 2001).

Atualmente, o jogo que tinha a função de desenvolver fantasias, com


caráter de gratuidade, é canalizado para uma visão de eficiência, visando à
formação do grande homem de amanhã, e toma-se, em decorrência, pago. A
especialização excessiva dos “brinquedos educativos”, dirigidos ao ensino de
conteúdos específicos, está retirando o jogo de sua área natural e eliminando o
prazer, a alegria e a gratuidade, ingredientes indispensáveis à conduta lúdica.

1.1 Teorias sobre os jogos

Muitas teorias surgiram para explicar o significado dos jogos, as razões


para essas permanências culturais, mostrando que aquilo que aparentemente é

7
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

apenas uma forma de preencher o tempo de lazer, tem raízes profundas no


que diz respeito à vida e ao saber.

Dentre elas temos as teorias de Freud e Piaget, expostas abaixo:

1. “A teoria psicanalítica de Freud” (1856-1939).

O autor utilizou o jogo em seus processos de cura de crianças. Em suas


pesquisas, o pai da psicanálise observou que o desejo da criança é que
determina o comportamento dela frente aos brinquedos: cria um mundo
próprio, repete experiências que ainda não dominou, busca identificações,
exerce autoridade sobre os seus brinquedos, projeta em outras pessoas ou em
objetos sentimentos reprimidos, tenta superar insucessos anteriores, de
maneira lúdica, vivencia situações constrangedoras, procurando resolver os
problemas, encontrar soluções, enfim, realiza ações que no mundo real não lhe
são permitidas. Essa teoria ocupou-se essencialmente do jogo imaginativo em
função das emoções (NALLIN, 2005).

2. “A teoria de Jean Piaget” (1896-1980) estudando sobre o


desenvolvimento da inteligência, colocou os jogos como atividades
indispensáveis na busca do conhecimento pelo indivíduo. Ele dividiu o
desenvolvimento intelectual da criança em etapas caracterizadas pela
“sucessiva complexidade e maior integração dos modelos de pensamento”, ou
seja: até os dois anos de idade – sensório-motor; de dois a quatro anos – pré-
operacional; de quatro a sete anos – intuitivo; de sete aos 14 anos –
operacional concreto; e, a partir dessa idade – operacional abstrato. Quando
Piaget descobriu que não é o estímulo que move o indivíduo ao aprendizado,
revolucionou a pedagogia da época. Para ele, a inteligência só se desenvolve
para preencher uma necessidade. A educação, concebida a partir desse
pressuposto, deve estimular a inteligência e preparar os jovens para descobrir
e inventar; o professor deve provocar na criança a necessidade daquilo que ele
quer transmitir. Nesse sentido, os jogos são buscados espontaneamente pelas
crianças como meio de chegar à descoberta, inventar estratégias, pensar o
novo, construir, agir sobre as coisas, reconstruir, produzir (NALLIN, 2005).

Para Piaget existe o brincar quando há o predomínio da assimilação


sobre o esforço e atenção da acomodação.

8
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

Piaget ao realizar o estudo sobre a evolução do jogo para o


desenvolvimento, percebeu uma tendência lúdica nos primeiros meses de vida
do bebê, na forma do chamado jogo de exercício sensório-motor, onde do
segundo ao sexto ano de vida predomina o jogo simbólico e a etapa seguinte é
o jogo de regras praticado pela criança.

Essas três atividades lúdicas caracterizam-se na evolução do jogo na


criança, de acordo com a fase de seu desenvolvimento, conforme descrito a
seguir.

Jogos de exercícios – Inicialmente surgem na forma de exercícios


motores com a finalidade prazerosa, com o objetivo de explorar e exercitar os
movimentos do seu próprio corpo.

Jogos simbólicos – Esse jogo é de faz de conta, em que o objetivo é


usado para simbolizar ou representar situações não percebidas no momento.
Ocorre de dois a seis anos, onde a tendência lúdica é voltada para o jogo de
ficção ou imaginação e de imitação. O jogo simbólico se desenvolve com a
interiorização dos esquemas sensórios motores.

A função desse tipo de atividade, de acordo com Piaget:

“Consiste em satisfazer o eu, por meio de uma transformação do real


em função dos desejos: a criança que brinca com boneca refaz sua própria
vida, corrigindo-a a sua maneira, e revive todos os prazeres ou conflitos,
resolvendo-os, compensando-os, ou seja, completando a realidade com a
ficção”.

Jogos de regras – Essa atividade lúdica implica o uso de regras onde


há relações sociais ou individuais em que deve aparecer a cooperação e
começa a se desenvolver dos quatro aos sete anos e se intensifica durante
toda a vida da pessoa. Para Brougére, o objetivo da pesquisa de Piaget, não é
estudar o jogo, mas o símbolo, o que é essencial para o desenvolvimento da
inteligência (NALLIN, 2005)

Essa classificação dos jogos será discutida em mais profundidade mais


adiante.

9
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

2 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR

O ser humano, em todas as fases de sua vida, está sempre descobrindo


e aprendendo coisas novas pelo contato com seus semelhantes e pelo domínio
sobre o meio em que vive. Ele nasceu para aprender, para descobrir e
apropriar-se dos conhecimentos, desde os mais simples até os mais
complexos, e é isso que lhe garante a sobrevivência e a integração na
sociedade como ser participativo, crítico e criativo (ALMEIDA, 2003).

A esse ato de busca, de troca, de interação, de apropriação é que


damos o nome de educação. Esta não existe por si só; é uma ação conjunta
entre as pessoas que cooperam, comunicam-se e comungam do mesmo saber.

A infância é a idade das brincadeiras. Acreditamos que por meio delas a


criança satisfaz, em grande parte, seus interesses, necessidades e desejos
particulares, sendo um meio privilegiado de inserção na realidade, pois
expressa a maneira como a criança reflete, ordena, desorganiza, destrói e
reconstrói o mundo. Destacamos o lúdico como uma das maneiras mais
eficazes de envolver o aluno nas atividades, pois a brincadeira é algo inerente
na criança, é sua forma de trabalhar, refletir e descobrir o mundo que a cerca
(DALLABONA E MENDES, 2004).

É muito importante aprender com alegria, com vontade. Snyders (1996,


p.36) comenta que “Educar é ir em direção à alegria”. As técnicas lúdicas
fazem com que a criança aprenda com prazer, alegria e entretenimento, sendo
relevante ressaltar que a educação lúdica está distante da concepção ingênua
de passatempo, brincadeira vulgar, diversão superficial.

[...] A educação lúdica é uma ação inerente na criança e aparece sempre


como uma forma transacional em direção a algum conhecimento, que se
redefine na elaboração constante do pensamento individual em permutações
constantes com o pensamento coletivo. [...] (ALMEIDA, 2003, p.11)

Portanto, é de primordial importância a utilização das brincadeiras e dos


jogos no processo pedagógico, pois os conteúdos podem ser ensinados por
intermédio de atividades predominantemente lúdicas.

10
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

O lúdico permite um desenvolvimento global e uma visão de mundo mais


real. Por meio das descobertas e da criatividade, a criança pode se expressar,
analisar, criticar e transformar a realidade.

Se bem aplicada e compreendida, a educação lúdica poderá contribuir


para a melhoria do ensino, quer na qualificação ou formação crítica do
educando, quer para redefinir valores e para melhorar o relacionamento das
pessoas na sociedade.

Para que a educação lúdica caminhe efetivamente na educação é


preciso refletir sobre a sua importância no processo de ensinar e aprender
(DALLABONA E MENDES, 2004).

As atividades e ações lúdicas e inovadoras favorecem as habilidades


desde o berçário e competências das crianças, correspondendo também às
expectativas da família e nos induzem a desenvolver uma educação que leva
em conta o aprender, o aprender aprendendo.

Segundo Dallabona e Mendes (2004) a literatura especializada no tema


não registra concordância quanto a um conceito comum para o lúdico na
educação. Porém, alguns autores relacionam o lúdico ao jogo e estudam
profundamente sua importância na educação.

Huizinga (1990) foi um dos autores que mais se aprofundou no assunto,


estudando o jogo em diferentes culturas e línguas. Estudou suas aplicações na
língua grega, chinesa, japonesa, línguas hebraicas, latinas, inglesa, alemã,
holandesa, entre outras. O mesmo autor verificou a origem da palavra - em
português, “jogo”; em francês “jeu”; em italiano, “gioco”; em espanhol, “juico”.
Jogo advém de “jocus” (latim), cujo sentido abrangia apenas gracejar ou traçar.

Ele propõe uma definição para o jogo que abrange tanto as


manifestações competitivas como as demais.

O jogo é uma atividade de ocupação voluntária, exercida dentro de


certos e determinados limites de tempo e espaço, seguindo regras livremente
consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo,
acompanhado de um sentido de tensão, de alegria e de uma consciência de
ser diferente da vida cotidiana.

11
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

Segundo Piaget (1975) e Winnicott (1975), conceitos como jogo,


brinquedo e brincadeira são formados ao longo de nossa vivência. É a forma
que cada um utiliza para nomear o seu brincar.

No entanto, tanto a palavra jogo quanto a palavra brincadeira podem ser


sinônimas de divertimento.

Vejamos como esses termos são definidos no dicionário Larousse


(1982):

Jogo - ação de jogar; folguedo, brinco, divertimento. Seguem- se alguns


exemplos: jogo de futebol; Jogos Olímpicos; jogo de damas; jogos de azar;
jogo de palavras; jogo de empurra;

Brinquedo - objeto destinado a divertir uma criança, suporte da


brincadeira;

Brincadeira - ação de brincar, divertimento. Gracejo, zombaria. Festinha


entre amigos ou parentes. Qualquer coisa que se faz por imprudência ou
leviandade e que custa mais do que se esperava: aquela brincadeira custou-
me caro.

Para Dollabona e Mendes (2004) brincadeira basicamente se refere à


ação de brincar, ao comportamento espontâneo que resulta de uma atividade
não estruturada; Jogo é compreendido como uma brincadeira que envolve
regras; Brinquedo é utilizado para designar o sentido de objeto de brincar; já a
Atividade Lúdica abrange, de forma mais ampla, os conceitos anteriores.

Conforme Santos (1999), para a criança, brincar é viver.

A afirmativa de Santos (1999) de que para a criança, brincar é viver, tem


sido bastante usada e aceita, pois a própria história da humanidade nos mostra
que as crianças sempre brincaram, brincam hoje e, certamente, continuarão
brincando. Sabemos que ela brinca porque gosta de brincar e que, quando isso
não acontece, alguma coisa pode não estar bem. Enquanto algumas crianças
brincam por prazer, outras brincam para dominar angústias, dar vazão à
agressividade.

Vejamos o enfoque teórico dado ao brincar por Santos (1999), dentre


vários pontos de vista:

12
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

 Do ponto de vista filosófico, o brincar é abordado como um mecanismo


para contrapor à racionalidade. A emoção deverá estar junto na ação
humana tanto quanto a razão;

 Do ponto de vista sociológico, o brincar tem sido visto como a forma


mais pura de inserção da criança na sociedade. Brincando, a criança vai
assimilando crenças, costumes, regras, leis e hábitos do meio em que
vive;

 Do ponto de vista psicológico, o brincar está presente em todo o


desenvolvimento da criança nas diferentes formas de modificação de
seu comportamento;

 Do ponto de vista da criatividade, tanto o ato de brincar como o ato


criativo estão centrados na busca do “eu”. É no brincar que se pode ser
criativo, e é no criar que se brinca com as imagens e signos fazendo uso
do próprio potencial;

 Do ponto de vista pedagógico, o brincar tem-se revelado como uma


estratégia poderosa para a criança aprender.

A partir do que foi mencionado sobre o brincar nos mais diferentes


enfoques, podemos perceber que ele está presente em todas as dimensões da
existência do ser humano e, muito especialmente, na vida das crianças.
Podemos afirmar, realmente, que “brincar é viver”, pois a criança aprende a
brincar brincando e brinca aprendendo (DOLLABONA E MENDES, 2004).

A criança brinca porque brincar é uma necessidade básica, assim como


a nutrição, a saúde, a habitação e a educação são vitais para o
desenvolvimento do potencial infantil. Para manter o equilíbrio com o mundo, a
criança necessita brincar, jogar, criar e inventar. Estas atividades lúdicas
tornam-se mais significativas à medida que se desenvolve, inventando,
reinventando e construindo.

Chateau (1987, p.14) destaca que “Uma criança que não sabe brincar,
uma miniatura de velho, será um adulto que não saberá pensar”.

Por meio da psicologia, temos conhecimento que, além de ser genético,


o brincar é fundamental para o desenvolvimento psicossocial equilibrado do ser

13
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

humano. Por intermédio da relação com o brinquedo, a criança desenvolve a


afetividade, a criatividade, a capacidade de raciocínio, a estruturação de
situações, o entendimento do mundo.

Bertoldo e Ruschel (2000) citando Froebel (1912) lembram que “Brincar


é a fase mais importante da infância - do desenvolvimento humano neste
período - por ser a auto-ativa representação do interno - a representação de
necessidades e impulsos internos”.

Brincando, o sujeito aumenta sua independência, estimula sua


sensibilidade visual e auditiva, valoriza sua cultura popular, desenvolve
habilidades motoras, exercita sua imaginação, sua criatividade, socializa-se,
interage, reequilibra-se, recicla suas emoções, sua necessidade de conhecer e
reinventar e, assim, constrói seus conhecimentos.

Para Vygotsky (1991) o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento


proximal (capacidade que a criança possui e que já falamos anteriormente),
pois na brincadeira a criança comporta-se num nível que ultrapassa o que está
habituada a fazer, funcionando como se fosse maior do que é.

O jogo traz oportunidade para o preenchimento de necessidades


irrealizáveis e também a possibilidade para exercitar-se no domínio do
simbolismo. Quando a criança é pequena, o jogo é o objeto que determina sua
ação (BERTOLDO; RUSCHEL, 2000).

Na medida em que cresce, a criança impõe ao objeto um significado. O


exercício do simbolismo ocorre justamente quando o significado fica em
primeiro plano.

Do ponto de desenvolvimento da criança, a brincadeira traz vantagens


sociais, cognitivas e afetivas.

Ainda, segundo Vygotsky, a brincadeira possui três características: a


imaginação, a imitação e a regra. Elas estão presentes em todos os tipos de
brincadeiras infantis, tanto nas tradicionais, naquelas de faz de conta, como
ainda nas que exigem regras. Podem aparecer também no desenho, como
atividade lúdica.

14
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

Do ponto de vista psicológico, Vygotsky atribui ao brinquedo um papel


importante, aquele de preencher uma atividade básica da criança, ou seja, ele
é um motivo para a ação.

Segundo o autor, a criança pequena, por exemplo, tem uma


necessidade muito grande de satisfazer os seus desejos imediatamente.
Quanto mais jovem é a criança, menor será o espaço entre o desejo e sua
satisfação. No pré-escolar há uma grande quantidade de tendências e desejos
não possíveis de ser realizados imediatamente, e é nesse momento que os
brinquedos são inventados, justamente para que a criança possa experimentar
tendências irrealizáveis.

A impossibilidade de realização imediata dos desejos cria tensão, e a


criança se envolve com o ilusório e o imaginário, onde seus desejos podem ser
realizados. É o mundo dos brinquedos.

Segundo Vygotsky, a imaginação é um processo novo para a criança,


pois constitui uma característica típica da atividade humana consciente. É
certo, porém, que a imaginação surge da ação, e é a primeira manifestação da
emancipação da criança em relação às restrições situacionais. Isso não
significa necessariamente que todos os desejos não satisfeitos dão origem aos
brinquedos.

Em síntese, além de proporcionar prazer e diversão, o jogo pode


representar um desafio e provocar o pensamento reflexivo da criança.

15
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

3 JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

As brincadeiras e jogos infantis exercem um papel muito além da


simples diversão, possibilitam aprendizagem de diversas habilidades e são
meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual da criança
(Piaget, 1976).

A importância de brincar na educação infantil está expressa por lei


incluída no “Referencial Curricular de Educação Infantil” (MEC/SEF/DPE,
1998), publicação nacional do MEC. O brincar é uma atividade espontânea e
difere do jogo, pois este possui regras e limites, por isso a proposta de
utilização destes recursos, deve estar de acordo com a faixa etária abordada
na ocasião (FRIEDMANN, 2004,1994).

Vários tipos de brincadeiras e jogos que possam interessar à criança


pequena constituem-se rico contexto em que ideias matemáticas podem ser
evidenciadas pelo adulto por meio de perguntas, observações e formulação de
propostas. São exemplos disso cantigas, brincadeiras como a dança das
cadeiras, quebra-cabeças, labirintos, dominós, dados de diferentes tipos, jogos
de encaixe, jogos de cartas, etc.

Os jogos numéricos permitem às crianças utilizarem números e suas


representações, ampliarem a contagem, estabelecerem correspondências,
operarem. Cartões, dados, dominós, baralhos permitem às crianças se
familiarizarem com pequenos números, com a contagem, comparação e
adição.

Os jogos com pistas ou tabuleiros numerados, em que se faz


deslocamento de um objeto, permitem fazer correspondências, contar de um
em um, de dois em dois, etc.

Jogos de cartas permitem a distribuição, comparação de quantidades, a


reunião de coleções e a familiaridade com resultados aditivos.

Os jogos espaciais permitem às crianças observarem as figuras e suas


formas, identificar propriedades geométricas dos objetos, fazer representações,
modelando, compondo, decompondo ou desenhando. Um exemplo desse tipo

16
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

de jogo é a modelagem de dois objetos em massa de modelar ou argila, em


que as crianças descrevem seu processo de elaboração (DAMASCENO et al,
2003).

Em uma das várias pesquisas realizadas por Kishimoto (2001)


evidenciou-se que existe uma variedade de brinquedos e materiais
pedagógicos nas escolas, mas verificou-se que os mais significativos são os
chamados educativos, materiais gráficos, de comunicação nas salas e os de
educação física, para o espaço externo.

Os jogos e brincadeiras que abordam locomoção e equilíbrio estão na


educação física (55%), já os que trazem experiências sensoriais, estão
relacionados à música (66%).

Embora as porcentagens sejam significativas dentro de diversos itens


criteriosamente avaliados, não são descritas atividades lúdicas em sala de aula
envolvendo conceitos de lateralidade e uso dos sentidos (DAMASCENO et al,
2003).

Os jogos sensoriais podem contribuir para a formação do futuro adulto. É


o que descrevem alguns pesquisadores sobre o trabalho de Maria Montessori
(LEIFT; BRUNELLE, 1978). Estes jogos sensoriais foram destinados a
estimular os diferentes sentidos, de forma que os mesmos possam se
desenvolver satisfatoriamente no decorrer da vida da criança.

Um ponto negativo em utilização de jogos e brincadeiras, como suporte


pedagógico no aprendizado de conteúdos específicos, é que em parte dos
casos o professor não tem a visão de que, com o lúdico, a criança aprende tão
bem ou até melhor do que qualquer atividade tradicional limitada a livros e
cadernos. O fato de estar numa brincadeira não representa um momento de
lazer, e sim uma forma alternativa de aprender (DAMASCENO et al, 2003).

Na educação infantil, percepções visuais, táteis, auditivas, gustativas e


olfativas, devem ser abordadas e desenvolvidas pelo professor nas séries
iniciais. Esta abordagem deve ser feita em conjunto com habilidades que
devem envolver o domínio do esquema corporal, da coordenação motora, da
relação espaço-tempo e da lateralidade. Estes domínios são utilizados pela

17
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

criança em toda sua fase de vida, desde o desenvolvimento de sua escrita até
sua estabilização profissional (BRASIL, 1998).

Embora a abordagem desses temas seja essencial na educação infantil,


muitos professores das séries iniciais do Ensino Fundamental observam a
heterogeneidade do desenvolvimento destes conceitos entre seus alunos:
muitos chegam ao Ensino Fundamental sem terem tido contato com métodos
de ensino que lhes permitissem progredir em suas habilidades e domínios.

3.1 O lúdico como processo educativo

Marcellino (1990) defende a reintrodução das atividades lúdicas na


escola. Entende-se que esse direito ao respeito não significa a aceitação de
que a criança habite um mundo autônomo do adulto, tampouco que deva ser
deixada entregue aos seus iguais, recusando-se, assim, a interferência do
adulto no processo de educação. Os estudos da psicanálise demonstram, entre
outros caracteres não muito nobres, o autoritarismo que impera entre as
crianças. Mas a intervenção do adulto não precisa ser necessariamente
desrespeitada. É preciso que, ao intervir, o adulto respeite os direitos da
criança.

A proposta do autor nos remete a pensar numa ação educativa que


considere as relações entre a escola, o lazer e o processo educativo como um
dos caminhos a serem trilhados em busca de um futuro diferente. Por isso, vê-
se como positiva a presença do jogo, do brinquedo, das atividades lúdicas nas
escolas nos horários de aulas, como técnicas educativas e como processo
pedagógico na apresentação dos conteúdos.

As vivências cotidianas, aliadas ao pensamento de alguns teóricos,


como Marcellino, Snyders, Piaget e Vygotsky, permitem-nos aprofundar as
reflexões e fazer alguns questionamentos: O conhecimento construído por
meio da ludicidade implica uma escola mais autônoma e democrática? Das
condições para a ocorrência da alegria, da festa, dentro dos limites da escola, e

18
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

até mesmo nos horários de aula, e propiciar assim a evasão do real, não seria
contribuir para a alienação?

O jogo e a brincadeira são experiências vivenciais prazerosas. Assim


também a experiência da aprendizagem tende a se constituir em um processo
vivenciado prazerosamente. A escola, ao valorizar as atividades lúdicas, ajuda
a criança a formar um bom conceito de mundo, em que a afetividade é
acolhida, a sociabilidade vivenciada, a criatividade estimulada e os direitos da
criança respeitados.

Enquanto a aprendizagem é vista como apropriação e internalização de


signos e instrumentos num contexto sociointeracionista, o brincar é a
apropriação ativa da realidade por meio da representação. Desta forma, brincar
é análogo a aprender (DALLABONA; MENDES, 2004).

Distante dos avanços em todos os campos e das mudanças tão rápidas


em todos os setores, é preciso buscar novos caminhos para enfrentar os
desafios do novo milênio e, neste cenário que se antevê, será inevitável o
resgate do prazer no trabalho, na educação, na vida, visto pela ótica da
competência, da criatividade e do comprometimento.

Assim, o trabalho a partir da ludicidade abre caminhos para envolver


todos numa proposta interacionista, oportunizando o resgate de cada potencial.
A partir daí, cada um pode desencadear estratégias lúdicas para dinamizar seu
trabalho que, certamente, será mais produtivo, prazeroso e significativo,
conforme afirma Marcellino (1990, p.126) “é só do prazer que surge a disciplina
e a vontade de aprender”.

É por intermédio da atividade lúdica que a criança se prepara para a


vida, assimilando a cultura do meio em que vive, a ela se integrando,
adaptando-se às condições que o mundo lhe oferece e aprendendo a competir,
cooperar com seus semelhantes e conviver como um ser social. Além de
proporcionar prazer e diversão, o jogo, o brinquedo e a brincadeira podem
representar um desafio e provocar o pensamento reflexivo da criança. Assim,
uma atitude lúdica efetivamente oferece aos alunos experiências concretas,
necessárias e indispensáveis às abstrações e operações cognitivas
(DALLABONA; MENDES, 2004).

19
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

Pode-se dizer que as atividades lúdicas, os jogos, permitem liberdade de


ação, pulsão interior, naturalidade e, consequentemente, prazer que raramente
são encontrados em outras atividades escolares. Por isso necessitam ser
estudados por educadores para poderem utilizá-los pedagogicamente como
uma alternativa a mais a serviço do desenvolvimento integral da criança.

O lúdico é essencial para uma escola que se proponha não somente ao


sucesso pedagógico, mas também à formação do cidadão, porque a
consequência imediata dessa ação educativa é a aprendizagem em todas as
dimensões: social, cognitiva, relacional e pessoal (DALLABONA; MENDES,
2004).

3.2 Algumas classificações e tipos de jogos

Leontiev (1988) nos apresenta algumas diferenças que distinguem


vários objetos de brinquedos:

 Brinquedos de largo alcance: participam de várias ações (exemplos:


blocos);

 Brinquedos especializados: podem apresentar ou não funções fixas


(exemplo de função fixa: um brinquedo representado por um acrobata
que se balança numa vara vertical). O brinquedo com função fixa atrai a
atenção da criança por pouco tempo. São também brinquedos
especializados os carros com motor e mecanismos com relógio, por
exemplo, porém a criança o utiliza conforme seu estágio de
desenvolvimento;

De acordo com Santos (1999), para a criança com três meses de idade,
são aconselháveis os brinquedos tais como:

 Móbile – desenvolvimento da percepção visual;


 Bracelete sonoro – desenvolvimento da percepção auditiva;
 Chocalho – desenvolve a percepção auditiva;

20
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

 Rolo de espuma – possibilita movimentos amplos;


 Bonecas de pano e bichinhos de pelúcia – desenvolvimento tátil e visual.

Já o mundo da criança de um a dois anos de idade se expande


rapidamente. Nesta idade já possui a capacidade para participar de jogos
infantis individualmente ou não, desenvolvendo a sociabilidade. Nesta fase
alguns brinquedos sugeridos são:

 Caleidoscópio – desenvolve a percepção visual, a imaginação e a


curiosidade;
 Percursos motores – objetiva desenvolver a motricidade, a noção de
espaço, a curiosidade e a capacidade de vender desafios;
 Livro de pano – desenvolvimento da linguagem e imaginação bem como
estimula o hábito de leitura do futuro leitor;
 Fantoche de dedo – visa desenvolver a linguagem oral, a imaginação, a
improvisação e as atividades de faz de conta, etc.

Na faixa etária dos dois aos três anos, a linguagem torna-se mais
desenvolvida. A criança conversa com seus brinquedos, com ela própria e com
os outros, porém possui dificuldades em manusear alguns instrumentos tais
como a tesoura e o lápis. Nesta idade, a criança brinca com:

 Casinha de bonecas – desenvolve a imaginação e facilita as


brincadeiras de faz de conta;

 Baú da fantasia – desenvolve a imaginação e o pensamento lógico,


memória, brincadeiras simbólicas;

 Bonecas de pano – desenvolve a imaginação;

 Jogo memória tátil – objetiva desenvolver a percepção tátil, perceber


semelhanças e diferenças no tamanho, forma e textura;

 Memória visual – visa desenvolver a atenção, percepção, memória e a


identificação de animais, por exemplo;

21
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

 Memória auditiva – desenvolve a atenção, a discriminação de sons, a


percepção auditiva e a memória;

 Baralho de imitação – desenvolvimento da atenção, concentração,


memória, imaginação e expressão corporal;

 Quebra cabeça – objetiva o desenvolvimento da atenção, concentração,


percepção dos elementos da natureza e verificação da mistura de cores,
através do movimento;

 Saco surpresa – desenvolvimento da memória, da imaginação e


reconhecimento dos objetos, por meio das sensações táteis.

De acordo com Hussein (1986), o brinquedo pode ser classificado


segundo as categorias de:

 Brinquedo funcional (envolve movimentos musculares repetitivos e


simples com ou sem objetos, como exemplo chocalho);

 Brinquedo construtivo (possibilita construção através da manipulação,


como exemplo os brinquedos de encaixe de peças);

 Brinquedo dramático (envolve uma situação imaginária tendo como


finalidade satisfazer as necessidades pessoais da criança, como, por
exemplo, mobiliário em miniatura) e,

 Jogos com regras (envolvem aceitação e ajuste das regras


estabelecidas anteriormente).

22
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

4 A FORMAÇÃO LÚDICA DO PROFESSOR

O lúdico funciona como uma possibilidade de descoberta, de encontro


consigo mesmo e com o outro.

Segundo Andrade (2008) nós evoluímos muito no discurso acerca do


brincar, reconhecemos cada vez mais seu significado para a criança e suas
possibilidades nas áreas de educação, cultura e lazer, e estamos cada vez
mais cientes dos riscos que corremos. O primeiro deles talvez seja o de
separar estas três áreas que caminham melhor juntas. Mas não é só por esta
razão que temos encontrado algumas pedras no caminho.

Na educação, muitas vezes, fazemos com que um jogo fantástico seja


visto mais pela oportunidade de ensinar cores (como se elas não estivessem
no mundo!) que pelas suas possibilidades de favorecer as relações sociais, de
suscitar medo e alegria, de provocar o grupo a encontrar soluções para um
desafio. Ao atribuir a um brinquedo ou brincadeira uma função didática, e
importante termos o cuidado de preservar sua essência lúdica; se não,
corremos o risco de ouvir outra vez de uma criança: “Ai, ai, ai, já virou
brincadeira de escola!”, explicitando o momento em que já não tinha mais
graça (ANDRADE, 2008).

Algumas vezes, atribuímos ao brincar poderes mágicos que ele não tem.
Não é porque agregamos a ele conteúdos ou valores, como a cooperação, que
a criança vai incorpora-los.

Precisamos nos lembrar de que crianças aprendem o mundo menos


pelos seus brinquedos e jogos e mais pelas relações humanas que as cercam.
Muitas vezes, uma proposta instigante de um professor pode ser mais
interessante para as crianças do que uma brincadeira; aprender é tão rico e
prazeroso quanto brincar, ha uma paixão em conhecer.

Na área do lazer e na educação, o lúdico encontra-se muitas vezes


centrado no acervo. Os brinquedos e jogos são importantes por aquilo que
possibilitam. A supervalorização do objeto, em uma inversão de valores, acaba
trazendo muita ansiedade às crianças e aos seus educadores. O acervo é

23
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

importante por tudo o que pode oferecer, mas quando ele ganha exagerada
importância em si mesmo, instala-se uma neurose de cuidados, que inviabiliza
seu uso. O acervo diz muito de uma proposta lúdica, tanto pelos itens incluídos,
como por aqueles excluídos, tanto por sua qualidade e quantidade, quanto pela
maneira como esta disposto.

Mas, do mesmo jeito que não se constrói uma escola apenas com
quadro negro, giz, cadernos e lápis, não se constrói um espaço lúdico apenas
com uma sala de jogos e brincadeiras. Ele, como a escola, não existe sem
adultos e crianças envolvidos em uma proposta.

Essa proposta pode nascer na redação de um bom projeto político


pedagógico, mas, sobretudo, deve nasceu dos desejos, do senso de
responsabilidade e comprometimento dos educadores.

Acreditamos que a ampliação e a diversidade de experiências oferecidas


as crianças lhes fornecem mais elementos para o seu processo de construção
de conhecimento e para o desenvolvimento da sua imaginação, da sua
capacidade criadora. Não deveríamos acreditar, também, que a experiência
acumulada do professor está relacionada a sua imaginação, a sua capacidade
de criar? Quando pensamos nos adultos vemos, quase sempre, sua criação
como inspiração, como um dom que se tem ou não se tem. Não consideramos
que a experiência cultural do adulto pode favorecer sua imaginação. E,
provavelmente por isso, a contemplamos pouco nos cursos para educadores.
Criação e ludicidade tem muitas semelhanças e são essenciais no processo de
formação do ser humano (ANDRADE, 2008).

Segundo Maluf (2008), os primeiros anos de vida são decisivos na


formação da criança, pois se trata de um período em que a criança está
construindo sua identidade e grande parte de sua estrutura física, socioafetiva
e intelectual. É, sobretudo, nesta fase que se deve adotar várias estratégias,
entre elas as atividades lúdicas, que são capazes de intervir positivamente no
desenvolvimento da criança, suprindo suas necessidades biopsicossociais,
assegurando-lhe condições adequadas para desenvolver suas competências.

Todas as instituições que atendem crianças de 0 a 5 anos, devem


promover o seu desenvolvimento integral, ampliando suas experiências e

24
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

conhecimentos, de forma a estimular o interesse pela dinâmica da vida social e


contribuir para que sua integração e convivência na sociedade sejam
produtivas e marcadas pelos valores de solidariedade, liberdade, cooperação e
respeito.

As intuições infantis precisam ser acolhedoras, atraentes, estimuladoras,


acessíveis às crianças e ainda oferecer condições de atendimento às famílias,
possibilitando a realização de ações sócio educativas.

As crianças necessitam receber nas instituições de educação infantil:

 Ações sistemáticas e continuadas que visam a fornecer informações;

 Realizar vivências através de atividades lúdicas;

 Aprimorar conhecimentos.

São vários os benefícios das atividades lúdicas, entre eles estão:

 Assimilação de valores;

 Aquisição de comportamentos;

 Desenvolvimento de diversas áreas do conhecimento;

 Aprimoramento de habilidades;

 Socialização.

Quanto ao tipo de atividades lúdicas existentes, são muitas, podemos


citar:

 Desenhar;

 Brincadeiras;

 Jogos;

 Danças;

 Construir coletivamente;

 Leituras;

25
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

 Softwares educativos;

 Passeios;

 Dramatizações;

 Cantos;

 Teatro de fantoches, etc.(MALUF, 2008).

Enfim, precisamos levar em consideração que as crianças desde que


nascem são cidadãos de direitos, indivíduos únicos, singulares; seres sociais e
históricos; seres competentes, produtores de cultura; indivíduos humanos,
parte da natureza animal, vegetal e mineral e encontram-se numa fase de vida
que dependem intensamente do adulto para sobreviver e crescer. Elas
precisam ser cuidadas e educadas.

Além disso, para que sua sobrevivência esteja garantida e seu


crescimento e desenvolvimento sejam favorecidos, para que o cuidar/educar
sejam efetivados, é necessário que sejam oferecidas às crianças dessa faixa
etária condições de usufruírem plenamente suas possibilidades de apropriação
e de produção de significados no mundo da natureza e da cultura. As crianças
precisam ser apoiadas em suas iniciativa e espontâneas e incentivadas a:

 Brincar;

 Movimentar-se em espaços amplos e ao ar livre;

 Expressar sentimentos e pensamentos;

 Desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capacidade de expressão;

 Ampliar permanentemente conhecimentos a respeito do mundo da


natureza e da cultura apoiadas por estratégias pedagógicas apropriadas;

 Diversificar atividades, escolhas e companheiros de interação em


creches, pré-escolas e centros de Educação Infantil (BRASIL, 2006).

26
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS

ALMEIDA, Geraldo Peçanha de. Teoria e Prática em Psicomotricidade:


jogos, atividades lúdicas, expressão corporal e brincadeiras infantis. Rio de
Janeiro: WAK, 2006.

ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica: Técnicas e jogos pedagógicos.


11 ed. São Paulo: Ed. Loyola, 2003.

ANDRADE, Cyrce. A formação lúdica do professor. In: TVE BRASIL. Jogos e


brincadeiras: desafios e descobertas. Salto para o futuro. 2 ed. Ano XVIII
boletim 07 - Maio de 2008.

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Trad. Dora


Flaksman. 2 ed., Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

BERTOLDO, Janice; RUSCHEL, Maria Andrea de Moura. Jogo, brinquedo e


brincadeira: uma revisão conceitual (2000). Disponível em:
<http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=35> Acesso em:
23 jul. 2010.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação


Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil /
Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental.
Brasília: MEC/SEF, 1998. Volume 1: Introdução; volume 2: Formação pessoal e
social; volume 3: Conhecimento de mundo.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação


Básica. Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil.
Brasília: MEC, 2006.

CHATEAU, Jean. O jogo e a criança. São Paulo: Summus, 1987.

27
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

DAMASCENO, Igor Zumba, et al. O uso de jogos e brincadeiras no


desenvolvimento da lateralidade e estímulo de sentidos (2003).
http://www.unesp.br/prograd/PDFNE2003/O%20uso%20de%20jogos%20e%20
brincadeiras.pdf. Acesso em: 23 jul. 2010.

DOLLABONA, Sandra Regina; MENDES, Sueli Maria Schmitt. O lúdico na


educação infantil: jogar, brincar, uma forma de educar. Revista de Divulgação
Técnico-científica do ICPG. V.1, n. 4 jan-mar/2004.

ELKONIN, Daniel, B. Psicologia do Jogo. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

FRIEDMANN, Adriana. A Arte de Brincar. São Paulo: Vozes, 2004.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar, Crescer e Aprender. São Paulo: Moderna,


1994.

GOMES, Elaine. Seminário: O Brinquedo Através da História. Campinas:


Unicamp, 2002.

GROSSI, Esther Pillar; BORDIN, Jussara (orgs.) Construtivismo pós-


piagetiano: um novo paradigma sobre a aprendizagem. Rio de Janeiro: Vozes,
1993.

GUIMARÃES, Célia Maria (org.) Perspectivas para educação infantil.


Araraquara: JM editora, 2005.

HUIZINGA, Johan. Homo ludens. São Paulo: Perspectiva, 1990.

HUSSEIN, C. L. Variáveis que influenciaram o comportamento do brincar.


In: BOMTEMPO, E. Psicologia do brinquedo: aspectos teóricos e
metodológicos. São Paulo: USP, 1986, 203p.

KISHIMOTO, T.M. Educação e Pesquisa. São Paulo, v.27, n°2, p.229-245, jul-
dez, 2001.
28
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.) Jogo, brinquedo, brincadeira e a


educação. 11 ed. São Paulo: Cortez, 2008.

KISHIMOTO, Tizuto Morchida. O brinquedo na educação: considerações


históricas. Ideias. N.7 2001. Disponível em: Acesso em: 23 jul. 2010.

LAROUSSE, K. Pequeno dicionário enciclopédico Koogan Larousse. Rio


de Janeiro: Larousse, 1982.

LEIFT, Joseph; BRUNELLE, Lucien. O jogo pelo jogo. Rio de Janeiro: Zahar,
1978.

LEONTIEV, A.N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar. In:


VIGOTSKY, L.S. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo:
Ícone, 1988, p.119 -143.

MALUF, Angela Cristina Munhoz. A importância das atividades lúdicas na


educação infantil (2008). Disponível em: <www.psicopedagogia.om.br>
Acesso em: 23 jul. 2010.

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Pedagogia da animação. São Paulo:


Papirus, 1990.

MELLO, Alexandre Moraes de. Psicomotricidade, Educação Física e Jogos


Infantis. 6 ed. São Paulo: Ibrasa, 2006.

NALLIN, Claudia Goes Franco. Papel dos jogos e brincadeiras na educação


infantil. Campinas: Unicamp, 2005 (Licenciatura em Pedagogia).

OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e


métodos. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2010.

29
INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO
ESTRATÉGIA PARA ENSINO LÚDICO

PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. Trad. Por Dirceu Accioly Lindoso e


Rosa Maria Ribeiro da Silva. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1976.

SANTOS, Santa Marli Pires dos. (org.) Brinquedoteca: O lúdico em diferentes


contextos. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 1999, 141p.

SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedo e infância: um guia para pais e
educadores. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

SNYDERS, Georges. Alunos felizes. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

TVE BRASIL. Jogos e brincadeiras: desafios e descobertas. Salto para o


futuro. 2 ed. Ano XVIII boletim 07 - Maio de 2008.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social da Mente. São Paulo:


Martins Fontes, 1991.

30

Você também pode gostar