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Introdução
O Brasil mantém grande biodiversidade de flora, em parte ainda pouco estudada como
as espécies frutíferas do Cerrado, com destaque para as do gênero Campomanesia da família
Myrtaceae, popularmente conhecidas como gabiroba. Das espécies do gênero, Campomanesia
adamantium (Camb.) O. Berg e Campomanesia pubescens (DC.). O. Berg apresentam alta
freqüência de ocorrência e grande potencial frutífero; morfologicamente semelhantes, torna-se
difícil diferenciá-las (Arantes e Monteiro, 2002).
Uma característica marcante entre elas é a presença de pubescência em folhas jovens e
nos frutos de C. pubescens (Arantes e Monteiro, 2002). Contudo, em função do potencial
plástico das espécies do gênero é grande a presença de plantas no cerrado que quase não
apresentam pêlos. Segundo Landrum (1986), as variações apresentadas pelos espécimes de C.
pubescens podem estar relacionadas aos seus locais de ocorrência.
Dentre as linhas de pesquisa para fruteiras nativas, a biometria tem sido bastante
estudada, sendo esta uma linha de pesquisa antiga. È um instrumento importante para detectar
variabilidade genética dentro de populações da mesma espécie e as relações com os fatores
ambientais (Gusmão et al., 2006). Esse estudo também fornece subsídios para a diferenciação
de espécies do mesmo gênero (Cruz et al., 2001), caracterização da dispersão e do
estabelecimento de plântulas (Fenner, 1993), informações relativas à conservação e
exploração dos recursos de valor econômico, permitindo seleção contínua e racional para
produção dos frutos (Gusmão et al., 2006).
Diante disso, o objetivo do trabalho foi comparar dados biométricos de
Campomanesia adamantium (Camb.) O. Berg e Campomanesia pubescens (DC.). O. Berg
para quantificar a variabilidade relativa aos frutos e as sementes das espécies.
Material e Métodos
Em novembro de 2007, amostras de 50 frutos de C. adamantium e 50 de C. pubescens
foram coletadas de 23 e 11 acessos, respectivamente, na reserva legal da Fazenda Água
Limpa da Universidade Federal de Uberlândia (“19º 05’ 57,92” S e “48º 20’ 49,79” W), no
município de Uberlândia, MG. O clima da região, de acordo com a classificação de Köppen,
(1948) é do tipo Aw, caracterizado como chuvoso (clima de savana), megatérmico. Os
números de registro do material de consulta de C. adamantium e C. pubescens no Herbarium
Uberlandensis (HUFU) da Universidade Federal de Uberlândia são 3624 e 21376,
respectivamente.
Para o estudo da biometria utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado com
dois tratamentos correspondentes as espécies, 10 repetições de cinco frutos por parcela,
perfazendo 100 frutos. Para as dimensões dos frutos, levou-se em consideração o fato de que
nem todos apresentavam formato esférico, mas elipsóide. Assim, mediu-se com paquímetro, o
comprimento longitudinal (mm) e transversal (mm) dos frutos e das sementes, além da
determinação da massa da matéria fresca (g) dos frutos em balança analítica e número de
lóculos por fruto e lóculos com sementes. Com as medidas de comprimento, determinou-se o
volume (103 mm3) dos frutos pela expressão: volume do elipsóide = 4 3 π (a 2 )2 (b 2 ) , onde:
a é o comprimento longitudinal e b o comprimento transversal.
As pressuposições quanto à normalidade dos resíduos da ANOVA e a homogeneidade
entre as variâncias, pelos testes de Shapiro-Wilk e Levene, respectivamente, foram atendidas
para todas as características estudadas e, portanto, aplicou-se o teste F a 0,05 de
probabilidade. Para o estudo do padrão de distribuição (média) foram construídos histogramas
das medidas de comprimento (longitudinal e transversal), volume e massa da matéria fresca
dos frutos.
Resultados e Discussão
Frutos de C. adamantium apresentaram, de maneira geral, características biométricas
semelhantes aos de C. pubescens, embora o comprimento transversal e a massa da matéria
fresca dos frutos tenham sido superiores para a primeira espécie (Tabela1). Dentre as
características estudadas, as de maior variabilidade foram à massa da matéria fresca dos frutos
(CV=41,4%) e o número de lóculos com sementes (CV=30,1%).
Coeficientes de variação de aproximadamente 11,70% para comprimento transversal
de frutos e de sementes revelaram variabilidade muito próxima, enquanto que para
comprimento longitudinal dos frutos (Tabela 1), a variabilidade foi maior (12,61%) do que a
mesma medida tomada para as sementes (4,81%).
Ambas as espécies apresentaram semelhanças em relação ao número médio de lóculos
por fruto (5,10 e 4,88; C. adamantium e C. pubescens, respectivamente), sendo que desses
lóculos aproximadamente 40% formaram sementes (2,02 e 2,18; C. adamantium e C.
pubescens, respectivamente) (Tabela 1). A redução no número de lóculos que originam
sementes foi registrada na literatura como uma característica marcante da família Myrtaceae.
Segundo Landrum (1982), durante a formação das sementes a redução no número de óvulos
que chegam a formar sementes visa concentrar as reservas nos óvulos remanescentes.
Massa da matéria fresca (g) 4,15 ± 2,08 a 2,63 ± 0,88 b 41,39 5,32 0,89
3 3
Volume dos frutos (10 mm ) 3,90 ± 2,06 a 2,67 ± 0,92 a 19,05 3,43 0,91
No de lóculos por fruto 5,10 ± 0,76 a 4,88 ± 0,93 a 7,37 0,44 0,98
o
N de lóculos com sementes 2,02 ± 1,22 a 2,18 ± 1,13 a 30,10 7,16 0,92
Sementes
Comprimento longitudinal (mm) 6,00 ± 0,48 a 5,26 ± 0,37 b 4,81 3,77 0,98
Comprimento transversal (mm) 2,85 ± 0,66 a 2,92 ± 0,27 a 11,69 5,50 0,96
1
Médias seguidas por letras minúsculas distintas na linha, para cada característica analisada, diferem entre si
pelo teste F a 0,05 de probabilidade; 2 F1: estatística do teste de Levene e W: estatística do teste de Shapiro-
Wilk; valores em negrito indicam homogeneidade das variâncias e normalidade dos resíduos, respectivamente.
60 60
C. adamantium
50 50
40 40
Frequência percentual (%)
30 28
30 24 30 26
20 18
20 20
12 12 12
10 4 6 4 10 4
0
0 0
60 13 - 14 15 - 16 17 - 18 19 - 20 21 - 22 23 - 24 25 - 26
60 13 - 14 15 - 16 17 - 18 19 - 20 21 - 22 23 - 24 25 - 26
C. pubescens
50 50 44
39
40 40
29 28
30 30
16
20 20 14 a 14
10
10 4 10
0 0 0 0 0
0 0
13 - 14 15 - 16 17 - 18 19 - 20 21 - 22 23 - 24 25 - 26 13 - 14 15 - 16 17 - 18 19 - 20 21 - 22 23 - 24 25 - 26
40 40
Frequência percentual (%)
30
30 26 24 30
22
20 16 20 16
12
8 10 8
10 6 6 10 4 4
2 2 2 2
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 60 1 2 3 4 5 6 7 8 9
60
50 C. pubescens
50 50 46
40 40
30 24 30 26
20 20 16
12 12 12
10 10
2 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6. 7 8 9
3 3
Massa da matéria fresca (g) Volume (10 mm )
Figura 2. Frequência percentual da massa da matéria fresca (g) e volume (103mm3) dos frutos
de Campomanesia adamantium (Camb.) O. Berg e Campomanesia pubescens (DC.). O. Berg.
Em estudos realizados com frutos de C. adamantium e C. pubescens os dados
biométricos foram sempre menores ou iguais aos relatados neste estudo. Há registros na
literatura que frutos de C. adamantium pesavam, em média, 2,30 g (Vallilo et al., 2006), com
máximo e mínimo entre 5,59 e 1,36 g (Melchior et al., 2006). O comprimento longitudinal foi
em média 18 mm (Arantes e Monteiro, 2002) e variou entre 14 e 22 mm (Melchior et al.,
2006). Ainda segundo os autores, o número de sementes, em média, encontrado na literatura
foi 3,10 e variou entre 1,20 e 4,05. Neste estudo o número de sementes foi menor (2,02),
porém com intervalo maior (entre 1 e 6).
Para C. pubescens há poucos registros na literatura sobre frutos e sementes, mas
segundo Arantes e Monteiro (2002) o comprimento longitudinal dos frutos está entre 17 e 20
mm, e segundo Morais e Lombardi (2006) eles possuem entre 6 e 8 lóculos por fruto.
Conclusões
Os frutos de Campomanesia adamantium demonstraram comprimento transversal e
massa da matéria fresca maiores que os de Campomanesia pubescens.
A espécie Campomanesia adamantium revelou maior variabilidade para as
características analisadas, o que favorece a seleção de materiais promissores para
comercialização de frutos.
Agradecimentos:
À FAPEMIG, CAPES e CNPq pela concessão das bolsas.
Referências bibliográficas
ARANTES, A. A.; MONTEIRO, R. A família Myrtaceae na estação ecológica do Panga,
Uberlândia, MG. Lundiana, MG, v.3, n.2, p.111-127, 2002.
GUSMÃO, E.; VIEIRA, F.A.; FONSECA JR, É.M. Biometria de frutos e endocarpos de
murici (Byrsonima verbascifolia Rich. ex A. Juss.) Revista Cerne, v.12, n.1, p.84-91, 2006.
MELCHIOR, S.J.; CUSTÓDIO, C.C.; MARQUES, T.A.; MACHADO NETO, N.B. Colheita
e armazenamento de sementes de gabiroba (Campomanesia adamantium (Camb) O. Berg –
Myrtaceae) e implicações na germinação. Revista Brasileira de Sementes, v.28, n.3, p.41-
150, 2006.