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Asfalto Borracha – matéria 1 completa

A adição de pó de borracha extraído de pneus velhos ao ligante asfáltico


aumenta a durabilidade do pavimento em até 40% e começa a se popularizar
entre as concessionárias de rodovias brasileiras

O asfalto-borracha ou asfalto-ecológico pode até parecer uma novidade


em pavimentação, mas não é. Usado nos Estados Unidos há mais de 40
anos, ele só começou a ser visto no Brasil por volta do ano 2000, depois
que a patente que protegia a tecnologia venceu. Foi o start para que a
adição do pó extraído de pneus usados ao ligante asfáltico se tornasse
praticável. Os números são incertos, mas pesquisadores chegam a dizer
que há atualmente mais de 8 mil km de estradas pavimentadas com
asfalto-borracha no Brasil. O número é pequeno diante de uma malha
asfáltica de 170 mil km, mas a popularização é crescente entre as
grandes concessionárias de rodovias: 22% das estradas administradas
pelo Grupo EcoRodovias já possuem pavimentação com asfalto-borracha
(o equivalente a 1,5 mil km) e o grupo CCR, outro gigante do setor,
possui pavimentação do tipo em 15% de suas rodovias.

O material é caracterizado por mistura descontínua com ligante asfáltico


modificado por borracha triturada de pneus e compactado a quente.
Segundo especialistas, quanto maior o teor de borracha aplicado - 5%
pelo método industrial ou até 20% pelo sistema "in situ field blend"
(veja case do departamento de Estradas e Rodagem do Rio de Janeiro) -
mais eficiente o pavimento, especialmente no quesito durabilidade. "Em
geral, o pavimento de asfalto-borracha é cerca de 40% mais resistente
do que o asfalto convencional", explica Paulo Rosa, engenheiro-assessor
de projetos especiais da Ecovias, empresa do grupo EcoRodovias. Além
da resistência e diminuição de custos de manutenção, a adição da
borracha traz outras vantagens. "O asfalto-borracha tem maior
aderência, o que ajuda a evitar derrapagens e reduz o spray causado
pelos pneus em dias de chuva", acrescenta o engenheiro. Além disso,
pode ser utilizado em qualquer rodovia com as mesmas condições da
aplicação do asfalto convencional.

A ressalva é que esse tipo de pavimentação é cerca de 30% mais caro.


"Se precisa de um processo industrial para adicionar a borracha que vai
dar condição de melhor resistência ao impacto de tráfego e da
intempérie é óbvio que fica mais caro", afirma o consultor em
pavimentação Firmino Sávio de Souza. Decidir se a resistência compensa
o custo maior de implantação do asfalto-borracha vai depender da
análise do projeto técnico.
A durabilidade varia de
acordo com as condições
da estrada, a
temperatura e clima da
região, assim como a
intensidade do tráfego.
"Em uma rodovia de alto
tráfego com estrutura de
pavimento robusta, o
asfalto-borracha pode
durar cinco anos, e em
uma de baixo tráfego
O asfalto-borracha foi aplicado pela EcoVias em 30
bem estruturada e com km da Serra da via Anchieta (do km 10 ao km 40)
as mesmas condições
climáticas pode durar 25, 30 anos", aponta o engenheiro Paulo
Ruwer, responsável por uma experiência pioneira com asfalto-
borracha em 2001 em uma estrada controlada pelo consórcio Univias.

Na pavimentação de 1 km de rodovias com asfalto-borracha, a Ecovias


reutiliza 600 pneus e o Univias, 1.000. Para isso é usado pó de borracha
- extraído do pneu por empresas especializadas, que fazem com que o
material se torne novamente útil como matéria-prima na indústria da
borracha. Ao ser quimicamente adicionado ao cimento asfáltico de
petróleo (CAP), o composto resultante dessa extração dá ao asfalto as
características que pertenciam ao pneu, como a capacidade de não
perder as características funcionais por causa da variação de
temperatura ou intempéries, e as vantagens de aumentar a estabilidade
e prolongar a vida útil do pavimento.

"O CAP tem limitações em termos de trabalhabilidade e a borracha


adicionada ao cimento confere propriedades positivas em termos de
resistência", assinala Souza. No site da Associação Brasileira das
Empresas Distribuidoras de Asfaltos (Abeda) é possível encontrar
especificações técnicas do asfalto-borracha.

Com a mistura do pó de borracha (que se assemelha a uma farinha


preta), o ligante asfáltico fica mais viscoso, mais grosso, e precisa de
uma temperatura maior para ficar líquido e se tornar trabalhável.
Enquanto o asfalto convencional exige calor de 60º ou 70º, o asfalto-
ecológico precisa de 170º ou até 180º, dependendo da quantidade de pó
de borracha adicionado a ele. No final, nem se vê a borracha dissolvida.
A última etapa é adicionar pedra ao ligante e aplicar na estrada.

Contratação

Da mesma forma em que as concessionárias começam a optar pelo


asfalto-borracha em suas estradas (veja os casos da Ecovias e da
Univias em quadros à parte), as entidades públicas também podem
exigir em edital de licitação o fornecimento desse produto. Em julho de
2011, o governo do Rio de Janeiro publicou um decreto em que
autorizou que as rodovias do Estado adotem asfalto ecologicamente
correto. O Departamento de Estradas de Rodagem do Rio de Janeiro
(DER-RJ) contratou, então, a construtora Colares Linhares para a
restauração do pavimento da RJ-122, rodovia que liga Cachoeiras de
Macacu a Guapimirim. A obra, segundo Lincoln Aguiar, diretor-
superintendente da construtora, foi a primeira pavimentação do Brasil
feita com asfalto-borracha "in situ field blend": uma tecnologia que
incorpora massa asfáltica localmente ao pó de pneus reciclados (veja
detalhes em destaque).

A quem for contratar uma obra com asfalto-borracha, a dica é justificar


a escolha do material em laudos técnicos que demonstrem que o custo
vai se reverter no futuro em uma durabilidade maior. Esse laudo precisa
ser elaborado por um responsável técnico com experiência na área (um
engenheiro civil ou técnico em pavimentação) e deve trazer todas as
características da composição do produto no memorial descritivo, nos
projetos básico e/ou executivo, nas planilhas orçamentárias e no
cronograma físico-financeiro.

É preciso citar padrões mínimos, espessuras, tipos de materiais que


poderão ser usados, composição mínima, ideal ou máxima do produto
final. "O cuidado que se deve ter é que exista no mercado mais de uma
empresa que forneça o material, para não criar um monopólio de difícil
mensuração do custo correto", recomenda Raul Carneiro Borba, que há
15 anos atua na elaboração de licitações municipais. Também é bom
evitar subcontratações: ou a contratação global da empreiteira já inclui o
fornecimento do asfalto-borracha e da mão de obra, ou são feitos dois
processos distintos. Assim, fica definida a responsabilidade de cada um.

Vantagens ambientais

 Criado em 1960 pelo norte-americano Charles MacDonald, o asfalto-


borracha cobre hoje aproximadamente 70% da malha rodoviária do
Arizona. Também está presente nos Estados da Califórnia, Flórida e
Texas. Fora dos Estados Unidos, a tecnologia pode ser vista na África do
Sul e em Portugal, além do Brasil

 O uso de pneus descartados (que no Brasil chegam a 30 milhões por


ano) na produção de asfalto leva a uma economia de:

 Petróleo (R$ 14 milhões/1.000 km em asfaltos);


 Pedras (R$ 26 milhões/1.000 km);

 Energia (R$ 10 milhões/1.000 km em


transporte);

 Tempo de viagens (25 milhões


veículos/ano);

 Aterros sanitários (R$ 8 milhões/1.000


km).

FONTE: Consórcio Univias

ECOVIAS

O asfalto-borracha começou a ser usado pelo


Grupo EcoRodovias em caráter de teste em
Ecovias possui usina própria de
2002, depois que técnicos da empresa foram asfalto para fabricação de CAP
enviados à Califórnia e ao Arizona para e asfalto-borracha
aprender mais sobre o assunto. Hoje, o
asfalto-ecológico está presente na região do planalto das rodovias
Imigrantes (km 12 ao 40) e Anchieta (km 10 ao 40), na serra da via
Anchieta (km 40 ao 55) e em outros pontos, como na marginal da
Anchieta, em Cubatão, e em parte da Interligação Planalto. Em 2011, o
asfalto-borracha foi usado no recapeamento do trecho de baixada da
Imigrantes (km 55 ao 70) e está sendo aplicado na rodovia Cônego
Domênico Rangoni, do km 270 ao 248. Para garantir a qualidade do
material e agilizar o processo, a Ecovias possui sua própria usina de
asfalto, capaz de fabricar tanto CAP quanto asfalto-borracha. Veja
minientrevista com Paulo Rosa, engenheiro assessor de projetos
especiais da Ecovias.

Por que a EcoRodovias adotou o asfalto-borracha?

O primeiro trecho a receber o material foi a serra da Anchieta, local por


onde trafega a grande maioria dos veículos de carga que se dirigem ao
Porto de Santos. A intenção foi justamente apostar em um material que
fosse mais resistente e exigisse menos intervenções para manutenção.
Sabemos que, quanto menos interdições precisarmos fazer para manter
as rodovias em boas condições, melhor para o usuário.

Em que casos o investimento no asfalto-borracha se justifica?

Mesmo o asfalto-borracha sendo mais caro que o convencional, é


ecologicamente correto por colaborar com a diminuição de resíduos
prejudiciais ao meio ambiente. A questão ambiental é um fator que
impulsionou a concessionária a investir no asfalto-borracha. Uma faixa
de rolamento de 1 km de asfalto borracha utiliza cerca de 600 pneus que
seriam descartados na natureza.

A empresa pretende usar mais dessa tecnologia no futuro?

Nos próximos anos, serão


recapeadas com asfalto-
borracha as rodovias
Anchieta, do km 55 ao 65,
toda a extensão da Padre
Manoel da Nóbrega sob a
concessão da Ecovias (km
270 ao km 292), a rodovia
Cônego Domênico Rangoni
e a rodovia SP 248. Univias tem registrado acréscimo de 46,6% na vida
útil dos pavimentos com asfalto-ecológico, em relação
à pavimentação convenciona
UNIVIAS

A primeira tentativa do consórcio Univias com o asfalto-borracha


aconteceu em agosto de 2001, em um trecho de cerca de 900 m na BR-
116, entre os municípios gaúchos de Guaíba e Camaquã. "O risco na
ocasião era relativamente alto, pois se tratava de uma rodovia
importante. Se desse errado teria que sair arrancando tudo", lembra o
engenheiro Paulo Ruwer, que esteve à frente dos trabalhos. Como ainda
não havia fornecedores de asfalto-borracha, a equipe procurou quem
estivesse disposto a participar da experiência: as empresas Microsul
(para triturar os pneus transformando-os em pó de borracha), a Greca
Asfaltos (para fabricar o material) e o Laboratório de Pavimentação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que ajudou com a
tecnologia e a metodologia. A iniciativa foi positiva e os profissionais
envolvidos na obra começaram a apresentar o resultado em congressos
e eventos. "Outras concessionárias e órgãos públicos começaram a usar
essa técnica, e o Univias continua usando", afirma Ruwer. De acordo
com a empresa, o asfalto-borracha produzido pelo consórcio tem uma
vida útil 46,6% superior à do asfalto convencional.
DER-RJ

O Departamento de
Estradas e Rodagem do
Rio de Janeiro foi o
primeiro do País a
contratar uma obra de
pavimentação com asfalto- Usina de asfalto-borracha "in situ field blend" que
borracha "in situ field atende às obras de restauração da RJ-122
blend", tecnologia que aditiva in loco 20% de pó de pneu reciclado à
massa asfáltica. A tecnologia, que promete aumentar em 60% a
durabilidade da pavimentação, foi especificada em 2011 como objeto de
licitação para a restauração da RJ-122, rodovia que liga Cachoeiras de
Macacu a Guapimirim.

Segundo Lincoln Aguiar, diretor-superintendente da construtora Colares


Linhares, responsável pela execução da empreitada, a diferença entre o
asfalto modificado industrialmente com adição de borracha e aquele
produzido localmente é o teor de borracha aplicado. "Pelo modelo
convencional, só é possível adicionar 5% de pó de borracha; já pela
aplicação in loco, conseguimos aplicar até 20%, o que produz um
revestimento com altíssimo índice de coeficiente de atrito, garantindo
melhor aderência dos veículos à pista e níveis de ruído expressivamente
menores às estradas.

Porém, para produzir o pavimento com a tecnologia "in situ field blend"
é preciso que a usina de asfalto esteja próxima ao trecho da obra, de
modo a evitar a vulcanização da borracha que, quando aplicada em
grande volume, ocorre quatro horas após ela ser misturada com o
asfalto quente. O sistema também prescinde de infraestrutura
específica, de equipe especializada e de um rígido controle tecnológico.
Somente nos 35 km de estrada da RJ-122, foram utilizados cerca de 430
mil pneus reciclados.

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