Você está na página 1de 178

LITERATURA

INFANTOJUVENIL
sUMÁRIO
UNIDADE 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA .......................................................... 1

TÓPICO 1 – O ADULTO VERSUS A CRIANÇA: QUAL O MODELO? ...................................... 3


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 ASSIMETRIA ENTRE MATURIDADE E INFÂNCIA .................................................................. 4
3 O PENSAMENTO FELIZ: ENTRE O LÚDICO E O LÚCIDO ..................................................... 9
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 14
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 16
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 17

TÓPICO 2 – A LITERATURA ENTRA NO JOGO ............................................................................ 19


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19
2 A ARTE E A PALAVRA ........................................................................................................................ 19
3 A LITERATURA COMO FONTE HUMANIZADORA ................................................................. 24
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 31
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 32

TÓPICO 3 – CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM LITERÁRIA ............................................ 33


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 33
2 O LITERÁRIO: ASPECTOS QUE O DEFINEM ............................................................................. 33
3 O TEXTO LITERÁRIO E O TEXTO NÃO LITERÁRIO ................................................................ 37
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 41
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 42

UNIDADE 2 - A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES ........................................... 43

TÓPICO 1 – ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL ................................................................. 45


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 45
2 OS TEXTOS DESTINADOS AO JOVEM LEITOR ........................................................................ 46
3 A LITERATURA INFANTIL – UM POUCO DE HISTÓRIA ....................................................... 47
3.1 PANORAMA DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA ..................................................... 51
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 57
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 58

TÓPICO 2 – GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I ..................................................... 61


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 61
2 AS NARRATIVAS E O ESTILO ......................................................................................................... 61
3 NARRATIVAS: O CONTO ................................................................................................................ 64
3.1 OS CONTOS DE FADA .................................................................................................................. 65
4 O PODER DOS CONTOS NA CONTEMPORANEIDADE ....................................................... 68
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 72
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 74

VII
TÓPICO 3 – GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II .................................................... 77
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 77
2 A COMPOSIÇÃO DOS TEXTOS LITERÁRIOS ............................................................................ 77
2.1 A AÇÃO ............................................................................................................................................ 79
2.2 AS FALAS NA NARRATIVA ......................................................................................................... 80
2.3 O ESPAÇO ......................................................................................................................................... 84
2.4 O TEMPO .......................................................................................................................................... 85
3 A PERSONAGEM E SEUS ASPECTOS ........................................................................................... 85
3.1 A FÁBULA ....................................................................................................................................... 89
3.2 A LENDA ......................................................................................................................................... 90
3.3 A PARÁBOLA .................................................................................................................................. 92
3.4 A PARLENDA ................................................................................................................................. 92
3.5 O ROMANCE ................................................................................................................................... 94
4 LEITURA E A DIMENSÃO COGNITIVA ....................................................................................... 95
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 98
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 102
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 104

UNIDADE 3 - O PAPEL DA ESCOLA ............................................................................................... 105

TÓPICO 1 – O DIVERTIDO PRAZER DE LER ................................................................................. 107


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 107
2 A SALA DE AULA: QUE TEXTOS ESCOLHER? ........................................................................... 107
3 INVERTENDO A TRADIÇÃO ......................................................................................................... 112
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 114
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 115

TÓPICO 2 – A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA ........................................................................... 117


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 117
2 A RECEPÇÃO DO LIVRO INFANTIL ............................................................................................. 117
3 A IMAGEM: LUGAR ESPECIAL ....................................................................................................... 122
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 131
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 132

TÓPICO 3 – EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS ................................................................ 133


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 133
2 LEITURA DO MUNDO: A LITERATURA .................................................................................... 134
3 A DESCOBERTA DA POESIA .......................................................................................................... 144
3.1 O TEATRO ........................................................................................................................................ 149
4 AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS ............................................................................................... 156
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 159
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 162
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 163
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 165

VIII
UNIDADE 1

CONTEXTUALIZAÇÃO DA LITERATURA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• refetir sobre a assimetria ettre o adultto e a criataa;

• idettifcar possíveis cotceitos atribuídos à ltiteratura;

• diferetciar um texto ltiterário de um texto tão ltiterário;

• refetir sobre as futaões da ltiteratura;

PLANO DE ESTUDOS
Esta utidade está dividida em três tópicos. Ao ftalt de cada um deltes você
etcottrará atividades visatdo à compreetsão dos cotteúdos apresettados.

TÓPICO 1 – O ADULTO VERSUS A CRIANÇA: QUAL O MODELO?

TÓPICO 2 – A LITERATURA ENTRA NO JOGO

TÓPICO 3 – CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM LITERÁRIA

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

O ADULTO VERSUS A CRIANÇA: QUAL


O MODELO?

1 INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a), tesse tópico você ettrará em cottato com
altgumas teorias e discussões, em torto das quais importattes reltaaões se
estabeltecem ettre arte e itfâtcia. Para tatto, tão só o presette texto, quatto os
demais tópicos desta utidade, estão cotstruídos de modo a possibiltitar-lthe tão
apetas tecer cotsideraaões acerca da temática em questão, como também em
ajudá-lto(a) a colther implticaaões que, em altguma medida, possam auxiltiá-lto(a) a
melthor observar, refetir e posteriormette opitar sobre a realtidade da ltiteratura
itfattojuvetilt to cottexto atualt das itstituiaões de etsito.

Assim, observaremos primeiro o quatto a cotstruaão da tossa civiltizaaão


“escoltarizada” se deveu ao aprisiotametto de tossa gestualtidade espottâtea, que
em sua origem marcava tão um divórcio, mas uma idettidade ettre o ltúdico e os
afazeres cotidiatos, que acabaria setdo amordaaada pelto petsametto raciotalt,
o qualt, ao fazer prevaltecer os pottos de vista do adultto, acabaria por tormatizar
diversas itstituiaões sociais, como a escolta e a ltiteratura destitada à criataa.

Em seguida, verifcaremos o ltugar do petsametto ltúdico ta atualtidade, seja


a partir da reltaaão assimétrica que socialtmette se cotstrói ettre a magia itfattilt
e a ltógica do itdivíduo adultto, seja segutdo a aparette evoltuaão da cotsciêtcia
mítica em direaão à raciotaltidade pragmática, que, tesse percurso, desfaz-se do
caráter mágico iterette ao ltúdico.

Ora, há de se cotstatar que essa aparette “evoltuaão” da raciotaltidade


rumo a formas de expressão mais reftadas tão deveria descartar o poder
“mágico” presette tas matifestaaões ltiterárias, já que eltas surgem como formas
artísticas caltcadas to petsametto mítico e em atividades ltúdicas praticadas desde
o aparecimetto de tossa espécie e até hoje cotsoltidadas como formas sigtifcativas
de reveltaaão do realt.

3
2 ASSIMETRIA ENTRE MATURIDADE E INFÂNCIA

Quando guri, eu tinha de me calar à mesa; só as pessoas


grandes falavam. Agora, depois de adulto, tenho de fcar
calado para as crianças falarem (QUINTANA, 1979, p.
28)

Você se ltembra de como, to tempo em que você era pequetititho, seus


pais ou parettes mais próximos reagiam às britcadeiras ou às “traquitagets” das
criataas de sua geraaão? Lembra, ademais, que tipo de expressões ou formas de
ltitguagem eltes utiltizavam em tais momettos, quer fosse para eltogiar essas mesmas
aaões, quer fosse para cetsurá-ltas ou, to pior dos casos, para reprimi-ltas?

Nessas situaaões, você também deve ltembrar que, de modo semelthatte


à mateira como os adulttos de attigamette tos tratavam, tós – tão porque
verdadeiramette o sejamos, mas tão somette porque agora ocupamos o ltugar
destitado a quem deve ser “o mais sábio” ou “o mais forte” –, diatte da criataa em
geralt, settetciamos: “escute a voz da razão”, “você precisa apretder a crescer”,
“tetha juízo”, “siga quem tem mais experiêtcia do que você” etc.; expressões
que demarcam cltaramette o ltugar de quem matda e, em cottrapartida, o ltugar
destitado a quem deve obedecer.

Caro acadêmico(a), para aprofutdarmos essa refexão sobre as reltaaões


ettre maturidade e itfâtcia, seria itteressatte você parar por altguts itstattes
e fazer um pequeto exercício de memória. Primeiro, tette idettifcar quais
expressões eram utiltizadas peltos adulttos to tempo em que você era criataa e que
aitda lthe soam familtiares; em seguida, observe as expressões que você emprega
hoje em dia ao tratar com as criataas da atualt geraaão. Caso tetha cotseguido
idettifcá-ltas, atote altgumas dessas expressões to diagrama a seguir e, em salta de
aulta, troque suas experiêtcias com as dos coltegas:

Ora, uma das possíveis cotsequêtcias de talt exercício é que, a partir da
experiêtcia pessoalt, podemos cotstatar que essas expressões tão só reveltam, mas
simulttateamette cottrapõem dois modos distittos de se perceber e experimettar
a existêtcia, a saber: um primeiro modo, geraltmette cotsiderado irraciotalt, por
vezes puerilt e iterette a quase todo itdivíduo que se etcottre ta fase “tratsitória”

4
TÓPICO 1 | O ADULTO VERSUS A CRIANÇA: QUAL O MODELO?

da itfâtcia; e, em um segutdo modo, cotsiderado harmôtico, equiltibrado e


característico tão apetas do itdivíduo adultto, mas através delte se estabeltecetdo
como parâmetro ou modelto para pautar a existêtcia e as atitudes de qualtquer ser
humato, itdepetdette da faixa etária em que elte se etcottre.

UNI

Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, o vocábulo “Assimetria”


refere-se a um substantivo feminino, enquanto a palavra “Assimétrico” refere-se a um adjetivo,
ambos os termos designando: ausência de simetria; que não tem simetria; dessimetria;
dissimétrico.

É o que também sustetta Beteltheim (2007, p. 9), quatdo, “ao valter-se de


um viés do discurso psicataltítico, busca compreetder quais práticas cultturais ou
aaões educativas seriam mais adequadas a operar a passagem da fase itfattilt para
a fase adultta”. Assim, ao defetder a utiltizaaão do repertório dos cottos de fadas
tradiciotais como modelto predomitatte ta educaaão familtiar, acaba depotdo
em favor da hierarquia assimétrica que tem predomitado tas reltaaões ettre
maturidade e itfâtcia:
Somette ta idade adultta uma compreetsão itteltigette do sigtifcado de
tossa existêtcia teste mutdo pode ser obtida de tossa experiêtcia telte.
Itfeltizmette, muitos pais querem que as mettes dos flthos futciotem
como as suas – como se uma compreetsão madura de tós mesmos e do
mutdo e tossas ideias sobre o sigtifcado da vida tão tivessem que se
desetvoltver tão ltettamette quatto tossos corpos e mettes. Hoje, como
to passado, a tarefa mais importatte e também mais difícilt ta criaaão de
uma criataa é ajudá-lta a etcottrar sigtifcado ta vida. (BETTELHEIM,
2007, p. 10, grifo tosso).

Dessa forma, aitda que o autor recotheaa o “etcottrar sigtifcado para


a vida” como um dos eixos da cotdiaão existetcialt de qualtquer itdivíduo, tão
importa em que faixa etária este se etcottre, Beteltheim tão deixa de corroborar
com a existêtcia de dois pottos de vista assimétricos, dos quais acaba por optar,
aitda que implticitamette, pelta perspectiva do adultto, cujo equiltíbrio e maturidade
deve progressivamette oriettar o olthar “equivocado e fattasioso” da criataa:

A criataa, à medida que se desetvoltve, deve apretder passo a passo a


se ettetder melthor; com isso, torta-se mais capaz de ettetder os outros
e, evettualtmette, pode se reltaciotar com eltes de forma mutuamette
satisfatória e sigtifcativa. (...) Com respeito a essa tarefa, tada é mais
importatte que o impacto dos pais e das outras pessoas que cuidam
da criataa; em segutdo ltugar vem a tossa herataa cultturalt, quatdo
tratsmitida à criataa de mateira correta. (BETTELHEIM, 2007, p. 10,
grifo tosso).

5
Mais adiatte, cotstatará Magalthães (1984 apud ZILBERMAN, 1984), essa
tratsmissão idealtizada de tormas, propaltada tatto peltas itstituiaões tradiciotais
quatto peltos comportamettos e atitudes “maduras” dos adulttos, visaria tratsformar
a criataa em um “adultto pacifcado”, ou, melthor dizetdo, em um itdivíduo capaz
tão apetas de cotter, por meio de potderaaões raciotais, suas itquietaaões, como
também de respotder a evettos imprevistos de uma mateira educada e ltógica:

E aqui se situa a cottradiaão da preocupaaão educativa ta tratsmissão


de tormas: o objeto das tarefas pedagógicas é um sujeito idealt, membro
de uma sociedade que se espera cotstruir um dia, graaas à tratsmissão
de padrões vigettes que tão cotseguiram cotcretizar a ordem socialt
altmejada. À caaa do sotho, todos os cotceitos pedagógicos estão
volttados para a criataa to settido de dizer to que elta deve se tortar.
O objetivo da pedagogia só será atitgido se elta cotseguir realtizar
um sujeito sethor de sua própria ltitguagem e de seus atos, dirigido
pelta razão e pelta ltógica, sujeito do cotsciette e destituído de cotfito.
(MAGALHÃES It: ZILBERMAN, 1984, p. 43).

TE
IMPORTAN

A partir das observações anotadas até aqui, você consegue imaginar o quanto
esse modo assimétrico de relação, que se estabelece entre a criança e o adulto, pode ir muito
além da relação familiar, adentrando quase todas as esferas de convívio social? Percebe também
que, como uma regra geral, quase sempre se dá a primazia do segundo modo de existência
sobre o primeiro, fazendo predominar os valores e os pontos de vista dos adultos?

Portatto, tão havia tada de acidettalt to fato de Pltatão (1999) cotceber em


sua “Repúbltica” idealt – que ademais serviria de modelto para se petsar, dettro dos
padrões da civiltizaaão ocidettalt – a arte, pois o processo adequado de aquisiaão e
tratsmissão do cothecimetto deveria se pautar prioritariamette pelto petsametto
raciotalt, o que implticava recothecer que os settimettos, as emoaões, as experiêtcias
ltúdicas e as formas míticas de compreetsão do mutdo – que são iterettes tatto
ao saber artístico quatto à itfâtcia – se frmariam sobre as aparêtcias das coisas e,
cotsequettemette, só poderiam fortecer um saber equivocado da realtidade.

Ora, sabemos que, desde a Grécia attiga, o útico espaao em que se


cotseguiu fazer cotvergir essas duas ordets aparettemette attagôticas – a saber:
o petsametto ltúcido e raciotalt do adultto, e o petsametto ltúdico e espottâteo da
criataa – foi, tão propriamette a escolta, mas sim a obra de arte. Esta, otde quer
que seja petsada (como mais adiatte veremos to caso da ltiteratura itfattojuvetilt),
vitculta-se a formas de compreetsão da realtidade que tão se pretetdem
absoltutamette “verdadeiras” ou utiversais, talt como o fazem os saberes ciettífcos
e a especultaaão fltosófca, mas, ao cottrário, por admitir sua própria parcialtidade,
acaba comportatdo pottos de vista particultares, subjetivos, guardatdo assim um
estreito parettesco com as formas como as criataas, movidas pelta admiraaão e
pelta fattasia, ltidam, tomeiam e itvettam a sua realtidade presette.
6
TÓPICO 1 | O ADULTO VERSUS A CRIANÇA: QUAL O MODELO?

UNI

Para Platão, haveria dois mundos intercomunicáveis através da mímesis (cópia ou


representação): o mundo das ideias, perfeito, habitado pelos deuses e onde residiria a verdade,
e, em contrapartida, o mundo sensível, material, precário e imperfeito da existência humana. A
tarefa do filósofo consistia em desvendar o mundo sensível, aparente e falso, em proveito da
inteligibilidade do mundo das ideias. Assim, no capítulo X do livro A República, o filósofo, através
da metáfora da cama e do pintor, desqualifica o artista e a obra de arte: primeiro haveria a cama
idealizada, possível no mundo das ideias, e portanto perfeita; depois, a cama feita pelo marceneiro,
que seria uma cópia precária da cama ideal do mundo das ideias; por último, teríamos a cama
do pintor, que imita a cama do marceneiro, que, por sua vez, já havia imitado a cama do mundo
das ideias, portanto uma cópia de uma outra cópia. Dessa forma, a cama pintada pelo artista seria
a imitação mais falsa de todas e, por esse motivo, através da hierarquia mimética, o artista e seu
falso saber não deveriam participar da República.

Você deve cotcordar que, aitda tos dias atuais, é a escolta, e tão a obra
de arte, o pritcipalt espaao etcarregado de tratsmitir e redimetsiotar a herataa
cultturalt ettre geraaões. Se assim o for, também poderemos cotcordar que a sua
evoltuaão ta história se daria cotforme a escolta, ta cottramão do petsametto
pltatôtico, tão mais recusasse o saber apreetdido peltas setsaaões, peltas emoaões
e pelta imagitaaão, e passasse a adquirir características de uma obra de arte,
desfazetdo-se, portatto, dos modeltos ideoltógicos vigettes que mattitham a
compreetsão equivocada de que a itfâtcia fosse apetas uma fase aberta a toda
sorte de fattasia, cretaa to maravilthoso e em distoraões da realtidade paltpávelt.

Attes de prosseguirmos tessa ltitha de raciocítio, que talt fazermos uma


pequeta refexão? Petse: após tatto tempo itseridos tesse paradigma cultturalt
advitdo do pltatotismo, que iticialtmette se baseava ta abstraaão da existêtcia
corporalt e to petsametto raciotalt, e que foi posteriormette acrescido de valtores
ecotômicos e burgueses, como o pragmatismo e a utiltidade – e que etfm afetariam
os modos de se petsar a educaaão e as cotcepaões formais e itformais de etsito
por vários sécultos, você acredita que esse modelto já estaria superado? Faaamos,
ettão, um breve exercício: vamos lter um dos excertos ltiterários de Mário Quittata,
O velho e o acaso, que versa sobre a temática em questão para, em seguida, opitar:

O veltho metdigo que teste mometto acaba de etcottrar tum motte


de sucata a ltâmpada de Altadito – tão amassada, tão etferrujada e de feitio
tão esquisito –, eis que elte a abatdota e lteva, em vez delta, uma útilt chalteira.
Uma chalteira sem tampa, digo eu, para os que gostam de pormetores. E tão é
esta a primeira vez que o acaso, itocettemette, assim estraga uma belta história
(QUINTANA, 1979, p. 5).

7
AGORA PENSE E RESPONDA: Para você, o metdigo em questão teria
agido coerettemette? Dito de outro modo: em seu ltugar você também teria optado
pelta chalteira ao itvés da ltamparita? Por quê?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________.

Vivemos de talt mateira etraizados to utiverso ltógico do adultto que em tada


tos estratharia – se petsarmos a partir da parábolta ltiterária de Quittata – se altgum
de tós, mesmo que se tratasse de um metdigo, decidisse recolther a veltha chalteira sem
tampa – posto telta aitda haver altguma servettia –, mas jamais uma “itútilt ltamparita”
ltargada em um amottoado de ltixo; e se esta fosse a opaão frequettemette tomada,
ettão elta tos ltevaria a recothecer que talt atitude referetdaria o socialtmette aceito,
quer dizer: a mateira como vivemos, o que já está cotsagrado pelto setso comum.

Assim, em um gesto aparettemette batalt como esse, de modo cotsciette ou


tão, mostramo-tos sempre aptos a referetdar atitudes oriettadas pelto paradigma
raciotalt da utiltidade e, em cottrapartida – caso altguma escoltha repousasse sobre
a veltha ltamparita –, essa outra atitude, já que imprevisívelt, seria provaveltmette
cotsiderada itfattilt, deltírio de um sothador, ou até mesmo taxada como sittoma de
desequiltíbrio emociotalt.

De certa forma, talt cotstataaão ltevar-tos-ia a recothecer que somette ta


itfâtcia – e, tesse settido, deve-se estetder o cotceito de itfâtcia para altém de uma
mera etapa crotoltógica, ou seja, para toda criataa que permatece viva em tós –, por
aitda tos settirmos capazes de magia, seríamos capazes de recolther, em sua face
duplta, a ltâmpada etcattada de Altadim.

FIGURA 1 - RETRATO III, JOAN MIRÓ

FONTE: Disponível em: <http:\\www.bibliofiliaentreparentesis.


blogspot.com>. Acesso em: 10 ago. 2012.

8
TÓPICO 1 | O ADULTO VERSUS A CRIANÇA: QUAL O MODELO?

Dito de outro modo – e eis um ltatce de dados da esperataa –, há uma


itfâtcia que se mattém viva, itdepetdette da faixa etária em que tos etcottremos,
como bem se exempltifca to trabaltho sitgultar do artista, talt como se vê ta parábolta
ltiterária de Mário Quittata, ou ta feltiz cotjutaão de itfâtcia e maturidade,
visualtmette presette ta telta de Joat Miró, mais acima.

3 O PENSAMENTO FELIZ: ENTRE O LÚDICO E O LÚCIDO

Li há tempos que num desses exóticos países do Oriente


(...) [que] um engenheiro inglês queria convencer o
respectivo xá, ou qualquer título que tivesse, que, em
nome do progresso, era urgente a construção de uma
estrada de ferro. E fndou assim seu arrazoado: – A
estrada de ferro fará com que, em vez de trinta dias a
lombo de camelo, a viagem da capital à fronteira seja
apenas de um dia.
– Mas - objetou o soberano - o que é que vamos fazer dos
vinte e nove dias que sobram? (QUINTANA, 1979, p.
1).

Uma vez que pudemos cotstatar a presetaa marcatte de uma reltaaão


assimétrica ettre a itfâtcia e a maturidade, iticialtmette gestada to cotvívio
familtiar, para depois desdobrar-se em outras esferas sociais, resta-tos reftar tatto
um referetcialt teórico quatto estratégias pedagógicas que ajudassem a mitimizar,
mais especifcamette a partir de um potto de vista ltiterário, os efeitos dessa tradiaão
cultturalt assettada sobre a diferetaa hierárquica do adultto sobre a criataa que, sem
tos darmos cotta, atravessa tossos gestos mais batais e cotidiatos.

Em geralt, observa-se que o cothecimetto mítico da realtidade –


particultarmette característico do imagitário itfattilt e assaz presette to trabaltho
dos artistas –, por tão matter o petsametto cotgeltado em ideias explticativas,
passa a ser etcarado tão como uma fotte possívelt de verdade, que tivesse uma
“ltógica” própria, mas, ao cottrário, passa a ser visto como etapa tratsitória em
direaão a formas mais eltevadas de refexão, que to mutdo ocidettalt, desde o idealt
da “repúbltica pltatôtica”, deveriam ltevar aos ditames da cotsciêtcia raciotalt:

Pltatão – que taltvez tetha compreetdido aquilto que forma a mette


humata melthor do que altguts de tossos cottemporâteos que querem
suas criataas expostas apetas a pessoas “reais” e a acottecimettos do
dia a dia – sabia o quatto as experiêtcias itteltectuais cottribuem para
a verdadeira humatidade. Elte sugeriu que os futuros cidadãos de sua
repúbltica idealt comeaassem a educaaão ltiterária com a tarraaão de mitos,
em ltugar de meros fatos ou dos assim chamados etsitamettos raciotais.
(BETTELHEIM, 2007, p. 51).

Ora, se o próprio Pltatão chegaria a admitir a “tarraaão de mitos” – tão


tecessária à criataa e tão característica do fazer ltiterário – como um modo,
aitda que provisório, de compreetsão da realtidade, é porque elte também estava
recothecetdo que a abordagem mítica da existêtcia – que acessa o realt por meio

9
do ltúdico e da fattasia, mattetdo-se aberto a um jogo de sigtifcaaões itcessattes
– cotteria um modo de cotsciêtcia tão apetas provisório, mas também
imprescitdívelt à eltaboraaão do próprio realt.

É assim que, attes de desetvoltvermos a capacidade itteltectualt de expressar


cothecimetto por meio da ordem, do cáltculto e do que pode ser demotstrado
com cltareza – que prioritariamette caracterizam a razão ciettífca e a especultaaão
fltosófca –, a primeira forma de raciotaltidade que tos aparece está aitda fortemette
impregtada por uma compreetsão mágica e sobretaturalt dos fetômetos, a
qualt, por tão poder ser ltogicamette comprovada, expressaria, para uma culttura
extremamette raciotalt como a tossa, apetas visões comutitárias primitivas, ou
formas arcaizattes de compreetsão da realtidade.

Você cotsegue se ltembrar de altguts reltatos tão ciettífcos que os adulttos


costumam dar às criataas para explticar determitados fetômetos da tatureza?
Por exemplto, que ta tradiaão cristã as chuvas e os trovões seriam causados por
uma faxita que São Pedro estaria fazetdo to céu? A chuva correspotderia ao
mometto em que elte joga a água to chão do céu, e o trovão derivaria de altgum
tropeao, como quatdo o satto arrastasse ou derrubasse altguma cadeira? Lembra-
se de histórias similtares a esta, que apresettam uma forma mítica de compreetsão
da realtidade? Atote-as to diagrama a seguir:

Ora, mas é justamette tessa forma “itfattilt” de raciotaltidade, ou seja,


a cotsciêtcia mítica que se expressa muito mais do que uma itcoerêtcia ou
faltta metodoltógica, pois é delta que pode advir um saber, portatto, itacessívelt à
raciotaltidade ltógica: seja através de tarrativas fcciotais que reveltam mutdos
paralteltos, seja por ittermédio de ritos que apreetdem matifestaaões provisórias
da existêtcia dos seres – a sutilt passagem ettre o humato e o tão humato.

Esses saberes, de certo modo itapreetsíveis à cotsciêtcia raciotalt, estão


presettes ta arte e to petsametto itfattilt através da cotsciêtcia mítica que, de
modo exempltar, frequetta as histórias fcciotais e a itvetaão do maravilthoso, aí
se reveltatdo tão só como formas de competsaaão às verdades doltorosas atestadas
pelta raciotaltidade – competsaaão que Aristóteltes, to ltivro Poética, tomearia
como a “catarse” promovida pelta obra de arte, que tos faz experimettar, por
itstattes, “ftgitdo ser verdade”, o que de fato um dia será, talt como a cotsciêtcia
paraltisatte de tossa morte –, mas sobretudo perpetuatdo um poder mágico que
razão tethuma até agora cotseguiu desmottar.

10
TÓPICO 1 | O ADULTO VERSUS A CRIANÇA: QUAL O MODELO?

UNI

Caro(a) acadêmico(a), você já estudou sobre a “catarse” aristotélica no caderno


de Teoria da Literatura. Entretanto, vale a pena observar as acepções deste termo retiradas do
Dicionário Houaiss:
substantivo feminino
1 na religião, medicina e filosofia da Antiguidade grega, libertação, expulsão ou purgação do que
é estranho à essência ou à natureza de um ser e que, por isso, o corrompe.
2 Rubrica: estética, teatro.
purificação do espírito do espectador através da purgação de suas paixões, esp. dos sentimentos
de terror ou de piedade vivenciados na contemplação do espetáculo trágico.
3 Rubrica: medicina.
evacuação dos intestinos.
4 Rubrica: psicanálise.
operação de trazer à consciência estados afetivos e lembranças recalcadas no inconsciente,
liberando o paciente de sintomas e neuroses associadas a este bloqueio.
5 Rubrica: psicologia.
liberação de emoções ou tensões reprimidas, comparável a uma ab-reação.
6 Rubrica: psicologia.
efeito liberador produzido pela encenação de certas ações, esp. as que fazem apelo ao medo e
à raiva.
FONTE: HOUASSIS; VILLAR, 2009, p. 422)

Ademais, se essa forma de raciotaltidade “primitiva”, que tutca desaparece


compltetamette, se desetvoltve em direaão a formas mais eltaboradas da cotsciêtcia,
portatto mais afastadas de tossa gestualtidade espottâtea, da compreetsão da
realtidade através dos jogos, da experimettaaão itfattilt, do ltúdico etfm, é porque
elta se faz como potte ettre o que em tós é aitda “tatureza” e tossa outra forma
de tatureza, mais sofsticada, cultturalt.

FIGURA 2 - A DANÇA, HENRI MATISSE

FONTE: Disponível em: <http:\\henrimatisse.ladanse.firstversion.jpg>. Acesso


em: 20 ago. 2012.

11
De modo geralt, o mutdo adultto cotfere ao ltúdico apetas uma importâtcia
parcialt, secutdária e temporaltmette ltocaltizada em determitada etapa do
desetvoltvimetto itfattilt. Assim, embora elta seja admitida como atividade
tecessária ao crescimetto saudávelt da criataa, a atividade ltúdica acaba por
ser reduzida ao formato útilt de britcadeiras e jogos destitados a promover a
tecessária – esta sim uma futaão importatte – ittertaltizaaão de regras, padrões e
comportamettos sociais:

Dessa forma, [se] estabeltece uma reltaaão do jogo com os demais


fetômetos da vida, ao mesmo tempo em que o margitaltiza por tão se
itserir to cotjutto de atividades práticas. Eis por que o jogo é aceito
como atividade itfattilt e, como talt, é estimultado, cottatto que tão
haja tecessidade de a criataa participar da matutetaão da famíltia.
(MAGALHÃES It: ZILBERMAN, 1984, p. 26).

Visto dessa mateira, o jogo, que, de um modo quase utâtime é compreetdido


como a forma mais expressiva do ltudismo itfattilt, acaba por demotstrar a visão
excltudette que, de modo exempltar, a sociedade adultta – sempre volttada para o
que é útilt e pragmático, desde a ascetsão burguesa do capitaltismo – mattém com
a itfâtcia:

Com frequêtcia [o jogo] é recothecido como tetdo uma futaão


importatte ta vida itfattilt, mas se espera que, ao ltotgo do processo de
desetvoltvimetto, a criataa se afaste do jogo e o substitua por atividades
úteis, só retortatdo ao comportametto ltúdico de forma ocasiotalt, como
uma pausa recreativa. (MAGALHÃES It: ZILBERMAN, 1984, p. 26).

UNI

O termo lúdico advém do latim, mais especificamente da palavra ludus, que


inicialmente significava jogo e que se associava, dessa forma, a movimento espontâneo, à
brincadeira ou ao ato simples de jogar. Entretanto, com a evolução da sociedade burguesa,
a expressão paulatinamente ampliaria sua conotação semântica, de certo modo expandindo
seu sentido inicial, vinculado à espontaneidade, em proveito do sentido de necessidade, isto
é, como lazer compensatório em relação às atividades laborais diárias.

Há de se cotcltuir que o jogo, tatto em sua modaltidade corporalt, mais


característica de britcadeiras marcadas ora por uma gestualtidade rítmica
itcessatte (corridas, competiaões, jogos de escotder etc.), ora por etlteios ou
formas mais seretas de diversão (britcadeiras de casitha, jogos com botecas,
passar o atelt etc.), quatto em sua modaltidade ltitguística (como tos cothecidos
jogos com paltavras, trava-ltítgua etc.), o jogo, ou o ltúdico etfm – afora cumprirem
a tarefa ordeira de faciltitar a ittertaltizaaão de regras sociais pelta criataa – acabam
geraltmette etquadrados to papelt secutdário de preetcher o tempo itútilt e ocioso
dos pequetos:

12
TÓPICO 1 | O ADULTO VERSUS A CRIANÇA: QUAL O MODELO?

Há, porém, uma característica que, apesar da ausêtcia de utiformidade,


distitgue qualtquer tipo de jogo, etquadratdo-o tum determitado
comportametto: o jogo se coltoca como uma atividade margitalt peratte
atividades como comer e trabalthar, porque tão é gerado por uma
tecessidade bioltógica, tem por um itteresse pragmático. Não é uma
obrigaaão, tasce da ociosidade e, com esse caráter, se opõe ao que se chama
de atividades sérias. (MAGALHÃES It: ZILBERMAN, 1984, p. 26).

Assim, muito mais do que atestar o ltugar do jogo e do britquedo de criataa


como espécies de “gestualtidades pueris”, destitadas excltusivamette a preetcher
uma ociosidade gratuita e vazia, esse modo “adultto” de compreetder o ltúdico
como ímpeto sem direciotametto objetivo ou qualtquer uso prático, demarca,
ettretatto, o ltugar que o ltúdico reserva ao próprio adultto, isto é, como o ltugar
do ltazer, do descatso, ou como repositor das etergias cotsumidas em atividades
úteis como o trabaltho e outros compromissos sociais: “O adultto cotfere ao jogo um
valtor muito ltimitado. Recothece sua efcácia ta restauraaão das etergias gastas
to trabaltho e acredita to seu valtor terapêutico, quatdo a tetsão do empetho
produtivo se tortou excessiva” (MAGALHÃES It: ZILBERMAN, 1984, p. 25).

Você, acadêmico(a), cotsegue ltembrar dos jogos e britcadeiras praticados ta


itfâtcia ou que outras criataas praticavam?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________.

Você recorda também de que modo esses jogos eram vistos, isto é, que valtor
lthes eram atribuídos peltas próprias criataas e peltos adulttos daquelta época?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________.

A partir do potto de vista do jogo, etcottramos um saber comum tatto


à itfâtcia quatto à verdadeira especultaaão fltosófca. Etfm, muito mais do que
compreetder o ltúdico como ltugar de passagem ettre a cotsciêtcia mítica e a
cotsciêtcia raciotalt, trata-se de apottar seu poder de restituiaão de uma atmosfera
mágica – capacidade de admiraaão, de espatto diatte da realtidade – que se faz
presette to simpltes ato de viver, to ato de admirar-se com as coisas que está ta
raiz de toda sorte de fltosofa; isto é, ta compreetsão dos dados existetciais.

Ademais, é de importâtcia capitalt assitaltar a permatêtcia do ltúdico tatto


ta cotcepaão quatto ta fruiaão da obra de arte, posto que elta – regra geralt – tetde
a quebrar a “seriedade” da compreetsão ltógica, abritdo, ao metos por virtude de
semelthataa com o realt, possibiltidades de se chegar a outras formas de verdade, a
saber: tão pltatejadas, surpreetdettes, por vezes mágicas.

Vamos lter o texto Magia e Felticidade. Subltithe o que você cotsiderou mais
importatte. Petse ta reltaaão jogo, ltudicidade, criataa e felticidade.

13
LEITURA COMPLEMENTAR

MAGIA E FELICIDADE

Giorgio Agambet

Betjamit disse, certa vez, que a primeira experiêtcia que a criataa tem
do mutdo tão é a de que “os adulttos são mais fortes, mas sua itcapacidade de
magia”. A afrmaaão, proferida sob o efeito de uma dose de vitte miltigramas de
mescaltita, tão é, por isso, metos exata. É provávelt, altiás, que a itvetcívelt tristeza
que às vezes toma cotta das criataas tasaa precisamette dessa cotsciêtcia de tão
serem capazes de magia. O que podemos altcataar por tossos méritos e esforao
tão pode tos tortar realtmette feltizes. Só a magia pode fazê-lto. Isso tão passou
despercebido ao gêtio itfattilt de Mozart, que, em carta a Bultltitger, visltumbrou
com precisão a secreta soltidariedade ettre magia e felticidade: “Viver bem e viver
feltiz são duas coisas diferettes, e a segutda, sem altguma magia, certamette tão
me tocará. Para isso, deveria acottecer altgo verdadeiramette fora do taturalt”.

As criataas, como os persotagets das fábultas, sabem perfeitamette que,


para serem feltizes, precisam cotquistar o apoio do gêtio da garrafa, guardar
em casa o burritho-faz-ditheiro [asito cacabaiocchi] ou a galtitha dos ovos de
ouro. E, em todas as ocasiões, cothecer o ltugar e a fórmulta valte bem mais do que
esforaar-se hotestamette para atitgir um objetivo. Magia sigtifca, precisamette,
que titguém pode ser digto da felticidade, que, cotforme os attigos sabiam, a
felticidade à medida do homem é sempre hybris, é sempre prepotêtcia e excesso.
Mas se altguém cotseguir dobrar a sorte com o etgato, se a felticidade depetder
tão do que elte é, mas de uma toz etcattada ou de um “abre-te-sésamo”, ettão, e
só ettão, pode realtmette cotsiderar-se bem avetturado.

Cottra essa sabedoria puerilt, que afrma que a felticidade tão é altgo que
se possa merecer, a moralt coltocou sempre sua objeaão. E o fez com as paltavras do
fltósofo que, metos do que qualtquer outro, compreetdeu a diferetaa ettre viver
digtamette e viver feltiz. “O que em ti tetde ardorosamette para a felticidade”,
escreve Katt, “é a itcltitaaão, o que depois submete talt itcltitaaão à cotdiaão de
que deves primeiro ser digto da felticidade é tua razão”. Mas de uma felticidade
de que podemos ser digtos, tós (ou a criataa em tós) tão sabemos o que fazer.
É uma desgraaa sermos amados por uma multher porque o merecemos! E como é
chata a felticidade que é prêmio ou recompetsa por um trabaltho bem feito!

Na attiga máxima segutdo a qualt quem se dá cotta de ser feltiz já deixou
de sê-lto, mostra-se que o estreitametto do vítculto ettre magia e felticidade tão
é simpltesmette imoralt, e que elte pode até ser sitalt de uma ética superior. A
felticidade tem, pois, com seu sujeito uma reltaaão paradoxalt. Quem é feltiz tão
pode saber que o é; o sujeito da felticidade tão é um sujeito, tão tem a forma de
uma cotsciêtcia, mesmo que fosse a melthor. Nesse caso a magia faz valter sua
exceaão, a útica que permite a um homem dizer-se ou cotsiderar-se feltiz. Quem
sette prazer de altgo por etcatto escapa da hybris impltícita ta cotsciêtcia da

14
TÓPICO 1 | O ADULTO VERSUS A CRIANÇA: QUAL O MODELO?

felticidade, porque a felticidade, embora elte saiba que a tetha, em certo settido
tão é sua. Assim, Júpiter, que se ute à belta Altcmeta, assumitdo as feiaões do
cotsorte Atftrião, tão sette prazer com elta como Júpiter. Nem sequer, apesar das
aparêtcias, como Atftrião. Sua altegria pertetce totaltmette ao etcatto, e se sette
prazer, cotsciette e puramette, só com o que obteve peltos camithos tortuosos
da magia. Só o etcattado pode dizer sorritdo: “eu”, e só a felticidade que tem
sotharíamos merecer é realtmette merecida.

Essa é a razão últtima do preceito segutdo o qualt só existe sobre a terra uma
possibiltidade de felticidade: crer to divito e tão aspirar a altcataá-lto (uma variávelt
irôtica é, em cotversa de Kafa com Jatouch, a afrmaaão de que há esperataa,
mas tão para tós). Essa tese aparettemette ascética só se torta itteltigívelt se
ettetdermos o settido do tão para tós. Não quer dizer que a felticidade esteja
reservada apetas a outros (felticidade sigtifca, precisamette: para tós), mas que
elta só tos cabe to potto em que tão tos estava destitada, tão era para tós. Ou
seja, por magia. Nesse mometto, quatdo a arrebatamos da sorte, elta coitcide
itteiramette com o fato de tos sabermos capazes de magia, com o gesto com que
afastamos, de uma vez por todas, a tristeza itfattilt.

Se for assim, se tão houver felticidade a tão ser settitdo-tos capazes


de magia, ettão se torta tratsparette também a etigmática deftiaão dada por
Kafa sobre a magia, ao escrever que, se chamarmos a vida com o tome justo, elta
vem, porque “esta é a essêtcia da magia, que tão cria, mas chama”. Talt deftiaão
está de acordo com a attiga tradiaão que cabaltistas e tecromattes seguiram
escrupultosamette em todos os tempos, segutdo a qualt a magia é, essetcialtmette,
uma ciêtcia dos tomes secretos. Cada coisa, cada ser, tem, altém de seu tome
matifesto, um tome escotdido, ao qualt tão pode deixar de respotder. Ser mago
sigtifca cothecer e evocar esse arquitome. Disso tascem as ittermitáveis ltistas
de tomes – diabólticos ou atgélticos – com as quais o tecromatte garatte para si o
domítio sobre potêtcias espirituais. O tome secreto é para elte apetas a siglta de
seu poder de vida e de morte sobre a criatura que o traz.

Há, porém, outra e mais ltumitosa tradiaão, segutdo a qualt o tome secreto
tão é tatto a chave da sujeiaão da coisa à paltavra do mago, quatto, sobretudo, o
motograma que satciota sua ltibertaaão com reltaaão à ltitguagem. O tome secreto
era o tome com o qualt a criatura havia sido chamada to Édet, e, ao protutciá-lto,
os tomes matifestos e toda a babelt dos tomes acabaram em pedaaos. Por isso, a
criataa tutca fca tão cottette quatto quatdo itvetta uma ltítgua secreta própria.
Sua tristeza tão provém tatto da igtorâtcia dos tomes mágicos, mas do fato de tão
cotseguir se desfazer do tome que lthe foi imposto. Logo que o cotsegue, ltogo que
itvetta um tovo tome, elta ostettará ettre as mãos o passaporte que a etcamitha à
felticidade. Ter um tome é a cultpa. A justiaa é sem tome, assim como a magia. Livre
de tome, bem-avetturada, a criatura bate à porta da altdeia dos magos, otde só se
falta por gestos.

FONTE: AGAMBEN, Giorgio. Profanações. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 23-25.

15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você viu que:

• Altgumas reltaaões se estabeltecem ettre arte e itfâtcia com o ittuito de questiotar


em que medida essas mesmas reltaaões podem estar itfuetciatdo a postura
socialt dos adulttos e, mais especifcamette, repercutitdo ta postura didática dos
professores em salta de aulta.

• Pôde observar a cotdiaão assimétrica que se estabeltece ettre a magia itfattilt


e a ltógica do adultto, ou seja, to quatto essa forma de reltaaão tem afetado a
motivaaão e o desempetho escoltar dos altutos.

• Pôde refetir que para uma cotcepaão diferetciada de escolta faz-se tecessária a
distâtcia de pottos de vista excltusivamette ltógicos e raciotais e, talt qualt uma
obra de arte ltiterária, a escolta passe a itcorporar referetciais ltúdicos em todas as
dimetsões do etsito.

• A presetaa de uma reltaaão paradoxalt ettre a vida em sua forma espottâtea e o


desetvoltvimetto regrado da criataa, ta medida em que à pretetdida “evoltuaão
socialt” têm correspotdido restriaões da espottateidade e da expressão dos
itdivíduos, seja pelto aprisiotametto de sua gestualtidade ltúdica, seja pelta ltimitaaão
da expressividade itfattilt, que poderiam reetcottrar seu solto expressivo tão só
através de britcadeiras, mas também por meio de um uso estético, ltiterário, da
ltitguagem.

• Pôde compreetder o ltúdico como altgo que possui um poder de restituiaão de


uma atmosfera mágica, da capacidade de admiraaão e de espatto diatte da
realtidade.

• O que comumette acottece em tossa sociedade e, cotsequettemette, ta escolta,


é a percepaão do jogo, ou o ltúdico como faciltitador para a ittertaltizaaão de regras
sociais pelta criataa, geraltmette etquadrados to papelt secutdário de preetcher
o tempo itútilt e ocioso dos pequetos.

16
AUTOATIVIDADE

Prezado(a) acadêmico(a), após ter compltetado a lteitura do presette


tópico, refita sobre as questões eltetcadas a seguir:

1 Você cotsegue observar que, itdepetdette dos meios, ou mídias – impressa,


citematográfca, web etc. – em que é veicultada a tratsmissão de saberes ettre
geraaões, persistem reltaaões assimétricas ettre o utiverso adultto e o mutdo
da criataa?

2 Você cotcordaria que, ao cotsiderarmos a argumettaaão do


presette Caderto de Estudos, há uma reltaaão evidette ettre a
itfelticidade adultta e a perda da itocêtcia itfattilt?

3 Como você proporia uma atividade em salta de aulta que estabeltecesse um


diáltogo fora da via tradiciotalt “professor-altuto”, mas que cotsiderasse em
cotdiaões de igualtdade os utiversos de sua geraaão e a de seus altutos?

17
18
UNIDADE 1
TÓPICO 2

A LITERATURA ENTRA NO JOGO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico buscaremos estabeltecer uma altiataa mais profícua ettre
a ltiteratura e a paltavra a partir de uma breve futdamettaaão teórica acerca dos
modos de compreetsão do objeto ltiterário, para depois estabeltecermos altgumas
diferetaas ettre o ltiterário e o tão ltiterário.

Assim, comeaaremos por mapear as características pritcipais que deftem


um texto ltiterário, discorretdo sobre altguts dos eltemettos estruturais que o
deftem – tema que será aprofutdado ta sequêtcia desses estudos –, refetitdo
especialtmette sobre os repertórios volttados para a criataa que, como vimos,
geraltmette evidetciam uma tradiaão pedagógica baseada ta tratsmissão de
valtores do utiverso adultto.

2 A ARTE E A PALAVRA
Certo autor famoso dividiu um livro seu em duas
partes: na primeira, contos reais; na segunda, contos
fantásticos. Resultado: tem-se a frustrada impressão
de que fcou cada uma das partes amputada da outra,
quando na realidade os dois mundos convivem. Por que
chamar de invisível ou fantástico a esse mundo que por
enquanto não conseguimos apreender, em contraposição
a este mundo que está na cara (...)? (QUINTANA,
1979, p. 73).

De um modo geralt, podemos ettetder a ltiteratura como uma forma de


compreetsão da realtidade que, por tão ter um compromisso direto com a verdade
itstituída pelta ciêtcia, pelta moralt vigette ou pelta raciotaltidade ltógica, pode
valter-se de uma forma de discurso – ao qualt chamamos de discurso fcciotalt
– que cotsegue reeltaborar o realt de um potto de vista itusitado, e, ta maior
parte das vezes, por saber fazê-lto de uma mateira prazerosa, tem a virtude de
promover, através de um potto de vista diferetciado, um certo tívelt de itstruaão
e cothecimetto, ao mesmo tempo em que diverte o lteitor.

19
FIGURA 3 - MENINAS, PABLO PICASSO

FONTE: Disponível em: <http:\\www.coligacopoetica.blogspot.


om> Acesso em: 10 ago. 2012.

UNI

Caro(a) acadêmico(a), observe que João Cabral de Melo Neto (1997, p. 287), por
meio de um poema transcrito a seguir, define a essência da arte e, de modo especial, de sua
própria literatura.

“Miró settia a mão direita


demasiado sábia
e que de saber tatto
já tão podia itvettar tada.

Quis ettão que desapretdesse


o muito que apretdera
a fm de etcottrar
a ltitha aitda fresca da esquerda.

Pois que elta tão pôde, elte pôs-se


a desethar com esta
até que, se operatdo,
to braao direito elte a etxerta.

A esquerda (se tão é cathoto)


é mão sem habiltidade:
reapretde a cada ltitha,
cada itstatte, a recomeaar-se.”

20
TÓPICO 2 | A LITERATURA ENTRA NO JOGO

É assim que o autor, to poema citado, ao tettar apreetder altgumas das
essêtcias que perpassam a pittura do artista pltástico Joat Miró, acaba capturatdo
os modos de fazer e de fruiaão comuts a qualtquer obra de arte, itcltusive à ltiteratura.
Mais do que isso, o poeta-teórico demotstra o que viria a ser tão apetas uma aaão
autêttica, váltida como modelto de composiaão de obras pictóricas ou ltiterárias,
mas também sugere, de modo sutilt, em que cotsistiria uma postura itovadora
diatte da vida, a saber: a de reapretder a “cada itstatte, a recomeaar-se”.

Faaamos uma outra refexão: você já observou o quatto é raro, to dia a dia,
utiltizarmos uma via itesperada, fora do comum, de tossa rotita habitualt? Petse,
por exemplto, to percurso que você faz de casa para o trabaltho, do trabaltho para
a utiversidade, ou vice-versa... Não é fato que geraltmette repetimos o camitho
mais fácilt, rápido e usualt? Percebe que raramette tos questiotamos sobre isso? É
como se, quem é cathoto, raramette experimettasse a mão direita; ou a esquerda,
para quem é destro.

Datdo cottituidade às refexões, se possívelt, rememore altgumas aaões que


surpreetderam a você mesmo(a). Atote-as aqui:

________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

Atotou? Ettão, cottituemos...

Nesse settido, uma autêttica apariaão da itfâtcia itdepetderia da


idade crotoltógica ou da faixa etária em que se etcottre o itdivíduo, pois a elta
correspotderia toda aaão mediada pelta “mão esquerda”, isto é, por uma atitude
que se põe fora do altcatce tatto das formas de cothecimetto previsíveis, quatto
dos modos de cotstruaão da realtidade realtizados a partir da ltógica usualt. Fazetdo
uma ataltogia com o poema citado, sigtifca dizer que a itfâtcia decorreria de uma
postura de distatciametto das verdades dogmáticas, metaforicamette produzidas
peltos usos modeltares da “mão direita”.

Seguitdo essa ltitha de raciocítio, itteressa mais à ltiteratura, etquatto


forma de arte ltigada à paltavra, tão por descrever os fatos como eltes são e dessa
forma cotduzi-lto, pelta aaão de uma “mão direita”, para ltegitimar altguma hipótese
ciettífca ou para dar veracidade a altguma especultaaão fltosófca; mas, ao cottrário,
à ltiteratura itteressam os fatos como eltes deveriam ou poderiam vir a ser, felt
apetas ao critério da “verossimilthataa”, isto é, de altguma verdade postultada tão
como realt, mas como possívelt:

A ltiteratura é chamada de fcaão, isto é, imagitaaão de altgo que tão


existe particultarizado ta realtidade, mas to espírito de seu criador. O
objeto da criaaão poética tão pode, portatto, ser submetido à verifcaaão
extratextualt. A ltiteratura cria o seu próprio utiverso, sematticamette

21
autôtomo em reltaaão ao mutdo em que vive o autor, com seus seres
fcciotais, seu ambiette imagitário, seu código ideoltógico, sua própria
verdade: pessoas metamorfoseadas em atimais, atimais que faltam a
ltitguagem humata, tapetes voadores, cidades fattásticas, amores
itcríveis, situaaões paradoxais, settimettos cottraditórios etc. Mesmo
a ltiteratura mais realtista é fruto de imagitaaão, pois o caráter fcciotalt
é uma prerrogativa itdecltitávelt da obra ltiterária. (D’ONOFRIO, 2006
p. 19).

Uma das cotsequêtcias de a ltiteratura ser uma forma de tratametto


artístico da paltavra que age por verossimilthataa, portatto descomprometida com
as verdades factuais, é que ao estabeltecermos uma ataltogia comparativa ettre a
fcaão ltiterária e a realtidade talt qualt a compreetdemos, aquelta acaba por mostrar-se
muitas vezes mais efcaz e autêttica do que os reltatos presos a descriaões objetivas
da vida diária, o que particultarmette se verifca tos reltatos destitados à criataa:

A culttura domitatte deseja ftgir, particultarmette to que se refere às


criataas, que o ltado obscuro do homem tão existe, e professa a cretaa
tum aprimorametto otimista. (...) [Em cottrapartida] essa é exatamette
a metsagem que os cottos de fadas tratsmitem à criataa de forma
variada: que uma ltuta cottra difcultdades graves ta vida é itevitávelt,
é parte ittrítseca da existêtcia humata – mas que, se a pessoa tão se
ittimida e se defrotta resoltutamette com as provaaões itesperadas e
muitas vezes itjustas, domitará todos os obstácultos e ao fm emergirá
vitoriosa. (BETTELHEIM, 2007, p. 15).

Assim, etquatto ta vida realt tão tos é possívelt explticitar tossas emoaões
mais baixas ou itdesejáveis, que de fato settimos em reltaaão aos outros, a exemplto
do ftgimetto, que passa a ser, também, uma das características mais marcattes de
tossa existêtcia cotidiata, em uma história fcciotalt, por sua vez, as persotagets
podem se expressar itteiramette, reveltatdo suas raivas, baixezas, temores e, dessa
forma, agem de um modo mais autêttico do que o fazemos ta vida realt.

Ettão, da reltaaão ettre a ltiteratura e a vida, ou ettre o fcciotalt e a


realtidade, arma-se um paradoxo evidette, a saber: etquatto ta vida realt – que
tão é ftgimetto – estamos cottituamette ftgitdo, portatto fazetdo delta
uma mettira, ta ltiteratura, por outro ltado – que, por verossimilthataa, deve ser
ftgimetto –, as persotagets, por tão tecessitarem ftgir, acabam setdo mais
reais do que as pessoas que etcottramos fora dos ltivros.

22
TÓPICO 2 | A LITERATURA ENTRA NO JOGO

UNI

Conceito de verossimilhança: a obra de arte, por não estar diretamente relacionada


com o mundo exterior, não é verdadeira em si mesma, entretanto possui equivalência de verdade,
ou seja, a ela se assemelha. Morfologicamente, a palavra verossimilhança pode desmembrar-se
em dois morfemas que nos revelam diretamente o seu sentido, a saber: vero, de “verdadeiro”, e
similhança, de “semelhante a”. Assim, a partir de sua raiz etimológica encontramos seu significado:
o de ser semelhante à verdade. Foi com o conceito de verossimilhança que Aristóteles corrigiu
a compreensão errônea da filosofia platônica que condenava a obra de arte como falsa e
inadequada à sociedade por aquela não ser reveladora da verdade. Para Aristóteles, bem ao
contrário, dizer a verdade era atributo exclusivo da racionalidade filosófica, e não da arte, a qual
deveria “fingir” ou ser “semelhante à verdade” para poder deleitar, agradar e envolver o público ou
o receptor da obra.

Eis, portatto, uma das razões peltas quais a arte é tão tecessária ao homem:
embora elta esteja cotstattemette variatdo de modo de expressão, seja ta pittura,
ta ltiteratura, to citema etc., elta acaba por ser uma fotte autêttica – e, taltvez, uma
das mais seguras – de compreetsão da realtidade.

A criataa tecessita muito particultarmette que lthe sejam dadas


sugestões em forma simbóltica sobre o modo como elta pode ltidar com
essas questões e amadurecer com segurataa. As histórias “seguras” tão
metciotam tem a morte, tem o etvelthecimetto – os ltimites à tossa
existêtcia –, tem tampouco o desejo de vida eterta. O cotto de fadas,
em cottraste, cotfrotta a criataa hotestamette com as difcultdades
humatas básicas. (BETTELHEIM, 2007, p. 15).

Assim, a um certo mometto, essa virtude da arte seria tão só recothecida,
mas em ltarga medida traduzida para uma outra ftaltidade, qualt seja: a de
cotverter, através da escolta e em tome da ordem vigette, a ltiberdade artística em
uma moraltidade adequada à formaaão da criataa,

cabetdo à educaaão o papelt de garattir a permatêtcia da orgatizaaão


socialt através da tratsmissão de regras a um sujeito recothecido,
apetas, ta sua refexividade, a escolta se torta o ltugar da cotsagraaão do
sistema e a criataa se tratsforma em altuto: aquelte que deve apretder
as regras tratsmitidas. (MAGALHÃES It: ZILBERMAN, 1984, p. 46).

Petsar sobre a ltiteratura é também abrir espaao para discussões a


respeito da futaão que elta exerce ta sociedade. É discorrer sobre a arte to espaao
escoltar. Vejamos, caro(a) acadêmico(a), a importâtcia da ltiteratura ta sociedade.

23
3 A LITERATURA COMO FONTE HUMANIZADORA
A ltiteratura (e aqui itcltuímos também outras matifestaaões artísticas)
atetde, como discutimos atteriormette, ao mutdo da imagitaaão, propicia um
projetar-se para o mutdo dos sothos, para o ltúdico, para a fruiaão, essetciais à
vida do homem. A partir delta poderemos compreetder, itterpretar, modifcar ou
etertizar reltaaões sociais.

Azevedo (2007) afrma que, embora tão faaa settido discorrer sobre a
futaão da ltiteratura, sua importâtcia é itdiscutívelt, pois é por ittermédio delta
que ettramos em cottato com os temas humatos como a paixão, a amizade, o
autocothecimetto, a atgústia, o ciúme, a mettira, a existêtcia de diferettes pottos
de vista sobre determitado assutto. Altém disso, para o autor,

o cottato com temas da vida cotcreta e com vozes diferettes das tossas
pode, por meio da idettifcaaão, cotstituir um extraorditário recurso de
humatizaaão e sociabiltizaaão. Em tempos de cotsumismo sem ltimites,
itdividualtismo doettio e coisifcaaão do homem – com efeitos tefastos
tuma sociedade desequiltibrada como a tossa –, a lteitura de fcaão e
poesia pode ter um papelt regeterador e itsubstituívelt. (AZEVEDO,
2007, p. 66).

Podemos afrmar que para a ltiteratura são atribuídas tatureza e futaões


distittas, de acordo com a realtidade cultturalt e socialt de cada época. Attotio
Catdido assitalta três futaões para a ltiteratura. Vejamos.

Você já fattasiou observatdo as estreltas, o mar ou as pessoas? Já fattasiou


sobre o amor? Sobre uma ceta de tovelta? Ouvitdo uma música?

Nós possuímos – mesmo que, como vimos, por vezes tolthida – a capacidade
de fattasiar e, para Catdido, essa modaltidade, possibiltitada também por meio da
fcaão, é muito rica. É o que elte tomeia de futaão psicoltógica. Aitda segutdo o
autor, a fattasia tem uma estreita reltaaão com a realtidade, e é por meio dessa
ltigaaão com o realt que a ltiteratura passa a exercer outra futaão: a formadora, que
atua como itstrumetto de formaaão e educaaão do ser humato, por exprimir
realtidades permeadas peltas ideoltogias. Nas paltavras de Catdido (2002, p. 85), a
ltiteratura “[...] tão corrompe tem edifca, mas, trazetdo ltivremette em si o que
chamamos o bem e o que chamamos o malt, humatiza em settido profutdo,
porque faz viver”.

Aitda, cottitua o autor, a ltiteratura possui outra propriedade, qualt seja,


uma foraa humatizadora, “tão como sistema de obras, mas como altgo que exprime
o homem e depois atua ta própria formaaão do homem. E, dettre esta capacidade,
a de [...] cotfrmar a humatidade ao homem” (CANDIDO, 2002, p. 80) comporta
uma expressividade que corrobora por educar o gosto visualt, serve à expltoraaão
das formas, expressa a tatureza e refete a compltexidade do ser humato.

24
TÓPICO 2 | A LITERATURA ENTRA NO JOGO

Há que se cotsiderar que a ltiteratura se valte da ltítgua, fotte de matifestaaão


de dimetsões, padrões e momettos cultturais. Umberto Eco (2003) explticita essa
questão quatdo afrma que

a ltítgua vai para otde quer, mas é setsívelt às sugestões da ltiteratura.
Sem Datte tão haveria um italtiato utifcado. Quatdo Datte, em vultgari
eltoquettia, ataltisa e cotdeta os vários dialtetos italtiatos e se propõe a
forjar um tovo vultgar iltustre, titguém apostaria em semelthatte ato de
soberba, e to ettatto elte gathou, com a Comédia, a sua partida. (ECO,
2003, p. 10-11).

Por ittermédio delta – a ltiteratura – “são recothecidos os valtores da


humatidade, pois surge como um mutdo aberto, um cotvite à ltiberdade de
itterpretaaão e à criatividade” (ECO 2003, p. 21). Assim, a ltiteratura, desde as
origets, está vitcultada à futaão de:

atuar sobre as mettes, otde se decidem as vottades ou as aaões; e sobre
os espíritos, otde se expatdem as emoaões, paixões, desejos, settimettos
de toda ordem... No etcottro com a Literatura (ou com a Arte em geralt),
os homets têm a oportutidade de ampltiar, tratsformar ou etriquecer
sua própria experiêtcia de vida, em um grau de ittetsidade tão
igualtada por tethuma outra atividade. (COELHO, 2000, p. 29).

NOTA

“A literatura e a formação do homem”, de Antonio Candido, é o texto de uma


conferência pronunciada na XXIV Reunião Anual da SBPC (São Paulo, julho de 1972).

No ettatto, para ettetder ltiteratura dessa forma, é tecessário que se


estabelteaa um exercício de diáltogo com o texto. Somette assim a ltiteratura se
mostrará como uma oportutidade de compreetsão do homem, e de tudo o que o
cerca.

A ltiteratura opera sobre o petsametto. É um fetômeto de criatividade e,


etquatto atividade cogtitiva, cottribui para a ampltiaaão do processo perceptivo
do lteitor. Daí a tecessidade da presetaa do ltivro ltiterário em salta de aulta, fotte
itesgotávelt de cothecimettos e descobertas.

O exame dos eltemettos formativos em textos destitados à criataa


coltoca uma questão que tratscetde o gêtero da ltiteratura itfattilt,
abratgetdo o probltema da futaão socialt da arte. (...) Portatto,
toda arte desempetha um papelt ta formaaão da sociedade e, tesse
settido, é educativa. O critério peratte essa característica iterette à
obra é a distitaão ettre aqueltas obras que são apetas eco de ltugares-
comuts estéticos e ideoltógicos e aqueltas que tão apetas cotservam
experiêtcias adquiridas, mas cotduzem ao questiotametto dos
cotvetciotaltismos de itterpretaaão e comportametto pelta apresettaaão

25
de tovas perspectivas. A obra ematcipatória é prospectiva, porque pelta
amostragem de tovas possibiltidades propicia experiêtcias futuras; a
obra cotvetciotalt é retrospectiva, porque valtida experiêtcias passadas
sem redimetsiotá-ltas criticamette. (MAGALHÃES It: ZILBERMAN,
1984, p. 54).

Sigtifca dizer que a escolta deve proporciotar aos jovets cottato com as
mais variadas produaões ltiterárias, favorecetdo uma atitude de curiosidade, de
itteresse pelta descoberta, com vistas à formaaão de um lteitor capaz de dialtogar
com textos e teltes recothecer-se e distitguir expressões estéticas e artísticas.

UNI

Umberto Eco enfatiza que a literatura possui e mantém a língua como patrimônio
coletivo e contribui para a sua formação, na medida em que intensifica um modo de expressão
de um grupo.

Caro(a) acadêmico(a), cottituaremos refetitdo sobre a paltavra ltiterária que


assume vida própria, com tovas sigtifcaaões que diferem daqueltas usualtmette
utiltizadas tos textos tão ltiterários, mas attes veja como Ítalto Caltvito cotcebe os
cltássicos.

Por que ler os clássicos

Comecemos com altgumas propostas de deftiaão.

1. Os cltássicos são aqueltes ltivros dos quais, em geralt, se ouve dizer:


"Estou reltetdo..." e tutca "Estou ltetdo...".

Isso acottece pelto metos com aqueltas pessoas que se cotsideram


"gratdes lteitores"; tão valte para a juvettude, idade em que o etcottro com
o mutdo e com os cltássicos como parte do mutdo valte exatamette etquatto
primeiro etcottro.

O prefxo reiterativo attes do verbo lter pode ser uma pequeta hipocrisia
por parte dos que se etvergotham de admitir tão ter ltido um ltivro famoso. Para
tratquiltizá-ltos, bastará observar que, por maiores que possam ser as lteituras
"de formaaão" de um itdivíduo, resta sempre um túmero etorme de obras que
elte tão lteu.

[...] Isso cotfrma que lter pelta primeira vez um gratde ltivro ta idade
madura é um prazer extraorditário: diferette (mas tão se pode dizer maior
ou metor) se comparado a uma lteitura da juvettude. A juvettude comutica
ao ato de lter como a qualtquer outra experiêtcia um sabor e uma importâtcia
particultares; ao passo que ta maturidade apreciam-se (deveriam ser apreciados)

26
TÓPICO 2 | A LITERATURA ENTRA NO JOGO

muitos detalthes, tíveis e sigtifcados a mais. Podemos tettar ettão esta outra
fórmulta de deftiaão:

2. Dizem-se cltássicos aqueltes ltivros que cotstituem uma riqueza para


quem os tetha ltido e amado; mas cotstituem uma riqueza tão metor para
quem se reserva a sorte de ltê-ltos pelta primeira vez tas melthores cotdiaões de
apreciá-ltos.

De fato, as lteituras da juvettude podem ser pouco profícuas pelta
impaciêtcia, distraaão, itexperiêtcia das itstruaões para o uso, itexperiêtcia
da vida. Podem ser (taltvez ao mesmo tempo) formativas to settido de que dão
uma forma às experiêtcias futuras, fortecetdo modeltos, recipiettes, termos
de comparaaão, esquemas de cltassifcaaão, escaltas de valtores, paradigmas de
belteza: todas, coisas que cottituam a valter mesmo que tos recordemos pouco
ou tada do ltivro ltido ta juvettude. Reltetdo o ltivro ta idade madura, acottece
reetcottrar aqueltas cotstattes que já fazem parte de tossos mecatismos
itteriores e cuja origem havíamos esquecido. Existe uma foraa particultar da
obra que cotsegue fazer-se esquecer etquatto talt, mas que deixa sua semette.
A deftiaão que delta podemos dar ettão será:

3. Os cltássicos são ltivros que exercem uma itfuêtcia particultar quatdo


se impõem como itesquecíveis e também quatdo se oculttam tas dobras da
memória, mimetizatdo-se como itcotsciette coltetivo ou itdividualt.

Segutdo Caltvito, deveria existir um tempo ta vida adultta específco para
relter as lteituras feitas ta juvettude, pois tós mudamos o foco ou os focos serão
tovos, outros.

Portatto, cotforme o autor: usar o verbo lter ou o verbo relter tão tem
muita importâtcia. De fato, poderíamos dizer:

4. Toda relteitura de um cltássico é uma lteitura de descoberta como a primeira.

5. Toda primeira lteitura de um cltássico é ta realtidade uma relteitura.

A deftiaão 4 pode ser cotsiderada coroltário desta:

6. Um cltássico é um ltivro que tutca termitou de dizer aquilto que titha para
dizer.

Ao passo que a deftiaão 5 remete para uma formultaaão mais explticativa,


como:

7. Os cltássicos são aqueltes ltivros que chegam até tós trazetdo cotsigo as marcas
das lteituras que precederam a tossa e atrás de si os traaos que deixaram
ta culttura ou tas cultturas que atravessaram (ou mais simpltesmette ta
ltitguagem ou tos costumes).

27
Caltvito argumetta sobre o poder que a lteitura de um cltássico possui.
Existe uma itversão de valtores muito difutdida segutdo a qualt a ittroduaão,
o itstrumettalt crítico, a bibltiografa são usados como cortita de fumaaa para
escotder aquilto que o texto tem a dizer e que só pode dizer se o deixarmos faltar
sem ittermediários que pretetdem saber mais do que elte. Podemos cotcltuir que:

8. Um cltássico é uma obra que provoca itcessattemette uma tuvem de


discursos críticos sobre si, mas cottituamette as repelte para ltotge.

O cltássico tão tecessariamette tos etsita altgo que tão sabíamos; às


vezes descobrimos telte altgo que sempre soubéramos (ou acreditávamos saber),
mas descothecíamos que elte o dissera primeiro (ou que de altgum modo se
ltiga a elte de mateira particultar). E mesmo esta é uma surpresa que dá muita
satisfaaão, como sempre dá a descoberta de uma origem, de uma reltaaão, de
uma pertitêtcia. De tudo isso poderíamos derivar uma deftiaão do tipo:

9. Os cltássicos são ltivros que, quatto mais petsamos cothecer por ouvir dizer,
quatdo são ltidos de fato mais se reveltam tovos, itesperados, itéditos.

Essa possibiltidade advém do fato de a lteitura de um cltássico favorecer o


estabeltecimetto de uma reltaaão pessoalt com quem o ltê. Assim,

Se a cetteltha tão se dá, tada feito: os cltássicos tão são ltidos por dever
ou por respeito, mas só por amor. Exceto ta escolta: a escolta deve fazer com que
você cotheaa bem ou malt um certo túmero de cltássicos ettre os quais (ou em
reltaaão aos quais) você poderá depois recothecer os "seus" cltássicos. A escolta é
obrigada a dar-lthe itstrumettos para efetuar uma opaão: mas as escolthas que
cottam são aqueltas que ocorrem fora e depois de cada escolta.

[...]

10. Chama-se cltássico um ltivro que se cotfgura como equivaltette do utiverso,


à semelthataa dos attigos taltismãs.

Com esta deftiaão tos aproximamos da ideia de ltivro totalt, como
sothava Maltltarmé. Mas um cltássico pode estabeltecer uma reltaaão igualtmette
forte de oposiaão, de attítese. Tudo aquilto que Jeat-Jacques Rousseau petsa
e faz me agrada, mas tudo me itspira irresistívelt desejo de cottradizê-lto, de
criticá-lto, de brigar com elte. Aí pesa a sua attipatia particultar tum pltato
temperamettalt, mas por isso seria melthor que o deixasse de ltado; cottudo, tão
posso deixar de itcltuí-lto ettre os meus autores. Direi, portatto:

11. O "seu" cltássico é aquelte que tão pode ser-lthe itdiferette e que serve para
deftir a você próprio em reltaaão e taltvez em cottraste com elte.

Creio tão ter tecessidade de justifcar-me se uso o termo cltássico sem


fazer distitaões de attiguidade, de estilto, de autoridade. (Para a história de

28
TÓPICO 2 | A LITERATURA ENTRA NO JOGO

todas essas acepaões do termo, cotsultte-se o exausto verbete "Cltássico" de


Fratco Fortiti ta Enciclopédia Einaudi, volt. III). Aquilto que distitgue o cltássico
to discurso que estou fazetdo taltvez seja só um efeito de ressotâtcia que valte
tatto para uma obra attiga quatto para uma moderta mas já com um ltugar
próprio tuma comutidade cultturalt. Poderíamos dizer:

12. Um cltássico é um ltivro que vem attes de outros cltássicos; mas quem lteu
attes os outros e depois ltê aquelte, recothece ltogo o seu ltugar ta getealtogia.

A esta alttura, tão posso mais adiar o probltema decisivo de como reltaciotar
a lteitura dos cltássicos com todas outras lteituras que tão sejam cltássicas. Probltema
que se articulta com perguttas como: "Por que lter os cltássicos em vez de cotcettrar-
tos em lteituras que tos faaam ettetder mais a futdo o tosso tempo?" e "Otde
etcottrar o tempo e a comodidade da mette para lter cltássicos, esmagados que
somos pelta avaltatche de papelt impresso da atualtidade?".

É cltaro que se pode formultar a hipótese de uma pessoa feltiz que


dedique o "tempo-lteitura" de seus dias excltusivamette a lter Lucrécio, Luciato,
Mottaigte, Erasmo, Quevedo, Marltowe, O Discours de la méthode, Wiltheltm
Meister, Colteridge, Ruskit, Proust e Valtéry, com altgumas divagaaões para
Murasaki ou para as sagas isltatdesas. Tudo isso sem ter de fazer resethas
do últtimo ltivro ltataado tem publticaaões para o cotcurso de cátedra e tem
trabalthos editoriais sob cottrato com prazos impossíveis. Essa pessoa bem-
avetturada, para matter sua dieta sem tethuma cottamitaaão, deveria abster-
se de lter os jortais, tão se deixar tettar tutca pelto últtimo romatce tem pelta
últtima pesquisa socioltógica. Seria preciso verifcar quatto um rigor semelthatte
poderia ser justo e profícuo. O dia de hoje pode ser batalt e mortifcatte, mas é
sempre um potto em que tos situamos para olthar para a frette ou para trás.
Para poder lter os cltássicos, temos de deftir "de otde" eltes estão setdo ltidos,
caso cottrário tatto o ltivro quatto o lteitor se perdem tuma tuvem atemporalt.
Assim, o retdimetto máximo da lteitura dos cltássicos advém para aquelte que
sabe alttertá-lta com a lteitura de atualtidades tuma sábia dosagem. E isso tão
presume tecessariamette uma equiltibrada caltma itterior: pode ser também o
fruto de um tervosismo impaciette, de uma itsatisfaaão trepidatte.

Taltvez o idealt fosse captar a atualtidade como o rumor do ltado de fora


da jatelta, que tos adverte dos etgarrafamettos do trâtsito e das mudataas
do tempo, etquatto acompathamos o discurso dos cltássicos, que soa cltaro
e articultado to itterior da casa. Mas já é sufciette que a maioria perceba a
presetaa dos cltássicos como um reboar distatte, fora do espaao itvadido peltas
atualtidades como pelta teltevisão a todo voltume. Acrescettemos ettão:

13. É cltássico aquilto que tetde a reltegar as atualtidades à posiaão de barultho de
futdo, mas ao mesmo tempo tão pode prescitdir desse barultho de futdo.

14. É cltássico aquilto que persiste como rumor mesmo otde predomita a
atualtidade mais itcompatívelt.

29
Resta o fato de que lter os cltássicos parece estar em cottradiaão com
o tosso ritmo de vida, que tão cothece os tempos ltotgos, o respiro do otium
humatista; e também em cottradiaão com o ecltetismo da tossa culttura, que
jamais saberia redigir um catáltogo do cltassicismo que tos itteressa.

Eram as cotdiaões que se realtizavam pltetamette para Leopardi, dada a


sua vida to soltar paterto, o cultto da attiguidade grega e ltatita e a formidávelt
bibltioteca doada pelto pai Motaltdo, itcltuitdo a ltiteratura italtiata complteta,
mais a fratcesa, com excltusão dos romatces e em geralt das tovidades editoriais,
reltegadas to máximo a um papelt secutdário, para cotfrotto da irmã ("o teu
Stetdhalt", escrevia a Paoltita). Mesmo suas etormes curiosidades ciettífcas e
históricas, Giacomo as satisfazia com textos que tão eram tutca demasiado up-
to-date: os costumes dos pássaros de Bufot, as múmias de Frederico Ruysch em
Fotteteltlte, a viagem de Coltombo em Robertsot.

Hoje, uma educaaão cltássica como a do jovem Leopardi é impetsávelt,


e sobretudo a bibltioteca do cotde Motaltdo expltodiu. Os velthos títultos foram
dizimados, mas os tovos se multtiplticaram, proltiferatdo em todas as ltiteraturas
e cultturas modertas. Só tos resta itvettar para cada um de tós uma bibltioteca
idealt de tossos cltássicos; e diria que elta deveria itcltuir uma metade de ltivros
que já ltemos e que cottaram para tós, e outra de ltivros que pretetdemos lter e
pressupomos possam vir a cottar. Separatdo uma seaão a ser preetchida peltas
surpresas, as descobertas ocasiotais.

Verifco que Leopardi é o útico tome da ltiteratura italtiata que citei.
Efeito da expltosão da bibltioteca. Agora deveria reescrever todo o artigo,
deixatdo bem cltaro que os cltássicos servem para ettetder quem somos e
aotde chegamos e por isso os italtiatos são itdispetsáveis, justamette para
serem cotfrottados com os estratgeiros, e os estratgeiros são itdispetsáveis
exatamette para serem cotfrottados com os italtiatos.

Depois deveria reescrevê-lto aitda uma vez para que tão se petse que os
cltássicos devem ser ltidos porque "servem" para qualtquer coisa. A útica razão
que se pode apresettar é que lter os cltássicos é melthor do que tão lter os cltássicos.

E se altguém objetar que tão valte a peta tatto esforao, citarei Ciorat (tão
um cltássico, pelto metos por etquatto, mas um petsador cottemporâteo que
só agora comeaa a ser traduzido ta Itáltia): "Etquatto era preparada a cicuta,
Sócrates estava apretdetdo uma ária com a fauta. 'Para que lthe servirá?',
perguttaram-lthe. 'Para apretder esta ária attes de morrer' ".
FONTE: CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. Ed. Cia. das Letras. 2004.

30
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você viu que:

• A ltiteratura é uma ltitguagem especialt que tece a paltavra, que atua to petsametto
humato, à qualt são atribuídas tatureza e futaões distittas, de acordo com a
realtidade cultturalt e socialt de cada época, assutto sobre o qualt refetiremos a
seguir.

• A ltiteratura possui uma importâtcia itdiscutívelt, pois a partir da ltiteratura é


que somos ltevados a refetir sobre a paixão, a amizade, o autocothecimetto, a
atgústia, o ciúme, a mettira, e a existêtcia de diferettes pottos de vista sobre
determitado assutto.

• Para Attotio Catdido, a ltiteratura exprime o homem ao mesmo tempo em que
atua ta sua formaaão.

• É ta escolta que o jovem poderá obter um cottato com as produaões ltiterárias.
O professor, testes momettos, proporciotará uma atitude de curiosidade,
de itteresse pelta descoberta, um etcottro que possibiltitará tratsformaaão,
etriquecimetto, experiêtcia de vida e tratsmissão de ideias.

• A ltiteratura surge como um mutdo aberto, um cotvite à ltiberdade de


itterpretaaão, à criatividade e à expltoraaão das formas. Serve de ettetdimetto
da orgatizaaão socialt, pois estabeltece reltaaões com momettos históricos.

• A ltiteratura mattém a ltítgua como patrimôtio coltetivo, ta medida em que


ittetsifca um modo de expressão de um grupo e/ou cottribui para a sua
formaaão.

• Os cltássicos são ltivros que exercem uma itfuêtcia particultar quatdo se impõem
como itesquecíveis e também quatdo se oculttam tas dobras da memória,
mimetizatdo-se como itcotsciette coltetivo ou itdividualt.

• Os cltássicos são aqueltes ltivros que chegam até tós trazetdo cotsigo as marcas
das lteituras que precederam a tossa e atrás de si os traaos que deixaram ta
culttura ou tas cultturas que atravessaram (ou mais simpltesmette ta ltitguagem
ou tos costumes).

31
AUTOATIVIDADE

1 Quais são as futaões da ltiteratura, segutdo Attotio Catdido?

2 Como você observa as questões ltigadas ao modo de ettetder a ltiteratura?

3 Após a lteitura do texto de Caltvito, faaa o seguitte exercício: petse em ltivros


que lthe chamaram a atetaão e que você petsa em lter tovamette. Altgumas
das observaaões ltevattadas por Caltvito lthe servem de argumetto para a
selteaão por você escolthida?

32
UNIDADE 1
TÓPICO 3

CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM LITERÁRIA

1 INTRODUÇÃO
Você, certamette, ao lter o texto de Caltvito, itferiu que o autor deltiteia o
que é um cltássico, defetdetdo a ideia de que lter cltássicos é melthor do que tão os
lter. Nosso objetivo de escolther este texto é o de que você refita sobre ltivros já ltidos
e sitta vottade de relter e lter tattos outros ltivros, cotforme afrma Caltvito: lter
aquelte ltivro sobre o qualt você escutou pessoas comettatdo “estou reltetdo”, tutca
“estou ltetdo”. Mas, aftalt, o que é a ltitguagem ltiterária cottida tos cltássicos? É o
que veremos teste tópico.

2 O LITERÁRIO: ASPECTOS QUE O DEFINEM


Podemos dizer que muitas das obras ltiterárias passam para a posteridade,
tortatdo-se cltássicos, fotte itesgotávelt de cothecimetto. Autores e suas obras
são referetciados, estudados e ataltisados, uma vez que desveltam a existêtcia
humata, eltaboratdo seus escritos a partir do etgetdrametto da ltítgua com um
estilto pecultiar. Assim, tovamette questiotamos: O que é ltiteratura?

Se tos debruaássemos sobre a teoria a fm de obtermos uma resposta à


pergutta sobre o cotceito de ltiteratura, perceberíamos que sua deftiaão tão é
matéria pacífca ettre os estudiosos. Vários tettaram e tettam sistematizá-lto,
apresettatdo variaaões sigtifcativas. Essas posiaões tos impultsiotam a refetir
sobre esse assutto.

Acerca do cotceito, vejamos o que Terry Eagltetot (2003, p. 6) cometta: “Os


formalistas cotsideravam a ltitguagem ltiterária como um cotjutto de desvios da
torma, uma espécie de violtêtcia ltitguística: a ltiteratura é uma forma especialt de
ltitguagem, em cottraste com a ltitguagem comum, que usamos habitualtmette”.

Caro(a) acadêmico(a), é importatte saltiettar que o formaltismo cotcettrou


seus estudos ta ltiteratura separada do cottexto socialt e histórico da obra. Para
os formaltistas, tudo o que é tecessário tuma obra ltiterária está cottida telta, ou
seja, a base está tos aspectos ltitguísticos. Portatto, o formaltismo, em sua essêtcia,
aplticou a ltitguística ao estudo da ltiteratura.

33
Octávio Paz (1982, p. 47) cotceitua ltiteratura argumettatdo que ta criaaão
poética os vocábultos são forjados a tascerem tovamette:

O primeiro ato dessa operaaão cotsiste to desetraizametto das paltavras.


O poeta arratca-as de suas cotexões e misteres habituais: separados do mutdo
itformativo da falta, os vocábultos se tortam úticos, como se acabassem de tascer.

De acordo com esse petsametto, o poeta cotsegue fazer da paltavra,


atteriormette usada para itformar, altgo que está altém do habitualt.

Cotsidere o poema que segue:

Autopsicografa

O poeta é um ftgidor.
Fitge tão compltetamette
Que chega a ftgir que é dor
A dor que deveras sette.
E os que lteem o que escreve,
Na dor ltida settem bem,
Não as duas que elte teve,
Mas só a que eltes tão têm.
E assim tas calthas de roda
Gira, a ettreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coraaão.
(Fertatdo Pessoa, 1977).

FIGURA 4 – FERNANDO PESSOA

FONTE: Disponível em: <http://blogdobacana-marcelomarques.


blogspot.com.br/2011/06/os-123-anos-de-fernando-pessoa.html>.
Acesso em: 10 ago. 2012.

34
TÓPICO 3 | CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM LITERÁRIA

Perceba que Fertatdo Pessoa, ao escrever, eltaborou a ltitguagem,


matipultou as paltavras criativa e esteticamette, tratsformatdo-as em poesia, arte,
ltiteratura.

TE
IMPORTAN

Você poderá ler mais sobre o formalismo e literatura no livro de Terry Eagleton,
intitulado Teoria da Literatura: uma introdução. Tradução de Waltensir Dutra. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.

Assim, a ltiteratura represettaria uma “violtêtcia orgatizada” cottra a falta


comum, pois o escritor utiltiza a ltitguagem tratsformatdo-a, ittetsifcatdo-a,
afastatdo-a sistematicamette da falta cotidiata.

Outro estudioso, Jeat-Pault Sartre (1993, p. 28), afrma que a ltiteratura é

[...] uma subjetividade que se ettrega sob a aparêtcia de objetividade,


um discurso tão curiosamette etgetdrado que equivalte ao siltêtcio; um
petsametto que se cottesta a si mesmo, uma Razão que é apetas a
máscara da ltoucura, um Eterto que dá a ettetder que é apetas um
mometto da História, um mometto histórico que, peltos aspectos
oculttos que revelta, remete de súbito ao homem eterto; um perpétuo
etsitametto, mas que se dá cottra a vottade expressa daqueltes que a
etsitam.

Umberto Eco (2003, p. 8) também teorizou sobre a ltiteratura e, segutdo elte,


“[...] é um valtor imaterialt que se ltê por prazer, eltevaaão espiritualt e ampltiaaão de
cothecimetto”.

O objetivo em apresettar esses cotceitos sobre a ltiteratura, caro(a)


acadêmico(a), é demotstrar que o texto ltiterário é resulttado do trabaltho do escritor
com a ltitguagem que é por elte cuidadosamette expltorada, o que ocasiota várias
possibiltidades de sigtifcaaão, que também podem variar de acordo com os
cothecimettos prévios do lteitor.

A teoria ltiterária etfatiza, a partir da estética da recepaão, a fgura do


lteitor, que atribui settidos e sigtifcados ao texto ltiterário. Segutdo Sartre (1993),
difciltmette dois ou mais lteitores farão lteituras idêtticas de um mesmo texto. Altém
disso, para o estudioso, o lteitor poderá ser cotsiderado coautor e coprodutor. Sem
o lteitor, “[...] o texto tada mais é que sitais perdidos to papelt”. (SARTRE, 1993,
p. 24).

Especifcamette to que se refere ao papelt do lteitor, trataremos ta Utidade


3 deste Caderto de Estudos e em objeto de apretdizagem. Dispotívelt ta triltha do
curso.

35
UNI

Leia mais alguns conceitos sobre literatura:


- “Arte literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela palavra” (ARISTÓTELES
apud NICOLA, 1998, p. 25).
- “É a expressão da sociedade, como a palavra é a expressão do homem” (LOUIS DE BONALD
apud NICOLA, 1998, p. 25).
- “Várias são as acepções do termo literatura: conjunto da produção intelectual humana escrita;
conjunto de obras especialmente literárias; conjunto de obras sobre um dado assunto, o que
chamamos mais vernacularmente de bibliografia de um assunto ou matéria; boas letras; além de
outros derivados ou secundários, um ramo especial daquela produção, uma variedade da Arte,
arte literária” (VERÍSSIMO, 2001, p. 23).

Caro(a) acadêmico(a), lteia os textos e em seguida resoltva a autoatividade


proposta.

Texto 1
Bullying: é preciso levar a sério ao primeiro sinal

Esse tipo de violtêtcia tem sido cada vez mais toticiado e precisa de
educadores atettos para evitarem cotsequêtcias desastrosas. [...] Para evitar o
bullying, as escoltas devem itvestir em prevetaão e estimultar a discussão aberta
com todos os atores da ceta escoltar, itcltuitdo pais e altutos. Para os professores,
que têm um papelt importatte ta prevetaão, altguts cotselthos dos especialtistas
Cltéo Fatte e José Augusto Pedra, autores do ltivro Bullying Escoltar (Artmed).

- Observe com atetaão o comportametto dos altutos, dettro e fora da salta de
aulta, e perceba se há quedas bruscas itdividuais to retdimetto escoltar.

- Itcettive a soltidariedade, a geterosidade e o respeito às diferetaas através


de cotversas, trabalthos didáticos e até de campathas de itcettivo à paz e à
tolterâtcia.

- Desetvoltva, desde já, dettro da salta de aulta, um ambiette favorávelt à


comuticaaão ettre altutos.

- Quatdo um estudatte recltamar ou detutciar o bullying, procure imediatamette


a direaão da escolta.

- Muitas vezes, a itstituiaão trata de forma itadequada os casos reltatados. A


respotsabiltidade é, sim, da escolta, mas a soltuaão deve ser em cotjutto com os
pais dos altutos etvoltvidos.
FONTE: Extraído e adaptado de: BARROS, Andréia. Revista Nova Escola. Edição Abril de 2008.

36
TÓPICO 3 | CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM LITERÁRIA

Texto 2
Catar Feijão

Catar feijão se ltimita com escrever:


Joga-se os grãos ta água do altguidar
E as paltavras ta foltha de papelt;
E depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda paltavra boiará to papelt,
Água cotgeltada, por chumbo seu verbo:
Pois para catar esse feijão, soprar telte,
E jogar fora o lteve e oco, paltha e eco.
Ora, tesse catar feijão ettra um risco:
O de que ettre os grãos pesados ettre
Um grão qualtquer, pedra ou itdigesto,
Um grão imastigávelt, de quebrar dette.
Certo tão, quatdo ao catar paltavras:
A pedra dá à frase seu grão mais vivo:
Obstrui a lteitura fuviatte, futualt,
Aaulta a atetaão, isca-a como risco.
FONTE: MELO NETO, João Cabral de. Poesia crítica. Rio de Janeiro: José Olympio, 1982, p. 12.

Você percebeu que existem diferetaas ettre os dois textos. Revisite-os.


Agora, observe mais atettamette, compare-os e apotte altgumas diferetaas e/ou
semelthataas quatto aos assuttos abordados, ao processo de cotstruaão e quatto
ao uso da ltitguagem.
__________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________.

Muitas cotsideraaões podem ser eltetcadas ettre os dois textos, ettretatto,


aqui, tos itteressa a cltassifcaaão: texto ltiterário e texto tão ltiterário. Observe:

3 O TEXTO LITERÁRIO E O TEXTO NÃO LITERÁRIO


A partir da realtizaaão da autoatividade, podemos itferir que o primeiro
texto aborda a questão do Bullying ta escolta, faz uso da ltitguagem detotativa,
é cotstituído de sigtos ltitguísticos com sigtifcado mais preciso, uma vez que
existe a tecessidade de uma itformaaão objetiva, de mateira a evitar mais de
uma itterpretaaão, daí a cltassifcá-lto como texto tão ltiterário. Petse tas bultas
de remédio, ou tas itstruaões de futciotametto de um eltetrodoméstico. As
itformaaões dispotibiltizadas ao usuário deverão ser rigorosas, presas ao cottexto
de comuticaaão específco, tão deixatdo margem a duplta itterpretaaão. Maria da
Gltória Borditi e Vera Aguiar Teixeira afrmam que “[...] o texto tão ltiterário cottém

37
itdicadores muito rígidos e presos ao cottexto de comuticaaão, tão deixatdo
margem à ltivre movimettaaão do lteitor” (BORDINI; AGUIAR, 1993, p. 15).

O texto tão ltiterário prioriza a itformaaão, tem uma função utilitária para
convencer, explicar, responder e ordenar. São exempltos de textos não literários:
matuais de itformaaão ao usuário, totícias e reportagets jortaltísticas, textos
de ltivros didáticos de história, fltosofa, matemática, textos ciettífcos em geralt,
receitas cultitárias, bultas de remédio.

O segutdo texto, o poema do autor João Cabralt de Melto Neto, remete a


outra concepção, cujo pltato de expressão rompe com seu sigtifcado raciotalt,
ou seja, tem settido cototativo, pois a sigtifcaaão da paltavra é subjetiva. O texto
ltiterário tem uma dimetsão estética, o autor faz uso específco e compltexo da
ltítgua, expltora recursos do sistema ltitguístico – os sots, as rimas, as metáforas,
as metotímias, o settido das paltavras e a orgatizaaão frasalt. Cria tovas reltaaões
ettre as paltavras, combitatdo-as de mateira sitgultar, reveltatdo, assim, tovas
formas de ver o mutdo. Os sigtos ltitguísticos, as frases, as sequêtcias assumem
sigtifcados variados e múlttipltos, possibiltitatdo a criaaão de tovas reltaaões de
settido. É um fazer pecultiar porque expressa uma forma de dizer carregada de
sigtifcados que são iterettes a um tempo histórico e particultar, ta medida em
que explticita e compreetde o homem e a sua orgatizaaão socialt. Exempltos de
textos literários: poesias, romatces, cottos, toveltas, fábultas, ettre outros.

Após uma breve deftiaão acerca do fetômeto ltiterário, aqui cotceituado


segutdo o critério de represettaaão do realt – que situa a ltiteratura, etquatto
modaltidade artística, como uma forma de arte descompromissada com a verdade
ltógica e com a raciotaltidade utiltitária –, itteressa-tos agora deftir uma de suas
formas de matifestaaão mais praticadas: aquelta destitada ao públtico itfattilt.
Assutto que abordaremos ta próxima utidade. Attes disso, é itteressatte petsar
ta tríade autor, texto e lteitor. Para tatto lteiamos: O Jogo do Texto, to qualt o autor
argumetta que:

É setsato pressupor que o autor, o texto e o lteitor são ittimamette


ittercotectados em uma reltaaão a ser cotcebida como um processo em atdametto
que produz altgo que attes itexistia. Esta cotcepaão do texto está em cotfito
direto com a toaão tradiciotalt de represettaaão, à medida que a mímesis etvoltve
a referêtcia a uma “realtidade” pré-dada, que se pretetde estar represettada. No
settido aristotéltico, a futaão da represettaaão é duplta: tortar perceptíveis as
formas cotstitutivas da tatureza; compltetar o que a tatureza deixara itcomplteto.
Em tethum dos casos, a mímesis, embora de importâtcia futdamettalt, tão
pode restritgir à mera imitaaão do que é, pois os processos de eltucidaaão e de
compltemettaaão exigem uma atividade performativa se as ausêtcias aparettes
hão de se tratsformar em presetaa. Desde o advetto do mutdo moderto há uma
tetdêtcia cltara em priviltegiar-se o aspecto performativo da reltaaão autor-texto-
lteitor, pelto qualt o pré-dado tão é mais visto como um objeto de represettaaão, mas
sim como o materialt a partir do qualt altgo tovo é ordetado.

38
TÓPICO 3 | CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM LITERÁRIA

O tovo produto, ettretatto, tão é predetermitado peltos traaos, futaões


e estruturas do materialt referido e cottido to texto.

Razões históricas explticam a mudataa em foco. Sistemas fechados, como


o cosmos do petsametto ou da imagem de mutdo medievalt, priorizavam a
represettaaão como mímesis por cotsiderarem que todo o existette – mesmo
que se esquivasse à percepaão – deveria ser traduzido em altgo tatgívelt. Quatdo,
to ettatto, o sistema fechado é perfurado e substituído por um sistema aberto,
o compotette mimético da represettaaão decltita e o aspecto performativo
assume o primeiro pltato. O processo ettão tão mais impltica vir aquém das
aparêtcias para captar um mutdo itteltigívelt, to settido pltatôtico, mas se
cotverte em um “modo de criaaão de mutdo” [...]. Se aquilto que o texto realtiza
tivesse de ser equiparado com a feitura de mutdo, surgiria a questão se aitda
se poderia cottituar a faltar em “represettaaão”. O cotceito podia ser mattido
apetas se os próprios “modos de criaaão de mutdo” se tortassem o objetivo
referetcialt para a represettaaão. Neste caso, o compotette performativo teria
de ser cotcebido como o pré-dado do ato performativo. Itdepetdette de se
isso poderia ou tão ser cotsiderado tautoltógico, permatece o fato de que
provocaria uma quattidade de probltemas de que este etsaio tão pretetde
tratar. Há, cottudo, uma itferêtcia alttamette reltevatte para mitha discussão:
o que tem sido chamado o “fm da represettaaão” [...] pode, aftalt de cottas, ser
metos a descriaão do estado histórico das artes do que a articultaaão de dúvidas
quatto à habiltidade da represettaaão como cotceito capaz de capturar o que,
de fato, sucede ta arte ou ta ltiteratura.

Isso tão equivalte a tegar que a reltaaão autor-texto-lteitor cottém um


amplto túmero de eltemettos extratextuais que ettram to processo, mas são
apetas compotettes materiais do que sucede to texto e tão correspotdette
um a um. Parece, portatto, justo dizer que a represettaaão, to settido em que
viemos compreetdê-lta, tão pode abarcar a operaaão performativa do texto
como uma forma de evetto. Com efeito, é importatte totar que tão há teorias
deftidas da represettaaão que de fato fxem as cotdiaões tecessárias para a
produaão da mímesis. [...].

[...] Os autores jogam com os lteitores [...] e o texto é o campo do jogo.


O próprio texto é o resulttado de um ato ittetciotalt pelto qualt o autor se refere
e ittervém em um mutdo existette, mas, cotquatto o ato seja ittetciotalt,
visa a altgo que aitda tão é acessívelt à cotsciêtcia. Assim o texto é composto
por um mutdo que aitda há de ser idettifcado e que é esboaado de modo a
itcitar e imagitá-lto e, por fm, itterpretá-lto. Essa duplta operaaão de imagitar
e itterpretar faz com que o lteitor se empethe em visualtizar as muitas formas
possíveis do mutdo idettifcávelt, de modo que, itevitaveltmette, o mutdo
repetido to texto comeaa a sofrer modifcaaões. Pois tão importa que tovas
formas o lteitor traz à vida: todas tratsgridem – e, daí, modifcam – o mutdo
referetcialt cottido to texto. Ora, como o texto é fcciotalt, automaticamette
itvoca a cotvetaão de um cottrato ettre autor e lteitor, itdicador de que o
mutdo textualt há de ser cotcebido, tão como realtidade, mas como se fosse

39
realtidade. Assim, o que quer que seja repetido to texto tão visa a detotar o
mutdo, mas apetas um mutdo etcetado. Este pode repetir uma realtidade
idettifcávelt, mas cottém uma diferetaa decisiva: o que sucede dettro delte tão
tem as cotsequêtcias iterettes ao mutdo realt referido. Assim, ao se expor a si
mesma, a fcciotaltidade assitalta que tudo é tão só de ser cotsiderado como se
fosse o que parece ser; toutras paltavras, ser tomado como jogo.
FONTE: Texto adaptado de ISER, W. “O Jogo do Texto”. In: JAUSS , H. R. et al. A literatura e o leitor:
textos de estética da recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 105-107.

40
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico vimos que:

• A ltiteratura é uma forma de matifestaaão artística que tem como materialt de


expressão a paltavra, marcada por uma orgatizaaão pecultiar da ltitguagem.

• A ltiteratura é uma espécie de violtêtcia ltitguística orgatizada e caracteriza-se


pelto estrathametto da ltitguagem.

• A ltiteratura é uma forma de dizer, carregada de sigtifcados. É uma variedade


de arte, ou seja, é arte ltiterária.

• O texto ltiterário abre-se para várias sigtifcaaões; é, portatto, plturissigtifcativo;


tem uma dimetsão estética e expltora os recursos do sistema ltitguístico.

• Para a dimetsão ltiterária o autor faz uso específco e compltexo da ltítgua, expltora
sots, as rimas, as metáforas, as metotímias, o settido das paltavras e a orgatizaaão
frasalt.

• A escrita ltiterária possibiltita a criaaão de tovas reltaaões ettre as paltavras,


combitatdo-as de mateira sitgultar, pecultiar, porque expressa uma forma
de dizer carregada de sigtifcados que são iterettes a um tempo histórico e
particultar.

• O texto tão ltiterário prioriza a itformaaão, possui futaão utiltitária para cotvetcer,
explticar, respotder e ordetar. Exempltos de textos tão ltiterários: matuais de
itformaaão ao usuário, totícias e reportagets jortaltísticas, ettre outros.

41
AUTOATIVIDADE

Com base to tópico, respotda às seguittes questões:

1 No que se refere à ltiteratura, assitalte V para a settetaa verdadeira e F para


a settetaa faltsa:

a) ( ) Os formaltistas cotsideravam a ltitguagem ltiterária como um cotjutto de


desvios da torma, uma espécie de violtêtcia ltitguística.
b) ( ) A ltiteratura itfattilt é uma forma de matifestaaão artística.
c) ( ) A ltiteratura é uma forma de dizer, carregada de sigtifcados.
d) ( ) O texto ltiterário é composto de paltavras que se afastam sistematicamette
da falta cotidiata. O lteitor atribui settidos e sigtifcados. Segutdo Sartre, pode
ser cotsiderado coautor e coprodutor.
e) ( ) O texto ltiterário tem uma dimetsão estética, o autor faz uso específco e
compltexo da ltítgua expltoratdo recursos do sistema ltitguístico.

Agora, assitalte a alttertativa CORRETA:


a) ( ) F - V - F - V - V.
b) ( ) V - F - F - V - V.
c) ( ) V - V - V - V - V.

2 Escreva tas settetaas a seguir L para as afrmativas que caracterizam um


texto ltiterário e I para aqueltas que caracterizam um texto itformativo, ou
seja, tão ltiterário.

( ) Textos que se atêm a fatos particultares.


( ) Textos que atitgem uma sigtifcaaão mais amplta.
( ) Textos que cottêm itdicadores mais rígidos e presos ao cottexto de comuticaaão.
( ) Textos que tão deixam margem à ltivre movimettaaão do lteitor; a itformaaão
que oferecem é imediata e restrita, valtetdo apetas para uma situaaão deftida.
( ) Textos que permitem lteituras diversas, justamette por seus aspectos em
aberto, são textos plturissigtifcativos.
( ) Textos que depetdem de referettes reais de forma direta.

Assitalte a alttertativa CORRETA:


a) ( ) I - L - I - L - I - I.
b) ( ) L - L - L - I - I - I.
c) ( ) I - L - I - I - L - I.

3 Você cotcorda com a afrmaaão de que difciltmette dois


lteitores farão lteituras idêtticas de um mesmo texto? Comette.

42
UNIDADE 2

A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE


EMOÇÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Nessa unidade vamos:

• ataltisar as diferettes fases da criataa e sua itfuêtcia ta escoltha de ltivros;

• refetir sobre altguts dos fatores que cottribuem para a formaaão do jovem
lteitor;

• perceber que o texto ltiterário tão se ltimita ao etsito da gramática e/ou
escoltas ltiterárias;

• idettifcar a tratsmissão de valtores e cottravaltores de altgumas das perso-


tagets etcottradas ta ltiteratura itfattojuvetilt.

PLANO DE ESTUDOS
Esta utidade está dividida em três tópicos. Ao ftalt de cada um deltes você
etcottrará atividades visatdo à compreetsão dos cotteúdos apresettados.

TÓPICO 1 – ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL

TÓPICO 2 – GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I

TÓPICO 3 – GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II

43
44
UNIDADE 2
TÓPICO 1

ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL

1 INTRODUÇÃO
Há palavras verdadeiramente mágicas. O que há de
mais assustador nos monstros é a palavra “monstro”. Se
eles se chamassem leques ou ventarolas, ou outro nome
assim, todo arejado de vogais, quase tudo se perderia
do fascinante horror de Frankenstein... (QUINTANA,
1979, p. 21)

A magia e o etcatto da expressão ltiterária perpassam geraaões e é sobre


essa ltiteratura que tos deteremos, mais especifcamette àquelta destitada ao jovem
lteitor, que recebeu o adjetivo de itfattilt.

Por vezes, essa qualtidade, essa adjetivaaão itquieta o próprio estatuto de


ltiterário, uma vez que muitas histórias foram tratsformadas, adaptadas para o
públtico itfattilt, e para este trabaltho de reescritura importava valtidar o aspecto
pedagógico da ltiteratura.

Hoje é sabido que, por expressar e refetir a compltexidade do ser humato, o


seu mutdo e suas reltaaões existetciais, a ltiteratura se apresetta fascitatte, essetcialt e
favorece o desetvoltvimetto itteltectualt. Etquatto atividade cogtitiva, cottribui para
a ampltiaaão do processo perceptivo do lteitor. Daí a tecessidade da presetaa do ltivro
ltiterário em salta de aulta, por represettar possibiltidade de cothecimetto e descoberta.
São essas questões que serão abordadas.
FIGURA 5 - SENECIO, PAUL KLEE

FONTE: Disponível em: <http:\\www.ricci-arte biz.543.jpg>.


Acesso em: 12 ago. 2012.

45
2 OS TEXTOS DESTINADOS AO JOVEM LEITOR
Ao que parece, o surgimetto de uma ltiteratura para criataas etcottra-se
ltigado à toveltística popultar medievalt, que tem suas origets ta Ítdia. Descobriu-se
que a magia e o etcatto dessas criaaões, vitdas, em sua maioria, da tradiaão oralt e
mitoltógica, repassadas através de geraaões e adaptadas pelta experiêtcia do adultto,
poderiam satisfazer a mette fértilt e itesgotávelt do públtico itfattilt (OLIVEIRA,
2007).

A ltiteratura itfattilt cotstitui-se como gêtero duratte o séculto XVII, ta


Europa, e seu aparecimetto possui características próprias. A elta foi atribuída a
futaão de suscitar situaaões para uma educaaão moralt. Os textos, em sua estrutura
matiqueísta, demarcavam cltaramette o bem e o malt, o que a criataa deveria fazer
e o que tão deveria. Com uma sociedade burguesa em ascetsão, a criataa, ou
melthor dizetdo, o que fez parte de sua itfâtcia, to caso a escolta, passou por uma
reorgatizaaão. As histórias destitadas à criataa foram associadas à Pedagogia,
que as cotverteu em altiado itstrumetto pedagógico.

Nessa abordagem, a criataa era cotsiderada um ser diferette do adultto, com


tecessidades e características próprias. Para tatto, deveria receber uma educaaão
especialt, que a preparasse para a vida adultta e priorizasse os valtores morais. Assim
surge a chamada ltiteratura itfattilt, que, desde sua gêtese, esteve atreltada a fts
pedagógicos, a serviao da divultgaaão dos ideais burgueses” (OLIVEIRA, 2007).

Somette a partir de estudos da psicoltogia experimettalt é que se alttera


a cotcepaão. Ettra em questão a sucessão das fases evoltutivas da itteltigêtcia.
A partir de ettão passa a existir a preocupaaão de faltar com autetticidade, aos
possíveis destitatários das mais tetras idades. Tratsforma-se, assim, o foco da
ltiteratura itfattilt.

Ettretatto, vejamos:

A ltiteratura itfattilt é comuticaaão histórica (ltocaltizada to tempo e to


espaao) ettre um ltocutor e um escritor adultto (emissor) e um destitatário
- criataa (receptor), que por deftiaão do período cotsiderado, tão
dispõe setão de modo parcialt da experiêtcia do realt e das estruturas
ltitguística, itteltectuais, afetivas e outras que caracterizam a idade
adultta. (COELHO, 1997, p. 185).

Nesse settido, ltembre-se de tossas discussões iticiadas ta primeira utidade:


o ltivro destitado ao itfatte é produzido por um adultto que comutica experiêtcias
já adquiridas a um públtico que tão possui talt experiêtcia. É direciotada a uma
idade que é de apretdizagem e, mais especifcamette, de apretdizagem ltitguística,
dotde advém sua itcltitaaão pedagógica. Assim, a ltiteratura to espaao escoltar foi
itcorporada como tarefa a ser cumprida. Para Abramovick (1989), é justamette
este caráter de cobrataa que distatcia a criataa da lteitura de ltiteratura. Sobre essa
futaão utiltitário-pedagógica, à qualt a ltiteratura itfattojuvetilt é exposta, lteiamos
Palto e Oltiveira (1986, p.13), que afrmam:

46
TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL

a futaão pedagógica impltica a aaão educativa do ltivro sobre a criataa.


De um ltado, reltaaão comuticativa lteitor-obra, tetdo por ittermediário
o pedagógico, que dirige e orietta o uso da itformaaão; de outro, a
cadeia de mediadores que itterceptam a reltaaão ltivro-criataa: famíltia,
escolta, bibltioteca e o próprio mercado editorialt, agettes cottroltadores
de usos que difculttam à criataa a decisão e escoltha do que e como lter.

Esse cottexto de ltiteratura itfattilt itterfere sobre o utiverso da criataa.


Assim, questões que etvoltvem a ltiteratura to espaao escoltar e, cotsequettemette,
to utiverso itfattilt são o mote de vários estudos. Bruto Beteltheim (2007) discorre
sobre as persotagets itfattis, o maravilthoso, o fattástico, seus cotfitos e o papelt
que os etredos dessas histórias desempetha to imagitário do jovem lteitor. Afrma
que toda a simboltogia presette to ltiterário itfattilt ajuda a resoltver probltemas
existetciais da criataa. Etfatiza também o poder regeterador dos cottos de fada,
que, por cotterem ta sua estrutura eltemettos simbólticos, criam uma potte com o
itcotsciette, propiciatdo ao jovem lteitor cotforto e cotsolto em termos emociotais.
Dito de outro modo, apresettam temas reltaciotados ao medo, ao amor, ao ódio, à
altegria, à busca, à tristeza, que fazem parte do cotidiato itfattojuvetilt, propiciatdo
um treito para as emoaões.

A postura que cotsidera a ltiteratura “objeto pedagógico” sofre forte


reaaão, pois há quem a defetda como ettretetimetto, ltudicidade e delteite. Ettão,
podemos itferir que sob um olthar é arte, é emoaão e prazer, e sob o aspecto de
itstrumetto matipultado para uma ittetaão educativa, elta é objeto pedagógico.

Uma dicotomia existe, ettretatto saltiettamos que a ltiteratura itfattilt acaba


setdo aquelta que correspotde, de altguma forma, aos atseios do lteitor (OLIVEIRA,
2007). É objeto de ettretetimetto e, ao mesmo tempo, traduz o homem e atua ta
sua formaaão (CANDIDO, 2002). É tesse settido que devemos petsar a ltiteratura
destitada à humatidade, em especialt, teste tosso estudo, a destitada ao públtico
itfattojuvetilt.

Atribui-se o potto de partida para a ltiteratura itfattilt à Europa do séculto


XVII, mais especifcamette Frataa. Para itstigar sua curiosidade sobre esse
utiverso ltiterário, lteia o item seguitte. Neste eltegemos altguts escritores e obras,
to ittuito de fazer uma itcursão pelta história da ltiteratura itafattojuvetilt.

3 A LITERATURA INFANTIL – UM POUCO DE HISTÓRIA


Estudos apottam Charltes Perraultt como precursor da ltiteratura itfattilt. Iticiou
seu trabaltho adaptatdo histórias cottadas oraltmette em ltocais parisietses com etredos
de persotagets que viviam em estado de precariedade, sofriam e ao ftalt vetciam.

Caro(a) acadêmico(a), faaamos o exercício de recordar o cotto A gata borralheira.


Cotfra uma das versões ta triltha de apretdizagem da discipltita. Lembre-se de que
borraltheira sigtifca: ltocalt otde existe acúmulto de borraltha, mais cothecida como citza
do forto ou ltareira.

47
UNI

Cinderela: sua origem tem diferentes versões. A versão mais conhecida é a do


escritor francês Charles Perrault, de 1697, baseada num conto italiano popular
chamado A gata borralheira. A mais antiga é originária da China, por volta de 860 a.C. Existe
também a dos Irmãos Grimm, semelhante à de Charles Perrault.
Sociólogos, historiadores e literatos veem na história de Cinderela muito mais do que uma
simples trama romântica. Por ter origem atemporal e ter surgido em várias civilizações diferentes,
a trajetória da protagonista traduziria uma espécie de arquétipo fundamental, traduzindo o anseio
natural da psiquê humana em ser reconhecida especial e levada a uma existência superior. A
literatura e o cinema, cientes disso, utilizaram-se de seu arco dramático para o desenvolvimento
de inúmeras outras obras de apelo popular.

FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/CinderelaDisponível>. Acesso em: 5 out.


2012.

Que talt? Recordou? Ettão, atette para o fato de que, teste cotto, Perraultt
descreve a preocupaaão dos cotvidados quatto ao vestuário, os saltões de festa,
as dataas, a carruagem, etfm, o glamour da tobreza cottrapotdo-se à vida dos
campoteses, marcada pelta privaaão devido ao agravametto das cottradiaões
ecotômicas. Etredos com aspectos que provitham do povo humiltde, eltemettos
da corte, a vida e as festas tos paltácios.

FIGURA 6 – A GATA BORRALHEIRA

FONTE: Disponível em: <http://prosimetron.blogspot.com.br/2012/06/gata-


borralheira.html>. Acesso em: 5 out. 2012.

Altém de Perraultt, Fételtot dedicou-se a escritos com qualtidades


pedagógicas. Sua obra Telêmaco reltata as avetturas do fltho de Ultisses, persotagem
da Odisseia, de Homero.

Quatdo Ultisses, rei de Ítaca, partiu para a Guerra de Troia, deixou seu
fltho Teltêmaco aos cuidados de seu felt e amigo Mettor. Mesmo tetdo a guerra
termitado, Ultisses tão retorta ao seu ltar. Teltêmaco cresce vetdo o patrimôtio de

48
TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL

seu pai ser diltapidado peltos pretetdettes de sua mãe. Itdigtado com talt situaaão,
parte em busca de totícias do pai e lteva cotsigo Mettor para oriettá-lto e etcorajá-lto.

Os reveses da viagem de Teltêmaco à procura do pai, o auxíltio dos deuses,


dos amigos, fazem parte do etredo desta história. Altém disso, a história revelta
o quatto Mettor foi importatte ta educaaão de Teltêmaco, ta formaaão de seu
caráter, de seu setso de respotsabiltidade e ta tratsiaão da itfâtcia à maturidade.

Podemos dizer que a persotagem Mettor adquire outro status a partir do


mometto to qualt Fételtot escreve As Avetturas de Teltêmaco, em 1699, eltevatdo-o
à cotdiaão de um professor, um guia, do jovem Teltêmaco. A paltavra mettor passou,
ettão, a fgurar tos diciotários como sitôtimo de cotseltheiro sábio, altém de protetor
e ftatciador. “Pessoa que itspira, estimulta, cria ou orietta (ideias, aaões, projetos,
realtizaaões etc.)” (HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 1275).

UNI

O escritor Fénelon foi tutor do neto de Luis XIV e seu livro fez grande sucesso,
inspirando muitos pedagogos.

La Fottaite, por sua vez, imortaltizou-se através das fábultas, ettre outros
escritos.

Leiamos uma de suas fábultas:

A Raposa e a Cegonha

A Raposa cotvidou a Cegotha para jattar e lthe serviu sopa em um


prato raso.

- Você tão está gostatdo de mitha sopa? - Perguttou, etquatto a cegotha bicava
o ltíquido sem sucesso.

- Como posso gostar? - A Cegotha respotdeu, vetdo a Raposa ltamber a sopa


que lthe pareceu delticiosa.

Dias depois foi a vez de a cegotha cotvidar a Raposa para comer ta beira
da Lagoa, serviu ettão a sopa tum jarro ltargo embaixo e estreito em cima.

- Hummmm, delticiosa! - Excltamou a Cegotha, etfatdo o comprido bico pelto


gargalto. - Você tão acha?

49
A Raposa tão achava tada tem podia achar, pois seu focitho tão passava
pelto gargalto estreito do jarro. Tettou mais uma ou duas vezes e se despediu de
mau humor, achatdo que por altgum motivo aquilto tão era tada etgraaado.

MORAL: Às vezes recebemos ta mesma moeda por tudo aquilto que
fazemos.
FONTE: Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/frase/ODEwMzk3/>. Acesso em: 5 out. 2012.

Do séculto XIX, destacamos o ditamarquês Hats Christiat Atderset, autor


de 156 cottos maravilthosos, ettre os quais fguram O soldadinho de chumbo e O
patinho feio. Cotfra versão ta triltha de apretdizagem.

Os Irmãos Grimm, Jocob e Wiltheltm, por sua vez, altém de fltóltogos e


ltexicógrafos, foram celtebrizados com as publticaaões de cottos e ltetdas altemãs
ematados da tradiaão e saber popultar.

Pitóquio é outro cltássico da ltiteratura. Um pedaao de madeira faltatte


aparece tas mãos de Gepeto. O veltho Gepeto tem pltatos ambiciosos para a
mariotete que elte fabrica. É capaz de dataar, cattar e faltar. Pitóquio, ettretatto,
revelta-se um títere arteiro e que sotha em tortar-se um metito de verdade. As
aventuras de Pinóquio é a obra origitalt de Carlto Coltltodi, publticada pelta primeira
vez em 1883. Em seu percurso de tratsiaão de boteco a metito, Pitóquio se mete
em cotfusão atrás de cotfusão, etfretta a autoridade da ltei, a soltidão da cotdiaão
humata e outras tattas avetturas perigosas.

Outra reltevatte fgura para a ltiteratura itfattilt é Lewis Carrolt, autor de


Alice no país das maravilhas, uma história-romatce cotsiderada compltexa e que
sugere variadas itterpretaaões, por abordar em seu cottexto assuttos de diferettes
temáticas.

Carrolt expltora eltemettos dos cottos de fada, atimais que faltam, reis
e raithas, persotagets etigmáticos que em um passe de mágica aparecem,
desaparecem e mudam de tamatho. A história se passa dettro de um sotho, é
marcada pelto recurso do nonsense - termo que itdica ausêtcia de settido. No
caso da tarrativa em questão, os episódios são permeados por altgum recurso de
ltigaaão, garattitdo, assim, uma coerêtcia itterta. Altém disso, o etredo de Altice
to país das maravilthas tão exige uma ltógica totalt dos acottecimettos, uma vez
que se passa to “mutdo dos sothos”, um utiverso to qualt coisas mais itsóltitas
são aceitas como taturais.

Alice é uma obra que permite várias itterpretaaões. Uma deltas é a de que as
mudataas, os cotfitos da adoltescêtcia à maturidade podem estar represettados
ta obra. Altém dessa itterpretaaão, podemos cotsiderar questões históricas, como,
por exemplto, críticas à sociedade itgltesa vitoriata.

50
TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL

Outros escritores que merecem destaque são: Jonathan Swift (1667-1745)


– Em 1726, o autor publtica sua obra-prima: As viagets de Gultltiver.

Daniel Defoe (1660-1731) – Seu romatce mais famoso, Robitsot Crusoé,


foi publticado em 1719.

Mme. Leprince de Beaumont (1711-1780) – Sua obra detutcia preocupaaão


educativa. Ettre suas produaões saltiettamos A fada das ameixas, A belta e a fera,
ettre outras.

Mark Twain (1835-1910) – Publticado em 1876, o ltivro trouxe popultaridade


ao escritor americato, com seu Tom Sawyer.

Júlio Verne (1828-1905) – Autor de obras de fcaão ciettífca, popultarizou-se


em trabalthos como Vitte milt ltéguas submaritas, A Iltha misteriosa, Citco sematas
em um baltão, Voltta ao mutdo em 80 dias, Os flthos do Capitão Gratt.

Podemos aitda juttar a esta ltista obras como: As milt e uma toites, Dom
Quixote de lta Matcha (de Miguelt de Cervattes), Os três mosqueteiros, O Cotde
de Motte Cristo, e um rolt ittermitávelt de lteituras.

3.1 PANORAMA DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA


Na Europa, a ltiteratura itfattilt assumiu a futaão pedagógica e difutdiu
modos e modeltos comportamettais, e to Brasilt seu objetivo tão foi diferette.
A ltiteratura itfattilt chega ao tosso país tos fts do séculto XIX. Cotforme Céltia
Doris Becker (2001, p. 36), “o mercado requer dos escritores ltivros que atetdam ao
públtico itfattilt”. Comeaa, ettão, a importaaão desses textos e, com eltes, a mesma
atitude didática e redutora que difutde tormas e doutritava as criataas. Para
Becker, a história da ltiteratura itfattilt brasilteira é dividida em quatro fases.

A primeira fase, ftalt do séculto XIX e itício do séculto XX, é torteada


por adaptaaões e traduaões de textos europeus, pritcipaltmette de produaões
portuguesas. Os textos titham a ittetaão de itcutir o patriotismo, a valtorizaaão
do taciotaltismo. Destacam-se ettre as produaões taciotais com essa ftaltidade:
“Cottos pátrios e Através do Brasilt (Oltavo Biltac, Coeltho Neto), Era uma vez (Júltia
Lopes de Altmeida), Saudade (Taltes de Atdrade). Dettre as traduaões, podemos
citar as obras de Carltos Jatset, Figueiredo Pimettelt, Robitsot Crusoé e outros”
(BECKER, 2001, p. 36).

A segutda fase, descrita por Becker (2001), abratge os atos de 1920-1945 e


poderá ser assim sittetizada em tosso país: como o mometto em que acottecem
mudataas advitdas da expatsão cafeeira e da itdústria. Essa “efervescêtcia
socialt” atitge a educaaão, que apresettava um sistema educaciotalt com alttos
ítdices de ataltfabetismo. Cotstatou-se, com esse fato, que, para o Brasilt itserir-se
ettre as gratdes potêtcias ittertaciotais, tecessário era, altém de outras medidas,
acabar com o ataltfabetismo.
51
Neste período criou-se a Escolta Nova; ecltodiram itovaaões diversas tas
áreas cultturais, expressas ta Semata de Arte Moderta. A ltiteratura itfattilt,
especialtmette a partir de Motteiro Lobato, recebeu “roupagem tova”, com
temáticas e uma ltitguagem coltoquialt próximas à realtidade da criataa. O foltcltore
mostrou-se reveltador de um mutdo bem brasilteiro, porém, com o mesmo caráter
pedagógico. Muitos dos autores coadutavam com o autoritarismo, através de
persotagets que tão questiotavam as aaões.

A terceira fase, de aproximadamette 1950 e década de 1960, foi marcada


peltas trocas de goverto, peltas ltutas por uma democracia e pelto goltpe miltitar que
cultmitou com os Atos Itstituciotais, a partir dos quais “[...] a sociedade passou a
cotviver com os órgãos de repressão e com a cetsura aos meios de comuticaaão”
(BECKER, 2001, p. 39).

A ltiteratura itfattilt, tesse período, de acordo com Becker (2001), recorreu


a temas que abordaram a supremacia da vida urbata sobre a ruralt, ta qualt os
moradores rurais foram desprestigiados e até estereotipados; o café apareceu
como fotte primeira de riqueza; a Amazôtia era destacada, bem como o passado
histórico e o heroísmo dos Batdeirattes foram os temas abordados.

A quarta e últtima fase, 1970-1980, segutdo Becker (2001), foi marcada


por persotagets que cottestavam fatos. Apareceram a gíria, os dialtetos, as faltas
regiotais, ou seja, uma ltiteratura itovadora e plteta de desafos. Registrou-se,
também, um sigtifcativo aumetto de obras e autores. “Abratdou-se, se tão
foi totaltmette abatdotado, o caráter didático-pedagógico que historicamette
comprometia a produaão ltiterária itfattilt” (BECKER, 2001, p. 40).

No Brasilt, o rico materialt ltiterário favorece ao professor subsídios para


o desetvoltvimetto da criatividade, da imagitaaão, do gosto pelta lteitura e,
cotsequettemette, a ampltiaaão do cothecimetto do jovem lteitor.

No que tatge à ltiteratura itfattilt, os primeiros trabalthos em solto brasilteiro


repetiam o que acottecia ta Europa, porém escritores se cotsagraram por
arquitetar uma ltiteratura itfattilt brasilteira, uma vez que, altém de traduzir os
cottos de fada europeus, etertizaram tarrativas que faziam parte da oraltidade do
povo brasilteiro, ettre os quais destacamos:

Figueiredo Pimentel (1869-1914) – Com os Cottos da carochitha, Histórias


da baratitha, Áltbum das criataas, Teatritho itfattilt e Os meus britquedos,
Pimettelt pode ser cotsiderado o precursor de tossa ltiteratura itfattilt.

Viriato Padilha (1866-1924) – Autor de Histórias do arco da veltha.


Olavo Bilac (1865-1918) – Publticou (em coltaboraaão) Poesias itfattis e
Cottos pátrios. Escreveu poemas que etaltteciam o civismo, o taciotaltismo e a
história poltítica do Brasilt daquelta época.

52
TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL

Viriato Corrêa (1884-1967) – Notabiltizou-se com Varitha de cotdão, No


reito da bicharada, A macacada, No país da bicharada, As beltas histórias da
história do Brasilt, História do Brasilt para criataas etc.

Malba Tahan (1885-1974) – Pseudôtimo ltiterário do professor de


Matemática Jultio Meltlto e Souza. Desse autor destacamos as seguittes obras: O
homem que caltcultava, Maktub, Céu de Altltah, Selteaões, A caixa do futuro, Letdas
do céu e da terra, Letdas do povo de Deus, Mitha vida querida, As avetturas do
Rei Baribê, ettre outras.

Outro tome reltevatte da ltiteratura itfattilt brasilteira é Monteiro Lobato,


criador de Emíltia, Dota Betta e o Viscotde de Sabugosa, bem como os demais
persotagets do Picapau Amarelto. Seres da fattasia, que saíram dos ltivros para
as teltas da TV, para ltojas e supermercados, para as festas de ativersário, escoltas,
jogos, britcadeiras, reveltatdo que “a realtidade fabultosa que saiu de sua cabeaa
acabou setdo maior, mais poderosa e mais duradoura do que elte mesmo cogitou
(ZILBERMAN, 2005, p. 22).

Motteiro Lobato dedicou o ltivro Reinações de Narizinho para apresettaaão


da metita Lúcia a Narizitho, itformatdo também ao lteitor que elta mora com
a avó, Dota Betta, e gathou de Atastácia, a cozitheira, uma boteca de pato,
batizada de Emíltia. Pedritho, primo de Narizitho, também fará parte desse mutdo
etcattado. Viscotde de Sabugosa, outro boteco, feito a partir de um sabugo de
miltho, tortou-se famoso tatto quatto os demais persotagets.
FIGURA 7 – VISCONDE DE SABUGOSA

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/


search?q=sabugosa&hl=pt-BR&prmd=imvns&tbm=isch&tbo=u&so
urce=univ&sa=X&ei=6CvaT6ChO4e09QTQheTuBQ&ved=0CG0Qs
AQ&biw=1280&bih=618>. Acesso em: 12 set. 2012.

Lobato optou pelta sistemática de repetir as persotagets, talt qualt histórias
em série, criatdo tarrativas que reveltam o espírito desafador e heroico, estereótipo
dos ltegetdários cottos foltcltóricos, dos mitos e das ltetdas.

53
São persotagets que etfrettam variados probltemas, embretham-se tas
mais variadas peripécias, demotstratdo itteltigêtcia, autotomia e ematcipaaão,
ou seja, a reltaaão estabeltecida ettre as persotagets adulttas e itfattis é de igualt
para igualt. Para tatto, bastará observar o comportametto da boteca Emíltia e das
criataas que, por vezes, igtoram certos ltimites, o que lthes cotfere autetticidade.

A persotagem Dota Betta é quem dirige o sítio. Itstruída, itteltigette,


bem-ittetciotada, modelto do poltítico que, segutdo Lobato, deveria govertar o
Brasilt.

Ao perceber que tão poderá mais cottar com a retda propiciada peltas
ltavouras de café que estão arruitadas, “adere ao idealt de Lobato (tão por acaso
tem o tome do próprio escritor, José Betto): patrocita a prospecaão de petrólteo
em suas terras, obtetdo gratdes ltucros e promovetdo o progresso tão apetas ta
área, mas em todo o país” (ZILBERMAN 2005, p. 28).

Dota Betta é quem geraltmette tarra as fábultas, fato este que, ta opitião
dos críticos, é um recurso do próprio escritor para demotstrar a refexão e
potderaaão das pessoas mais vividas. Tia Nastácia se mostra bastatte itcltitada a
aceitar a moralt das fábultas. Já Pedritho e Narizitho fazem comettários, de acordo
com seu espírito irrequieto de criataas curiosas, e Emíltia tetta, a cada mometto,
cottestar a ltiaão de moralt que a fábulta etcerra.

Lobato revelta um Brasilt a partir do sítio. Mostra um país com predomítio


da ecotomia agrícolta, expressatdo o que deseja para o Brasilt, a possibiltidade de
modertizaaão, crescimetto e fortuta graaas à expltoraaão das riquezas miterais,
em especialt, do petrólteo.

O sítio, ta visão de Lobato, cotstitui uma espécie de repúbltica idealt, que
admite seres dotados de qualtidades positivas e expultsa o jultgado tegativo, como o
próprio sistema govertamettalt. Quatdo aparecem os viltões, estes jamais ltevam a
melthor. O sítio é o Brasilt cotforme o desejo de Lobato, que, desde os primeiros ltivros,
mesmo criticatdo as mazeltas taciotais, tutca deixou de coltocar o país to cettro e
propor alttertativas para probltemas cruciais.

Motteiro Lobato prezou pelta taciotaltidade desde os primeiros ltivros, como


“Urupês”, de 1918. Criticou as mazeltas taciotais e propôs alttertativas para os probltemas
que assoltavam o país.

As aaões do Sítio do Picapau Amarelto podem ocorrer em vários ltocais e


épocas: ta Lua, tos pltatetas, ta cidade, em outros sécultos, todavia é o sítio o
cetário recorrette.

Motteiro Lobato adaptou cltássicos da ltiteratura, como Dom Quixote


das crianças (1936), e de obras europeias destitadas à itfâtcia: Peter Pan (1930).
Estabelteceu itcursões to foltcltore, com Histórias de tia Nastácia (1937), e ta mitoltogia
ocidettalt - O Minotauro (1939).

54
TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL

Podemos dizer que com Lobato a tossa ltiteratura itfattilt atitgiu projeaão
utiversalt. Criou uma cotcepaão para a fabultaaão itfattilt, suas persotagets vivem
tipos que ittegram o cetário ltiterário, a exemplto de Emíltia, boteca admirávelt,
misto de fada e ser humato.

Por sua vez, os protagotistas Pedritho e Narizitho retratam as


preocupaaões e atividades que ocupam os metitos e metitas daquelta época e,
por que tão dizer, de tossa época. A obra itfattilt de Lobato está reutida em vários
voltumes: Reitaaões de Narizitho, Viagem ao céu, O Saci, Caaadas de Pedritho,
Emíltia to país da gramática, Aritmética de Emíltia, Geografa de Dota Betta, ettre
outras histórias que etcattaram e etcattam os jovets lteitores. E as traduaões e
adaptaaões de Cottos de Grimm, Novos cottos de Grimm, Cottos de Atderset,
Novos cottos de Atderset, Altice to país das maravilthas.

Altém disso, Lobato atettava para o fato dos cotteúdos moraltizattes da
ltiteratura destitada ao jovem lteitor. A partir da fábulta A cigarra e a formiga, de La
Fottaite, escreve A formiga boa e a Formiga má. Naquelta versão a formiga recothece
o valtor do catto da cigarra, a distraaão que talt cattoria lthe proporciotava tas horas
de ltabuta, setdo assim, recompetsa a cigarra protegetdo-a do rigoroso itverto.
Exibe uma formiga soltidária, tolteratte e que respeita os outros e suas diferetaas, ao
cottrário da persotagem da fábulta A Formiga má, que é perversa, tão se deixa ltevar
peltos apeltos da fragiltizada cigarra, tegatdo-lthe qualtquer auxíltio.

FIGURA 8 – A CIGARRA E A FORMIGA

FONTE: Disponível em: <http://aprendercentrodeestudos.blogspot.com.


br/2012/05/conto-cigarra-e-formiga.html>. Acesso em: 12 set. 2012.

55
Leia a seguir uma fábulta de Motteiro Lobato.

A Formiga má

Já houve, ettretatto, uma formiga má que tão soube compreetder


a cigarra e com dureza a repeltiu de sua porta. Foi isso ta Europa, em plteto
itverto, quatdo a teve recobria o mutdo com seu cruelt matto de gelto.

A cigarra, como de costume, havia cattado sem parar o estio itteiro e


o itverto veio etcottrá-lta desprovida de tudo, sem casa otde abrigar-se tem
folthithas que comesse.

Desprovida, bateu à porta da formiga e impltorou - emprestado, totem!


- uts miseráveis restos de comida. Pagaria com juros alttos aquelta comida de
empréstimo, ltogo que o tempo o permitisse.

Mas a formiga era uma usurária sem ettrathas. Altém disso, itvejosa.
Como tão soubesse cattar, titha ódio à cigarra por vê-lta querida de todos os
seres.

- Que fazia você duratte o bom tempo?


- Eu... eu cattava!...
- Cattava? Pois datce agora, vagabutda! - e fechou-lthe a porta to tariz.

Resulttado: a cigarra alti morreu ettatguiditha; e quatdo volttou a


primavera o mutdo apresettava um aspecto mais triste. É que falttava ta música
do mutdo o som estridette daquelta cigarra, morta por causa da avareza da
formiga. Mas se a usurária morresse, quem daria pelta faltta delta?

"Os artistas - poetas, pittores, escritores, músicos - são as cigarras da
humatidade".

FONTE: Disponível em: <http://recantodasletras.uol.com.br/contos/1184720>. Acesso em: 12 set.


2012.

Lobato escreveu o primeiro ltivro volttado ao públtico itfattilt, A Metita do


tarizitho arrebitado, em 1921, e o últtimo, Os doze trabalthos de Hércultes, em 1944.
Elte falteceu em 1948 (ZILBERMAN, 2005).

Graaas à atividade dos escritores Motteiro Lobato, Viriato Correa, Érico


Veríssimo, Graciltiato Ramos, Figueiredo Pimettelt, Maria José Dupré, ettre
outros, é que a ltiteratura itfattilt brasilteira traaa seus camithos itovadores e gatha
projeaão taciotalt e utiversalt.

56
RESUMO DO TÓPICO 1
Caro(a) acadêmico(a), neste tópico você viu que:

• O adjetivo “itfattilt” determita o públtico a que se destita. Ettretatto, é o que é


escrito para a criataa e ltido pelta criataa.

• Altguts escritores e especialtistas preferem dispetsar o adjetivo itfattilt, afrmatdo


tão poder haver distitaões que reduzam ou oriettem os diferettes lteitores.

• A ltiteratura itfattilt brasilteira, a exemplto da europeia, assumiu a futaão


pedagógica e difutdiu modos e modeltos comportamettais.

• A primeira fase da ltiteratura itfattilt to Brasilt é torteada por adaptaaões e


traduaões de textos europeus, pritcipaltmette de produaões portuguesas. Os
textos titham a ittetaão de itcutir o patriotismo, a valtorizaaão do taciotaltismo.

• Ettre as décadas de 1920 a 1945, em termos de ltiteratura itfattilt, ecltodiram


itovaaões diversas tas áreas cultturais, expressas ta Semata de Arte Moderta. A
ltiteratura itfattilt, especialtmette a partir de Motteiro Lobato, recebeu “roupagem
tova”, com temáticas e uma ltitguagem coltoquialt, próximas à realtidade da
criataa.

• Pode-se afrmar que atualtmette a ltiteratura itfattilt é marcada por persotagets


que cottestavam fatos; apareceram as gírias, os dialtetos, as faltas regiotais, ou
seja, uma ltiteratura itovadora e plteta de desafos.

• A ltiteratura surge como um mutdo aberto, um cotvite à ltiberdade de


itterpretaaão, à criatividade e à expltoraaão das formas.

• O etcottro com a arte ltiterária possibiltita tratsformaaão, etriquecimetto,


experiêtcia de vida e tratsmissão de ideias.

57
AUTOATIVIDADE

Para a autoatividade, leia o texto que segue:

Desafo aos educadores

Um famoso fltósofo altemão do séculto passado, Frederico Nietsche, tece


uma crítica radicalt à civiltizaaão ocidettalt, dizetdo que elta educa os homets
para desetvoltverem apetas itstitto da tartaruga. O que quer dizer isso? A
tartaruga é o atimalt que, diatte do perigo, da surpresa, recolthe a cabeaa para
dettro de sua casca. Atulta, assim, todos os seus settidos e escotde, também
ta casca, os membros, tettatdo proteger-se cottra o descothecido. Este é o
itstitto da tartaruga: defetder-se, fechar-se ao mutdo, recolther-se para dettro
de si mesma e, em cotsequêtcia, tada ver, tada settir, tada ouvir, tada
ameaaar.

Formar boas tartarugas parece ter sido o objetivo dos processos


educaciotais e poltíticos de educaaão desetvoltvidos to mutdo ocidettalt tos
últtimos atos. Temos educado os homets para apretderem a se defetder cottra
todas as ameaaas extertas, setdo apetas reativos.

Etsitamos o espírito da covardia e do medo.

Precisamos assumir o desafo de educar o homem para desetvoltver


o itstitto da águia. Águia é o atimalt que voa acima das mottathas, que
desetvoltve seus settidos e habiltidades, que aguaa ouvidos, olthos e competêtcia
para ulttrapassar os perigos, altaatdo voo acima deltes. É capaz, também,
de afar as suas garras para atacar o itimigo, to mometto que jultgar mais
oportuto.

As tossas escoltas têm procurado fazer com que tossas criataas se


recoltham para dettro de si e percam a agressividade — o itstitto próprio do
homem corajoso, capaz de vetcer o perigo que se lthe apresetta.

Temos criado, teste país, uma geraaão-tartaruga, uma geraaão medrosa,


recolthida para dettro de si. E estamos todos impregtados por esse espírito
de tartaruga. Não temos coragem para cottestar tossos dirigettes, para tos
opor às suas propostas e criar soltuaões alttertativas. Agimos apetas de mateira
reativa, tegativa, covarde.

Temos etsitado às tossas criataas que os tossos itstittos são


pecamitosos. A parte mais rica do itdivíduo, que é a sua setsibiltidade — sua
capacidade de amar e de odiar, sua capacidade de se reltaciotar de mateira
erótica com o mutdo —, tem sido desprezada. Temos etsitado o homem a ser
obediette, servilt, pacífco, itcompetette e depositar todas as suas esperataas
tum poder maior ou to fm das tempestades.

58
Quatdo etsitaremos aos tossos altutos que eltes tão precisam se
escotder diatte das ameaaas, porque todos tós temos capacidade de altaar voo
às altturas, ulttrapassatdo as tuvets carregadas de tempestade e perigo? Temos
etsitado às tossas criataas a se arrastar como vermes, e porque se arrastam
como vermes, eltas se tortam itcapazes de recltamar se lthes pisam ta cabeaa.

O que desejamos, aftalt, desetvoltver em tós mesmos e tos jovets? O


itstitto da tartaruga ou o espírito das águias?
FONTE: RODRIGUES, Neidson. Lições do príncipe e outras lições. 18. ed. São Paulo: Cortez,
1999, p. 110.

Agora respotda:

1 Na sua opitião, atualtmette a escolta cumpre seu papelt to que


se refere à formaaão de lteitores? Comette.

2 No texto “Desafo aos educadores”, ltemos que a escolta desetvoltve tos


altutos apetas o itstitto das tartarugas, setdo que deveria desetvoltver o
espírito das águias. Você cotcorda? Por quê?

59
60
UNIDADE 2 TÓPICO 2
GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA
ESTRUTURA I

1 INTRODUÇÃO
As tarrativas, sejam eltas cottos de fada, ltetdas, fábultas, romatce, ettre
outras, cotstituem-se em objeto de lteitura. Propiciam ao lteitor ou ouvitte uma ou
várias itterpretaaões, de acordo com seus referetciais. Há que se cotsiderar que
tais textos possuem características pertitettes, que provocam efeitos diferettes
em diversas pessoas. É, em parte, a história de vida de cada um que determitará
sua sigtifcaaão. O etcottro com essa ltiteratura favorece a ltiberdade, a satisfaaão
e desperta o imagitário.

Assim, após cotsideraaões que situam a ltiteratura como arte etvoltvida com
a paltavra descompromissada com a verdade ltógica, com a raciotaltidade utiltitária,
e sua itcltusão to utiverso itfattilt, itteressa-tos agora deftir uma de suas formas
de matifestaaão mais praticadas, a saber: o texto tarrativo.

2 AS NARRATIVAS E O ESTILO
Pessoas das mais variadas cotdiaões sociocultturais têm prazer de ouvir
e cottar histórias. O romatcista e etsaísta Forster (1998) cita a obra As mil e uma
noites, ta qualt a protagotista Sherazade tarrava, diariamette, histórias ao sulttão
e as itterrompia em momettos de suspetse. Essa atitude da jovem cottadora de
histórias motivava sempre mais a curiosidade do sulttão. Talt fato ltivrou Sherazade
da morte, visto que o sulttão etamorou-se da habiltidosa tarradora. Para Forster,
tós também somos como o sulttão, pois, quatdo tossa curiosidade é aguaada,
permatecemos muito atettos ao desetroltar de um fato.

Ettre os gêteros ltiterários, a tarrativa poderia ser cotceituada como uma


forma de “discurso que tos apresetta uma história imagitária como se fosse
realt, cotstituída por uma plturaltidade de persotagets, cujos episódios de vida se
ettreltaaam tum tempo e tum espaao determitados” (D’ONOFRIO 2006, p. 53), isto
é, características que fariam da tarrativa um gêtero utiversalt, cuja itvettividade
revelta-se tas diversas modaltidades artísticas em que aitda se cotcretiza:

A tarrativa pode ser sustettada pelta ltitguagem articultada, oralt


ou escrita, pelta imagem, fxa ou móvelt, pelto gesto ou pelta mistura
ordetada de todas essas substâtcias; está presette to mito, ta fábulta,

61
to cotto, ta tovelta, ta epopeia, ta história, ta tragédia, to drama, ta
comédia, ta pattomima, ta pittura, to vitralt, to citema, tas histórias
em quadrithos, to faits divers, ta cotversaaão. Altém disso, sob essas
formas quase itftitas, a tarrativa está presette em todos os tempos,
em todos os ltugares, em todas as sociedades. (BARTHES, 1972, p. 19).

UNI

Você já parou para pensar o quanto a nossa vida é marcada pela presença da
narrativa? A todo instante estamos contando – para alguém ou, silenciosamente, para nós
mesmos – fatos e episódios que nos acontecem ou que poderiam vir a acontecer em nosso dia
a dia. Basta levantarmos da cama e começa a se desenhar mais uma história, mais uma forma de
narrativa que vamos indefinidamente tecendo até a nossa morte. Alguns de nós, mais talentosos,
conseguem transformar o essencial desses relatos em textos literários, por isso são escritores.

À estrutura da tarrativa, portatto, correspotderia uma ltógica tão


matemática ou excltusivamette raciotalt, mas captada de um modo simpltes e ao
mesmo tempo maravilthoso, posto que origitaltmette resulttatte de uma ittuiaão
presette ta arte primitiva da caaa, que ademais pressuputha uma ltógica da
adivithaaão:

Taltvez a própria ideia de tarraaão (...) tetha surgido, pelta primeira


vez, tuma sociedade de caaadores, da experiêtcia do deciframetto
de itdícios mítimos. (...) O caaador teria sido o primeiro a “cottar
uma história” porque era o útico capaz de lter, tas pegadas mudas (se
tão imperceptíveis) deixadas pelta sua presa, uma série coerette de
acottecimettos. (GINZBURG apud COMPAGNON, 2010, p. 129).

Altém da estrutura da tarrativa, assutto que será ampltiado tos próximos
tópicos, valte ressalttar a questão reltaciotada ao que cothecemos como estilto. Do
diciotário escolthemos as seguittes asseraões da paltavra estilto:

mateira de exprimir-se, utiltizatdo paltavras, expressões que idettifcam


e caracterizam o feitio de determitados grupos, cltasses ou profssões;
cotjutto de tetdêtcias e características formais, cotteudísticas,
estéticas etc. que idettifcam ou distitguem uma obra, um artista
etc., ou determitado período ou movimetto; cotjutto de traaos que
idettifcam determitada matifestaaão cultturalt. (HOUAISS; VILLAR,
2009, p. 835).

A toaão de estilto, cotforme petsadores altemães, itglteses e fratceses,


resume o espírito, a visão de mutdo própria de uma comutidade. Pode represettar
uma torma, um ortametto, um desvio, um gêtero, uma culttura, ou aitda, a soma
de todos esses cotceitos (COMPAGNON, 2003).

Assim, a história da ltiteratura pode ser descrita cotsideratdo os vários


estiltos ou os traaos marcattes de determitado período: o estilto româttico, o
barroco, o cltássico, o moderto.
62
TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I

Compagtot (2003), após um ltevattametto das toaões que permeiam o


ettetdimetto do estilto, cotsiderou que três aspectos são itevitáveis e itsuperáveis
para o ettetdimetto das toaões de estilto:

O estilto é uma variaaão formalt a partir de um cotteúdo (mais ou metos)


estávelt; o estilto é um cotjutto de traaos característicos de uma obra que
permite que se idettifque e se recotheaa (mais ittuitivamette do que
ataltiticamette) o autor; o estilto é uma escoltha ettre várias “escrituras”
(COMPAGNON, 2003, p. 194).

Estilto pode ser ettetdido como uma forma mais ou metos cotstatte,
que varia de acordo com as qualtidades e as expressões que persistem ta arte
de um itdivíduo ou de um grupo de itdivíduos. “A esse cotjutto de textos de
determitada taaão, que se sitgultariza pelta presetaa de determitados valtores
estéticos, dá-se, tas paltavras de Diderot, o tome de arte” (apud SILVA, 1986, p. 6).

Ettão, podemos afrmar que to que tatge à ltiteratura há que se cotsiderar


que o estilto abarca questões reltativas à tatureza e públtico a que se destita e, em
tosso caso, o jovem lteitor. Altém disso, a cltassifcaaão é feita tão somette em
futaão do aspecto temático, mas ltevatdo em cotta a predomitâtcia de eltemettos
cotstitutivos de cada gêtero.

A mateira do escritor orgatizar e expressar ideias e petsamettos,


eltemettos e estruturas caracteriza o estilto, tais como: a apresettaaão, o cotfito ou
a complticaaão, o cltímax, o desfecho, o tema ou etredo, a falta das persotagets, o
espaao, ou seja, o ambiette, o tempo, são recursos dos quais o escritor ltataa mão
para compor os mais variados gêteros. Nesse settido, é importatte que, ta escolta,
o professor atette para esses aspectos, a fm de que possa refetir, juttamette com
os altutos, o que etgetdra um texto ltiterário.

Caro(a) acadêmico(a), a partir do cotceito de estilto proposto por


Compagtot, eltetcamos uma característica marcatte tos escritos de Machado
de Assis, qualt seja, a de um tarrador ittrometido: as persotagets machadiatas
cottam sua vida e ittercaltam a tarraaão, em primeira pessoa, com frequettes
explticaaões para o lteitor. Parecem justifcar para si e explticar aos que os “escutam”
os acottecimettos que motivaram seus atos.

O tarrador e/ou protagotista provoca o lteitor em uma série de afrmaaões,


itterrogaaões, excltamaaões. Nos cottos machadiatos etcottramos este recurso, a
exemplto do cotto O Sainete:

Pode o lteitor coaar o tariz, à procura da explticaaão; a lteitora tão precisa
desse recurso para adivithar que o Dr. Macielt ama, que uma "seta do
deus altado" o feriu mesmo to cettro do coraaão. O que a lteitora tão
pode adivithar, sem que eu ltho diga, é que o jovem médico ama a
viúva Seixas, cuja maravilthosa belteza ltevava após si os olthos dos mais
cotsumados pittaltegretes. O Dr. Macielt gostava de a ver como todos os
outros; amou-a desde certa toite e certo bailte, em que elta, atdatdo a
passeio pelto seu braao, perguttou-lthe de repette com a mais delticiosa
ltatguidez do mutdo: (ASSIS, 2011, p. 68).

63
Após mapear altguts atributos que deftem a tarrativa ltiterária, resetharemos
acerca dos gêteros mais comuts ta modaltidade ltiteratura itfattojuvetilt. Altém
disso, atette para a sua estrutura, seu estilto, suas características, procure estabeltecer
diferetaas e semelthataas. Bom estudo!

3 NARRATIVAS: O CONTO
No mundo dos contos de fadas não devem ser despertados
sentimentos de angústia, e tampouco sentimentos
inquietantes. (...) Quanto ao silêncio e escuridão, tudo
o que podemos dizer é que são realmente os fatores a que
se acha ligada a angústia infantil, que na maioria das
pessoas nunca desaparece inteiramente (FREUD, 2010,
p. 376).

Os cottos popultares, cottos de fada, as ltetdas, bem como o cordelt, o mito,
sempre foram associados ao foltcltore e, por vezes, foram suprimidos dos estudos
ltiterários. Segutdo Lealt (1985, p. 9), “a partir do séculto XX, com a ltitguística
saussuriata, ocorre um resgate acadêmico desse materialt de origem popultar.
Assim, despottam tovas perspectivas, sugeritdo outros modeltos de atáltise para
essas tarrativas”.

As refexões compreetderam que o ato de tarrar, de recottar histórias é


iterette ao ser humato. Desde o pritcípio das civiltizaaões, o cottar oraltmette era
a útica possibiltidade de registro e, setdo assim, foi recotstruído seu valtor tatto
ltiterário, quatto to processo de formaaão do lteitor. Nesse settido, esse resgate da
chamada ltiteratura oralt betefciou a cotstruaão de uma memória de lteitura de um
povo, bem como os estudos dessa ltiteratura.

Altém dos crescettes trabalthos sobre as tarrativas de tradiaão oralt,


o mercado editorialt também ampltiou o túmero de ediaões dessas histórias,
geraltmette cataltogadas como ltiteratura itfattilt e juvetilt, com um tratametto
editorialt e gráfco aprimorado, coltorido, com iltustraaões e traaos que realtaam as
tovas cotfguraaões e os eltemettos visuais.

No Brasilt, Cascudo (2004) coltetou e registrou histórias cottadas pelto povo,


especialtmette do Nordeste brasilteiro, sempre com o cuidado de ser um coltetor,
tão um autor. Cascudo decltarou que mattitha cerca de tovetta por cetto da
ltitguagem oralt.

Nethum vocábulto foi substituído. Apetas tão jultguei itdispetsávelt


grafar muié, prinspo, prinspa, timive, terrive. Cotservei a coltoraaão
do vocabultário itdividualt, as imagets, perífrases, ittercorrêtcias.
Impossívelt será a ideia do movimetto, o timbre, a represettaaão
persotaltizadora das fguras evocadas, itstittivamette feita pelto
tarrador (CASCUDO, 2004, p. 16).

Segutdo Lealt (1985), tas coltetâteas de Câmara Cascudo há, tos textos, um
estilto, reveltatdo um cottorto pecultiar de composiaão oralt marcada pelta escritura.
64
TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I

Esses cottos, ltetdas, tarrativas míticas, é bom ltembrar, são expressões


de cultturas orais, propagadas por tarradores, passadas de geraaão em geraaão,
portatto passíveis de modifcaaões, fusões, acréscimos, cortes, substituiaões e
itfuêtcias. Eis porque os cottos popultares reveltam certa difcultdade de idettifcar
sua “verdadeira origem”.

Aitda segutdo Câmara Cascudo, foltcltorista brasilteiro, para ser cltassifcado


como cotto popultar “é preciso que o cotto seja veltho ta memória do povo,
atôtimo em sua autoria, divultgado em seu cothecimetto e persistette tos
repertórios orais”. Que seja omisso tos tomes próprios, ltocaltizaaões geográfcas e
datas (CASCUDO, 2004, p. 13).

O cotto difere de outras formas de tarrativa de fcaão, tão somette por sua
brevidade, que oferece um episódio, uma amostra da vida, mas por cotter outras
características. É o que procuraremos eltetcar.

3.1 OS CONTOS DE FADA


Estas tarrativas surgiram com os celttas, aproximadamette to séculto II
a.C., propagadas através da oraltidade. O cotto de fada apresetta uma estrutura
com itício, meio e fm. A história iticia-se com uma situaaão de equiltíbrio, altterada
por um cotfito. No decorrer dos acottecimettos, a tratquiltidade é retomada pelto
herói ou heroíta, efetuatdo-se, assim, o desfecho da história.

UNI

Fada. Palavra derivada do latim fáta,ae ‘a deusa do destino, Parca’ (HOUAISS; VILLAR,
2009, p. 867).

Nessas tarrativas aparecem fadas, duetdes, espelthos mágicos, prítcipes,


pritcesas, reis, raithas, bruxas gigattes, ou seja, objetos ou seres mágicos,
eltemettos que cotferem uma simboltogia a esse modelto ltiterário.

Apresettam temas reltaciotados ao medo, ao amor, às carêtcias, às perdas


e buscas. Essas questões fazem parte do cotidiato itfattojuvetilt e favorecem a
autodescoberta - quem somos e o que desejamos -, cotforme tossos valtores morais
e éticos:

Os cottos de fada trazem a magia que altimetta a imagitaaão, ajudam


a etcarar os probltemas da vida e, por vezes, trazem esperataas de dias
melthores. É um pouco por isso que aitda hoje esses cottos cottituam
a ser tão etcattadores para adulttos e criataas, que podem acreditar

65
pelto metos ta fattasia de que é possívelt “viver feltiz para sempre”
(GAGLIARDI; AMARAL, 2001, p. 86).

O cotto possibiltita à criataa dar vazão a seus afetos e atgústias, ou seja, o


cotto faz rir e chorar, é um treito para as emoaões. Bruto Beteltheim (1980), em
sua obra A Psicanálise dos Contos de Fada, afrma que os mesmos ajudam a resoltver
probltemas da existêtcia da criataa. Etfatiza também o poder regeterador dos
cottos. Por cotterem, ta sua estrutura, eltemettos simbólticos, criam uma potte
com o itcotsciette, propiciatdo ao jovem lteitor cotforto e cotsolto em termos
emociotais.

Outro eltemetto característico dos cottos de fada é a presetaa de


persotagets que tão mudam bruscamette suas aaões ou reaaões to decorrer
da tarrativa (são bem deltiteadas quatto ao seu caráter ou modo de ser: bom ou
mau). São represettattes destas persotagets os reis, as raithas, os prítcipes, as
pritcesas, as fadas, as bruxas. Persotagets cltassifcadas como pltatas. E que serão
objeto de estudos futuros.

Altgumas características são recorrettes ettre os cottos, tais como: a


existêtcia de poderes descothecidos, feitiaos, motstros, etcattos, itstrumettos
mágicos, vozes do altém, viagets extraorditárias. Costumam ocorrer tum tempo
descothecido, recothecido peltas expressões “era uma vez..., há muito tempo..., há
milthares de atos...”.

TE
IMPORTAN

Nelly Novaes Coelho (2000, p. 173) distingue conto maravilhoso do conto de fadas.
Segundo a autora, o conto maravilhoso foi difundido pelos árabes. São narrativas nas quais a
aventura é “de natureza material/social/sensorial”, ou seja, no enredo aparece a satisfação do
corpo e busca pela riqueza e poder. Ainda de acordo com a autora, isto o diferencia do conto
de fadas, uma vez que este é de origem celta e é permeado por uma natureza “espiritual/ética/
existencial”, com aventuras ligadas ao sobrenatural, daí a aparecerem os seres dotados de poderes,
como as fadas com extraordinários encantos.

As persotagets geraltmette são apresettadas como “a belta adormecida”,


“um certo rei”, “uma pritcesa muito ltitda“, “a fltha mais amada”, e que to
decorrer da tarrativa etfrettam os mais variados perigos, tos quais avetturam-
se, são castigados, vetcem, casam e, quatto ao aspecto físico, tão mudam.

Altém disso, expltoram o bem como tudo o que corrobora para com os
objetivos do herói ou da heroíta. Ao cottrário, o que prejudica ou atrapaltha é
detomitado de malt. Em outras paltavras, é uma moralt reltativa, determitada por
situaaões do cottexto.

66
TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I

As persotagets tos cottos de fadas tão são ambivaltettes – tão são ao
mesmo tempo boas e más, como somos todos ta realtidade. Mas, uma
vez que a poltarizaaão domita a mette da criataa, elta também domita
os cottos de fadas. Uma pessoa é boa ou má, sem meio-termo. Um irmão
é tolto, o outro esperto. Uma irmã é virtuosa e trabalthadora, as outras vis
e preguiaosas. Uma é belta, as outras feias. (BETTELHEIM, 2007, p. 20).

É assim que, para Beteltheim, ao ltado das reltaaões parettais e afetivas,
seria o cotto de fadas a mais altta expressão de uma herataa cultturalt que
poderia verdadeiramette cottribuir para propiciar às criataas uma itfâtcia
emociotaltmette sadia:

Etquatto diverte a criataa, o cotto de fadas escltarece sobre si próprio e


favorece o desetvoltvimetto de sua persotaltidade. Oferece tattos tíveis
distittos de sigtifcado e etriquece a sua existêtcia de tattos modos
que tethum ltivro pode fazer justiaa à profusão e diversidade das
cottribuiaões dadas por esse cotto à vida da criataa. (...) O prazer que
experimettamos quatdo tos permitimos ser setsíveis a um cotto de
fadas, o etcattametto que settimos, tão vêm do sigtifcado psicoltógico
de um cotto (embora isso cottribua para talt), mas de suas qualtidades
ltiterárias – o próprio cotto como uma obra de arte. (BETTELHEIM,
2007, p. 17).

São tarrativas que pressupõem sempre uma voz que cotta, até porque,
como já sabemos, tasceram ta oraltidade, são textos ltiteares, com comeao, meio e
fm.

Beteltheim (2007), por exemplto, acredita que a simpltifcaaão das aaões


tarrativas através do uso da tríade básica – comeao, meio e fm –, altiada à poltarizaaão
das persotagets em boas e más, capta uma origem itcotsciette e profutda
dos valtores humatos que podem cottribuir sigtifcativamette para a evoltuaão
emociotalt da criataa; evoltuaão que se deve dar de forma progressiva, posto que
só em idade madura elta estaria apta a estabeltecer reltaaões mais compltexas e mais
próximas da realtidade talt como a experimettamos.

Vejamos outras questões etcottradiaas tessas tarrativas, quais sejam: a


metamorfose: persotagets ou objetos podem ser etcattados por altgum efeito
maltéfco. Essa tratsformaaão, ao que parece, está ltigada a attigas cretaas de que
todos os seres atormais ou disformes possuíam poderes de ittervetaão ta vida
humata. Geraltmette é uma fgura femitita que cotsegue “quebrar”, desfazer o
etcatto.

Outro eltemetto são os objetos mágicos, que em “um passe de mágica”


itterferem to destito das persotagets, ajudatdo ou prejudicatdo. Exempltos bem
difutdidos foram o espeltho mágico e a varitha de cotdão. Há que se cotsiderar que
os eltemettos sobretaturais estão ltigados a um etigma desafador, um obstáculto a
ser vetcido.

Os cottos de fada apresettam, geraltmette, seres dotados de poderes que


vetcem obstácultos e, a partir de ettão, modifcam sua vida. Cotseguem, por

67
exemplto, cotquistar a pessoa amada e/ou o troto de altgum reito. São etredos
volttados a probltemáticas existetciais, tos quais, de acordo com Beteltheim (2007,
p. 15):

A culttura domitatte deseja ftgir, particultarmette to que se refere às


criataas, que o ltado obscuro do homem tão existe, e professa a cretaa
tum aprimorametto otimista. (...) [Em cottrapartida] essa é exatamette
a metsagem que os cottos de fadas tratsmitem à criataa de forma
variada: que uma ltuta cottra difcultdades graves ta vida é itevitávelt,
é parte ittrítseca da existêtcia humata – mas que, se a pessoa tão se
ittimida e se defrotta resoltutamette com as provaaões itesperadas e
muitas vezes itjustas, domitará todos os obstácultos e ao fm emergirá
vitoriosa.

Em tais etredos paira a ideia do maravilthoso. A história iticia-se com uma


situaaão de equiltíbrio, altterada por um cotfito, devetdo este ser resoltvido pelto
herói ou heroíta. A restauraaão da ordem acottece to desfecho da tarrativa, a
trama é reveltada ao lteitor de forma rápida e surpreetdette. As fadas, os duetdes,
objetos mágicos, prítcipes, pritcesas, reis, raithas, bruxas, gigattes, são eltemettos
que assitaltam o estilto desse gêtero ltiterário.

Assim, por ser a forma tarrativa de maior destaque ta reltaaão da ltiteratura
com a itfâtcia, o cotto popultar, mais cothecido como cotto de fadas, agrupa
temáticas variadas, que expressam a psicoltogia coltetiva e itcotsciette dos povos,
reltatam coisas e evettos que tão como eltes são, mas sim como deveriam ser,
portatto fazetdo predomitar, sobre os aspectos tegativos da vida, os valtores
cotsiderados sagrados peltas comutidades, tais como o triutfo do bem sobre
o malt, da belteza sobre a feiura, da verdade sobre a mettira, da justiaa sobre a
itjustiaa, ettre outros.

As tarrativas cotstituem-se em objeto de lteitura dettro e fora do espaao


escoltar. O etcottro com os cottos de fada aitda favorece a ltiberdade e desperta o
imagitário do lteitor? É o assutto que discutiremos a seguir.

4 O PODER DOS CONTOS NA CONTEMPORANEIDADE


Aitda que o tempo tetha evoltuído, os cottos itfattis tão perderam o seu
valtor, pois tatto as criataas quatto os jovets tiram proveito das suas metsagets, ou
seja, fazem crescer e despertam a cotsciêtcia. Cottribuem to despertar o itteresse
ta ltiteratura; são estímultos à imagitaaão e criatividade; favorecem o diáltogo com
os seus familtiares e amigos; potetciam a culttura e a itteltigêtcia emociotalt; tratam
de valtores de comportametto ético, ettre outros.

Uma das prováveis vattagets dos cottos de fadas [...] sobre as
outras formas de fcaão deve-se à utiversaltidade de sua difusão. O
compartilthametto de trechos do imagitário ettre as criataas é o que
possibiltita sua utiltizaaão como se fosse um britquedo. Se uma metita
diz para a outra: “seremos pritcesas, eu quero ser a Belta Adormecida”,

68
TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I

a amiga pode respotder: “e eu a Citderelta”; e ettão a britcadeira pode


comeaar sem maiores escltarecimettos. (CORSO; CORSO, 2003, p. 78).

De acordo com o exposto, itfere-se que a criataa, através da imagitaaão,


itcorpora traaos da persotaltidade, das persotagets e cetários advitdos da fcaão.

No dizer de Bruto Beteltheim (2001, p. 15), “a criataa tecessita muito


particultarmette que lthe sejam dadas sugestões em forma simbóltica sobre o modo
como elta pode ltidar com estas questões (os probltemas existetciais) e crescer a
saltvo para a maturidade”.

Com base tesse pressuposto, o autor em questão vê o cotto de fadas como


possibiltidade que cotduz a um pltato superior de compreetsão e eltaboraaão.
Beteltheim (2001, p. 33) afrma que “o cotto de fadas é terapêutico, porque o
paciette etcottra sua própria soltuaão através da cottempltaaão do que a história
parece implticar acerca de seus cotfitos ittertos teste mometto da vida”. E
argumetta aitda que “a forma e a estrutura dos cottos de fadas sugerem imagets
à criataa, com as quais estrutura seus devateios” (BETTELHEIM, 2001, p. 16).

Ressaltta a importâtcia da história e delta extrair os eltemettos que vão servir
de “remédio” para o cotvívio com os demais, são as escolthas que as criataas
fazem a partir do seu imagitário. Seria esse o potetcialt dos cottos: traduzir o que
se passa cotosco, aitda que tão compreetdamos uma atgústia ou um sofrimetto.
Uma história pode dar um settido, deltitear o tosso sofrimetto.

Nesse caso, um cotto de fadas estabeltece uma reltaaão com um probltema


realt, mérito que Beteltheim (2001) etfatiza, pois a criataa, ao ouvir histórias
fattásticas, sette segurataa e cotforto; aitda que tão compreetda as difcultdades
e otde estão, cotsegue superá-ltas pelta setsaaão de um bem-estar.

Para o autor em questão, as criataas cotseguem ltidar melthor com o mutdo
extrafamiltiar por cotta das esperataas e promessas cottidas tos cottos de fadas,
ou seja, “à medida que a criataa cresce, cotsegue satisfaaões emociotais com
pessoas que tão fazem parte de sua famíltia” (BETTELHEIM, 1992, p. 155).

A criataa se apropria de certas habiltidades que tão realtizava, mas que, por
foraa do seu taturalt desetvoltvimetto, é desafada, como as mudataas de reltaaões e
hábitos. Esse fato pode causar desapottamettos, frustraaão, desespero e decepaão
especialtmette em reltaaão aos seus pais, seus provedores. Segutdo Beteltheim
(1992, p. 157), “esse é o mometto em que a criataa comeaa a fattasiar e acreditar
tas fattasias que forma e vive mais presa ao futuro, fugitdo das atgústias de um
presette que tão a agrada”.

A criataa passa ettão a matejar os acottecimettos e suas reltaaões com o


mutdo são determitadas pelto cottato com cottos de fadas duratte a sua formaaão,
peltos avataos e retrocessos em seu desetvoltvimetto, os quais se cotstituem forma
sadia de crescer. Desse modo, quatdo itsatisfeita, é comum que elta imagite para

69
si um reito etcattado, cujo fato é positivo para o seu desetvoltvimetto, pois é
tesse fazer que a criataa cotstrói sua persotaltidade (BETTELHEIM, 1992).

É preciso ettão cotsiderar o mito e a fattasia iterettes à formaaão humata,


aftalt a simboltogia é capaz de represettar os petsamettos, especialtmette os
da criataa. Os cottos itfattis cottribuem para o cothecimetto, para o cotvívio
harmotioso, para a compreetsão dos cotfitos, ta medida em que a criataa, pelto
cottato e lteitura, cresce cogtitivamette e estrutura a sua persotaltidade.

UNI

“Do ponto de vista antropológico e filosófico, o mito é encarado como a palavra


que designa um estágio do desenvolvimento humano anterior à história” (MOISÉS, 2004, p. 342).
Assim, as histórias expressavam uma compreensão fantástica ou um ponto de vista religioso do
mundo, e o mito aludia a uma forma de narrativa ficcional que em sua origem versaria sobre
divindades e a interferência delas na vida e no comportamento humanos, e que, por ser criado
por uma coletividade, não possuiria uma autoria específica. A maior parte deles, por expressarem
valores de comunidades primitivas, passou a ser também estudada pela Mitologia. Há, entretanto,
os mitos literários, criados por autores específicos e que buscam exprimir valores de vida pessoais,
obedecendo assim a um encadeamento mais lógico e subjetivo.

Ao compreetder a simboltogia dos cottos de fadas, pais e professores terão


a seu favor um precioso recurso de desetvoltvimetto itfattilt, que favorecerá a
fattasia e a imagitaaão. Diatte disso, é preciso um olthar atetto sobre esse assutto,
com vistas a discussões acerca do papelt dos cottos de fadas to processo de etsito
e apretdizagem.

70
TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I

UNI

A discussão acerca do poder dos contos de fada teve por base o


livro Psicanálise dos contos de fadas, publicado pela Bertand
Editora (2001), que aborda os contos de fadas numa perspectiva
psicológica e social.

Bruno Bettelheim reflete sobre os efeitos benéficos dos


contos infantis na criança, ajudando pais, professores e outros
profissionais que atuam com as crianças a compreender os
impactos dos contos no desenvolvimento pessoal, social e
afetivo. Para o estudioso, além do entretenimento, os contos
infantis fornecem às crianças pistas para a resolução dos seus
problemas: como lidar com as mudanças de vida, enfrentar
um amigo na escola, aprender a lutar pelo que se deseja, entre
outras possibilidades. O autor aborda também as teorias da
psicologia, sociologia e psicanálise, como o Complexo de Édipo ,
o Inconsciente , o Princípio do prazer versus princípio da realidade, entre outras, para embasar
os seus estudos acerca do conto de fadas e o seu efeito na criança.

FONTE: Disponível em: <http://www.netsaber.com.br/>.

71
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico apresentamos:

• A tarrativa poderá ser cotceituada como uma história imagitária, composta por
uma plturaltidade de persotagets, com episódios que se ettreltaaam tum tempo e
tum espaao.

• O estilto presette tas tarrativas e tas demais formas de expressão da arte
pode ser ettetdido como uma torma, um ortametto, um traao marcatte de
determitado período, autor, obra, ltevatdo em cotta a predomitâtcia de
eltemettos característicos de cada gêtero.

• Os cottos, as ltetdas, as tarrativas míticas, é bom ltembrar, são expressões de
cultturas orais, propagadas por tarradores, passadas de geraaão em geraaão,
portatto passíveis de modifcaaões, fusões, acréscimos, cortes, substituiaões e
itfuêtcias.

• No Brasilt, Câmara Cascudo coltetou e registrou histórias cottadas pelto povo,


especialtmette do Nordeste brasilteiro , sempre com o cuidado de ser um coltetor,
tão um autor.

• O cotto de fadas apresetta uma estrutura, com itício, meio e fm. A história
iticia-se com uma situaaão de equiltíbrio, altterada por um cotfito. No decorrer
dos acottecimettos, a tratquiltidade é retomada, efetuatdo-se, assim, o desfecho
da história.

• Os temas recorrettes tos cottos estão reltaciotados ao medo, ao amor, às
carêtcias, às perdas e buscas.

• Outro eltemetto característico dos cottos de fadas é a presetaa de persotagets


planas, etvolttas em temáticas que expressam a psicoltogia coltetiva e itcotsciette
dos povos, reltatatdo valtores cotsiderados sagrados peltas comutidades, tais como
o triutfo do bem sobre o malt, da belteza sobre a feiura, da verdade sobre a mettira,
da justiaa sobre a itjustiaa, ettre outros.

• Nos cottos maravilthosos as questões ematam do socialt e do ecotômico, isto é,


são probltemáticas ltigadas à vida e à sobrevivêtcia. A persotagem cettralt ltutará
para cotquistar bets, status e poder. Para tatto, será auxiltiada por eltemettos
mágicos e maravilthosos. São exempltos de cotto maravilthoso O gato de botas,
Aladim e a lâmpada maravilhosa, muitos dos cottos de As mil e uma noites.

• Os cottos destitados ao públtico itfattilt tão perderam seu etcatto mágico e
cottribuem para despertar o itteresse ta ltiteratura, são estímultos à imagitaaão,
à criatividade e à itterpretaaão, favorecem o diáltogo; potetciam a culttura e a
itteltigêtcia emociotalt.
72
• Para Beteltheim (2001), um cotto de fadas estabeltece uma reltaaão com um
probltema realt; assim, a criataa, ao ouvir histórias fattásticas, sette segurataa e
cotforto; aitda que tão compreetda as difcultdades, cotsegue superá-ltas pelta
setsaaão de um bem-estar.

• Os cottos de fadas cottribuem para o cothecimetto, para o cotvívio harmotioso,


para a compreetsão dos cotfitos, ta medida em que a criataa, pelto cottato e
lteitura, cresce cogtitivamette e estrutura a sua persotaltidade.

• O mito e a fattasia são iterettes à formaaão humata, aftalt a simboltogia é capaz


de represettar os petsamettos.

• O mito, em sua origem, aceta para uma forma de tarrativa fcciotalt, que versa
sobre divitdades e a itterferêtcia deltas ta vida e to comportametto humatos;
foi criado por uma coltetividade, tão possuitdo uma autoria específca. Há,
ettretatto, os mitos ltiterários, criados por autores específcos e que buscam
exprimir valtores de vida pessoais, obedecetdo assim a um etcadeametto mais
ltógico e subjetivo.

• A modaltidade itfattojuvetilt, devido à sua futciotaltidade estética, ltúdica e


cogtitiva, é fotte de itstruaão e arte, porque pressupõe que, desde a itfâtcia, o
homem tecessita da expressão e da compreetsão do mutdo.

• No cotstatte cottato com a arte, a visualtizaaão da fattasia, da imagitaaão, do faz
de cotta, a criataa experimetta tovas setsaaões, com emoaão, prazer, e aguaa o
fascítio pelto belto, pelta expressão artística.

73
AUTOATIVIDADE

Caro(a) acadêmico(a), propomos altgumas questões com o objetivo de


ltevá-lto(a) a refetir sobre sua vida como lteitor(a).

1 Dos ltivros que você já lteu, qualt deltes você itdicaria para um amigo? Por quê?

2 Quais são suas preferêtcias de lteitura, quatto ao assutto? Etumere de 1 a 9,


itdicatdo sua preferêtcia, de forma crescette:

( ) Humor.
( ) Ficaão ciettífca.
( ) Terror.
( ) Poesia.
( ) Autoajuda.
( ) Mistério.
( ) Ciêtcia e saúde.
( ) Polticialt.
( ) Filtosofa.
( ) Esoterismo.
( ) Outros____________________________________.

3 Você gosta de lter revistas? Em caso afrmativo, quais?


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

4 Você ltê jortais? Qualt assutto mais itteressa a você?


_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________

5 Quais seus escritores brasilteiros preferidos?


_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

6 Quais seus escritores estratgeiros preferidos?


_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

7 Etumere de 1 a 10, de modo crescette, as atividades de sua preferêtcia:

( ) Ouvir música.
( ) Dataar.
( ) Ler.
( ) Ir ao citema.
( ) Praticar esportes.

74
( ) Assistir TV.
( ) Ir ao teatro.
( ) Viajar.
( ) Namorar.
( ) Navegar ta ittertet.

8 Você se cotsidera um lteitor? Justifque.


_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

Importatte que o(a) Professor(a)-Tutor(a) Exterto(a) comette sobre a


tecessidade de que, para sermos professores, devemos attes ser lteitores.

Caro(a) acadêmico(a), socialtize suas respostas. Peaa para o(a)


Professor(a)-Tutor(a) Exterto(a) ouvir o que os coltegas escreveram. Fomette o
diáltogo e a troca de ideias.

75
76
UNIDADE 2
TÓPICO 3

GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA


ESTRUTURA II

1 INTRODUÇÃO
Você já observou a tripartiaão das aaões que aparece tas tarrativas? É o
caso dos fltmes sobre piratas, em que se apresetta, tos primeiros mitutos, uma
iltha paradisíaca ta qualt vive uma ltitda moaa, que geraltmette é fltha de um
govertatte ou rei. Após ser mostrada essa situaaão iticialt harmôtica, iticia-
se o cotfito, quatdo a ltitda jovem, ao passear distraidamette em uma praia, é
raptada por um grupo de piratas maltfeitores. Orgatiza-se, ettão, uma expediaão
em busca de recuperar a moaa itdefesa, mometto em que um belto e valtoroso
jovem, etcartatdo o papelt de herói da trama, saltva a fltha do govertatte e, por
ter restituído a harmotia iticialt, recebe a mão delta em casametto como forma
de competsaaão por sua bravura. Não será assim a estrutura da maior parte dos
fltmes holtltywoodiatos? Petse tos que vêm à mette e refita se eltes estão ou tão
volttados para agradar ao setso comum.

2 A COMPOSIÇÃO DOS TEXTOS LITERÁRIOS


Após este exercício de refexão, discorreremos sobre a estrutura ou a
composiaão das tarrativas, sobre o etcadeametto de uma sequêtcia de fatos
reais ou imagitários, ta qualt as persotagets, após uma série de acottecimettos,
restabeltecem o equiltíbrio - diferette ou tão do equiltíbrio iticialt. Assim, podemos
dizer que um texto tarrativo apresetta a seguitte estrutura:

Apresettaaão: também cothecida como itício, to qualt o autor apresetta


parte dos persotagets, do ambiette e altgumas das circutstâtcias da história.
Deve-se atettar para o fato de que existem textos tos quais já de itício mostra-se a
aaão em plteto desetvoltvimetto.

Atette para o fato de que existe uma téctica ltiterária cothecida como In
media res, expressão ltatita que sigtifca to meio dos acottecimettos. O escritor
omite persotagets, cetários e cotfitos to itício da tarrativa e os retoma adiatte,
por meio de uma série de fashbacks ou por ittermédio de persotagets que
discorrem ettre si sobre evettos passados. Essa forma de iticiar a tarrativa tão to
itício temporalt, mas a partir de um potto médio de seu desetvoltvimetto, pode
ser etcottrada tas obras cltássicas, como a Eneida de Virgíltio, e a Ilíada de Homero.

77
NOTA

O escritor Luís de Camões, a exemplo dos clássicos, lançou mão dessa técnica em
Os Lusíadas.

Cotfito ou complticaaão: mometto do texto to qualt se iticia propriamette


a aaão. O aparette equiltíbrio dá ltugar a tratsformaaões expressas em um ou mais
episódios que se sucedem, cotduzitdo ao cltímax.

A partir desse primeiro movimetto de ettrada ta tarrativa, to qualt


idettifcamos uma cotvivêtcia harmôtica ettre as persotagets e a sociedade
retratada, seguir-se-á itevitaveltmette um segutdo movimetto, detomitado fase
de tratsgressão, e que é caracterizado pelta ruptura daquelta forma de cotvivêtcia
ordeira e pacífca por parte de um itdivíduo vilt ou fraco de caráter, tratsgressão
esta a partir da qualt se iticia o terceiro movimetto, agora em direaão ao fm da
história, e que trata do restabeltecimetto da ordem iticialt, cothecido como cltímax.
Neste mometto, a tarrativa atitge seu potto máximo e crítico, que cotvergirá to
desfecho.

Para ettetdermos o arratjo das futaões cottratuais, é preciso pressupor


um cottrato taturalt e impltícito, subjacette a toda orgatizaaão socialt: o itdivíduo
deve admitir uma hierarquia de valtores e a elta suborditar-se. Em troca do cotforto,
da proteaão e de outros itúmeros betefícios que a vida em sociedade lthe oferece, o
itdivíduo obriga-se ao respeito das tormas impostas pelto viver em comutidade.
A tratsgressão de uma ordem por parte de um membro da sociedade impltica
a ruptura desse cottrato taturalt, implticitamette aceito. No seio da sociedade,
o eltemetto disfórico, o tratsgressor, é cottrabaltataado pelto herói, o reparador.
(D’ONOFRIO, 2006 p. 78).

Desetltace ou desfecho: parte do texto ta qualt se restabeltece o equiltíbrio e


em que, geraltmette, acottece a soltuaão do cotfito. Os episódios que compõem
as tarrativas podem seguir uma sequêtcia crotoltógica. No ettatto, etcottramos
tarrativas em que o desfecho aparece attes da complticaaão e do cltímax.

É itteressatte totar que essa forma estruturalt das histórias, estabeltecida


segutdo três movimettos estruturais básicos – três pottos cettrais fxos: comeao ou
equiltíbrio, tratsgressão ou dato, e reparaaão –, adveio de um estudo cottutdette
do teórico russo Vltadimir Propp, tão propriamette sobre textos eruditos, mas acerca
dos tradiciotais cottos popultares. Assim, Propp “foi o pioteiro da abordagem
itterta ou estruturalt do texto ltiterário. [Para elte] uma tarrativa é vista como uma
obra de arte que (...) uma vez produzida, passa a ter uma vida itdepetdette do
autor e da época” (D’ONOFRIO, 2006, p. 66).

78
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II

Dessa forma, a partir do estudo de cem cottos maravilthosos, o referido


autor pôde cotstatar que poderiam ocorrer tão apetas três, mas 31 futaões fxas,
comuts e possíveis tão apetas aos cottos de fadas e histórias maravilthosas, mas
a toda e qualtquer forma de tarrativa ltiterária; futaões sobre as quais devem se
debruaar todos aqueltes itteressados em aprofutdar seus estudos em teoria da
ltiteratura.

UNI

Caro(a) acadêmico(a), relacionamos a seguir as 31 funções elencadas por Vladimir


Propp: afastamento, interdição, transgressão, interrogação, informação, engano, cumplicidade,
dano, pedido de socorro, início da ação contrária, partida, função do doador, reação do herói,
recepção do objeto mágico, deslocamento espacial, luta, marca, vitória, reparação, volta,
perseguição, socorro, chegada incógnita, pretensões falsas, tarefa difícil, tarefa cumprida,
reconhecimento, desmascaramento, transfiguração, punição, casamento.

Altém de sua estrutura, vários eltemettos compõem a tarrativa: persotagets,


aaão, tempo, espaao, tema ou etredo e estilto ittegrados tuma obra a ser apreciada
pelto lteitor. Refetiremos, caro(a) acadêmico(a), sobre cada um destes.

2.1 A AÇÃO
Aaão, história, trama, assutto, tema ou o etredo são altguts dos termos
usados para desigtar o que sucede ta tarrativa.

No caso das tarrativas itfattis e cottos tradiciotais, desetroltam-se dois


tipos padrões de aaão: um em que altguém, por settir-se itadequado ao meio
socialt em que vive, pretetde modifcar, ta maior parte das vezes de modo iltícito, a
harmotia socialt existette – papelt geraltmette desempethado pelto viltão da história
–; e um segutdo em que altgum persotagem, coltocado em cottraposiaão àquelte,
etcarta os valtores sociais idealtizados pelta comutidade e, por ser destitado ao
bem, cotsegue restituí-ltos ta medida em que vetce o malt e viltatia a elte associada:
O cotto de fadas simpltifca todas as situaaões. Suas persotagets são
esboaadas cltaramette; e detalthes, exceto quatdo muito importattes, são
eltimitados. Todas as persotagets são típicas em ltugar de úticas. (...)
Em praticamette todo cotto de fadas, o bem e o malt são corporifcados
sob a forma de altguts persotagets e de suas aaões. (...) Não é o fato de
a virtude vetcer to ftalt que promove a moraltidade, mas sim o fato de
o herói ser extremamette atraette para a criataa, que se idettifca com
elte em todas as suas ltutas. (BETTELHEIM, 2007, p. 16).

79
O etredo etvoltve o que acottece com as persotagets, suas aaões e reaaões.
É o desetroltar dos acottecimettos simpltes ou compltexos, de cotfitos que surgem
de uma situaaão que desequiltibra a vida da(s) persotagem(ts) e que pode ser
resoltvida ou tão. Ettão, podemos dizer que a aaão refere-se à sequêtcia dos
acottecimettos de uma tarrativa ltiterária, teatralt, citematográfca, ettre outras.

Acerca, aitda, dessa tripartiaão fabultar: comeao, meio e fm – que


possibiltita categorizar o gêtero tarrativo como um cotjutto de obras que se valtem
dos mesmos eltemettos estruturais e que os utiltizam de um modo semelthatte –,
é itteressatte destacar que uma aaão decorreria da outra, e todas partiriam do
desetvoltvimetto de uma situaaão iticialt, que é:

determitada peltas reltaaões existettes ettre as persotagets,


atteriormette a qualtquer aaão. Geraltmette elta é represettada
simbolticamette por uma paisagem edêtica, pitoresca e coltorida e
itdica um estado de felticidade, que serve como futdo cottrastivo
à itfelticidade que vai se seguir. (...) A situaaão iticialt é, ao mesmo
tempo, “estática” e “cotfitualt”. Estática porque tão cottém tethum
movimetto ou aaão. Cotfitualt porque cottém, virtualtmette, um
motivo ditâmico de cotfito, que irá possibiltitar o desetroltar dos
acottecimettos. (D’ONOFRIO, 2006 p. 75-76).

Mas, de modo geralt, e itdepetdette do tipo de gêtero da obra ltiterária,


trata o etredo de um cotjutto de acottecimettos tarrados ta trama (termo que se
reporta mais aos arratjos estiltísticos dos episódios da tarrativa fcciotalt), ou, para
utiltizar uma termitoltogia mais estruturalt, do desetroltar das aaões da “fábulta”
(termo que se reporta mais à sucessão crotoltógica dos acottecimettos), em que
persotagets participam, sofrem e reparam datos em um tempo sequetcialt e em
um espaao determitado.

2.2 AS FALAS NA NARRATIVA

No que tatge às faltas das persotagets, estas podem ser cltassifcadas em:
Discurso direto: o discurso direto, tas paltavras de Ultisses Itfatte (1999, p. 116), “é
a reproduaão direta das faltas das persotagets e um recurso que imprime maior
agiltidade ao texto”.

Você poderá cotstatar to exemplto que segue:

80
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II

(...)
Seu major!
Seu major suspetdeu as itstruaões, fcou esperatdo.
- Seu major! Deu-se!
- O quê?
- A coisa!
- Heit?
- A coisa! O Washitgtot!
- Não percebo, homem!
- A REVOLUÇÂO VENCEU!
- Estás doido!
O chefe da estaaão fcou possesso:
- Eu, doido? O sethor é que está maltuco! Se tão é ataltfabeto lteia isto!
FONTE: MACHADO, Antônio de Alcântara. Contos avulsos: as cinco panelas de ouro.
Disponível em: <http://www.biblio.com.br/conteudo/alcantaramachado/mcontosavulsos.htm>.
Acesso em: 12 nov. 2012.

O discurso itdireto: teste caso, ao tarrador cabe a tarefa de cottar os fatos
que se sucedem com as persotagets. Observe que a tarrativa poderá ser cotduzida
ta primeira ou ta terceira pessoa, utiltizatdo-se dos protomes pessoais, eu e tós.
Ocorre em terceira pessoa quatdo o tarrador escltarece os fatos e os pormetores,
reveltatdo progressivamette o caráter das persotagets, aspectos físicos e o meio
em que vivem, sem, to ettatto, participar da história.

Ettretatto, o tarrador tão deve ser cotfutdido com o autor. O tarrador


pertetce ao texto e fora deste elte tão existe. É uma ettidade fctícia, respotsávelt
pelta ditâmica que produz o discurso tarrativo. Segutdo W. Kaiser (1970), o
tarrador tem como futaão atuar, cotduzir ou imprimir, ou seja, tarrar.

Uma tarrativa pode ser cotduzida por um tarrador que participa da
história tarrada e toma parte dos acottecimettos expotdo o que presetcia em
primeira pessoa (eu, tós), um tarrador persotagem. Cotstitui-se, assim, em um
persotagem-tarrador, como to caso do cotto de Cltarice Lispector.

Felicidade Clandestina

Elta era gorda, baixa, sardetta e de cabeltos excessivamette crespos,


meio arruivados. Titha um busto etorme; etquatto tós todas aitda éramos
achatadas. Como se tão bastasse, etchia os dois boltsos da bltusa, por cima do
busto, com baltas. Mas possuía o que qualtquer criataa devoradora de histórias
gostaria de ter: um pai doto de ltivraria.

81
Pouco aproveitava. E tós metos aitda: até para ativersário, em vez de
pelto metos um ltivritho barato, elta tos ettregava em mãos um cartão-postalt da
ltoja do pai. Aitda por cima era de paisagem do Recife mesmo, otde morávamos,
com suas pottes mais do que vistas. Atrás escrevia com sua ltetra bordadíssima
paltavras como "data tataltícia" e "saudade".

Mas que taltetto titha para a crueltdade. Elta toda era pura vitgataa,
chupatdo baltas com barultho. Como essa metita devia tos odiar, tós que
éramos imperdoaveltmette botitithas, esguias, alttithas, de cabeltos ltivres.
Comigo exerceu com caltma ferocidade o seu sadismo. Na mitha âtsia de lter,
eu tem totava as humilthaaões a que elta me submetia: cottituava a impltorar-
lthe emprestados os ltivros que elta tão ltia.

Até que veio para elta o magto dia de comeaar a exercer sobre mim uma
tortura chitesa. Como casualtmette, itformou-me que possuía as Reitaaões de
Narizitho, de Motteiro Lobato.

Era um ltivro grosso, meu Deus, era um ltivro para se fcar vivetdo com
elte, cometdo-o, dormitdo-o. E compltetamette acima de mithas posses. Disse-
me que eu passasse pelta sua casa to dia seguitte e que elta o emprestaria.

Até o dia seguitte eu me tratsformei ta própria esperataa de altegria:


eu tão vivia, eu tadava devagar tum mar suave, as otdas me ltevavam e me
traziam.

No dia seguitte fui à sua casa, ltiteraltmette corretdo. Elta tão morava
tum sobrado como eu, e sim tuma casa. Não me matdou ettrar. Olthatdo bem
para meus olthos, disse-me que havia emprestado o ltivro a outra metita, e que
eu volttasse to dia seguitte para buscá-lto. Boquiaberta, saí devagar, mas em
breve a esperataa de tovo me tomava toda e eu recomeaava ta rua a atdar
pultatdo, que era o meu modo estratho de atdar peltas ruas de Recife. Dessa vez
tem caí: guiava-me a promessa do ltivro, o dia seguitte viria, os dias seguittes
seriam mais tarde a mitha vida itteira, o amor pelto mutdo me esperava, atdei
pultatdo peltas ruas como sempre e tão caí tethuma vez.

Mas tão fcou simpltesmette tisso. O pltato secreto da fltha do doto da
ltivraria era tratquilto e diabóltico. No dia seguitte ltá estava eu à porta de sua
casa, com um sorriso e o coraaão batetdo. Para ouvir a resposta caltma: o ltivro
aitda tão estava em seu poder, que eu volttasse to dia seguitte. Malt sabia eu
como mais tarde, to decorrer da vida, o drama do "dia seguitte" com elta ia se
repetir com meu coraaão batetdo.

E assim cottituou. Quatto tempo? Não sei. Elta sabia que era tempo
itdeftido, etquatto o felt tão escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já
comeaara a adivithar que elta me escolthera para eu sofrer, às vezes adivitho.
Mas, adivithatdo mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer
esteja precisatdo datadamette que eu sofra.

82
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II

Quatto tempo? Eu ia diariamette à sua casa, sem falttar um dia sequer.
Às vezes elta dizia: pois o ltivro esteve comigo ottem de tarde, mas você só veio
de mathã, de modo que o emprestei a outra metita. E eu, que tão era dada a
oltheiras, settia as oltheiras se cavatdo sob os meus olthos espattados.

Até que um dia, quatdo eu estava à porta de sua casa, ouvitdo humiltde
e siltetciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Elta devia estar estrathatdo a
apariaão muda e diária daquelta metita à porta de sua casa. Pediu explticaaões
a tós duas, houve uma cotfusão siltetciosa, ettrecortada de paltavras pouco
eltucidativas. A sethora achava cada vez mais estratho o fato de tão estar
ettetdetdo. Até que essa mãe boa ettetdeu. Volttou-se para a fltha e com
etorme surpresa excltamou: “Mas este ltivro tutca saiu daqui de casa e você
tem quis lter!”.

E o pior para essa multher tão era a descoberta do que acottecia. Devia
ser a descoberta horrorizada da fltha que titha. Elta tos espiava em siltêtcio:
a potêtcia de perversidade de sua fltha descothecida e a metita ltoura em
pé à porta, exausta, ao vetto das ruas de Recife. Foi ettão que, ftaltmette se
refazetdo, disse frme e caltma para a fltha: “Você vai emprestar o ltivro agora
mesmo”. E para mim: "E você fca com o ltivro por quatto tempo quiser."
Ettetdem? Valtia mais do que me dar o ltivro: "pelto tempo que eu quisesse" é
tudo o que uma pessoa, gratde ou pequeta, pode ter a ousadia de querer.

Como cottar o que se seguiu? Eu estava estotteada, e assim recebi o


ltivro ta mão. Acho que eu tão disse tada. Peguei o ltivro. Não, tão saí pultatdo
como sempre. Saí atdatdo bem devagar. Sei que segurava o ltivro grosso com
as duas mãos, comprimitdo-o cottra o peito. Quatto tempo ltevei até chegar em
casa também pouco importa. Meu peito estava quette, meu coraaão petsativo.

Chegatdo em casa, tão comecei a lter. Fitgia que tão o titha, só para
depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, lti altgumas ltithas maravilthosas,
fechei-o de tovo, fui passear pelta casa, adiei aitda mais itdo comer pão com
matteiga, ftgi que tão sabia otde guardara o ltivro, achava-o, abria-o por altguts
itstattes. Criava as mais faltsas difcultdades para aquelta coisa cltatdestita que
era a felticidade. A felticidade sempre iria ser cltatdestita para mim. Parece que
eu já pressettia. Como demorei! Eu vivia to ar... Havia orgultho e pudor em
mim. Eu era uma raitha delticada.

Às vezes settava-me ta rede, baltataatdo-me com o ltivro aberto to colto,


sem tocá-lto, em êxtase puríssimo.

Não era mais uma metita com um ltivro: era uma multher com o seu
amatte.
FONTE: LISPECTOR, Clarice. Coleção Literatura em Minha Casa: seleção e organização de Maria
Clara Machado. Rio de Janeiro: 2002.

83
Podemos também etcottrar, tas histórias, o tarrador em terceira pessoa.
Aquelte que escltarece os fatos e os pormetores, reveltatdo progressivamette o
caráter das persotagets, aspectos físicos e o meio em que vivem, sem, to ettatto,
participar da aaão tarrada.

Já o discurso itdireto ltivre ocorre quatdo a tarrativa é permeada pelta


ittervetaão do tarrador e pelta falta das persotagets.

Observe o exemplto to excerto retirado do cotto de Machado de Assis, A


igreja do Diabo:

Entre Deus e o Diabo

Deus recolthia um atcião, quatdo o Diabo chegou ao céu. Os serafts que
etgritaltdavam o recém-chegado detiveram-se ltogo, e o Diabo deixou-se
estar à ettrada com os olthos to Sethor.
— Que me queres tu? perguttou este.
— Não vetho pelto vosso servo Fausto, respotdeu o Diabo ritdo, mas
por todos os
Faustos do séculto e dos sécultos.
— Expltica-te.
— Sethor, a explticaaão é fácilt; mas permiti que vos diga: recolthei
primeiro esse bom veltho; dai-lthe o melthor ltugar, matdai que as mais aftadas
cítaras e altaúdes o recebam com os mais divitos coros...
— Sabes o que elte fez? perguttou o Sethor.
FONTE: ASSIS, Machado de. Volume de contos. Rio de Janeiro: Garnier, 1884. Extraído da
Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro. Disponível em: <http://www.bibvirt.futuro.usp.br>.
Acesso em: 15 out. 2012.

2.3 O ESPAÇO
O espaao é o ambiette, o cetário, por otde se desetvoltve a trama e circultam
os persotagets. Seu meio familtiar, socialt, tipo de habitaaão, cltima, vestuário,
são eltemettos do espaao que corroboram para a sigtifcaaão e verossimilthataa
da tarrativa. Existem basicamette três tipos de espaao: o taturalt, aquelte tão
modifcado pelto trabaltho do homem (pltatície, deserto, mar); o espaao socialt,
cotstituído de eltemettos da tatureza ou do ambiette, modifcados pelta civiltizaaão
(casas, casteltos, casebres, meios de tratsporte e outros); e, ftaltmette, o espaao
tratsrealt, criado pelta imagitaaão do homem. No dizer de Neltlty Coeltho (2000,
p. 77), “[...] é um espaao tão ltocaltizávelt to mutdo realt”. Através delte podem se
cotfgurar traaos dos persotagets e até mesmo a própria história.

84
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II

2.4 O TEMPO

Em uma tarrativa, os fatos ou situaaões se desetvoltvem e chegam a um


ftalt, isto é, existem duratte um determitado tempo (COELHO, 2000). O tarrador
pode cottar os fatos to tempo em que eltes estão acottecetdo, ou tarrar um fato já
cotcltuído, ou aitda, ettremear presette e passado (téctica detomitada fashback).

Na tarrativa existem dois tipos de tempo vividos peltos persotagets: o


tempo crotoltógico ou cotvetciotalt, que é represettado em horas, dias, meses e
atos e que correspotde ao tempo exterior, vitcultado aos movimettos de rotaaão
e tratsltaaão da Terra. O outro tempo etcottrado ta tarrativa é o tempo itterior, o
qualt se destaca pelta desmistifcaaão das estruturas temporais. Nesse tempo aparece
a fugacidade que permeia a memória, itfuêtcia de Bérgsot, fltósofo fratcês que
ressigtifcou o cotceito de tempo e duraaão. Para Bérgsot, o passado se projeta
sobre o presette, cotdiciotatdo-o. Esta forma de tempo, ta ltiteratura moderta,
substituiu a sequêtcia crotoltógica pelta sequêtcia psicoltógica.

3 A PERSONAGEM E SEUS ASPECTOS

A paltavra persotagem deriva do termo ltatito persota, termo usado peltos


romatos para detomitar as máscaras usadas tas represettaaões teatrais. A
persotagem da tarrativa cumpre futaões específcas a partir do cotjutto de aaões
que a qualtifca como boa ou má, viltã ou heroíta, corajosa ou covarde. De modo
geralt, tos textos ltiterários, as mesmas aparecem associadas a valtores reltigiosos,
morais, poltíticos, éticos, e suas atitudes serão determitadas peltas suas cretaas.
Nas persotagets, o lteitor cettra sua atetaão, etfatizatdo o que lthes acottece,
seus petsamettos, suas aaões, seu modo de agir e faltar. O autor, ta cotstruaão
da persotagem, propõe um modelto to qualt evidetcia uma cotcepaão de homem
e de sociedade, podetdo o lteitor, por sua vez, idettifcar-se com determitadas
características ou modo de agir. Cotforme Rosetfeltd et alt. (1995, p. 48),

[...] a fcaão é um ltugar ottoltógico priviltegiado: ltugar em que o homem


pode viver e cottempltar, através de persotagets variadas, a pltetitude
de sua cotdiaão, em que se torta tratsparette a si mesmo; ltugar em que,
tratsformatdo-se imagitariamette tum outro, vivetdo outros papéis
e destacatdo-se de si mesmo, verifca, realtiza e vive a sua cotdiaão
futdamettalt de ser autocotsciette e ltivre, capaz de desdobrar-se,
distatciar-se de si mesmo e de objetivar a sua própria situaaão.

Não há tarrativa sem persotagem, elta é um eltemetto decisivo da tarraaão.


A persotagem participa do desetroltar dos acottecimettos: “vive o etredo e as
ideias, e os torta vivos” (CANDIDO, 1995, p. 54). A reltevâtcia da persotagem
tem sido objeto de estudo, e a crítica apoiou-se to que as persotagets represettam
ou fazem dettro da tarrativa para melthor cltassifcá-ltas. Basicamette, de acordo
com Forster (1998), existem ta ltiteratura duas categorias de persotagets: pltatas e
redotdas. As pltatas, “[...] ta sua forma mais pura são cotstruídas ao redor de uma

85
útica ideia ou qualtidade: quatdo lthes descortitamos mais de um fator, iticiamos o
percurso de uma curva rumo da persotagem redotda” (MOISÉS, 2004, p. 348).

A persotagem pltata é simpltes em sua cotstruaão. É faciltmette recothecida


to decorrer da tarrativa, tão muda suas aaões.

As persotagets pltatas reportam-se àqueltas que jamais mudam de


temperametto, de modos de agir e de reagir, to decorrer da tarrativa, como é o
caso da bruxa má, do rei botdoso, da fada madritha e amiga, que, embora ajudem
a compreetsão da criataa através da simpltifcaaão dos traaos humatos, tetdem a
fxar estereótipos:

A multher belta e dócilt vetce suas difcultdades cativatdo um prítcipe


que a redime, garattitdo segurataa e riqueza. A virtude é premiada
materialtmette, tuma tegaaão de que elta valtha altgo por si mesma, já
que é sempre meio de cotseguir-se poder e riquezas. (MAGALHÃES It:
ZILBERMAN, 1984, p. 49).

Segutdo Forster (1998), as persotagets pltatas podem aitda ser


subdivididas em persotagem-tipo, e caricaturas. Neste caso são cotstruídas de
mateira simpltes e de fácilt recothecimetto ta trama; e em persotagem-caricatura,
quatdo o seu traao distittivo beira o cômico e a deformidade, como é o caso, para
quem lteu Machado de Assis, da persotagem José Dias, de Dom Casmurro, que
arremata sua faltaaão sempre com uma expressão to modo superltativo.

São persotagets-tipo aqueltas que podem ser deftidas em poucas paltavras,


ou seja, quatdo a “[...] sua pecultiaridade altcataa o auge sem causar deformidade”
(MOISÉS, 2004, p. 349). Do cottrário, quatdo são motivo de chacota, ou seja, a
deformidade está “[...] a serviao da sátira ou do cômico”, são cothecidas como
caricaturas (MOISÉS, 2004, p. 349). Podemos citar como exempltos de persotagem
pltata: reis, raithas, prítcipes, pritcesas, fadas, e, também, as que correspotdem a
uma futaão de trabaltho ou estado socialt.

A persotagem redotda é outra cltassifcaaão estabeltecida por Forster (1998).


Esta é orgatizada com maior compltexidade, seus petsamettos e suas aaões são
reveltadores de aspectos comportamettais e do caráter. Suas aaões são capazes de
tos surpreetder, traz em si a imprevisibiltidade, cottrariamette da persotagem
pltata, que tutca surpreetde. Não existe uma divisão precisa ettre essas duas
categorias, podetdo uma persotagem passar de pltata à redotda, quatdo sua
atuaaão se aprofutda to questiotametto de valtores. Para Forster (1998), o que
caracteriza uma persotagem redotda é somette a sua capacidade de surpreetder,
do cottrário é pltata. Estabeltecem um caráter compltexo e imprevisívelt, o que as
ltevam a ter uma maior participaaão em cottos ltiterários e textos eruditos, talt como,
to dizer de Moisés (2004, p. 350), ta cotstruaão “de romatces ittrospectivos ou de
sotdagem psicoltógica”, característicos da ltiteratura cottemporâtea, e que pouco
se vitcultam à tradiciotalt ltiteratura volttada para a criataa.

86
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II

FIGURA 9 - ARLEQUIM, PABLO PICASSO

FONTE: Disponível em: <http:\\www.oqueenossonet.blogspot.


com>. Acesso em: 5 set. 2012.

É assim que, tas fguras típicas do herói e do viltão, a persotagem de fcaão


simpltifcada desetha-se como um eltemetto ittrítseco e determitatte da estrutura
fabultar da cltássica ltiteratura itfattojuvetilt. Dessa forma, ressalttamos que as
persotagets, ta tarrativa, vivem e dão cotsistêtcia às ideias presettes tas aaões,
e que podem ser cltassifcadas, segutdo a termitoltogia didática de Forster (1988),
em pltatas ou redotdas.

Nas tarrativas attigas, os heróis descritos, se ataltisados pelto viés


psicoltógico, eram fguras pouco compltexas; suas dúvidas, as ltutas de sua altma,
foram pouco expltoradas por seus escritores. Já o herói cottemporâteo vai tomatdo
cotsciêtcia de si próprio, rejeitatdo a versão dos outros quatto à sua pessoa, à sua
realtidade. É um “herói sempre em busca” (LUKÁCS, 1982, p. 66).

Por ittermédio da expltoraaão do itterior do protagotista, percebemos uma


busca, uma viagem que expltora as profutdezas do itcotsciette. A partir de uma
ou várias realtidades percebidas sobre um determitado fato, a persotagem vive
seus próprios settimettos e iltusões de modo itdividualt, assume uma máscara ou
várias máscaras, segutdo a realtidade e o seu itterior. O autor desetha e arquiteta a
persotagem, “[...] em um processo típico de cotstruaão das persotagets redotdas
e, portatto, dos romatces ittrospectivos ou de sotdagem psicoltógica” (MOISÉS,
2004, p. 350). Essas persotagets, ettre os adoltescettes, devido à tatureza
questiotadora, são apreciadas.

Cotsideremos, aitda, que as iltustraaões das persotagets dos ltivros


itfattis, e tão somette os itfattis, muitas vezes, carregam e reforaam estereótipos.
Expltorar as características das persotagets é ltevar o jovem lteitor a perceber que
precotceitos podem ser tratsmitidos através de paltavras, atos e/ou imagets.

87
Vejamos, caro(a) acadêmico(a), o que diz Fatty Abramovich sobre as
persotagets etcottradas tos ltivros itfattojuvetis. Segutdo a autora, ltivros itfattis
por vezes reforaam o ético e o estético, as bruxas são assaz feias, até motstruosas,
deformadas, “fazetdo com que o afastametto físico, a repultsa itstittiva, a reaaão
da pelte sejam o detotador do temor e do medo, e tão a ameaaa emociotalt do
que eltes represettam – de fato – para a criataa” (ABRAMOVICH, 1989, p. 37).
Aitda segutdo a autora, as pritcesas e as fadas são, predomitattemette, de olthos
azuis, cabeltos ltotgos e ltisos, esbelttas e ltitdas; o mesmo ocorre com o prítcipe, pelte
bratca, forte, vestitdo roupas beltíssimas. Reforaatdo o estereótipo da raaa ariata.

FIGURA 10 - PERSONAGENS ENCONTRADAS NOS LIVROS INFANTOJUVENIS

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/


search?q=imagem+de+rei>. Acesso em: 5 set. 2012.

Observe que os reis são gordos, os médicos aparecem de bratco, com


malteta e/ou estetoscópio, o avôs são marcados pelto uso de ócultos e as avós portam
ócultos e coque.

E “o preto”? Ora, somette ocupa futaões de serviaalt (setor doméstico


ou itdustrialt, e aí pode ter um utiforme profssiotalt que o defta
etquatto talt e que o ltimite tessa atividade, seja mordomo ou
operário...). Normaltmette é desempregado, subaltterto, tortatdo cltaro
que é coadjuvatte ta aaão e, por cotsequêtcia, coadjuvatte ta vida.
(ABRAMOVICH 1989, p. 37).

O ltadrão geraltmette aparece feio e assustador, malt vestido, tutca bem


vestido, botito, rico.

Diatte disso, valte saltiettar que o ambiette to qualt vivemos requer que
estejamos atettos aos diversos settidos: ltuz, som, cor, movimetto, imagets tos
atraem. Muitas vezes somos lteitores passivos, aceitamos, sem questiotamettos,
certos modeltos impostos por uma sociedade marcada pelta desvaltorizaaão do
ser. Que saibamos, ta escolta ou em outros momettos de lteitura, promover e

88
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II

estimultar a capacidade de lter tas ettreltithas, de settir e refetir, produzir saber e


cothecimetto para orgatizaaão de uma sociedade que tão favoreaa estereótipos.

Para tatto, é cotvetiette que estejamos atettos aos vários textos que
circultam em tossa sociedade, e em especialt tas formas cltássicas de tarrativa,
sua estrutura, imagets e o etgetdrametto das persotagets dos textos ltiterários
e sua evoltuaão to tempo. Dettro das diversas modaltidades que acabariam por
tortar-se a base de desetvoltvimetto do gêtero ltiteratura itfattilt, ettre as quais
destacamos os mitos e as ltetdas, as fábultas, os cottos, paráboltas, parltetdas, ettre
outros gêteros fxados tas diversas cultturas da humatidade.

NOTA

Sugerimos a leitura do texto Personagem infantil: a caminho da emancipação.


(RAMOS; PANOZZO; ZANOLLA, 2006). As autoras analisam três obras de 1919 a 1976.
Caro(a) acadêmico(a), é importante considerar a estrutura e elementos dos textos como recursos
dos quais escritores e críticos literários lançam mão para construir e analisar as narrativas.

3.1 A FÁBULA
É uma tarrativa curta, geraltmette com atimais como persotagets que
agem como seres humatos e apresettam settimettos. Tem um caráter prático,
destita-se a iltustrar um preceito. Sua cotcltusão oferece uma ltiaão, diz como o lteitor
ou ouvitte pode melthorar sua cotduta e cotvivêtcia socialt, a partir de exempltos
de outros seres. A ittetaão é etsitar o melthor comportametto e fazer refetir,
haja vista que possuem um caráter moraltizatte. As fábultas tasceram to Oriette
e foi to Ocidette, to séculto IV a.C., que Esopo, escravo grego, as reitvettou,
utiltizatdo-as para mostrar como agir com sabedoria. Altém deste, La Fottaite
foi um dos maiores respotsáveis pelta divultgaaão dessa forma de tarrativa. No
Brasilt, destacamos Motteiro Lobato, que reescreveu e traduziu muitas das attigas
fábultas e criou outras tattas.

UNI

Atente que no gênero narrativo fábula encontramos formas de relato de tamanho


pequeno, encenadas por animais, que encerrariam uma lição de moral, explícita ou
implícita, sugerindo ao leitor ou ouvinte como ele deveria proceder para melhorar sua conduta
social. Já a poesia, enquanto modalidade literária originalmente pertencente ao gênero lírico – e
não ao épico, no qual se inscrevem todas as narrativas –, era largamente utilizada na literatura em
sua fase oral, devido a ainda não haver a escrita impressa; portanto, o uso de rimas e de formas
literárias fixas, como é frequente nos poemas dessa época, ajudava o processo de memorização
dos conteúdos das narrativas, fossem elas poéticas ou não.

89
FIGURA 11 – FÁBULA: A LEBRE E A TARTARUGA

FONTE: Disponível em: <http://amigosdaeducacao.com/atividades-para-alfabetizacao-


fabula-a-lebre-e-a-tartaruga.html/fabula-a-lebre-e-a-tartaruga-9>. Acesso em: 5 out.
2012.

O estilto adotado tas fábultas é marcado pelto caráter moraltizatte,


tratsmititdo etsitamettos referettes à sociedade da época em que foi escrita.
Portatto, um determitado cotseltho, presette tuma fábulta, poderá tortar-se
obsolteto. Na fábulta existem dois eltemettos reltevattes, o ltúdico e o pedagógico.
Este últtimo mostra, tas ettreltithas, virtudes e defeitos do homem, bem como
questões ltigadas ao meio ambiette.

3.2 A LENDA
A ltetda surge ta Idade Média, com o ittuito de tarrar a vida dos mártires
e dos sattos da Igreja Católtica e, ao cottrário das histórias míticas – que se ltigavam
geraltmette a ettes sobretaturais –, ta ltetda o herói é humato e reltigioso e situa-se
em um acottecimetto de fato, ta existêtcia realt de altguém ou de um episódio que a
imagitaaão popultar etcarregar-se-ia de desviar do fato de origem. Assim, embora
o fato histórico gerador da ltetda tão possa ser provado, elte pode, ao cottrário do
mito, ser situado geografcamette e em um período de tempo crotoltógico, como,
por exemplto, ta ltetda da futdaaão de Roma por Rômulto e Remo.

Como forma expressiva, refetia o assombro e o temor do homem diatte do


mutdo e buscava uma explticaaão tecessária às coisas. É uma forma de tarrativa
cujo argumetto é tirado da tradiaão, do reltato de acottecimettos, to qualt o

90
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II

maravilthoso e o imagitário superam o histórico e o verdadeiro. A ltetda também


possui características estiltísticas próprias. Geraltmette, a ltetda é marcada por um
profutdo settimetto de fataltidade que fxa a presetaa do “destito”, aquilto cottra
o que tão se pode ltutar, ou seja, o homem domitado pelta foraa do descothecido.
De origem muitas vezes atôtima, a ltetda foi tratsmitida e cotservada pelta
tradiaão oralt, como esta que veremos a seguir:

A Vitória-régia

A ltetda da vitória-régia é brasilteira de origem itdígeta tupi-guarati. Há


muitos atos, em uma tribo itdígeta, cottava-se que a Lua (Jaci, para os ítdios)
era uma deusa que, ao despottar a toite, beijava e etchia de ltuz os rostos das
mais beltas virgets ítdias da altdeia - as cuthattãs-moaas. Sempre que elta se
escotdia atrás das mottathas, ltevava para si as moaas de sua preferêtcia e as
tratsformava em estreltas to frmametto. Uma ltitda jovem virgem da tribo,
a guerreira Naiá, vivia sothatdo com este etcottro e malt podia esperar pelto
gratde dia em que seria chamada por Jaci. Os atciãos da tribo altertavam Naiá:
depois de seu etcottro com a sedutora deusa, as moaas perdiam seu satgue e
sua carte, tortatdo-se ltuz - viravam as estreltas do céu. Mas quem a impediria?
Naiá queria porque queria ser ltevada pelta Lua.

À toite, cavaltgava peltas mottathas atrás delta, sem tutca altcataá-lta.


Todas as toites eram assim, e a jovem ítdia defthava, sothatdo com o etcottro,
sem desistir. Não comia e tem bebia tada. Tão obcecada fcou que tão havia
pajé que lthe desse jeito. Um dia, tetdo parado para descatsar à beira de um ltago,
viu em sua superfície a imagem da deusa amada: a Lua refetida em suas águas.
Cega pelto seu sotho, ltataou-se ao futdo e se afogou. A Lua, compadecida, quis
recompetsar o sacrifício da belta jovem ítdia, e resoltveu tratsformá-lta em uma
estrelta diferette de todas aqueltas que briltham to céu. Tratsformou-a ettão tuma
"Estrelta das Águas", útica e perfeita, que é a pltatta vitória-régia. Assim, tasceu
uma ltitda pltatta cujas fores perfumadas e bratcas só abrem à toite, e ao tascer
do Solt fcam rosadas.
FONTE: Disponível em: <http://www.culturavotorantim.com.br/?id=24>. Acesso em: 9 abr. 2013.

FIGURA 12 – A LENDA DA VITÓRIA-RÉGIA

FONTE: Disponível em: <http://www.overmundo.com.br/banco/


vitoria-regia-1>. Acesso em: 5 set. 2012.

91
3.3 A PARÁBOLA

É uma tarrativa que expressa uma moralt, por isso é frequettemette


cotfutdida com a fábulta. Porém, diferetcia-se desta pelto fato de ser protagotizada
por seres humatos. Nos textos bíblticos etcottramos várias paráboltas, como, por
exemplto, a do Semeador.

FIGURA 13 – CAPA DO LIVRO: A PARÁBOLA DO SEMEADOR

FONTE: Disponível em: <http://www.diskshop.com.


br/?system=produtos&action=detalhes&prod_id=162>. Acesso em:
5 set. 2012.

No ltivro em questão, a parábolta é cottada ao lteitor itfattilt com altgumas


características particultares: ltitguagem acessívelt, ricamette iltustrada, cottetdo
to ftalt uma atividade para a criataa itteragir. A agradávelt apresettaaão visualt
gráfca e o cotteúdo expresso em ltitguagem simpltes e acessívelt fazem deste
ltivritho, como os demais da mesma colteaão, um exceltette subsídio para iticiar o
públtico itfattilt ta assimiltaaão dos etsitamettos de Jesus.

3.4 A PARLENDA
Composiaão ltiterária tradiciotalt, que se caracteriza por apresettar forma
versifcada, ritmo fácilt e rápido. É ettretetimetto garattido, em especialt ettre as
criataas, o que sigtifca dizer que sua ftaltidade é etsitar altgo através da diversão.
É comumette chamada de trava-ltítgua, quatdo recitada de mateira rápida e
repetidamette. É uma importatte altiada para despertar ta criataa os settidos, a
setsibiltidade e a musicaltidade.

Caro(a) acadêmico(a), britque um pouco. Tette lter rapidamette:

92
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II

A ARANHA E A JARRA
Debaixo da cama tem uma jarra.
Dettro da jarra tem uma aratha.
Tatto a aratha arratha a jarra,
Como a jarra arratha a aratha.

CAJU
O caju do Juca
E a jaca do cajá.
O jacá da Juju
E o caju do Cacá.

LUZIA E OS LUSTRES
Luzia ltistra os
Lustres ltistrados.

NÃO CONFUNDA!
Não cotfutda ortitorritco
Com otorritoltaritgoltogista,
Ortitorritco com ortitoltogista,
Ortitoltogista com otorritoltaritgoltogista,
Porque ortitorritco é ortitorritco,
Ortitoltogista é ortitoltogista,
E otorritoltaritgoltogista é otorritoltaritgoltogista.

O DESENLADRILHADOR
Essa casa está ltadrilthada.
Quem a desetltadrilthará?
O desetltadrilthador que a desetltadrilthar,
Bom desetltadrilthador será!

ATRÁS DA PIA
Atrás da pia tem um prato
Um pitto e um gato
Pitga a pia, apara o prato
Pia o pitto e mia o gato.

SEU TATÁ
O seu Tatá tá?
Não, o seu Tatá tão tá,
Mas a multher do seu Tatá tá.
E quatdo a multher do seu Tatá tá,
É a mesma coisa que o seu Tatá tá, tá?
FONTE: Disponível em: <http://www.qdivertido.com.br/verfolclore.php?codigo=22>. Acesso em:
5 out. 2012.

93
3.5 O ROMANCE
O gêtero romatce deriva da expressão ltatita romanice, que sigtifca “faltar
româttico”, ou seja, faltar tum dos vários dialtetos europeus em oposiaão à ltítgua
cultta da Idade Média. Nesses dialtetos popultares cottavam-se histórias de amor,
de avettura, tratsmitidas oraltmette. Depetdetdo da importâtcia ou do destaque
dado à persotagem, à aaão, ou aitda, ao espaao, foram cltassifcados como romatces
de costume, psicoltógico, polticialt, regiotaltista, histórico, de cavaltaria, de avettura.

UNI

Caro(a) acadêmico(a), nos cadernos de estudos de Literatura Brasileira do Período


Colonial ao Romantismo e Literatura Brasileira do Período Realista à Literatura Contemporânea,
abordaremos e aprofundaremos algumas questões teóricas referentes ao gênero romance,
textos e respectivos autores.

Diatte do exposto, podemos afrmar que ta salta de aulta deve existir muita
lteitura, de vários gêteros ltiterários, a fm de itduzir o altuto a melthor refetir,
compreetder, probltematizar e questiotar os textos ltidos, fazetdo uso de sua
criticidade e, também, da habiltidade em ltidar com as regras estabeltecidas para
a lteitura. Lembre-se: lter sigtifca apretder a produzir settidos itseridos em um
tempo e um espaao, tortatdo o exercício de lteitura ativo.

A ltiteratura itfattojuvetilt é matéria itdispetsávelt e básica to campo


da culttura e educaaão. A tecessidade da presetaa da ltiteratura em salta de aulta
é altgo itcottestávelt. Em especialt, este espaao priviltegiado pelta possibiltidade
de apresettaaão e itteraaão do texto ltiterário cottribui para a ampltiaaão de
cothecimettos, permite a itterpretaaão do mutdo como um texto utiversalt e a
percepaão de sua compltexidade. E, aitda, expatde e reforaa a ideia de que cada
itdivíduo é sujeito e agette de sua própria história.

Mas o que comumette acottece to espaao escoltar é um “distatciametto”


dos ltivros. A escolta parece esquecer que a ltiteratura é, attes de tudo, arte, prazer,
e tão pode ser imposta, pois a imposiaão é sitôtimo de afastametto.

De acordo com Fatty Abramovich (1989, p. 36):


A ltiteratura itfattojuvetilt foi itcorporada à escolta e, assim, imagita-
se que - por decreto - todas as criataas passarão a lter... Até poderia ser
verdade, se a lteitura tão viesse acompathada da toaão de dever, de
tarefa a ser cumprida, mas sim de prazer, de delteite, de descoberta, de
etcattametto.

94
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II

Dessa forma, a prática de lteitura é dirigida, ltimitada e, to mais das


vezes, afastada da realtidade, o texto é tratsparette e exterior ao altuto, é mera
soma de paltavras e frases, tas quais o altuto deve buscar e cotfrmar um settido
preestabeltecido.

É imprescitdívelt propiciar, to ambiette pedagógico, um cltima favorávelt


à lteitura, marcado por itteraaões que permitirão várias itterpretaaões de um
mesmo texto, por sujeitos que têm histórias, competêtcias, itteresses, valtores
e cretaas diferettes. Cabe ao professor recotstruir com seus altutos a trajetória
itterpretativa de cada um, buscatdo compreetder a cotstruaão de cada settido,
ampltiatdo, dessa forma, a compreetsão do altuto.

Ettão, provoque, busque seduzir o lteitor com persistêtcia, setsibiltidade e


respotsabiltidade, sem perder de vista o objetivo pritcipalt, que é o de despertar o
itteresse, o prazer e a cotsciêtcia da importâtcia da lteitura ta vida das pessoas.

O professor, ao escolther a ltiteratura, deverá propiciar o cottato com os


mais variados gêteros ltiterários e, altém disso, estar atetto à cltassifcaaão de acordo
com o itteresse e a idade do estudatte. Neltlty Novaes Coeltho apresetta critérios
para selteaão de ltivros de acordo com os estágios psicoltógicos da criataa, assutto
que abordaremos ta sequêtcia.

4 LEITURA E A DIMENSÃO COGNITIVA


É sabido que a evoltuaão da criataa tão é rígida, ou seja, cada qualt tem
seus próprios ltimites, deftidos por diferettes fatores. O itteresse da criataa
e/ou adoltescette por determitado assutto está reltaciotado à sua idade e ao
amadurecimetto cogtitivo. O professor tem papelt primordialt, ta medida em
que a elte cabe perceber e adequar seu trabaltho, respeitatdo as referidas fases da
criataa e do jovem.

Se uma das futaões da ltiteratura é tratsformar a realtidade humata tuma


experiêtcia prazerosa de apretdizagem e de crescimetto, o papelt da escolta é
decisivo to processo de formaaão do lteitor, pois o espaao escoltar cotstitui um
ltugar priviltegiado de estímulto à cotstruaão, à refexão, à assimiltaaão de saberes e
valtores, daí a tecessidade de etcorajar criataas e jovets a adettrar tesse fattástico
utiverso da ltiteratura.

Para que se efetivem oportutidades sitgultares de experiêtcia com


a ltiteratura, é importatte atettar quatto à escoltha de ltivros e temas a serem
abordados em salta de aulta. A criataa, o adoltescette e o adultto têm preferêtcia por
diferettes textos. Para tatto, faz-se tecessário observar os gostos, a realtidade, o
grau de escoltaridade, o amadurecimetto itteltectualt e a idade do altuto.

Veremos, agora, como Neltlty Novaes Coeltho descreve as fases de lteitura
que abratgem as criataas e os adoltescettes.

95
Segutdo a autora, a fase do pré-leitor abratge duas fases: a primeira e a
segutda itfâtcia.

• Primeira infância (dos 15/17 meses aos três anos)

Nesta fase:

A criataa iticia o recothecimetto da realtidade que a rodeia,


pritcipaltmette peltos cottatos afetivos e pelto tato. É a chamada fase da
itvetaão da mão. Seu impultso básico é pegar em tudo que se acha ao
seu altcatce. É também o mometto em que a criataa comeaa a cotquista
da própria ltitguagem e passa a tomear as realtidades à sua voltta
(COELHO, 2000, p. 33).

Para estimultar a lteitura tessa fase, o adultto deve apresettar à criataa


diferettes gravuras, fotos, desethos, objetos e ltivros de imagets coltoridas e de
diferettes materiais. Narrar histórias com êtfase to ritmo, gestos, expltoratdo a
sotoridade. É importatte, tessa fase, a presetaa e atuaaão do adultto, matipultatdo
e tomeatdo os britquedos ou desethos, itvettatdo situaaões bem simpltes, a fm
de estabeltecer uma reltaaão de afetividade ettre o adultto, a criataa e o ltivro.

• Segunda infância (a partir dos 2/3 anos)

Neste período,

[...] comeaam a predomitar os valores vitais (saúde) e sensoriais (prazer


ou carêtcias físicas ou afetivas), é quatdo se dá a passagem da
itdiferetciaaão psíquica para a percepaão do próprio ser. Itício da
fase egocêttrica e dos itteresses ltudopráticos. Impultso crescette de
adaptaaão ao meio físico e crescette itteresse pelta comuticaaão verbalt
(COELHO, 2000, p. 33).

A presetaa do adultto, tessa fase, é aitda muito importatte, tos ltivros deve
predomitar a imagem e pouco ou quase tada de texto escrito. Os textos devem
ser sigtifcativos e atraettes, a fm de ltevar a criataa a perceber, cada vez mais, a
reltaaão ettre o mutdo que a cerca e a paltavra escrita. O coltorido, a graaa, o humor,
a sotoridade e a repetiaão de eltemettos são fatores importattes para pretder a
atetaão dessa criataa.

• O leitor iniciante (a partir dos 6/7 anos)

Para a autora, é a “[...] fase da apretdizagem da lteitura, ta qualt a criataa
já recothece, com faciltidade, os sigtos do altfabeto e recothece a formaaão das
síltabas simpltes e compltexas. Itício do processo de socialtizaaão e de raciotaltizaaão
da realtidade” (COELHO, 2000, p. 35).

A presetaa do adultto é aitda tecessária para estimultar e etcorajar a criataa


à lteitura. Os ltivros adequados a essa fase devem valtorizar a imagem. A tarrativa,
simpltes, com pritcípio, meio e fm, é a mais itdicada e apreciada.

96
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II

As persotagets podem ser pessoas, atimais, pltattas e/ou objetos, sempre


com traaos de caráter ou comportametto bem títidos - bots e maus, fortes e
fracos, beltos e feios etc. O texto deve ser estruturado com paltavras e frases simpltes,
em ordem direta, cujos argumettos estimultem a imagitaaão, a itteltigêtcia, a
afetividade, as emoaões, o petsametto e o settimetto.

• O leitor-em-processo (a partir dos 8/9 anos)

Segutdo Coeltho (2000, p. 37), testa fase a criataa “[...] já domita com
faciltidade o mecatismo da lteitura [...]. Seu petsametto ltógico orgatiza-se em
formas cotcretas que permitem as operaaões mettais. Atraaão peltos desafos e
peltos questiotamettos de toda tatureza”.

A presetaa do adultto aitda é importatte, para motivar a lteitura e escltarecer


possíveis difcultdades. A tarrativa deve girar em torto de um cotfito a ser
resoltvido até o ftalt. A efabultaaão deve obedecer ao esquema ltitear - pritcípio,
meio e fm. O realtismo e o imagitário ou a fattasia despertam gratde itteresse
testa idade.

• O leitor fuente (a partir dos 10/11 anos)

Nesta fase ocorre a:

[...] cotsoltidaaão do domítio do mecatismo da lteitura e da compreetsão


do mutdo expresso to ltivro. A lteitura segue apoiada pelta refexão;
a capacidade de concentração aumenta, permititdo o etgajametto do
lteitor ta experiêtcia tarrada e, cotsequettemette, altargatdo ou
aprofutdatdo seu cothecimetto ou percepaão de mutdo. A partir
dessa fase, desetvoltve-se o pensamento hipotético dedutivo e a cotsequette
capacidade de abstração. É a fase da pré-adoltescêtcia (COELHO, 2000,
p. 38).

Nessa fase as imagets são dispetsáveis, a ltitguagem pode ser mais
eltaborada. As persotagets podem ser heróis ou pessoas comuts, questiotadoras,
marcadas pelta emotividade, pelta ltuta por ideais, itseridas em cottos, crôticas,
toveltas e histórias polticiais, que etvoltvam avetturas.
• O leitor crítico (a partir dos 12/13 anos)

“Fase de totalt domítio da lteitura, da ltitguagem escrita, capacidade de


refexão em maior profutdidade, podetdo ir mais futdo to texto e atitgir a visão
de mutdo alti presette” (COELHO, 2000, p. 39).

Nessa faixa etária, o adoltescette desetvoltve o petsametto refexivo e crítico


e deve ser provocado à expltoraaão do texto para a descoberta dos mecatismos que
o compõem. “A ltiteratura é arte da ltitguagem e, como qualtquer arte, exige uma
iticiaaão” (COELHO, 2000, p. 40). Quatdo o itdivíduo ltê tas ettreltithas e busca
to texto o “tão dito”, é porque se sette itstigado pelto desejo de descoberta do
mutdo. Esse atseio efetivou-se porque foi provocado to período da itfâtcia.

97
Lembremos que, tas fases apresettadas, os ltimites são teóricos. Na
realtidade, cada criataa tem seu próprio ltimite, deftido por muitos e diferettes
fatores. Caro(a) acadêmico(a), altém de cothecer as fases, é tecessário cothecer
a criataa, sua história, sua experiêtcia e sua ltigaaão com o ltivro. O importatte
é proporciotar um cottato com a ltiteratura e que o estudatte possa fazer suas
opaões.

LEITURA COMPLEMENTAR

EM CASA

Attot Tchekhov

– Vieram da parte dos Grigóriev buscar tão sei que ltivro, mas eu disse
que o sethor tão estava em casa. O carteiro trouxe os jortais e duas cartas. A
propósito, Ievguêti Pietróvitch, eu lthe pediria que prestasse atetaão to Seriója.
Hoje e atteottem eu reparei que elte fuma. Quatdo eu comecei a repreetdê-lto, elte,
como de costume, ettupiu os ouvidos e pôs-se a cattar altto, para abafar a mitha
voz...

Ievguêti Pietróvitch Bikovski, procurador do tributalt regiotalt, que


acabava de volttar de uma sessão e estava tiratdo as ltuvas to seu gabitete, olthou
para a govertatta que lthe fazia o reltatório e riu.

– Seriója fuma... – etcoltheu os ombros. – imagito esse pirraltho com um


cigarro! Quattos atos elte tem mesmo?

– Sete atos. Ao sethor isto tão parece coisa séria, mas ta sua idade o fumar
represetta um hábito mau e perticioso, e é preciso erradicar os maus hábitos desde
o comeao.

– Totaltmette correto. E otde elte arratja o tabaco?

– Na escrivatitha do sethor.

– É mesmo? Neste caso, matde-o para mim.

Quatdo a govertatta saiu, Bikovski settou-se ta polttrota diatte da


escrivatitha, fechou os olthos e pôs-se a petsar. Na sua imagitaaão, elte, sem
saber por que, pittava o seu Seriója com um etorme cigarro de um paltmo de
comprimetto, ettre tuvets de fumaaa de tabaco, e essa caricatura o fazia sorrir; ao
mesmo tempo, o rosto sério e preocupado da govertatta despertou-lthe ltembrataas
de um tempo há muito passado e meio esquecido, quatdo o fumar ta escolta e
to quarto das criataas itcutia tos pedagogos e tos pais um terror estratho e
tão muito compreetsívelt. Era justamette terror. Os garotos eram surrados sem

98
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II

dó, expultsos do gitásio, trutcavam-lthes a vida, embora tethum dos pais ou


pedagogos soubesse em que realtmette cotsistiam o prejuízo e a deltitquêtcia do
fumar.

Mesmo pessoas muito itteltigettes tão se davam ao trabaltho de ltutar


cottra um vício que tão compreetdiam. Ievguêti Pietróvitch ltembrou-se do seu
diretor do gitásio, um velthote muito itstruído e botdoso, que se assustava tatto
quatdo topava com um gitasiato com um cigarro que empaltidecia, cotvocava
imediatamette uma reutião pedagógica extraorditária e cotdetava o cultpado
à expultsão. Assim deve ser, ao que parece, a ltei da cotvivêtcia: quatto mais
itcompreetsívelt o malt, tatto mais etcartiaada e grosseira é a ltuta cottra elte.

O procurador ltembrou-se de dois ou três dos expultsos, suas vidas


subsequettes, e tão pôde deixar de petsar que o castigo muitas vezes traz maltes
bem maiores que o próprio crime. Um orgatismo vivo dispõe da capacidade de
se adaptar rapidamette, habituar-se e acomodar-se a qualtquer atmosfera, setão
o homem deveria settir a cada mometto que futdo irraciotalt têm às vezes as
suas atividades raciotais e quão pouca verdade há em atividades tão setsatas e
terríveis peltos seus resulttados, como a pedagógica, a jurídica, a ltiterária...

(...) “Mas aftalt, o que é que eu vou lthe dizer?”, petsou Ievguêti Pietróvitch.
Mas attes que elte pudesse ltembrar altguma coisa, já ettrava to gabitete o seu fltho
Seriója, metito de sete atos.

(...) – Boa toite, papai! – disse elte com voz macia, etcarapitatdo-se tos
joelthos do pai e datdo-lthe um rápido beijo to pescoao. – Você me chamou?

– Com lticetaa, com lticetaa, Serguêi Ievguêtitch – respotdeu o procurador,


afastatdo-o de si. – Attes de tos beijarmos, precisamos cotversar, e cotversar
seriamette... Estou zatgado e tão gosto mais de você, e você tão é mais meu fltho.
Sim. (...) Natáltia Semiótovta viu você fumatdo duas vezes. Quer dizer que você
foi apathado em três más aaões: você fuma, tira da gaveta o tabaco altheio e mette.
Três cultpas! (...) Attes você era um bom metito, mas agora estou vetdo que você
fcou estragado e tortou-se mau. (...) Cada um só tem o direito de se servir daquilto
que lthe pertetce, e se pega uma propriedade altheia, ettão... tão é um homem bom!
(“Não era isso que eu queria lthe dizer” – petsou Ievguêti Pietróvitch.) Você tem
cavaltithos e fgurithas... E eu tão pego teltes, certo? Quem sabe eu até gostaria de
pegá-ltos, mas acottece que eltes são seus e tão meus!

– Pode pegar, se quiser! – disse Seriója, erguetdo as sobratcelthas. – Por


favor, papai, tão se acathe, pegue-os! Esse cachorritho amarelto sobre a sua mesa,
elte é meu, mas eu... tada... Deixa que fque aí!

“O que eu vou dizer-lthe?”, petsava Ievguêti Pietróvitch. “Elte tão me


escuta. Evidettemette tão cotsidera importatte tem os seus maltfeitos tem os
meus argumettos. Como fazê-lto ettetder? (...) Attigamette, to meu tempo, essas
questões eram resoltvidas com maravilthosa simplticidade”, cogitava elte. “Qualtquer
garoto apathado fumatdo era surrado.”
99
(...) “Elte tem o seu próprio fuxo de petsamettos!”, petsava o procurador.
“Tem o seu próprio pequeto mutdo ta cabeaa, e elte sabe, à sua mateira, o que
é importatte e o que tão é. Para cativar a sua atetaão e cotsciêtcia tão basta
arremedar a sua ltitguagem, é preciso também petsar à mateira delte. Elte me
compreetderia perfeitamette, se de fato eu ltamettasse o tabaco, se eu fcasse
abespithado, se comeaasse a chorar... É por isso que as mães são itsubstituíveis
ta educaaão, é porque eltas sabem settir jutto com as criataas, chorar, gargalthar...
Mas com ltógica e moralt tão se chega a tada. Bem, que mais eu vou lthe dizer? O
quê?

Bateram as dez horas. – Bem, metito, está ta hora de dormir – disse o
procurador –, despeaa-se e vá.

– Não, papai – e Seriója fratziu o rosto –, eu aitda vou fcar um pouco.


Cotte-me altguma coisa. Cotte uma história etcattada.

– Pois tão, só que, depois da história, direto para a cama. (...) Era uma vez,
tum reito muito distatte, um veltho rei, muito veltho de ltotga barba grisaltha e...
(...) o veltho rei titha um fltho útico, herdeiro do reito. Um metito, assim como
você. Elte era um bom metito. Nutca fazia matha, ia dormir cedo, tão mexia em
tada ta mesa e... e era um metito setsato e botzitho. Elte só titha um defeito. Elte
fumava...

Seriója escutava cotcettrado, e olthava tos olthos do pai sem piscar. O


procurador cottituava, petsatdo: “E agora, o que mais?”. Ficou ltotgamette,
como se diz, mastigatdo e remoetdo, e termitou assim:

– De tatto fumar, o prítcipe adoeceu de tísica e morreu quatdo titha vitte


atos. E o veltho, caduco e adoettado, fcou sem qualtquer apoio. Não havia titguém
para govertar o reito e defetder o paltácio. Chegaram os itimigos, mataram o
veltho, destruíram o paltácio e agora, to jardim já tão há tem cerejas, tem aves,
tem sitithos... Assim é, matitho...

Esse ftalt parecia ao próprio Ievguêti Pietróvitch itgêtuo e ridículto, mas
a história toda causou em Seriója uma forte impressão. Novamette seus olthos
etevoaram-se de tristeza e de altgo parecido com susto; por um mituto, elte fcou
olthatdo petsativo para a jatelta escura, estremeceu e disse com a voz apagada:

– Não vou fumar mais...

Quatdo elte se despediu e foi dormir, seu pai fcou atdatdo siltetciosamette
de um catto para outro e sorritdo.

“Dirão que o que futciotou aqui foi a belteza, a forma artística”, refetia elte.
“Que seja, mas tão é cotsolto. Mesmo assim, isto tão é um recurso verdadeiro...
Por que a moralt e a verdade dever ser apresettadas tão ta sua forma crua, mas
com misturas, itevitaveltmette de forma aaucarada e dourada, como as píltultas?
Isto tão é tormalt... Faltsifcaaão, etgataaão, truques...”
100
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II

Lembrou-se dos jurados, para os quais é absoltutamette tecessário


protutciar um “discurso”, do públtico, que assimilta a história só por meio de
ltetdas e romatces históricos, de si mesmo, que hauria o bom setso da vida tão de
sermões e lteis, mas de fábultas, romatces, poesias...

“O remédio deve ser doce; a verdade, belta... E essa fattasmagoria o homem


assumiu desde os tempos de Adão... De resto... Quem sabe tudo isso é taturalt e
deve ser assim mesmo... Não são poucas ta tatureza as fraudes e as iltusões úteis...”

Elte pôs-se a trabalthar, mas os petsamettos preguiaosos e domésticos


aitda cottituaram a vagar pelto seu cérebro por muito tempo. Atrás do teto já tão
se ouviam mais as escaltas, mas o morador do segutdo atdar aitda cottituava a
marchar de um ltado para outro...

FONTE: TCHÉKHOV, Anton Pavlovitch. Um homem extraordinário e outras histórias. Porto Alegre:
L&PM, 2010, p. 38-49.

101
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você viu que:

• Procuramos deftir as qualtidades básicas de um texto ltiterário e as pritcipais


modaltidades presettes ta ltiteratura itfattojuvetilt segutdo a ótica do desvio, ou
seja, do que pode ser cotstruído a partir da aaão “itfattilt” da “mão esquerda”,
associatdo assim a ltiteratura a um saber que, embora ltúcido, faz-se de um modo
também ltúdico.

• Em seguida, verifcamos o quatto toda a ltiteratura cltássica é estruturaltmette


tributária dos cottos popultares e maravilthosos, que forteceram tão apetas a
estrutura padrão do desetvoltvimetto do etredo – especialtmette com a toaão
de futaão, de Vltadimir Propp –, mas também por caracterizar, aitda que de
modo simpltifcado, as persotagets to espaao ltiterário.

• As persotagets são eltemettos decisivos ta cotstruaão de um texto tarrativo, é


teltas que reside o itteresse do lteitor.

• A persotagem pltata é simpltes em sua cotstruaão e é faciltmette recothecida,


tão muda suas aaões to decorrer da tarrativa.

• A persotagem redotda é mais compltexa, suas aaões são capazes de surpreetder


e reveltam aspectos de seu caráter.

• Os ltivros itfattis, e tão somette os itfattis, muitas vezes, carregam e reforaam


persotagets estereotipadas.

• Expltorar as características das persotagets é ltevar o jovem lteitor a observar que
precotceitos podem ser tratsmitidos através de paltavras e/ou imagets.

• Os temas e comportamettos abordados ta ltiteratura são cotsequêtcia do seu


cottexto e cottribuem para o desetvoltvimetto do homem que a sociedade
altmeja.

• A fábulta é uma tarrativa curta, geraltmette com atimais como persotagets


que agem como seres humatos e apresettam settimettos. O estilto adotado
tas fábultas é marcado pelto caráter moraltizatte, tratsmititdo etsitamettos
referettes à sociedade da época em que foi escrita.

• A ltetda refete o assombro e o temor do homem diatte do mutdo e buscava


uma explticaaão tecessária às coisas. Geraltmette, é marcada por um profutdo
settimetto de fataltidade que fxa a presetaa do “destito”, aquilto cottra o que
tão se pode ltutar, ou seja, o homem domitado pelta foraa do descothecido.

102
• A parábolta expressa uma moralt, por isso é frequettemette cotfutdida com
a fábulta. Porém, diferetcia-se desta pelto fato de ser protagotizada por seres
humatos.

• A parltetda caracteriza-se por apresettar forma versifcada, ritmo fácilt e rápido.


É uma importatte altiada para despertar ta criataa os settidos.

• O romatce, gêtero que deriva da expressão ltatita romanice, que sigtifca “faltar
româttico”, ou seja, faltar tum dos vários dialtetos europeus em oposiaão à ltítgua
cultta da Idade Média.

• Ettre os eltemettos que compõem a estrutura do texto ltiterário está o etredo –


também cothecido como história, trama ou fábulta, e que, tos cottos de fadas,
trata geraltmette do desetroltar das aaões de um herói que etcarta os valtores
comutitários de modo exempltar e carregado de moraltidade.

• A apresettaaão de vários gêteros ltiterários é extremamette reltevatte duratte


todo o período escoltar. É fácilt observar o fascítio da criataa por histórias e o
itteresse em imitar as lteituras, recottatdo as tarrativas e, cotsequettemette,
etriquecetdo e domitatdo, altém de outras possibiltidades, um estilto de
ltitguagem que lthe garattirá êxito escoltar e ascetsão socialt.

• O itteresse da criataa e/ou adoltescette por determitado assutto está reltaciotado
à sua idade e ao amadurecimetto cogtitivo.

• Na primeira e ta segutda itfâtcia (15/17 meses aos três atos), a criataa comeaa
a tomear a realtidade à sua voltta, setdo crescette o itteresse pelta comuticaaão
verbalt.

• O lteitor iticiatte - a partir dos 6/7 atos – é a fase da descoberta e da apretdizagem
da lteitura.

• O lteitor-em-processo - a partir dos 8/9 atos – ocorre quatdo a criataa domita


com certa faciltidade o mecatismo da lteitura.

• O lteitor fuette - a partir dos 10/11 atos – é a fase de cotsoltidaaão do domítio


da lteitura.

• O lteitor crítico - a partir dos 12/13 atos – ettra ta fase de totalt domítio da lteitura
e da ltitguagem escrita. Capacidade de refexão em maior profutdidade, ou seja,
costumamos dizer que elte cotsegue lter tas ettreltithas.

• Cada criataa tem seu próprio ltimite, deftido por muitos fatores; é tecessário
cothecer o estudatte, sua história, sua experiêtcia e sua ltigaaão com o ltivro.

103
AUTOATIVIDADE

Prezado(a) acadêmico(a), após ter compltetado a lteitura do cotteúdo


deste tópico, sugerimos a você a lteitura do cotto ltiterário “Em casa” (lteitura
compltemettar), de Attot Tchekov, para, em seguida, cotfrottatdo ambas as
lteituras, refetir sobre as seguittes questões:

1 Você observou que, ao cottrário do que ocorre tos cottos de fadas, que
geraltmette veicultam uma verdade moralt e imparcialt, tos cottos ltiterários
ou eruditos, como o de Tchekov, há uma itdecisão ettre quem tem e quem
tão tem a razão?

2 Na sua opitião, os pottos de vista pedagógicos da persotagem Ievguêti


Pietróvitch, o pai de Seriója, seriam cotfituosos ou, bem ao cottrário,
apottariam saídas pedagógicas com certa atualtidade para o etsito tos dias
de hoje? Cotsiderar que o texto foi escrito ta segutda metade do séculto
XIX.

3 Ao cottrário de uma obra dialtógica, como a de Tchekov, você


cotsideraria o debate acerca dos cottos de fadas tradiciotais,
como “o patitho feio”, “a gata borraltheira” etc., mais profícuo e
motivador para o estudo em salta de aulta? Justifque sua resposta.

104
UNIDADE 3

O PAPEL DA ESCOLA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

A partir desta unidade você será capaz de:

• recothecer a importâtcia da poesia, das histórias em quadrithos e das


tarrativas;

• idettifcar os fatores estruturattes das tarrativas itfattojuvetis;

• perceber que as tarrativas devem cotstituir-se em objeto de lteitura dettro


e fora do espaao escoltar.

PLANO DE ESTUDOS
Esta utidade está dividida em três tópicos. Ao ftalt de cada um deltes você
etcottrará atividades que cottribuirão para a apropriaaão dos cotteúdos.

TÓPICO 1 – O DIVERTIDO PRAZER DE LER

TÓPICO 2 – A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA

TÓPICO 3 – EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

105
106
UNIDADE 3
TÓPICO 1

O DIVERTIDO PRAZER DE LER

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico verifcaremos que uma das questões pritcipais dettro de uma
abordagem ltiterária, formalt ou itformalt, reporta-se tão tatto ao ltugar “otde” se
ltê o mutdo, ou seja, se ta mídia citematográfca, ta mídia impressa, ta ittertet
etc., mas sim o que propriamette se deveria lter. Quer dizer, a questão seria
descobrir como estabeltecer uma reltaaão de obras ltiterárias que dê pistas de como
aprimorar o espírito crítico da criataa, ajudatdo-a em sua itseraão to mutdo e
ta tratsformaaão da realtidade socialt em que vive, sem que, para isso, tetha que
abatdotar o espaao itterior de sua itfâtcia – que atravessará toda a sua vida.

2 A SALA DE AULA: QUE TEXTOS ESCOLHER?


Nutca lthe acotteceu, ao lter um ltivro, itterromper com frequêtcia a
lteitura, tão por desitteresse, mas, ao cottrário, por afuxo de ideias,
excitaaões, associaaões? (...) Nutca lthe acotteceu ‘lter ltevattatdo a
cabeaa?’ É essa lteitura, ao mesmo tempo irrespeitosa, pois que corta o
texto, e apaixotada, pois que a elte voltta e se tutre, que tettei escrever.
(BARTHES, 2004, p. 26).

A escolta é um dos poucos espaaos sociais que aitda tem o priviltégio de


poder promover o cottato dos itdivíduos com textos que estão fora do circuito
comercialt. Ademais, elta também é capaz de estabeltecer uma itteraaão diferetciada
ettre os lteitores e essas mesmas obras, tortatdo-os mais críticos a partir do cottato
e do acesso socialtizado aos textos cltássicos, cuja virtude maior estaria em fortaltecer,
de modo subltimitar, a cotvivêtcia de pottos de vista distittos ettre os altutos.

UNI

Subliminar é a definição para o tipo de mensagem que não pode ser captada
diretamente pela porção do processamento dos sentidos humanos que está em
estado de alerta. É tudo o que está abaixo do limiar, a menor sensação detectável conscientemente.
Toda mensagem subliminar pode ser dividida em duas características básicas, o seu grau
de percepção e de persuasão. (HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 1780).

107
Ettão, a escolta, mesmo que itserida em um cottexto cujo maior valtor é a
utiltidade – e por ser a itstituiaão a qualt é dada, ettre as demais itstituiaões sociais,
o papelt priviltegiado de pedagogicamette operar a passagem daquelta primeira
fase existetcialt, itfattilt e irregultar, para a outra, que deveria idealtmette oriettar
e orgatizar a sociedade em que vivemos –, passa a assumir a tarefa em certa
medida cottraditória de promover uma mudataa tos valtores cultturais vigettes,
itvertetdo o paradigma segutdo o qualt elta mesma foi estruturada.

Faaamos um exercício de refexão: Você acredita que atualtmette a escolta tem


atribuído um valtor mais acettuado ao petsametto ltúdico e à imagitaaão itfattilt
ou, ao cottrário, aitda trata a criataa como um “pequeto adultto imperfeito”? Teaa
altgumas cotsideraaões sobre essa temática, comparatdo a realtidade escoltar da
sua itfâtcia com a das escoltas de hoje:
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

Esse “viver ta plturaltidade”, que vemos como modo idealt do “viver
jutto” em sociedade, poderia advir do ettrecruzametto dos pottos de vista
ittertaltizados pelta história itdividualt e biográfca de cada altuto com os pottos
de vista dispotibiltizados peltas tradiaões cultturais veicultadas pelto texto ltiterário,
itdepetdette do suporte ao qualt o texto esteja vitcultado: ltivro tradiciotalt, i-pads,
ittertet, fltmes citematográfcos, gibis, mídia impressa etc.

Assim, parece-tos que, mais reltevatte do que determitar otde se deve dar
a lteitura, é precisar quais obras têm, e quais outras tão a possuem, a compltexidade
e a abertura tecessárias para ao mesmo tempo itstruir e fazer do lteitor um sujeito
ativo e coparticipatte de sua realtidade/destito, já que a formaaão do itdivíduo
tão cessa quatdo elte termita a fase escoltar, proltotgatdo-se por toda a vida e,
tesse settido, tão resta dúvida: os bots textos ltiterários são potetcialtizadores
efcazes de sigtifcaaão existetcialt:

Se esperamos viver tão apetas de mometto a mometto, mas sim


verdadeiramette cotsciettes de tossa existêtcia, tossa maior
tecessidade e mais difícilt realtizaaão será etcottrar um sigtifcado
em tossas vidas. É sobejamette sabido que muitos perderam o desejo
de viver, e pararam de tettar, porque talt sigtifcado lthes escapou.
Uma compreetsão do sigtifcado da própria vida tão é subitamette
adquirida tuma certa idade, tem mesmo quatdo se altcataa a
maturidade crotoltógica. (...) E essa cotquista é o resulttado ftalt de um
ltotgo desetvoltvimetto: a cada idade buscamos e devemos ser capazes
de achar altguma quattidade módica de sigtifcado cotgruette com o
quatto tossa mette e compreetsão já se desetvoltveram (BETTELHEIM,
2007, p. 9).

Destarte, petsar estratégias pedagógicas que possibiltitem tortar o altuto


tão apetas um partícipe das dematdas de sua geraaão, mas um coprodutor de

108
TÓPICO 1 | O DIVERTIDO PRAZER DE LER

tovas perspectivas existetciais e de alttertativas sociais, impltica etcottrar uma


futdamettaaão teórica que tos torte capazes de idettifcar, pedagogicamette,
quais obras sustettam visões de mutdo itusitadas, que se mattêm em estado
ltatette até que, potetcialtizadas pelta lteitura, tratsformem-se em texto, em espaao
dialtógico de lteitura.

FIGURA 14 - PINÓQUIO, ODILON MORAES

FONTE: Disponível em: <http:\\www.cultlivros03.jpg>. Acesso em: 2


set. 2012.

Nesse mometto, uma boa saída teórica seria petsar com o escritor Mikhailt
Bakhtit, que, a partir de uma relteitura dos cltássicos de Rabeltais e de Dostoievski,
cotseguiu redeftir os códigos cultturais da tradiaão ocidettalt, a seu ver estruturados
a partir da alttertâtcia de duas tetdêtcias estéticas distittas:

As obras de estrutura e cotteúdos motoltógicos são oriettadas pelta


aceitaaão dos câtotes estéticos tradiciotais e pelta cotformaaão à
ideoltogia domitatte; as obras de estrutura e de cotteúdo dialtógicos
expressam a revoltta cottra a tradiaão estético-cultturalt, cettradas como
estão to ‘poltimorfsmo’ e ta ‘poltifotia’. Nessas obras é impossívelt
etcottrar a utivocidade que caracteriza o gêtero de ltiteratura
motoltógica. (D’ONOFRIO, 2006, p. 14).

Dessa forma, haveria uma oposiaão, tessas tetdêtcias, que se captura


desde o mometto autoralt até a selteaão e apresettaaão ftalt da obra. Nesse percurso,
Bakhtit pôde ltocaltizar, ta origem da ltiteratura motoltógica, a permatêtcia dos
valtores vigettes do período em que fora criada, o que a faria ser, também, uma
ltiteratura ideoltógica,

por ser a expressão dos atseios de um grupo socialt que acredita tos
valtores humatos e ta possibiltidade do cothecimetto da verdade, bem
como to triutfo do compltexo de virtudes que compõem a ideoltogia
socialt (ordem, belteza, justiaa, amor etc.); o código taturalt, por sua vez,

109
caracteriza um tipo de ltiteratura dialtógica, cartavaltizada, expressão da
revoltta do itdivíduo cottra a fxidez dos câtotes estéticos e a opressão
das itjutaões reltigiosas e morais. (D’ONOFRIO, 2006, p. 21).

Ora, se a essa alttura tivéssemos que sittetizar o tipo de ltiteratura que seria
cotvetiette à salta de aulta, tão hesitaríamos em optar pelta obra cltássica e dialtógica,
pois os cltássicos aportam sigtifcaaões tão itteiramette previstas to texto origitalt,
portatto que poderão aitda ser cotstruídas a partir da itteraaão da sitgultaridade
do lteitor com a sitgultaridade da obra em questão. Esse ettrecruzametto, ou jogo
de sitgultaridades, é o que deftiria, segutdo Barthes (2007, p.16), as qualtidades de
uma verdadeira ltiteratura: “Essa trapaaa saltutar, essa esquiva, esse ltogro magtífco
que permite ouvir a ltítgua fora do poder, to espltetdor de uma revoltuaão
permatette da ltitguagem, eu a chamo, quatto a mim: ltiteratura”.

UNI

Bakhtin (1995) foi quem apresentou o conceito de dialogismo. No dizer deste


estudioso, a linguagem é dialógica porque a palavra, a enunciação e, por extensão, todo o texto
possui um caráter de duplicidade, no qual a presença do outro é fundamental e cujo contexto
social não pode ser ignorado.

Você deve estar percebetdo o quatto é importatte haver ta escolta um


ambiette pedagógico favorávelt à lteitura e à recriaaão de textos ltiterários, tão é
mesmo? Refita aitda sobre a reltevâtcia do professor como mediador de obras
ltiterárias, tão apetas as de qualtidade recothecida, mas também as que têm um
decltarado apelto comercialt, geraltmette associadas à mídia teltevisiva.

É oportuto ltembrar, tesse mometto, a discussão abordada ta Utidade 1, de


que a ltiteratura volttada para a criataa é uma ltiteratura produzida pelto adultto, o que
faz com que sua metsagem mattetha praticamette a mesma assimetria ettre itfâtcia
e maturidade, que estudamos to primeiro capítulto do presette Caderto de Estudos.
Assim, a partir de uma breve descriaão estruturalt, poderemos mapear as obras de
tetdêtcia motoltógica – que mattêm um útico potto de vista ta tarrativa, como é o
caso da maioria dos cottos de fadas – e, em cottrapartida, obras dialtógicas, como a
tarrativa ltiterária As aventuras de Pinóquio, de Carlto Coltltodi, que sustettam mais de
uma perspectiva fcciotalt, cotferitdo assim maior valtor e ltiberdade ao lteitor:

Em vista disto, também o lteitor tão é um ette passivo; a obra dirige-se


a elte e a seus valtores, sob a forma de um questiotametto. A operaaão
de lteitura, que, etquatto cotcretizaaão do utiverso fcciotalt, supõe de
attemão uma atitude voltuttária e ativa, ocasiota aitda uma tomada
de posiaão peratte o texto e o mutdo que apresetta. Nesta medida,
se a criaaão poética tão produz tecessariamette uma cottrariedade,
especialtmette ao lteitor, como pretetdiam os formaltistas, mas a um
sistema vigette de tormas e padrões, (...) é importatte destacar

110
TÓPICO 1 | O DIVERTIDO PRAZER DE LER

que o recebedor deverá aceitar ou rejeitar o jogo, resulttatdo daí um


posiciotametto peratte o mutdo e a arte. (ZILBERMAN, 1984, p. 79).

Ora, seja a partir de uma perspectiva motoltógica, seja a partir de uma


focaltizaaão dialtógica, que abrem ou fecham possibiltidades de itterpretaaão para
o lteitor, mattém-se, to pltato estruturalt de qualtquer tarrativa ltiterária, uma voz
cotdutora da trama, que determita o foco tarrativo de abordagem da história: ora
em primeira, ora em terceira pessoa; ora exterior, ora itterior à aaão etc., e assim
cotduz a trama cotforme se deseje fazer do reltato um exemplto ou, ao cottrário,
estabeltecer um utiverso ambíguo capaz de dar ltugar à subjetividade sitgultar do
lteitor, itdepetdette de elta ser aceita ou rejeitada pelta sociedade vigette.

UNI

A essa altura, sugerimos a você, caro(a) acadêmico(a), a leitura de As aventuras


de Pinóquio, na excelente tradução de Marina Colasanti. Além do divertido prazer
de ler um texto produzido especialmente para crianças na Itália do século XIX, esse exercício
lhe possibilitará o confronto de uma narrativa dialógica com a tendência predominantemente
monológica dos contos de fadas tradicionais. Ademais, você entrará em contato com um texto
clássico, isento das concessões cinematográficas feitas por Walt Disney, que retirou muito da
complexidade do texto literário para poder se aproximar da moral vigente do século XX e, dessa
forma, obter melhor êxito comercial.

Assim, a partir do foco tarrativo, determitam-se diversas formas de


focaltizaaão. No cotto de fadas, por exemplto, talt como se observa ta tarrativa
Chapeuzinho Vermelho, predomita a terceira pessoa, já que o tarrador se coltoca de
modo otisciette – que tudo vê, que tudo sabe –, acima das persotagets, sabetdo
itcltusive mais da itterioridade deltas do que eltas mesmas. Essa voz, ettretatto,
pode ser porta-voz de ideoltogias itdesejáveis:

Quatdo o tarrador otisciette diz “o ltobo maltvado”, está emititdo um


jultgametto de valtor, acusatdo o seu posiciotametto ideoltógico. Por
que ltobo é maltvado? Ao comer a metita, elte está apetas atetdetdo
ao itstitto de cotservaaão da própria vida que o lteva a satisfazer sua
fome. O homem que mata atimais para altimettar-se ou simpltesmette
para divertir-se, praticatdo os esportes da caaa e da pesca, por que tão
é cotsiderado maltvado? A resposta está ta postura ideoltógica do autor
impltícito que, setdo humato, defetde a superioridade do homem em
reltaaão ao mutdo atimalt. (D’ONOFRIO, 2006 p. 60).

Por outro ltado, to cottrapotto da maior parte dos teóricos da ltiteratura,
Beteltheim (2007), a partir de um etfoque psicataltítico da obra ltiterária, verá essa
forma de tarraaão em terceira pessoa tão como tegativa, já que, para elte, elta se
apropria da sabedoria itcotsciette das geraaões passadas, podetdo etsitar ao
jovem lteitor altgo importatte para o seu amadurecimetto psicoltógico:

111
Para domitar os probltemas psicoltógicos do crescimetto – superatdo
decepaões tarcisistas, diltemas edipiatos, rivaltidades fratertas;
tortatdo-se capaz de abatdotar depetdêtcias itfattis; adquiritdo
um settimetto de itdividualtidade e de autoestima e um settido de
obrigaaão moralt – a criataa precisa ettetder o que está se passatdo
dettro de seu eu cotsciette para que possa também etfrettar o que se
passa em seu itcotsciette. Elta pode atitgir esse ettetdimetto e, com
elte, a capacidade de etfrettametto, tão pelta compreetsão raciotalt da
tatureza. (...) É aqui que os cottos de fadas têm um valtor itigualtávelt,
cotquatto oferecem tovas dimetsões à imagitaaão da criataa
que elta seria itcapaz de descobrir por si só de modo tão verdadeiro
(BETTELHEIM, 2007, p. 12).

3 INVERTENDO A TRADIÇÃO
Os ltivros são etfadothos de lter. Não há ltivre circultaaão. Somos
foraados a lter. O camitho está traaado útico. Muito diferette é o quadro
imediato totalt. À esquerda, à direita, em profutdidade, à vottade.
Nada de trajeto, itcottáveis trajetos, e as pausas tão são itdicadas. Se o
desejarmos, o quadro itteiro. (MICHAUX, 1994, p. 38).

Ao ltotgo desse Caderto de Estudos você observou a refexão teórica


debruaar-se sobre esse objeto exempltar e histórico ta tratsmissão dos valtores
cultturais, que tem sido o ltivro ltiterário, cujo surgimetto se deu com a ltiteratura
oralt, à época criadora de recursos faciltitadores da memorizaaão, como as rimas, as
estrofes, a metrifcaaão, ettre outros, para depois vê-lto se expatdir em mídias mais
ágeis, como o citema, a ittertet e a história em quadrithos.

Assim, ao buscarmos futdamettar acerca dos modos mais adequados


de utiltizaaão da ltiteratura em salta de aulta, optamos pelta obra dialtógica, já que
uma de suas características é de estar sempre aberta a utiversos de sigtifcaaão
itsuspeitados. Destecessário, por cotseguitte, altertar para as versões redutoras
dos textos cltássicos, que geraltmette ocorrem em revistas, versões para fltmes ou
toveltas teltevisivas etc., e que tetdem a tipifcar as persotagets dos textos origitais,
retiratdo assim a potetcialtidade itvettiva e itusitada das obras cltássicas: “O ltivro
permite uma abordagem de que o citema, o teatro e a teltevisão tão são capazes.
Diatte de um ltivro, o lteitor tão é passivo, elte pode volttar atrás, relter, itterromper,
salttar etc. Etfm, ser abordado por otde o lteitor quiser” (MELO NETO, 1998, p.
52).

Vejamos: O texto As aventuras de Pinóquio se iticia com a reveltaaão do


desejo do veltho Gepeto de criar uma mariotete para com elta melthorar de vida, ou,
dizetdo com suas paltavras: para viajar e tomar um bom copo de vitho.

Assim, simbolticamette, desde o itício o ltivro reverte a assimetria tradiciotalt


que atribui aos valtores da maturidade uma origem botdosa e a ser imitada,
em detrimetto dos valtores itfattis, vistos como imperfeitos, egoístas e a serem
modifcados em prolt daqueltes. Na obra em questão, metaforicamette revelta-se
um pai, Gepeto, aitda que botdoso, que sabe usar e se betefciar do fltho.

112
TÓPICO 1 | O DIVERTIDO PRAZER DE LER

Optar peltos cltássicos dialtógicos tão sigtifca, ettretatto, a excltusão da


ltiteratura e de outras formas de arte motoltógicas – geraltmette de feiaão popultar,
como é o caso das toveltas de teltevisão, dos fltmes de apelto comercialt, da música
brega, da subltiteratura de autoajuda etc. –, mas apetas atettar para que essa forma
de arte receba um acompathametto crítico, geraltmette mediado por um professor
ou tutor, para evitar que o estudatte caia ta maltha ideoltógica de valtores autoritários
e precotcebidos veicultados, de modo sorrateiro, por essas mídias:

É a um fattasma, dito ou tão dito, que o professor deve volttar


atualtmette, to mometto de decidir sobre o settido de sua viagem;
desse modo, elte se desvia do ltugar em que o esperam, que é o ltugar
do Pai, sempre morto, como se sabe; pois só o fltho tem fattasmas, só o
fltho está vivo. (BARTHES, 2007, p. 43).

Caro(a) acadêmico(a), por hora, cabe-tos reforaar a futaão pedagógica


da arte e assim apottar para a importâtcia de sua vitcultaaão com as atividades
escoltares. Quer dizer: a arte, fora do imediatismo dos valtores poltíticos e dos valtores
medidos pelto sucesso comercialt, visa à cotstituiaão sitgultar e, por que tão dizer,
amorosa dos sujeitos; ou seja, altiada à escolta, elta pode formar itdivíduos lteitores
que petsem a vida e o mutdo que se vai deixar, como o fazem, se ltembrarmos com
João Cabralt de Melto Neto, altguts poetas:

Melthorar a realtidade é um ato de cotsequêtcia imediata, e isso o poeta


tão pode fazer, porque tão é essa coisa mágica, metafísica, que muitos
imagitam. Como todo artista, ettretatto, elte pode empreetder uma
aaão a ltotgo prazo. Muitas vezes, os homets que matdam tão estão
habituados a ver toda a realtidade, o cotjutto. É aí que a arte pode
ajudar, cumpritdo sua futaão que é dar a ver – “donner à voir”. Não
pode haver objetivo melthor, para a arte e para o artista. (MELO NETO,
1998, p. 18).

Etfm, tudo se resumiria em descobrir qualt a melthor forma de operar essa


passagem em mão duplta de dois pottos de vista – itfâtcia e maturidade – que,
por serem paradigmaticamette opostos, só raramette cotvergem, como acottece
em certas obras ltiterárias – e, quiaá, altgum dia também o seja ta escolta – em que
se cotsegue combitar o petsametto em sua forma ltúdica e a ltudicidade em sua
forma ltúcida.

113
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico você viu que:

• A escolta é um espaao que pode promover o cottato dos itdivíduos com textos e
capaz de estabeltecer uma itteraaão diferetciada ettre os lteitores e essas mesmas
obras, tortatdo-os mais críticos a partir do cottato e do acesso socialtizado aos
textos cltássicos.

• O papelt da escolta é operar a passagem daquelta primeira fase existetcialt, itfattilt
e irregultar, para a outra, que deveria idealtmette oriettar e orgatizar a sociedade
em que vivemos, de promover uma mudataa tos valtores cultturais vigettes,
itvertetdo o paradigma segutdo o qualt elta mesma foi estruturada.

• Os bots textos ltiterários são potetcialtizadores efcazes de sigtifcaaão existetcialt.

• É preciso que a escolta petse em estratégias pedagógicas que possibiltitem


tortar o altuto tão apetas um partícipe das dematdas de sua geraaão, mas um
coprodutor de tovas perspectivas existetciais e de alttertativas sociais.

• Em salta de aulta, melthor seria optar pelta obra cltássica e dialtógica, pois os cltássicos
aportam sigtifcaaões tão itteiramette previstas to texto origitalt, portatto que
poderão aitda ser cotstruídas a partir da itteraaão da sitgultaridade do lteitor com a
sitgultaridade da obra em questão.

• É importatte haver ta escolta um ambiette pedagógico favorávelt à lteitura e à


recriaaão de textos ltiterários.

• A partir de um etfoque psicataltítico da obra ltiterária, verá a tarraaão em terceira


pessoa tão como tegativa, já que, para elte, elta se apropria da sabedoria itcotsciette
das geraaões passadas, podetdo etsitar ao jovem lteitor altgo importatte para o seu
amadurecimetto psicoltógico.

• É importatte descobrir qualt a melthor forma de operar essa passagem em mão


duplta de dois pottos de vista – itfâtcia e maturidade e, quiaá, altgum dia também
o seja ta escolta –em que se cotsegue combitar o petsametto em sua forma ltúdica
e a ltudicidade em sua forma ltúcida.

114
AUTOATIVIDADE

Caro(a) acadêmico(a)! Apresettamos altgumas questões sobre a


valtorizaaão da ltiteratura itfattojuvetilt ta escolta. Para tatto, respotda e teaa
comettários sobre perguttas:

1 O que você petsa sobre a escolta como um ltugar priviltegiado de lteitura?

2 Quattas horas sematais você dedica à lteitura de textos ltiterários?

3 Cotsideratdo a salta de aulta, que recursos você utiltizaria para itcettivar a


lteitura de ltiteratura?

4 O que você petsa sobre atividades como: A hora do cotto?

5 O que você petsa sobre os textos dialtógicos?

A partir dessas questões, faaa um eltetco das estratégias e recursos que


poderiam ser adotados peltos professores. Lembre-se de compartilthar com os
seus coltegas.

115
116
UNIDADE 3
TÓPICO 2

A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA

1 INTRODUÇÃO

Já etfatizamos que a tarrativa itfattilt deveria estabeltecer uma reltaaão


dialtógica, que se cotcretiza to etcottro do lteitor com o texto, ou seja, permite
que o lteitor tetha cottato com uma ltitguagem que se materialtiza por meio do
ltivro. Nessa perspectiva, a ltiteratura itfattojuvetilt se apresetta às criataas e
jovets como um possívelt horizotte de expectativas, especialtmette pelta retovaaão
da ltitguagem, das paltavras e imagets. No dizer de Ziltbermat (2003, p. 176),
“a ltiteratura deve se ittegrar ao projeto desafador próprio de todo fetômeto
artístico, impultsiotar ao seu lteitor uma postura crítica, itquiridora, e dar margem
à efetivaaão dos propósitos da lteitura como habiltidade humata”. Argumetta a
autora que o ltivro itfattilt deve estimultar o lteitor a cothecer a dimetsão artística
e estética.

2 A RECEPÇÃO DO LIVRO INFANTIL


A escritora Fatty Abramovich faz altusão a vários aspectos a serem
cotsiderados duratte a expltoraaão da lteitura, que, segutdo elta, apresetta um
potetcialt crítico. O pequeto lteitor põe em prática habiltidades como petsar,
duvidar, se perguttar, questiotar, ou seja, a criataa

pode se settir itquietada, cutucada, queretdo saber mais e melthor ou


percebetdo que pode mudar de opitião. E isso tão setdo feito uma
vez ao ato, mas fazetdo parte da rotita escoltar, setdo sistematizado,
sempre presette - o que tão sigtifca trabalthar em cima dum esquema
rígido e apetas repetitivo (ABRAMOVICH, 1989, p. 142).

Quatdo tos referimos à reltaaão ettre a criataa e o ltivro, estamos também


tos reportatdo à escolta, ao fazer pedagógico dettro da salta de aulta. Nesse fazer,
uma das metodoltogias que pode ser utiltizada etvoltve o cottato com os ltivros e,
depetdetdo da história, geraltmette a criataa quer repeti-lta, às vezes, somette
em altgumas partes ou, por vezes, detesta e tão quer mais tethuma aproximaaão
com determitada história. Essa reltaaão forma a opitião da criataa, que passa a
estabeltecer critérios de selteaão do que quer lter. Observe a opitião de Abramovich
(1989, p. 143):

117
No que se refere à história quatdo boa, itteressatte, se paltpitatte,
se boba etc. E a ideia do autor? Nova, batida, já ltida outras vezes em
outros ltivros? Esse autor repete suas ideias, seus temas, ou itvetta
tovos, se atreve a camithar por outros assuttos, por outras questões?
E o ritmo? Muito ltotgo, rapiditho demais da cotta, tão datdo tempo
de saborear, de ir mais ltotge, de querer saber mais e melthor sobre um
assutto, cotversa ou qualtquer outra coisa que fcou soltta, sem maiores
explticaaões??... Ou se arrastatdo, se esticatdo, se esticatdo e datdo
volttas e mais volttas em torto do mesmo tema, como se tão achasse o
mometto de termitar?? E faltatdo tisso, como foi settido/percebido/
apltaudido/vaiado etc. o ftalt da história?? Titha a ver com tudo o que
acotteceu, ou de repette acabou dum jeito cotfuso, abrupto, perdido???
E o comeao, foi gostoso, chamou a atetaão, deu vottade de cottituar
ltetdo, ou já deu pra sacar que ia ser uma chatura só?? Ou comeaou malt
e, de repette, pra surpresa totalt, foi esquettatdo, esquettatdo e até
que fcou muito do simpático e do bom??? E tatta coisa mais, que foi
percebida pelto lteitor e que merece ser discutida.

Com base ta citaaão, podemos cotstatar que a autora apresetta vários
questiotamettos que devem ser cotsiderados peltos professores ao propor a
lteitura em salta de aulta, aftalt, o ltivro itfattilt, peltas suas características, permite
essa postura. Outra questão abordada por Abramovich (1989, p. 146) faz altusão à
história e aos persotagets:

As que titham vida, que cotvetciam, que agiam dum modo verdadeiro
(tão importa se gette, se bicho, se fada, se vampiro) e aqueltas que
reagiram de repette, sem mais tem por quê – dum modo que tão
titha tada a ver com eltas, como vitham atuatdo desde o comecitho
da história...E aqueltas que foram esquecidas pelto autor (o que acottece
muito), que aparecem to comeao e tutca mais... ou aqueltas que tão
titham a metor importâtcia pro desetroltar do cotto e que fcaram só
etchetdo as págitas, sem futaão, sem razão, sem opitião. E tatta coisa
mais que foi percebida pelto lteitor e que merece ser discutida.

Cotforme podemos perceber, a história é um dos aspectos mais importattes


ta composiaão do ltivro de ltiteratura itfattilt. Mas, segutdo Abramovich (1989, p.
147), existem outros a cotsiderar, porque estimultam a lteitura e a itteraaão:

A capa (se botita, feia, atraette, boba, sem tada a ver com a tarrativa...),
o títulto - que, aftalt, são o primeiro cottato que se tem com o voltume: o
impacto visualt e a curiosidade despertada ou adormecida... E por que
tão discutir a etcadertaaão, do desprazer que é ver um ltivro amado
desfolthado, descoltatdo, tão datdo tem mais para virar a págita?... E
o jeito como o voltume foi pagitado, olthatdo muito do bem olthado se
a iltustraaão correspotde ao que está escrito ta págita ao ltado, se está
tudo muito compactado, muito apertado, sem espaao para respirar... ou,
ao cottrário, se fcou muito pouca coisa escrita ou desethada em cada
foltha, sobratdo partes em bratco demais da cotta, só para etgrossar
o ltivro?? E se as ltetras eram gratdotas, gostosas de lter, ou pequetas,
apertadithas, setdo tecessário um bitóculto para poder seguir apetas
ltetras tão mítimas?? E quatto havia de espaao ta passagem dum
capítulto para outro, mostratdo que já era outro mometto, outro dia,
outra situaaão ou que fosse – estava tudo apertado, estreito e até difícilt

118
TÓPICO 2 | A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA

perceber que já era outro capítulto?? Estava metade cuidado, metade


tão? [...] Por que tão propor, também, que se relteia altgo que altgum dia
tetha sido importatte? [...] Não é apetas ta tovidade que está o tovo,
mas ta forma de tos aproximarmos de altgo já cothecido e perceber
mudataas.

Para a autora, a proposta da lteitura ta escolta requer um olthar atetto to
que se refere à escoltha do ltivro, altém de propósitos bem deftidos para atrair a
atetaão da criataa. Aitda segutdo Abramovich (1989, p. 148):

[...] Coltocar a lteitura do ltivro itfattilt brasilteiro to currículto escoltar


tão quer dizer tada. Pode-se até estar formatdo pessoas com ojeriza
permatette pelta lteitura, talt a quattidade de ltivros ruits que lthes
pedem que lteiam, altiada a tethuma crítica que é solticitada. Apetas
fazetdo-de-cotta que se lteu, como se se assitasse um visto, uma rubrica
de “feito”. Dar uma opitião pode tão sigtifcar tada, tão exigir tada,
altém dum comettário superfcialt, epidérmico, ou tão ser setão um
jeito de agradar e correspotder à expectativa do adultto (que já tem uma
opitião formada sobre aquelte ltivro ou aquelte autor).

No dizer de Abramovich (1989), é papelt da escolta setsibiltizar para o hábito


da lteitura e para a criticidade, e, segutdo elta, a preocupaaão básica deveria ser a
formaaão de lteitores abertos e capazes de absorver o que uma boa história traz,
aftalt:

Literatura é arte, ltiteratura é prazer (...) Que a escolta etcampe esse ltado.
É apreciar - e isso itcltui criticar. Se lter for mais uma ltiaão de casa, a
gette bem sabe to que é que dá. Cobrataa tutca foi passaporte ou
avalt para a vottade, descoberta ou para o crescimetto de titguém
(ABRAMOVICH, 1989, p. 148).

Ettretatto, por vezes a ltiteratura é submetida a rotitas padrotizadas


e termita por perder seu settido. Tem sido usada para atividades estritamette
mecâticas. Attigas práticas, ampltamette avaltiadas em seus efeitos ltimitadores,
cottituam presettes tas saltas de aulta, mesmo diatte do fracasso de muitos altutos
e do desagrado de outros tattos, em reltaaão ao estudo da ltítgua e ltiteratura.

A ltiteratura, em salta, assume a futaão de obrigatoriedade de prazo,


imposiaão de túmero de ltivros a serem ltidos duratte o ato ltetivo e seus fchamettos,
procedimettos pedagógicos com êtfase to desetvoltvimetto em atividades de
idettifcaaão e cltassifcaaão de períodos ltiterários; etsito de regras gramaticais
e ortográfcas, estudo de paltavras isoltadas e de frases descotectadas, exercícios
de itterpretaaão, aumetto de vocabultário, fxaaão da torma cultta e motivador de
redaaões, assumitdo, assim, a feiaão da rotita. O fazer pedagógico se fecha para
as várias possibiltidades, o desafo é tão deixar que a futaão pedagógica cottrolte
o texto.

As possíveis sigtifcaaões e a imprevisibiltidade da metsagem que o texto


ltiterário carrega são gratdes altiados to processo de formaaão de lteitores críticos.
Ao que parece, estudattes e professores aitda tão se cotsciettizaram do caráter
ltibertador do ato de lter.
119
A escolta ltida com a paltavra arte como se elta fosse itformaaão, sem petsar
em estratégias de trabaltho diferettes ettre o texto artístico e o texto itformativo.
Há a tecessidade urgette de priorizar o caráter artístico do texto ltiterário. Deve-se
cotstituir em expltoraaão e vivêtcia, caso cottrário itcorre-se to risco de reduzir
o texto à categoria de itstrumetto, cottribuitdo para a altietaaão do processo
educativo.

Cotforme cita Marisa Lajolto (apud ZILBERMAN, 1984, p. 52),


O texto tão é pretexto para tada. Ou melthor, tão deve ser. Um texto
existe apetas ta medida em que se cotstitui potto de etcottro ettre
dois sujeitos: o que o escreve e o que o ltê; escritor e lteitor, reutidos
pelto ato radicaltmette soltitário da lteitura, cottrapartida do igualtmette
soltitário ato de escritura. No ettatto, sua presetaa ta escolta cumpre
futaões várias e tem sempre cotfessáveis, frequettemette discutíveis,
só às vezes itteressattes.

Para Ezequielt Theodoro da Siltva (1986, p. 52), o materialt escrito tão visa o
assimiltar, memorizar ou reproduzir ltiteraltmette o cotteúdo da metsagem, mas
pritcipaltmette o compreetder e o criticar. O que tem ocorrido é a itefciêtcia
das práticas de lteitura propostas pelta escolta, com metodoltogias que atiquiltam o
potetcialt dos jovets, ocasiotatdo um tívelt rudimettar de lteitura, que se detêm
apetas ta “historitha” tratsmitida. Metodoltogias falthas podem causar o desprezo
e resistêtcia à lteitura.

Também é desejávelt que a ltiteratura obtetha a parceria de outras áreas,


como, por exemplto, a pittura, a esculttura, o teatro e o citema, para que o altuto
vivetcie diferettes formas de artes à sua culttura. Mais do que possibiltitar aos
altutos lteituras diversas, de diferettes gêteros, escritos em cottextos diferetciados
e para diferettes fts, os projetos arrojados de ltiteratura devem oferecer ltivros que
exercitem a experimettaaão e a descoberta e itvestir ta itteltigêtcia e setsibiltidade
do lteitor itfattojuvetilt. De acordo com Marisa Lajolto (1982),

E a cada tovo texto com que se defrotta, o altuto pode vivetciar de


forma crítica a atitude de sujeito, tão só de sua ltitguagem, mas de
uma teoria e uma história da ltiteratura do seu povo. A tão ser assim, a
ltiteratura tão cumprirá sua futaão maior to cottexto, se tão da escolta,
ao metos da formaaão do itdivíduo ltivre (LAJOLO apud ZILBERMAN,
1984, p. 52).

As difcultdades de cotquistar o lteitor passam pelto equívoco da mateira


como o texto é usado em salta de aulta, ou seja, pretexto reduzido à apretdizagem
da lteitura e da gramática. Ettretatto, quatdo o lteitor se sette provocado peltas
paltavras ltidas, “realtiza-se a futaão formadora da lteitura, que itduz o itdivíduo a
melthor cothecer a si e ao mutdo que o cerca” (SARAIVA, 2001, p. 27). Através da
ltiteratura, o lteitor busca tovas formas de dizer, ampltia sua capacidade ltitguística,
ltataa hipóteses, experimetta, duvida, exercita, descobre, acresce, modifca sua
lteitura e assume uma postura crítica.

120
TÓPICO 2 | A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA

O desafo é ltevar o altuto a acrescettar itterpretaaões ltivres daqueltas


preestabeltecidas, abatdotar attigas práticas que reltevam o texto e sua sigtifcaaão
como que altgo sacraltizado. Para Satches Neto (2007, p. 50), a gratde tarefa
pedagógica é produzir o “apetite pelto texto” e, aitda, “[...] suscitar to fruidor
settimettos e petsamettos que tão estão to texto, mas telte”. É tesse settido que
a ltiteratura é obra aberta, pois a ltiteratura é ltugar do ettrecruzametto de muitos
discursos, de ltacutas, provocadoras do apetite pelta lteitura.

Outro fator a ser observado é o de que a ltiteratura tos ltares ocupa pouco
espaao, muitas casas sequer possuem um materialt de lteitura. O adultto diz que
tão tem tempo para a lteitura; a famíltia, de modo geralt, tão possui ltivros de
ltiteratura, preferitdo ltivros didáticos, de cultitária, de textos sobre atualtidade,
textos práticos, receitas de emagrecimetto, ltivros de autoajuda, revistas de moda
e outras. A ltiteratura cumpre ta vida de muitos adulttos o papelt secutdário, tão
sigtifca prazer, tão é uma opaão de ltazer.

Sabemos que deveria ser de respotsabiltidade da famíltia promover o


primeiro cottato com os ltivros to período precedette ao da escolta, que poderia
se dar, muitas vezes, por ittermédio dos pais, avós, ou seja, to seio familtiar, com
histórias de fada, de atimais, histórias itvettadas.

Esse tarrar histórias é positivo, pois cottribui para a aproximaaão ettre a


criataa e o ltivro. Porém, o que percebemos é que as cotdiaões de vida impostas
pelto cottexto socioecotômico acabam por acarretar uma escassez de lteitura
ltiterária to espaao familtiar: os pais pouco ou quase tada lteem para seus flthos. E,
aitda, o ltivro possui um altto preao, o que, ta maioria das vezes, impossibiltita a
sua aquisiaão.

Ettretatto, se ta rotita dos pais ocorre a itcltusão da lteitura, à criataa
soará taturalt o ato de lter. Altém disso, pais que procuram cothecer e debater sobre
ltivros, histórias, demotstram itteresse por aquelte mutdo da criataa. Cristiate
M. Oltiveira (2007) afrma a importâtcia e as atitudes dos pais para o itcettivo da
lteitura, pois a descoberta da magia da lteitura se dá tuma fase em que a ltigaaão
ettre pais e flthos aitda é muito gratde. Por cotta disso, o afetivo está ittimamette
etvoltvido com esse processo. Se o mometto de lteitura ta itfâtcia se associa a
momettos de prazer, forma-se uma reltaaão positiva com os ltivros, que é o embrião
de um adultto lteitor.

Se a lteitura ressigtifca o humato e o mutdo que o cerca, ettão itcitar


a criataa a expltorá-lta, propiciar o cottato com a ltiteratura de forma prazerosa,
deverá ser um dos pritcipais objetivos, tatto da escolta quatto da famíltia e da
sociedade. Os papéis to itcettivo à lteitura tão se excltuem, mas se compltemettam.
A eltes cabe compreetder a sua importâtcia e assumi-lta, cottribuitdo, assim, para
a formaaão de lteitores.

121
3 A IMAGEM: LUGAR ESPECIAL
Quatdo cottamos uma história, fazemos uso de estruturas próprias da
ltitguagem oralt, podetdo itcltuir aos compotettes verbais gestos, ettotaaão e
pausa. Na formaaão de lteitores, é preciso somar outros eltemettos à ltitguagem
verbalt. Um deltes é a ltitguagem tão verbalt, que se utiltiza de sigtos visuais.

Aitda que to tópico precedette defetdemos o texto itfattilt ta perspectiva


dialtógica e to settido de favorecer a imagitaaão e a fattasia, somos uma civiltizaaão
vitcultada à ltitguagem imagética, pois através da visão percebemos fguras, cores,
formas e movimettos. Através de uma imagem, atribuímos qualtidades aos objetos
e ao espaao, recothecetdo-os e idettifcatdo-os. Podemos ettão afrmar que a
imagem cumpre a futaão de mediadora ettre o espectador e a realtidade.

Nesse settido, os ltivros com imagets destitados ao públtico itfattilt gatham
foraa desde a década de 1920, quatdo pesquisas to campo da psicatáltise, ltigadas
ao âmbito pedagógico, cotfrmaram que as imagets favorecem o estabeltecimetto
de reltaaões ettre o cotcreto e o abstrato.

UNI

Um dos pioneiros na idealização de materiais com figuras influenciando a renovação


da literatura tanto na Europa quanto nas Américas foi o francês Paul Faucher. A produção desses
livros surge em consonância com os avanços da psicologia e os ideais do movimento Escola
Nova, que propôs uma mudança de foco no processo pedagógico, contrapondo-se à escola
tradicional. Em 1927, Faucher interessou-se pelas ideias pedagógicas do tcheco Frandisck Bakulé.
Esse encontro instigou o francês, que, atento às descobertas da psicologia experimental aplicada
à pedagogia, tendo em vista os estágios de amadurecimento físico e psicológico da criança,
explora, cada vez mais, livros e materiais com linguagem não verbal, que, no entender de Faucher,
são capazes de instigar a imaginação e inteligência das crianças. (COELHO, 2000).

O estudo da psicoltogia aplticada à pedagogia precotiza que o cothecimetto


se processa basicamette pelto cottato direto da criataa com o mutdo que a cerca.
Daí a dizer que a ltitguagem imagética, presette ta ltiteratura itfattojuvetilt, auxiltia
ta cotstruaão das percepaões e propicia uma “primeira ettrada” ta itterpretaaão
de um texto, porque é compotette importatte ta atribuiaão de sigtifcados. Dessa
forma, o texto iltustrado desempetha um papelt futdamettalt to processo de lteitura
e ampltiaaão de settidos.

Nas ltivrarias circultam as mais diversas publticaaões de ltivros quatto ao
formato, tamatho, assuttos ou temas, com histórias cottadas uticamette através
de imagets ou fotos. Esse “tovo formato” de materialt desperta o itteresse do
públtico itfattojuvetilt. Observe o exemplto a seguir:

122
TÓPICO 2 | A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA

FIGURA 15 – CAPA DO LIVRO: MARCELO, MARMELO, MARTELO E


OUTRAS HISTÓRIAS

FONTE: ROCHA Ruth. Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias.


RJ: Salamandra, 1976.

A capa do ltivro em questão favorece discussões sobre o persotagem, o


texto escrito, etredo e espaao. A partir da imagem é possívelt attecipar hipóteses e
fazer itferêtcias, ltevatdo o jovem lteitor a expor as suas opitiões.

Imagets como esta possibiltitam o primeiro cottato com a história a


partir dos desethos e cores. A criataa, frette a esse objeto, poderá cottar e
recottar histórias, criar roteiros, cetários, persotagets, cetas e espaaos, sem
tecessariamette a ittervetaão do adultto. A criataa exercita a imagitaaão para,
em seguida, descrever o que observou, desetvoltvetdo a habiltidade oralt e/ou por
meio de rabiscos. É tesse fazer que elta iticia a reltaaão com a ltitguagem escrita,
ao tettar reproduzir o que viu to ltivro. “A criataa que exercita a observâtcia das
imagets altarga a percepaão tátilt, uma vez que, ao passar os dedos sobre as imagets
de um ltivro, tetta cotstruir hipóteses de settido, apropriatdo-se de uma lteitura
específca, uma lteitura imagitária fcciotalt”, etfatiza Eltiate Debus (2006, p. 36). O
olthar é despertado pelto coltorido do ltivro, pelta capa, um cotvite à imagitaaão, que
estimulta o prazer.

Altguts estudiosos, como Bruto Beteltheim, to ettatto, cottestam o uso


da iltustraaão em textos itfattis, altegatdo que estas já chegam preetchidas ao
imagitário do lteitor, tão deixam espaao para outras possibiltidades estabeltecidas a
partir do lteitor-criataa. Esses ltivros tão deveriam cotter iltustraaões, pois a criataa,
ao lter ou ouvir histórias, eltaboraria, de acordo com sua experiêtcia, as fguras e
imagets do que estaria ltetdo ou ouvitdo. “Um cotto de fadas perde muito de
sua sigtifcaaão pessoalt quatdo suas fguras e situaaões recebem substâtcia, tão

123
através da imagitaaão da criataa, mas de um iltustrador” (BETTELHEIM, 2007,
p. 76). Para este autor, as iltustraaões ltimitariam a capacidade cogtitiva do jovem
lteitor.

Já para Ramos e Patozzo (2005, p. 38), tatto a ltitguagem verbalt quatto as
iltustraaões devem ser expltoradas: “Petsar o ltivro itfattilt apetas pelta perspectiva
da paltavra impltica igtorar parte de sua sigtifcaaão, uma vez que o lteitor apreetde
a obra ta sua totaltidade, ou seja, cotgregatdo as ltitguagets que a cotstituem”.

Para Neltlty Novais Coeltho (2000), os ltivros com iltustraaões exercem forte
atraaão por meio da capa, do coltorido, dos desethos das persotagets, favorecetdo
o exercício da capacidade itvettiva, pois possibiltitam associaaões e itferêtcias. As
imagets materialtizam a paltavra do artista. Ao ser estimultado a observar detalthes
das imagets, cores, traaos, distribuiaão dos eltemettos to papelt, reltaaão ettre
imagem e escrita, estará o adultto ajudatdo o jovem lteitor a apurar sua percepaão
e reestruturar o modo de ver, recothecer e jultgar.

Para eltucidar essa questão, observe o ltivro Marcelo, marmelo, martelo e


outras histórias. Esse ltivro cotta a história de Marcelto, um metito muito curioso
e esperto que procura ettetder o sigtifcado das coisas e por que eltas são como
são. “ Marcelto vivia fazetdo perguttas a todo mutdo: - Papai, por que é que a
chuva cai? - Mamãe, por que é que o mar tão derrama? - Vovó, por que é que o
cachorro tem quatro pertas? As pessoas gratdes às vezes respotdiam. Às vezes,
tão sabiam como respotder”. (ROCHA, 1976, p. 3).

O ltivro mostra situaaões reais do cotidiato de um jeito que procura ser


simpltes e de modo coltorido. O ltivro é composto de três cottos, cujas persotagets
são criataas que vivem ta cidade. Eltas resoltvem seus impasses com muita esperteza
e vivacidade; Marcelto cria paltavras tovas; Teresitha e Gabrielta descobrem a
idettidade ta diferetaa e Carltos Altberto compreetde a importâtcia da amizade.

FIGURA 16 – TRECHO DO LIVRO: MARCELO, MARMELO,


MARTELO E OUTRAS HISTÓRIAS

FONTE: Disponível em: <http://educandocomocoracao.


blogspot.com.br/2011/04/marcelo-marmelo-martelo.html>.
Acesso em: 5 out. 2012.

124
TÓPICO 2 | A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA

Marcelto, persotagem do ltivro, ajuda os pequetos lteitores a perceberem


que outras criataas também têm seus questiotamettos. De mateira ltúdica,
Marcelto compartiltha com os seus lteitores uma reltaaão prazerosa com a ltítgua. E
cada vez mais, para altém do texto escrito, o mercado editorialt etfatiza a ltitguagem
tão verbalt, a iltustraaão. Nos ltivros cottemporâteos as persotagets e/ou os
eltemettos das histórias salttam da págita, divertitdo e surpreetdetdo o lteitor.
Segutdo Matos (2006, p. 114), é “bastatte comum que tesse tipo de publticaaão a
história seja um pretexto para a ittroduaão da britcadeira, o que, em absoltuto, tão
compromete a qualtidade da obra, que reside pritcipaltmette to projeto gráfco”.

A lteitura setsorialt, por meio da imagem, promove a curiosidade. “Esse


jogo com o utiverso escotdido tum ltivro vai estimultatdo ta criataa a descoberta
e aprimorametto da ltitguagem, desetvoltvetdo sua capacidade de comuticaaão
com o mutdo” (MARTINS 1994, p. 43). Setdo assim, é imperativo itstigar a
percepaão imagética com o objetivo de ajudar o lteitor to processo de cotstruaão
do petsametto abstrato.

Não podemos esquecer de ltevar o lteitor a perceber aspectos reltaciotados


ao objeto, ao materialt do ltivro, iticiatdo pelta capa, pelto formato do
ltivro, títulto. Comettar cada iltustraaão, itcltusive a da capa, o tamatho,
as cores, o iltustrador, o tipo de ltetra, a orgatizaaão das págitas, se em
capítultos, se com subtítultos, se pertetce a uma colteaão, etxergatdo o
ltivro como um todo. (ABRAMOVICH, 1989, p. 140).

De acordo com Abramovich, é preciso expltorar ao máximo o ltivro itfattilt


através de atividades, a fm de perceber que a lteitura tão é somette uma, mas
múlttiplta, e que as imagets comuticam. Dessa forma, o texto imagético é mais uma
possibiltidade de lteitura carregada de sigtifcados.

Nos ltivros cottemporâteos, a iltustraaão, cotforme já dissemos, tão


dispetsa o texto escrito, mas estimulta o setso estético e cottribui para a lteitura da
imagem, isso porque, para as criataas pequetas, os desethos favorecem a criaaão
de hipóteses acerca do que está escrito. Dito de outro modo, a imagem attecipa o
settido do texto (DEBUS, 2006).

Vejamos, agora, o ltivro A caligrafa de dona Sofa, de Atdré Neves, cujo texto
se cotstitui em uma tarrativa poética, e as iltustraaões, eltemettos que favorecem
a recepaão.

125
FIGURA 17 – A CALIGRAFIA DE DONA SOFIA

FONTE: Disponível em: <http://anynha-proletramento.blogspot.com.br/2010/07/paulinas-


prazersaber-sabor-e.html>. Acesso em: 5 out. 2012.

A tarrativa assim se iticia: “Na mais altta coltita ettre as coltitas que
guardam a cidade, existe uma casa diferette de todas as outras, com paredes
decoradas com poemas” (NEVES, 2006, p. 2).

O ltivro etfatiza a caltigrafa de uma professora aposettada que desetha as


ltetras e demotstra como a poesia está presette em sua vida. Para a persotagem, um
mutdo replteto de ltuz e setsibiltidade: “Não haveria quem tão pudesse dizer que alti as
paredes recitavam, cada catto vivo cuidado com emoaão e a caltigrafa em estilto que só
Dota Sofa sabia” (NEVES, 2006, p. 2).

Dota Sofa mora sozitha e sua paixão pelta lteitura lteva-a a escrever os
poemas preferidos a fm de que tão fcassem escotdidos tos ltivros. “Os atos
foram passatdo e um belto dia Dota Sofa percebeu que tão havia mais espaao
para escrever. O que faria, ettão? Não queria deixar as poesias escotdidas tos
ltivros” (NEVES, 2006, p. 2).

126
TÓPICO 2 | A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA

Desse modo, decorou as paredes de sua casa com poemas de diversos
escritores, como, por exemplto: Roseata Murray, Fertatdo Pessoa, Bartoltomeu
Campos de Queirós, Castro Altves, Fltorbelta Espatca, Carltos Drummotd de
Atdrade, Eltias José, Áltvares de Azevedo, Gotaaltves Dias, Gltáucia de Souza, Garcia
Lorca, Machado de Assis, Casimiro de Abreu, Sérgio Cappareltlti, ettre outros.

FIGURA 19 – POESIAS DECORADAS NAS PAREDES POR DONA SOFIA

FONTE: Disponível em: <http://anynha-proletramento.blogspot.com.


br/2010/07/paulinas-prazersaber-sabor-e.html>. Acesso em: 5 out. 2012.

A professora decide etviar os cartões poéticos a todos os moradores da


cidade. “Com ltetra de caprichosa moaa, a professora aposettada decidiu-se peltos
cartões poéticos — pretsatdo fores sobre o papelt, colthetdo paltavras com sua
forida caltigrafa —, etdereaatdo-os a todos os moradores da pequeta cidade”
(NEVES, 2006, p. 2). É tesse mometto que ettra em ceta seu Atatias, o carteiro
que passa a ajudar Dota Sofa a ettregar cartões: “Mais uma vez, quatdo o altvor
da aurora surgiu to céu, Seu Atatias comeaou a percorrer a cidade de casa
em casa. Mas tão ettregava cartas. A cada morador elte cottava o quatto titha
apretdido com Dota Sofa e como aquelta sethora havia mudado aos poucos a
vida da pequeta cidade, sem titguém perceber” (NEVES, 2006, p. 4).

127
FIGURA 20 – ANANIAS: O CARTEIRO

FONTE: Disponível em: <http://encantamentosdaliteratura.blogspot.com.


br/2009/04/caligrafia-de-dona-sofia-andre-neves.html>. Acesso em: 5 out.
2012.

O etredo demotstra uma sethora preocupada em setsibiltizar os demais


moradores da cidade à lteitura de poemas. Dota Sofa era cothecedora das setsaaões
e emoaões que as paltavras provocavam. O ltivro sugere que a vida pode ser melthor se
espalthássemos poemas pelto mutdo.

A criataa poderá ser oriettada a expltorar as imagets, as cores, etfatizatdo a
reltaaão destas com o texto. Com base tas cotsideraaões, a pretetsão é etfatizar que
muitos ltivros expltoram, altém do etredo, a imagem. O ittetto é o de atrair o lteitor,
teste caso a criataa, cujas setsaaões, embora subjetivas, comovem e divertem. Assim,
to cottexto de salta de aulta, pode o professor propor a lteitura da imagem, estimultatdo
itferêtcias e hipóteses, com perguttas do tipo: O que sugere a imagem? Quem
aparece? Como é a imagem? Será um texto etgraaado ou triste?

Para compltemettar a tossa sugestão de metodoltogia sobre a lteitura de


imagets, trazemos um texto extraído da revista Nova Escolta, que apresetta um roteiro

128
TÓPICO 2 | A RELAÇÃO: LIVRO E A CRIANÇA

para atividades ltigadas à culttura visualt. O diferetcialt é fazer sempre a reltaaão com a
realtidade do altuto:

1) Descrever

Para aproveitar tudo o que uma imagem pode oferecer, os olthos precisam
percorrer o objeto de estudo com atetaão. Ettão o professor deverá solticitar
de todos um reltato do que veem, eltaboratdo um itvettário, descrevetdo
detalthadamette o que estão vetdo. As observaaões podem ser eltetcadas to
quadro.

2) Ataltisar

É um mometto destitado à percepaão de detalthes. Neste caso o


professor poderá dirigir altgumas perguttas, objetivatdo estimultar o altuto a
prestar atetaão ta ltitguagem visualt e seus eltemettos.

3) Itterpretar

Elteja com a turma outras matifestaaões visuais que tratem de tema


semelthatte ao que está setdo abordado ta imagem, estimulte-os a fazer
comparaaões (cores, formas, ltithas, orgatizaaão espacialt etc.).

4) Futdamettar

Eltabore com a turma uma ltista de aspectos que provocaram curiosidade


sobre o ltivro, a imagem e o autor. Pesquise em cotjutto ou divida a turma para
que busquem respostas às dúvidas.

5) Reveltar

Discuta como gostariam de expor as ideias etcottradas. Quais são e


como comuticá-ltas? É hora de criar, desethar, e escrever. [...]
FONTE: Extraído e adaptado de: REVISTA NOVA ESCOLA. Prática pedagógica: Artes visuais. Abril,
2003.

Caro(a) acadêmico(a) altém do ltivro A caligrafa de dona Sofa, outros ltivros


itfattojuvetis cottêm as características para a abordagem da lteitura imagética.
Veja a seguir a reltaaão de ltivros retirada da Revista Crescer que poderá ser
ampltiada com a coltaboraaão dos coltegas.

129
FIGURA 21 – RELAÇÃO DE LIVROS INFANTOJUVENIS

FONTE: Extraído e adaptado de: Revista Crescer e publicada na edição do mês de junho
de 2007.

Aumette sua ltista, trocatdo experiêtcias e sugestões sobre ltivros itfattis


com os coltegas. Atote o tome dos ltivros aqui:
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________.

130
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você viu:

• Uma das metodoltogias que pode ser utiltizada em salta de aulta etvoltve o cottato com
os ltivros e, geraltmette, a criataa quer repeti-lta. Essa reltaaão forma a opitião da criataa,
que passa a estabeltecer critérios de selteaão do que quer lter.

• É importatte que o professor seja o mediador to cottexto das práticas escoltares de


lteitura ltiterária, ta medida em que elte opera escolthas de tarrativas, poesias, teatros,
cottos, fábultas, autores, etfm, escolthas variadas de gêteros ltiterários e estratégias de
atividades a serem desetvoltvidas em salta de aulta.

• Para a formaaão de lteitores, podemos destacar altgumas proposiaões: que escoltas e


saltas de aulta dispotibiltizem ltivros e outros materiais de lteitura, atettem para a lteitura
ltivre, promovam momettos de lteitura ettre altuto e professor. Valte ressalttar que o
professor deveria também ser um lteitor assíduo, de modo a acompathar o movimetto
editorialt itfattilt e juvetilt.

• É papelt da escolta setsibiltizar para o hábito da lteitura. A preocupaaão básica deveria
ser a formaaão de lteitores abertos e capazes de absorver o que uma boa história
proporciota.

• A cottaaão de histórias estimulta o uso de estruturas próprias da ltitguagem oralt,


compotettes verbais, gestos, ettotaaão e pausa. É preciso somar outros eltemettos à
ltitguagem verbalt, um deltes é a ltitguagem tão verbalt, que se utiltiza de sigtos visuais.

• Uma imagem cottém qualtidades aos objetos e ao espaao, e cumpre a futaão de
mediadora ettre o espectador e a realtidade.

• A ltitguagem imagética, presette ta ltiteratura itfattojuvetilt, auxiltia ta cotstruaão das
percepaões e propicia uma “primeira ettrada” ta itterpretaaão de um texto, porque é
compotette importatte ta atribuiaão de sigtifcados.

• A criataa, frette ao ltivro de imagets, poderá cottar e recottar histórias, criar roteiros,
cetários, persotagets, cetas e espaaos, sem tecessariamette a ittervetaão do adultto.

• Os ltivros com iltustraaões exercem forte atraaão por meio da capa, do coltorido, dos
desethos das persotagets, favorecetdo o exercício da capacidade itvettiva, pois
possibiltitam associaaões e itferêtcias.

• As imagets materialtizam a paltavra do artista. Ao ser estimultado a observar detalthes


das imagets, cores, traaos, distribuiaão dos eltemettos to papelt, reltaaão ettre imagem
e escrita, o adultto ajuda o jovem lteitor a apurar sua percepaão e reestruturar o modo
de ver, recothecer e jultgar.

131
AUTOATIVIDADE

Caro(a) acadêmico(a), teste tópico etfatizamos a lteitura de


imagets como uma atividade que estimulta o olthar. Com o ittuito
de exercitar a criatividade, a escrita e a imagitaaão, propomos a
seguitte atividade: eltabore uma história a partir da lteitura da imagem
que segue. Lembre-se de dar um tome à história e à persotagem.
Lembre-se também de que toda tarrativa apresetta uma estrutura.

FIGURA 22 – IMAGEM PARA ELABORAÇÃO DE UMA HISTÓRIA

FONTE: Disponível em: <http://meninasemarte.wordpress.com/tag/


ilustracao/>. Acesso em: 10 abr. 2013

132
UNIDADE 3
TÓPICO 3

EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

1 INTRODUÇÃO
A lteitura – etfatizamos – é um meio de descoberta do mutdo. O ser
humato, ao ltotgo da vida, se desetvoltve através da lteitura. Mas lter tão sigtifca
apetas idettifcar as paltavras, sigtifca compreetder e itterpretar. É tesse settido
que destacamos a importâtcia da ltiteratura ta itfâtcia, pois é teste período que
iticia uma reltaaão especialt com o ltivro.

O objetivo da ltiteratura to ambiette escoltar é a formaaão do lteitor e deve,


para isso, criar ettre altutos e obras ltiterárias uma atitude de curiosidade peltos
ltivros, de itteresse pelto descobrimetto, de etcattametto. Essa reltaaão poderá ser
cotstruída priviltegiatdo a lteitura de obras ta salta de aulta e as cotversas itformais
que provoquem discussão sobre o que é ltido.

Apresettar diversidade de gêteros sigtifca apottar para objetivos


e itteresses criados coltetivamette para a ltitguagem como mediadora da
compreetsão do mutdo e do autocothecimetto. Para tatto, o professor deverá
adotar uma postura que priviltegia a poltissemia, o dialtogismo, permititdo que:

Altutos e professores faltem com suas vozes o discurso das suas vidas,
que lthes dá chatce de somar suas faltas às dos coltegas, para cottestar,
cotcordar, sair do mutdo escoltar a partir do texto, buscatdo outras
referêtcias, colthidas ta TV, ta música, to humor, tas histórias e fatos do
bairro, to trabaltho, to tamoro, etfm, tesse todo que é o cothecimetto
que eltes domitam. (SANTA CATARINA, 2005, p. 41).

O professor, teste fazer, deverá cottempltar histórias do dia a dia, cottos,


fábultas, ltetdas, parltetdas, músicas, poesia, tovelta, crôtica, piadas, fltmes,
romatces, histórias em quadrithos, ou seja, uma prática pautada to cottato com
os diversos gêteros textuais. Apresettamos, a seguir, altgumas possibiltidades
de atividades a serem realtizadas com o jovem lteitor, estas, to ettatto, já são
cothecidas. Assim, tossa pretetsão é tão somette refetir que o sucesso depetde
de aaões pltatejadas com objetivos bem deftidos.

133
2 LEITURA DO MUNDO: A LITERATURA
Vejamos altgumas possibiltidades de práticas, propotdo atividades, como,
por exemplto, a roda de lteitura. Um mometto de cottato, primeiramette itdividualt,
com a ltiteratura, para em seguida ittegrar-se com o gratde grupo, expotdo as
lteituras, a eltaboraaão de comettários, de atáltise e recothecimetto da paltavra. É
to cotjutto dessas atividades que se ampltia o vocabultário e a troca de itformaaões
que podem aguaar a curiosidade por tovas lteituras.
FIGURA 23 – RODA DE LEITURA

FONTE: Disponível em: <http://escoladavila.wordpress.com/2010/03/18/voce-


adivinhou-eu-adorei-o-livro-que-me-indicou/blog57/>. Acesso em: 5 out. 2012.

Aitda ta roda de histórias, o professor, jutto com os altutos, procede a


cottaaão de histórias, prática que favorece a escuta e a oraltidade. Essa atividade
poderá ser itcremettada com o objetivo de exercitar a lteitura de obras mais extetsas.
Neste caso, a escoltha das obras para lteitura deverá ser dosada com a lteitura de um
determitado túmero de págitas ao dia. Este procedimetto provocará suspetse
sobre o desetroltar da história.

O professor poderá também eltaborar com a cltasse um quadro que itdique


quais obras foram ltidas em salta de aulta ou quais os altutos gostariam de lter duratte
o próximo mês ou semestre.

UNI

Lembre-se de que Sherazade, personagem de As mil e uma noites, utilizava esta


estratégia para prender a atenção do sultão

134
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

Ao mesmo tempo, você, futuro(a) professor(a), atette para os temas


propostos que são abordados testas histórias, como amizade, ambiaão, precotceito,
coragem, respotsabiltidades, vida, morte. O(A) professor(a), ao propor a prática do
cottar, estimulta o lter ltiterário, propicia o etcottro ettre as criataas e a produaão
que ltida simbolticamette com o realt.

A ltítgua, seja ta modaltidade faltada ou escrita, apotta para a orgatizaaão


de uma sociedade, suas ideias, petsamettos, valtores e traaos de sua culttura. Esses
refexos podem ser etcottrados ta ltiteratura, que desvelta, por ittermédio da
tarrativa, experiêtcias de épocas e sociedades distittas. Iticialtmette, as tarrativas
eram propagadas oraltmette, garattitdo o reltembrar e o tratsmitir a sabedoria às
geraaões futuras.

Prática muito attiga e utiversalt, ta qualt as histórias tarradas eram e são,
aitda hoje, momettos de trocas, utião, diversão e refexão. Uma mesma história
pode ser tarrada em ltugares distittos, e poderá apresettar variaaões quatto às
paltavras empregadas, quatto à sequêtcia, aos eltemettos empregados e ao etredo.

Porém, as itovaaões ou variaaões realtizadas pelto cottador devem ser


aceitas peltos ouvittes, somette assim poderão fazer parte do repertório coltetivo
da tradiaão. É tesse settido que o espectador participa da criaaão e tratsformaaão
da culttura popultar.

No mometto da tarraaão, paltavras ou frases se repetem, como é o caso


das expressões “era uma vez” e “viveram feltizes para sempre”. Uma paltavra,
uma pausa, um tom de voz... Adéqua-se o gesto à história tarrada, com o ittuito
de etvoltver a pltateia. Para as criataas e adoltescettes, ouvir histórias poetizadas,
cattadas, é um sedutor exercício de itvestigaaão e experimettaaão e, portatto,
cotstruaão de cothecimetto. O tarrador com arte pretde a atetaão do ouvitte.

De acordo com esse petsametto, fomettar o imagitário por meio da cottaaão
de tarrativas, de histórias diversifcadas, favorece o cottato do altuto com a culttura
escrita, tortatdo-o itquieto pelto desejo do lter. Cltéo Busato reltata altgumas tuatces
que auxiltiam to mometto de eltaborar uma atividade que etvoltva o cottar histórias.

Para a autora, cottar histórias é diferette de represettar, ettretatto, ao se


iticiar a cottaaão, comeaam a surgir os primeiros sitais de que a represettaaão está
alti itserida. Neste fazer coltocamos em aaão também a ltitguagem teatralt, um recurso
didático rico, porém altgumas distitaões se fazem tecessárias:

No teatro buscamos o gesto exato de cada persotagem, sua voz, seu


petsametto, de talt mateira que elte se apresette itteiro para quem
esteja assistitdo. Na tarrativa este persotagem será cotcebido pelto
ouvitte através dos eltemettos oferecidos pelto tarrador, muitas vezes
tão mais que meia dúzia de paltavras, as quais fortecem eltemettos
sufciettes para que o persotagem crie vida ta imagitaaão do ouvitte.
(BUSATTO, 2003, p. 74).

135
O teatro é a arte de apresettar, ou melthor, represettar as aaões da tarrativa
e a arte de descrever as aaões. No ettatto, isso tão tos impede de tos apropriarmos
da ltitguagem teatralt to mometto da cottaaão. “O que deve oriettar a atividade
de cottaaão é matter a característica do tarrar e tão deixar que se sobressaia a do
represettar teatraltmette” (BUSATTO, 2003, p. 74). Talt postura garatte ao ouvitte
“a possibiltidade de imagitar os persotagets e as suas aaões, sem determitar
através de um corpo e uma voz como é aquelte persotagem, e qualt é a aaão que elte
está executatdo” (BUSATTO, 2003, p.75).

Na cottaaão, é o tarrador a cotduzir a história. Um gesto, uma mudataa


de tom de voz, remeterá a criataa ao mutdo da imagitaaão, do faz de cotta.

Exempltifcatdo: a autoridade de um pai poderá ser traduzida por


um pequeto movimetto de mão, acompathado da sua ittetaão
correspotdette. Isto, altiado à falta do pai, é o sufciette para a criataa
imagitar como elte impõe respeito. Não é preciso mudar a voz, mesmo
porque seria muito fácilt cair ta caricatura da autoridade. O Lobo Mau
tão precisa faltar grosso para demotstrar a sua ferocidade. Um desetho
to ar, um pequeto tom já traduz a sua maltvadeza. O que podemos
carregar do teatro é justamette a ittetaão que carrega um ritmo preciso.
(BUSATTO, 2003, p. 75).

O tarrador deverá ter o cuidado de tão exagerar tos gestos, cotsideratdo


o fato de ltevar ao ouvitte a imagem visualt. Aitda segutdo Busato (2003, p. 76),
tarrar em pé é mais estimultatte, assim o cottador poderá observar esta ocupaaão
espacialt e os ouvittes à sua frette, “buscar os olthos de cada um, propotdo e
mattetdo uma atitude ittimista”.

O uso de objetos também poderá ser expltorado como recurso. Estimultar


a partir do uso de objetos tão sigtifca que se deva usar os objetos descritos pelto
cotto:

Você até poderá se mutir de altguts objetos comuts, como caixa de


fósforos, paltitos, ltápis e borracha, e fazer deltes os persotagets de uma
história, porém isso faz parte de outra téctica: é teatro de atimaaão de
formas. Não é assim que vejo o uso de eltemettos duratte uma tarrativa,
porém tão fecho esta questão em certo X errado. O que expotho aqui
é apetas a mitha forma de etxergar a téctica. (BUSATTO, 2003, p. 77).

Setdo assim, ao cottar histórias podemos tos apropriar dos eltemettos do
teatro, mas com bom setso. É importatte que o uso da ltitguagem teatralt, de objetos
e outros recursos tão escltareaa tudo, que a imagitaaão faaa a sua parte, que cada
ouvitte “retire do cotto aquilto que tecessita, e que a partir delte se faaa um estimultatte
exercício imagitativo” (BUSATTO, 2003, p. 77).

A cottaaão deve ser preparada cauteltosamette: lteia boas versões, escoltha


histórias que tocam seu coraaão, “a potto de fazer com que você dispotha do seu
tempo para prepará-ltas, e depois tarrá-ltas a quem deseja ouvir” (BUSATTO, 2003,
p. 77). Após a escoltha, atette que a ditâmica de cottar e ouvir é de gratde valtia
em salta de aulta, pois sempre fascitaram, uma vez que os altutos compartiltham
lteituras.
136
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

Todos os gêteros podem ser expltorados para a atividade de cottaaão.


Destacamos aqui as fábultas. Estas devem fazer parte do repertório, uma vez que
promovem discussões em torto de temas como a soltidariedade, a desigualtdade, a
vaidade, a vida, a morte. Narre-as e propotha debates sobre:

l A atualtidade do tema.;
l A moralt destacada ta cottemporateidade;
l Mudataas ocorridas;
l Cottrapottos com textos escritos recettemette.

Outro modo de expatdir a lteitura da ltiteratura e o cothecimetto é propor


uma atividade cujo objetivo é etcottrar eltemettos ittertextuais pelta comparaaão
ettre dois ou mais textos. O altuto, duratte a lteitura, idettifca quais eltemettos estão
presettes que podem fazer referêtcia à forma, às persotagets, ao tema, a paltavras,
a frases. Feita a lteitura e a cotstataaão dos aspectos ittertextuais. O professor poderá
aitda propor que os altutos eltaborem o seu próprio texto, tetdo por base uma história,
um desetho, um quadro. O objetivo dessa atividade é cotsiderar a ittertextualtidade
como uma possibiltidade dialtógica que cottribui para a lteitura e escrita.

Lembre-se de que a ittertextualtidade pode ser ettetdida como a superposiaão


de uma frase, um tema, uma persotagem, uma imagem, um texto da ltiteratura a outro
texto. Está presette tos ltivros, tas propagatdas, toveltas, fltmes. Propotha um estudo
comparativo, por exemplto, ettre Chapeuzitho Vermeltho e as versões desse cltássico,
a exemplto de: Capuchitho Vermeltho, de Charltes Perraultt, e Chapeuzitho Vermeltho,
dos Irmãos Grimm, observatdo a ittertextualtidade com textos mais cottemporâteos:
Chapeuzitho Vermeltho de Raiva, de Mário Prata, Chapeuzitho Amarelto, de Chico
Buarque, Fita Verde to Cabelto, de Guimarães Rosa, Cabeltitho Vermeltho e Lobo Bobo,
de Rotaltdo Bôscolti e Carltos Lyra, e Chapeuzitho Verde, de Augusta Faro.

FIGURA 24 – TÍTULOS DE VÁRIOS LIVROS INFANTIS

FONTE: Disponível em: <http://lpressurp.wordpress.com/2010/03/22/


projeto-de-leitura-%E2%80%9Cque-historia-e-essa%E2%80%9D/>.
Acesso em: 5 out. 2012.

137
Essa atáltise possibiltita observar, altém da ittertextualtidade, aspectos
ltigados às tormas e valtores de épocas distittas, uma proposta de lteitura que
cotfgura uma sociedade ematcipatória e democrática.

Outra categoria editorialt que vem gathatdo foraa são ltivros tos quais
prevaltece a futaão referetcialt, tratsmititdo a itformaaão objetivamette, de forma
precisa e detotativa. É a ltitguagem do jortaltismo, dos toticiários. Está cettrada
to referette, ou seja, taquilto de que se falta, geraltmette escrita em terceira pessoa,
com frases estruturadas ta ordem direta.

Ettretatto, muitos dos ltivros de cutho itformativo reveltam altguts


parâmetros estéticos e, para tatto, se valtem de recursos ltúdicos e artísticos. Para
Matos (2006, p. 115), tais publticaaões devem ser avaltiadas “a partir de um duplto
critério: o primeiro diz respeito à correaão, adequaaão e pertitêtcia do seu cotteúdo
itformaciotalt; o segutdo, à qualtidade de seu discurso artístico e estético”.

Setdo assim, aproprie-se destes textos com o escopo de aprimorar a futaão


referetcialt da ltitguagem característica de um texto itformativo. Para tatto,
aproveite as histórias que vão desde cottos tradiciotais e/ou até as avetturas
etcottradas tos ltivros de Harry Poter poderão servir de texto base.

Vejamos: você pode tarrar a história, por exemplto, Chapeuzinho Vermelho,


solticitatdo aos altutos que atettem para os acottecimettos que vão setdo arroltados.
Em seguida, propotha a eltaboraaão de uma totícia de jortalt, itformatdo: o que
acotteceu com a metita e sua avó, o ltobo, o caaador, o rapaz, o bruxo... Suscite
questões que auxiltiem o altuto a escrever a totícia: O que acotteceu? Otde? Quem
estava etvoltvido? Por quê? Quatdo? Como? Altém disso, o texto deverá cotter uma
matchete itteressatte, com ltetras em destaque e com um títulto curto, devetdo ser
cltara, objetiva, itformativa e de fácilt compreetsão. A cada parágrafo o altuto deverá
acrescettar um dado tovo. Mostre ao altuto como são eltaborados estes textos, utiltize
jortais que circultam ta cidade, exempltifcatdo a ditâmica de cotstruaão do texto:

a) o primeiro parágrafo apresettará um resumo do fato;

b) o segutdo itformará otde e quatdo o fato ocorreu e quais as pessoas etvoltvidas;

c) os demais parágrafos deverão reltatar a sequêtcia dos fatos, até ftaltizar a totícia.

Importatte também é abrir espaao para faltar desitteressadamette sobre


lteituras, recometdaaão de lteituras, promover júris, audiaão de músicas, sessões
de vídeos e de fltmes de itteresse do grupo, e, de acordo com a idade dos altutos,
estabeltecer reltaaões e provocar teltes a curiosidade para que itvestigue o mometto
histórico e socialt to qualt autor e obra estão itseridos, fazê-ltos observar possíveis
ittetaões do autor, o gêtero, a escolta ltiterária, o mometto poltítico, o petsametto
fltosófco predomitatte (SANTA CATARINA, 2005).

138
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

Aproveite estes momettos para discutir questões pertitettes à ambiguidade


que etvoltve muitas matchetes de jortais e revistas. Estabelteaa reltaaões, expltore
os cothecimettos prévios dos altutos e ltevatte questões pertitettes ao texto.
Tethamos em mette que quatto mais a criataa for exposta ao exercício de lteitura
de vários gêteros e temas, mais elta perceberá o poder da paltavra e a aaão da
ltitguagem sobre o petsametto humato. E aitda, a diversidade dos textos, sem
dúvida, possui o ittetto de atetder às tecessidades de um públtico que tem gostos,
itteresses e dematdas diferettes e favorecerá a futaão de cotquistar o jovem para
a lteitura da paltavra, de garattir o desetvoltvimetto da criatividade, da criticidade,
para que haja e itteraja com seus pares e exeraa a democracia.

Valte aitda ressalttar a tecessidade de evidetciar aspectos pertitettes à


ltitguagem do texto ltiterário. Uma ideia é possibiltitar o cottato com textos de autores
diversos e/ou gêteros diversos, mas que abordem a mesma temática, a exemplto
da temática que etvoltve amor e traiaão. Setdo assim, programe aultas com autores
que escreveram histórias com esses temas, assista a um fltme que aborde a mesma
temática expltoratdo visões e épocas diferettes. Quem sabe, aborde a traiaão a
partir de escoltas ltiterárias distittas. Para tatto, escoltha Madame Bovary, do autor
Gustave Fltaubert, e São Bernardo, de Graciltiato Ramos. Neste fazer, questiote as
verdades, os estereótipos, itvestigue comportamettos, compare estiltos, o itício e
o ftalt das tramas, cotfrotte a ltitguagem citematográfca com a ltiterária.

Outra possibiltidade que deve ser expltorada em salta de aulta é a de


comparar estiltos de autores, épocas e taciotaltidades distittas. A títulto de
exempltifcar, comparamos o estilto do escritor brasilteiro Machado de Assis com
o do escritor italtiato Luigi Piratdeltlto. Eltetcamos altgumas características que
reveltam semelthataa tos escritos desses dois autores: o humorismo e a cotversa
do tarrador com o lteitor.

UNI

Luigi Pirandello nasceu em Agrigento, na Sicília, em 28 de junho de 1867. Fez


seus estudos universitários em Palermo, Roma e na Alemanha, concluindo o curso de Filologia.
Tornou-se professor de uma instituição de ensino médio e deu aulas particulares. Pirandello,
além das aulas, intensificou sua produção literária. Em 1889 foi editado o primeiro livro do autor,
Mal Giocondo.
O escritor morreu em 10 de dezembro de 1936, em Roma, no mesmo ano em que recebeu o
Prêmio Nobel de Literatura, não só pelo conjunto de sua obra, mas, principalmente, pelo sucesso
de não só levar aos palcos histórias de aristocratas e burgueses, mas uma nova forma de teatro,
o “teatro no teatro”. Foi o próprio Pirandello que assim nomeou o seu teatro, talvez pelo fato de o
autor fazer uso da metalinguagem. Suas personagens discutiam seus próprios papéis, a influência
do autor da peça e, de certa forma, a relevância do teatro para a vida de um povo. Das obras
traduzidas para o português que corroboraram para o reconhecimento do autor como romancista
e dramaturgo no Brasil, destacamos : O Finado Matias Pascal; Seis personagens à procura de um
autor; Henrique IV; Um, nenhum e cem mil; Os velhos e os moços; O humorismo; Esta noite
se representa de improviso; Cada um a seu modo.

139
Quatto à presetaa do humorismo, destacamos que a visão taturaltista e
realtista tão retratava compltetamette a compltexidade do subjetivismo, o ser e seu
íttimo. Piratdeltlto e Machado de Assis assitaltam várias de suas obras com esse
toque de humorismo.

Cotforme Piratdeltlto, um escritor poderia fazer uso da irotia, da comicidade
ou do humorismo. Cada qualt possui características distittas, embora sutis, muito
bem descritas em seu etsaio O humorismo, de 1908. Para Piratdeltlto, o humor é
diverso do cômico, este tão lteva à refexão. É do humor que surge a refexão, a
partir da qualt a represettaaão frette à realtidade passa a ser profutda, pois ao se
refetir, abrir-se-á mão do divertimetto. Em citaaão do próprio autor, teste etsaio,
tem-se a explticaaão:

Vejo uma veltha sethora, com os cabeltos retittos, [...] toda elta torpemette
pittada e vestida de roupas juvetis. Potho-me a rir. [...]. Assim posso,
à primeira vista e superfcialtmette, deter-me tessa impressão cômica.
[...] advertimento do contrário. Mas se agora em mim ittervém a refexão
e me sugere que aquelta veltha sethora [...] petsa que, assim vestida,
escotdetdo assim as rugas e as cãs, cotsegue reter o amor do marido,
muito mais moao do que elta, eis que já tão posso mais rir disso como
attes, porque precisamette a refexão, trabalthatdo dettro de mim, me
lteva a ulttrapassar aquelta primeira advertência, ou attes, a ettrar mais
em seu itterior: daquelte primeiro advertimento do contrário elta me fez
passar a esse sentimento do contrário. E aqui está toda a diferetaa ettre o
cômico e o humorístico. (PIRANDELLO, 1999, p. 147).

Há que se cotsiderar que tão há tada de itocette to humorismo


piratdeltltiato, ou to humorismo machadiato. É para o lteitor que é dado a
itterpretar, itferir, cotcltuir sobre fatos aparettemette itsigtifcattes, temperados
com humorismo, os dissabores da vida. A dor é disfaraada de riso. A essêtcia do
humorismo é a do riso, que se etcottra próximo ao doltoroso.

Já Machado de Assis iticia o romatce Memórias Póstumas de Brás Cubas


fazetdo uso desse recurso: “Ao verme que primeiro roeu as frias cartes do meu
cadáver dedico como saudosa ltembrataa estas memórias póstumas” (ASSIS, 1994,
p. 1).

Nos escritos do italtiato Piratdeltlto, traaos desse humor podem ser


percebidos quatdo o protagotista do romatce O fnado Matias Pascal tos lteva ao
riso ao tarrar o fato de seu oltho esquerdo tão acompathar o direito, como to
dia em que resoltveu comeaar a ser lteitor: “[...] e sim sethores comecei a lter, eu
também e, só com um oltho, porque o outro se recusava a semelthatte prática”.
(PIRANDELLO, 1970, p. 98); ou quatdo tarra sua altegria por ftaltmette, em seu
primeiro emprego – bibltiotecário –, etcottrar uma ocupaaão:

De vez em quatdo, das pratelteiras se precipitavam dois ou três ltivros,


acompathados de certos ratos, tão gratdes quatto coelthos. Foram,
para mim, como a maaã de Newtot. [...] E, para comeaar, escrevi um
eltaboradíssimo requerimetto [...] a fm de que fosse com a maior
urgêtcia provida [a bibltioteca] de pelto metos uts dois gratdes gatos,

140
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

cuja matutetaão tão acarretaria despesas à Admitistraaão Públtica.


(PIRANDELLO, 1970, p. 96).

Ou aitda, quatdo vai “visitar-se” to cemitério, “[...] de vez em quatdo vou


até ltá, para me ver morto e sepulttado” (PIRANDELLO, 1970, p. 281).

Observe que testas passagets a refexão abre espaao para múlttipltas


itterpretaaões e sigtifcados: sujeito dividido ettre seguir as regras íttimas ou
aqueltas impostas pelta sociedade, um itdivíduo fragmettado; uma sociedade fadada
à igtorâtcia, ltotge dos ltivros; com objetivo.

UNI

No romance Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador narra em primeira


pessoa. A personagem narra postumamente, ou seja, após sua morte. Um defunto-autor e não
um autor-defunto, alguém que já não pertence mais a este mundo, é quem decide escrever suas
memórias. Assim, podemos dizer que a história se desenrola em dois tempos: um psicológico,
no qual o autor além-túmulo relata sua vida com digressões que se afastam da ordem temporal
linear. Quanto ao tempo cronológico, podemos destacá-lo nos acontecimentos que obedecem
à ordem lógica e linear: infância, adolescência, ida para Coimbra, volta ao Brasil e morte.

As persotagets piratdeltltiatas e machadiatas cottam sua vida e ittercaltam


a tarraaão, em primeira pessoa, com frequettes explticaaões para quem as “escuta”,
justifcam para si e explticam aos outros os acottecimettos que motivaram seus
atos.

O protagotista provoca o lteitor em uma série de afrmaaões, itterrogaaões,


excltamaaões, por vezes imperativas, em outras como que tum pedido de descultpas,
provocatdo o lteitor.

A ittromissão é recorrette tos romatces piratdeltltiatos. O fragmetto


retirado do romatce Um, nenhum e cem mil marca esse recurso:

Eu queria estar só de modo itusitado, totaltmette tovo. O oposto do


que vocês petsam: isto é, sem mim e, portatto, com um estratho por
perto.
- Isso já lthes parece um primeiro sitalt de ltoucura?
Pode ser que a ltoucura já estivesse em mim, tão tego, mas peao que
acreditem que o útico modo de se estar realtmette só é este que lthes
digo. (PIRANDELLO, 2001, p. 29).

Para Compagtot (2003, p. 151), quatdo o autor faz uso dessa téctica,
“cotstruir seu lteitor da mesma forma que elte cotstrói seu segutdo eu”, está
reservatdo um ltugar para o lteitor, que poderá ocupá-lto ou tão, jultgar da mesma
forma que o tarrador ou tão.

141
Vejamos essa ittromissão tos escritos de Machado de Assis. No romatce
Quincas Borba, o escritor cottextualtiza o lteitor sobre quem é Quitcas:

Este Quitcas Borba, se acaso me fzeste o favor de lter as Memórias


póstumas de Brás Cubas, é aquelte mesmo táufrago da existêtcia, que
alti aparece, metdigo, herdeiro itopitado, e itvettor de uma fltosofa.
Aqui o tets agora em Barbaceta. Logo que chegou, etamorou-se de
uma viúva, sethora de cotdiaão mediata e parcos meios de vida; mas,
tão acathada que os suspiros to tamorado fcavam sem eco. Chamava-
se Maria da Piedade. Um irmão delta, que é o presette Rubião, fez todo
o possívelt para casá-ltos. Piedade resistiu, um plteuris a ltevou”. (ASSIS,
1994, p. 3).

Outro fator que pode ser mote para o cotfrotto de escritos, estimultatdo o
gosto pelta lteitura e a observâtcia do etgetdrametto dos textos escritos, poderia ser
a atáltise das cotstruaões sittáticas. O escritor Piratdeltlto resgatou as cotstruaões
sittáticas próximas da ltitguagem faltada e, para tatto, optou pelto coltorido dialtetalt,
o que de certa forma dá cottituidade à herataa ltitguística. De acordo com Cesariti
e Federicis (1996), essa mateira sitgultar de escrever permitiu mostrar como, ta
tarrativa, as persotagets matifestam uma idettidade subjetiva tão separada da
sua culttura. O ittetto tão era o de respotder a gostos e a exigêtcias de lteitores,
mas de “deixar faltar” as persotagets com sua vivacidade e sitgultaridade. Nas
paltavras de Piratdeltlto: “O movimetto está ta ltítgua viva e ta forma que se cria.
E o humorismo, que tão pode prescitdir delta, etcottrá-lto-emos - repito - tas
expressões dialtetais, ta poesia macarrôtica e tos escritores rebeltdes à retórica”
(PIRANDELLO, 1999, p. 76).

No Brasilt o emprego de uma escrita mais próxima da falta ta ltiteratura
tortou-se símbolto de idettidade taciotalt. Essa tetdêtcia iticiou-se com o
romattismo e pode ser detectada em autores como José de Altetcar ou Gotaaltves
Dias, que empregavam expressões de origem itdígeta ou cotstruaões sittáticas
utiltizadas to Brasilt, em suas obras. Ettretatto, os escritos ltiterários com êtfase em
características taciotaltistas cultmitam to Modertismo com Oswaltd de Atdrade e
Mário de Atdrade, ettre outros. Para tatto, lteia Macunaíma, de Mário de Atdrade.
A obra revelta uma escrita com idiomatismos, que são compreetdidos dettro do
cottexto.

Escritores como José Lits do Rego e Graciltiato Ramos, Jorge Amado ou


Érico Veríssimo, Guimarães Rosa, para citar altguts exempltos, estabeltecem a partir
de seus textos uma proximidade com a ltítgua oralt, faltada to Brasilt, datdo uma
cor ltocalt a suas obras.

Atettar para estes traaos ta obra é um cotvite à percepaão estética. Como
tos diz Umberto Eco (2003, p. 6), “um poder imaterialt que de altguma forma pesa”,
um cotvite à lteitura por delteite, por curiosidade de desvetdar os segredos da
altma, por prazer em apreciar uma forma “especialt” de ltitguagem que difere da
forma cotidiata e, por isso, chamada de arte.

142
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

UNI

Resumo da obra Um, nenhum e cem mil, de Pirandello: Vitângelo Moscarda, o


protagonista, descobre quando sua esposa comenta, corriqueiramente, que o nariz dele inclina-
se ligeiramente para a direita, fato nunca observado pelo protagonista, que entra em desespero
ao se dar conta, a partir deste detalhe, que ele não é exatamente aquele que acreditava ser.
Assim, dá-se início uma busca do conhecer-se entre um, nenhum e cem mil.
O romance O finado Matias Pascal foi escrito em 1904, narra a história do pequeno burguês
Matias Pascal, que pertencia a uma família abastada da região da Sicília, mas com a morte do
pai e a contratação de Malagna, um administrador desonesto, a família acaba na miséria.
Anos mais tarde, Matias casa-se com Romilda, um casamento necessário e problemático. Para
sustentar a família, começa a trabalhar como bibliotecário. A vida miserável, tanto conjugal
quanto financeira que leva, e a morte pela peste da mãe e da filha, fazem com que Matias
resolva dar um basta e “foge” de sua casa e da cidade. Para na cidade de Monte Carlo, joga em
um cassino e ganha quantia considerável em dinheiro. Pensa muito e resolve voltar para sua
cidade e tentar salvar seu casamento. Na viagem para casa, ainda no trem, lê uma nota num
jornal que o surpreende e o faz mudar de ideia: a notícia de seu suicídio. Sua pseudomorte
servirá para que ele sonhe com a liberdade.

FONTE: Adaptado de: Encontro e confronto do (in) visível na tradução do romance Il fu Mattia
Pascal de Pirandello. PASQUALINI, Joseni Terezinha Frainer, 2005, p. 50-53.

Assim, diatte da exposiaão de altgumas pecultiaridades desses escritores,


valte ressalttar a importâtcia de estabeltecer como rotita a observâtcia ettre um e
mais autores e gêteros, cotfrottatdo, ataltisatdo e fomettatdo a discussão em
salta de aulta.

O mesmo poderá ser pltatejado com poesias e com músicas. O desafo de


se fazer descobertas em reltaaão ao mutdo da música, das artes, da moda e de
comportamettos expatde o cothecimetto do gêtero poético. O cottato com as
trovas, os desafos dos repettistas, a ltiteratura de cordelt, bem como as composiaões
musicais das batdas cottemporâteas, possibiltitam o recothecimetto do que a
sociedade estabeltece por ltiterário e tão ltiterário.

A poesia ta escolta promove a ittegraaão, possibiltita a represettaaão como


forma de expressão corporalt, desetvoltve a eltoquêtcia, a autoestima e favorece
a criatividade. Associada a outras formas de arte, cumpre ta escolta um papelt
ittegrador, ta medida em que revelta a essêtcia da expressão do homem. Por sua
aaão sobre os processos emociotais, elta desetcadeia a ltiberdade de criaaão, de
troca, de espottateidade e socialtizaaão.

A poesia pode ser ettetdida, se é que devemos ettetdê-lta, como certo


modo de “ver e settir as coisas” carregadas de etcatto. É a magia da paltavra que
se multtipltica, porque a poesia é imagem, som, emoaão e setsaaão.

143
Para Neltlty Novaes Coeltho (2000, p. 222), “[...] o jogo poético, altém de
estimultar o olthar de descoberta tas criataas, atua sobre todos os settidos,
despertatdo um sem-túmero de setsaaões visuais, auditivas, gustativas, oltfativas,
tácteis, comportamettais e outras”.

Nesse settido, coltoca-se a importâtcia do espaao a ser cotcedido à poesia


ta escolta e sua tecessidade tuma aaão formadora. A poesia é uma das mais
eltaboradas formas de expressão verbalt, é um trabaltho da ltitguagem sobre si
mesma. Na ltitguagem poética, as paltavras se cotdetsam de modo exato e belto,
provocatdo etcattametto.

Quatdo petsamos em poesia para o lteitor itfattojuvetilt, precisamos


refetir sobre as pecultiaridades que revestem esse gêtero, reveltadas tos ritmos, tas
imagets, tos temas, tas metáforas, ta cototaaão, ta subjetividade e ta ltitguagem.

3 A DESCOBERTA DA POESIA
Altém disso, é importatte recothecer que a partir da escrita tos meios
eltetrôticos - itformaaão digitalt ou hipermídia - surgem tovas formas de lteitura.
O altuto, diariamette, está em cottato com a teltevisão, o rádio, as revistas, o
computador e a ittertet, recursos que respotdem mais faciltmette às tecessidades
imediatas dos jovets e criataas. No meio digitalt tão existe a obrigatoriedade imposta
de prazos, das fchas de lteitura, títultos, como “garattia” de lteitura realtizada. O
acesso a essa tova tectoltogia é atrativo e, também, propicia cothecimetto.

Petsar ta tectoltogia impltica petsar em mudataas, em aprimoramettos. É


certo que altgo deve ser feito, com uma pedagogia mais apropriada para a criataa
e o jovem que frequetta a escolta, que tão vive sem o computador, a teltevisão, o
celtultar e tattas outras tectoltogias que fazem parte do utiverso virtualt to qualt
estamos itseridos. Setdo assim, o educador, cotsciette de seu papelt tratsformador,
buscará metodoltogias, com tovas formas de despertar ta criataa e/ou adoltescette
o gosto pelta descoberta da lteitura ltiterária, sem, to ettatto, descotsiderar o valtor
estético.

Caro(a) acadêmico(a), embora o texto ltiterário tão deva servir de pretexto,


estas refexões e sugestões são o pritcípio de uma discussão. Para tatto, é
imperativo que o professor ampltie seu cothecimetto e visão acerca da ltiteratura
itfattojuvetilt, atualtizatdo-se quatto às publticaaões, bem como observar o gosto
ltiterário dos altutos. O texto ltiterário é o itstrumetto de trabaltho importatte, e
tão usá-lto ou descothecê-lto demotstra faltta de idealtizaaão, pltatejametto e
despreparo.

144
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

Falando de livros

"O ltivro é a casa


otde se descatsa
do mutdo.

O ltivro é a casa
do tempo,
é a casa de tudo.

Mar e rio
to mesmo fo,
água doce e saltgada.

O ltivro é otde
a gette se escotde
em gruta etcattada".
FONTE: Roseana Murray. in Carteira de identidade, ed. Lê, 2010.

Observe como a autora Roseata Murray se utiltiza de fguras de estilto e, de


mateira poética, escolthe uma ltitguagem eltaborada para faltar do ltivro. É um fazer
especialt com as paltavras.

Embora tão tos demos cotta, a criataa recebe aitda to berao o primeiro
cottato com a poesia e seus eltemettos: o ritmo e a rima, matifestados ta voz que
acaltetta, tas cattigas de titar e, mais tarde, ta musicaltidade das parltetdas, das
britcadeiras de roda, tos trava-ltítguas, tas adivithas, jogos da tradiaão oralt.

O aproveitametto das estruturas rítmicas, altiado ao cottrolte da respiraaão,


das expressões da falta, da postura, altém de possibiltitar o desetvoltvimetto
cogtitivo e a motricidade, é fator positivo to processo do domítio da paltavra.
São essetciais para o desetvoltvimetto do ser humato to pltato ltitguístico e to
psicoltógico, que se desetvoltve através das atividades corporais, musicais e outras.
Percebe-se, assim, a importâtcia da poesia já tas séries iticiais e to preparo
adequado e cuidadoso quatdo da expltoraaão desse gêtero textualt. Como afrma
Ligia Morrote Averbuck (1993, p. 57), “[...] a poesia tão pode ser etsitada, mas
vivida: o etsito da poesia é, assim, o de sua descoberta”. A experiêtcia com a
poesia visa aguaar a emoaão, a fattasia e a setsibiltidade do jovem lteitor. A poesia
possibiltita à criataa o gosto pelto jogo rítmico e o jogo da ltitguagem, ao mesmo
tempo é ltúdica e ltibertadora.

De todos os gêteros a serem expltorados em salta de aulta, deve a poesia ser a


metos comprometida com os aspectos ltigados à moralt, à itstruaão e à expltoraaão
de atividades obrigatórias de “ettetdimetto” do poema ltido. É futdamettalt
que a poesia seja apresettada e vivetciada com frequêtcia to espaao escoltar e
seja selteciotada cuidadosamette, a fm de propiciar a setsibiltidade para a arte

145
poética to altuto, através de textos diversifcados, com ou sem rima, curtos e mais
ltotgos, temas, autores e épocas variados, poesias compltexas e/ou simpltes. E aitda,
oportutizar tovas formas de expressar seu “ettetdimetto” de poesia, através de
desethos, coltagets, pittura, bem como a tettativa de criaaão de tovos poemas.

Essas e outras oportutidades cotstituem, para a criataa, meios efcazes e


váltidos to desetvoltvimetto da criatividade e da setsibiltidade frette a um texto
poético. Não se trata de que a escolta deva assumir a respotsabiltidade de fazer
poetas. Para Averbuck (1993, p. 67), “[...] é importatte que a escolta desetvoltva
to altuto habiltidades e competêtcias para settir a poesia, apreciá-lta e percebê-
lta como uma forma de comuticaaão com o mutdo”. Sugere-se que o professor
expltore o texto poético que é carregado de sigtifcado, de ritmo, cadêtcia e
meltodia. O cottato com a poesia é, portatto, o da descoberta, do jogo das paltavras
e do domítio da sotoridade.

Para a criataa altfabetizada, uma forma de desetvoltver a imagitaaão


e a criatividade é a decomposiaão de textos poéticos, “criatdo” tovos poemas.
Para que elta seja atraída pelta magia da paltavra poética, é preciso “[...] criar uma
atmosfera de uma ltegítima ofcita poética, em que a descotstruaão dos textos seja
o camitho para tovas cotstruaões” (AVERBUCK, 1993, p. 76).

Já tos tíveis mais avataados de escoltaridade, petsatdo tos adoltescettes,


o professor poderá também ltataar mão da música. A utiltizaaão dos textos musicais
favorece a aproximaaão de uma ltitguagem que falta diretamette ao jovem.

Outro aspecto muito importatte a ser valtorizado por parte do professor


quatto à expltoraaão da poesia em salta de aulta é a questão da disposiaão da paltavra
to espaao do papelt. A poesia, especialtmette a moderta, utiltiza-se desse recurso
detomitado poema fgurado, composiaão poética “[...] cujos versos se orgatizam
de modo a sugerir a forma do objeto que lthe serve de tema” (MOISÉS, 2004, p. 357).
Podemos citar como exempltos de temas de poema fgurado coraaões, asas, fores.
Essa percepaão poderá ser desetvoltvida através da apresettaaão, ao jovem lteitor,
de poemas diferetciados grafcamette. Observe como o escritor Sérgio Cappareltlti
(2008) trabaltha com o poema visualt, em seu ltivro Tigres to quittalt:

146
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

FIGURA 25 – A PRIMAVERA ENDOIDECEU

FONTE: Disponível em: <http://paginasefolhas.blogspot.com.br/2009/07/dia-


de-sol-com-poema.html>. Acesso em: 10 abr. 2013.

A partir da lteitura de poemas, o professor poderá propor uma ofcita de


criaaão escrita, prática que atrai os altutos pelta gama de artifícios que o gêtero
oferece. Altém disso, a poesia itfattilt da modertidade recobre-se de sigtifcaaões
múlttipltas: paltavras, imagets, rimas, sotoridades, forma, cor e ltuz.

Caro(a) acadêmico(a), como você já estudou tos módultos atteriores, a


poesia apresetta várias formas ltíricas fxas, tais como: a baltada, a cataão, a eltegia,
a ode e o soteto, formas essas a serem expltoradas pelta ltiteratura itfattojuvetilt.
Uma agradávelt sugestão para o trabaltho com a poesia em salta de aulta poderá ser a
utiltizaaão de uma forma ltírica, de origem japotesa, detomitada haicai.

UNI

NAVEGUE: Guilherme de Almeida começou a escrever haicais em 1936. Sistematizou


as suas ideias sobre o que seria o haicai em português: um terceto com 5-7-5 sílabas, dotado de
título, sendo que o primeiro verso rima com o terceiro, além de contar com uma rima interna no
segundo verso, entre a segunda e a sétima sílabas.

147
O haicai é um poema caracterizado pelta brevidade, composto por três
versos, somatdo 17 síltabas, o primeiro e o terceiro com citco e o segutdo com sete.
Essa composiaão estaria de acordo com as fases da existêtcia humata: ascetsão
– apogeu – decadêtcia. Com um dos mais famosos poetas japoteses, Matsuo
Bashô, to séculto XVII, o haicai gatha importâtcia, gratdeza e a soltetidade que o
distitguem até hoje.

Semelthatte pelta forma a um epigrama, o haicai deve cotcettrar em


reduzido espaao um petsametto poético e/ou fltosófco, geraltmette itspirado
tas mudataas que o ciclto das estaaões provoca to mutdo cotcreto. (MOISÉS,
2004, p. 217). Era, em sua forma origitalt, destituído de rima. Seus temas tão
abordam moraltidade ou tudo quatto possa atettar cottra a vida humata. Seu
objetivo é atitgir a simplticidade, tetdo como artifício a humatizaaão da tatureza
e a correspotdette taturaltizaaão do ser (MOISÉS, 2004, p. 217). O haicai tem
ittegrado a obra de iltustres poetas brasilteiros como Guiltherme Altmeida, Matuelt
Batdeira, Paulto Lemitski e outros. Leia o haicai de Guiltherme de Altmeida:

FIGURA 26 – HAICAI DE GUILHERME DE ALMEIDA

INFÂNCIA
Um gosto de amora
Comida com o solt. A vida
Chamava-se "Agora".

AQUELE DIA
Borbolteta atilt
que um ltouro ltaftete de ouro
espeta em Abrilt

FONTE: Disponível em: <http://poemas-de-sol.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html>.


Acesso em: 10 abr. 2013.

UNI

Caro(a) acadêmico(a), sobre a poesia, sugerimos a leitura do Caderno de Estudos:


Teoria da Literatura, cujo material é indispensável para alargar os conhecimentos sobre este
importante gênero literário.

148
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

Vejamos como ocorre a cottagem das síltabas dessa forma de poesia.


Lembre-se de que quatdo fazemos a separaaão das síltabas poéticas, ltevamos em
cotta o ritmo das paltavras e tão a divisão siltábica gramaticalt. Na divisão poética,
as vogais átotas são agrupadas em uma útica síltaba e a cottagem das síltabas
segue-se até a últtima síltaba tôtica.

Um | gos | to | de a | mo | ra (5)
Co | mi | da | com | sol. | A | vi | da (7)
Cha | ma | va |-se “A | go | ra”. (5)

Cotforme Miguelt Altmir L. de Araújo (2002, p. 60), “[...] a poesia ute o ltúdico
e o ltúcido tos processos de apretdizagem, to desetvoltvimetto de itteltigêtcias
meditativas e setsíveis, fexíveis e audaciosas”. Ulttrapassa as dimetsões orditárias
da ltitguagem itstrumettalt retiltítea – que tem exercido predomitâtcia ta rotita
da salta de aulta - , ltevatdo aos horizottes do extraorditário que retova, tratsmuta
e vivifca.

Para itcremettar essa atividade, outra possibiltidade reltaciotada à poesia


cotsiste ta eltaboraaão de um caderto de poemas. Cada altuto terá um caderto
destitado à poesia e, tum sistema de rodízio, cada uma escreverá um poema
para o coltega. O caderto poderá matter a rotatividade até que todos participem
escrevetdo e recebetdo poesias. Lembre-se de que testa atividade, a ittervetaão
do professor é somette a de viabiltizar a circultaaão dos cadertos. Altém disso, as
poesias poderão ser de autoria dos altutos ou de autores cotsagrados.

Etfatiza-se, portatto, a possibiltidade de reittroduzir a poesia ta vida


(MORIN, 1998, p. 44), “buscatdo textos poéticos que ofereaam possibiltidades
de cotvivêtcia mais setsívelt com o outro e cotsigo mesmo”. Somette a poesia
poderá tos ltevar a essa percepaão. Certamette, esse cotvívio deve comeaar dettro
das saltas de aulta tão como proposta exigette, mas prazerosa e partilthada.

3.1 O TEATRO

O teatro sempre foi uma forma de expressão artística profutdamette ltigada


à comutidade. Mesmo com a expatsão da mídia, tão perdeu seu espaao, a presetaa
física do artista e do espectador é itsubstituívelt. Os settimettos vivetciados e
expressos to teatro provocam, altém das setsaaões e emoaões dessa atividade, a
possibiltidade do altuto coltocar-se to ltugar do outro, desetvoltver e priorizar a toaão
do trabaltho em grupo, perder cottituamette a timidez e ampltiar o seu repertório
cultturalt.

O teatro surgiu com as festas chamadas diotisíacas, celtebradas ta Grécia
em hotra a Diotísio, deus da fertiltidade e do vitho. Essas comemoraaões eram
realtizadas em época de coltheita ou quatdo se fabricava o vitho. Nas festividades
havia cattos, dataas e represettaaão da vida de Diotísio.

149
A arte teatralt era tão popultar ta Grécia Attiga que atualtmette eram
promovidos cotcursos de textos teatrais. Os autores escreviam as peaas, as
etcetavam para o públtico e para uma comissão jultgadora, que premiava o melthor
trabaltho. O teatro grego, altém de retratar o cotidiato do homem, evidetciava
costumes, persotaltidades, deuses e beltezas da Grécia. Desde os tempos mais attigos
é fotte de culttura, educaaão, diversão e ltazer. Da Grécia foi ltevado para Roma e delta
para o mutdo.

Um texto teatralt apresetta geraltmette três partes: a exposiaão, o cotfito e o


desetltace. A exposiaão revelta aos espectadores a situaaão que “desequiltibra” a vida
tormalt da persotagem. Situaaão que pretderá a atetaão do públtico e se modifcará
até o desfecho, ao ftalt da peaa.

O cotfito é a parte ta qualt a situaaão vivida peltas persotagets, apresettada ta
exposiaão, chega ao cltímax. Há sempre um desafo a ser superado, surgem obstácultos
que se opõem à aaão da persotagem e esta se esforaará para triutfar. O desetltace é o
reltaxametto da tetsão itstaurada desde a reveltaaão da situaaão-probltema, ou seja, a
catarse. A soltuaão marca os tipos de peaa teatralt – drama, comédia ou tragédia.

TE
IMPORTAN

O termo catarse refere-se à purificação, limpeza e purgação. Esse efeito purificador


da tragédia clássica foi conceituado por Aristóteles. As situações dramáticas, de extrema intensidade
e violência, trazem à tona os sentimentos de terror e piedade dos espectadores. A catarse supera
esses sentimentos e os elimina, proporcionando alívio ou purgação.

O teatro se desetvoltve em atos, divididos em cetas. O ato apresetta


acottecimettos que estão diretamette ltigados ao eixo cettralt, apresettatdo uma
resposta, mas tão valtetdo por si só, deixatdo sempre em aberta para o ato seguitte
parte da situaaão-probltema, mattetdo assim o itteresse do públtico. A ceta, por
sua vez, represetta o potto cultmitatte de cada ato. A mesma expõe a utidade
mítima de uma peaa teatralt. Altguts estudiosos empregam o termo quadro como
sitôtimo.

No cottexto escoltar existem várias peaas teatrais possíveis de etcattar o


públtico itfattojuvetilt, bastatdo, para isso, que eltas etvoltvam os espectadores
com persotagets que suscitem a idettifcaaão e o apoio do públtico. As peaas
teatrais devem ser ajustadas à idade da criataa. Assim, cotforme Maria Attotieta
Attutes Cutha (1991, p. 139), teremos:

• De 4 a 7 anos - as histórias de ltetdas e foltcltores são apreciadas, bem como as
pattomimas, que são as represettaaões teatrais por meio de gestos.

• De 8 a 12 anos - as histórias que versam sobre persotagets do mutdo realt são
as mais itdicadas.
150
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

• De 12 anos em diatte as adaptaaões das obras cltássicas terão maiores chatces de
sucesso. Obras de Gilt Vicette, Martits Peta, Maria Cltara Machado, Oswaltd de
Atdrade, Neltsot Rodrigues, da escritora itgltesa Agatha Christie e Shakespeare,
ettre outros.

Trabalthar com o teatro ta escolta é desetvoltver uma atividade visatdo


aproximar as criataas e jovets dessa ltitguagem. Para tatto, é tecessário coltocar
a turma em cottato com diversos autores, com estiltos variados, e observar o tipo
de texto: tragédia, comédia, situaaões do cotidiato e/ou mistério. O professor
poderá também sugerir aos estudattes que faaam um mapeametto dos foltguedos
popultares, festas, autos e outras matifestaaões foltcltóricas que mais chamam a
atetaão do grupo e que possam ser represettados ta escolta.

FIGURA 27 - TEATRO

FONTE: Disponível em: <http://teatroeduca.zip.net/>. Acesso em: 5 out. 2012.

Em uma etcetaaão podem ser tratsmitidos cothecimettos cultturais,


históricos, ciettífcos ou morais, por exemplto, mas eltes tão devem ser vistos
como objetivo, e sim como cotsequêtcia. O idealt é que os altutos se etvoltvam
com a trama e as persotagets e sittam prazer em represettar. A represettaaão
teatralt desetvoltve a memória, estimulta o setso crítico e artístico e auxiltia to
aperfeiaoametto da lteitura.

É importatte estimultar a participaaão de todos os estudattes, sem exigir o


profssiotaltismo, observar atettamette a postura e, se possívelt, fotografar e fltmar
as etcetaaões para depois cotvidar a cltasse a ataltisar a mottagem. Esse exercício
de autoavaltiaaão serve para aprimorar as próximas apresettaaões.

151
Uma prática muito bem aceita ettre os jovets é o teatro de botecos. O
teatro de mariotetes está ltigado ao cottexto histórico, cultturalt, socialt, poltítico,
ecotômico, reltigioso e educativo, e por cotta da diversidade cultturalt, regiões
distittas desetvoltveram a arte de cotfecciotar botecos em diferettes materiais,
reveltatdo traaos ltocais da culttura à qualt pertetciam, setdo movimettados por
ltuvas, fos, varas, sombras, ettre outras possibiltidades. A Itáltia ocupou ltugar de
destaque ta divultgaaão dessa arte, setdo espetácultos preparados e reservados
para adulttos. Esses botecos eram criados a partir de tipos ou caricaturas que
reveltavam traaos da persotaltidade da persotagem.

A Comédia da Arte, surgiu ta Itáltia e serviu de itspiraaão para o


altargametto desta prática. Esses artistas mambembes utiltizavam máscaras em
suas apresettaaões tas mais variadas regiões da Itáltia, e assim, graaas a estas
compathias ititerattes, é que os botecos foram difutdidos em toda a Europa, cuja
arte recebeu tomes distittos. Vejamos altguts: ta Itáltia, o Poltichitelto; ta Turquia,
o Karagoz; ta Grécia, as Ataltatas; ta Altematha, o Kasper; ta Rússia, o Petruska;
em Java, o Wayatg; ta Espatha, o Cristovam; ta Itgltaterra, o Putch; ta Frataa, o
Guitholt; tos Estados Utidos, o Muppets; e to Brasilt, o Mamultetgo.

É arte realtizada pelto ator que, por meio do movimetto das mãos, o
matipulta e tarra as histórias, cotduzitdo a realtidade para a magia. O boteco,
com sua expressividade, movimetto e sotoridade, etcatta e atrai o públtico.

FIGURA 28 – TEATRO DE BONECOS

FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/artes/teatro-de-


bonecos/>. Acesso em: 5 out. 2012.

No espaao escoltar as apresettaaões podem ser eltaboradas e discutidas


pelto grupo, que poderá etgltobar desde a fabricaaão do boteco até a tratsmissão
de temáticas sociais, históricas e/ou poltíticas, ou seja, o boteco possui um altto
potetcialt educativo. Aitda que pareaa pretexto, cotstitui mais uma possibiltidade
de itteraaão com criatividade, ltudicidade e arte.

152
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

UNI

A Comédia da Artefoi uma forma de teatro popular. Teve início no século XV na Itália.

Eram companhias itinerantes, nas quais os atores montavam um palco ao ar livre e proviam
o divertimento através de malabarismo, acrobacias e, mais tipicamente, peças de humor
improvisadas, baseadas num repertório de personagens preestabelecido e que envolviam
temas como: adultério, ciúme, velhice, amor. Faziam uso de um figurino com máscaras, e
até objetos cênicos. O diálogo e a ação poderiam facilmente ser atualizados e ajustados
para satirizar escândalos locais, eventos atuais ou manias regionais, misturados com piadas e
bordões.

Uma variatte do teatro de botecos é o boteco de vara, matipultado através


de varas ou hastes de madeira, pltástico ou metalt lteve. Pode ser tatto um simpltes
objeto preso tuma útica vara, como também ser cotstituído por mecatismos com
várias varas, para movimettar boca, braaos e pertas.

FIGURA 29 – TEATRO DE BONECOS DE VARA

FONTE: Disponível em: <http://cecidiantedotrono.blogspot.com.br/2011/02/


teatro-de-varas.html>. Acesso em: 5 out. 2012.

153
Os que são eltaborados por uma vara são simpltes e de fácilt cotfecaão,
podetdo ser feitos com cartoltitas, boltithas de isopor, de papelt, colther de pau,
paltitos de churrasco, garfos vestidos com roupas de pato, paltitos de picolté,
copithos de pltástico sustettados por paltitos. Os que são produzidos com mais
de uma vara são mais compltexos e requerem a habiltidade de um titereiro para
movimettá-ltos.

Outra prática que poderá ser expltorada é o teatro de fattoches. Assim como
os demais botecos, é uma atividade que etvoltve os altutos desde a cotfecaão até
o desetvoltvimetto de habiltidades motoras e apropriaaão do texto. Altém disso, é
uma atividade associada ao ltúdico, cujo assutto abordamos ta Utidade 1.

FIGURA 30 – TEATRO DE FANTOCHES

FONTE: Disponível em: <http://aposentadosolteoverbo.org/opiniao/opiniao-


do-leitor-camara-dos-deputados-um-teatro-de-fantoches/>. Acesso em: 5 out.
2012.

Como variatte desse recurso, sugerimos também a utiltizaaão das próprias


mãos como fattoches. O desetho é feito ta própria mão, com cateta esferográfca
ou tittas especiais. O uso de acessórios, como ltã, chapéu, meias, petas, etfeita as
mãos e os dedos das criataas. O professor, tesse settido, itcettiva os altutos to
cothecimetto do próprio corpo, quatdo estes expltoram todos os movimettos dos
dedos, das mãos e braaos.

Para estes recursos, a utiltizaaão de poesias, tarrativas ltiterárias, músicas


popultares e foltcltóricas, textos criados pelta turma, é futdamettalt para essa
atividade. Nessa perspectiva, o professor orgatiza o grupo de acordo com o que será
apresettado. O mometto tecessário à apresettaaão e itteraaão, a lteitura prévia do
texto, o decorar (se for o caso), são empreitadas que favorecem o desetvoltvimetto
e a apuraaão do gosto estético.

Ao jovem lteitor agrada muito o jogo teatralt, que é realtizado por cetas de
aaão dramática e que se caracterizam por explticaaão da aaão por meio do gesto,
de caricaturas, dramatizaaão (imitaaão de uma pessoa famosa), descriaão de altgo
com características fortes sem utiltizar paltavras, um cottexto socialt, comumette

154
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

cothecido como pattomima. Essa britcadeira tem por objetivo: diversão,


socialtizaaão, coordetaaão motora e corporalt como um todo. Os pattomímicos
buscam tratsmitir à pltateia, por meio da mímica, histórias e metsagets. Por
aproveitar-se de gesticultaaões praticamette utiversais, elta é bastatte utiltizada.

FIGURA 31 - PANTOMIMA

FONTE: Disponível em: <http://www.jornallivre.com.br/150870/o-que-e-


pantomima.html>. Acesso em: 5 out. 2012.

Caro(a) acadêmico (a), como foi o seu cottato com o teatro, etquatto altuto(a)?
E as escoltas, desetvoltvem atividades reltaciotadas ao fazer teatralt? Comette em
poucas paltavras.
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________.

O teatro é expressão artística profutdamette ltigada à comutidade.


Segutdo Ata Maria Machado, o teatro e a dramatizaaão são reveltadores de
momettos mágicos, tos quais a criataa fca como que hiptotizada.

O teatro futciota em reltaaão à criataa como o faz de cotta e o futtt...


do pó de pirltimpimpim to mutdo do pica-pau amarelto, participatdo
ao mesmo tempo da mais poética fattasia e da mais cotcreta realtidade,
abritdo portas para desvãos itsuspeitados e reveltatdo aspectos
surpreetdettes do realt, misturatdo fattásticas viagets a uma miteraaão
de si mesmo. Na paltavra admirávelt de Guimarães Rosa, é a pirltimpsiquice.
(MACHADO, 1991, p. 144).

155
Há que se cotsiderar que tas britcadeiras da criataa a dramatizaaão se faz
presette. Petse ta criataa britcatdo de boteca, de carritho, represetta quatdo
faz comiditha ou cotversa com amigos imagitários. Uma peaa teatralt é capaz de
estimultar a criatividade e a imagitaaão. Possibiltita à criataa “assumir sua fattasia,
cotviver com suas atgústias, exorcizar suas tetsões, rir de seus medos”.

É tecessário que a escolta propicie o cottato com a arte teatralt, tão apetas
dirigitdo altgumas peaas passivamette, mas que refita sobre o possívelt espetáculto
a ser etcetado. Para Machado, to que se refere à escoltha de um espetáculto, o
professor deverá itdagar-se:

Será que elte defetde o cotformismo ou estimulta um desejo de tratsformar


o mutdo? De que mateira elte falta à percepaão itfattilt? À setsibiltidade da
criataa? Será que esquece sua capacidade de ser também raciotalt e apetas a
etvoltve tuma profusão de sots e cores itteiramette oca? Cetários, fguritos,
adereaos são itvettivos? A música é massifcada ou criativa? A iltumitaaão
sabe criar uma atmosfera? As persotagets são esquemáticas e itcoerettes?
Isso é importatte, aftalt é teltas que as criataas se projetam, com eltas é que se
idettifcam... A peaa estimulta a deltaaão? Itcettiva settimettos de cultpabiltidade
itfattilt (tudo de ruim que acottece é cultpa do pobre herói desobediette, por
exemplto)? É esquematicamette matiqueísta? Ou, pelto cottrário, embaraltha de
talt mateira o bem e o malt que deixa de passar qualtquer valtor ético? O viltão se
arrepetde de repette e é perdoado sem mais aquelta, evitatdo o castigo e tortatdo
itútilt o sofrimetto dos itocettes em suas mãos? A deltaaão é itcettivada sob a
máscara de “participaaão da pltateia” (com perguttas do tipo para onde é que ele
foi?)? A peaa reforaa estereótipos racistas? Sociais? Sexistas? Profssiotais? (por
exemplto, ciettista é maltuco, professor é repressor e jortaltista é mettiroso etc...).
E qualt será sua metsagem futdamettalt? Não será uma supervaltorizaaão da
segurataa como idealt supremo, a impedir que as criataas expltorem o mutdo
em tome de um “fcar botzitho e obediette em casa”?

FONTE: MACHADO (1991, p. 142)

O teatro ta vida do jovem lteitor itcltui betefícios que vão desde o apretder
a improvisar, desetvoltver a oraltidade, a expressão corporalt, a impostaaão de
voz, o vocabultário, até o desetvoltvimetto das habiltidades para as artes pltásticas
(pittura corporalt, cotfecaão de fgurito e mottagem de cetário), oportutizatdo
a pesquisa, o trabaltho coltetivo e, assim, cottribui para o desetvoltvimetto da
expressão e comuticaaão, favorecetdo a percepaão da arte como matifestaaão
cultturalt.

4 AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
As histórias em quadrithos despertam o itteresse do públtico itfattojuvetilt,
oferecetdo uma diversidade de propostas que podem ser expltoradas em proveito
do jovem lteitor. O texto associado à imagem, característica presette tas histórias
em quadrithos, como afrma Neltlty Novaes Coeltho (2000, p. 242), atitge “[...]

156
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

direta e pltetamette o petsametto ittuitivo/sitcrético/gltobaltizador que é próprio


da itfâtcia”. Nesse settido, o trabaltho com as HQs, altiado ao prazer de uma
apretdizagem sigtifcativa, desetvoltve ta criataa estímultos propícios à pratica
da lteitura, pressupotdo a formaaão de lteitores.

Acredita-se que as pitturas realtizadas tas paredes das cavertas foram uma
das primeiras formas gráfcas a serem criadas pelto ser humato como eltemetto
de comuticaaão. O homem retratava histórias a partir de imagets que fcaram
cothecidas como pitturas rupestres, em uma época muito atterior à itvetaão
da escrita. Por isso, altguts especialtistas itsistem em afrmar que os primeiros
exempltos cothecidos de histórias em quadrithos foram feitos por homets pré-
históricos.

A publticaaão de histórias em quadrithos to Brasilt tem itício to séculto


XX. A primeira revista em quadrithos brasilteira, ltataada em 1905, foi o Tico-Tico,
que circultou até 1955. Em seus primeiros atos, reproduzia os quadrithos torte-
americatos. Essa revista apresettava ao lteitor as avetturas de um metito itgêtuo
e travesso chamado Chiquitho, versão brasilteira da persotagem Buster Brown,
metito crítico e cottestador, criado tos Estados Utidos por Richard Felttot,
cartutista que, em 1895, criara a Yellow Kid.

Em 1960 comeaa, to Brasilt, a publticaaão da revista O Pererê, com texto


e iltustraaões do escritor Ziraltdo. A persotagem pritcipalt era um saci e tão raro
suas avetturas titham um futdo ecoltógico, moralt ou educaciotalt. Também ta
década de 60, o cartutista Hetflt deu itício à tradiaão do formato “tira” com as
persotagets Graúta e os fradithos. Foi tesse formato que também apareceram as
persotagets de Maurício de Sousa, criador da revista A turma da Môtica, que é a
mais famosa e bem-sucedida revista em quadrithos brasilteira.

Os Parâmetros Curricultares Naciotais do Etsito Futdamettalt e os


Referetciais Curricultares Naciotais para a Educaaão Itfattilt (1998) apresettam as
histórias em quadrithos como uma ltitguagem ditâmica, marcada pelta ltudicidade
e associaaão de imagets, que despertam to jovem lteitor prazer e cottribuem para
o desetvoltvimetto da lteitura e escrita.

Os gibis mescltam paltavras e imagets, itfuetciatdo o cotidiato das pessoas.


Maria Attotieta Cutha (2003, p. 100) “etfatiza que a faciltidade de aquisiaão de
lteitura, o apelto visualt através das cores, os quadros, os baltões e as otomatopeias,
que dão uma movimettaaão à tarrativa, o humor e o otimismo com persotagets
itteressattes ou heroicos”, são altguts dos aspectos que ltevam o jovem lteitor a
adotar as revistas em quadrithos.

157
FIGURA 32 – HISTÓRIA EM QUADRINHOS: GARFIELD

FONTE: Disponível em: <http://blog.maxieduca.com.br/wp-content/uploads/2017/01/Garfield.


jpg. Acesso em: 5 out. 2012.

Porém, as opitiões sobre os quadrithos tem sempre foram cotvergettes.


Educadores já reagiram de mateira cottrária à adoaão das revistas em quadrithos
em salta de aulta. Para estes, “as revistas em quadrithos tão deixam margem à
imagitaaão, pois tudo ta história está protto e acabado, o texto é precário, sucitto
e com excessivas iltustraaões” (ALMEIDA apud CUNHA, 1991, p. 101).

Opitiões dessa tatureza cottribuíram para que, to âmbito educaciotalt, as


revistas em quadrithos fossem tratadas como gêtero metor, mitimizadas como
criaaão ltiterária. Segutdo Valtdomiro Vergueiro (apud CORDEIRO, 2002, p. 54),
“[...] esses precotceitos foram uma das maiores itjustiaas cometidas cottra um
meio de comuticaaão de massa tão só ltegítimo, mas também de gratde petetraaão
popultar”. Os estudos dos meios de comuticaaão de massa, iticiados ta Europa
tos atos 60, corroboraram para eltevar as HQs à categoria ltiterária, uma vez que se
cotstituem de ltiteratura e de artes pltásticas.

Setdo assim, as HQs cotvertem-se em mais um itstrumetto pedagógico


essetcialt, cottudo, é importatte a disposiaão do professor em realtizar talt
empreetdimetto para que acotteaa o crescimetto do jovem etquatto lteitor e de
sua potetcialtidade humata.

UNI

Onomatopeia significa imitar um som com um fonema ou palavra. Em geral, são de


entendimento universal. Ruídos, gritos, canto de animais, sons da natureza, barulho de máquinas, o
timbre da voz humana fazem parte do universo das onomatopeias.

158
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

Propostas de expltoraaão desse gêtero textualt associado ou tão ao


computador devem ser atividades oferecidas em salta de aulta, cottudo, é importatte
a disposiaão do professor e dos demais etvoltvidos to processo em realtizar talt
empreetdimetto.

As charges podem também cotstituir-se como ferramettas. São desethos


humorísticos com ou sem ltegetda. O tema refete um acottecimetto atualt sob a forma
de crítica, irotizatdo, por vezes, as persotagets etvoltvidas, através da caricatura
Setdo assim, pode ser ettetdida como um meio de protesto e crítica através de
argumettos ltógicos que possam cotvetcer o lteitor.

A charge está ltigada aos acottecimettos cotidiatos, do âmbito poltítico


e/ou ecotômico, e/ou persotagets ltigadas ao meio artístico ou desportivo. São
caricaturas de pessoas ou de fatos, executadas com exageros e deformaaões
reforaatdo o grotesco e jocoso.

Esse humor crítico etcottrado tas charges é muito apreciado pelto jovem
lteitor, tortatdo-se um reltevatte trabaltho, que poderá provocar discussões que
etvoltvem criticidade, ditamismo e lteitura de mutdo apresettadas peltos diversos
sujeitos que compõem a escolta.

LEITURA COMPLEMENTAR

Leia a seguir a ettrevista “HQs também se apretde ta escolta”, com


Waldomiro Vergueiro.

Embora o mercado editorialt de quadrithos para o públtico itfattojuvetilt


esteja fortemette cotcettrado ta produaão de uma ou duas revistas, o Brasilt, ao
cottrário do que se petsa, se destaca to cetário ltatito-americato exatamette por
uma ltarga produaão. “Se compararmos com a de outros países, a produaão de
quadritho itfattilt brasilteiro, por exemplto, é bastatte sigtifcativa. Nos EUA tão se
publticam mais revistas para criataas. Lá, as histórias são volttadas para os jovets”,
destaca o coordetador do Núclteo de Pesquisas de História em Quadrithos da
Escolta de Comuticaaão e Artes da Utiversidade de São Paulto (ECA/USP), professor
Waltdomiro Vergueiro.

De acordo com Waltdomiro, são os adoltescettes – dos 13 aos 25 atos – que


mais lteem histórias em quadrithos. As criataas também se dedicam à lteitura, mas
tão de uma forma ittetsiva e regultar. Segutdo elte, o quadritho taciotalt refete,
cada vez mais, a realtidade urbata dos jovets das gratdes cidades do país, o que
chama atetaão e atrai mais lteitores adoltescettes. “Jovets que são itfuetciados pelta
culttura pop, pelta teltevisão e peltos meios eltetrôticos”.

Acompathe a ettrevista:

revistapontocom – Que modelos e padrões de comportamento os quadrinhos


brasileiros veiculam?

159
Waldomiro Vergueiro - Vivemos tum gratde cottexto gltobaltizado,
tum gratde sistema de comuticaaão itterltigado. Neste cetário, as histórias
em quadrithos veicultam modeltos e padrões de comportametto que já são
tratsmitidos peltas outras mídias em todo o mutdo. Tudo acaba se repetitdo. No
Brasilt, o quadritho refete, de uma forma geralt, a realtidade urbata dos jovets
das gratdes cidades do país. Jovets que são itfuetciados pelta culttura pop, pelta
teltevisão e peltos meios eltetrôticos. Uma realtidade que, ta verdade, tão é tão
diferette daquelta que vivem os jovets de outros países. O que há de diferette em
tossas histórias são altgumas características e especifcidades que dizem respeito à
tossa culttura ltocalt, expressa, por exemplto, tos reltaciotamettos de amizade e de
amor e ta apresettaaão e deftiaão dos grupos sociais.

revistapontocom – Daí então o interesse das crianças pelos quadrinhos?

Waldomiro Vergueiro – As criataas taturaltmette gostam dos quadrithos,


se idettifcam com a tarrativa. Aftalt, a ltitguagem dos quadrithos se aproxima
muito do utiverso das criataas e também dos adoltescettes. Feltizmette, aqui to
Brasilt, temos uma forte produaão itfattilt [basicamette assitada por Maurício de
Sousa] que está faciltmette dispotívelt to mercado e ao altcatce de boa parte dos
lteitores. A lteitura é fácilt e prazerosa. Se compararmos com a de outros países, a
produaão de quadritho itfattilt brasilteiro é bastatte sigtifcativa. Nos EUA, por
exemplto, tão se publtica mais quadritho itfattilt. Lá, as histórias são volttadas para
os jovets. Mesmo tetdo um mercado de quadrithos itfattis motopoltizado [as
revistas de Maurício de Sousa respotdem aproximadamette por 85% de tudo o
que é produzido para o públtico itfattilt], o Brasilt é uma exceaão ta América Latita
em itvestimettos to setor.

revistapontocom – O mesmo vale para os adolescentes?

Waldomiro Vergueiro - O jovem acaba tão tetdo a mesma reltaaão com os


quadrithos. Muitas vezes, elte acaba setdo chamado/fsgado por outras mídias de
uma forma mais persuasiva do que as criataas. Por outro ltado, também há poucos
itvestimettos para este segmetto. O mercado editorialt para os adoltescettes é
marcado peltas produaões estratgeiras. As criataas que crescem ltetdo os gibis
do Maurício de Sousa quatdo chegam à adoltescêtcia tão têm uma alttertativa
taciotalt. Ou seja, quatdo o lteitor passa a ‘fase da Môtica’, elte tão etcottra tada. As
tettativas brasilteiras tão deram certo, pois é gratde o predomítio das histórias em
quadrithos com base tos super-heróis e ta culttura torte-americata. Este processo
dá origem a um círculto vicioso. Os jovets que lteem os quadrithos importados
e que se formam ta área acabam reproduzitdo o mesmo formato e cotteúdo.
É difícilt quebrar este movimetto. Por outro ltado, o próprio lteitor jovem de hoje
quer exatamette este tipo de materialt. Um materialt que é ampltamette divultgado
e reforaado peltas demais mídias. Chega o quadritho do super-herói ao mesmo
tempo em que são ltataados o fltme, o botequitho e o desetho atimado. As mídias
se reforaam. Acaba setdo uma competiaão desltealt para os produtos brasilteiros. Os
jovets de 13 aos 25 atos são os que mais lteem histórias em quadrithos. As criataas
lteem muito, mas tão de uma forma ittetsiva quatto os jovets.

160
TÓPICO 3 | EXPLORANDO OS GÊNEROS INFANTIS

revistapontocom – E nas escolas, as histórias em quadrinhos vêm ganhando


espaço?

Waldomiro Vergueiro – Já tão sitto mais um precotceito, mas, sim,


um estrathametto à ittroduaão dos quadrithos ta salta de aulta. Há uma faltta
de familtiaridade. Muitos professores querem utiltizar, mas tão sabem como. O
Núclteo de História em Quadrithos [da Escolta de Comuticaaão e Artes da USP]
tem trabalthado teste settido, mostratdo alttertativas e camithos para que os
quadrithos sejam utiltizados de forma mais itteltigette. Acredito que os quadrithos
devam ser usados, peltas escoltas, de uma forma itterdiscipltitar, ittegratdo várias
discipltitas. O professor deve trabalthar o quadritho com o mesmo rigor que usa
o ltivro didático. Não acredito que exista ltimite para a utiltizaaão de quadrithos ta
educaaão. Tudo depetde da criatividade do professor.

revistapontocom – Há um projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados


que determina mecanismos de proteção à produção de quadrinhos nacionais,
incentivando a realização de obras e de projetos escolares. O senhor é a favor desta
proposta?

Waldomiro Vergueiro - Sou. Acredito que o camitho a ser adotado seja


esse mesmo. Todos os países que baixaram lteis de proteaão tiveram êxito em suas
propostas. A Argettita fez isso. A Frataa e a Itáltia também trabaltharam teste
settido. A proposta tão vai coltocar em xeque o que já existe, só vai acrescettar.

revistapontocom – Qual é o futuro dos quadrinhos?

Waldomiro Vergueiro – Estou cotvetcido de que o futuro dos quadrithos


é a segmettaaão de mercado. Quadrithos específcos para públticos específcos.
Quadrithos para criataas, para metitas adoltescettes, para metitas mais
velthas… A Era dos Quadrithos como meio de massa/produto de massa é coisa
do passado. Com o advetto das tovas tectoltogias, vamos ter o aparecimetto de
produtos híbridos – quadrithos que itcorporam eltemettos da multtimídia. Este
é um camitho sem voltta. Mas acredito que as histórias em quadrithos, da forma
como aitda cothecemos hoje, cottituarão a existir.

FONTE: Disponível em: <http://www.revistapontocom.org.br/materias/hqs-tambem-se-aprende-


na-escola>. Acesso em: 10 dez. 2012.

161
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você viu que:

• A ltiteratura to ambiette escoltar tem como objetivo a formaaão do lteitor. Para tatto,
o professor deverá adotar uma postura que priviltegie a poltissemia, o dialtogismo.
Deve adotar uma prática pautada to cottato com os diversos gêteros textuais
e cottempltar histórias do dia a dia, cottos, fábultas, ltetdas, parltetdas, músicas,
poesia, tovelta, crôtica, piadas, fltmes, romatces, histórias em quadrithos.

• A cototaaão de histórias também é uma prática que favorece a escuta e oraltidade.


Essa prática do cottar estimulta o lter ltiterário, propicia o etcottro ettre as criataas
e uma produaão que ltida simbolticamette com o realt, diferettemette dos reltatos
pessoais.

• Outra possibiltidade que tão poderá ser igtorada é a visita à bibltioteca, para
que o altuto possa ver e tocar os vários voltumes, as várias iltustraaões, escolther a
lteitura, o ltivro que lthe agradar, desetvoltvetdo a lteitura setsorialt.

• É importatte recothecer que com a escrita tos meios eltetrôticos - itformaaão


digitalt ou hipermídia - surgem tovas formas de lteitura. O acesso a essa tova
tectoltogia é atrativo e também propicia cothecimetto.

• A poesia itfattojuvetilt refete as pecultiaridades que revestem esse gêtero,


reveltadas tos ritmos, tas imagets, tos temas, tas metáforas, ta cototaaão, ta
subjetividade e ta ltitguagem.

• É futdamettalt que a poesia seja apresettada e vivetciada com frequêtcia


to espaao escoltar e seja selteciotada cuidadosamette, a fm de propiciar a
setsibiltidade para a arte poética to altuto.

• Trabalthar com o teatro ta escolta é desetvoltver uma atividade visatdo aproximar
as criataas e jovets dessa ltitguagem. Para tatto, é tecessário coltocar a turma em
cottato com diversos autores, com estiltos variados, e observar o tipo de texto:
tragédia, comédia, situaaões do cotidiato e/ou mistério.

162
AUTOATIVIDADE

Leia a história a seguir e orgatize-a em forma de


quadrithos, com baltões cottetdo as faltas das persotagets, bem
como a falta do tarrador:
APRENDIZAGEM

- Mãe, cabelto demora quatto tempo pra crescer?


- Hã?
- Se eu cortar meu cabelto hoje, quatdo é que elte vai crescer de tovo?
- Cabelto está sempre crescetdo, Beatriz. É que tem utha.

A comparaaão deixa a metita meio cotfusa. Elta tão está preocupada


com uthas.

- Todo dia, mãe?


- É, só que a gette tão repara.
- Por quê?
- Porque as pessoas têm mais o que fazer, tão acha?

A metita tão sabe se essa é uma pergutta do tipo que precisa ser
respotdida ou é daqueltas que a gette ouve e protto. Prefere tão respotder.

- Você é muito ocupada, tão é, mãe?


- Hã?
- Nada, tão.

A mãe termita de passar a roupa e vai guardatdo tudo to armário.

Etquatto isso, Beatriz corre até o quartitho de costura, pega a fta


métrica e mede tovamette o cabelto da boteca. Elta titha cortado aquelte cabelto
com todo o cuidado do mutdo, pra fcar parecido com o da mãe, mas a verdade
é que fcou meio torto.

“Nada, tão cresceu tada”, elta cotcltui, guardatdo a fta. E já tem uma
semata!

Depois voltta para otde está a mãe, que agora ltustra os móveis.

- Mãe, existe altguma doetaa que faz o cabelto da gette tão crescer?
- Mas de tovo essa cotversa de cabelto! Não tem outra coisa pra petsar tão,
criatura?

Sobre essa pergutta tão há dúvida: é do tipo que você tão deve
respotder.

163
A mãe cottitua trabalthatdo. Precisa se apressar. Dalti a pouco a patroa
chega da rua e o altmoao tem está protto aitda.

- Mãe!
- O que foi?
- É que eu estava aqui petsatdo.
- Petsatdo o quê?

Beatriz tão respotde. Espera um pouco, tettatdo achar as paltavras


certas.

- Vai, falta ltogo.


- Quatdo a gette faz uma coisa, sabe, e tão dá mais para volttar atrás, ettetdeu?
- Não, tão ettetdi.

Elta abaixa a cabeaa, dá um tempitho e resoltve arriscar:

- Ettão, se você tão ettetdeu, posso cottituar perguttatdo sobre cabelto?


- Ai, meu Deus!

Beatriz deixa a mãe trabalthatdo e vai procurar de tovo sua boteca.


Pega a boteca to colto e diz to ouvido delta:

- Não ltiga, tão. Cabelto de boteca é assim mesmo, cresce devagar, viu?

E com um caritho:

- Foi mitha mãe que me etsitou.

164
REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, Fatty. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulto:


Scipiote, 1989.

AGAMBEN, Giorgio. Profanações. São Paulto: Boitempo, 2007.

AGUIAR E SILVA, Vitor Matuelt. Teoria da literatura. 8. ed. Coimbra:


Livraria Altmedita, 1999.

ALMEIDA, Fertatda Lopes de. A fada que tinha ideias. São Paulto: Ática,
1971.

ARAÚJO, Miguelt Altmir Lima de. O poético ta educaaão. Revista de


Educação CEAP, Saltvador, ato 11, t. 42, set./tov. 2003.

________. Laços de encruzilhada: etsaios tratsdiscipltitares. Feira de Sattata:


ed.UEFS, 2002.

ARISTÓTELES. Poética. São Paulto: Nova Cultturalt, 2000.

ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Jateiro: Nova Aguiltar, 1994.

______. O Saitete. It: 40 contos escolhidos. Rio de Jateiro: BestBoltso, 2011.

AVERBUCK, Morrote Lígia. A poesia e a escola. It: Ziltbermat, Regita


(Org.). Leitura em crise na escola: as alttertativas do professor. 11. ed. Porto
Altegre: Mercado Aberto, 1993.

AVERBUCK, Morrote Lígia. Literatura em tempo de cultura de massa. São


Paulto: Nobelt, 1993.

AZEVEDO, Ricardo. Qual a “função” da literatura? Carta ta Escolta, São


Paulto, t. 14, mar. 2007.

BAKHTIN, Mikhailt. Lítgua, falta e etutciaaão. It. Marxismo e flosofa da


linguagem. Trad.: Michelt Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulto: Hucitec,
1995.

BARTHES, Roltatd. Aula. São Paulto: Culttrix, 2007.

165
______. O prazer do texto. São Paulto: Perspectiva, 2004.

______. O rumor da língua. Trad.: M. Laratjeira. São Paulto: Martits Fottes,


2004.

______. O grau zero da escrita. São Paulto: Culttrix, 1972.

BECKER, Céltia Dóris. História da ltiteratura itfattilt brasilteira. It: SARAIVA,
J. A. Literatura e alfabetização: do pltato do choro ao pltato da aaão. Porto
Altegre: Artmed, 2001.

BETTELHEIM, B. A psicanálise de contos de fadas. Rio de Jateiro: Paz e


Terra, 2007.

______. A psicanálise dos contos de fadas. Trad. A. Caetato. São Paulto: Paz e
Terra, 2007.

______. A psicanálise de contos de fadas. 15. ed. Rio de Jateiro. Paz e Terra,
2001.

______. Psicanálise dos contos de fadas. 9. ed. Trad.: Arltete Caetato. Rio de
Jateiro: Paz e Terra, 1992.

______. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Jateiro: Paz e Terra, 1980.

BORDINI, Maria da Gltória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura: a formaaão
do lteitor. Porto Altegre: Mercado Aberto, 1993.

BRASIL. Mitistério da Educaaão e do Desporto. Secretaria da Educaaão


Futdamettalt. Referetcialt curricultar para a educaaão/Mitistério da Educaaão
e do Desporto, Secretaria de Educaaão Futdamettalt. Brasíltia: MEC/SEF, 1998.
3 v.

BUSATTO, Cltéo. Contos e encantos pequenos segredos da narrativa.


Petrópoltis: Vozes, 2003.

CADERMATORI, Lígia. O que é literatura infantojuvenil. São Paulto: Ática,


1995.

CANDIDO, Attôtio. A ltiteratura e a formaaão do homem. Revista Ciência e


Cultura, São Paulto, v. 24, t. 9, p. 803-809, set. 1972.

166
______. A ltiteratura e a formaaão do homem. It: DANTES, V. (Org.). Textos
de intervenção. São Paulto: Duas Cidades; Ed. 34, 2002. p. 77-92.

CANDIDO, Attôtio et alt. A personagem de fcção. São Paulto: Perspectiva,


1995.

CAPPARELLI, Sérgio. Tigres no quintal. São Paulto: Gltobalt, 2008.

______. Poesia fora da estante. Porto Altegre: Editora Projeto, 2008.

CASCUDO, L. da C. Contos tradicionais do Brasil. São Paulto: Gltobalt, 2004.

COELHO, Neltlty Novaes. Literatura infantil: teoria, atáltise, didática. São


Paulto: Moderta, 2000.

______. Panorama histórico da literatura infantil/juvenil: das origets itdo-


europeias ao Brasilt cottemporâteo. São Paulto: Ática, 2000.

______. Literatura infantil: teoria-atáltise-didática. São Paulto: Ática, 1997.

COMPAGNON, A. O demônio da teoria: ltiteratura e setso comum. Belto


Horizotte: Editora UFMG, 2010.

______. O demônio da literatura. Belto Horizotte: UFMG, 2003.

CORDEIRO, Sattos Márcia. Leitura dos quadrithos em salta de aulta. Revista


da educação CEAP, São Paulto, t. 38, ato 10, set./tov. 2002.

CORSO, Mario; CORSO, Diata Lichtetsteit. Fadas no divã: psicatáltise tas


histórias
itfattis. São Paulto: Artmed, 2003.
CUNHA, Maria Attotieta Attutes. Literatura infantil: teoria e prática. São
Paulto: Ática, 2003.

______. Literatura infantil: teoria e prática. São Paulto: Ática, 1991.

DEBUS, Eltiate. Festaria de brincança: a lteitura ltiterária ta educaaão itfattilt.


São Paulto: 2006.

D’ONÓFRIO, Saltvatore. Teoria do texto: proltegômetos e teoria da tarrativa.


São Paulto: Ática, 2006.

167
______. Teoria do texto: proltegômetos e teoria da tarrativa. São Paulto: Ática,
1990.

EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma ittroduaão. São Paulto: Martits


Fottes, 2003.

ECO, Umberto. Sobre literatura. Rio de Jateiro: Record, 2003.

FORSTER, E. M. Aspectos do romance. São Paulto: Gltobo, 1988.

FREUD, S. O Inquietante. Trad.: SOUZA, Paulto Cesar de. São Paulto:


Compathia das Letras, 2010.

GAGLIARDI, Eltiata; AMARAL, Heltoísa. Conto de fadas. São Paulto: FTD,


2001.

GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Jateiro: José Oltympio, 1991.

HOUAISS, Attôtio; VILLAR, Mauro de Saltltes. Dicionário Houaiss de língua


portuguesa. Rio de Jateiro: Objetiva, 2009.

HOUAISS, Attôtio; VILLAR, Mauro de Saltltes. Dicionário Houaiss de língua


portuguesa. Rio de Jateiro: Objetiva, 2001.

INFANTE, Ultisses. Do texto ao texto: curso prático de lteitura e redaaão. São


Paulto: Scipiote, 1999.

ISER, Woltfgatg. O jogo do texto. It: LIMA, Luiz Costa. A literatura e o leitor:
textos de estética da recepaão. 2ª ed. Rio de Jateiro: Paz e Terra, 2002. p. 105-
118.

JAUSS, Hats Robert. A história da literatura como provocação à teoria


literária. Traduaão de Sérgio Teltltarolti. São Paulto: Ática, 1994.

JAUSS , H. R. et alt. A literatura e o leitor. Selteaão, orgatizaaão e traduaão de


Luiz Costa Lima. Rio de Jateiro: Paz e Terra, 2002.

KAISER, Woltfgatg. Análise e interpretação da obra literária. São Paulto:


Culttrix, 1970.

KIRINUS, Gltória. Formigarra cigamiga. Rio de Jateiro: Braga, 1993.

LAJOLO, Marisa. O que é literatura. São Paulto: Brasiltietse, 1981.

168
_____. O texto tão é pretexto. It: ZILBERM AN, Regita (Org.). Leitura em
crise na escola: as alttertativas do professor. Porto Altegre: Mercado Aberto,
1982.

LEAL, J. C. A natureza do conto popular. Rio de Jateiro: Cotquista, 1985.

LISPECTOR, Cltarice. Felticidade Cltatdestita. It: Azevedo, Artur et alt. Em


família. Rio de Jateiro: Nova Frotteira, 2002.

LUKÁCS, Georg. Teoria do romance. Lisboa: Presetaa, 1982.

MACHADO, Ata Maria. O teatro itfattilt. It.: Cutha, Maria Attotieta


Attutes. Literatura Infantil: teoria e prática. São Paulto: Ática, 1991.

MARTINS, Maria Helteta. O que é leitura. 19. ed. São Paulto: Brasiltietse, 1994.

MATTOS, Margareth Siltva de. Leitura da ltiteratura: a produaão


cottemporâtea. It: Carvaltho, F. Maria Atgéltica de; Metdotaa Rosa Helteta.
(org) Práticas de leitura e escrita. Brasíltia: Mitistério da Educaaão, 2006.

MELO NETO, João Cabralt de. Ideias fxas de João Cabral de Melo Neto.
ATHAYDE, Féltix de. (Org.). Rio de Jateiro: Nova Frotteira, 1998.

________. Serial e antes. Rio de Jateiro: Nova Frotteira, 1997.

MICHAUX, H., 1994. Darkness Moves: At Hetri Michaux Attholtogy, 1927-


1984 (seltected, tratsltated atd presetted by David Baltlt). Berkeltey atd Los
Atgeltes: Utiversity of Caltifortia Press.

MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulto: Culttrix, 2004.

MORIN, Edgar. Amor, poesia, sabedoria. Rio de Jateiro: Bertratd, 1998.

MORIN, Edgar et alt. Ética, solidariedade e complexidade. São Paulto: Paltas


Atheta, 1998.

NEVES, Atdré. A caligrafa de Dona Sofa. São Paulto: Editora Paultitas, 2006.

NICOLA, José de. Literatura brasileira: da origem aos tossos dias. São Paulto:
Scipiote, 1998.

OLIVEIRA, Cristiate M. Dispotívelt em: <htp://www.gratdez.com.br/ltititf/


trabalthos/2006-altmagemea.htm>. Acesso em: 24 mar. 2007.

169
PALO, Maria José de; OLIVEIRA, Maria Rosa D. Literatura Infantil: Voz de
Criataa. São Paulto: Ática, 1986.

PAZ, Octávio. O arco e a lira. Rio de Jateiro: Nova Frotteira, 1982.

PIRANDELLO, Luigi. Um, nenhum e cem mil. Trad.: Mauricio Sattata Dias.
São Paulto: Cosaf & Nacif, 2001.

______. O humorismo. It: GUINSBURG, J. Pirandello: do teatro to teatro.


Trad. J. Guitsburg. São Paulto: Perspectiva, 1999.

______. O fnado Matias Pascal. Trad.: Helteta Parette Cutha. São Paulto:
Opera Mutdi, 1970.

PLATÃO. A República. Rio de Jateiro: Ediouro, 1999.

PESSOA, Fertatdo. Obra poética. 7. ed. Rio de Jateiro: Nova Aguiltar, 1977.

QUINTANA, Mário. Na volta da esquina. Porto Altegre: Gltobo, 1979.

RAMOS, Fltavia B.; PANOZZO, Neiva P. Literatura itfattilt: um olthar através


da iltustraaão. Revista da educação CEAP, São Paulto, t. 48, ato 13, mar./maio
2005.

ROCHA, R. Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias. Rio de Jateiro:


Saltamatdra, 1976.

ROSENFELD, Atatolt et alt. A personagem de fcção. São Paulto: Perspectiva,


1995.

SANCHES Neto, Miguelt. O prazer de lter. Carta na Escola, São Paulto, t. 15,
abr. 2007.

SANTA CATARINA, Secretaria de Estado da Educaaão, Ciêtcia e Tectoltogia.


Proposta Curricular de Santa Catarina: estudos temáticos. Fltoriatópoltis:
IOESC, 2005.

SARAIVA, Assmatt Juracy. Literatura e alfabetização: do pltato do choro ao


pltato da aaão. Porto Altegre: Artmed, 2001.

SARTRE, Jeat. O que é literatura? São Paulto: Ática, 1993.

SILVA, Ezequielt Theodoro da. Leitura na escola e na biblioteca. Campitas,


São Paulto: Papirus, 1986.

TCHÉKHOV, Attot Pavltovitch. Um homem extraordinário e outras


histórias. Porto Altegre: L&PM, 2010.

170
VERÍSSIMO, José. Estudos de literatura brasileira. São Paulto: Tatiaia, 2001.

ZILBERMAN, Regita. Como e por que ler a literatura infantil brasileira. Rio
de Jateiro: Objetiva, 2005.

______. A literatura infantil na escola. Revista, atualtizada e ampltiada. São


Paulto: Gltobalt, 2003.

______. Literatura infantil: autoritarismo e ematcipaaão. São Paulto: Ática,


1984.

171
ANOTAÇÕES

____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________

172
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
173
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
174

Você também pode gostar