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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara da Comarca de Sã o Paulo – Capital.

[Nome e qualificação do autor], por seu advogado infra-assinado, com fulcro no artigo 5º,
inciso X da Constituiçã o Federal, artigos 186 e 927 do Có digo Civil e demais normas
aplicá veis à espécie, propor a presente
Ação de indenização por danos morais
em desfavor de [Nome e qualificação do réu], o que faz consoante os elementos de fato e
argumentos de direito abaixo expendidos, a saber:
1. Dos fatos
O autor é funcioná rio pú blico Estadual lotado na [nome da repartiçã o pú blica] repartiçã o
esta que aufere os custos e gastos da Secretaria, em seus diferentes níveis de atuaçã o
administrativa.
Também estava lotada nesta Secretaria, no mesmo ambiente de trabalho e sob a
subordinaçã o do autor, o servidor réu, que desde 00/00/2.016 apresentou-se para a para
prestar serviços como Oficial Administrativo, contudo sua relaçã o com o trabalho se deu de
forma muito problemá tica.
Para que fique claro, o réu passou por vá rios afastamentos, em virtude de projetos da
pró pria Secretaria; em virtude de problemas médicos e muitos dos comprovantes que
apresentava para justificar vá rias das faltas geradas por problemas médicos, se tratavam
de comprovantes de comparecimento e não de atestados médicos, o que a lei nã o
reconhece como motivo para a compensaçã o do dia de trabalho perdido e, por isso, nã o
eram acatados pelo autor.
Além disso Excelência, o réu em questã o, raramente, cumpria seu horário de entrada,
estipulando seus pró prios horá rios e ainda se negava a cumprir algumas ordens e
desempenhar algumas tarefas de seu cargo, agindo com insubordinação.
O autor, na posiçã o de Chefe do réu, juntamente com o Vice-presidente do Setor que
presidia, procuraram lhe orientar sobre seu comportamento inapropriado, bem como
sobre os documentos que deveria apresentar para justificar faltas em razã o de problemas
médicos.
O réu, por sua vez, além de insubordinaçã o, sempre mostrou um comportamento
agressivo, pois alterava o tom de voz quando era contrariado e protestava sem razão,
para tentar fazer valer suas vontades pífias, que não possuíam fundamento jurídico.
Por tais razões, sempre que havia a necessidade de conversar com o réu, o autor,
sabendo de seus costumes, requeria a presença do Vice-Presidente do Setor ou de
algum outro funcionário, a fim de que testemunhas participassem das conversas, por
precaução.
Foi assim quando o autor negou acatar comprovantes de comparecimento ao médico
apresentados pelo réu, que pretendia que valessem como atestados médicos, ou seja,
alterou o tom de voz como estivesse sendo prejudicado, quando, na verdade, tentava na
base da truculência, fazer valer direitos que nã o tinha.
Também foi assim quando o autor tentou advertir o réu de seu comportamento
inapropriado em relação ao cumprimento de sua jornada de trabalho, o que gerou
reclamações por parte deste e gerou a necessidade da anotação em sua folha de
ponto, dos desvios de conduta funcional praticados com o descumprimento do
horário de entrada e saída.
A fim de perpetrar um plano de não ter de cumprir horários, o ré chegou a insuflar
os demais servidores os incentivando a não assinar a folha de ponto, para que não
existisse controle de horário.
O réu é uma pessoa de temperamento difícil e foi até transferido de Setor, mas sua
personalidade agressiva e suas atitudes inapropriadas e mal educadas continuaram.
Apó s mais um afastamento, o réu retornou de seu período de férias, especificamente em
00/00/2.017, quando adentrou aos berros e sem autorização na sala do autor, para
exigir que constasse em sua folha de controle de jornada de trabalho, horário
diverso do que teria cumprido, isso também presenciado pelo Vice-Presidente do
Setor (Também funcionário público), pois não aceitou que a verdade fosse registrada
em relação aos horários que realmente cumpriu e que eram bem menores do que
sua jornada habitual.
Além de uma testemunha presente no momento dos fatos (Vice-Presidente do Setor), o
autor resolveu por bem comunicar o Setor de Recursos Humanos do Setor na mesma data,
relatando o acontecido e relatando também os episó dios de insubordinação, desídia,
abuso de direito e principalmente a forma ríspida e mal educada que o réu vinha se
portando.
Tal conversa foi gravada, conforme se verá abaixo, comprovando cabalmente que a ré
tentou forçar uma situaçã o ilegal e depois, ao nã o conseguir seu intento, se revoltou como
se tivesse razã o.
Na mesma data, na sala de trabalho em que o réu estava, com mais um grupo de X (nú mero
por extenso) pessoas, para cumprir seu dever funcional, ao autor passou para recolher os
cartõ es de ponto, pois como chefe do setor, tem que conferi-los e remetê-los para a
contabilizaçã o das horas trabalhadas pelos funcioná rios e para o pagamento de seus
salá rios e realizaçã o de descontos.
Nessa ocasiã o, o réu, mesmo diante de X (nú mero por extenso) pessoas, começou a
proferir, aos berros, palavras de baixo calão em desfavor do autor, como “seu filho
da puta”, “seu desgraçado”, “Seu vagabundo”, “Vai tomar no cú”, “Vai pra puta que
pariu” arrancando sua própria folha de ponto das mãos do autor, rasgando-a e
jogando-a picada em sua direção, demonstrando que pretendia realmente ofender sua
honra e o decoro, como de fato ofendeu, já que nã o conseguiu ganhar no grito com as
ilegalidades que praticou e nã o queria ver registradas e apuradas.
Nã o bastasse isso, o réu praticou uma invasão indevida na privacidade inerente à opçã o
sexual do autor, lhe impingindo, aos berros, palavras como “Você é viado!”, “Bicha”, “Você
gosta de homens”, com evidente propó sito de exposiçã o da sexualidade do autor a pessoas
que têm preconceitos e, verdadeira ou nã o, uma situaçã o que foi constrangedora para o
autor, pois todas as palavras ditas tinham uma intenção: ofender!
O requerido também afirmou que o autor havia lhe “cantado” e por nã o ter respondido à
“cantada”, estaria se vingando. Isso é nítido em uma das gravaçõ es que serã o
oportunamente apresentadas, conforme requerimento ao final.
O autor ainda se sentiu constrangido pelo fato que além da intençã o de ofender, o réu
ainda manipulou palavras preconceituosas, no evidente afã de atacar sua opção
sexual, como se isso lhe tornasse uma pessoa pior, para que se sentisse uma pessoa
pior, o que de fato infelizmente surtiu efeito, tanto que o caso foi levado à autoridade
policial através do registro de um Boletim de Ocorrência sobre os fatos!
O réu, após perceber o que tinha feito, fez uma tentativa desesperada de gritar e
acusar o autor de ter tentado lhe assediar sexualmente, no intuito de ridicularizá-lo
e de tentar intimidá-lo, já que praticou uma conduta criminosa, proferindo palavras
odiosas em desfavor dele (autor) e, por isso, tentou dissimular a situação fazendo
uma acusação criminosa, sem provas, fundamentos e totalmente mentirosa!
Nã o só isso, o réu ainda tentou intimidar o autor, chutando cadeiras, batendo portas
de armários, empurrando o monitor do computador com violência e a perseguindo o
no elevador; dando-lhe um esbarrão com força e ainda ameaçando-o para não
registrar os fatos ocorridos, pois disse ser lutador de artes marciais.
Para se ter idéia Exa., os gritos do réu foram ouvidos em todos os locais do andar
ocupado pelo setor presidido pelo autor, bem como no andar superior, o que dá uma
noçã o do que aconteceu no local.
Apó s os fatos narrados, o servidor réu abandonou seu posto de trabalho e no outro dia
foi transferido para outro local pela Secretaria de Educaçã o, a fim de nã o permitir mais
atitudes semelhantes.
O autor, por sua vez, se sentindo profundamente humilhado, envergonhado e ofendido
em sua honra quanto à palavras preconceituosas que lhe foram dirigidas, registrou
Boletim de Ocorrência (Doc. J.), bem como pediu ao seu superior hierá rquico, a abertura
de processo administrativo disciplinar, para a apuraçã o da conduta criminosa praticada
pelo réu, além do fato de buscar a tutela de seus direitos através da presente ação, que
demonstram o quã o abalado ficou.
É de se ressaltar, que o autor nã o respondeu à s ofensas que sofreu, ficando estarrecido com
o episó dio, tanto que na instruçã o processual isso ficará devidamente provado e nas
gravaçõ es em á udio que serã o apresentadas.
Assim, por tê-lo como o resgate de sua honra, é proposta a presente açã o judicial, onde o
autor pretende ver o réu punido e advertido de seu comportamento, além do que seja
obrigado a pagar uma indenizaçã o a fim de compensar o dano moral sofrido, razã o pela
qual se socorre da tutela jurisdicional para que seus direitos sejam resguardados e os
danos sofridos compensados, como determina a legislaçã o de regência.
2. Do direito
2.1. Da ocorrência de dano moral
O caso em tela revela um forte abalo psíquico do autor, gerado por reaçõ es
desproporcionais, ofensivas à honra e criminosas do réu.
O réu, pelo comportamento demonstrado em sua estada como funcioná rio do Setor
presidido pelo autor, é uma pessoa que merece saber por via de uma sentença judicial,
liçõ es que vêm do berço, como o mínimo de educaçã o e urbanidade, bem como a
obediência à s leis, pois parece ter faltado isso em sua vida!
O fato de chamar uma pessoa de “seu filha da puta”, “seu desgraçado”, “Seu vagabundo”,
“Vai tomar no cú ”, “Vai pra puta que pariu” é extremamente ofensivo e constrangedor,
ainda mais quando se dá acompanhado de um show de insubordinaçã o, má educaçã o e
muita soberba!
A situaçã o revolta também pelo fato que essa reaçã o desproporcional se deu porque o réu
queria acobertar atitudes ilícitas que praticou, como a nã o obediência aos horá rios de
entrada, saída e de almoço, os quais todos foram inobservados durante os dias em que
esteve lotada no mesmo departamento que o autor.
Gravaçõ es em á udio da conversa que houve entre o autor e a ré, que será cuja gravaçã o
será apresentada no momento oportuno, demonstram nitidamente o seguinte:
a) Arquivo: Áudio 1 – (Duração: xx min e xx seg):
1) Que o réu questiona os motivos das anotaçõ es em seu controle de ponto;
2) Fica claro que o réu jamais cumpriu horário de chegada ao trabalho, inclusive com
sua concordâ ncia quanto foi questionado diversas vezes sobre a inobservâ ncia do horá rio
de trabalho e;
3) Fica claro que que o réu tenta, sem razõ es, argumentar com assuntos outros, contra as
anotaçõ es relativas ao cumprimento de seu horá rio de trabalho, tentando induzir o autor a
modificar ou falar ao contrá rio, para esconder a verdade, ou seja, praticar um ilícito, um
crime;
Neste mesmo arquivo, aos 00min. e 00 seg., o réu profere os seguintes dizeres em relaçã o
ao autor, em ambiente de trabalho e na presença de testemunha:
- Réu: “[...] pois é, por isso que eu tô te pedindo, numa boa, é, assim, uma ajuda pra você,
porquê assim, ele vai falar: ‘Você autorizou ele sair?’, você vai falar nã o? Você tem que falar
que autorizou!
- Autor: “Eu vou apenas explicar o fato para ele; ele como meu superior ele vai entender,
como ele já está ciente do fato, aí ele vai decidir o que fazer na forma da lei conforme os
fatos que eu levar.”
No cará ter geral, a gravação da conversa entre as partes que originou a discussã o, no
primeiro arquivo que será apresentado, demonstra nitidamente o réu tentando impor
uma situação para que fossem alteradas anotações de registros de frequência, no que
concerne a faltas injustificadas e o horá rio de chegada, jamais cumprido ou a sua
transferência de Setor, já que viu que naquele Setor da Administraçã o pú blica já nã o podia
mais agir da forma que bem lhe aprouvesse.
A referida gravaçã o ainda demonstra que o réu tenta forçar que o autor lhe transfira de
Setor, mesmo sabendo que ele não tinha poderes para tanto, o que foi feito mais como
pressã o, pois tal requerimento sabidamente jamais poderia ter sido atendido pelo autor,
que nã o tinha poderes para tanto.
Uma segunda gravação, constante do arquivo de nome xxxxx, na parte audível, demonstra
cabalmente uma parte das ofensas, o que o autor tomou o cuidado de transcrever, para que
nã o passe despercebido, vejamos:
“Áudio 2 – (00 min 00 seg)
Réu: “[...] Você, eu tô falando pra todos, você tá assim porque eu não quis sair com
você, não foi isso? Não foi isso? Foi isso não foi? Não foi isso? Quando você foi na
minha sala e ficou me cantando! Foi isso, né?.........Foi isso? Eu não dei ‘bola’ pra você,
por isso você está com raiva de mim!”
Note Excelência, que quando o réu diz “[..] nã o quis sair com você[...]”, “[...] você ficou me
cantando? [...]”, se referem a uma falsa situaçã o apresentada na frente de vá rias pessoas, de
uma suposta intervençã o do autor junto ao réu, de cunho amoroso, fato que jamais ocorreu
e foi inventado apenas para constranger, no intento de ter a verdade sobre sua conduta
funcional abafada e ficasse em segundo plano.
Outro fato importante, senã o o mais importante, é que ao proferir palavras que atingiram a
honra do autor, com o nítido propó sito de ofendê-lo, o réu praticou crime de injúria[1], e
também tentou praticar uma espécie de difamaçã o, ao tentar revelar a condiçã o sexual do
autor em pú blico de forma pejorativa e para que fosse levado a conhecimento de todos os
seus colegas de trabalho, como se fosse uma pessoa pior.
Tal fato é lamentá vel e reflete apenas a falta de educaçã o, cultura e controle emocional do
réu, que nã o detém condiçõ es de exercer um cargo pú blico!
O autor nã o tem receio de seu posicionamento em relaçã o à sexualidade e é bem resolvido,
porque sabe que nã o existem diferenças entre as pessoas, contudo ninguém tem o direito
de dar conotaçã o à condiçã o sexual diferenciada de uma pessoa, como se fosse um fato
negativo, abominá vel, ainda mais utilizando isso para constranger alguém para que se
atinja uma finalidade ilícita, que era o que o réu pretendia.
A esse respeito, demonstra o réu, uma profunda falta de conhecimento da vida e de
respeito pelos outros, o que independe de estudos acadêmicos. Ser respeitoso é obrigaçã o
social e no ambiente de trabalho pú blico é dever legal.
O réu merece a devida liçã o, já que parece nã o ter aprendido em casa, na escola ou na vida,
o que o Poder Judiciá rio certamente irá ensiná -lo de uma das piores formas, a fim de lhe
mostrar que no mundo existem regras de convivência e de trabalho.
O réu, ao ter proferido as várias palavras ofensivas e preconceituosas, invadiu e expôs
indevidamente a intimidade e a honra do autor, que sã o institutos de direito protegidos
pelo inciso X, do artigo 5º da Constituiçã o Federal.[2]
A ofensa foi tamanha a ponto da situação se desdobrar em crimes, de injúria e de
tentativa de difamação, o que por serem crimes, em essência, são atos ilícitos.
A açã o praticada pelo réu, de proferir palavras de baixo calão, violou a intimidade do
autor e sua honra, causando-lhe dano exclusivamente moral, portanto, ato ilícito na
classificaçã o legal, vejamos:
“CC - Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.”
Por consequência, ocorre a obrigaçã o da reparaçã o do dano por parte do réu, porque
cometeu ato ilícito, sendo imposiçã o legal, que repare, pois há , nesse caso, presunçã o legal
da ocorrência do dano, o que é assunto do artigo 927 do Có digo civil, a seguir transcrito:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.”
A jurisprudência reconhece que xingamentos no ambiente de trabalho, na presença de
terceiros enseja o pagamento de danos morais, vejamos:
“APELAÇÃ O - Açã o de Indenizaçã o por Danos Morais – Alegaçã o de que a ré proferiu
ofensas e xingamentos contra a autora, na presença de terceiros - Sentença de
procedência, para condenar a ré ao pagamento de R$ 24.880,00, a título de dano
morais – Inconformismo - Declaraçõ es prestadas pela autora e por testemunha, perante
autoridade policial, confirmadas pelas testemunhas inquiridas judicialmente, no sentido de
que a ré proferiu inú meros xingamentos contra a autora – Danos morais devidos e fixados
em patamar razoá vel - Recurso desprovido. (TJ-SP - APL: 00091200820118260576 SP
0009120-08.2011.8.26.0576, Relator: José Aparício Coelho Prado Neto, Data de
Julgamento: 30/06/2015, 14ª Câ mara Extraordiná ria de Direito Privado, Data de
Publicaçã o: 30/06/2015)” (grifos do subscritor)
O réu ainda tentou, após proferir os xingamentos, a invadir a intimidade de gênero da
autor, utilizando tom de voz pejorativo ao proferir dizer que o autor era “Viado”, “Que
gostava de homens”, em um contexto em que só visava a vingança, por nã o ter
conseguido que o autor permitisse que sua funçã o pú blica se tornasse um verdadeiro
hobby, pois pretendia entrar e sair na hora que bem entendesse.
O ataque à condiçã o sexual da pessoa destoa de qualquer ló gica plausível em uma
discussã o, pois nã o tem finalidade outra senã o a de ofender, vejamos o que a
jurisprudência já deliberou a respeito:
“DANO MORAL. SUPOSTA OPÇÃ O SEXUAL. DISCRIMINAÇÃ O. DISPENSA INDIRETA. ATO
LESIVO DA HONRA E BOA FAMA. CABIMENTO. Enseja indenizaçã o por dano moral, de
responsabilidade da empresa, atos reiterados de chefe que, no ambiente de trabalho,
ridiculariza subordinado, chamando pejorativamente de "gay" e "veado", por suposta
opção sexual. Aliás, é odiosa a discriminação por orientação sexual, mormente no
local de labor. O tratamento dispensado com requintes de discriminação,
humilhação e desprezo a pessoa. (TRT-15 - RO: 16097 SP 016097/2006, Relator:
EDISON DOS SANTOS PELEGRINI, Data de Publicaçã o: 07/04/2006)”
O julgado acima pode muito bem ser aplicado analogicamente à hipó tese dos autos, pois foi
exatamente o que sofreu o autor, guardadas as respectivas diferenças entre os casos.
O caso se torna mais grave pois além de ser um ato de insubordinação, onde o réu sabia
que deveria demonstrar urbanidade e respeito com seu superior hierá rquico, o que fica
pior em se tratando de funcioná rios pú blicos, onde o respeito deveria ser maior, até
porque decorre de regra legal contida no Estatuto dos Funcioná rios Pú blicos do Estado de
Sã o Paulo.
O Artigo 241 do referido Estatuto determina:
“Artigo 241 - Sã o deveres do funcioná rio:
I - ser assíduo e pontual;
II - cumprir as ordens superiores, representando quando forem manifestamente
ilegais;
III - desempenhar com zêlo e presteza os trabalhos de que fôr incumbido;
IV - guardar sigilo sobre os assuntos da repartiçã o e, especialmente, sobre despachos,
decisõ es ou providências;
V - representar aos superiores sobre todas as irregularidades de que tiver conhecimento no
exercício de suas funçõ es;
VI - tratar com urbanidade os companheiros de serviço e as partes;
VII - residir no local onde exerce o cargo ou, onde autorizado;
VIII - providenciar para que esteja sempre em ordem, no assentamento individual, a sua
declaraçã o de família;
IX - zelar pela economia do material do Estado e pela conservaçã o do que fô r confiado à sua
guarda ou utilizaçã o;
X - apresentar-se convenientemente trajado em serviço ou com uniforme determinado,
quando fô r o caso;
XI - atender prontamente, com preferência sobre qualquer outro serviço, à s requisiçõ es de
papéis, documentos, informaçõ es ou providências que lhe forem feitas pelas autoridades
judiciá rias ou administrativas, para defesa do Estado, em Juízo;
XII - cooperar e manter espírito de solidariedade com os companheiros de trabalho;
XIII - estar em dia com as leis, regulamentos, regimentos, instruções e ordens de
serviço que digam respeito às suas funções; e
XIV - proceder na vida pú blica e privada na forma que dignifique a funçã o pú blica.” (grifos
do subscritor)
Vemos que além da transgressã o ao artigo 5º, inciso X, da Constituiçã o Federal,
combinados com os artigos 186 e 927 do Có digo civil, o réu cometeu ilícitos
administrativos com sua conduta ousada, criminosa e descontrolada, que acabou por
também transgredir os incisos I, II, III, VI, XII e XIII do artigo 241 do Estatuto dos
Funcioná rios Pú blicos do Estado de Sã o Paulo na situaçã o.
Em sua obra “Danni Morali Contrattualli”, Damartelo[3] enuncia os elementos
caracterizadores do dano moral como a privaçã o ou diminuiçã o daqueles bens que têm um
valor precípuo na vida do homem e que sã o a paz, a tranquilidade de espírito, a
liberdade individual, a integridade física, a honra e os demais sagrados afetos.
Estabelece, assim, a seguinte classificaçã o: dano moral que afeta a parte social do
patrimô nio moral (honra, reputaçã o etc.); dano moral que molesta a parte afetiva do
patrimô nio moral (dor, tristeza, saú de etc.); dano moral que provoca direta ou
indiretamente dano patrimonial (cicatriz deformante etc.); e dano moral puro (dor, tristeza
etc.). (grifo do subscritor)
O caso em apreço demonstra ofensas à honra e à parte afetiva do patrimô nio moral
segundo a doutrina acima apresentada, o que demonstra com mais clareza a ocorrência do
dano moral.
Assim, ante ao que já foi exposto e continuando, é inequívoco que o réu praticou ato ilícito
em desfavor do autor e, por tais razõ es o dano moral é presumido, o que já decidiu a
jurisprudência, vejamos:
“AÇÃ O DECLARATÓ RIA C/C INDENIZATÓ RIA Inexigibilidade de débito Reparaçã o por
danos morais. Inscriçã o nos cadastros de inadimplentes referente a prestaçã o previamente
adimplida. Ato ilícito praticado. Dano moral presumido. Montante fixado a título de
indenização por danos morais que se mostra suficiente a reparar o infortú nio
experimentado pela autora e, ao mesmo tempo, punir a ofensora. Autora que já teve outras
inscriçõ es legítimas anteriores e posteriores, o que revela nã o ter muito zelo com a
preservaçã o do nome. RATIFICAÇÃ O DO JULGADO Hipó tese em que a decisã o avaliou
corretamente os elementos fá ticos e jurídicos apresentados pelas partes, dando à causa o
justo deslinde necessá rio Artigo 252, do Regimento Interno do TJSP Aplicabilidade
Sentença mantida Recurso principal nã o provido. (TJ-SP - APL: 00493538920118260562
SP 0049353-89.2011.8.26.0562, Relator: Spencer Almeida Ferreira, Data de Julgamento:
03/09/2014, 38ª Câ mara de Direito Privado, Data de Publicaçã o: 04/09/2014)” (grifos do
subscritor)
Os fatos praticados pelo réu, sob qualquer ótica, configuram dano moral pois foi
insubordinaçã o, somada à ofensa pessoal e preconceito em razã o de opçã o sexual e
transgressã o a vá rios dispositivos do Estatuto dos Funcioná rios Civis do Estado de Sã o
Paulo, o que nã o deixa alternativa a qualquer intérprete que analise essa situaçã o, em vista
do conjunto de transgressõ es e ofensas.
Impor uma corrigenda ao réu, proporcional aos seus atos é medida que se impõ e, bem
como uma puniçã o, funçõ es da condenaçã o em danos morais.
Por tais razõ es deve ser arbitrado um valor por Vossa Excelência que atenda ao binômio
pedagógico-punitivo e que seja capaz de compensar a situaçã o constrangedora vivida
pelo autor, bem como nã o seja tamanha que a enriqueça ou que impeça o pagamento e nã o
seja mínima a ponto de nã o surtir qualquer dos efeitos relativos ao instituto do dano moral.
Atendendo a tais critérios, o autor entende que para compensar o sofrimento vivenciado,
repreender e desincentivar o réu, um valor justo nã o poderia ser menor que R$ 20.000,00
(vinte mil reais).
Esse valor nã o é tamanho que possa enriquecer alguém e face à s características fá ticas
apresentadas nesta petiçã o inicial, é suficiente para que a ré aprenda a nã o se comportar
ofendendo as pessoas e praticando crimes.
Assim, a ré deve ser condenada ao pagamento de uma indenizaçã o por danos morais, em
importe mínimo de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a fim de pagar pelo que fez.
3. Das provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados
Para os fins do inciso VI, do artigo 319 do Có digo de Processo Civil[4], o autor especifica
neste tó pico, as provas que pretende produzir par demonstrar a veracidade dos fatos que
alega nesta petiçã o inicial.
Assim, pela natureza dos fatos e da pró pria discussã o, uma das principais provas para
demonstrar as ofensas, xingamentos e o cará ter preconceituoso dos atos praticados pelo ré
é a prova testemunhal, que é a adequada para provar as alegaçõ es iniciais.
Como dito no bojo da petiçã o, os atos ilícitos praticados pelo réu, que foram veiculados pela
verbalizaçã o de palavras ofensivas, preconceituosas e criminosas foram presenciados por x
(nú mero por extenso) pessoas, que podem provar em detalhes os fatos narrados na petiçã o
inicial, razã o pela qual pretende a prova testemunhal.
Por isso também é pertinente que se colha o depoimento pessoal das partes, para que o
requerido seja questionado de seu comportamento e o autor revele pessoalmente os danos
morais sofridos.
O autor também pretende apresentar gravações em áudio de parte dos fatos ocorridos e
discutidos nesta açã o, já que gravou parte de sua conversa com o requerido e parte das
ofensas.
Assim, como ao final requer o autor, deve ser deferida a produçã o de prova testemunhal
para provar os atos ilícitos praticados pelo réu, bem como o depoimento pessoal das partes
e o acolhimento das gravaçõ es em á udio que serã o apresentadas no momento processual
oportuno.
4. Da necessidade da decretação de sigilo
O caso, por discutir uma situaçã o vexató ria para o autor, invade a esfera de sua intimidade
relativa à sua opçã o sexual, o que nã o o faz se sentir à vontade para expor a toda e qualquer
pessoa, já que a regra processual impõ e a publicidade de seus atos.
Expor tais características íntimas do autor, além do que já foi exposta, seria ferir mais uma
vez o seu direito à intimidade protegido pela Constituiçã o Federal, pois além de já ter sido
ofendido, se sente constrangido em expor a discussã o de sua vida íntima publicamente
neste processo.
Assim, além de nã o ser ato de grande complexidade ou dificuldade para o Juízo, é de
extrema importâ ncia para o autor, que pode discutir a violaçã o de seus direitos em um
ambiente processual preservado, íntimo, enfim garantidor da privacidade que tem direito.
[5]
Por tais razõ es, como ao final se requer, pleiteia o autor que seja decretado sigilo
processual, a fim de preservar a divulgaçã o de uma discussã o que envolve seus direitos
íntimos, pois protegidos pelo direito constitucional à intimidade.
5. Considerações finais
O caso dos autos é um clá ssico dentre as hipó teses que ensejam a condenaçã o de uma
pessoa ao pagamento de uma indenizaçã o por danos morais.
É a ofensa pura, o dano moral puro, que ocorre através do ataque à honra através de
xingamentos por palavras de baixo calã o, além de um viés preconceituoso quanto à opçã o
sexual do autor, que revela o dolo em ofender e a ocorrência inequívoca do dano moral.
Um detalhe especial que deve ser observado é que o réu é funcioná rio pú blico e deveria,
mais que as pessoas comuns e principalmente no ambiente de trabalho, ter se comportado
com educaçã o e urbanidade, além do que teria que ser obediente à s ordens
hierarquicamente superiores e à s regras de trabalho.
Se insurgir com ofensas para tentar intimidar um superior hierá rquico a nã o adotar
providências é criminoso, pueril e revela um cará ter perverso do réu, que nã o detém
condiçõ es de ser funcioná ria pú blico, pelo modo que se comporta e se comportou na
hipó tese dos autos.
O autor espera, sinceramente, que o réu seja condenado ao pagamento de uma indenizaçã o
por danos morais, haja vista que nã o é outra a soluçã o que se admite neste caso, onde o
Poder judiciá rio deve impor a sançã o legal adequada à s transgressõ es perpetradas pelo
réu, de forma criminosa, covarde e que revela extrema má -fé e um forte desvio de cará ter.
6. Do deferimento da apresentação do arquivo de gravação em áudio em Cartório
Em vista que o autor gravou parte das conversas que teve com o réu e que têm total relaçã o
com os fatos ora apresentados e discutidos, deve juntar aos autos os referidos arquivos,
contudo, devido ao fato que o processo judicial eletrô nico do Tribunal de Justiça de Sã o
Paulo nã o comporta a juntada eletrô nica de arquivos de á udio, tem lugar o requerimento
da apresentaçã o de tais arquivos em Cartó rio, em base de mídia de CD ou DVD.
A Lei nº Lei 11.419/06 autoriza a juntada de documentos que tenham a digitalizaçã o
inviá vel por sua natureza ou por impossibilidades do sistema do processo eletrô nico,
diretamente no Cartó rio.
Vejamos o autorizativo legal:
“Art. 11. [...]
§ 5o Os documentos cuja digitalizaçã o seja tecnicamente inviá vel devido ao grande volume
ou por motivo de ilegibilidade deverã o ser apresentados ao cartó rio ou secretaria no prazo
de 10 (dez) dias contados do envio de petiçã o eletrô nica comunicando o fato, os quais serã o
devolvidos à parte apó s o trâ nsito em julgado.
Assim, devido ao fato que tal situaçã o é nova e a legislaçã o invocada nã o aborda, de forma
específica, o assunto referente à forma de juntada de arquivos de á udio, invoca-se o
instituto jurídico da analogia, uma vez que o arquivo de á udio é notoriamente incompatível
com o atual sistema do PJ-e e, por isso, demanda sua apresentaçã o em mídia do tipo CD
(compact disc), diretamente ao Cartó rio desse E. Juízado, na forma da legislaçã o invocada.
Por tais razõ es, para que essa situaçã o seja tratada com a segurança jurídico-processual
adequada, requer-se a Vossa Excelência que autorize a juntada do arquivo de á udio que o
autor tem a apresentar, em CD, diretamente ao escrivã o Diretor do Juizado, no prazo de 10
(dez) dias, contados do ajuizamento desta açã o.
7. Dos pedidos
Ante ao exposto requer o autor:
a) a citaçã o do réu para que responda à presente açã o, no prazo legal, sob pena de serem
considerados verdadeiros os fatos narrados na petiçã o inicial, aplicando-se a confissã o
ficta;
b) que a ação seja julgada totalmente procedente para condenar o réu a pagar para o
autor, uma indenização por danos morais no importe mínimo de R$ 20.000,00 (vinte mil
reais), a fim de que haja a devida compensaçã o ao autor e a devida puniçã o do réu, além de
ser medida que visa à sua educaçã o para que nã o mais ofenda qualquer pessoa, como
medida que se impõ e;
c) Que fiquem especificadas as provas pretendidas pelo autor para provar o que alega nesta
petiçã o; a prova testemunhal, cujo rol segue anexo a esta petiçã o, devendo as
testemunhas serem regularmente intimadas, o depoimento pessoal das partes e a
apresentação de gravações em áudio de conversas entre as partes;
d) Que seja autorizado a apresentação, pelo autor, no prazo de 10 (dez) dias, das
cópias dos arquivos de áudio em CD, que se referem a parte de conversas que o autor
teve com o réu e que demonstram a motivaçã o das ofensas e parte delas pró prias, ao
Diretor deste E. Juizado Especial Cível, em razã o da impossibilidade da apresentaçã o de
arquivos de á udio no sistema do processo eletrô nico, com fundamento no pará grafo 5º da
Lei 11.419/06[6], ou ainda que possam ser apresentados os arquivos, em audiência de
tentativa de conciliaçã o, se assim Vossa Excelência entender melhor;
e) A condenação do réu no pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, na forma da lei;
f) A concessã o dos benefícios da justiça gratuita, na forma da Lei nº 1.060/50 e do artigo
98 e seguintes do CPC[7], por nã o ter condiçõ es atuais de custear custas sucumbenciais
sem prejudicar seu sustento e de sua família;
g) que seja decretado sigilo processual, em vista que a discussão envolve direitos
íntimos, o que é protegido constitucionalmente;
h) O prazo de 15 (quinze) dias para a juntada do competente instrumento de mandato com
clá usula ad judicia, bem como da respectiva declaraçã o de hipossuficiência, que
fundamenta o pedido de justiça gratuita do item f acima;
i) A oportunidade de provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos,
caso as provas especificadas se mostrem, no curso do processo, insuficientes a provar o
alegado, deve ser permitindo subsidiariamente a juntada de documentos novos, oitiva de
novas testemunhas, perícias, vistorias e quaisquer outras necessá rias para o deslinde da
questã o.
Dá -se à causa, o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) para os fins de direito.
Nestes termos,
P. deferimento.
Sã o Paulo, fevereiro de 2.019.
ÉRICO T. B. OLIVIERI
OAB/SP 184.337
ADVOGADO
1. Có digo penal - Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detençã o, de um a seis meses, ou multa” ↑
2. CF – “Art. 5º. [...] X - sã o inviolá veis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenizaçã o pelo dano material ou moral
decorrente de sua violaçã o;[...]” ↑
3. In: STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretaçã o jurisprudencial. 2ª ed.,
Revista dos Tribunais, p. 458. ↑
4. “CPC - Art. 319. A petiçã o inicial indicará : [...] VI - as provas com que o autor pretende
demonstrar a verdade dos fatos alegados;[...]” ↑
5. “CPC - Art. 189. Os atos processuais sã o pú blicos, todavia tramitam em segredo de
justiça os processos: [...] III - em que constem dados protegidos pelo direito
constitucional à intimidade [...]” ↑
6. Lei 11.419/06 - Art. 11. [...] § 5o Os documentos cuja digitalizaçã o seja tecnicamente
inviá vel devido ao grande volume ou por motivo de ilegibilidade deverã o ser
apresentados ao cartó rio ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias contados do envio de
petiçã o eletrô nica comunicando o fato, os quais serã o devolvidos à parte apó s o
trâ nsito em julgado. ↑
7. CPC - Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência
de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorá rios advocatícios
tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei. ↑

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