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A MENTE ESTENDIDA (1998)

Autores: Andy Clark & David J. Chalmers


Fonte Original: "The Extended Mind" .ANALYSIS 58: 1: 1998 p.7-19 . Reimpresso em THE
PHILOSOPHER'S ANNUAL vol XXI-1998 (Ridgeview, 2000) p.59-74.
Tradutores: Cleyton Leandro Galvão1 email: clgcleyton@gmail.com & Google Tradutor.

1. Introdução
Onde a mente para e o resto do mundo começa? A questão convida a duas
respostas-padrão. Alguns aceitam as demarcações de pele e crânio, e dizem
que o que está fora do corpo está fora da mente. Outros estão impressionados
com os argumentos que sugerem que o significado de nossas palavras
"simplesmente não está na cabeça", e asseguram que este externalismo sobre
o significado se transfere para um externalismo sobre a mente. Nós
propomos seguir uma terceira posição. Nós defendemos um tipo muito
diferente de externalismo: um externalismo ativo, baseado no papel ativo do
ambiente na condução de processos cognitivos.

2. Cognição Estendida
Considere três casos de resolução de problemas humanos:
(1) Uma pessoa se senta na frente de uma tela de computador que exibe
imagens de várias formas geométricas bidimensionais e é solicitada a
responder a perguntas sobre o ajuste potencial de tais formas em "soquetes"
representados. Para avaliar a forma, a pessoa deve mentalmente girar as
formas para alinhá-las aos soquetes.
(2) Uma pessoa se senta na frente de uma tela de computador semelhante,
mas desta vez pode optar por girar fisicamente a imagem na tela,
pressionando um botão de rotação, ou rodar mentalmente a imagem como
antes. Nós também podemos supor, não irrealisticamente, que alguma
vantagem de velocidade para a operação de rotação física.

1
Professor de Filosofia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba. Líder do Grupo de Pesquisa
Mente, Tecnologia e Informação do CNPq.
Esta versão não teve consulta para autorização dos autores. Ela contém possíveis erros e poderia ser melhor traduzida
com um trabalho mais sério de pesquisa que eu, deliberadamente, não farei. Esta versão é apenas para divulgação
informal.
(3) Em algum momento no futuro cyberpunk, uma pessoa se senta na frente
de uma tela de computador similar. Este agente, no entanto, tem o benefício
de um implante neural que pode efetuar a operação de rotação tão rápida
quanto o computador no exemplo anterior. O agente ainda deve escolher
qual recurso interno usar (o implante ou a boa rotação mental à moda
antiga), pois cada recurso tem diferentes demandas de atenção e outra
atividade cerebral concorrente.
Quanto de cognição está presente nestes casos? Sugerimos que todos
os três casos são similares. O caso (3) com o implante neural parece
claramente estar em pé de igualdade com o caso (1). E o caso (2) com o
botão de rotação desempenha o mesmo tipo de estrutura computacional com
o caso (3), embora ele seja distribuído entre o agente e o computador em vez
de internalizados no agente. Se a rotação no caso (3) é cognitiva, com que
direito contamos o caso (2) como fundamentalmente diferente? Não
podemos simplesmente apontar para a fronteira pele/crânio como
justificação, uma vez que a legitimidade dessa fronteira é precisamente o
que está em questão. Mas nada mais parece diferente.
O tipo de caso que acabamos de descrever não é de forma alguma tão
exótico como pode parecer à primeira vista. Não é apenas a presença de
recursos de computação externos avançados que levanta a questão, mas a
tendência geral de raciocinadores humanos dependerem fortemente de
suportes ambientais. Assim, considere o uso de caneta e papel para executar
uma longa multiplicação (McClelland et al 1986, Clark 1989), o uso de
rearranjos físicos de ladrilhos de letra para solicitar a evocação de palavras
em Scrabble2 (Kirsh 1995), o uso de instrumentos como a bússola náutica
(Hutchins, 1995), e a parafernália geral da linguagem, livros, diagramas e
cultura. Em todos estes casos o cérebro individual realiza algumas
operações, enquanto outras são delegadas a manipulações do meio externo.
Tivessem nossos cérebros sido diferentes, esta distribuição de tarefas sem
dúvida teria variado.
De fato, mesmo os casos de rotação mental descritos nos cenários (1)
e (2) são reais. Os casos refletem as opções disponíveis para os jogadores
do jogo de computador Tetris. Em Tetris, formas geométricas que caem
devem ser rapidamente encaminhadas para uma ranhura apropriada em uma
2
Tipo de jogo no qual as palavras são formadas a partir da formação das letras.
estrutura emergente. Um botão de rotação pode ser utilizado. David Kirsh e
Paul Maglio (1994) calculam que a rotação física de uma forma através de
90 graus leva cerca de 100 milissegundos, além de cerca de 200
milissegundos para selecionar o botão. Obter o mesmo resultado por rotação
mental leva cerca de 1000 milissegundos. Kirsh e Maglio continuaram a
apresentar provas convincentes de que a rotação física é utilizada não apenas
para posicionar uma forma pronta para encaixar numa ranhura, mas muitas
vezes para ajudar a determinar se a forma e a ranhura são compatíveis. A
última utilização constitui um caso do que Kirsh e Maglio chamam de uma
ação ‘epistêmica’. Ações epistêmicas alteram o mundo tanto para ajudar e
aumentar os processos cognitivos, como para reconhecimento e busca.
Ações meramente pragmáticas, por outro lado, alteram o mundo porque
alguma mudança física é desejável para seu próprio bem (por exemplo,
colocar cimento em um buraco em uma represa).
A ação epistêmica, nós sugerimos, demanda a propagação do crédito
epistêmico. Se, à medida que enfrentamos alguma tarefa, uma parte do
mundo funciona como um processo que, fosse ele feito na cabeça, nós não
teríamos hesitação alguma em reconhecer como parte do processo
cognitivo, então essa parte do mundo é (assim nós afirmamos) parte do
processo cognitivo. Os processos cognitivos não estão (todos) na cabeça!

3. Externalismo Ativo
Nestes casos, o organismo humano é ligado a uma entidade externa numa
interação bidirecional, criando de um sistema acoplado que pode ser visto
como um sistema cognitivo no seu próprio direito. Todos os componentes
do sistema desempenham um papel causal ativo, e eles regulam
conjuntamente o comportamento do mesmo modo que a cognição
normalmente faz. Se removermos o componente externo a competência
comportamental do sistema vai cair, assim como seria se nós removêssemos
parte do seu cérebro. Nossa tese é que este tipo de processos acoplado conta
igualmente bem como um processo cognitivo, esteja ou não inteiramente na
cabeça.
Este externalismo difere muito da variedade padrão defendida por
Putnam (1975) e Burge (1979). Quando eu acredito que a água é molhada e
meu gêmeo acredita que água gêmea é molhada, as feições externas
responsáveis pela diferença em nossas crenças são distais e históricas, na
outra extremidade de uma longa cadeia causal. Feições do presente não são
relevantes: se acontecer de eu ser cercado por XYZ agora (talvez eu seja
teleportado para Terra Gêmea), minhas crenças ainda se referem a água
padrão, por causa da minha história. Nestes casos, as feições externas
relevantes são passivas. Por causa da sua natureza distal, eles não
desempenham qualquer papel na condução do processo cognitivo no aqui-
e-agora. Isto é refletido pelo fato que as ações realizadas por mim e meu
gêmeo são fisicamente indistinguíveis, apesar de nossas diferenças externas.
Nos casos que nós descrevemos, pelo contrário, as feições externas
relevantes estão ativas, desempenhando um papel crucial no aqui-e-agora.
Porque elas são acopladas ao organismo humano, elas têm um impacto
direto sobre o organismo e sobre o seu comportamento. Nestes casos, as
partes relevantes do mundo estão no circuito fechado (loop), não oscilando
na outra extremidade de uma longa cadeia causal. Concentrarmo-nos neste
tipo de acoplamento nos leva a um externalismo ativo, como oposto ao
externalismo passivo de Putnam e Burge.
Muitos se queixaram que, mesmo se Putnam e Burge estão certos sobre
a externalidade de conteúdo, não está claro que estes aspectos externos
desempenham um papel causal ou explicativo na geração da ação. Em casos
contrafactuais onde a estrutura interna é mantida constante, mas estas
feições externas são alteradas, o comportamento parece exatamente o
mesmo; assim a estrutura interna parece estar fazendo o trabalho crucial.
Nós não julgaremos essa questão aqui, mas notamos que externalismo ativo
não está ameaçado por qualquer problema desse tipo. As feições externas
em um sistema acoplado desempenham um papel ineliminável - se
mantivermos a estrutura interna, mas alterarmos as feições externas, o
comportamento pode mudar completamente. As feições externas aqui são
tão causalmente relevantes como feições internas típicas do cérebro[*].
*[[Grande parte do apelo do externalismo na filosofia da mente pode resultar do apelo intuitivo de externalismo ativo. Os
externalistas muitas vezes fazem analogias envolvendo feições externas em sistemas acoplados, e apelam para a
arbitrariedade das fronteiras entre cérebro e meio ambiente. Mas essas intuições não se coadunam com externalismo
padrão literal. Na maioria dos casos Putnam/Burge, o ambiente imediato é irrelevante; apenas o ambiente histórico conta.
O debate tem focado na questão de se a mente deve estar na cabeça, mas uma questão mais relevante para apreciar esses
exemplos poderia ser: a mente está no presente?]]
Ao abraçar um externalismo ativo, nós permitimos uma explicação
mais natural de todos os tipos de ações. Pode-se explicar a minha escolha
de palavras em Scrabble, por exemplo, como o resultado de um processo
cognitivo estendido envolvendo o rearranjo de azulejos na minha bandeja.
Claro, pode-se sempre tentar explicar a minha ação em termos de processos
internos e uma longa série de "inputs" e "ações", mas esta explicação seria
desnecessariamente complexa. Se um processo isomórfico estava
acontecendo na cabeça, nós não sentiríamos impelidos de caracterizá-lo
desta forma complicada [*] Em um sentido muito real, o rearranjo de
azulejos na bandeja não faz parte da ação; é parte do pensamento.
*[[Herbert Simon (1981), uma vez sugeriu que nós vemos a memória interna como, de fato, um recurso externo sobre a
qual processos internos "reais" operam. "Buscar na memória ", comenta, " não é muito diferente da busca no ambiente
externo. " A visão de Simon, pelo menos, tem a virtude de tratar o processamento interno e o externo com a paridade que
merecem, mas nós suspeitamos que na sua visão a mente vai encolher muito para o gosto da maioria das pessoas. ]]

A visão que defendemos aqui é refletida por um crescente corpo de


pesquisa em ciência cognitiva. Em áreas tão diversas como a teoria da
cognição situada (Suchman, 1987), estudos de robótica do mundo real (Beer
1989), abordagens dinâmicas para o desenvolvimento infantil (Thelen e
Smith, 1994), e pesquisa sobre as propriedades cognitivas de coletivos de
agentes (Hutchins 1995), a cognição é muitas vezes considerada como sendo
contínua com os processos no ambiente [*] Assim, ver a cognição como
algo estendido não é meramente tomar uma decisão terminológica; isso faz
uma diferença significativa para a metodologia de investigação científica.
Com efeito, os métodos explicativos que podiam alguma vez ter sido
pensados apropriados apenas para a análise de processos "internos" estão
agora sendo adaptados para o estudo do externo, e há a promessa de que a
nossa compreensão da cognição se tornará mais rica por isso.
*[[Pontos de vista filosóficos de um espírito semelhante pode ser encontrado em Haugeland 1995, McClamrock 1985,
Varela et al 1991 e Wilson 1994.]]

Alguns acham este tipo de externalismo intragável. Uma razão pode


ser que muitos identificam o cognitivo com o consciente, e parece longe de
ser plausível que a consciência se estende para fora da cabeça nesses casos.
Mas nem todo processo cognitivo, pelo menos no uso padrão, é um processo
consciente. É amplamente aceito que todos os tipos de processos para além
das fronteiras da consciência desempenham um papel crucial no
processamento cognitivo: na recuperação de memórias, processos
linguísticos e aquisição de habilidades, por exemplo. Assim, o mero fato que
os processos externos são externos onde a consciência é interna não é
motivo para negar que esses processos são cognitivos.
Mais interessante, poder-se-ia argumentar que o que mantém
processos de cognição reais na cabeça é o requerimento que os processos
cognitivos são portáteis. Aqui, nós somos movidos por uma visão que
poderia ser chamada de a Mente Nua: um pacote de recursos e operações
que nós podemos sempre carregar numa tarefa cognitiva,
independentemente do ambiente local. Deste ponto de vista, o problema
com sistemas acoplados é que eles são muito facilmente desacoplados. Os
verdadeiros processos cognitivos são aqueles que jazem no cerne constante
do sistema; qualquer outra coisa é um adendo extra.
Há algo nesta objeção. O cérebro (ou o cérebro e o corpo) compreende
um pacote de recursos cognitivos de base, portáteis, que é do seu próprio
interesse. Estes recursos podem incorporar ações corporais em processos
cognitivos, como quando usamos nossos dedos como memória de trabalho
em um cálculo complicado, mas eles não envolverão os aspectos mais
contingentes do nosso ambiente externo, tal como uma calculadora de bolso.
Ainda assim, a mera contingência do acoplamento não descarta o estado
cognitivo. Num futuro distante, nós podemos ser capazes de plugar vários
módulos em nosso cérebro para nos ajudar: um módulo para a memória
extra de curto prazo quando precisarmos dela, por exemplo. Quando um
módulo é plugado, os processos o envolvendo são tão cognitivos quanto se
tivessem estado lá o tempo todo. [*]
*[[ Ou considere a seguinte passagem de um recente romance de ficção científica (McHugh 1992, p. 213): "Eu fui levado
para o departamento do sistema de onde sou sintonizado ao sistema. Tudo que eu faço está conectado e então um técnico
instrui o sistema para sintonizar e ele sintoniza. Eu desconecto e pergunto a hora. 10:52. A informação aparece. Antes eu
sempre podia somente acessar informação quando eu estava conectado, isso me deu a sensação de que eu sabia o que eu
pensava e que o sistema me dizia, mas agora, como é que eu sei o que é o sistema e o que é Zhang?" ]]

Mesmo que alguém fosse fazer o critério da portabilidade


fundamental, o externalismo ativo não seria prejudicado. Contar com os
nossos dedos já foi admitido, por exemplo, e é fácil levar as coisas ainda
mais adiante. Pense na velha imagem do engenheiro com uma régua de
cálculo pendurada em seu cinto onde quer que vá. E se as pessoas sempre
carregassem uma calculadora de bolso, ou as tivessem implantadas? A
verdadeira moral da intuição da portabilidade é que para sistemas acoplados
serem relevantes para o cerne da cognição, o acoplamento confiável é
necessário. Acontece que a maior parte de acoplamento confiável tem lugar
no interior do cérebro, mas o acoplamento pode facilmente ser confiável
com o meio ambiente também. Se os recursos da minha calculadora ou o
meu Filofax estão sempre aí quando eu preciso deles, então eles estão
acoplados comigo de uma forma tão confiável quanto nós necessitamos.
Com efeito, eles são parte do pacote básico de recursos cognitivos que eu
trago para suportar sobre o mundo cotidiano. Estes sistemas não podem ser
impugnados simplesmente sobre a ideia que poderiam sofrer danos
discretos, perda ou mau funcionamento, ou por causa de qualquer
desacoplamento ocasional: o cérebro biológico está em perigo semelhante,
e ocasionalmente perde capacidades temporariamente em episódios de sono,
intoxicação e emoção. Se as capacidades relevantes estão geralmente lá
quando elas são requeridas, isto é acoplar o suficiente.
Além disso, pode ser que o cérebro biológico tenha, de fato, evoluído
e amadurecido em modos em que se decomponha na presença confiável de
um ambiente externo manipulável. Certamente parece que a evolução tem
favorecido capacidades de bordo que são especialmente orientadas para
parasitar o ambiente local, de modo a reduzir a carga de memória, e até
mesmo para transformar a natureza dos próprios problemas computacionais.
Os nossos sistemas visuais evoluíram para confiar no seu ambiente de vários
modos: eles exploram fatos contingentes sobre a estrutura de cenas naturais
(por exemplo Ullman e Richards 1984), por exemplo, e eles aproveitam os
atalhos computacionais oferecidas pelo moção corporal e locomoção (por
exemplo, Blake e Yuille, 1992). Talvez haja outros casos em que a evolução
tenha achado vantajoso explorar a possibilidade de o ambiente estar no
circuito cognitivo. Se assim for, então o acoplamento externo é parte do
pacote verdadeiramente básico de recursos cognitivos que trazemos para
carregar sobre o mundo.
A linguagem pode ser um exemplo. A linguagem parece ser um meio
central pelo qual os processos cognitivos são estendidos para o mundo.
Pense em um grupo de pessoas num brainstorming em torno de uma mesa,
ou um filósofo que pensa melhor escrevendo, desenvolvendo suas ideias do
jeito que elas vêm. Pode ser que a linguagem evoluiu, em parte, para
permitir tais extensões de nossos recursos cognitivos dentro dos sistemas
ativamente acoplados.
Dentro do tempo de vida de um organismo, também, a aprendizagem
individual pode ter moldado o cérebro em modos que dependem de
extensões cognitivas que nos rodearam enquanto nós aprendíamos. A
linguagem é mais uma vez um exemplo central aqui, como são os vários
artefatos físicos e computacionais que são rotineiramente usados como
extensões cognitivas por crianças em escolas e pelos formandos em
numerosas profissões. Nesses casos, o cérebro se desenvolve em um modo
que complementa as estruturas externas, e aprende a desempenhar o seu
papel dentro de um sistema unificado, densamente acoplado. Uma vez que
nós reconhecemos o papel crucial do ambiente em restringir a evolução e
desenvolvimento da cognição, nós vemos que a cognição estendida é um
processo cognitivo central, não um adendo extra.
Uma analogia pode ser útil. A eficiência extraordinária do peixe como
um dispositivo de natação é em parte devida, parece agora, a uma
capacidade evoluída para acoplar seus comportamentos de natação para as
piscinas de energia cinética externa encontradas como redemoinhos,
turbilhões e vórtices em seu ambiente aquoso (veja Triantafyllou e G.
Triantafyllou 1995). Esses vórtices incluem tanto aqueles que ocorrem
naturalmente (por exemplo, onde a água atinge uma rocha) e os auto
induzidos (criado por abas da cauda bem-cronometrada). O peixe nada pela
construção desses processos que ocorrem externamente dentro do coração
de suas rotinas de locomoção. O peixe e os vórtices ao redor, juntos,
constituem uma máquina de natação unificada e extremamente eficiente.
Agora considere uma feição confiável do ambiente humano, tal como
o mar de palavras. Estes arredores linguísticos nos envelopam desde o
nascimento. Sob tais condições, o plástico cérebro humano certamente
tratará essas estruturas como um recurso confiável para serem decompostas
na formação de rotinas cognitivas de bordo. Onde o peixe bate sua cauda
para configurar os remoinhos e vórtices que ele subsequentemente explora,
nós intervirmos em múltiplos meios linguísticos, criando estruturas locais e
distúrbios cuja presença confiável impulsiona nossos processos internos
correntes. As palavras e os símbolos externos são, portanto, primordiais
entre os vórtices cognitivos que ajudam a constituir o pensamento humano.

4 Da Cognição para a Mente


Até agora, nós temos falado em grande parte sobre "o processamento
cognitivo", e argumentado pela sua extensão no ambiente. Alguns podem
pensar que a conclusão foi comprada muito facilmente. Talvez algum
processamento ocorra no ambiente, mas o que dizer da mente? Tudo o que
dissemos até agora é compatível com a visão de que os estados
verdadeiramente mentais - experiências, crenças, desejos, emoções, e assim
por diante - são todos determinados por estados do cérebro. Talvez o que é
verdadeiramente mental seja interno, afinal de contas?
Nós propomos levar as coisas um passo além. Enquanto alguns estados
mentais, tais como experiências, podem ser determinados internamente, há
outros casos em que os fatores externos fazem uma contribuição
significativa. Em particular, nós vamos argumentar que crenças podem ser
parcialmente constituídas pelas feições do ambiente, quando essas feições
desempenham o tipo certo de papel na condução dos processos cognitivos.
Se assim for, a mente se estende para o mundo.
Primeiro, considere um caso normal de crença embutida na memória.
Inga ouve de um amigo que há uma exposição no Museu de Arte Moderna,
e decide ir vê-la. Ela pensa por um momento e recorda que o museu está na
Rua 53ª, então ela caminha para Rua 53ª e vai para o museu. Parece claro
que Inga acredita que o museu está em Rua 53ª, e que ela acreditava nisso
mesmo antes que ela consultasse sua memória. Não era previamente uma
crença ocorrente, mas também não são a maioria das nossas crenças. A
crença estava assentada em algum lugar na memória, à espera de ser
acessada.
Agora considere Otto. Otto sofre da doença de Alzheimer, e como
muitos pacientes de Alzheimer, ele depende de informações no ambiente
para ajudar a estruturar sua vida. Otto carrega um bloco de notas por aí com
ele aonde quer que ele vá. Quando ele aprende uma nova informação, ele a
escreve. Quando ele precisa de alguma informação antiga, ele procura por
ela. Para Otto, seu bloco de notas desempenha o papel normalmente
desempenhado por uma memória biológica. Hoje, Otto ouve sobre a
exposição no Museu de Arte Moderna, e decide ir vê-la. Ele consulta o bloco
de notas, que diz que o museu está na Rua 53ª, então ele caminha para Rua
53ªe vai para o museu.
Claramente, Otto caminhou até a Rua 53ª porque ele queria ir ao
museu e ele acreditava que o museu estava na Rua 53ª. E assim como Inga
tinha sua crença mesmo antes que ela consultasse sua memória, parece
razoável dizer que Otto acreditava que o museu estava na Rua 53ª mesmo
antes de consultar o seu bloco de notas. Pois em aspectos relevantes os casos
são inteiramente análogos: o bloco de notas desempenha para Otto o mesmo
papel que a memória desempenha para Inga. A informação no bloco de notas
funciona exatamente como a informação que constitui uma crença ordinária
não-ocorrente; apenas acontece que esta informação está além da pele.
A alternativa é dizer que Otto não tem crença sobre o assunto até que
ele consulte seu bloco de notas; na melhor das hipóteses, ele acredita que o
museu está localizado no endereço no bloco de notas. Mas se seguirmos
Otto por aí por um tempo, vamos ver como não natural essa maneira de falar
é. Otto está constantemente usando seu bloco naturalmente. Ele é central
para as suas ações em todos os tipos de contextos, no modo que uma
memória ordinária é central em uma vida ordinária. A mesma informação
pode vir de novo e de novo, talvez sendo ligeiramente modificada na
ocasião, antes de se retirar para os recessos de sua memória artificial. Dizer
que as crenças desaparecem quando o bloco de notas está arquivado parece
perder o panorama geral exatamente da mesma forma que dizer que as
crenças de Inga desaparecem assim que ela não está mais consciente delas.
Em ambos os casos, a informação está confiavelmente lá quando necessária,
disponível para a consciência e disponível para guiar a ação, exatamente do
modo que esperamos uma crença esteja.
Certamente, na medida em que as crenças e desejos são caracterizados
por seus papéis explicativos, os casos de Inga e Otto parecem estar em pé
de igualdade: as dinâmicas causais essenciais dos dois casos se espelham
com precisão. Nós estamos felizes em explicar a ação da Inga em termos de
seu desejo ocorrente de ir ao museu e sua crença permanente que o museu
fica na Rua 53ª, e nós deveríamos estar felizes em explicar a ação de Otto
do mesmo modo. A alternativa é explicar a ação de Otto em termos de seu
desejo ocorrente de ir ao museu, sua crença permanente que o Museu fica
na localização escrita no bloco de notas, e o fato acessível que o bloco diz
que o Museu está na Rua 53ª; mas isto complica a explicação
desnecessariamente. Se nós temos de recorrer a explicação da ação de Otto
deste modo, então também temos de fazê-lo para as inúmeras outras ações
na qual o seu bloco de notas está envolvido; em cada uma das explicações,
haverá um termo extra envolvendo o bloco. Nós cedemos que explicar as
coisas deste modo é dar um passo a mais. É inutilmente complexo, do
mesmo modo que seria inutilmente complexo explicar as ações de Inga em
termos de crenças sobre a sua memória. O bloco de notas é uma constante
para Otto, do mesmo modo que a memória é uma constante para Inga;
apontar para ele em cada explicação de crença/desejo seria redundante. Em
uma explicação, a simplicidade é poder.
Se isto está certo, podemos até construir o caso de Otto Gêmeo, que é
exatamente como Otto, exceto que há um tempo atrás ele escreveu
erroneamente em seu caderno que o Museu de Arte Moderna ficava na Rua
51ª. Hoje, o Otto Gêmeo é uma duplicata física de Otto na aparência, mas o
seu bloco de notas é diferente. Consequentemente, o Otto Gêmeo é melhor
caracterizado como acreditando que o museu está na Rua 51ª, onde Otto
acredita que está na 53ª. Nestes casos, uma crença simplesmente não está na
cabeça.
Isso reflete a conclusão de Putnam e Burge, mas, novamente, há
diferenças importantes. Nos casos Putnam/Burge, as feições externas que
constituem diferenças na crença são distais e históricas, de modo que os
gêmeos nestes casos produzem um comportamento fisicamente
indistinguível. Nos casos que estamos descrevendo, as feições externas
relevantes desempenham um papel ativo no aqui-e-agora, e têm um impacto
direto sobre o comportamento. Quando Otto caminha para Rua 53ª, Otto
Gêmeo caminha para 51ª. Não há dúvida da irrelevância explicativa para
este tipo de conteúdo externo da crença; ela é introduzida precisamente por
causa do papel explicativo central que ela desempenha. Como os casos de
Putnam e Burge, esses casos envolvem diferenças na referência e das
condições de verdade, mas também envolvem diferenças na dinâmica da
cognição.[*]
*[[ Na terminologia do Chalmers "Os Componentes do Conteúdo" (no prelo): os gêmeos nos casos de Putnam e Burge
diferem apenas em seu conteúdo relacional, mas Otto e seu gêmeo podem ser vistos diferindo em seu conteúdo nocional,
que é o tipo de conteúdo que governa a cognição. O conteúdo nocional é geralmente interno a um sistema cognitivo, mas
neste caso o sistema cognitivo é em si eficazmente estendido para incluir o bloco de notas.]]

A moral é que quando se trata de crença, não há nada de sagrado sobre


crânio e pele. O que faz alguma informação contar como uma crença é o
papel que ela desempenha, e não há nenhuma razão porque o papel relevante
possa ser desempenhado apenas de dentro do corpo.
Alguns resistirão a esta conclusão. Uma oponente pode bater o pé e
insistir que enquanto ela usa o termo "crença", ou talvez mesmo de acordo
com o uso padrão, Otto simplesmente não se qualifica como acreditando que
o museu está na Rua 53ª. Não temos a intenção de debater o que é o uso
padrão; nosso ponto mais amplo é que a noção de crença deve ser usada para
que Otto se qualifique como tendo a crença em questão. Em todos os
aspectos importantes, o caso de Otto é semelhante a um caso padrão de
crença (não-ocorrente). As diferenças entre o caso de Otto e Inga são
impressionantes, mas elas são superficiais. Pelo uso da noção de "crença"
de uma forma mais ampla, seleciona-se algo mais parecido com uma espécie
natural. A noção se torna mais profunda e mais unificada, e é mais útil na
explicação.
Para oferecer uma resistência substancial, um oponente tem de mostrar
que os casos de Otto e Inga diferem em algum aspecto importante e
relevante. Mas em que aspecto profundo os casos são diferentes?
Construindo o caso somente pelo fundamento de que a informação está na
cabeça em um caso mas não no outro, seria uma petição de princípio. Se
essa diferença é relevante para uma diferença de crença, não é certamente
relevante primitivamente. Para justificar o tratamento diferente, temos de
encontrar alguma diferença mais básica subjacente entre os dois.
Podia ser sugerido que os casos são relevantemente diferentes em que
Inga tem acesso mais confiável à informação. Afinal, alguém pode levar
embora o bloco de notas de Otto a qualquer momento, mas a memória de
Inga é mais segura. Não é implausível que a constância é relevante: na
verdade, o fato de que Otto sempre usa seu bloco desempenhou algum papel
na nossa justificação do seu status cognitivo. Se Otto estivesse consultando
um guia como algo extraordinário, nós estaríamos muito menos propensos
a lhe atribuir uma crença permanente. Mas no caso original, o acesso de Otto
ao bloco é muito confiável - não perfeitamente confiável, com certeza, mas
também não o é o acesso do Inga a sua memória. Um cirurgião pode
adulterar seu cérebro, ou mais mundanamente, ela poderia ter bebido
demais. A mera possibilidade de tal adulteração não é suficiente para negá-
la a crença.
Alguém poderia se preocupar com o acesso de Otto para seu bloco de
notas que de fato vem e vai. Ele toma banho sem o bloco, por exemplo, e
ele não pode lê-lo quando está escuro. É certo que a sua crença não pode ir
e vir tão facilmente? Nós poderíamos contornar este problema
redescrevendo a situação, mas em qualquer caso uma desconexão
temporária ocasional não ameaça a nossa alegação. Afinal, quando Inga está
dormindo, ou quando ela está intoxicada, não dizemos que sua crença
desaparece. O que realmente conta é que a informação está facilmente
disponível quando o sujeito precisa dela, e essa restrição é satisfeita
igualmente nos dois casos. Se o bloco de Otto estivesse frequentemente
indisponível para ele nos momentos em que a informação nele seria útil,
poderia haver um problema, pois a informação não seria capaz de
desempenhar o papel de guia de ação que é central para a crença; mas se ele
está facilmente disponível em situações mais relevantes, a crença não está
em perigo.
Talvez a diferença é que Inga tem um acesso melhor à informação do
que Otto? Os processos “centrais” de Inga e sua memória provavelmente
têm uma ligação relativamente de banda larga entre os dois, em comparação
com a conexão de baixo grau entre Otto e seu bloco de notas. Mas isso
sozinho não faz diferença entre crer e não crer. Considere a amiga de Inga,
Lucy, indo ao museu, cuja memória biológica tem apenas uma ligação de
baixa qualidade com seus sistemas centrais, devido a uma biologia fora do
padrão ou às desventuras passadas. O processamento no caso de Lucy pode
ser menos eficiente, mas desde que a informação relevante esteja acessível,
Lucy acredita claramente que o museu está na Rua 53ª. Se a conexão fosse
muito indireta - se Lucy tivesse que lutar duro para recuperar as informações
com resultados mistos, ou a ajuda de um psicoterapeuta fosse necessária -
nós poderíamos nos tornar mais relutantes em atribuir a crença, mas tais
casos estão muito além situação de Otto, no qual a informação é facilmente
acessível.
Outra sugestão poderia ser que Otto tenha acesso à informação
relevante apenas pela percepção, enquanto Inga tem mais acesso direto - por
introspecção, talvez. Em alguns aspectos, no entanto, pôr as coisas deste
modo é uma petição de princípio. Afinal de contas, estamos com efeito
advogando um ponto de vista em que os processos internos de Otto e seu
bloco de notas constituem um único sistema cognitivo. Do ponto de vista
deste sistema, o fluxo de informações entre bloco e do cérebro não é
perceptual de qualquer modo; ele não envolve o impacto de algo fora do
sistema. É mais parecido com o fluxo de informações dentro do cérebro. O
único modo profundo em que o acesso é perceptual é que no caso de Otto,
há uma fenomenologia distintamente perceptual associada à recuperação da
informação, enquanto que no caso de Inga não há. Mas por que a natureza
de uma fenomenologia associada deveria fazer a diferença para o status de
uma crença? A memória de Inga pode ter alguma fenomenologia associada,
mas ainda é uma crença. A fenomenologia não é visual, com certeza. Mas
para a fenomenologia visual considere o Exterminador, do filme de Arnold
Schwarzenegger com o mesmo nome. Quando ele relembra alguma
informação da memória, ela é "exibida" diante dele em seu campo visual
(presumivelmente ele está consciente dela, como há cenas frequentes que
descrevem seu ponto de vista). O fato que as memórias permanentes são
relembradas deste modo incomum certamente faz pouca diferença para o
seu status de crenças permanentes.
Estas várias pequenas diferenças entre os casos de Otto e de Inga são
todas as diferenças superficiais. Focar sobre elas seria perder o modo em
que para Otto, as entradas no bloco desempenham exatamente o tipo de
papel que as crenças desempenham na orientação vida da maioria das
pessoas.
Talvez a intuição que a crença de Otto não é uma crença verdadeira
vem de um sentimento residual que as únicas crenças verdadeiras são
crenças ocorrentes. Se tomarmos este sentimento a sério, a crença de Inga
será descartada também, assim como muitas crenças que nós atribuímos na
vida cotidiana. Isso seria uma visão extrema, mas pode ser o modo mais
consistente de negar a crença de Otto. Pois mesmo numa visão um pouco
menos extrema - a visão de que uma crença deve estar disponível para a
consciência, por exemplo - a entrada do bloco de Otto parece se qualificar
tão bem como a memória de Inga. Uma vez que as crenças disposicionais
são admitidas, é difícil resistir à conclusão de que o bloco de Otto tem todas
as disposições relevantes.

5. Além dos limites externos


Se a tese for aceita, o quão longe devemos ir? Todos os tipos de casos
conflitantes vêm à mente. O que dizer dos aldeões amnésicos em 100 Anos
de Solidão, que se esqueceram dos nomes de tudo e por isso penduram
etiquetas em todos os lugares? A informação no meu Filofax conta como
parte da minha memória? Se o caderno de Otto for adulterado, ele acredita
na informação recém-instalada? Eu acredito no conteúdo da página na
minha frente antes que eu o leia? Meu estado cognitivo está de alguma forma
espalhado pela Internet?
Nós não pensamos que existam respostas categóricas para todas estas
perguntas, e nós não as daremos. Mas para ajudar a compreender o que está
envolvido em atribuições de crença estendida, nós podemos ao menos
examinar as feições de nosso caso central que fazem a noção tão claramente
aplicável ali. Primeiro, o bloco de notas é uma constante na vida de Otto -
nos casos em que a informação no bloco seria relevante, ele raramente
realizará ações sem consultá-lo. Segundo, as informações no bloco estão
diretamente disponíveis sem dificuldade. Terceiro, após a recuperação de
informações do bloco, ele automaticamente a endossa. Quarto, a informação
contida no bloco foi conscientemente endossada em algum momento no
passado, e na verdade está lá como uma consequência deste endossamento.
[*] O status da quarta feição como critério para a crença é discutível (talvez
pode-se adquirir crenças através da percepção subliminar, ou através de
adulteração da memória?), mas as três primeiras feições certamente
desempenham um papel crucial.
*[[ Os critérios de constância e endossamento-no-passado pode sugerir que a história é parte constitutiva da crença.
Poderia-se reagir a isto através da remoção de qualquer componente histórico (dando uma leitura puramente disposicional
do critério de constância e eliminando o critério de endossamento-no-passado, por exemplo), ou poderia-se permitir um
tal componente desde que o fardo principal seja carregado pelas feições do presente.]]

Na medida em que os casos conflitantes cada vez mais exóticos não


têm estas feições, a aplicabilidade da noção de "crença" gradualmente cai.
Se eu raramente tomar ações relevantes sem consultar o meu Filofax, por
exemplo, seu status dentro do meu sistema cognitivo será semelhante a do
bloco de Otto. Mas se eu frequentemente agisse sem consulta - por exemplo,
se eu às vezes respondesse a questões relevantes com "eu não sei" -, então a
informação nele conta menos claramente como parte do meu sistema de
crenças. A Internet está propensa a falhar em múltiplas contagens, a não ser
que eu seja excepcionalmente um computador-dependente, flexível com a
tecnologia, e confiante nela , mas a informação em determinados arquivos
no meu computador pode se qualificar. Em casos intermediários, a questão
de se uma crença está presente pode ser indeterminada, ou a resposta pode
depender dos padrões variantes que estão em jogo em vários contextos em
que a questão pode ser perguntada. Mas qualquer indeterminação aqui não
significa isto nos casos centrais, a resposta não está clara.
E sobre a cognição social estendida? Poderiam meus estados mentais
ser parcialmente constituída pelos estados de outros pensadores? Nós não
vemos nenhuma razão porque não, em princípio. Num casal
extraordinariamente interdependente, é inteiramente possível que as crenças
de um dos parceiros desempenharão o mesmo tipo de papel para o outro
como o bloco de notas desempenha para Otto. [*] O que é central é um alto
grau de confiança, confiabilidade e acessibilidade. Em outras relações
sociais estes critérios podem não ser tão claramente cumpridos, mas eles
podem, contudo, ser cumpridos em domínios específicos. Por exemplo, o
garçom o meu restaurante favorito pode agir como um repositório das
minhas crenças sobre minhas refeições favoritas (isso pode até ser
construído como um caso de desejo estendido). Em outros casos, as crenças
de alguém podem ser incorporadas em sua secretária, seu contador, ou um
colaborador.
*[[ Do New York Times, 30 de março de 1995, p.B7 , em um artigo sobre o ex-treinador de basquete da UCLA John
Wooden: "Wooden e sua esposa participaram de 36 Fours Final seguidos, e ela invariavelmente serviu como seu banco
de memória. Nell Wooden raramente esqueceu um nome - o marido raramente lembrou um - e no hall de entrada lotado
da Four Final, ela reconhecia as pessoas por ele"]]

*[[ Poderia este tipo de raciocínio também permitir algo como as crenças estendidas de "coxartrite" de Burge? Afinal de
contas, eu poderia sempre deferir para o meu médico a tomada de ações relevantes concernentes a minha doença. Talvez
seja assim, mas existem algumas diferenças claras. Por exemplo, quaisquer crenças estendidas seriam baseadas em uma
relação ativa existente com o médico, em vez de em uma relação histórica com uma comunidade linguística. E na análise
corrente, a minha deferência ao médico tenderia a produzir algo como uma crença verdadeira de que tenho alguma outra
doença na minha coxa, em vez de a falsa crença que tenho artrite lá. Por outro lado, se eu usasse peritos médicos apenas
como consultores terminológicas, os resultados da análise de Burge poderiam ser espelhados.]]

Em cada um destes casos, o maior fardo do acoplamento entre os


agentes é carregado pela linguagem. Sem a linguagem, nós poderíamos ser
muito mais parecidos com as mentes cartesianas discretas "internas", em que
a cognição de alto nível depende em grande parte de recursos internos. Mas
o advento da linguagem nos permitiu espalhar esse fardo para o mundo. A
linguagem, assim considerada, não é um espelho dos nossos estados
internos, mas um complemento deles. Ela serve como uma ferramenta cujo
papel é estender a cognição de modos que os dispositivos de bordo não
podem. Com efeito, pode ser que a explosão intelectual na recente era
evolutiva é devida tanto a esta extensão da cognição linguisticamente
habilitada como a qualquer desenvolvimento independente em nossos
recursos cognitivos internos.
O que dizer, finalmente, do eu? A mente estendida implica num eu
estendido? Parece que sim. A maioria de nós já aceita que o eu ultrapassa as
fronteiras da consciência; minhas crenças disposicionais, por exemplo,
constituem em algum sentido profundo parte de quem eu sou. Se assim for,
então estas fronteiras também podem cair para além da pele. As informações
no bloco de notas de Otto, por exemplo, é uma parte central de sua
identidade como um agente cognitivo. O que isto alcança é que o próprio
Otto é melhor considerado como um sistema estendido, um acoplamento de
organismo biológico e recursos externos. Para resistir de forma consistente
a essa conclusão, nós teríamos que reduzir o eu a um mero feixe de estados
ocorrentes, ameaçando seriamente a sua continuidade psicológica profunda.
Muito melhor tomar o ponto de vista mais amplo, e ver os próprios agentes
como espalhados pelo mundo.
Como qualquer reconcepção de nós mesmos, essa visão terá
consequências significativas. Há consequências óbvias para visões
filosóficas da mente e para a metodologia da pesquisa em ciência cognitiva,
mas também haverá efeitos nos domínios morais e sociais. Pode ser, por
exemplo, que em alguns casos interferir com o ambiente de alguém terá o
mesmo significado moral que interferir com a sua pessoa. E se a visão é
levada a sério, certas formas de atividade social poderiam ser repensadas
como menos semelhante à comunicação e ação, e mais semelhante ao
pensamento. Em qualquer caso, uma vez que a hegemonia da pele e do
crânio é usurpada, nós podemos ser capazes de nos ver mais
verdadeiramente como criaturas do mundo.

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