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Universidade Mandume Ya Ndemufayo

Faculdade de Direito
Aula de Filosofia do Direito, 12 de Janeiro de 2023
Proferida por: Dr. Francisco Tchipa Tchimboto
Transcrita por: Evander Augusto

Lógica e Direito

Ao pensar, o homem pretende compreender e explicar a realidade que o cerca e, sobre


esta, agir eficazmente. A compreensão das coisas acontece graças a um processo de
orientação do pensamento, o qual deve ser correctamente dirigido e disciplinado, seja
quais forem as suas matérias (emoções, atitudes, hábitos, percepções, imagens,
conceitos...), e modalidades ou tipo perceptual, associativo, crítico, criador...
O pensamento tem de ser regulado por condições que funcionem como critérios de
racionalidade, que lhe garantam coerência e validade, tal critério subsiste aos princípios
lógicos da razão ou do pensamento coerente.

a) Princípio de Identidade – formula-se: O ser é, o não ser não é. Toda coisa é igual
a sí mesma. A = A; A ≠ B
Regula o princípio da univalência dos objetos no pensamento, obrigando a uma correcta
identificação das coisas e dos conceitos. Exprime a exigência de conservar a mesma
significação dos termos, isto é, no decurso de um raciocínio ou demonstração só
afirmamos bem o que bem identificamos, só transmitimos correctamente o que deste
modo percebemos.

b) Princípio da Não Contradição – formula-se: é impossível que o mesmo atributo


pertença ao mesmo tempo, ao mesmo sujeito e à mesma relação.
A mesma coisa não pode, simultaneamente, ser e não ser; é impossível que a afirmação
e negação sejam verdadeiras ao mesmo tempo, é impossível que um mesmo atributo e
uma mesma característica pertençam à mesma relação e ao mesmo sujeito.
concomitantemente.
Estabelece a regra da incompatibilidade, da incongruência lógica entre coisas distintas.

c) Princípio do Terceiro Excluído – formula-se: uma coisa deve ser ou então não ser,
não há terceira possibilidade.
Não é possível que haja meio termo entre enunciados contraditórios: uma proposição
ou é verdadeira ou é falsa, não há terceira possibilidade.

A consequência de uma correcta identificação dos objetos permite recusar a sua


compatibilidade constatando a diferença entre dois objetos, o pensamento afirma a sua
incompatibilidade sob pena de se auto-contradizer.

d) Dictum de Omne et Dictum de Nulli – afirma-se: o que se diz de todos, diz-se de


alguns, ou particulares.
O que se afirma de um conceito é predicado de tudo quanto é sob tal conceito
considerado, e tudo quanto se negue universalmente de um conceito, nega-se de tudo
quanto sob tal conceito venha determinado. Tudo o que tem valor relativamente a todos,
tem igualmente valor para alguns ou particulares e tudo que não tenha valor relativamente
a todos, também não terá valor para alguns ou particulares.

I
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Faculdade de Direito
Aula de Filosofia do Direito, 12 de Janeiro de 2023
Proferida por: Dr. Francisco Tchipa Tchimboto
Transcrita por: Evander Augusto

e) Princípio da Razão Suficiente – afirma-se: nada acontece sem que tenha uma causa
ou razão determinante. Regula no pensamento a causalidade das coisas. Estas devem
ser analisadas a partir das suas posições, situações, qualidades e causas.

Conceito e Termo
Quando falamos, exprimimos juízos, isto é, estabelecemos relações entre as palavras
fazendo afirmações ou negações, encadeando juízos. Elaboramos raciocínios com os
quais construímos argumentos. Algumas palavras traduzem conceitos, os juízos
expressam-se em enunciados ou proposições e é por via dos raciocínios que tiramos
conclusões das verbalizações contidas nos argumentos.

a) Conceito – é a representação mental de um ser, considerado de modo abstrato e


genérico, o que significa que os seres são inteligíveis1.
O homem ao conceptualizar teve que traduzir os conceitos em símbolos, em termos. O
conceito é assim o elemento mais simples do pensamento, sendo portanto um produto da
actividade deste.

b) Termo – é a vestidura convencional e simbólica do conceito, pela qual este se fixa e


se delimita.
O estudo dos conceitos em torno dos termos é indispensável para que o pensamento possa
estar de acordo consigo mesmo, para que a razão se não contradiga.
O conceito não é verdadeiro nem é falso, é o juízo que exprimindo uma relação entre
conceitos, é falso ou verdadeiro. Todavia os conceitos são fundamentais para o
conhecimento, pois o nosso pensamento só é possível mediante uma rede de conceitos.

Propriedades dos Conceitos


A determinação dos conceitos é feita através da extensão e da compreensão.

a) Extensão – é formada pelo conjunto de objectos que o conceito designa, de que ele
pode ser atributo (a palavra objecto é tida em sentido lato: árvore, emoção, círculo,
lago, etc). Tomemos como exemplo o conceito homem, que é assim o número
indeterminado de seres de que é possível determinar como homem.

b) Compreensão – a compreensão de um conceito é constituída pelo conjunto das


qualidades, características, propriedades que o caracterizam, e que são comuns a
todos objetos que formam a sua extensão. Assim, como exemplo, tomemos o termo
homem que é um ser vivo, racional...
A extensão e compreensão de um conceito ou de um termo remete-nos quer para a
realidade que é significada, quer para outros conceitos ou termos. Entretanto apesar dos
conceitos serem isolados, eles constituem redes comunicantes.
A classificação2 e divisão dos conceitos e termos é feita com base na compreensão.

1
Podem ser representados por ideias.
2
Classificar os conceitos e termos é dispô-los hierarquicamente segundo a sua extensão . A cada grupo de
uma classificação dá-se o nome de CLASSE.

II
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Aula de Filosofia do Direito, 12 de Janeiro de 2023
Proferida por: Dr. Francisco Tchipa Tchimboto
Transcrita por: Evander Augusto

Definição
Do latim definire, assinalar limites, circunscrever, precisar, delimitar. Definir é a
operação intelectual que consiste em atribuir um conjunto de características que limitam
um objecto ou um conceito.

Tipologia de Definição
a) Nominal – esclarece o sentido de um termo e a sua etimologia. Ex: Logos – razão ou
discurso.
b) Real – consiste em dar a conhecer a natureza do objecto que o termo representa.
Esta pode ser: Essencial ou Descritiva, conforme atinja as características essenciais
do objeto, ou se limite a enumerar as características exteriores mais marcantes
daquele.

Regras de Definição
a) Deve ser clara;
b) Deve ser rigorosa;
c) Deve ser breve;
d) Deve ser positiva;
e) O definido não pode entrar na definição.

A incorrecção dever-se-á ao uso de uma linguagem obscura, pois é preciso ao definir,


usar a linguagem mais clara possível, atendendo ao que é o intuito de dar a conhecer uma
coisa que se dá a definição, ou ao emprego de uma expressão mais extensa do que era
preciso, pois na definição tudo que é dito a mais é supérfluo;

A definição deve convir a todo definido e só ao definido, isto é, deve poder aplicar-se a
todos seres que são definidos e só a eles;

A definição deve ser recíproca, isto é, uma vez que o definido é o primeiro membro de
uma igualdade e a definição o segundo, devem poder trocar de posição, devem equivaler-
se por consequência, devem poder ser substituídos um pelo outro;

A definição deve fazer-se pelo género próximo e pela diferença específica.

Como visto, os conceitos e os termos têm diferentes extensões. A divisão dos conceitos
segundo a sua extensão conduz à classificação em géneros (maior extensão) e espécie
(menor extensão). Neste caso, definir é colocar os conceitos numa hierarquia, numa
ordem determinada pela extensão.

III

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