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RIO DE JANEIRO
2013
LISANDRA KWAMI GOMES DE ALMEIDA
RIO DE JANEIRO
2013
ALMEIDA, Lisandra.A INTERFERÊNCIA DO KIMBUNDU NA LÍNGUA PORTUGUESA FALADA EM
LUANDA. Rio de Janeiro: Universidade Veiga de Almeida, 2013. 72 páginas. Monografia apresentada ao
Curso de Graduação em Letras da Universidade Veiga de Almeida, como requisito obrigatório e necessário para
a obtenção do título de Licenciatura em Língua Inglesa sob orientação da Professora Sabine Mendes Lima
Moura.
Banca Examinadora:
________________________________________
________________________________________
________________________________________
Apresentada em /Junho/2013
Conceito: ______________
AGRADECIMENTOS
A elaboração deste trabalho só foi possível graças à ajuda de muitas pessoas que me
ajudaram diretamente indiretamente. Em primeiro lugar, eu agradeço Deus por ter me dado
Aos pais, por terem me dado a oportunidade de viajar e fazer a pesquisa em Luanda,
principalmente a minha mãe, Maria João Gomes, por rodear a cidade de Luanda durante o
mês inteiro comigo e também ao meu cunhado Tiago Kissua, pela paciência de procurar
Aos meus amigos, por fazerem o papel de psicólogos nos momentos que pensei que
não iria dar conta do trabalho, pelas sugestões e por fazerem parte dos grupos da pesquisa.
Por último, aos meus familiares que me ajudaram na pesquisa, meus irmãos e primas.
Especialmente, à Soraia e Isabel, que se responsabilizaram por juntar o grupo dos pré-
adolescentes.
Ao meu pai Francisco Leandro de Almeida, pelo voto de confiança.
Aos meus amigos Tiago Kissua, Erika Silva, Martinho Simba e
Nilton P., por todo apoio.
A minha Profa Sabine Moura, pela força.
RESUMO
The aim of this study is to analyze the interference of Kimbundu in the Portuguese
spoken in Luanda. Through a questionnaire for middle class teens and young adults from
three different age groups, with the propose to prove to theses volunteers who claim not to
speak or write kimbundu, that they mix kimbundu words with Portuguese on daily bases in
informal environment with family and friends. Briefly, this study will tell a little bit about the
history of the sub-kingdom Ndongo, where the story of Angola began, and also present the
linguistic changes that occurred during the colonial period that resulted in the loss of cultural
identity Angola.
Pág
Figura 01 –Reino Ndongo por volta de 1711. 15
Figura 02 – Cidade de Luanda. 16
Figura 03 – Encontro entre a Rainha Nzinga e o governador português em Luanda. 19
Figura 04 – Reino Português de Angola. 19
Figura 05 – Nzinga Mbandi. 20
Figura 06 – Angola. 20
Tabela 01 – Grupos linguísticos de Angola 21
Figura 07 – Grupos étnicos de Angola. 23
Tabela 02 – Nações e idiomas bantu. 22
Tabela 03 – Dados Estatísticos. 36
Tabela 04 – Significado das palavras. 40
Tabela 05 – Línguas nacionais reconhecidas. 40
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 11
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................. 13
2.1 Panorama social geral ..................................................................................................... 13
2..2 Expansão portuguesa ..................................................................................................... 14
2.2.1 Início do comércio de escravos e invasão holandesa .............................................. 16
2.3 História dos Reinos......................................................................................................... 17
2.3.1 O reino Ndongo ....................................................................................................... 17
2.4 Origens linguísticas: história do Kimbundu ................................................................... 21
2.4.1 O contato da língua portuguesa com o kimbundu ................................................... 24
2.4.2 Português: Língua materna ou uma língua de dimensão nacional?........................ 25
2.5 Português x Kimbundu ................................................................................................... 26
2.6 O jovem luandense ......................................................................................................... 29
3 METODOLOGIA .................................................................................................................. 34
4.1 Origem de Palavras ......................................................................................................... 38
4.2 Significado das palavras ................................................................................................ 39
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................51
ANEXO –DADOS DE PESQUISA........................................................................................56
11
1 INTRODUÇÃO
O trabalho partiu de uma descoberta pessoal da autora sobre a origem de palavras que
utilizava e considerava como gírias, sem saber que essas palavras tivessem origem no
Kimbundu, uma das línguas nacionais angolanas. Por esse motivo, objetivou-se nesse trabalho
um aprofundamento das pesquisas sobre as palavras originadas do Kimbundu, tendo como
prioridade as palavras mais faladas nas ruas de Luanda, capital da Angola. Palavras como
camba-Dikamba e bazar-Kubaza, entre outras que surgiram do kimbundu, são usadas no
cotidiano do jovem luandense. Porém, no entendimento desse jovem, essas palavras ou
vieram do português ou são consideradas gírias, raramente se pensa na possibilidade de essas
palavras serem originadas em alguma das diversas línguas de seu próprio país.
O trabalho é focado na juventude luandense pelo fato de sua autora pertencer a essa
geração, que já encontrou a língua portuguesa oficializada como primeira língua de Angola.
Procurou-se trazer à tona momentos históricos que afetaram a sociedade luandense daquela
época e que ainda afetam o cotidiano do jovem de classe média, porque a juventude não tem
muito conhecimento sobre suas origens familiares ou sobre as línguas nacionais. Mesmo
vivendo na província onde a tribo dos kimbundos reside, existem jovens que afirmam não
saber falar kimbundu.
13
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A tribo khoisan vem de uma família de grupos étnicos que viviam na região sudoeste
de África. Possui algumas características físicas e linguísticas que foram assimiladas por
vários grupos bantus. Foi o primeiro povo que habitou em Angola e também eram conhecidos
por bosquímanos, hotentotes ou san. Hoje, é um grupo minoritário, localizado nas províncias
meridionais do Kuando, kubango e kunene. Segundo alguns antropólogos, o khoisan é o que
restou de uma antiga raça africana pré-existente à chegada dos bantu (MOREIRA, 2006). De
acordo com a divisão do professor Malcolm Guthrie de línguas bantus, ainda há tribos bantus
que formam dezenas de variantes com mais de uma centena de subgrupos. O povo bantu é o
grupo demograficamente mais importante que chefia o território que abrange a totalidade de
Angola (GUTHRIE, 1971).
Por volta de três ou quatro mil anos atrás, a tribo Bantu deixou a selva equatorial, que
hoje corresponde às regiões entre Camarões e Nigéria, para imigrar para o sul e leste da
África. O motivo dessa migração até hoje é desconhecido, mas esse processo durou até o
século XIX. Durante esse processo, essa tribo, que era considerada uma das mais fortes tribos,
talvez a mais forte, devido a sua organização, tiveram que vencer batalhas contra tribos
indefesas, como a tribo dos pigmeus e bosquímanos para tomar posse das terras. A tribo bantu
tinha um número maior de seguidores, cerca de quinhentos povos bantus. Por este motivo não
podemos atribuir uma raça específica para representar a tribo bantu, motivo pelo qual
utilizamos o termo “povo”. O povo bantu era caracterizado por comunidades culturais,
civilização comum e línguas semelhantes. (YIATETA, 2009)
O termo “Bantu” significa pessoas e o seu singular é “Muntu”, este nome é somente
atribuído a uma civilização que conserva a sua unidade e foi desenvolvida por povos de raça
14
negra. O radical 'Ntu'', comum em muitas línguas Bantus, significa, pois, “homens”, “seres
humanos”. (RUIZ, 1993)
Como já foi mencionado, o povo bantu imigrou em direção ao sul e leste de África e
uma das terras que eles conquistaram foi no sudoeste do continente, onde foram criados os
estados Kongo ou Ndongo. O reino Ndongo passou a existir a partir do século XVI,liderado
por um kimbundu chamado Ngola A Kiluanji Inene (o grande rei). Ngola A Kiluanji fundou
um dinastia que mais tarde ficou conhecida por Reino de Angola. O nome “Ngola” vem do
termo “Ngolo”, que em kimbundu significa “força”, de acordo com o Ensaio de dicionário
Kinbundu-portuguez (MATA apud PONTE, 2006) e “Angola” é derivado do nome do seu rio
“Ngola”. (PONTE, 2005).
1
Reino Prestes João – Alguns acreditavam ser um reino místico, outros não.
Ver:http://estrolabio.blogs.sapo.pt/1383892.html
15
rei Nzinga Nkuwu2. No início, o líder português procurou estabelecer um ambiente pacífico,
que resultou na liberação do acesso para o início do intercâmbio cultural, econômico e
vagamente semeou o proselitismo religioso no reino do Kongo3.
Ao sul do reino do Kongo, existiam mais dois reinos, que eram o Ndongo, reinado por
Ngola Kiluanji, e Matamba, governado por uma rainha desconhecida. Aos poucos o então
novo “amigo” ganhava mais a confiança do reino Ndongo, mas a real prova veio na batalha de
independência do reino Ndongo, o qual pertencia ao reino do Kongo. Em todas as batalhas
contra o reino do Kongo, os kimbundus (Reino do Ndongo) sempre tiveram o apoio dos
portugueses. Finalmente, em 1556, o reino do Ndongo tornou-se independente do reino do
Kongo.
2
Nkuwu Nzinga, primeiro manicongo a converter-se ao cristianismo c.1509, gravura de Pierre Duflos (1742-
1816)
3
Reino do Kongo (Congo) foi aonde começo a história de muitos países africano do sul.
16
{LUANDA}
Lu – Primitivo de forma plural nas línguas bantus; Todo lugar que tem água, alagamentos, ilha, braço de
rio etc...
Anda – deriva de Ndandu- significa mercadorias, valores ou objeto de comércio. PIRES (1965, p15)
A chegada da nova embaixada portuguesa em 1560, liderada por Paulo Novais, que
trouxe missionários jesuítas, só piorou a relação já fragilizada entre o reino africano e os
portugueses, e resultou na prisão de Paulo Novais e os jesuítas por cinco anos. Não fosse pela
ação militar dos Bayakas5, Novais nunca teria regressado a Portugal em 1565 (SERRANO,
1982).
4
Soba: do kimbundu, autoridade maior de um distrito.
5
Bayakas- faziam parte do reino do Kongo.
18
armas fossem simples arcos e flechas contra as armas de fogo. Na medida em que as batalhas
aumentavam, o reino se afastava da capital Loanda e foram se refugiar em Cabassa no interior
de Matamba. Com o tempo, o reino foi enfraquecendo por causa da desistência de alguns
líderes.
O falecimento do rei em 1617 trouxe desunião familiar, pois deu início à disputa entre
seus filhos pelo poder.Essa disputa só favoreceu os portugueses, pois isso enfraquecia o reino.
O ambicioso, Kia Ngola Mbandi6, que já era rei antes da morte de seu pai, luta para
receber as terras de sua irmã Nzinga. Tão grande era sua ganância e crueldade que mandou
assassinar o único filho de sua meia-irmã. Isso fez com que Nzinga se afastasse e formasse o
seu próprio exército para se vingar do irmão (FONSECA, 2011 apud(MILLER 1995).
O tal acordo resultou em Nzinga tornando-se embaixadora de Luanda, mas a paz não
durou muito. O sucesso de Nzinga mais uma vez desperta a inveja de seu irmão, que, atacado
pela fúria, inicia novamente uma guerra contra os portugueses. Mas isso não dura muito
tempo, pois logo depois morre envenenado.
6
Filho do rei Ngola Kiluanji.
19
Figura 2O grande encontro entre Rainha Nzinga Mbandi com governador Português em Luanda. Fonte:
www.pitigrili.com
O nome do país “Angola” foi uma homenagem ao seu rei Ngola,e o nome Ngola
deriva do termo “Ngolo”, que em kimbundu significa “força”, de acordo com o Ensaio de
dicionário Kinbundu- portuguez (MATA apud PONTE, 2006,).
SETAS(2007) relata que o povo bantu é originalmente da selva equatorial, que nos
dias atuais é território de Camarões e Nigéria. Por volta de três ou quatro mil anos atrás, por
motivos desconhecidos, a tribo bantu imigrou da selva equatorial para o sul e leste da África.
Esse processo imigratório teve duração até o século XIX.
Assim, como a tribo khoisan, os bantus também marcaram a história da África, mas
superaram a tribo khoisan, pois venceram várias batalhas contra as tribos dos pigmeus e
bosquímanos (subgrupos- khoisans) e se apoderaram das suas terras. Correira (2008) relata
que a tribo bantu era constituída por cerca de 500 subgrupos bantus, por esse motivo é que
não há uma específica raça para representar essa tribo. Eles são identificados pelas
22
Quase todo o território angolano situa-se dentro da zona de divulgação das línguas
Bantus. Eis aqui as nove nações bantus que correspondem a uma língua nacional diferente:
Nação Idioma
Bakongo
Kikongo
Mbundu(Ambundu) Kimbundu
Lunda-Tchokwe Tutchokwe
Ovimbundu Umbundu
Ganguela Tchiganguela
Nhaneka-Humbe Lunhaneka
Herero Tchiherero
Ovambo Ambo
Donga Xindonga
Tabela 2: Pinto,2000-http://www.multiculturas.com/angolanos/alberto_pinto_kimbundu_intro.htm
23
Figura 6 Grupos étnicos de Angola. Fonte: [Imagem: Angola Ethnic map 1970-PT. svg|thumb|180px|legenda]].
24
O português era uma língua fraca, usada somente entre chefes e comerciantes. A
maioria da população se comunicava em kimbundu. Essa língua nacional era usada na vida
cotidiana do luandense, até mesmo a elite afro-portuguesa que ocupava as posições-chave do
governo também tinha um bom conhecimento de kimbundu. No início, o português tentou
equilibrar esse convívio entres as línguas kimbundu e português, sendo que em Luanda
habitavam pessoas de várias tribos, que conviviam juntas e se comunicavam em kimbundu, a
língua nacional que dominava a capital do país. Mas essa tentativa não obteve muito sucesso.
A cultura e língua dos portugueses só conseguiram aprofundar-se na capital através de
políticas agressivas que simplesmente impuseram uma nova língua e cultura ao cidadão
luandense. Foi durante essa época que começou o império português em Angola (TERESA;
SEBASTIÃO; BENTO: 2010).
25
“Devemos ter a coragem de assumir que a Língua Portuguesa, adotada desde a nossa
Independência como língua oficial do país e que já é hoje a língua materna de mais
de um terço dos cidadãos angolanos, se afirma tendencialmente como uma língua de
dimensão nacional em Angola. Isso não significa de maneira nenhuma, bem pelo
contrário, que nos devemos alhear da preservação e constante valorização das
diferentes Línguas Africanas de Angola [LAA], até aqui designadas de “línguas
nacionais”, talvez indevidamente, pois quase nunca ultrapassam o âmbito regional e
muitas vezes se estendem para além das nossas fronteiras.”.
(Pres.: Jose Eduardo dos Santos, apud AGUALUSA, 2006)
Alguns angolanos lutam contra a ideia de que o português seja a nossa língua materna,
mas outros a adotaram sem qualquer problema, já que o português hoje é a língua oficial do
país e a que nos une. (PATISSA, 2005)
A língua oficial é tomada como a unificadora de um país ou a língua que todos devem
saber para tratar qualquer assunto governamental. Mas será que esse conceito também deve
ser aplicado em países da África, especificamente em Angola? Se for possível, então a língua
portuguesa tornou-se uma língua africana, vinda da raiz da Europa e se enraizou em África.
O que está acontecendo em Angola já ocorreu com Brasil. Quando os portugueses
desembarcaram nas praias com o território amplíssimo, havia aproximadamente 1.200 línguas
indígenas. Atualmente, restam apenas 180. Esse massacre linguístico foi um dos maiores
crimes cometidos pelos portugueses durante a era colonial. Felizmente, o Brasil conseguiu
abraçar um grande número de palavras indígenas e africanas. Um fenômeno que não ocorreu
em lugares como os Estados Unidos ou a Austrália. (AGUALUSA,2004/05)
De acordo com o Reis (2006), a língua estrangeira é aquela que é falada pelos
membros de uma determinada comunidade e que não é idêntica, ou não pertence ao seu
patrimônio cultural. Com isso dito, realmente não há como consideramos a língua portuguesa
como uma língua nacional, muito menos, inseri-la no quadro linguístico angolano, porque ela
veio do indo-europeu, já o kimbundu de Luanda deriva do bantu, uma língua de raiz africana.
Se formos por essa explicação, podemos afirmar que o português, é, sim, uma língua
estrangeira, dentro da comunidade de línguas nacionais angolana.
27
Luanda era a cidade de maior concentração portuguesa, por estar localizada na costa
do oceano Atlântico, o que facilitava a exportação de bens materiais. Esse fato aumentava a
população portuguesa na capital e, cada vez que esse movimento imigratório ocorria,
diminuía mais a possibilidade de cultivo da língua principal da cidade, que era o kimbundu.
"O uso exclusivo da língua portuguesa, como língua oficial, veicular e utilizável
actualmente na nossa literatura, não resolve os nossos problemas. E tanto no ensino
primário, como provavelmente no médio, será preciso utilizar as nossas línguas. E
28
dada a sua diversidade no país, mais tarde ou mais cedo deveremos tender para a
aglutinação de alguns dialectos, a fim de facilitar o contacto." (24 de Novembro de
1977, Agostinho Neto,)
O português foi a língua que uniu um país com tanta diversidade linguística, que ficou
em destaque no meio de 48 ou mais de línguas nacionais, por esse motivo era praticamente
impossível que o kimbundu influenciasse a LP e, com o tempo, a LP ofuscaria o kimbundu.
Esse ensino caracteriza-se essencialmente pelo papel que lhe é imposto pelas
diretivas oficiais; fazer do africano um “português” levando-o a esquecer todas as
tradições culturais e históricas nacionais. Por exemplo: só é permitido o ensino da
língua portuguesa; nada se aprende sobre as tradições literárias e artísticas dos povos
angolano, da sua historia, etc. Apesar disso, as populações resistem admiravelmente ás
tentativo de esmagamento das suas tradições nacionais, transmitindo oralmente a sua
literatura, os seus hábitos e as suas tradições. (CÁ, 2011, apud CABRAL;
ANDRADE, 1978, p. 17)
O mercado de trabalho está cada vez mais exigente, e isso não é só em alguns países,
mas no mundo inteiro. Hoje se exige que o indivíduo seja no mínimo bilíngue. No século
XXI, de acordo com David Pegg7, as línguas estrangeiras que lideram o mercado de trabalho
são a língua Inglesa, Francesa e Espanhola. Em Angola não é tão diferente, especialmente na
capital, onde os futuros trabalhadores estão investindo cada vez mais em línguas estrangeiras
para obter melhores ofertas de emprego.
Por este motivo, há certa discriminação contra os que sabem falar uma língua
nacional, que normalmente são os moradores de bairros rurais em Luanda. O olhar
7
Disponível em: (http://list25.com/the-25-most-influential-languages-in-the-world/2/)
30
governamental é o seguinte: olhar para línguas estrangeiras como o inglês e francês, que
atualmente lideram o mundo. Dessas sim teremos um bom aproveitamento para melhorar o
país (PINTO, 2008 apud FONSECA, 2012).
Visto isso, não há como os jovens se interessarem pelo o ensino da presente língua
nacional quando o próprio governo não a valoriza.Por outro lado, há quem pergunte que
função teve a língua portuguesa durante a guerra civil quando muitas pessoas não conseguiam
se comunicar na própria língua oficial do país? De acordo com Inocência da Mata:
Ou seja, é um dever do Estado promover as línguas nacionais ao seu povo para que ao
menos possamos cultivar o que nos resta da nossa identidade. É mais, que evidente que
durante a guerra civil, que teve duração de 38 anos, perdeu-se muita coisa que nos retrasou.
Colocamos em pausa diversos órgãos governamentais para nos focar em estabelecer a paz no
país. Um desses órgãos pausados foi a educação e, agora, lutando contra o tempo, a lista do
que é mais e menos importante na área educacional inclui o ensino de línguas estrangeira, mas
não as nacionais.
Hoje em dia, na televisão pública de Angola, é possível assistir ao telejornal nas seis
principais línguas do país e em português, mas o Estado angolano não responde a contento as
disposições da declaração universal dos direitos linguísticos (id).
Na pesquisa, foi demonstrado que o jovem luandense não tem noção da existência de
línguas nacionais e que o kimbundu é natural de Luanda. Porém, a pesquisa foi
intencionalmente desenvolvida para provar para os jovens que afirmam não ter conhecimento
do kimbundu, por falta de recursos e interesse, que inconscientemente ele faz uso de palavras
que originaram do kimbundu. Foi interessante descobrir que eles sabem o significado, mas
não conhecem a origem das seguintes palavras:
8
Candongueiro: táxi público, ou taxista.
9
Zungueira: ambulante.
32
É interessante, porque dá para ver que não é muito tarde para resgatar a nossa
identidade africana. Se eles já fazem uso dessas palavras diariamente, não custa nada, com o
tempo, acrescentar mais e mais palavras no seu vocabulário em kimbundu.
Kimbundu
Kikongo
Umbundu
Chocué
Fiote
Cuanhama
Tabela 5
33
3 METODOLOGIA
Foi realizada através de uma entrevista jovens de classe social média com três grupos
das seguintes faixas etárias: de 14 a 18, 19 a 22 e de 23 a 26 anos. Alguns formulários foram
preenchidos pessoalmente e outros, via e-mail. Essas três faixas etárias compõe o grupo que
nasceu após o Decreto de 9 de dezembro de 1921, por isso têm o português como língua
materna.
Por meio das respostas dadas pelos entrevistados foram feitos gráficos para apresentar
os resultados dos grupos. O foco esteve na quantidade de respostas erradas ou corretas de
cada grupo e também na opinião individual dos membros dos grupos a respeito da questão
sobre o interesse em aprender o kimbundu.
4 ANÁLISE DE DADOS
22 - 26
C
B
19 - 22 A
14 - 18
Grupo A – Na faixa etária de 14 – 18 anos de idade, entre os cinco entrevistados, apenas dois
afirmam misturar palavras do kimbundu na língua portuguesa, e três declaram abertamente
que nunca misturam palavras do kimbundu com a língua portuguesa.
Grupo B – Na faixa etária 19 – 22 anos de idade, entre os cinco entrevistados, três afirmam
que misturam palavras do kimbundu com a língua portuguesa. Dois declaram que nunca
misturam palavras do kimbundu com a língua portuguesa.
Grupo C - Na faixa etária 22 – 26, entre os seis entrevistados, apenas um afirma que mistura
palavras do kimbundu com a língua portuguesa. E dois afirmam nunca misturar palavras do
kimbundu com a língua portuguesa.
37
SIM
3
NÃO
0
14 - 18 19 - 22 22 - 26
A. SIM
B. NÃO
14 -18 anos
Sabe
origem
20%
Não sabe
origem
80%
O resultado obtido pelo grupo A já era previsto, visto que essa é a faixa etária com
menos conhecimento do kimbundu. Foi o segundo grupo que demonstrou mais interesse em
aprender o Kimbundu, mas não teve firmeza nas respostas dadas durante a entrevista.
19 - 22 anos
Sabe origem
40%
Não sabe
origem
60%
39
O grupo que mais demonstrou conhecimento foi o grupo B, no qual40% dos participantes
demonstram saber a origem de algumas palavras do kimbundu.
22 - 26 anos
Sabem
origem
33%
Não Sabem
origem
67%
Era suposto que o número de participantes que soubessem a origem das palavras do
grupo C fosse mais elevado que o dos outros dois grupos, sendo que foi esse grupo que mais
demonstrou interesse em aprender o kimbundu e o que mais demonstrou solidez no motivo
que os levariam a aprender a presente língua nacional.
22 - 26
0-4
19 - 22 4-8
8 - 12
14 - 18
a) Bazar
b) Camba
c) Cambuta
d) Cassule
e) Kota
f) ku zunga
g) Nzambi
h) Mangonha
i) Maka
j) Kumbú
k) Kubata
O grupo A, que pertence à faixa etária 14 – 18 teve o maior número de respostas erradas,
com quase 40% de reprovação nessa questão. O grupo B, da faixa etária 19 – 22, saiu em
segundo lugar, com aproximadamente 20% de reprovação nessa questão, e o grupo C em
primeiro lugar, pois o número de erros foi abaixo de dez.
5 CONCLUSÃO
A conclusão do trabalho foi razoável, visto que foi alcançado o objetivo da pesquisa,
que era contar resumidamente a história sociolinguística da província de Luanda. Com a
pesquisa comprovou-seque o kimbundu interfere na língua portuguesa falada pelo jovem
luandense, que faz uso do kimbundu inconscientemente no seu cotidiano. Por um lado, é
ótimo saber que até hoje o kimbundu sobreviveu todos os atentados intencionados em
elimina-lo completamente, por outro, não se pode negar que o colono quase conseguiu isso
com a interrupção de sua evolução.
Podemos crer que, se o português não tivesse colonizado Angola, hoje o kimbundu
provavelmente seria a língua oficial do país. Não só isso, mas também estaria muito mais
desenvolvida em relação ao seu estado nos dias atuais. É muito satisfatório sentir a presença
do kimbundu na nova geração, mesmo que seja de um jeito camuflado. Porém, por outro lado,
é lamentável que essa geração não reconheça que faze uso dessa língua nacional que
representa a tribo que fundou o nosso país, ou melhor, a nossa capital.
A língua nacional hoje é desprezada por muitos kimbundos que não vêem necessidade
de aprendê-la e essa indisposição para seu aprendizado tem certa razão, já que o próprio
governo manifesta pouco interesse em promover o ensino do kimbundu.
Infelizmente, o destino adicionou essa revira volta inesperada que mudou tudo em
Angola. Levando em consideração a opinião de todos, doponto de vista sociolinguístico,
acredito queessa reviravoltano nosso país teve resultado negativo, porque perdemos muito e
pior de tudo, foi perdida nossa identidade como país africano. Mas, considerando-se quenunca
é tarde demais, devemos lutarcontra o tempo para recuperar essa identidade que nos fará um
país african oorgulhoso, como fomos feitos para ser.
Em resumo, no capítulo 2 foi falado sobre a expansão portuguesa, que começou com
um objetivo, mas durante o percurso esse objetivo foi mudado, pelaopção de investirem nas
terras do reino do Ndongo. Depois falou-se sobre a história do reino do Kongo, que fundou o
42
sub-reino do Ndongo, que conquistou sua independencia com a ajuda dos portugueses e que,
futuramente foi colonizado por eles.
Por último, foram apresentados os, efeitos do decreto que proibiu o ensino do
kimbundu na capital do país e o preconceito que nasceu contra a língua nacional que no
passado foi a língua principal de Luanda.
43
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SERRANO, Carlos. Ginga, a rainha quilombola de Matamba e Angola. Revista USP: São
Paulo. Dez/Fev. 95/1996.
SIMÕES, Manuel. O mito do Preste João e o imaginário português. 2011. Disponível em:
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<http://club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=13504:crendices-do-
nosso-preconceito-linguistico-n-talapaxi-s&catid=17:opiniao&Itemid=124>
TERESA, C.; SEBASTIÃO, J.; BENTO, F.. Contributos para uma caracterização
linguistica do luandense. 2010. Dissertação (Mestrado em Línguas, Literaturas e Culturas).
Departamento de línguas e culturas, Universidade do Aveiro.
TRINDADE, Azoilda L. da; SANTOS, Rafael dos (org). Multiculturalismo: mil e uma
faces da escola. 3ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
47
Entrevista 1:
Entrevista 2:
a) Bazar- Português
b) Camba- Português
c) Cambuta - Português
d) Cassule - Português
e) Kota - Português
50
f) ku zunga - Português
g) Nzambi – Português
h) Mangonha - Português
i) Maka - Português
j) Kumbú - Português
k) Kubata- Português
l) Bufunfa - Português
a) Bazar- Ir
b) Camba- Amigo
c) Cambuta - Pequeno
d) Cassule - Filho mais novo
e) Kota – Mais velho
f) ku zunga - Vendendor
g) Nzambi – Deus
h) Mangonha - Maninha
i) Maka - Confusão
j) Kumbú - Dinheiro
k) Kubata- Casinha
l) Bufunfa – Dinheiro
Entrevista 3:
Por quê?
Gosto de conhecer e aprender novas coisas.
( ) Todos os dias
(X) Nunca
Entrevista 4:
Por quê?
( ) Às Vezes
( ) Todos os dias
(X) Nunca
Qual é a origem das seguintes palavras:
a) Bazar- Português
b) Camba- Português
c) Cambuta - Português
d) Cassule - Português
e) Kota – Português
f) ku zunga - Português
g) Nzambi – Português
h) Mangonha - Português
i) Maka - Português
j) Kumbú - Português
k) Kubata- Português
l) Bufunfa - Português
c) Cambuta - Pequeno
d) Cassule - Criança
e) Kota – Mais velho
f) ku zunga - Vendedora
g) Nzambi – Deus
h) Mangonha -
i) Maka - Problema
j) Kumbú - Dinheiro
k) Kubata- Casa
l) Bufunfa -Dinheiro
Entrevista 5:
Por quê?
Porque deveria ser a minha língua materna
g) Nzambi –
h) Mangonha -
i) Maka -
j) Kumbú -
k) Kubata-
l) Bufunfa -
Entrevista 6:
Nome:Lucrecia Judith Barroso
Idade:( ) 14-18 (x )19-22 ( ) 22-26
Por quê?
Gosto muito eacho importante aprender detalhes da minha cultura.
Gostaria que me ensinassem desde a primeira, assim como me foi ensinado o português.
( ) Às Vezes
(x) Todos os dias - é automático, adoro fazer isso.
( ) Nunca
a) Bazar-
b) Camba-kimbundu
c) Cambuta-kimbundu
d) Cassule -kimbundu
e) Kota -kimbundu
f) Ku zunga -
g) Nzambi–kimbundu
h) Mangonha -
i) Maka -kimbundu
j) Kumbú -kimbundu
k) Kubata-kimbundu
l) Bufunfa -kimbundu
Entrevista 7:
(x ) Sim ()Não
Por quê?
Por ser uma herança cultural muito valiosa, que aos poucos está a ser extinta, eu gostaria de
alguma forma manter ela viva.
Com que frequência você mistura palavras do Kimbundu no português?
a) (x)Às Vezes
b) ( ) Todos os dias
c) ( ) Nunca
Qual é a origem das seguintes palavras:
a) Bazar-
b) Camba- do Kimbundu
c) Cambuta – do Kimbundu
d) Cassule - do Kimbundu
e) Kota – do Kimbundu
f) Ku zunga - do Kimbundu
g) Nzambi – do Kimbundu
h) Mangonha -
i) Maka - do Kimbundu
j) Kumbú - do Kimbundu
k) Kubata- Umbundu
l) Bufunfa -
f) ku zunga -
g) Nzambi – Deus
h) Mangonha - Preguiça
i) Maka - Problema
j) Kumbú - Dinheiro
k) Kubata- Casinha
l) Bufunfa - dinheiro
Entrevista 8:
Nome: JoanaAlberto
Por quê?
Porque é bom que os jovens aprendam, para não nos esquecermos da nossa tradição.
k) Kubata-kim
l) L) Bufunfa -kim
Entrevista 9:
Nome: Octaviano Janota
Idade: ( ) 14-18 ( )19-22 ( *) 22-26)
Você deseja aprender?
(* ) Sim ( ) Não
Por quê?
Para ter um conhecimento amplo sobre esta etnia.
Com que frequência você mistura palavras do Kimbundu no português?
( ) Às Vezes
( ) Todos os dias
( *) Nunca
d) Cassule -
e) Kota - Angolana
f) Ku zunga -
g) Nzambi – Deus
h) Mangonha – Preguiça
i) Maka – Angolana
j) Kumbú – Angolana
k) Kubata- Angolana
l) Bufunfa – Angolana
Entrevista 10:
Nome:Felisberto Inacio de Vaz Piedade
Por quê?
Não tenho interesse
60
Entrevista 11:
Por quê?
Porque de certa forma estaria a enriquecer mais a nossa cultura, e seria muito mais valia pra
mim saber uma língua nativa minha. O engrandecimento das nossas línguas nativas seria, sem
sombras de dúvidas, um resgate aos valores socioculturais da nossa bela cultura, neste caso a
Línguística.
a) Bazar-ir
b) Camba-amigo
c) Cambuta-baixinho
d) Cassule-
e) Kota –mais velho
f) ku zunga -
62
g) Nzambi –Deus
h) Mangonha -
i) Maka -Problema
j) Kumbú –Dinheiro
k) Kubata-
l) Bufunfa -
Entrevista 12:
Por quê?
Adoro as musicas e quero saber uma das linguas nacionais mais falada no país.
l) Bufunfa - português
Entrevista 13:
Nome: Martinho Alfredo Simba
Por quê?
Porque tenho como meta saber falar algumas línguas nacionais
c) Cambuta -
d) Cassule-
e) Kota -
f) Ku zunga-
g) Nzambi –
h) Mangonha -
i) Maka -
j) Kumbú -
k) Kubata-
l) Bufunfa -
a) Bazar- Ir
b) Camba- Amigo
c) Cambuta Baixinho
d) Cassule-O filho mais novo da familia
e) Kota -Alguem superior
f) ku zunga -
g) Nzambi – Deus
h) Mangonha – Mimosa, sem vergonha
i) Maka – Problemas
j) Kumbú - Dinheiro
k) Kubata- Casota de pau a pic
l) Bufunfa - Dinheiro