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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI – UAM

CURSO DE PSICOLOGIA

BRUNA BUCCHI- 21511482

FELLIPE FERREIRA ARNIZAUT- 21578548

IVAN SCANDOLA DE SOUZA SABINO- 21600237

MARIANA LUIZA FERREIRA MAZZALI- 21618511

VALMIR DE OLIVEIRA JUNIOR- RA: 21597290

ESTIGMAS NA SAÚDE PÚBLICA

Trabalho apresentado para a disciplina


de Sociedade e Comportamentos
Grupais pelo Curso de Psicologia da
Universidade Anhembi Morumbi,
ministrada pela Professora-Doutora
Danuza de Almeida Machado.

SÃO PAULO
2021
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo trazer uma entrevista com uma
psicóloga que atuou na área social, atendendo em dois Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS), a fim de elucidar e confrontar alguns Estigmas na Saúde
Pública, este sendo também o tema do presente artigo.

A principio, a metodologia utilizada para o artigo apresentado foi uma


entrevista com membro atuante na área e também pesquisa bibliográfica acerca
do assunto a fim de ser gerado conteúdo substancial para tal. Certamente os
objetivos de tal pesquisa abriram portas para uma pesquisa mais aprofundada do
mesmo assunto.

Abaixo será apresentada a transcrição da entrevista e uma breve conclusão


acerca do tema proposto para a atividade.

ENTREVISTA

Os entrevistadores são os alunos Fellipe Ferreira Arnizaut (F) e Valmir de


Oliveira Junior (V), que direcionam as perguntas elaboradas pelo grupo de alunos
composto também por Bruna Bucchi, Ivan Scandola de Souza Sabino e Mariana
Luiza Ferreira Mazzali, à Psicóloga Eliana Paganoti Resende (E), como segue:

F. Eu Fellipe, aluno da Universidade Anhembi Morumbi do curso de


Psicologia, integrante do grupo do Valmir, Mariana, Bruna e Ivan, venho por meio
desta gravação entrevistar a psicóloga Eliana assim proposto na APS (Atividade
Prática Supervisionada) com o título de: Estigmas na Saúde Pública, proposto
pela Professora-Doutora Danuza de Almeida Machado, para a disciplina de
Sociedade e Comportamentos Grupais.

F. Eliana, você poderia me falar um pouco sobre o porquê decidiu estuda


psicologia? Onde você estudou, seu referencial teórico, se você desenvolveu
alguma especialização ao longo de sua carreira e quanto tempo de profissão você
tem?
E. Boa Tarde Fellipe, obrigado pela oportunidade de participar com você. Eu
decidi estudar Psicologia há 24 anos, na verdade mais precisamente a 30 anos
atrás. Quando eu decidi estudar Psicologia foi porque infelizmente eu não havia
conseguido concluir a minha primeira graduação, então surgiu a oportunidade de
fazer uma segunda graduação, e eu sempre tive vontade de trabalhar com
pessoas, esse foi um dos motivos ao qual me levou escolher a psicologia. Eu não
tinha ainda uma diretriz do que eu gostaria de seguir pós-formação, mas eu sabia
que eu gostaria de trabalhar com pessoas, durante o percurso do estudo foram
surgindo as oportunidades e as escolhas. Meu referencial teórico foi Carl Rogers.
Fiz especialização em saúde mental na infância e adolescência, tenho uma
especialização também pra docência de nível superior, fiz várias capacitações,
aprimoramentos, principalmente dentro da área da violência e instituições.

F. Eliana, você trabalha ou trabalhou em alguma instituição social ou


pública?

E. Sim, eu trabalhei na antiga FEBEM, foi o primeiro órgão público que eu


trabalhei, posterior eu fui trabalhar no cetro de referência da mulher vítima de
violência num município próximo ao nosso, posteriormente eu trabalhei no CAPS
com álcool e drogas neste município, e 4 anos depois eu fui trabalhar em outro
município onde eu atuo hoje a 8 anos, e atualmente eu trabalho com mulheres
vítimas de violência doméstica.

V. E sobre a estrutura do prédio, como você descreveria o ambiente pra


você trabalhar com essas crianças e adolescentes?

E. Me direcionando ao CAPS, ao Centro de Atenção Psicossocial de álcool e


drogas onde eu trabalhei, no primeiro município onde eu trabalhei, eu fui
convidada para trabalhar lá, por um processo seletivo de CLT. A estrutura foi pra
ser inaugurada, ele tinha uma infra-estrutura fantástica, de informatização, de
acolhimento, de espaço, de leitos, toda uma estrutura com uma equipe
multidisciplinar, psicólogo, assistente social, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional,
médicos, clínico geral, psiquiatra, enfermeiro, auxiliar de enfermagem, técnico,
pessoal administrativo, pessoal de limpeza, segurança, tinha toda uma infra-
estrutura, tinha o sistema SUS já acoplado aos sistemas de computadores, cada
sala de atendimento tinha o seu computador, então quando nós fazíamos o
atendimento, tirando as salas de grupo que não tinham computadores, mas as
salas individuais, quando o paciente ia embora o cadastro dele já tava feito no
programa do SUS e poderia ser acessado pelo cartão do SUS a nível nacional,
nós só não tínhamos acesso a alterar aquilo que ali estava pelos outros colegas
de trabalho, mas tinha toda uma infra-estrutura muito boa. Quando eu fui pro
segundo município onde eu atuo até hoje, foi bem diferente porque lá não tem
estrutura, não tem informatização, ainda é tudo manual, os prontuários dos
pacientes são evoluídos manualmente, é uma estrutura muito simplória ainda,
infelizmente.

V. E com relação à verba, essa verba do CAPS ela vem de onde?

E. A verba do CAPS é fornecida pelo ministério da saúde avaliada pelo


estado e pelo município também.

V. Então o estado ele ajuda nessa parte?

E. Sim, isso vai de acordo com o tamanho do município, com o tamanho do


estado e o tamanho populacional.

F. Eliana, você tinha idéia de o que era feito com a verba?

E. Num contexto geral, aluguel e investimentos, isso no primeiro CAPS que


eu trabalhei então como era um CAPS AD III, a verba era maior, então ela era
bem direcionada até por ter sido um modelo nacional. Agora no segundo, a verba
ela é muito pequena, ela é menor, mas, a gente fez algumas bem-feitorias
“artesanais” vamos dizer assim, por ter o custo menor, ser bem mais em conta,
então tinha uma oficina com os pacientes que devido ao uso de álcool e drogas
tinha potencializado a esquizofrenia, entre outros transtornos, mas a maior parte
vinha com esquizofrenia, e o esquizofrênico ele gosta muito do concreto, então a
gente tinha um espaço muito bom, a casa onde está alocado o CAPS é enorme,
tem piscina, é uma casa muito grande, muito boa. Ela é divisa de uma zona
urbana com zona rural, bem na divisa, então o espaço é muito gratificante de se
trabalhar. E aí nos aproveitamos disso e um pouquinho da verba que foi
direcionada, existiam 5 salas que não tinha função, por ela ter vazão de audição,
então a gente não podia fazer atendimento ali naquela sala, e ai eu aproveitei
essa oficina com os pacientes e a gente pintava, eles pintavam caixas de ovos e
nós compramos isopores sem ar, aqueles de 5 milímetros, pra fechar em cima,
pra que não houvesse vazão de audição, hoje essas salas são utilizadas uma
delas para televisão e reunião, vídeos, alguma coisa assim com os pacientes, e
as outras duas salas são utilizadas, uma pelo psiquiatra, e a outra, enfermaria.
Então assim, a verba que vem pro CAPS, como ele tava começando esse
segundo CAPS que eu trabalhei, ele ficava dentro de um ambulatório de saúde
mental, não tinha o espaço físico dele próprio, a verba não vinha, até que a RAPS
entrou e forçou que tivesse o espaço dele. Quando nós fomos pra esse espaço,
essa casa, o trabalho foi bem artesanal, entre os profissionais que ali estavam,
multiprofissionais de diversas áreas e os próprios pacientes, então a gente fez um
trabalho onde a casa hoje ela é bem utilizada, mas com os trabalhos artesanais,
com pouquíssima verba.

F. Além da questão estrutural do prédio, o que poderia ter sido feito com a
verba?

E. Muitas coisas, a gente criou uma biblioteca pros pacientes, com


reciclagem mesmo, eram sobras de gaveta de guarda-roupa que eu ia atrás, eles
também traziam objetos que a gente poderia usar, isso tudo foi sendo reciclado,
então eu acho que poderia ter sido feito um espaço de uma biblioteca muito
melhor pra eles, para o incentivo da leitura, a gente conseguiu colocar o time do
emprego, tinha o curso do time do emprego. Pros jovens e os adolescentes que
ali participavam eu acho que o CAPS ali onde eu trabalhei, poderia ter uma
estrutura muito melhor de acolhimento pra eles, com tudo, eu acho que com
questão cultural de teatro, cinema, coisas mais concretas pra eles, pra um
conhecimento melhor.

V. Você falou sobre a verba ser destinada, mas qual é o objetivo da


instituição, o objetivo do CAPS e a sua dinâmica de funcionamento?

E. Eu vou falar desse segundo onde eu atuo em parceria ainda hoje, o


objetivo do CAPS, que é um Centro de Atenção Psicossocial, o Psico a gente já
sabe o porquê, a gente ta aqui, e o social é fazer com que esse paciente ele se
reintegre na sociedade, porque o usuário de álcool e drogas ou outras drogas ou
álcool ou tabaco, ele é literalmente bem excluído da sociedade, então é fazer com
que ele se reintegre, com que ele perceba ali qual foi o objetivo que levou ele usar
e qual ta sendo o objetivo para que ele saia dessas drogas, que ele restaure a
vida dele socialmente. Então a dinâmica, o funcionamento, ele é voltado pra isso,
e ele não trabalha sozinho, porque, muitas vezes um usuário ele não tem onde
morar, então ele precisa da parceria do social, da assistência social, então ele vai
à casa de acolhimento, que antigamente se chamava de “albergue”, hoje a gente
tem no município uma casa de acolhimento, então ele vai dormir lá, a assistente
social nessa casa de acolhimento vai verificar o direito que ele tem a benefícios,
vai tentar fazer os vínculos familiares, que muitas vezes estão rompidos, muitas
vezes aciona a assistência social (CREAS E CRAS), os CRAS pra benefícios,
bolsa família, cesta básica, de repente um BPC, ou LOAS como as pessoas
gostam de falar, de repente a cesta básica que ele necessita de imediato, toda a
questão básica. O CREAS é quando existe uma violação de direitos pra aquele
munícipe, então ele não vai ficar só no CAPS, então a questão da dinâmica de
funcionamento é: O CAPS trabalha toda a parte de saúde, que é extremamente
interessante, tem CAPS que tem o monitoramento da medicação, faz a
medicação supervisionada, tem o sistema ambulatorial, semi-ambulatorial e
intensivo, mas se utiliza a rede do município, ninguém trabalha sozinho.

F. Nesse começo de atuação, você teve alguma dificuldade? Nessa tensão


na saúde pública
E. Como eu falei anteriormente, no primeiro CAPS que eu trabalhei de álcool
e drogas não, que já veio com toda uma infra-estrutura, e uma equipe pronta e
reparada pra trabalhar. Quando eu vim pra esse outro município que é bem
menor, é bem pequeno, que não tem estrutura, não vou dizer que foi uma
dificuldade, na verdade foi um desafio, porque a gente saiu de dentro de um
ambulatório de saúde mental que era uma sala única com 13 pessoas dentro, e
nós fomos pra uma casa imensa que tinha piscina, salão, daria pra fazer um
CAPS III maravilhoso com leitos e tudo mais, infelizmente não existe essa
estrutura, mas foi um desafio sim, eu fui fazer capacitação, na época dessa
capacitação nós fizemos em vários colegas, enfermeiros, psicólogos, assistentes
sociais, de álcool e drogas pela Universidade Federal de Santa Catarina, foi um
curso on-line, é um curso muito bacana mas a gente teve que apresentar um
projeto, e agente criou um projeto de CAPS infantil ad, que era uma necessidade
do município na época, 8 anos atrás. Então eu acho que foi mais um desafio e a
superação foi buscar aprimoramento mesmo, conhecer outros CAPS de outros
municípios e ver como era o trabalho deles, a minha experiência que eu já tinha
de outro e dividir isso com os colegas, a gente encontrou muita resistência de
outros colegas em visitar outros CAPS, em conhecer outros municípios que
trabalham também com isso, pra que a gente pudesse também ter uma estrutura
bacana, e uma CAPS não pode ser confundido com um CRATOD, que isso
infelizmente às vezes ocorre, e também não pode ser confundido com um
hospital, ele veio para minimizar o atendimento no hospital, então eu acho que foi
um desafio bem bacana, mas a gente superou isso buscando conhecimento e
aprimoramento.

F. Como profissional, você teve alguma questão que você teve que
aprimorar pra poder atuar no CAPS, algo voltado a questões pessoais?

E. Tive, infelizmente com os colegas de trabalho, os pacientes são os que


menos dão problema por incrível que pareça, mas assim, é superar mesmo, é
conhecer o outro com quem você ta trabalhando, é mostrar a importância da sua
profissão respeitando a profissão do colega e fazendo com que ele entenda
também que a profissão dele é importante, mas que a minha, ou a nossa como
psicólogo também tem que ser respeitada, ou a do médico, a gente não pode
invadir a área do colega, mas a gente pode trabalhar em parceria, isso é
extremamente importante.

V. Quais são as pessoas atendidas, o público alvo, quantidade de pessoas


que eram atendidas aproximadamente?

E. O CAPS ele é porta aberta, mas como já tinha instituído alguns grupos
que já vieram no ambulatório e são vários profissionais, éramos em 13
profissionais então davam em média ali 40 pacientes por dia, às vezes chegava a
50, às vezes 35, então dependia muito do dia em que se atuava.

V. E com relação a gênero, idade, os aspectos em geral dos pacientes, grau


de escolaridade, nível sócio-econômico, como que era?

E. A maior parte deles era masculino, a idade, como nós não tínhamos um
CAPSj, infanto-juvenil, era separado um dia para os adolescentes para que não
tivesse contato com os adultos, então às terças-feiras a gente fazia o grupo de
família desses adolescentes e atendimentos adolescentes, então variava entre 14
e 15 anos até 70-80, dependendo da idade que a pessoa tinha da dependência,
mas vai até a terceira idade. Grau de escolaridade muito baixo, poucos tinham
níveis de segundo grau completo, nível superior, tivemos casos de engenheiros
que perderam tudo, perderam família, cargo, questões financeiras, carro. Mas a
maior parte deles tinha o nível de escolaridade muito pequeno, sócio-econômico
também de médio a baixo, até porque o município que eu trabalho é um município
considerado pobre, mas tinha sim pessoas com um nível sócio-econômico
razoável.

F. Eliana, você poderia comentar um pouco sobre quantos colaboradores


tinha a instituição e se essa quantidade de colaboradores atingia a demanda?

E. Nós éramos em 13, incluindo administrativo, médico, programa do tabaco,


psiquiatra, clínico geral, enfermeiro, psicólogo, assistente social, terapeuta
ocupacional. Atingia o atendimento da demanda sim, porém hoje esse número de
funcionários reduziu bastante por saídas de funcionários, outros concursos e etc,
aposentadoria, perdas por morte, e por conta da pandemia também, o número de
pessoas presentes no CAPS diminuiu, então eu digo que hoje falta funcionário,
mas o nível de freqüência também caiu bastante acredito que por conta da
pandemia.

F. Tinha que ter alguma qualificação pra trabalhar no CAPS?

E. Sim, todos acima de ensino médio, o mínimo era ensino médio, e os


profissionais técnicos são de nível superior.

F. E como que era essa questão do perfil desses funcionários? Gênero,


idade, nível sócio-econômico.

E. Gênero bem misto, mulher, homem, a idade invariada, acima de 22-21


anos, porque é quando se consegue completar o ensino superior pros técnicos,
ensino médio um mínimo de 18 anos. Os perfis eram mistos, eles não tinham
seleção por idade, eu tinha 49 anos quando eu comecei a trabalhar lá. E o sócio-
econômico médio.

F. Como era feita essa seleção pra trabalhar no CAPS?

E. Por concurso público.

F. Então você tinha que prestar uma prova?

E. Sim, prestava pro concurso público pra você ser aprovado e esperar ser
chamado pra começar a trabalhar, o concurso que eu prestei ele não foi
direcionado pra saúde, nem pro social, nem pra educação, o concurso que eu
prestei ele foi aberto, foi contratado “X” psicólogos, “X” assistentes sociais, então
você pode atuar em qualquer área, não fui específico para saúde, ou para o
social.
V. Passando agora pra uma parte mais específica, uma parte de
atendimento, sobre os atendimentos multidisciplinares, como eles eram feitos no
CAPS?

E. Nós temos ainda hoje, o sistema continua o mesmo, porque como eu


mencionei anteriormente, apesar de hoje eu estar na área social, o contato com o
CAPS ele é praticamente diário, porque a gente tem muitos munícipes que
necessitam do CAPS então a gente faz os encaminhamentos, a gente tem
reunião de discussão de casos com a rede municipal, então a gente ta sempre
integrado com os equipamentos do município, UBS’s, todos os equipamentos
municipais. Os atendimentos específicos dentro do CAPS, nós trabalhávamos em
dupla, ainda se trabalha em dupla, então de repente um assistente social e um
psicólogo, enfermeiro e um psicólogo, enfermeiro e um assistente social, feitos
em grupos e individuais, dependendo da necessidade do paciente.

F. Eliana, durante o seu tempo de atuação no CAPS, você poderia comentar


sobre um caso marcante?

E. Tem vários casos, um dos casos de CAPS que tem aparecido e que a
gente tem trabalhado em conjunto com a saúde, o social, a habitação, educação e
etc, foram de duas munícipes de CAPSad que tinha que desenvolver por conta
das drogas, a esquizofrenia, veio uma potencialização dessa esquizofrenia, e
junto com o procedimento de acumuladores, uma nós tivemos sucesso que foi
bem bacana, hoje ela tem toda uma autonomia, tem o cuidado da saúde
ambulatorial, ela não participa do CAPS mais, porque ela teve alta do CAPSad,
então ela só é ambulatório de saúde mental mesmo, mora com o filho, tem todo
um acompanhamento medicamentoso que ela toma, mas ela tem toda uma
autonomia que foi desenvolvida, foi bem bacana. Hoje não acumula mais, mas
tem uma vigilância permanente, do filho e da saúde, porque o acumulador ele
pode voltar a acumular a qualquer momento, e ele acumula em qualquer cantinho
que não se perceba, ele é muito ágil pra isso, então tem que ter um
acompanhamento incisivo da saúde. E temos outro de uma idosa que hoje ela
está num ILPI, numa Instituição de Longa Permanência, porque o caso dela se
agravou muito, inclusive ela pegou Covid, e teve que ter todo um trabalho
novamente da rede, então foi serviços urbanos, teve a proteção social especial da
assistência, teve o CREAS pela violação, teve o CRAS pelo benefício, então
todos os materiais reciclados, que apesar de serem organizados e limpos,
estavam dentro da casa, tiveram que ser investigados, porque foram encontrados
quase 4 mil reais ali em moedas e dinheiros miúdos, 2 reais, 10 reais, 5 reais, 1
real, então esse dinheiro teve que ser contado, ela não pagou água, não pagou
luz, o imóvel era alugado, a gente teve que prestar contas de tudo isso porque o
aluguel estava pago, mas a água e luz ela não pagou, então a gente teve que
fazer ainda, ta terminando esse processo, porque a gente ta processando toda a
computação desse dinheiro que foi pago, mostrando as contas e etc, porque isso
vai ser prestado contas pro ministério público, porque o caso está no ministério
público, e hoje ela está nessa Casa de Longa Permanência, bem adoecida, está
em recuperação, mas eu acho que se tivesse tido o acompanhamento da saúde
incisivo como foi no primeiro caso que eu citei agora, essa senhora talvez não
tivesse chegado nesse estado que chegou, infelizmente a gente chegou nesse
estágio, a gente conseguiu “salvá-la”, ela teve todo um acompanhamento
medicamentoso, todo um cuidado, hoje por ser uma idosa está num ILPI, e ta
tendo os cuidados necessários.

F. E teve algum caso em que apesar da intervenção do serviço social e


tratamento do CAPS não teve êxito?

E. Sim, infelizmente, me lembro de um jovem com esquizofrenia, ele


participava da oficina que eu dirigia ali junto com uma colega enfermeira, a Elaine,
ele infelizmente teve perda de familiares, principalmente a mãe que era o ponto
de apoio dele, e hoje ele vive em situação de rua, apesar ainda de a gente tentar
fazer todo um trabalho com ele, de CAPS, de social, ele ta em situação de rua,
então é muito triste a gente ta em um município pequeno, que todo mundo se
conhece e a gente querer ajudar e não conseguir, a gente se esbarra com uma
frustração, uma limitação, mas a gente não consegue salvar o mundo, a gente
não pode desistir, tem uma promotora que trabalha conosco que ela fala que a
gente tem que insistir exaustivamente, mas nem sempre a gente ganha.
V. Tem algum caso que você lembra que foi muito marcante independente
se teve êxito ou não, que você participou diretamente assim que você poderia
comentar com a gente?

E. Tem, infelizmente foram dois casos de duas crianças, isso me marcou


bastante, uma foi de uma menininha de 2 anos, o pai era usuário, e ele abusava
dela sexualmente com gás, então isso foi pra mim no começo foi bem pesado, foi
bem marcante, e o outro foi um garoto de 11 anos, aonde os responsáveis eram
usuários e forneciam as drogas pra ele e ele acabou tendo um problema de
saúde, aonde a gente achava que ele era espancado, e não era, era um caso de
saúde muito grave que levou ele à morte. Então foram dois casos que pra mim
pesou bastante inclusive quando eu citei lá no começo a capacitação de álcool e
drogas, eu acho que a necessidade do município de ter um CAPS infantil, pra que
se tratasse de várias situações de crianças e adolescentes. Acho que foi mais por
isso que a gente criou esse projeto, e não só meu, mas de toda a equipe que
participou do aperfeiçoamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após entrevista e pesquisa, a conclusão que se pode tirar é de que a


psicologia social no âmbito do CAPs, se faz necessário pois, conforme apontado
diversas vezes na entrevista, é possível ter um olhar mais profundo da relação do
individuo e da sociedade em que se encontra inserido, analisando assim os tais
comportamentos e as intenções de cada indivíduo quando estão de fato cercados
por outras pessoas em seu círculo social.

Nessa entrevista também é possível identificar que a forma de atuação da


psicóloga contribui positivamente nas relações, sobretudo claro na promoção de
melhorias da saúde mental para todos ali presentes, junto a uma grande equipe
multidisciplinar, desenvolvendo planos e intervenções para a melhoria da
qualidade de vida dos pacientes atendidos.

Percebe-se também que desse o primeiro contato é detectado o que os


membros desejam estabelecer desde então, e a partir disso inclui-se projetos,
partindo sempre se uma investigação minuciosa dos aspectos sociais, tanto
individual quanto familiar e ambiental, trazendo o enfoque da clínica dentro do
setor do CAPs e possibilitando as práticas d reinserção social.

Cabe ainda salientar que em muitas cidades se faz necessário um aumento


nos recursos destinados aos CAPs, pois a demanda muitas vezes não é
totalmente atendida por essa falta de recursos, tanto humano profissional, quanto
estrutural. Se faz necessário um senso de urgência e um olhar mais nítido nas
para a psicologia social.

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