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Tendo em vista o aumento na taxa de insuficiência, especialmente da leitura e da interpretação,

encontrada nas avaliações de língua portuguesa do Sistema de Avaliação da Educação Básica


(Saeb), divulgado em 2021, esse projeto se propõe a contribuir para a formação dos discentes
dos cursos de Letras-Português (CCHLA) da Universidade Federal da Paraíba – UFPB,
campus I, localizado em João Pessoa - PB, e demais interessados, oferecendo ferramentas
básicas para análise dos mais diversos gêneros de textos que fazem parte da esfera da
educação básica, tais como a literatura, a canção, os objetos semióticos visuais (ex. imagens,
pinturas, esculturas) e verbovisuais (ex. cinema, memes, HQs, charges, propagandas, etc),
com ênfase nos textos multimodais e multissemióticos. Em 2018, a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), do ensino médio, foi aprovada; no ano anterior, o Conselho Nacional da
Educação (CNE) já havia deliberado a BNCC do ensino fundamental e da educação infantil e,
desde então, a Base tem sido utilizada para a elaboração dos currículos de todas as etapas da
educação básica no território brasileiro. Trazendo referências dos antigos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), a BNCC privilegia o uso dos gêneros discursivos em sala de
aula e, como caráter de novidade, evoca fortemente aos gêneros multissemióticos (e
multimodais), dando ênfase à semiótica e às multissemioses presentes nas diferentes
textualidades, incluindo as produções digitais. A Base propõe quatro eixos de integração para o
ensino da Língua Portuguesa, que são correspondentes às práticas de linguagem: i. oralidade;
ii. leitura (em textos escritos, orais e multissemióticos); iii. produção (escrita e multissemiótica);
iv. análise linguística/semiótica (envolvendo os modos de organização e os elementos de
outras semioses além do sistema da língua e da escrita) (BRASIL, 2018). A respeito da
interpretação de objetos multissemióticos, no eixo análise linguística/semiótica, lemos:"levará
em conta as formas de composição e estilo de cada uma das linguagens que os integram, tais
como plano/ângulo/lado, figura/fundo, profundidade e foco, cor e intensidade nas imagens
visuais estáticas, acrescendo, nas imagens dinâmicas e performances, as características de
montagem, ritmo, tipo de movimento, duração, distribuição no espaço, sincronização com
outras linguagens, complementaridade e interferência etc. ou tais como ritmo, andamento,
melodia, harmonia, timbres, instrumentos, sampleamento, na música." (BRASIL, 2018 p.77).
Todos esses elementos são comuns, em maior ou menor medida, aos semioticistas de filiação
saussuriana; a disciplina da semiótica discursiva ramificou-se em vertentes e aplicações
distintas, tais como a semiótica da canção, do cinema, do timbre, da tensividade (que dá conta
dos elementos referentes ao ritmo, duração, andamento e temporalização), das práticas
sociais, visuais, etc. No entanto, apesar da homologação da BNCC há seis anos, a formação
de docentes nos cursos de licenciaturas em Letras ainda não oferta obrigatoriamente uma
disciplina específica de semiótica – e, em muitos casos, não há nem ao menos a possibilidade
de cursá-la como disciplina optativa, impossibilitando um estudo sistemático da ciência da
significação e suas aplicações nas variadas linguagens. O presente projeto visa, por meio da
extensão, suprir parte dessa lacuna, propiciando aos futuros docentes, atualmente cursistas da
licenciatura Letras-Português, na UFPB, o contato com as premissas epistemológicas, teóricas
e analíticas da disciplina semiótica. A escolha da teoria semiótica discursiva, que pode ser
aplicada ao ensino fundamental II e médio, decorre-se principalmente por, ao se filiar aos
estudos saussurianos da linguística, oferecer uma metodologia consistente para a análise dos
planos do conteúdo e da expressão, em textos verbais e não verbais, e também os
sincréticos/multissemióticos/multimodais, em conformidade com a Base Nacional Comum
Curricular - BNCC e com os componentes curriculares.

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