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REPÚBLICA DE ANGOLA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO POLITÉCNICO INDUSTRIAL DE LUANDA
IPIL

TRABALHO DE FAI

ALAMBAMENTO E CASAMENTO

GRUPO Nº 3
SALA: 58
CLASSE:10ª
TURMA: ET10B
TURNO: MANHÃ
CURSO: ELECTRÓNICA E TELECOMUNICAÇÕES

O DOCENTE: ________________________

LUANDA, Setembro de 2023


REPÚBLICA DE ANGOLA
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO POLITÉCNICO INDUSTRIAL DE LUANDA
IPIL

TRABALHO DE FAI

LUANDA, Setembro de 2023


INTEGRANTES DO GRUPO

NOME COMPLETO Nº PARTICIPAÇÃO CLASSIFICAÇÃO


Engrácia Bento Boka 11 100%
Feliciano Lussati 12 100%
Fernando Miguel Daniel 13 100%
Glodi Luembe 14 100%
Henriques Neduka 15 100%
ÍNDICE

1-INTRODUÇÃO.................................................................................................1
2-FUNDAMENTOS TEÓRICOS
2.1- O ALAMBAMENTO......................................................................................2
2.1.1-A IDEOLOGIA COLONIAL E A NOÇÃO DO ALAMBAMENTO.................4
2.1.2-MUDANÇA NAS REGRAS DO CASAMENTO BANTU E A PERDA DO
SEU VALOR SIMBÓLICO DESDE A ÉPOCA COLONIAL..................................4
2.2- CASAMENTO.............................................................................................. 6
2.2.1- CASAMENTO NO MUNDO.......................................................................7
2.2.2- O CASAMENTO NA SOCIEDADE ATUAL DE LUANDA..........................7
2.3- O OLHAR DA SOCIEDADE SOBRE OS CASAIS QUE VIVEM
MARITALMENTE SEM Á PRÁTICA DO ALAMBAMENTO.................................8
3-CONCLUSÃO................................................................................................10
4-REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA..................................................................11
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1-INTRODUÇÃO

O alambamento é uma cerimónia tradicional na cultura angolana que


geralmente ocorre quando os jovens se enamoram e pretendem viver juntos. É
o segundo passo depois da apresentação do noivo à família da noiva, sendo o
momento em que se entregam os dotes exigidos pela família da futura esposa,
acompanhado de comida, bebida, música e conselho de ambas as partes
dirigidas aos noivos.

Casamento é a união voluntária entre duas pessoas que desejam


constituir uma família, formando um vínculo conjugal que está baseado nas
condições dispostas pelo direito civil.
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2.1- O ALAMBAMENTO

Em Luanda, o alambamento ou o pedido (da mão da noiva) é ainda uma


tradição cultural bastante forte, e segundo consta é mais importante do que o
casamento civil ou ‘religioso’. Segundo Agostinho (2011), o termo
alambamento, desde os primórdios da colonização até hoje, tem sido usado
erradamente por muitos autores. Maia (1994 apud AGOSTINHO, 2011), no seu
dicionário complementar de Português kimbundo e kikongo, atribui ao termo
sinónimo de ‘dote’, que seria o equivalente ao ‘preço da noiva’. O autor citado
enquadra o termo “alambamento” na lista “A” de palavras da língua portuguesa
e o termo “casamento” enquadra na lista “c” (de palavras da língua portuguesa,
como sinónimo de kulemga/ou kulemba, da qual deriva o termo alambamento).
Ainda segundo o autor, essa contradição distingue-se através da consequência
etimológica e conceitual “grave”. Agostinho (2011), por sua vez, diz que
etimologicamente a palavra alambamento deriva da língua kimbundo ”kulemba”
que significa prestar homenagem ao futuro sogro, por meio de presentes
convencionais. O alambamento deriva directamente deste verbo, depois de
suprir o radical do infinito ”Ku” por influência do português.

Em Angola, o alambamento ou pedido (da mão da noiva) é ainda uma


tradição cultural bastante forte e segundo consta, mais importante do que o
casamento civil ou religioso. O alambamento consiste numa série de rituais,
como por exemplo a entrega de uma carta com o pedido da mão da noiva,
ofertas em bens e por vezes até mesmo dinheiro.

Quando o jovem casal de namorados decide casar, é necessário ter o


aval da família da noiva e isso só é possível se, durante o pedido, toda a gente
estiver de acordo em que o casamento se concretize. O jovem casal marca o
dia do pedido. Esse dia é marcado pelos tios da noiva, pois é necessário reunir
toda a família e é entregue uma lista contendo o que o noivo tem de conseguir
reunir até ao dia do pedido.

Na lista vêm diversos itens de consumo e apesar de serem normalmente


os mesmos para toda a gente, pode variar consoante a família em questão.

O dia do pedido está marcado e o noivo parte em busca de todo o


material para que no dia não falte nada. E o que está nessa lista? Primeiro é
um envelope com dinheiro. 300, 400, 500 USD, depende do que o tio estipular.
A altura da noiva em grades de cerveja, a altura da noiva em paletes de sumo
ou coca-cola, um cabrito, um fato para o tio e uns sapatos para a mãe.

faz igualmente uma descrição do alambamento com referência à


importância da lista entregue ao noivo: Trata-se de uma lista elaborada pelos
tios, onde consta uma relação de coisas que o noivo tem de “comprar” para
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oferecer à família da noiva, como indemnização pelos gastos feitos com ela
desde o seu nascimento até ao dia do casamento. Basicamente é um dote que
representa um bem valioso porque quanto maior o pagamento, maior prestigio
terá a noiva.

Caso a noiva se encontre grávida, os valores referidos em cima


aumentam bastante.

Este valor pode ainda ser superior, caso o noivo tenha saltado a janela.
Saltar a janela significa que a noiva engravidou antes do casamento e claro, é
justo que o pedido seja reforçado. Quando chega o dia do pedido, os familiares
do noivo juntam-se à família da noiva, fazem-se as apresentações e procede-
se ao pedido de casamento.

Eis como se realiza o processo, de acordo com a cultura Angolana:


Quando chega o dia, a família do noivo (pai, mãe, tio, tia, irmãos) vai a casa da
noiva e o tio da mesma, como se de um juiz se tratasse, apresenta toda a
gente e informa de que se vai dar início ao pedido de casamento. Os pais da
noiva convidam os pais do noivo a entrar e o tio dá início à leitura do pedido
apresentado pelo noivo. Se o pai da noiva concordar com o pedido, o noivo
terá de ir buscar o alambamento ou seja, aquela lista de coisas que juntou. O
alambamento é apresentado e se tudo for cumprido é feita uma reunião para
acertar a data do casamento e outros detalhes de natureza logística. Posto isto,
canta-se e dança-se (não é por acaso que aparecem as grades de cerveja e de
coca-cola na lista).

A partir deste dia, se tudo correr bem, o casal de namorados passa a


marido e mulher. Chegados ao casamento, alguns casais dão o nó trajados
com roupas típicas ao passo que outros preferem vestir o famoso fato e
gravata e as noivas o tradicional vestido branco.

No dia do casamento a mulher se veste com um fato, uma roupa típica do


país, e o homem se veste com uma camisa social, terno e gravata. Antes de
começar a noiva aparece debaixo de um pano, para testar se o marido a
reconhece de verdade.

Depois da união estar devidamente oficializada é altura da festa ou não


fossem os Angolanos festeiros por natureza. Comida e bebida com fartura
fazem as delícias dos convidados, sempre acompanhados por boa música da
terra.

Como a tradição já não é o que era e apesar do alambamento ser ainda


uma forte característica da cultura Angolana, a verdade é que este hábito vai
caindo em desuso. A par com a modernidade, e não só em Angola, algumas
famílias abdicam desta tradição ao passo que as conservadoras fazem questão
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de a manter. Ao mesmo tempo, a sociedade angolana reconhece a importância


do ritual do alambamento.
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2.1.1-A IDEOLOGIA COLONIAL E A NOÇÃO DO ALAMBAMENTO

O objectivo do colonialismo português desde a sua chegada era de


alienar as populações africanas de formas a convertê-las ao cristianismo e
consequentemente explorá-las culturalmente sob a bandeira da “civilização.

Para o colonizador a “civilização” deveria ser Portuguesa, estando o resto


dos grupos étnicos de Angola dentro desta regra. O objectivo da ideologia
colonial Portuguesa em relação ao casamento Bantu (Alambamento), era de
reduzi-lo aos parâmetros do casamento civil (ocidental) e cristão, de formas a
inverter o verdadeiro significado desta instituição, vendo ela apenas como um
ato de compra e venda da mulher, ou seja uma total falta de consideração e
respeito para com a cultura do nativo.

Segundo Mbambi (1997, p. 1), o padre Francisco Valente, depois de ter


estudado o Alambamento no Huambo e arredores, até onde pode fazê-lo,
condenou no seu livro, escrito sobre a matéria, como um costume vexatório da
desigualdade da mulher Africana e que isso deveria ser abolido.

Portanto essas explicações sobre o alambamento estão muito distantes


de corresponder a verdade e de entrar na verdadeira amplitude do casamento
Bantu, em particular na província de Luanda. Essas informações são fruto da
ideologia colonial portuguesa de dominação, para melhor dominar as
populações, em parceria com a religião católica, que desde sempre esteve
presente a quando da ocupação colonial Portuguesa, tinham como objectivo de
deformar o real sentido e objectivo da instituição do alambamento e substitui-
las pelas suas ideologias eurocêntricas (casamento civil).

Agostinho (2011) afirma que a ideologia colonial, no campo social, para


além de impulsionar a crise de valores culturais, dividiu os Angolanos em duas
classes sociais: “assimilados” e “indígenas”. Entre as mesmas a perca de
valores culturais viria afectar mais a classe “assimilada”, devido ao contacto
directo e quase sempre permanente com o colonizador, os “assimilados”
procuravam pautar a sua conduta de acordo com os padrões da cultura
portuguesa. Segundo Kamabaya (2003 apud Agostinho 2011), em 1950 as
estatísticas da famosa assimilação mostravam que o número de nativos
assimilados era tão diminuto que só 1% da população de toda Angola nesse
ano era assimilada

2.1.2-MUDANÇA NAS REGRAS DO CASAMENTO BANTU E A PERDA DO


SEU VALOR SIMBÓLICO DESDE A ÉPOCA COLONIAL

Segundo Agostinho (2011), em Luanda surgiram várias mudanças nas


regras do casamento Bantu na época da colonização portuguesa (1951 a
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1970), dentre elas destacam-se os seguintes: a perca do valor da virgindade, o


acréscimo do garrafão de vinho, a substituição da figura dos emissários
(intermediários) por uma simples carta de pedido, o desaparecimento da
“resistência matrilocal” temporária e a anulação do rito de passagem
denominado por “mussula”, que marca a entrada da mulher ao status de mãe.
Monteiro, por sua vez, diz que:

Luanda como noutros meios urbanos, as antigas relações


que faziam dessa aliança um equilíbrio de interesse reciproco
sem grandes preocupações pelos sentimentos individuais,
aproximam ou desaparecem. O casamento toma um
significado mais individual, que social, o consentimento
matrimonial torna-se mais autêntico e pessoal para os
nubentos, mas tudo isso se afastam das características da
família extensa. É por isso que se ouvi dizer, com certa
frequência, sobretudo entre pessoas idosas, que actualmente
nos musseques conta mas a opinião e o gosto dos filhos, em
matéria de casamento, do que os interesses dos pais.
(MONTEIRO, 1973, p.117- 182).

Antigamente a virgindade era algo de muita importância, e era muito


preservado pela família da noiva, depois de contrair o matrimonio, fazia-se uma
amostra em público, com um lenço contendo sangue, mostrando o quanto a
menina foi bem educada pelos pais e pura, mas actualmente está pratica já
não se faz sentir no seio da sociedade Luandense. Na zona de Luanda,
segundo Ribas (2006), esta marca inspirava certos cuidados. Antigamente as
jovens eram submetidas a revistas frequentes, quer simplesmente a olho, ou
com um ovo de pomba, quer com um bico de uma vela, previamente
desprovida da parte externa do pavio. Então só se procedia o alambamento
quando tudo corresse bem.

O emissário que antigamente era intermediário do alambamento foi


substituído pela carta do pedido, que até hoje vigora na instituição do
alambamento. Por esta causa os mais velhos já não são respeitados como
antigamente, na verdade essa questão tem muito a ver com a aculturação
através da assimilação da cultura veiculada através dos meios de comunicação
de massa.

Devido a influência colonial e, consequentemente, da cultura ocidental, o


ritual do alambamento perdeu força, uma vez que muitas famílias já não
praticam por forças da tal “civilização” ou mesmo por vergonha e acharem
ultrapassado. Em suma, por causa da influência colonial, o povo da província
de Luanda, passou a observar o casamento tradicional como uma prática sem
expressão cultural, algo que não vale nada para a sociedade contemporânea.
Segundo Agostinho (2011), estas ideologias constituíram uma marca negativa
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a nível da consciência colectiva, de modo que, apesar dos Ambundu de


Luanda continuarem a dar ênfase ao casamento tradicional, passaram a
encará-lo como um produto não acabado e para conclui-lo [e/ou efectivá-lo]
julgavam que deveriam também casar segundo os cânones do casamento civil
e cristão. (AGOSTINHO, 2011).

Hoje em dia a população luandense de uma forma geral, não olha para o
alambamento como um casamento que simboliza a cultura nacional, muito pelo
contrário, o olhar sobre esta cerimónia cultural é um olhar eurocêntrico, feito
com desprezo e quase sem interesse. A prática do alambamento ainda tem
persistido um pouco dentro da sociedade, porque existem certas famílias
conservadoras que ainda se regem dentro dos paramentos do casamento
tradicional (alambamento). Portanto, é bastante importante se resgatem os
valores das tradições culturais no seio dos jovens para que eles passem a ter
um olhar positivo sobre a questão do alambamento, uma vez que eles são a
força motriz da sociedade, e cabe a eles darem continuidade das culturas que
existem dentro da sociedade, de formas a não desaparecem.

2.2- CASAMENTO

O casamento civil é um contrato entre duas pessoas tradicionalmente


com o objectivo de constituir uma família. A definição exata varia
historicamente e entre as culturas, mas, até há pouco tempo e na maioria dos
países, era uma união socialmente sancionada entre um homem e uma mulher
(com ou sem filhos) mediante comunhão de vida e bens. Até ao século XIX, o
casamento era visto nas sociedades ocidentais meramente como um acordo
comercial entre duas famílias sem que os dois intervenientes tivessem muito
voto na matéria. O romantismo veio alterar esta imagem e passou-se então a
existir o conceito de casar por amor.

Até ao século XX era comum que o casamento fosse visto como algo
indissolúvel (embora pudesse ser anulado), não havendo reconhecimento legal
do divórcio. Quando se refere à celebração de cerimônia em igreja e ao
reconhecimento da união pela comunidade religiosa, é chamado de casamento
religioso ou matrimónio. A Igreja Católica não reconhece o divórcio nem
casamentos civis realizados posteriormente a este, vedando o acesso à
comunhão a quem estiver nesta situação.

As pessoas que se casaram entre si são comumente chamadas de


cônjuges, sendo identificados por marido e mulher, ou esposo e esposa.

Juridicamente, a principal influência do casamento é na situação dos bens


dos cônjuges, que receberão tratamento diferenciado conforme o regime de
bens adotado pelo casal. Independentemente do regime de bens, o casamento
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civil tem, também, impacto em outras áreas, como a herança, obrigação de


apoio e responsabilidades perante filhos.

2.2.1- CASAMENTO NO MUNDO

Na maioria dos países ocidentais, as regras do casamento civil e religioso


são diferentes: o estado define as regras do civil e cada religião define as
regras do religioso. Não violando o princípio de separação entre estado e
religião, a maioria dos estados tem leis específicas que permitem a validade
automática do casamento religioso (normalmente apenas da religião dominante
no país) para efeitos civis. Existem outros estados onde o casamento civil
(assim como o divórcio) é indissociável do casamento religioso.

Em termos de filhos, segundo dados do Eurostat referentes a 2003, o


casamento civil não é visto na Europa como a única forma de regular uma
relação com filhos: a média dos 25 países analisados era de 32% de filhos fora
do casamento civil. No topo da tabela, aparecem a Estónia com 58% e a
Suécia com 55% de nascimentos fora do casamento civil. Outros países como
Finlândia, Reino Unido, Eslovénia, Letónia, França e Dinamarca têm valores
entre 40% e 50%, Portugal fica ligeiramente abaixo da média europeia com
29%, enquanto que, no outro extremo, temos Itália com 15%, Grécia com 5% e
Chipre com 3%.

De acordo com os mesmos dados, 67% dos lares europeus não têm
crianças, incluindo 29% de lares unipessoais, 24% de lares com casais sem
filhos e 14% de lares apenas com adultos noutro tipo de relação. Dos lares com
crianças, 13% têm apenas um progenitor.

2.2.2- O CASAMENTO NA SOCIEDADE ATUAL DE LUANDA

O casamento simboliza respeito e continuidade para os povos Bantu. O


casamento é também o encontro com os nossos ancestrais através da
formação de uma nova família para compor a sociedade.

Altuna (1985) afirma que o casamento contém um simbolismo carregado


de eficácia significativa e realiza a perenidade e expansão da vida de toda a
família, e é um laço que traduz uma família em outa.

Porém, actualmente o casamento já não representa mais o seu real


simbolismo, na verdade o casamento tradicional perdeu força ao longo do
tempo, face ao casamento europeu (conservatória e religião católica).
Agostinho (2011) afirma que para enquadrarmos o alambamento na sociedade
actual é necessário, em primeiro plano, saber como estão organizadas as
famílias em Luanda. Pois, o autor destaca que:
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(…) em Luanda ainda predomina o tipo de família alargada e


que as dificuldades dessas famílias são crescentes, devido ao
longo período de guerra civil que o país viveu de 1992-2002.
Esta mesma guerra gerou pobreza extrema com uma grande
tendência de singularizar-se. Atualmente os jovens já não
reconhecem os tios (maternos), como alguém que tem um
poder cultural sobre eles, e atualmente as visitas que se faziam
ocasionalmente para fins de saber se a família se encontrava
bem de saúde, já não se fazem mais. (AGOSTINNHO, 2011, p.
13).

Oppenheimer e Raposo (2007) afirmam que existem muitos factores que


fizeram com que esta alteração acontecesse na organização da família,
factores estes impulsionados pela guerra de desestabilização que assolou o
país, e consequentemente a degradação das estruturas sócias que
alavancavam o desenvolvimento da sociedade, tal como as escolas oficiais,
ocidentalizadas.

Esta situação de precariedade, aliada a insuficiente rede escolar e de


formação profissional, a transformação de laços sociais tradicionais no meio
urbano, gera sentimento de insegurança individual e de desintegração social,
favoráveis ao desenvolvimento de actividade de etiquetadas como desviantes
ou de actividades criminosas que atraem sobretudo crianças e rua ou jovens
em situação de delinquência.

Em suma, o que está na base da crise cultural dentro da sociedade


Luandense é a falta de infra-estruturas sociais adequadas que melhorem a
qualidade de vida das populações Luandense, e em consequência disso as
famílias encontram muitos problemas para transmitir os conhecimentos
tradicionais do casamento Bantu para a nova geração.

2.3- O OLHAR DA SOCIEDADE SOBRE OS CASAIS QUE VIVEM


MARITALMENTE SEM Á PRÁTICA DO ALAMBAMENTO

As famílias que vivem maritalmente sem a praticam do alambamento não


são respeitadas na sociedade. Antigamente para viver maritalmente o casal
tinha que fazer o alambamento, pois esta prática legitima o casal, os filhos que
advém deste casamento são respeitados e reconhecidos perante a sociedade.
Mas actualmente já não se constata esta prática, pois muitos jovens se juntam
sem fazer o alambamento, alegando que esta é uma prática ultrapassada. De
acordo com Agostinho (2011):

O Alambamento legitima os filhos, instaura o título jurídico. Em


Luanda embora conserva-se o sentido ancestral na maioria dos
grupos étnicos, observa-se um grande número de uniões
matrimoniais concebidas sem o Alambamento. As razões que estão
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na base deste fenômeno são a crise cultural iniciada no período


colonial, que culminou com a guerra civil, (terminada em 2002),
dando origem a pobreza extrema no seio das famílias luandenses.
(AGOSTINHO, 2011, p. 18).

Há que frisar que um número considerável de jovens em Luanda não faze


o pedido por falta de condição financeira, e outros não o fazem por achar que a
prática do alambamento já está ultrapassada, olhando para ela como um ritual
das populações que moram no interior do país. Desta forma, muitas famílias
deixam de fazer o alambamento, e consequentemente ele tem perdido a sua
força a nível nacional.

O alambamento é uma prática cultural muito importante para a nossa


sociedade, é através dela que novas famílias se formam para compor a
sociedade, e nela são transmitidos valores indispensáveis para o
funcionamento da nossa sociedade, cabe criar mecanismos que assegurem a
valorização e a protecção do alambamento para que este futuramente não
venha a desaparecer, pois uma sociedade sem cultura e identidade próprias é
uma sociedade sem rumo para o futuro.

Segundo Onofre (2010), a tradição mudou, hoje em dia, mesmo ela sendo
de grande importância para a sociedade ela tem sido deixada pra trás. Todas
estas questões das perdas do valor no alambamento estão ligadas a
modernidade. Actualmente existe outra motivação de vida, as pessoas estão
mais preocupadas em fazer as suas vidas segundo os cânones do 26 ocidente,
não olhando para os nossos valores culturais com aquela motivação que
alavanca o resgate dos nossos valores. Portanto é necessário
compreendermos que a modernidade que afectou o alambamento em Luanda,
e não só, tem muito haver em partes com o aparecimento da industrialização
(implementação das grandes empresas multinacionais), da urbanização, do
aparecimento do Estado burocrático, entre outros. De certa forma, todas estas
questões da modernidade citadas a cima, estão na base da mudança de
pensamento que afectam a sociedade e a consequente banalização das
tradições culturais locais.
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3-CONCLUSÃO

Este trabalho foi realizado com empenho e acreditamos que cumpriu as


expectativas. Ao concretizá-lo, aprendemos que o alambamento ou pedido
chega a ser um acontecimento mais importante do que o casamento civil ou
religioso e consiste em pedir a mão da namorada à família, mais propriamente
ao tio, que tem um papel fundamental para que o casamento se concretize. O
papel dos tios é tanto ou mais importante do que o dos pais, pois os tios são
também responsáveis pela educação da noiva.

A modernização e a evolução da sociedade podem ser consideradas


como as grandes responsáveis da perda do valor simbólico do alambamento
no seio da sociedade Luandense. A maior parte das famílias hoje em dia já não
se importa com o valor simbólico do alambamento.

Actualmente se discute muito em Luanda sobre as funções verdadeiras


do alambamento como “aliança” entre famílias e como legitimação de relações
íntimas e transmissão do saber tradicional face ao “modernismo”.

Por outro lado, nos interessou trazer para a sociedade Angolana uma
abordagem sobre os aspectos essências do Alambamento, resgatar a sua
função e o seu enquadramento como aspecto cultural de grande importância
na sociedade Angolana.
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4-REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

Os conteúdos deste trabalho foram retirados nos seguintes Sites:

 TRIVIANO, A. “Introdução à pesquisa em ciências sociais”. In: A


PESQUISA EM EDUCAÇÃO. São Paulo – SP: ATLAS; 1987.
AGOSTINHO, Mateus. Alambamento no seio dos Ambundu da Provincia
de Luanda. Monografia (licenciatura em Antropologia) – Universidade
Agostinho Neto, Luanda, 2011.
 IMBAMBA, José Manuel. Uma nova cultura para mulheres e homens
novos. Luanda: Editora Paulinas,2003.
 KAMABAYA, Moises. O renascimento da personalidade africana.
Luanda: Editorial Nzila, 2005. Disponível em:
https://books.gogle.com.br/books/about/O_renascimento_da_personalid
ade_africana.html?hl=pt-BR&id=EM-fAAAAMAAJ acesso em
23/09/2023
 ONOFRE, C. Angola: O Alambamento e os Rituais de Casamento. 2010.
Disponível em: https://pt,globalvoices.org/2010/08/2009/angola-o-
alambamento-os-rituais-do-casamento/ acesso em 23/09/2023
 RIBAS, Óscar. Temas da vida Angolana e suas incidências. Luanda:
Chá de Caxinde, 2002.
 https://pt.globalvoices.org/2010/08/29/angola-o-alambamento-e-os-
rituais-do-casamento/ acesso em 23/09/2023
 https://www.embassyangolatr.org/cultura-tradicao-angolana/ acesso em
23/09/2023
 https://pt.wikipedia.org/wiki/Casamento_civil acesso em 23/09/2023
 https://pt.wikipedia.org/wiki/Casamento acesso em 23/09/2023

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