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Memória semântica – Aula 3

 Semântica refere-se a “saber coisas” - Conhecimento que eu tenho e sei que tenho;
Aprendi-o algures e armazenei-o comigo;
 Memória semântica: Binder & Desai (2011): É o armazém de conhecimento do
mundo de um indivíduo. O conteúdo da memória semântica é abstraído a partir
da experiência e é tido como conceptual, ou seja, generalizado e sem referência a
nenhuma experiência específica.
 A memória semântica normalmente contrapõe-se com aquilo a que chamamos
memória episódica (saber que fiz umas férias em Paris é memória episódica). Em
termos fenomenológicos (o que sentimos quando estamos a usar a memória)
evoca-nos coisas diferentes – memória episódica evoca sempre um contexto
específico e não conhecimento do mundo.
 Nesta aula vamos abordar o conhecimento e estruturação da informação recebida;
 As questões fundamentais de Conhecimento dentro da Psicologia Cognitiva da
Memória:

- Como é que ela é armazenada?

- Como é organizada?
 Fomos sempre acumulando conhecimento ao longo do crescimento, há modelos
de como esse conhecimento se organiza – As abordagens clássicas explicam a
organização, o acesso e recuperação.
 Falando de uma estrutura de conhecimento em memória, temos que evocar a ideia
de representação – existe o mundo real e o mundo representado.
 Conceito: É a representação mental. Ex: o conceito de cadeira é a ideia que eu
tenho de cadeira na minha memória.
 A maior parte do conhecimento que vamos falar é o Conhecimento proposicional.
Proposições: Relação entre dois conceitos cuja veracidade pode ser verificada.
 Podemos usar este tipo de proposições para tentar perceber como usamos o
conhecimento.
 Para se estudar a organização do conhecimento foram usadas 2 tarefas principais
que estão no topo dos métodos – tarefas de verificação semântica e as tarefas de
decisão lexical.
 Verificação semântica: É pedido ao participante que leia um conjunto de
proposições e responda o mais rapidamente possível se aquela proposição é
verdadeira ou falsa;
 Tarefas de decisão lexical: apresenta-se um conjunto de estímulos (conjunto de
letras) e a nossa tarefa é determinar o mais rapidamente possível se aquele
conjunto forma uma palavra ou não (palavra e pseudo-palavra – palavra que não
quer dizer nada);
 Ambas são tarefas fáceis, o que vamos observar é o tempo de reação. Tenta-se
medir o tempo que o participante leva até dar uma resposta ao estímulo consoante
as várias características do estímulo;
 Em termos de teorias, o que inspirou os primeiros modelos teóricos foi a
complexidade. Em teoria, a capacidade da MLP é ilimitada e a memória no
imediato é limitada e, além disso, a memória semântica é ilimitada – o problema
é ir lá buscar a informação ( Ex.: Imaginemos que, em vez de termos a informação
bem organizada, cada cão com que nos cruzávamos estava armazenado na nossa
memória e cada vez que víamos a foto de um cão, tínhamos que cruzar a foto
daquele cão – a imagem daquele cão - com todos os cães com quem nos tínhamos
cruzado para percebermos se era o mesmo tipo) – isto seria demasiado complexo
e despenderia imenso tempo. Não havendo tempo e sendo necessário
evolutivamente estarmos adaptados e flexíveis para conseguirmos dar resposta ao
mundo e fazermos uso do conhecimento que temos, terá de haver algum principio
de eficácia – princípio da economia cognitiva e busca da eficácia – de forma a
organizarmos a informação para sermos mais rápidos no processamento.
 As primeiras propostas andavam muito à volta da organização em termos de
categoria, em termos de semelhanças – ou seja, que organizaríamos os vários
conceitos do nosso conhecimento do mundo e termos e categorias e de
semelhanças.
 O primeiro modelo teórico da memória semântica foi inspirado pelas
preocupações e inspirado pela investigação em ciências da computação. Quillian
trabalhava com computadores e tinha desenvolvido um modelo de organizar
informação eficazmente. Isto inspirou Collins que, com ele, adaptou aquele
modelo de computadores para fazer previsões acerca da forma como a informação
é estruturada pelo ser humano. Este modelo tinha uma particularidade: era muito
especifico e era muito fácil derivar hipóteses testáveis. Isto constituiu o modelo
hierárquico Collins & Quillian (1967, 1969) – eles propunham que a memória
semântica estaria organizada numa série de redes hierárquicas. Nestas redes
constam os vários conceitos e eram representados por nódulos e cada nódulo teria
associado a si características (linguagem da computação e não das neurociências).
Nas redes hierárquicas, existirá o nódulo conceptual (Ex.: o conceito de salmão
tem associado a si várias características – ser rosa, ser comestível, etc).
 Porque é que estas informações estão organizadas hierarquicamente? Seguindo o
princípio da economia cognitiva, estes autores propõe que as características
associadas a conceitos vão ser armazenadas tão acima na hierarquia quanto
possível, de maneira a que não seja preciso estar a repetir associações de
características entre vários conceitos. Exemplo: (temos uma estrutura em
pirâmide) temos no topo “animal”, no meio “pássaro” e no fim “canário” – esta
ideia da hierarquia enquanto princípio de economia cognitiva: a característica
“pode-se mover” e “come” está associada ao conceito de animal, não está
associada ao conceito de pássaro nem de canário. “pássaro” associado a si tem
características como “pode voar” / “tem penas” etc e o canário “é amarelo” e
“pode cantar”.
É como se o sistema arruma-se/empurra-se o mais possível para cima o
armazenamento das características – isto seria a forma como o conhecimento se
ia organizando.
 Portanto, ao não estarmos a listar a mesma propriedade (ex: canário – “come” /
“respira” ; pássaro - “come” / “respira” ou tubarão - “come” / “respira”) em vez
de estarmos sempre a repetir, listamos isto apenas no nível hierárquico superior
máximo.
 Este modelo faz várias outras assunções, que podem ser testadas. Este modelo
assume que recuperar uma propriedade ou mudar de nível requer tempo. Isto quer
dizer que, para verificar se (exemplo) o canário é amarelo, é preciso ativar o nome
canário e recuperar em amarelo.
 Mudar de nível também requer tempo. (exemplo) “O canário tem asas?” - para
averiguar a veracidade desta proposição tenho que ativar canário, como ali não
está aquela característica, tem que se ir a nível seguinte e recuperar “tem penas”.
– leva tempo mental.
 Os tempos dos espaços dependentes são de natureza aditiva – é o tempo de subir
de nível e de recuperar a propriedade ou somar estes tempos.
 O tempo de recuperação de uma propriedade é independente de nível do nome
correspondente. Ou seja, recuperar uma propriedade no fim é igual a recuperar
uma propriedade no inicio.
 Perante 2 frases: “Um canário pode voar” e “Um canário canta” – qual é a mais
rapidamente verificada? – A resposta é: “O canário canta” - porque para “O
canário pode voar” tenho que subir de nível e recuperar a propriedade; enquanto
que para “Um canário canta” tenho que recuperar a propriedade – 1 passo é mais
rápido que 2 passos.
 Neste estudo, as proposições podem ser de 2 tipos: a frase pode ser diretamente a
fazer relação entre níveis hierárquicos OU pode estar a fazer relação entre um
conceito e uma característica.
 Subir de nível hierárquico “O canário é um pássaro” para “O canário é um animal”
vai levando cada vez mais tempo.
 Recuperar uma propriedade demora cerca de 300 milissegundos. “O canário é um
pássaro” e “O canário pode voar” é quase equivalente o tempo que se leva a
verificar.
 Este tempo teve muito sucesso, mas rapidamente começaram a ser apresentadas
falhas (falhas no sentido de quem escreveu não conseguia explicar). Algumas
limitações levantadas foram: a frequência das propriedades ou a familiaridade de
determinadas características – por exemplo: “aquele canário é amarelo” e “o
canário tem pele” – estas duas frases não diferem apenas no nível hierárquico. É
nos mais familiar a ideia que o canário é amarelo do que a ideia de que o canário
tem pele – isto é problemático para o modelo. A questão aqui é que afinal o que
está em causa não é nível hierárquico nenhum, é quão familiar é esta propriedade.
 Conrad (1972) manipulou as 2 variáveis, portanto tinha dados acerca da
familiaridade de diversas propriedades e dados acerca do nível hierárquico,
manipulou-as e viu que, numa tarefa de verificação semântica, os tempos de
reação das verificações são uma função linear da familiaridade das proposições.
Ou seja, quanto mais familiares, mais rápido os participantes respondem. Parece
que a familiaridade é melhor preditor da velocidade de verificação das
proposições do que o nível hierárquico.
 Quando controlada a familiaridade, o efeito da distancia hierárquica desaparece.
Portanto, quanto encontramos estímulos em que o nível hierárquico é diferente
mas o nível de familiaridade é o mesmo, já não há diferença nenhuma –
problemático para o modelo.
 Outra crítica é de que a conceção de categorias desses autores é extremamente
rígida – é uma formulação de categoria muito mais rígida do que aquilo que é o
seu uso no dia-a-dia (no dia-a-dia é mais flexível). No estudo de McCloskey &
Glucksberg (1978) faziam várias perguntas sobre conceptual e categorial dos
participantes um pouco dúbios (por exemplo: “A abóbora é um fruto?/ “O enfarto
é uma doença?”) – Não havia uma taxa de acordo alta entre os participantes, ou
seja, os participantes não concordavam muito em que categoria se colocava a
abobora e o enfarto. Para além disso, foi feito um pós-teste 1 mês depois e uma
considerável percentagem dos participantes mudava a sua resposta 1 mês depois
– problemático para o modelo, não há espaço para este tipo de flexibilidade num
modelo destes.
 Além disto, parece que as pessoas tendem a usar critérios diferentes para
categorizar. Exemplo - pessoas usam critérios diferentes para categorizar aquilo
que considera fruta, mobília, etc… Da mesma forma, usam pontos de corte
diferentes para separar as categorias – revela alguma vaguez e ambiguidade do
nosso uso normal e categorias (Verheyen & Storms, 2013).
 Por último e uma das principais limitações é não levar em conta a
tipicidade/tipicalidade (parecido com familiaridade) – Smith, Shoben e Rips,
1974) - : deve-se ao facto de que são muitas vezes encontrados tempos de reação
diferentes dentro da mesma categoria, mesmo quando têm que fazer o mesmo
caminho (exemplo: um canário é uma ave/ um pinguim é uma ave – as pessoas
são mais rápidas a dizer que o canário é uma ave porque é mais típico da categoria
“pássaro”) – há tempos de reação mais rápidos para o canário do que para o
pinguim e Collins & Quillian não conseguem dar uma resposta para o porquê. Em
suma, há dados que vão mostrando que os tempos de reação são mais rápidos
quando os membros da categoria são mais representativos da categoria.
 O modelo de Collins & Quillian não está feito para explicar as respostas falsas –
apontaram várias hipóteses mas não as testaram. Para responder falso, ou se segue
o método “The Contradiction Hipothesis” portanto que é parar de procurar na rede
hierárquica e parar quando se encontra o contrário. Outra hipótese é o “The
Unsuccessful Serch Hypothesis” que é andar à procura na rede toda e parar ao fim
de algum tempo ou “The Search and Destroy Hypothesis” que é uma procura
exaustiva ao longo de toda a rede associativa e semântica – não há dados para isto,
só é falado em termos especulativos.
 Exemplo do prof: O que seria mais fácil verificar? “O morcego é um pássaro” ou
“ O Morcego é uma planta” ? R: (Ambas são respostas falsas) “O Morcego é
um pássaro”, apesar de falso, pode nos levar a pensar mais porque há parecenças
(tem asas, etc então leva uma maior demora). Aqui surge então, outro modelo, por
parte de Smith e colaboradores que propõe o modelo de sobreposição de
características – The Feature Overlap Model – segundo estes autores, os conceitos
não são apenas nódulos, são na verdade uma lista bastante grande de
características e que não há uma divisão hierárquica das características mas cada
conceito tem associado a si uma lista de características e essas são de 2 tipos: as
defining features ou características essenciais e as Characteristic features ou
características típicas (não são tão necessárias para a existência daquele conceito
mas são típicas daquele conceito). A proposta diz-nos que isto não é uma
classificação “tudo ou nada”, ou seja, há várias características, as características
podem ser mais essenciais/definidores ou mais típicas e num estudo de Smith e
colaboradores é pedido que as pessoas façam correspondências de tipicidade de
instancias em relação a uma categoria (ex: “quão típico da categoria pássaro é o
rouxinol?” e as pessoas numa escala respondiam) – isto pode ser transposto para
uma distancia física (escanulamento multidimensional). A distancia física entre
os itens relaciona-se com a sua distância real em termos de características – o quão
próximo ou afastado um determinado item é perante uma categoria ou de outro
item. Ex: a categoria pássaro e animal – galinha, ganso e pato estão mais próximos
do conceito de animal e pisco e rouxinol mais próximos de pássaro.
 Isto muda o conceito de pertença a categorias - Pertença a categorias é uma
questão de grau. Enquanto em Collins & Quillians é hierárquico, aqui é uma
questão de grau.
 Rips recolheu evidência convergente. Utilizou um paradigma onde dizia aos
participantes que iam fazer uma tarefa de epidemiologia, pedindo que o
participante imaginasse que estava numa ilha cheia de pássaros e que havia uma
ave especifica com uma doença altamente contagiosa “estime a probabilidade de
ele passar a doença a outras aves”. Os participantes respondiam e depois
computavam-se correlações, por exemplo, se a ave infetada fosse um pato –
aparecia uma enorme probabilidade de infetar gansos, e aparece com
probabilidades baixas de infetar o pisco e prob medias de infetar a aguia. Da
mesma forma, a aguia aparece com probabilidades muito altas de infetar o falcão
e vice-versa. O pressuposto é que mentalmente, os participantes vão utilizar aquilo
que é a sua intuição da semelhança entre estes exemplares para dar a sua resposta.
Á partida, criaturas mais semelhantes vão passar mais a doença entre si – isto
mostra mais a noção de que acesso à categoria não necessita de conceptualização,
listar as características em níveis hierárquicos pq cada conceito é definido por uma
lista de propridades,, etc
 O modelo Pse funcionava como um motor (modelo 2 tempos). Estes modelos
foram criados para prever os resultados em tarefas de verificação semântica –
permitem-nos prever o quão rápidas vão ser as pessoas a responder a preposições.
Isto tem implicações gerais para as teorias psicológicas.
 Era apresentado o item de teste – preposição que se tem que verificar (frases iguais
a Collins & Quillians). A partir do momento em que é apresentada a lista, nós
mentalmente vamos recuperar as listas de características associadas aos dois
conceitos que estão relacionados na preposição e isto é feito de forma organizada.
Normalmente temos a informação de cada conceito organizada (1) primeiro
listamos as características essenciais, definidoras e (2) só depois as características
típicas.
 Ex: “será que o cão é um animal?” – mentalmente recuperamos a lista de
características do cão, lista de características do animal e tentamos computar (por
isso é que se chama The Feature OverLap). Pegamos nas 2 listas e vemos o quanto
elas se sobrepõe (vemos, i.e. o nosso sistema cognitivo) e tentamos determinar um
nível de semelhança (vamos chamar x a este nível de semelhança). Numa fase
seguinte, vai ser comparado este x de semelhança a dois quaisquer valores de
critério, portanto chega-se a uma segunda fase e SE (1) o valor de semelhança for
menor que o limite inferior – vamos dizer “não” muito rapidamente, (2) se o valor
de semelhança excede um outro determinado critério vamos responder muito
rapidamente “sim”. Isto explica que quando há conceitos que são muitooo
diferentes, damos uma resposta negativa muito rápido; por outro lado, às vezes o
x fica entre os 2 critérios e aqui é preciso haver uma comparação, deixando de
parte as características típicas e olhando apenas para as essenciais, olhando apenas
para as essenciais e ignorando as típicas vamos computar uma situação de “há
sobreposição” ou “não há sobreposição”. Este modelo explica as várias gradações
das respostas falsas, ao utilizar os dois caminhos propõe o que podemos ser mais
rápidos ou mais lentos a dar uma resposta falsa. Ainda assim, este modelo tinha
limitações, nomeadamente (1) a distinção entre características (típicas vs
essenciais) pode ser problemática e é artificial para maioria dos conceitos que
utilizamos – decidir o que é uma característica essencial ou apenas típica pode ser
problemática. Também, restringe a informação que pode ser utilizada numa tarefa
porque não comtempla a frequência de produção
 Um outro modelo que inspirou mais investigação “Modelo da dispersão da
ativação” (Collins & Loftus, 1975) inspirado nos trabalhos anteriormente falados,
propõe um modelo que deixa de ser hierárquico, portanto tem uma menor
economia cognitiva do que o modelo Collins & Quillians. Considera que cada
conceito está representado enquanto nódulo e que vai fazer associações com
outros conceitos, ora quanto mais elementos em comum 2 conceitos tiverem entre
si mais associações ou associações mais fortes vão existir entre si. (2) Sempre
que nos é apresentado um determinado conceito, vamos ativar esse conceito. A
ativação vai se espalhar por todas as ligações (se ativamos a palavra “nuvens”,
vamos também ativar “pôr-do-sol” por exemplo)
 Este modelo comtempla diferentes tipos de associações – há associações mais
fortes e mais fracas – em mais fortes, a dispersão da ativação vai ser mais rápida
e em mais fracas vai ser mais lenta. Modelo muito mais geral, pode incorporar
várias teorias em si; ao mesmo tempo é menos especifico nas previsões. Ainda
assim, há uma fonte de evidencia que dá suporte a esta abordagem da ativação
(quando temos um estímulo, vamos ativar esse conceito mentalmente e essa
ativação vai se espalhar por tudo o que lhe é semelhante, até desvanecer). As
principais fontes de evidência vêm de investigação em primação associativa – há
vários tipos de primming.

Aula 4
 Tendemos a, através do nosso contacto com o mundo, organizar a informação em
categorias que se podem pôr em 3 níveis de abstração: o nível subordinado, o
nível básico e o nível super-ordenado. Curiosamente, o que a investigação foi
mostrando é que humanos têm uma preferência pelas categorias do nível básico.
Tende a ser o primeiro a ser apreendido e, para além disso, há alguma estabilidade
intercultural. Devia ser de estranhar por não ser nem a categoria mais especifica
nem a mais inclusiva.
 Começou-se a estudar isto em pacientes que tinham sofrido infeção de herpes
simplex, que pode viajar e infetar o sistema nervoso
 Caso dos pacientes: ambos sobreviveram mas tiveram lesões extensas nos
lobos temporais bilateralmente. Aqui havia um padrão estranho, não só
nestes mas noutros pacientes, em tarefas simples, nomeadamente
identificar imagens e definição de palavras.
 Começou a aparecer um quase-défice a identificar definir coisas vivas e
performance relativamente intacta em coisas não vivas (objetos).
 Isto começou a chamar a atenção a investigadores, que propuseram até
“talvez os seres humanos venham munidos desta capacidade de dividir o
mundo – classificar desde logo o mundo entre coisas vivas e coisas não
vivas” adaptativamente seria muito útil. Warrington & Shallice (1984)
tentaram apresentar esta abordagem mas a explicação para estes dados em
vez de dizer “categorizamos o mundo em coisas vivas e não-vivas”
disseram “organizamos a informação por tipo de propriedades” – as coisas
vivas e não-vivas parecem depender, para a sua organização, de duas
classes essenciais de propriedades: propriedades funcionais e propriedades
sensoriais (principalmente visuais). Isto quer dizer que, para perceber o
que é um objeto é muito mais importante perceber o que eu posso fazer
com ele (ex: olho para uma cadeira e as propriedades funcionais de uma
cadeira (que dá para sentar) são muito mais importantes que as visuais.) Já
nos seres vivos é ao contrário, portanto as propriedades visuais são o mais
importante para eu perceber “aquilo é um cão” – propuseram esta teoria
em que programaram o modelo para ser alimentado para os estímulos e
“lesionaram” semelhantes às que estavam nos pacientes – lesionaram a
capacidade de processamento de propriedades visuais e de propriedades
funcionais. Viram que, quando se lesionava a capacidade visual a
performance de coisas vivas diminuía, e quando se tirava a das funcionais
os objetos diminuíam. O maior decréscimo acontece quando se elimina a
componente das propriedades funcionais – quando se elimina a
componente das propriedades visuais há um decréscimo de performance
mas não tão grande. Segundo os autores, isto tem uma razão – é que no
sistema cognitivo há 3x mais unidades de processamento visual do que
funcional.
 Como descobriram? Num dicionário, havia 3x mais descritores de cariz
visual do que funcional. (organizamos a informação em termos de aspetos
visuais e funcionais)
 Há autores que dizem que as propriedades funcionais podem-se sub-
dividir, as sensoriais também…
 Outra forma de pensar em categorias enquanto organização de
conhecimento vem do contributo de Sur… que propôs uma teoria baseada
nos esquemas (em contraste com Ebbinghaus) e Segundo Bartlett (1932):
“Esquemas são estruturas de conhecimento superordenado que refletem
comunalidades de múltiplas experiências”; segundo ele, o impacto que
tem na nossa performance é que lembramo-nos de acordo com os
esquemas, não de acordo com o que aconteceu
 Em termos de esquemas culturais – vão determinar a forma como nos
vamos lembrar
 Há dois tipos específicos/principais de esquemas: guiões/scripts e
enquadramento/frames
 Um guião é um esquema de conhecimento que contém informação sobre
eventos e consequências de eventos. Script de ir a um restaurante: quando
entro no restaurantes já sei o que vai acontecer (vou me sentar, vou pedir
o menu…) – sequência de eventos.
 Outro tipo: enquadramentos – estruturas de conhecimento que contém
informação sobre objetos e as suas propriedades, havendo duas
componentes: estrutural fixa e uma em que sabemos que há variação (ex:
o edifício onde estou e aquele ali do lado cabem os dois no mesmo
esquema mas a altura pode variar, a cor também, etc).
 Vamos falar mais de Frames/enquadramento – contribuem para falsas
memórias. São altamente uteis, pois ajudam-nos a criar expectativas sobre
o que vai acontecer (estado de preparação para o que vai acontecer então
não gastamos tantos recursos a analisar uma situação); permite-nos
preencher os vazios fazendo inferências (sempre que algo não é dito ou
escrito, conseguimos inferir o que está ali em falta); facilita-nos a
percepção visual.
 Como é que se alimenta a memória semântica? Como é que aumento a
probabilidade de ter um bom desempenho numa tarefa que exija
conhecimento adquirido? Há muitas respostas – fala-se no papel da
repetição; falam-se em alguns efeitos:

(1) Efeito da prática distribuída – diz respeito ao treino/prática.


Diz-nos que dividir o estudo em sessões mais curtas promove
melhor retenção do material estudado quando comparado
com uma sessão longa – exemplo prático: é melhor estudar
espaçadamente do que na véspera. Ebbinghaus e Baddeley
repararam nisso.
- foi feito um estudo em 4 grupos e o grupo com mais
espaçamento (1 sessão de 1h por dia) foi o que aprendeu mais
rapidamente = melhor performance, e o com menos (2
sessões de 2h de treino por dia).

(2) Efeito em massa – intercalar estudos - ex: estudar psi. Social,


plam e cognitiva no mesmo dia - porque aqui já estamos a
espaçar no tempo, e quando se volta a estudar depois do
período de pausa ou de estudo de outra disciplina é mais
difícil voltar. Quando estamos com o conhecimento ativo
(lançados) é tudo mais fluido e a fluência é um mau indicador
de que estamos a aprender. Se estiver demasiado fluido,
estamos a privar-nos de fazer um esforço no processamento
que parece proteger o esquecimento. Conclusão: é sempre
melhor o espaçamento do que o estudo em massa. Os effect
size são maiores para tarefas mais simples e menores para
tarefas mais complexas mas são sempre vantagens.

Problemas de matemática de Pashler et al. (2007):


- a performance das pessoas que fizeram em massa caiu, e de
quem fez espaçadamente manteve.

(3) A investigação tem apontado para a importância dos testes –


parece que testar a nossa memória protege mais contra o
esquecimento do que voltar a estudar. Estudar e voltar a
estudar e estudar e fazer um teste, se depois a longo prazo
vamos fazer outro teste parece ser o melhor.
Deram o nome de prática repetida – efeito da recuperação.
(4)

Aprendiam palavras no duolingo e depois eram testados (aparece


a palavra em inglês e têm que dizer a palavra noutra língua)
dividiu os participantes em 4 grupos e todos estes participantes
tinham que fazer 3 ciclos de testes – estudavam a lista de palavras
e faziam um teste, depois voltavam a estudar e faziam um teste e
depois um teste final. Num grupo, todas as palavras que
estudavam apareciam no teste; noutro grupo, no 2 e 3 ciclo de
teste as palavras que eles acertaram antes, param de ser
apresentadas; no grupo 3, há medida que iam acertando e volta a
aparecer tudo no mesmo teste. Não houve diferença nenhuma. 1
semana depois: vê-se uma clara vantagem em que o teste estava
sempre presente.
(5)

- o efeito da prática de repetir e do espaçamento parecem agir


diretamente nas memórias – criar memórias mais robustas ao
esquecimento a longo prazo – a motivação não consegue ter
efeito nisso.

- Ebbinghaus e a repetição: (1) a profundidade do processamento


aquando do estudo da codificação parece prever mais uma boa
performance do que a repetição.

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