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INTRODUÇÃO
2. Sua estrutura
CAPÍTULO I
1. Razão de ordem
1 Sociedades e Empresas Comerciais, 2' ed., Coimbra, 1924, págs. 529 e segs..
3 Cfr. BMJ n.° 179, pág. 15.
4 Cfr. BMJ n.° 327, pág. 149.
5 Cfr. n.° 4, al. c), BMJ n.° 327, pág. 47.
6 Cfr. relatório do Dec.-Lei n.° 262/86, de 2 de Setembro, n.° 18.
176 DIREITO E JUSTIÇA
7Cfr., entrenós, por exemplo, Cunha Gonçalves, Comentário...,1 cit., págs. 207,
242 e Mário de Figueiredo, Direito Comercial, prelecções ao curso do 3.° ano jurídico
de 1935-36, recolhidas por J. Miranda, A.Vazc A.Quciró, Coimbra, 1937, pág. 118c nota
(2); J. G. Pinto Coelho, Lições de Direito Comercial, I, 3" ed., Lisboa, 1957, págs.200 e
segs. c III, fase. 1,2" ed., Lisboa, 1952, pág. 200; A. Ferrer Correia, Lições de Direito
Comercial, I, Coimbra, 1973, pág. 152 ell — Sociedades Comerciais. Doutrina Geral,
Coimbra, 1968, pág. 63; J. Pinto Furtado, Código Comercial Anotado,. I — Das
Sociedades Comerciais, I, reirnpr., Coimbra, 1986, págs. 135-136; A. Anselmo de
Castro, AcçãoExecutiva, Singular, Comum e Especial, 3‘cd., Coimbra, 1977, pág. 110,
Castro Mendes, Direito Civil. Teoria Geral, I, Lisboa, 1978, pág. 618, nota (1); Raul
Ventura, Sociedades Comerciais: Dissolução e Liquidação, II, Lisboa, 1960 págs. 91 e
92 c Comentário ao Código das Sociedades Comerciais. Dissolução e Liquidação de
sociedade, Coimbra, 1987, pág. 375.
A RESPONSABILIDADE DO SÓCIO EM NOME COLECTIVO 177
SECÇÃO I
AS CARACTERÍSTICAS DA RESPONSABILIDADE DO
SÓCIO EM NOME COLECTIVO
§1.°
A responsabilidade do sócio
como responsabilidade subsidiária
1. Génese
dores do final da Idade Média, o que, como afirma Veiga Beirão9, é mais
provável, até pelos exemplos das primeiras sociedades em nome colecti vo
surgidas nessa época, que eram constituídas, primeiro que tudo, por
familiares ou afins.
E esta divergência quanto à origem histórica destas sociedades é
acompanhada por semelhante divergência ao nível do seu enquadramento
doutrinário, podendo dizer-se que surgiram e permanecem hoje em dia
fundamentalmente duas orientações: a primeira tende a caracterizá-las
<3
como pessoas jurídicas; a segunda tende a negar-lhes essa personalidade,
fazendo-se então sentir a influência da mão comum para as explicar. As
duas tendências permanecem lado a lado no direito comparado e, mesmo
dentro de cada sistema jurídico (desde logo, no nosso) ambas coexistem
ou podem coexistir como formas jurídicas correspondentes a diferentes
sociedades.
De qualquer forma, entre nós, pelo menos desde o Código Comercial
de 1888, predominou a primeira orientação e as leis deste século (o
Código Civil e o Código das Sociedades Comerciais) não inverteram,
como sucedeu em Itália com o Código Civil, essa tendência.*
Talvez não seja descabido lembrar que a personalidade jurídica das
sociedades em nome colectivo foi pela primeira vez atribuída a estas
sociedades pelosjuristas italianos do final da Idade Média. As contribu ições
dos sócios para sociedade foram consideradas como constituindo um
património distinto do dos sócios e, para marcar essa separação de
patrimónios, começaram esses juristas a afirmar que a sociedade formava,
ela própria, um corpus mysticum diferenciado das pessoas dos sócios10.
O carácter subsidiário da responsabilidade dos sócios é também
documentável no Direito Intermédio. Em Siena, a necessidade de prévia
excussão do património social, não prevista no Constituto de 1262, foi
introduzida em 1303 (Et.se li bem de la compagnia a la intera satisfatione
non bastassero, è quali la podeslà sia tenuto reducere a le sue mani et
invenire,pillinsilibenepropiideciscuno de 'compagni de lacompagnia)".
A Ordonnance francesa de 1673 chamava a estas sociedades,
“sociedades gerais” mas era também comum a designação de sociedades
’ Direito Comercial Português, Coimbra, 1912, págs. 64 No mesmo sentido, cfr.
José Tavares, Sociedades... cit., págs. 274 e segs..
10 Cfr., entre nós. Cunha Gonçalves, Comentário. I cit., págs. 232 e segs. e José
Tavares, Sociedades... cit., págs. 275 e segs..
“Cfr.,F.GALGANO,«L’iniziativadeldcbitorenc]fallimentodcllesocietàpersonali»,
inRiv. Dir. Civ., V, P. I, págs. 289 e segs. e, especialmente, pág. 327 c nota (141).
A RESPONSABILIDADE DO SÓCIO EM NOME COLECTIVO 179
12 Arts. 547.° a 549.°. Cfr. ainda o art. 558.°, que estabelecia regime idêntico para
os sócios capitalistas da sociedade de capital e indústria.
180 DIREITO E JUSTIÇA
16 Essa a expressão que então foi utilizada para a caracterizar. Cfr., por exemplo,
José Tavares, Sociedades... cit., pág. 200 e Cunha Gonçalves, Tratado..., VII ciL, n.°
988, pág. 301.
17 Embora se admitisse convenção em contrário.
11 Cfr. JoséTavares, Sociedades... cit., n.° 30, págs. 273 e segs.; Cunha Gonçalves,
Tratado..., VII cit., n.° 988, págs.301, quanto às sociedades civis, e Comentário..., I cit,
n.° 111, págs. 207 e segs., quanto às sociedades em nome colectivo; Jaime de Gouveia,
Da responsabilidade contratual, Lisboa, 1933, pág. 326 e Das Obrigações, Lisboa, pág.
153 e segs.; Pires de Lima-Antunes Varela, Noções Fundamentais de Direito Civil, I,
Coimbra, pág. 434 e nota (1); Raul Ventura, Sociedades Comerciais: dissolução e
liquidação, II, Lisboa, 1960, págs. 98 e segs..
182 DIREITO E JUSTIÇA
7. A reforma de 1966
21 O sublinhado é nosso.
22 Pires de Lima-Antunes Varela, Código Civil Anotado, n, 3.° ed., Coimbra,
1986, pág. 331.
184 DIREITO E JUSTIÇA
—— 1
A RESPONSABILIDADE DO SÓCIO EM NOME COLECTIVO 185
21 Não existe, desde logo, no Direito Italiano, sob cuja influência se alterou o Código
Civil.
25 Neste sentido, cfr. Raul Ventura, Comentário ao Código das Sociedades
Comerciais. Sociedades por quotas, I, Coimbra, 2* ed„ Coimbra, 1989, púg. 66 e
Dissolução... cit., pág. 374.
186 DIREITO E JUSTIÇA
33 Traltato dei Diritto delle Società. Parte Generale — Società Personali, Milão,
1946, n.° 304, págs. 517 e segs. Cfr. ainda jurisprudência referida em G. Pescatore-C.
Ruperto, Códice Civile, Milão, 1978, pág. 2348.
34 Basta ver a exposição, neste aspecto paradigmática, de Pinto Furtado, Das
Sociedades..., I ciL, pág. 37 c segs..
35 Não podemos deixar de anotar que, na esperada reforma do Código de Processo
Civil não se prevê a alteração dos dados legislativos pois o art. 677.° do Anteprojecto
mantém ipsis verbis a disposição do artigo 826.°, n.° 1 do actual Código. Cfr. Código de
Processo Civil (Anteprojecto), Lisboa, 1988, pág. 285.
A RESPONSABILIDADE DO SÓCIO EM NOME COLECTIVO 189
que sociedade tenha ainda dívidas mas j á não encontre, no seu patri mónio,
bens com que as possa cumprir.
Por outra palavras: a efectivação da responsabilidade subsidiária,
no seu significado mais profundo, exige apenas que a sociedade não ache,
no seu património, qualquer bem para satisfazer os seus compromissos41.
Tal situação pode verificar-se, sem dúvida, por efeito de uma
execuçãojudicial total ou parcialmenteinfrutíferaenãoé isso senão oque
se designa por excussão dos bens ou património social. A completa
excussão dos bens sociais (do latim excussere, despojar) corresponde ao
esgotamento destes através do processo executivo e implica, por isso, a
penhora e subsquente venda judicial ou adjudicação de todos os bens
sociais. Neste aspecto42, o significado fundamental da expressão
“excussão” (ainda hoje usada pelo artigo 826.° do Código de Processo
Civil) corresponde àquele que lhe é atribuído, no âmbito da fiança, pelos
artigos 638.° e seguintes do Código Civil e, no âmbito das sociedades
civis, pelo n.° 2 do artigo 997.° do mesmo Código.
No entanto, não há dúvida de que a lei pode não exigir que a falta de
bens sociais para suportar as dívidas da sociedade seja verificada por uma
execução infrutífera de bens e assim sucede na liquidação da sociedade
(excepto em caso de falência desta). Então não cabe, por assim dizer, falar
em “excussão” dos bens sociais mas no seu exaurimento ou esgotamento
já que o liquidatário não está a executar a sociedade; o que aí sucede é que
a efectivação da responsabilidade do sócio depende de já ter sido
efectuado o pagamento aos credores e materialmente nada mais restar
para satisfazer as dívidas remanescentes43.
Estamos agora cm condições de compreender qual o motivo que se
pode assinalar à substituição do § 1.° do artigo 153.° do Código Comercial
41 Poderia falar-se em “falta ou insuficiência dos bens sociais” como a lei faz
noutros lugares, de algum modo paralelos, se esta expressão não fosse perigosamente
equívoca. É que, nesse âmbito, a insuficiência é uma falta parcial e, por outro lado,
importa deixar claro que não basta a mera insuficiência verificada, digamos assim, ab
initio para que o sócio seja responsabilizado, sendo necessário o efectivo exaurimento do
património social, geralmente cm execução (singular ou universal) da própria sociedade.
Dessa forma, apenas a falta de bens sociais (maior ou menor) pode justificar a efectivação
da responsabilidade do sócio.
42 E não já, como já se referiu, no modo como ela se apresenta, pois no caso da
sociedade civil c da fiança ela representa um direito do sócio ou do fiador, enquanto que
na sociedade em nome colectivo se impõe automaticamente.
4J Cfr. neste sentido, embora com a divergência adiante referida, Raul Ventura,
Dissolução...cit., pág. 365.
192 DIREITO E JUSTIÇA
§2.°
A responsabilidade do sócio
como responsabilidade solidária
1. Sentido geral
J
A RESPONSABILIDADE DO SÓCIO EM NOME COLECTIVO 193
2. O direito de regresso
§3.°
Especialidades da responsabilidade do sócio de indústria
1. Caracterização geral
SECÇÃO II
A EFECTIVAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DO SÓCIO EM
NOME COLECTIVO
1. Os casos possíveis
55 Sociedades por Quotas, I cit., pág. 65. Nas palavras do Autor, a responsabilidade
que aí está prevista, embora subsidiária (no sentido de que pressupõe o prévio excutimento
do património social) só pode ser efectivada na fase de liquidação.
A RESPONSABILIDADE DO SÓCIO EM NOME COLECT1VO 199
“ Importa ter presente que, como deriva do art. 1136.° do Código de Processo Civil,
a declaração de falência pode dar-se em consequência não só de requerimento dos
credores c do Ministério Público, como ainda de apresentação do próprio comerciante
(ou, após a sua morte, dos seus herdeiros) e também neste caso a falência é definida da
mesma forma, como se vê pelo n.° 1 do art. 1140.° quccomeça assim: “todo ocomerciante
que se encontre impossibilitado de cumprir as suas obrigações comerciais deve, antes de
cessar efectivamente pagamentos...”.
61 O puro sistema de falência ope judieis traduzir-se-ia em limitar-se a lei a uma
definição substancial do estado de falência, deixando ao tribunal o encargo de a
reconhecer em concreto e independentemente de quaisquer pressupostos que limitassem
o seu arbítrio.
62 Aproveitamos os sucintos mas expressivos termos da doutrina exposta, a
propósito de idênticas possibilidades na regulamentação do estado de perigosidade
criminal, por Cavaleiro de Ferreira, Lições de Direito Penal. Parte Geral. II. Penas e
Medidas de Segurança, Lisboa, 1989, págs. 19 e 24. No mesmo sentido fundamental, cfr.
Rita Amaral Cabral já que, embora diferencie apenas duas vias (o sistema de definição
e o sistema de enumeração — cfr. ob. e loc. cits., pág. 153) vem a esclarecer que razões
de certeza podem justificar a exigência, no sistema de definição, de elementos necessários
mas não suficientes à declaração de falência (ibidetn, págs. 157 e 164). Cfr. ainda, embora
com diversa sistematização inicial, Pedro Albuquerque, «Falência por cessação de
pagamentos», in Estudos... cit„ págs. 182 e 183 e 210 e segs..
202 DIREITO E JUSTIÇA
63 Embora, mesmo por ser uma vitória limitada à al. a), e no dizer do mesmo Autor,
paradoxalmente, aconsagração legislativa alcançada trouxesse simultaneamente, em tese
geral, a sua denota («Acção executiva...» cit., pág. 51). No mesmo sentido mas
relativamente a todos os pressupostos legais, incluindo o exigido pelo n.° 2 do art. 1174.°,
cfr. Ruyde Albuquerquec Maria dos Prazeres P. Beleza,ob. e loc.cits.,pág. 79 esegs.e,
sobretudo, pág. 80, Rita Amaral Cabral, ob.eloc. cits.,pág. 157 a 161,164e 165e 175-
176 e, quanto à al. a), Pedro Albuquerque, ob. e loc. cits., págs. 210 a 213.
64 Cfr. ainda o art. 1184.°, n.° 1, al. i) e n.° 2.
65 Neste sentido, cfr. n.° 4 do relatório do Decreto-Lei n.° 25.981, de 26 de Outubro
de 1935 (Código das Falências), da autoria de Manuel Rodrigues, que J. Alberto dos
Reis transcreve (Processos Especiais, n, ed. póst., reimpr., Coimbra, 1982, pág. 319).
A RESPONSABILIDADE DO SÓCIO EM NOME COLECTIVO 203
ao seu passivo (e, pois, uma situação susceptível de conduzir à cfecti vação
da responsabilidadedo sócio) sem quehajalugaràconcomitantedeclaração
de falência da sociedade e consequente dissolução e liquidação desta.
5. Sequência
§1.°
A responsabilidade do sócio na liquidação da sociedade
I. LIQUIDAÇÃO EM GERAL
aduz o mesmo Autor que, se a liquidação lem como fim ideal o completo
termo das relações sociais, o certo é que a lei não as extingue comple
tamente, deixando a possibilidade de subsistirem obrigações capazes de
criar situações anormais e, quanto a estas, a lei não soube encontrar outro
remédio senão o de abreviar a prescrição em matéria de sociedades75.
Mas Sraffa põe ainda um problema teórico e prático à tese de G.
Ferri, jurisprudcncialmente dominante: é o mesmo o direito que exercem
os credores sociais e aquele que se permite exercer aos liquidatários? É
diferente? Quem tem preferência no seu exercício?76
Que se pode dizer desta tese, defendida entre nós, no domínio do
Código Comercial por Raul Ventura77?
A primeira coisa a notar é que ela é inquestionavelmente lógica.
Partindo do pressuposto de que a responsabilidade do sócio em nome
coleclivo é uma garantia pessoal prestada por terceiro, é totalmente
inconcebível que o devedor possa, através de órgão seu78, voltar-se para
o garante (o sócio) e exigir-lhe somas para efectivação de uma respon
sabilidade assumida por este directamente em face dos credores sociais79.
Muito justamente consideram os Autores que defendem esta opinião
o dilema assim criado inultrapassável e daí que tentem a sua superação,
a qual inevitavelmente se tem de buscar através da inutilização de um dos
seus pressupostos. Ej á que o devedor nunca pode exigir ao garante somas
para efectivação de uma responsabilidade directamente assumida por
estes perante os credores sociais, nega-se o poder reconhecido aos liqui
datários.
ulteriormentcG. Ferri a acrescentar a tal poder: a conveniência de os sócios ilimitadamente
responsáveis evitarem a falência da sociedade, que acarretaria, no Direito italiano, como
no nosso, a sua própria falência (cfr. Le Società, in AA.VV., Tratlalo di Dirilto Civile,
dirig. por Vassalli, volX, t. in, 3*cd., reimpr., Turim, 1989, n.° 95, págs.335 e segs.).
75 Ob. e loc. cits., pág. 194.
KIbidem, pág. 196. A jurisprudência já tinha topado com o problema e falava numa
concentração eliminatória da acção dos credores, o que, nisso terá razão o Autor, nada
explica.
77 Em face da falta de referência expressa do art. 136.° do Código Comercial (cfr.
Sociedades..., II, págs. 91 e segs.).
71 Pois não se pode esquecer que o liquidatário & órgão da sociedade em liquidação.
79 Na exposição paradigmática de Raul Ventura, a propósito do artigo 198.° do
Código das Sociedades Comerciais, a responsabilidade subsidiária de que fala este
preceito “é uma responsabilidade directa do sócio perante os credores sociais. Só estes
podem exigir a sua efectivação; por exemplo, o liquidatário nomeado pelos sócios ou pelo
tribunal, nada pode reclamar àquele título, nem mesmo para, com os meios assim
conseguidos, pagar as dívidas sociais” (Sociedades por Quotas, I cit., págs. 65 c segs.).
A RESPONSABILIDADE DO SÓCIO EM NOME COLECTIVO 209
” Cfr., entre nós mas quanto às sociedades civis, Pires de Lima-Antunes Varela,
Código Civil Anotado, II cit., pág. 356. Foi doutrina defendida em Itália por L. MOSSA,
Società Coinmerciali Personali, Vol. II do Trattato del Nuovo Diritto Coininerciale,
Pádua, 1951, pág. 717.
“ Código Civil Anotado, II cit., pág. 356.
12 É que é o património da sociedade em liquidação que, antes de mais, se
acrescenta.
210 DIREITO E JUSTIÇA
Ao que ainda resta acrescentar que, na mesma base, teria pelo menos
de se suscitar a questão de saber porque razão a previsão, nos dois
preceitos referidos, de uma reponsabilidade pela entrada (art. 175.°, n.°
1) e de um poder, por parte dos liquidatários, de reclamar as dívidas da
entrada (art. 195.°, n.° 2) não gera, quanto à entrada, uma distinção (e
consequente cumulabilidade) paralela àquela que se julga encontrar entre
a responsabilidade subsidiária “pelas obrigações sociais” (art. 175.°, n.°
1) e de um poder, por parte dos liquidatários, de reclamar as quantias
necessárias para a satisfação das dívidas sociais (art. 195.°, n.° 2).
A nosso ver, este entendimento representa ainda uma tentativa de
superar o dilema atrás referido não abdicando do axioma indemonstrado
de que a responsabilidade do sócio em nome colectivo é uma garantia
pessoal prestada por terceiro à sociedade e que, enquanto tal, o vincula
directamente perante os credores sociais.
Sensível à impossibilidade lógica de, com base neste pressuposto,
justificar o poder reconhecido aos liquidatários pelo n.° 2 do artigo 195.°
de exerceram direitos dos credores sociais, Raul Ventura tenta resolver
o problema defendendo que não é aquela responsabilidade que é exercida
pelos liquidatários mas uma outra, distinta e a cumular com ela.
Mas ainda que o fosse — e não o é — a justificação última dessa
obrigação resssuscitaria as perplexidades a que se pretende fugir.
Como se justificaria, na verdade, que uma garantia pudesse fazer
surgir, entre devedor e garante uma nova obrigação, a cumular com ela,
que vincule o garante a adiantar àquele as somas necessárias para
pagamento das somas garantidas? E como se explicaria que a satisfação
do credor pelo garante, o desvincule de uma obrigação para com o
devedor tão independente como aquela que se julga encontrar no n.°2 do
artigo 195.°?94 E, mais ainda, que justiça haveria cm, com base,
simultaneamente, na responsabilidade subsidiária95 e na finalidade da
6. (conl.) A conjunção
3. (cont.) b) Solidariedade
4. Concordata
109 Para além, obviamente, do facto de, neste último caso, nunca a declaração de
falência do devedor poder envolver, necessariamente e por si só, a declaração de falência
dos seus garantes.
224 DIREITO E JUSTIÇA
115 Cfr. C. Vivante, Trattato... cit., aptid Mário de Figueiredo, Direito... cit., pág.
118 e nota (2) e A. Ferrer Correia, Lições,..., I cit., pág. 152. Invocando ainda o
argumento, J. G. Pinto Coelho, Lições..., I, 3* ed., Lisboa, 1957, págs. 200 e segs.
116 Era aspecto a que J. Gadriel Pinto Coelho não deixava de aceitar (cfr. Lições...,
I cit., págs.204 e segs.). Na realidade, porém, as obrigações gerais dos comerciantes,
228 DIREITO E JUSTIÇA
§2.°
O passivo superveniente
1.0 problema
127 Ein última análise, a justificação desse direito reside nas características do
próprio contrato de sociedade. É a esse propósito elucidativo o art. 188.° do Código das
Sociedades Comerciais.
121 Dissolução... cit., pág. 484.
234 DIREITO E JUSTIÇA
§3.°
Efectivação da responsabilidade do sócio
antes da liquidação da sociedade
130 Cfr. J. Alberto dos Reis, Processo de Execução, I, cit., págs. 253 e 254 e
Barbosa de Magalhães, Gaz. Rei. Lisb., ano 54.°, pág. 65, apud Lopes Cardoso, Manual
da acção executiva, ed. póstuma da 3* cd., Lisboa, 1987, pág. 365.
131 J. Alberto dos Reis, ibidem.
132 Ibidem.
133 J. Alberto dos Reis, Processo de Execução, I cit., pág. 254 c Barbosa de
Magalhães, ob. e loc. cits..
134 Neste sentido, cfr. Cunha Gonçalves, Comentário..., I cit., pág. 344 e J. Alberto
dos Reis, Processo de Execução, I cit., pág. 254.
135 Processo de Execução, I cit., pág. 253 e segs..
236 DIREITO E JUSTIÇA
141 Alegava nomeadamente que nenhuma lei dava força de caso julgado contra os
sócios à sentença proferida contra a sociedade e, de um modo geral, afirmava que a
opinião de J. Alderto dos Reis contrariava flagrantemcnte a regra peremptória do art.
55.°, não cabendo cm nenhum dos casos dos arts. 56.® e 57.°.
142 Ob. e loc. cits., ed. póst., pág. 366.
143 Por todos, cfr. J. Alderto dos Reis, Processo de Execução, I cil., págs. 242 e 243
144 Acção Executiva... cit., págs. 110 e 111.
238 DIREITO E JUSTIÇA
155 Neste sentido, cfr. além do próprio Lopes Cardoso Manual da acção executiva,
ed. póst. cit., pág. 366, Anselmo de Castro, ob. e loc. cits., págs. 84 a 86 e J. Lebre de
Freitas, ob. e loc. cits., pág. 135 e 136.
156 Da falta de justificação dacitação inicial de todosos responsáveis retira Anselmo
de Castro a admissibilidade da aplicação do princípio geral que vê aflorado no art. 56.°,
n.°2 (ob. e loc. cits., pág. 85). Sobre esta questão, cfr. infra.
157 Este preceito não sofreu em 1961 alteração correpondenteàdon.01 do art. 826.°,
como anota J. Lebre de Freitas, ob. e loc. cits., nota (1) à pág. 138. A analogia das duas
situações conduz, no entanto, segundo o mesmo Autor, à aplicação ao caso do fiador, dos
princípios que regem as relações entre a sociedade e o sócio. Discordamos. A alteração
do artigo 826.°, como o mesmo Autor ainda reconhece (ibidem), cingiu-se a pretender
resolver a questão das relações entre sócio e sociedade. Como deriva claramente do artigo
638.° do Código Civil, nada pode impedir o credor de demandar (e, se tiver título contra
ele, de o fazer executivamente) apenas o fiador. Este é que, se ti ver o benefício da excussão
e se o pretender exercer, se pode opor a tal execução. Neste caso, será citado, no mesmo
processo, o afiançado para pagar ou nomear bens à penhora. De resto, aquela doutrina
contraria o princípio geral que o mesmo Autor vê aflorado no n.° 2 do artigo 56.° (cfr. ob.
c loc. cits., págs. 78 e 79 e nota (1) à pág. 79).
242 DIREITO E JUSTIÇA
Mas ainda mais delicada se mostra a terceira questão que tem sido
discutida: a de saber se sim ou não o título executivo contra a sociedade
é éxtensi vo aos sócios em nome colectivo.
Como se sabe e já ficou referido, Autores há que negam essa
extensão161.
151É de recordar, no entanto, que esta citação inicial do fiador não é desnecessária
porque, ao contrário do que sucede com o sócio em nome colectivo ele pode gozar ou não
do benefício da prévia excussão e, gozando dele, pode exercê-lo ou não.
159 Neste sentido, cfr. Anselmo de Castro, ob. e loc. cits., págs. 85 e segs. e J. Lebre
de Freitas, ob. e loc. cits., págs. 78 e 79 e nota (1) à pág. 79.
160 Não pode admitir-se, com Anselmo de Castro (ob. e loc. cits., pág. 80 e segs.)
e, mais claramente, Lebre de Freitas (ob. e loc. cits., pág. 136), que ainda hoje é possível,
por aplicação de um princípio geral aflorado no art. 56.°, n.° 2 (Anselmo de Castro) ou,
o que no caso é o mesmo, por analogia com o art. 56.°, n.°2 (Lebre de Freitas) se pode
fazer citar no mesmo processo o sócio após a excussão do património social. Embora a
distorção ao princípio se reconheça e a analogia exista, não se pode considerar haver
lacuna mas diversa e incoerente regulamentação. Aplicar directamente o princípio ou
aplicar analogicamente aquela disposição seria fazer tábua rasa da reforma de 1961 que
mal ou bem, e antes mal que bem, pretendeu afastar esse regime, conforme ficou referido.
161 Cfr. Lopes Cardoso, Manual..., ed. póst. cit., págs. 364 e segs., Anselmo de
Castro, ob. e loc. cits., pág. 78 e Pinto Furtado, ob. e loc. cits., págs. 49 c segs..
A RESPONSABILIDADE DO SÓCIO EM NOME COLECTIVO 243
*“ Cfr., por exemplo, Lopes Cardoso, Manual..., ed. póst. cit., págs. 366.
167 Anselmo de Castro, Acção Executiva... cit., pág. 78. Este Autor invoca ainda
o art. 8.°, conforme ficou já referido. Mas não se aplicando essa disposição senão às
pessoas colectivas ou sociedades irregulares não se podetn dela retirar as ilacções
pretendidas quanto ao caso julgado.
*“ É o que se depreende dos fragmentos pertinentes e, desde logo, do famoso texto
de Paulo “...nec inter alios res judicata aliiprodesse aut nocere solct" (D,20,4,16). Da
mesma forma, lê-se no Código “res interaliosjudicatae neque enioluinentunt adferre his,
qui judiciuin non interfuerunt, neque praejudiciuin solent inrogare" (C, 7,64,2). Essa
falta de carácter absoluto é ainda ilustrada por Macro no fragmento recolhido em
D,42,l,63 onde, depois de referir o princípio (“saepe constitutum est res inter alios
judicatas aliis non praejudicare") admite exprcssamentequeuinasentença pode prejudicar
terceiros que não intervieram na causa mas tiveram conhecimento do litígio. Cfr. ainda
246 DIREITO E JUSTIÇA
Porque assi m é, a clara solução dada neste caso particular não é apta
a dissolver a controvérsia anterior sobre a solução a dar, cm geral, às
situações jurídicas dependentes180 tanto mais que permanccesem resposta
a crítica que lhe moveu ainda J. Alberto dos Reis181 e a que se pode
acrescentar que, por virtude de tal doutrina, o credor, interpondo a acção
contra o devedor, arrisca ganhar apenas contra ele ou perder contra ele e
o fiador e, interpondo a acção contra este, arrisca ganhar contra ele ou
perder contra ele e o fiador.
De forma que, dando já de barato que a responsabilidade do sócio
em nome colecti vo é uma situação dependente da dívida social no exacto
sentido em que o é a fiança”2, é tudo menos clara a solução a dar ao
aspecto da extensão do caso julgado contra ou a favor desta aos próprios
sócios.
E o mesmo se há-de dizer relativamente à questão da aplicabilidade
de idêntica solução que foi consagrada também em 1966 relativamente
à solidariedade (artigos 522.° e 531.° do Código Civil)183.
Se a solução corrente topa com todos estes embaraços no que
respeita à scntcnçacondenatória, em relação aos restantes títulos executivos
ela é, pode dizer-se, quase catastófrica.
1,0 E assim, por exemplo. Castro Mendes (Direito..., II cit., págs.779 e segs.) e
Anselmo de Castro (Direito..., UI cit., pág. 387) limitam-se a indicar o regime da fiança
como caso, ainda que “caso característico” (Castro Mendes), das relações subordinadas
sem entrarem na questão de saber se, nesse âmbito, aquele regime i geral, especial ou
excepcional.
1.1 “Ou há ou não há fundamento para, em determinadas situações jurídicas,
estender o caso julgado a terceiros; se há o caso julgado voincula-os, quer lhes seja
favorável, quer lhes seja prejudicial; porque a razão do vínculo não pode estar na
circunstância acidental e extrínseca de a sentença ter decidido em certo sentido; só pode
estar numa causa mais íntima e profunda; a conexão ou dependência em que a relação
jurídica em que o terceiro é interessado se encontra para com a relação jurídica apreciada
e definida pela sentença” («Eficácia...» cit., págs. 222-223).
1.2 Recorde-sc, a este respeito o que se disse supra sobre o dramatismo da extensão
do caso julgado aos sócios.
1,5 Não se esconde que o Código Civil na generalidade dos preceitos que inclui
sobre a oponibilidade do caso julgado (cfr. arts. 522.°, 531.°, 538.°, n.° 2 e 2290.°), o
Código Civil adopta sempre o mesmo critério, o que levanta a dúvida sobre se não
corresponderá a solução geral, como anota Manuel de Andrade (Noções Elementares...
cit., pág. 313 e nota (1)). Todavia, o restrito âmbito de aplicação de tais disposições não
dissolve ainda o problema: resta saber se a tais regras correspondem ao princípio ou o
cxceptuam c, neste caso, se a excepção está na extensão do caso julgado favorável ou na
não extensão do caso julgado desfavorável.
250 DIREITO E JUSTIÇA
( Continua')
IM Não é, assim, por acaso que Anselmo de Castro invoca o artigo 8.° do Código
de Processo Civil, conforme já ficou referido.