Você está na página 1de 8

Pensamento e Linguagem

Representações Simbólicas

Consistem em quando o pensamento não se traduz em imagens (tipo fotografia),


mas sim através de relações subjacentes (com maior complexidade).

Elementos do pensamento simbólico: Conceitos e Proposições

Representações Simbólicas - Conceitos

Latim “conceptus” → significa "coisa concebida" ou "formada na mente" → são aquilo


que pensamos.

A representação mental de qualquer objeto, evento ou padrão, que tem guardado em


si o conhecimento relevante sobre os mesmos (como se estivesse dentro de uma
caixa tudo o que conhecemos sobre o objeto).

Os conceitos são generalizações, produto da categorização realizada com base na


identificação de atributos relevantes (traços distintivos), partilhados pelas entidades
que integram uma mesma categoria. A partir da categorização, percebemos que há
objetos que partilham a mesma categoria.

Por ex: habitação. Podemos pensar em vários tipos de habitação. Apesar de serem
diferentes, partilham todos características comuns de habitação.

Funções dos conceitos

1. Categorização
São os conceitos que nos permitem categorizar.
1. Permitem ultrapassar a complexidade e diversidade do meio com que
interagimos. Permite lidar com cada elemento individual que faz parte de
um grupo (ex: ver um automóvel e podemos categorizar pela marca).
2. Reduz a necessidade de aprendizagem constantes e liberta o cérebro
para processos mais complexos. As pessoas baseiam-se nos conceitos
existentes para compreender novas entidades.
3. Permite a aprendizagem. Quando encontram um membro de uma
categoria com uma propriedade nova, usam-no para modificar e
atualizar os seus conceitos. (ex: alguém que só pensava em família como
a conceção de família tradicional, ao encontrar uma família
monoparental, vai ter de atualizar o seu conceito de família, atualizando-
o).
4. Ajudar o planeamento.
5. Ajuda a guiar o nosso comportamento, para além do nosso pensamento
(ex: aprender a distinguir cogumelos que podemos comer e que não
podemos comer é fundamental para o pensamento e para a nossa
sobrevivência).
Pensamento e Linguagem
2. Comunicar
Comunicamos através de conceitos.

Na essência da formação dos conceitos está a seleção (apropriada) dos atributos.

Do conjunto de características de um determinado objeto, umas são atributos


relevantes para a inclusão do objeto numa categoria, e outras atributos irrelevantes.

Ex: muitas crianças consideram a baleia como pertencente à categoria dos peixes-
erro conceptual. É um erro pois a criança está a basear-se em atributos
irrelevantes (viver na água) para a atribuição da categoria “peixes”.

Os erros conceptuais correspondem a processos deficientes de categorização,


devido a avaliação inapropriada da relevância dos atributos.

Por que vias se foram os conceito?

Na essência da formação dos conceitos está a seleção dos atributos, e este


processo segue dois tipos de vias:

➔ Via Natural e Intuitiva – dá origem ao chamado “Conceito natural”- categoria


mental formada como resultado da experiência quotidiana. É uma via
informal, pois não corresponde a aprendizagem escolar. É normal que
pessoas com apenas esta via fazem muitos erros conceptual.
➔ Via Formal e Sistemática – dá origem ao chamado “Conceito formal” -
categoria mental que é formada através da aprendizagem de sistemas
classificatórios que apresentam regras ou aspetos que a definem.

Os dois caminhos conceptuais não são antagónicos (contraditórios)

Hierarquia de níveis de categorização

1. Categoria de nível mais elevado (sobre-ordenado) – categorização mais


geral
2. Categoria de nível básico – o mais usado no dia-a-dia
3. Categorias de nível mais baixo (Sub-ordenado) – categorização mais
especifica.

A categoria de nível básico é o mais usado no dia-a-dia. Porquê?

➔ O nível sobre-ordenado dá pouca informação e integra diferentes elementos


entre si que não tem suficiente aspetos em comum (p.e.: tipos de mobília) com
demasiada diferenciação
➔ O nível Sub-ordenado dá demasiada informação

Por isso é que usamos mais o nível básico. Os conceitos deste nível são os que são
usado para fazer referência a entidade em situação típicas do dia-a-dia, se não
existem boas razões para sermos mais genéricos (usávamos o nível sobre-
Pensamento e Linguagem
ordenado) ou mais especifica (usávamos o nível sub-ordenado se ambos os
intervenientes da conversa são específicos do assunto ou quando necessitamos de
diferenciação).

O nível básico de categorização é o mais relevante para os indivíduos no quotidiano:

➔ A criança adquire mais facilmente conceitos deste nível


➔ É o nível mais utilizado espontaneamente pelos adultos
➔ É o nível que conseguimos produzir mais atributos com mais facilidade (p.e.: é
mais fácil nomear atributos de “bola” do que “jogos”)
➔ É o nível que nomeamos os estímulos, com mais frequência e rapidez (p.e.:
quando vemos uma foto, dizemos com mais rapidez que é “mesa” do que
“mesa de cozinha).

Modelos de propagação de ativação do processamento semântico/associativo

Os conceitos são representados por nós. Quanto mais próximos forem (cão e gato),
mais tem a ver a nível semântico/associativo. Quanto mais afastados forem, mais
são diferentes são a nível semântico/associativo.

A proximidade (curta distância entre o nós – quando pensamos num é mais fácil
pensar no outro) é baseada em:

➔ níveis da hierarquia de categorização (e.g., animal-cão)


➔ mesmo nível da hierarquia (e.g., maçã-laranja)
➔ aspetos definidores (e.g., canário-canta)
➔ associações contextualmente aprendidas (e.g., rato-queijo)

O nó é ativado quando a pessoa pensa sobre o conceito, e esta ativação estende-se


progressivamente a outros nós. É por isso que o pensamento vai fluindo (pensamos
em cão e pensamos em gatos).

Evidencias destes modelos

1. Tarefa de ativação de categorias semânticas lata


Ex: Pense numa palavra pertencente a uma determinada categoria
semântica, iniciada por uma certa letra…
Uma vez ativada, a categoria semântica permanece nesse estado durante
algum tempo. Quando é ativada a categoria “fruto” há uma ativação que
permanece algum tempo e por isso torna-se cada vez mais rápido dar
exemplos dessa categoria.
2. Efeitos de priming (efeito de algo anterior que tem na tarefa seguinte)
semântico em tarefas de decisão lexical
Quando ouvimos/lemos uma sequência de sons/letras, a primeira tarefa é
determinar se é ou não uma palavra.
Pensamento e Linguagem
Isto envolve uma procura no léxico mental (ouvimos a palrava e procuramos
se está no nosso léxico) e tem uma duração muito pequena.
Quanto maior a relação, mais rápido seremos na tomada de decisão (se é
uma palavra ou não).

Conceito e Palavra

A palavra (ou signo linguístico) é uma entidade psíquica de duas faces, formada pela
reunião do significado (que designa o conteúdo semântico) com o significante (que
designa a imagem acústica ou gráfica – são as letras).

O signo linguístico é abstrato (a palavra “profissão” não tem nada a ver com as
várias profissões). A relação entre significado e significante é arbitrária e deve ser
memorizada na infância.

Diferença entre Palavra e Conceito?

A palavra nomeia o conceito (é a palavra que permite dar nome e falar sobre o
conceito). O conceito corresponde ao significado da palavra.

Uma palavra pode remeter para diferentes conceitos (i.e., diferentes significados) e,
eventualmente, o mesmo conceito pode ser referenciado por diferentes palavras.

Ativação- (Spreading Activation Network Model) -> Podemos não saber o significado
de uma palavra que nos dizem, ou que nós próprios dizemos. Neste caso, não se dá
ativação. Não há ativação pois são os conceitos que a ativam e não a palavra em
si.

Representações Simbólicas – Proposições

Combinação mental de vários conceitos para representar conteúdos mais


complexos. Estamos a relacionar conceitos. Formas de especificar relações entre
diferentes conceitos

A proposição corresponde à mais pequena unidade de conteúdo que pode ser julgada
como verdadeira ou falsa. Tudo que o não pode ser julgado com verdadeira ou falsa,
não é uma proposição. A proposição é o pensamento.

➔ Exemplo: Carteiro- pode ser julgado como verdadeiro ou falso? Unidade mais
simples. Carteiro por si só não relaciona nada, remete apenas para um
conceito.
➔ Proposição: Os cães mordem geralmente os carteiros. – Estamos a
relacionar conceitos e a permitir que possamos avaliar a proposição como V
ou F
Pensamento e Linguagem
Relação Pensamento e Linguagem

Na comunicação, usamos frases para exprimir proposições. No entanto nem todas


as frases expressam proposições:

➔ pedido
➔ ordem
➔ pergunta

A expressão linguística de uma proposição é uma frase que relaciona um sintagma


nominal (Sujeito) + sintagma verbal (Predicado).

Representação analógica e proposicional de pintarroxo

A representação analógica é: A proposição é: Esquemática


Percetual Abstrata
Concreta Verbal
Não verbal

Modelo Clássico/ Da Definição

Uma categoria é definida por um conjunto de aspetos (átomos semânticos),


necessários e suficientes que definem a pertença à categoria.

David Hume (1711–1776) foi um dos primeiros a afirmar a noção de conceitos


complexos, construídos através da união de conceitos mais simples.

Ex: Conceito de Maçã é composto por átomos semânticos (vermelha…) suficientes


para nós não confundirmos com outros conceitos.

Os conceitos são representados na mente tal como as palavras estão


representadas no dicionário:

➔ bachelor: “um homem adulto que nunca se casou” – São os aspetos


necessários e suficientes para categorizar um bachelor. Outros atributos
(alto ou baixo) são atributos irrelevantes.
Pensamento e Linguagem
Categoria do quadrado?

Aspetos definidores:
 quatro lados
 quatro ângulos
 todos os lados são iguais
 todos os ângulos são iguais.

Cada aspeto é necessário para que um objeto seja um quadrado. Os quatro aspetos,
em conjunto, são suficientes para um objeto ser um quadrado.

Como identificamos a pertença de um elemento a uma categoria? Comparando-o


com os aspetos definidores dessa categoria.

➔ Implicações: Categorias relativamente homogéneas, com limites distintos entre


si.

Categoria de ave?

Aspetos definidores - é difícil encontrar aspetos definidores necessários e


suficientes. As aves voam? Nem tudo o que voa é ave. O facto de não conseguirmos
encontrar aspetos necessários e suficientes para o conceito de ave, poem em causa
o modelo.

Problemas deste modelo:

1. Dificuldade ou impossibilidade de identificar atributos que caracterizem


igualmente todos os exemplares da categoria
2. Existência de atributos partilhados por exemplares de diferentes categorias.

Em suma, onde começa e onde acaba uma categoria é impreciso (p.e.: o tomate).

Falando na categoria dos jogos:

➔ Outro aspeto é o facto de membros da mesma categoria podem não


partilhar características (p.e.: há jogos em que há competição entre equipas e
há jogos em que se joga sozinho sem competição)
➔ Os membros de categorias diferentes partilham características iguais (p.e.: o
debate não pertence há categoria do jogos, mas partilha características com
os jogos – competição, regras e é divertido).

Acima de tudo, o grande problema, é o facto do modelo não reconhecer que alguns
exemplares de uma categorias parecem exemplificar melhor a categoria que outros,
pois podemos ordenar os exemplares pelo seu grau de tipicidade.
Pensamento e Linguagem
Modelo do Protótipo

Os elementos não tem todos o mesmo peso. Um canário ou um pardal são exemplos
mais típicos da categoria “Ave” do que o pinguim, pois partilham mais atributos dessa
categoria.

As categoria tem um estrutura baseada num protótipo. O protótipo é o exemplar


melhor (ou um pequeno conjunto dos) melhores exemplares da categoria. A inclusão
dos exemplares numa categoria é determinada pela similaridade dos seus atributos
com o protótipo da categoria. Quanto mais parecido como protótipo da categoria,
mais típico será.

O conceito assenta numa estrutura de tipo familiar: um conjunto de aspetos


semânticos partilhados pelos membros de uma categoria:

- nenhum membro tem de ter todos os aspetos

- MAS o todos os membros têm pelo menos um


dos aspetos.

O protótipo é o que tem mais aspetos mais


aspetos da categoria.

Por exemplo, o protótipo desta família é o do meio.

As categorias conceptuais naturais são estruturadas a partir dos melhores


exemplares da categoria, ou seja, os exemplares que primeiramente vêm à mente de
um grande número de pessoas, como exemplos de membro daquela categoria- os
protótipos. Os conceitos não são formados a partir de abstrações, mas sim a partir
dos exemplares individuais que são exemplares à categoria.

As crianças:
 começam por uma identificação dos membros típicos, e só depois
aprendem os aspetos que definem as diferentes categorias

Os adultos:
 Dão primeiramente exemplos de elementos na categoria que são
próximas do protótipo (e.g., pardal vs. avestruz)
 Respondem “sim” mais rapidamente quando questionadas sobre a
Pensamento e Linguagem
veracidade da frase “o pardal é um pássaro” do que a frase “uma avestruz é um
pássaro”

Influencia do modelo do protótipo nos sistemas de diagnósticos

Os critérios de diagnóstico são apresentados como protótipos (p.e.: a pessoa para


ser diagnosticada com depressão não precisa ter todos os sintomas)

É reconhecida:
 a heterogeneidade potencial dos sintomas de pacientes com o mesmo diagnóstico
 a sobreposição possível de aspetos clínicos de diferentes categorias de
diagnóstico (diagnóstico diferencial)

Apesar do modelos do protótipo ter muito apoio, tem limitações:

1. Nem sempre a parecença com o protótipo remete para real pertença à


categoria (p.e.: uma pessoa pode parecer uma avó, mas não compre os
critérios para ser avó).
2. Nem sempre a parecença com o protótipo remete para real pertença à
categoria (p.e.: categoria dos valores. Já a teoria da definição explica como
adquirimos novos conceitos, mesmo os abstratos: apenas combinamos os
aspetos existentes.

Combinação das duas teorias

Possuímos em memória os atributos do protótipo que são bons sinais do que é “ser-
se algo”, e recorremos a estes traços prototípicos para os aplicarmos de forma
expedita, quando necessário.

Mas também guardamos em memória os traços definidores, que determinam os


limites do conceito e ditam-nos como usar apropriadamente o protótipo (modelo
clássico). Especialmente útil para categorias abstratas, onde a identificação de
protótipo pode ser mais difícil.

Cavalo marinho e truta – A teoria do protótipo ajuda a compreender porque é que a


truta parece “mais peixe” que um cavalo marinho

Cavalo marinho e baleia – A teoria da definição é importante para explicar porque é


que a baleia não é um peixe, e um cavalo marinho é

Você também pode gostar