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Tente ser tão gentil e compreensivo para consigo quanto lhe for
possível. Se estiver ligeiramente receoso ou apreensivo acerca do que
poderá encontrar, tenha presente que não tem de se atirar de cabeça na
meditação. Seja um explorador. Avance centímetro a centímetro e
apenas até onde sentir que é capaz. A meditação não é nem uma
maratona, nem uma prova de velocidade, devendo antes ser vista como
um passeio suave que o encoraja a avançar ao seu próprio ritmo.
Lembre-se que, caso alguma sensação se tornar demasiado
desagradável, poderá mover o corpo para aliviar o sofrimento. Tome uma
decisão consciente acerca de como reagirá. Poderá tentar mudar de
posição ou relaxar na dor. Veja se o ir e vir da respiração afeta a dor.
Muitas vezes, a respiração ajudará a dissolver o sofrimento. Tente sempre
ter presente que é livre para fazer o que quer que necessite para ficar
confortável. A prática será bem mais benéfica se estiver relaxado, em vez
de combatendo a dor ou o desconforto.
À medida que progride pela meditação, notará que esta lhe pede que
preste particular atenção à respiração. Trata-se de um tema comum, que
percorre todo o programa. A respiração não é apenas a fonte de vida, mas
também um barómetro sensível de quaisquer emoções ou sensações
físicas que esteja vivenciando mesmo abaixo do limiar da consciência.
Com a prática, poderá aprender a usar a respiração como sistema de aviso
prévio que lhe permite pressentir e neutralizar o sofrimento e o stress
antes que estes se transformem num problema. Muitas vezes, basta
observar a respiração — garantindo que é tão natural quanto possível —
para dissolver a dor, o sofrimento e o stress, sem que seja necessário fazer
qualquer outra coisa.
Para ter uma noção do quão potente este efeito pode ser, experimente
o seguinte: cerre o punho e repare no que acontece à respiração.
Provavelmente vai verificar que retém a respiração e que esta parece
parar no abdome. Agora relaxe, aproveitando a respiração, e respire,
concentrado nas sensações do punho cerrado. Reparou que o punho
parece relaxar um pouco também?
A maior parte das pessoas segura automaticamente a respiração
quando sente dor, stress ou desconforto. O hábito de inibir a respiração
também pode manifestar-se como respiração superficial ou como
hiperventilação. Essa alteração da respiração ativa os sistemas de alarme
da mente, os quais, por sua vez, criam tensão e stress no corpo. A mente
sente então este aumento de tensão e stress e fica ainda mais alarmada.
Desta forma, a respiração alterada pode estimular o Sofrimento
Secundário num círculo vicioso e perturbador que também alimenta a
ansiedade e o stress. O inverso também se aplica: respirar dentro da dor
ou dos sentimentos angustiantes tende a dissolvê-los. Assim, o
mindfulness e a consciência da respiração podem ser usados para drenar
a energia deste círculo vicioso. Muito rapidamente, seu desconforto se
reduz a um estado de tranquilidade.
O mindfulness também funciona em um nível mais profundo e
fisiológico. Quando você presta atenção à respiração e esta se torna mais
calma, naturalmente torna-se também mais profunda e mais ritmada.
Também começamos a usar um pouco mais a parte de trás dos pulmões
e da caixa torácica. Na verdade, as costas como um todo movem-se
quando respiramos normalmente. Combinando os movimentos no peito
e no abdome, junto com a massagem dos órgãos internos a cada
respiração, temos o que é conhecido como “respiração de corpo inteiro”.
Ela é naturalmente calmante37. Estimula o sistema nervoso
parassimpático, que libera muitos hormônios para o corpo, os quais
dissolvem a tensão e o stress e promovem a cura. Por sua vez, isto cria
sentimentos profundamente enraizados de paz e relaxamento. Essas
sensações vão então encorajar mais respiração de corpo inteiro. Este
círculo virtuoso é ainda um antídoto extremamente poderoso contra a
dor, o sofrimento, o stress e a ansiedade.
Central para a respiração de corpo inteiro é a consciência do
movimento do diafragma, que repousa profundamente no corpo, por
baixo dos pulmões e cruzando o corpo de lado a lado e da frente para
atrás.
Na inspiração, o diafragma contrai e se achata no interior do corpo,
levando os pulmões a encherem-se de ar. Na expiração, o diafragma
relaxa, levando os pulmões a esvaziar e expelir o ar.
Quando você faz o Escaneamento Corporal, este o encoraja a sentir a
respiração e depois a suavizar à sua volta, à medida que você guia a
consciência por diferentes partes do corpo. Você poderá sentir que
depressa volta a inibir e a contrair a respiração em áreas que estejam
tensas ou dolorosas. Provavelmente terá transformado essa contração
num hábito bastante persistente. Isto é normal, então tente não se
criticar por isso. Em vez disso, simplesmente suavize a tensão com um
delicado sorriso interior cada vez que notar ela. Respirar na experiência
de dor ou desconforto — direcionar imaginariamente a sua respiração
para a situação desagradável — dissolve de forma natural o hábito de
inibir a respiração. Há então um grande alívio no simples soltar e relaxar
da expiração. Gradualmente, ao longo de algumas respirações, a tensão
começará a reduzir-se. Isto também se aplica a desconfortos emocionais.
Nos sentirmos estressados, ansiosos ou deprimidos muitas vezes se
associa a uma respiração presa. A calma e tranquilidade surgem
naturalmente quando tomamos consciência desta tendência e depois
simplesmente respiramos dentro da tensão emocional.
Gradualmente você irá aprender a respirar mais profunda e
naturalmente. Muitas pessoas relatam que esta nova capacidade de
respirar lhes altera a vida de uma forma mais significativa do que
qualquer outra coisa.
Para explicações mais pormenorizadas acerca da fisiologia da
respiração, por favor visite os sites www.breathworks-mindfulness.org.uk
ou www.franticworld.com.
Aspectos práticos
Preparação
Adote uma posição tão confortável quanto possível, cobrindo-se com
uma manta leve se isto o ajudar a sentir-se mais aquecido e relaxado.
A maior parte das pessoas prefere realizar o Escaneamento corporal
deitada, mas, se isso for desconfortável para você, então, claro, faça-o
sentado numa cadeira ou até de pé. Caso sinta dor ou desconforto
durante a meditação, esteja à vontade para ajustar a posição. As
instruções da meditação partem do pressuposto de que você estará
deitado. Se estiver noutra posição, adapte as instruções à posição que
escolher.
Permita que o corpo se assente tão confortavelmente quanto possível
na cama ou no chão. Descanse os braços ao lado do corpo, com as mãos
muito suavemente pousadas sobre o ventre.
Deixe os ombros repousarem em direção ao chão, mantenha uma
expressão suave e os olhos ligeiramente fechados, se isso for confortável,
e as mãos descontraídas.
Estenda as pernas, ou caso tenha problemas na lombar, talvez prefira
colocar algumas almofadas atrás de cada joelho para aliviar a tensão da
área, ou dobrar os joelhos com as plantas dos pés bem apoiadas no chão,
afastados à largura do quadril, em posição semi-supina. Faça como for
mais confortável para você.
À medida que começa a ficar instalado, consegue ceder todo o peso à
gravidade, permitindo que esta atraia gentilmente o seu corpo para
baixo, em direção ao chão e à terra?
O escaneamento
Comece por sintonizar com o movimento da respiração sob as mãos.
Sente a barriga expandindo um pouco na inspiração e encolhendo um
pouco na expiração? Tenha o cuidado de não alterar ou forçar a
respiração, repousando apenas a sua consciência nos movimentos
naturais. E o peito? Sente as costelas se expandindo na inspiração e
retraindo na expiração? Percebe os pulmões enchendo-se e esvaziando-
se dentro do peito a cada respiração?
Entre o peito e o abdome há um grande músculo chamado diafragma,
que atravessa o corpo de um lado ao outro e da frente até atrás. Na
inspiração, o diafragma contrai e achata-se no interior do corpo; e na
expiração volta a subir e a relaxar, repousando de novo debaixo dos
pulmões, com a forma de um pequeno guarda-chuva ou paraquedas. O
diafragma move-se incessantemente desde o momento em que
nascemos até que morremos e, ao contrair e achatar-se no interior do
corpo na inspiração, faz uma pressão suave para baixo, sobre os órgãos
internos, o que leva a barriga a expandir para fora. E, quando o diafragma
torna a relaxar para cima, dentro do corpo, na expiração, os órgãos
internos recolhem-se novamente e a barriga faz o mesmo. Percebe este
movimento sob as suas mãos repousadas no seu ventre? Tente seguir o
movimento, sem forçar a respiração.
E você percebe um eco da respiração mais abaixo, no assoalho pélvico?
Trata-se da área em forma de diamante entre o ânus, atrás, os órgãos
urinários, à frente, e as nádegas, de cada lado. O eco da respiração pode
ser muito sutil, por isso não se preocupe se não sentir o que quer que
seja. Mas, com o passar do tempo, talvez se torne receptivo a um
alargamento e abertura muito sutis com a inspiração e a uma retração e
contração na expiração, com toda a área do assoalho pélvico suave e
relaxada. Não será um movimento físico, nem muscular. É absolutamente
receptivo, mais semelhante à natureza de uma onda do oceano.
Agora permita que a sua consciência avance para as nádegas. Se notar
que estão tensas, então talvez também repare que é bastante natural
relaxar e aliviar a tensão quando percebe ela, permitindo que as nádegas
fiquem suaves no contato com a cama ou o chão.
E permita que a consciência ocupe a parte inferior, média e superior das
costas, que estão repousadas no chão ou na cama, seguindo a sua
curvatura e forma natural.
Agora veja se consegue perceber a respiração em toda a parte de trás
do corpo. À medida que o diafragma se move no interior do corpo,
envolve a parte de trás do corpo, bem como a parte da frente. Seja
curioso quanto ao que sente nas costas com a respiração. O que nota?
Talvez até sinta o eco da respiração na lombar. Se tiver alguma dor ou
desconforto na zona lombar, pode permitir que seja massageada pela
respiração, uma respiração saturada de gentileza e bondade — banhando
a zona lombar com ternura, talvez? Responda ao seu próprio desconforto
como responderia naturalmente a alguém querido em sofrimento.
E sente o movimento das costelas na parte de trás do corpo? A
expansão na inspiração, a retração na expiração. Poderá refletir por um
momento no fato de as costelas e os pulmões se encontrarem tanto na
parte de trás do corpo como na frente. Talvez esta seja uma ideia nova
para você — mas ganharmos consciência do movimento da respiração na
parte de trás do corpo é naturalmente calmante; consegue perceber isto?
Agora permita que a consciência avance para os ombros enquanto eles
soltam-se na direção da cama ou do chão, ficando completamente
apoiados. Você pode deixar que os braços se afastem delicadamente dos
ombros? Permita à consciência habitar os braços, os cotovelos, os
antebraços e as mãos. Deixe a consciência fluir para o interior dos dedos
e dos polegares, repousando ali por alguns momentos.
Subindo de novo pelos braços, permita à consciência fluir para a
garganta, a parte de trás do pescoço, as laterais do pescoço. Permita à
consciência habitar toda a cabeça e o rosto. Você pode deixar a cabeça
ficar pesada, completamente amparada pela almofada ou pelo apoio
sobre o qual se encontra?
E o que sente na face? Se notar tensão, parece natural suavizar e liberá-
la, sob a luz da consciência? Lábios suaves, língua suave, bochechas
suaves, olhos suaves.
Você pode permitir que a parte de trás da boca e o topo da garganta
fiquem suaves, deixando a respiração fluir livremente para dentro e para
fora? Pode deixar o maxilar ligeiramente entreaberto, entreabrindo os
dentes? Isto pode ajudar a tornar esta área mais suave e receptiva ao
fluxo da respiração.
E agora, guiando a sua consciência pelo corpo até ao quadril, permita
que as pernas caiam suavemente do quadril. Que as pernas fiquem
completamente sustentadas pela cama ou pelo chão, quer tenha as
pernas esticadas, quer se encontre numa posição parcialmente
horizontal. Cedendo o peso das suas pernas à gravidade, permita que a
consciência flua para a parte da frente, de trás e dos lados das coxas.
E agora permita que a consciência desça para habitar os joelhos... e a
parte inferior das pernas... os tornozelos... a planta dos pés... o peito dos
pés. Pode convidar a consciência a entrar mesmo nos dedos dos pés? O
que sente aí? Talvez tenha uma sensação intensa, ou talvez de
embotamento, ou dormência. Não importa. O que importa é que está
consciente da sensação.
E agora alargue a consciência para que ocupe todo o corpo. As pernas...
o tronco — à frente, atrás, dos lados... os braços, o pescoço e a cabeça.
Você percebe a respiração no corpo inteiro? Expandindo-se muito
suavemente na inspiração e recolhendo-se na expiração? Caso sinta dor
ou desconforto, poderá deixar que essas áreas sejam delicadamente
massageadas e aliviadas pelo ritmo delicado da respiração natural —
permitindo que a respiração se sature de ternura e bondade?
Enquanto repousa no fluxo natural e contínuo do movimento do corpo
na respiração natural, talvez repare que as sensações também se alteram
continuamente. Aquilo que você pensa como “dor” ou “desconforto” é
na verdade composto por sensações mutáveis que ganham existência e
desaparecem, momento a momento, e nós só experimentamos esse fluxo
de sensações um momento de cada vez. A “dor” e o “desconforto” não
são tão sólidos como é costume pensarmos. Você percebe quão fluidas
as sensações são, como a respiração, ao repousar no corpo a respirar,
repousando numa noção de mudança e fluxo em todo o seu corpo,
momento a momento, enquanto permite que a respiração seja gentil,
terna e bondosa?
Conclusão
E agora concluímos este curto Escaneamento Corporal baseado na
respiração. Abra os olhos e, com gentileza e cuidado, mexa o corpo.
Poderá talvez formar uma intenção de ser acompanhado por esta
consciência mais fluida e flexível do seu corpo à medida que retoma as
atividades do seu dia. Permita que a sua experiência seja saturada por
uma respiração bondosa e gentil, independentemente daquilo com o que
se ocupar.
PENSAMENTOS FRENÉTICOS
Ir dormir
Sentir-se em pânico
Uma vez por hora, pare e fique imóvel por uns momentos. Leve a
consciência ao interior do corpo, para repousar nas sensações físicas da
respiração. Se reparar que está segurando a respiração, veja se pode
relaxá-la um pouco. Também pode levar a consciência à respiração à
medida que se ocupa da vida quotidiana. De cada vez que reparar que
está contendo a respiração para se defender de dor ou desconforto,
pratique respirar dentro dessas sensações com gentileza e ternura,
suavizando a respiração e relaxando qualquer tensão que sinta.
Quando Mike passou a fazer isto, percebeu algo simples, mas profundo.
Reparou que a respiração está sempre mudando e isso era algo que a sua
mente considerava cada vez mais interessante. Ficou fascinado pela
forma como a respiração é sentida, como um fluxo constante de
movimento e sensações. Foi capaz de relacionar isto com a dor e o
desconforto. Também esses se alteravam continuamente – nunca eram
exatamente iguais de um momento para o seguinte. Desta forma, ele
mudou a sua relação com a dor: em vez de a ver como um inimigo estático
a ser derrotado, adotou uma abordagem suave e passou a experimentá-
la como um processo de sensações em mudança.
“Muita gente fica tensa quando sente dor”, diz Mike. “As pessoas têm
medo dela e tentam evitá-la. Mas não devemos ter medo, se podemos
ter ajuda. É preciso alguma coragem para encarar a dor, mas, quando o
fazemos, apercebemo-nos de que não é uma coisa dura, sólida ou
imutável. É como a respiração — e tudo o mais na vida; muda de um
momento para o outro. Muitas vezes, não é tão ruim como pensamos que
vai ser. Quando olhei com mais atenção, a dor começou a dissolver-se.
Havia alturas em que era agradável, de uma forma inesperada. Encontrei
calor, formigamento e uma espécie de tensão muscular que era como se
tivesse acabado de fazer algum exercício saudável.”
O ato de simplesmente observar a dor com aceitação calma pode
começar a transformar o sofrimento. Isto acontece ajudando-o a
relacionar-se de forma diferente com sensações dolorosas. Como vimos
no Capítulo Dois, pode começar a vê-las como eventos meteorológicos
mutáveis no céu. Às vezes há uma tempestade violenta. Outras vezes há
nuvens num dia bastante ensolarado. Mas uma coisa permanece: o céu.
O tempo pode mudar, mas o céu permanece sempre. Mike começou a
ver a mente como o céu e a dor como o tempo. A dor, como o tempo,
está sempre mudando. E, às vezes, não há uma única nuvem no céu.