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Encontro HUMANISMO DE FUNCIONAMENTO PLENO

Revista de Psicologia
Vol. 14, Nº. 20, Ano 2011 Tendência formativa na abordagem centrada na pessoa

O livro Humanismo de Funcionamento Pleno: Tendência Formativa na


Abordagem Centrada na Pessoa - ACP, é uma coletânea de textos
organizados por Francisco Silva Cavalcante Junior e André Feitosa de
Souza, que integra a coleção literária Humanismo e Salutogênese
Bruno Gonçalves
trazendo a proposta, de re-humanizar a psicologia, conforme menciona
Faculdade Anhanguera de Jundiaí Poland (2008) na introdução do volume e avançar na discussão sobre
montieljm@hotmail.com Tendência Formativa e suas expressões, preenchendo o vazio deixado
por muitos anos de esquecimento das bases teóricas da Abordagem
Centrada na Pessoa (ACP).

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Desenvolvimento Educacional - IPADE
Resenha
Recebido em: 04/10/2011
Avaliado em: 25/03/2012
Publicação: 04 de maio de 2012 147
148 Humanismo de Funcionamento Pleno: tendência formativa na abordagem centrada na pessoa

O livro “Humanismo de Funcionamento Pleno: Tendência Formativa na Abordagem Centrada


na Pessoa ACP” é uma coletânea de textos organizados por Francisco Silva Cavalcante
Junior e André Feitosa de Souza, que integra a coleção literária Humanismo e Salutogênese
trazendo a proposta, de re-humanizar a psicologia, conforme menciona Poland (2008) na
introdução do volume e avançar na discussão sobre Tendência Formativa e suas
expressões, preenchendo o vazio deixado por muitos anos de esquecimento das bases
teóricas da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP).

No início do livro Francisco Silva Cavalcante Junior critica o modelo universitário


brasileiro, dizendo que a universidade deixou de ser humana ao restringir o
conhecimento à produção cientifica tecnicista que vem materializando a vida humana,
restringindo as potencialidades plenas do aluno e direcionando-o para uma prática
profissional em detrimento ao conhecimento para transformação da sociedade. Partindo
de outra perspectiva, o livro busca caminhos para a efetivação de uma ciência mais
compromissada com a transformação social levando o leitor a reflexões inéditas ao
apresentar ensaios que unem teoria, prática e experiência de diversos autores
contribuindo na fundamentação teórica da Psicologia Humanista.

Em tal contexto, é construído o conceito de Tendência Formativa pilar central da


abordagem ACP e base teórica da qual Carl Rogers e seus colaboradores dedicaram seus
estudos. Tendência Formativa é vista como uma tendência sempre atuante em direção a
uma ordem crescente e a uma complexidade inter-relacionada, visível tanto no nível
inorgânico como no orgânico. Essa tendência é diversas vezes citada nos textos, como
uma força que move o universo, que atua no ser humano, mas não pode ser controlada
por ele, sendo assim, essa força não pode se medida, mas sim compreendida e
presenciada na psicoterapia.

Os conceitos de Tendência Atualizante e Tendência Formativa são abordados de


forma singular por Paulo Coelho Castelo Branco, ele extrapola as barreiras da ciência
psicológica, trazendo influências sofridas por Rogers nos campos da química, física e
biologia o que culminou na interpretação de Tendência Atualizante como uma faceta da
Tendência Formativa, podendo ser observada no espaço sideral, nas estrelas, nos cristais,
nos microorganismos, nos animais e nos seres humanos. Já no capitulo 6, André Feitosa
de Souza demonstra a atuação da tendência Atualizante na vida cotidiana com uma
sutileza quase que poética, mostrando que esta instância maior e comum a todos os
processos naturais orgânicos ou não, opera de forma semelhante em uma pessoa, uma
arvore, um animal e em todo o cosmo.

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No texto do capítulo 7 forma-se um panorama histórico do surgimento da


ciência, que vai desde o conhecimento eclesiástico do século V e XV, passando pela
Reforma Protestante, pelo racionalismo de Descartes e pelo Empirismo de Bacon, Locke e
Hume, até chegar ao Pragmatismo do século XX. O pragmatismo do americano William
James é visto no texto como um método de investigação cientifica que trabalha por meio
da experiência. Carl Rogers influenciado por essa filosofia utiliza este método como forma
de acesso ao conhecimento e constata na sua própria experiência que dadas certas
condições facilitadoras, uma tendência à realização e à complexificação entrarão em ação.

Rogers foi pioneiro e incentivador das metodologias qualitativas de fazer


pesquisa cientifica o que contribuiu para o desencorajamento de escolas de pensamentos
fechados, sendo interpretado no livro como a sua maior contribuição. Através da
psicoterapia e da observação de seus clientes, ele formula a concepção sobre “crescimento
humano” como o fundamento da Psicologia Humanista, uma ciência que estuda a
experiência humana e sua expansão. Com isso, pode-se dizer que o pragmatismo aplicado
por Rogers à psicologia humanista teve um papel determinante na concepção do conceito
de Tendência Formativa e na valorização da experiência como componente comprovativo
da verdade.

Na busca pela “re-humanização” da psicologia, o decorrer do livro traz a


descrição do conhecimento e experiência dos autores ao aplicarem os conceitos da ACP
em psicoterapia, comprovando por meio da prática que é possível utilizar a ACP no
trabalho com crianças. Para completar o estudo, são apresentados relatos da
transformação pessoal dos autores que experienciaram plenamente suas emoções e
entraram num processo de experiência formativa e conectividade com o universo,
vivenciando na pele a empatia, a congruência e todo o arcabouço teórico da ACP.

O psicólogo André Feitosa de Souza discorre sobre a atuação da Tendência


Formativa na psicoterapia e como a Tendência Atualizante pode assumir no cliente
direções imprevisíveis, que às vezes não é socialmente aceita causando um impasse ético
no psicoterapeuta norteado pela ACP, quem de um lado têm os princípios da ciência e do
outro lado sua crença nas hipóteses da Tendência Formativa como uma filosofia.

Além das teorias é apresentado o Grupo de Florescimento Humano (GFH), uma


proposta pioneira na promoção de saúde mental que visa à pesquisa a descrição e análise
de praticas psicoeducativas integradoras, em suas relações com a promoção da felicidade,
assim, são compartilhadas várias vivências que se tornam úteis para profissionais da
psicologia, estudantes ou iniciantes na facilitação de grupos terapêuticos, pois, os ensina a

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“preparar o terreno”, ou seja, facilitar os momentos de cura, de aprendizagem e de


criatividade, já que eles são processos naturais e inerentes a qualquer ser vivo.

Os temas referentes à construção das bases teóricas da Abordagem Centrada na


Pessoa são retomados em discussões filosóficas, onde Feitosa defende que a referência
matriz formativa não deve ser abandonada, do modo como vêm ocorrendo em centros de
estudos da ACP espalhados pelo Brasil. Além disso, o autor reafirma a originalidade das
ideias de Rogers na construção de sua abordagem dizendo que apesar de encontradas
influências no pragmatismo de William James, no existencialismo de Soren Kierkegaard e
Martin Buber a abordagem criada por Rogers diferencia-se de todas essas filosofias.

O livro traz também contribuições de dois dos mais importantes teorizadores da


Abordagem Centrada na Pessoa, Maria Villas-Boas Bowen e John Keith Wood, o ultimo
foi uma das pessoas mais ativas na construção internacional da ACP, em um de seus
textos apresentados no livro, ele demonstra como a globalização associada à agricultura
industrial estão minando o potencial humano por meio da destruição ambiental. Em
contra partida apresenta a “Permacultura” como meio de combater esse mal e ainda frisa
a ineficácia da Universidade em apresentar um modelo sustentável de vida, pois não
consegue aplicar os conhecimentos ensinados na solução de seus próprios problemas,
sendo assim cabe ao psicólogo à empreitada de ajudar as pessoas a adotarem um modelo
sustentável de vida.

Maria Villas-Boas Bowen, brasileira que foi colaboradora e psicoterapeuta de


Rogers, proporciona uma melhor compreensão sobre o processo terapêutico descrevendo-
o em seu diversos aspectos e levando a uma reflexão um tanto incomum acerca dos sonho
de vida das pessoas e como eles podem resultar em frustrações quando as elas abrem mão
da realidade para seguir seus sonhos e metas. A autora interpreta que o papel do
psicoterapeuta é ajudar o cliente a se desvencilhar desses “belos sonhos” libertando-os
para viver para propósitos mais criativos e menos incongruentes. Maria reflete também
quanto à intervenção empática, que se banalizada e apresentada de uma forma não
natural, apenas para demonstrar o poder e as habilidades do psicoterapeuta podem
provocar reações opostas às pretendidas e assim estagnar o processo de atualização do
cliente. A autora apresenta uma alternativa a esse problema, “o silêncio”, já que a empatia
é sentida pela simples presença da outra pessoa, mesmo em silêncio.

O silêncio é tema do fechamento do livro, em seu ultimo capitulo os autores


ressaltam a importância do silencio na ACP dizendo que o próprio Rogers solicitava aos
clientes alguns momentos de silêncio antes de iniciar a sessão. Os autores também
argumentam que apesar de exercer uma relação estreita com a empatia, o silencio

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ultrapassa seus limites ao proporcionar ao cliente uma abertura na sua própria


experiência. Porém o silêncio somente é construtivo quando compartilhado pela
“presença” calorosa do terapeuta. São nesses momentos de silêncio que surgem as novas
organizações, como se o cliente e o terapeuta entrassem no fluxo da Tendência Formativa
para só depois atualizarem-se.

Por fim o conteúdo traz principalmente o pensamento de diversos autores que


relatam em seus textos o conhecimento adquirido por meio de suas práticas e experiências
na área da psicologia e contribuem imensamente para estudos sobre Tendência Formativa
e Abordagem Centrada na Pessoa. Assim pode-se dizer que o livro cumpre o objetivo do
qual se propôs a realizar, pois abre caminho para exploração das bases teóricas da
Psicologia Humanista.

Bruno Gonçalves
Curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera de
Jundiaí.

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