Você está na página 1de 13

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000598224

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1011147-


96.2020.8.26.0004, da Comarca de São Paulo, em que é apelante EDSON LUIZ
BENISSE (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado KLEBER DO ESPIRITO SANTO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 34ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Por maioria
de votos, deram provimento parcial ao recurso. Vencida a terceira
desembargadora (LAB), que negava provimento ao recurso e fará declaração de
voto , de conformidade com os votos, que integram este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores CRISTINA ZUCCHI


(Presidente), GOMES VARJÃO, LÍGIA ARAÚJO BISOGNI E RÔMOLO RUSSO.

São Paulo, 31 de agosto de 2022.

L. G. COSTA WAGNER
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 15.844
Apelação nº 1011147-96.2020.8.26.0004
Apelante: Edson Luiz Benisse
Apelado: Kleber do Espirito Santo
Comarca: 4ª Vara Cível do Foro Regional IV- Lapa da Comarca de São Paulo

Apelação. Ação de indenização por danos morais. Sentença de


improcedência. Ofensas proferidas por advogado em ação
trabalhista. Imunidade profissional que não é absoluta. O
advogado, que é indispensável à administração da justiça, deve
ser o primeiro a dar exemplo a seu cliente de como se portar
perante o Poder Judiciário. Inteligência dos artigos 44 e 45 do
Código de Ética e Disciplina da OAB. No caso dos autos, as
expressões utilizadas pelo patrono além de ferir o dever de
urbanidade e respeito que deve pautar as ações de todos os
operadores do direito, denigrem a honra do Autor. Infringência
ao artigo 78, caput, do CPC. Postura reprovável do advogado a
ensejar o encaminhamento de cópia dos autos à Ordem dos
Advogados do Brasil para a apuração do cometimento de
infração ética disciplinar. Ofensas caracterizadas ensejando a
condenação em danos morais. Sentença parcialmente
reformada. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO com
determinação.

I - Relatório

Trata-se de recurso de apelação interposto por Edson Luiz Benisse em


face da sentença de fls. 309/312, proferida nos autos da ação de indenização por danos
morais, que foi promovida contra Kleber do Espirito Santo.

A ação foi julgada improcedente, nos seguintes termos:


“No mérito, com vênia ao autor, entendo que improcede o pedido. Todas as
adjetivações foram proferidas nos autos do processo. De fato, lamentável a postura
do advogado, não se coadunando com a ética e o comportamento esperados de um
profissão tão nobre e essencial. Contudo, eventual infração ética e desrespeito à
educação, lhaneza e urbanidade não conferem direito ao ora autor, parte contrária
naquela ação, à indenização por danos morais.
Acerca do tema em discussão, estabelece o art. 133 da Constituição Federal: (...)
A imunidade profissional do advogado é reconhecida também pelo art. 7º, § 2º, do
Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906/94), in verbis: (...)
Ocorre que as expressões e críticas deduzidas pelo autor, ainda que contundentes,
estão ligadas aos fatos discutidos na ação trabalhista, destinando-se apenas a
manifestar reprovação a sua conduta naquele específico contexto processual, sem
que daí se possa extrair qualquer intenção de prejudicar a sua honra ou a sua
imagem.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Ora, ainda que a imunidade profissional conferida ao advogado realmente não seja
absoluta, a indenização pretendida pelo autor dependeria da comprovação de
manifesto intuito difamatório, calunioso ou injurioso do réu, o que, como visto, não
restou evidenciado na espécie, ainda mais ausente qualquer prova pretendida pelas
partes.
Assim sendo, tem-se que a atuação do réu, ainda que digna de críticas e
reprovação, está dentro dos limites legais que lhe são assegurados pela imunidade
profissional do advogado, não havendo que falar em ilicitude de sua conduta.
Nesse sentido já decidiu o E. Tribunal de Justiça, em casos semelhantes: (...)
Por estes fundamentos, pois, entendo ausente dever de indenizar.
Isto posto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido, com julgamento do mérito, nos
termos do artigo 487, I, do CPC.
Diante da sucumbência, o autor arcará ainda com o pagamento das custas e
despesas processuais, além de honorários advocatícios que ora fixo em 15% do
valor atualizado da causa, da propositura pela tabela prática.
Ambos, porém, sofrem a ressalva da gratuidade concedida e do teor do artigo 98, §
3.º do CPC”.

Recurso tempestivo. Preparo dispensado em razão da concessão da


gratuidade judiciária (fls. 70). Autos digitais, porte de remessa e de retorno dispensado
nos termos do art. 1.007, §3º, do CPC1.

O Autor, ora Apelante, alega que o Réu, ora Apelado, prestou serviços
de advocacia para um ex-empregado seu, na esfera trabalhista, e, em suas peças de
defesa se referiu ao requerente utilizando termos como "mentiroso", "criminoso",
"desonesto" e "insano".

Aduz que as afirmações são incontestes quanto ao seu teor ofensivo e


difamatório, fazendo jus, portanto, a indenização por danos morais.

Alega que teve sua moral e sua honra lesionadas, e por conta disso
deve o Apelado ser condenado ao pagamento de danos morais no importe de R$
20.000,00 (vinte mil reais).

Contrarrazões protocolada intempestivamente.

1
Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação
pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. § 3º É
dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno no processo em autos eletrônicos.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

É o relatório.

II Fundamentação

Respeitado entendimento em contrário, o recurso de apelação


interposto merece ser parcialmente provido.

Adoto o relatório da sentença:


“Vistos. EDSON LUIZ BENISSE propôs ação de indenização por danos morais
contra KLEBER DO ESPIRITO SANTO, alegando, em síntese, que o réu prestou
serviços de advocacia para um ex-empregado do autor, na esfera trabalhista, e, em
suas peças de defesa se referiu ao requerente utilizando termos como "mentiroso",
"criminoso", "desonesto" e "insano". Informa que o juiz daquela causa repreendeu
o réu, tendo inclusive comunicado a Comissão de Ética de Disciplina da Ordem dos
Advogados do Brasil sobre sua postura ofensiva. Afirma que as declarações
ofenderam sua moral e honra, causando-lhe humilhações. Argumenta que a
imunidade concedida ao advogado não é absoluta, sendo incompatível com
práticas abusivas ou atentatórias à dignidade dos envolvidos no processo. Pede
seja o réu condenado ao pagamento de indenização por danos morais.
Devidamente citado (fls. 74), o réu apresentou contestação (fls. 75/82), requerendo
preliminares de incompetência do juízo, inépcia da inicial e impugnação à
assistência judiciária gratuita concedida ao autor. Quanto ao mérito sustenta que
no exercício de sua função utiliza termos "ipsis litteris" conforme declaram seus
clientes, não contendo as expressões nenhuma intensão de ofensa. Diz que apenas
tralhou de maneira combatente na defesa de seu cliente, e que não ofendeu a pessoa
do autor. Defende que o advogado não pode ser cerceado no exercício da
profissão, sendo-lhe garantido a imunidade profissional. Impugna o valor
pretendido pelo autor e requer a improcedência da ação, e de forma subsidiária
que o valor não ultrapasse um salário mínimo. Réplica a fls. 294/301. Em
especificação de provas, as partes pugnaram pelo julgamento antecipado da lide
(fls. 304 e 305/306).
É o relatório”.

Da análise detalhada dos autos, verifica-se que as ofensas proferidas


pelo Apelado contra o Apelante restaram claramente comprovadas nos autos.

Não há como não considerar ofensivas as declarações feitas na


contestação redigida pelo Apelado, nos autos da ação trabalhista.

Em uma rápida análise da peça, saltam aos olhos expressões como


“criminoso” (fls. 20), “desonesto autor” (fls. 20), “autor mentiroso” (fls. 20), “deu o
golpe” (fls. 32), “mal-caráter” (fls. 33), “golpista” (fls. 36), “desleal” (fls. 36),
“oportunista e desonesto” (fls. 36), entre outras igualmente ofensivas.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

O argumento do Apelante de que “de forma muito profissional,


traduzindo ao trabalho contratado, em vezes utilizando termos “ipsis litteris” às
confissões do seu cliente, usa palavras que são o sentimento e declarações do
prejudicado, não tendo nenhum condão pessoal ou ainda, com animus de ofensa a
quem quer que seja”, não se sustenta, na medida em que, como bem observado pelo
MM. Juízo da Vara Trabalhista: “a força do argumento reside nos fundamentos
jurídicos em que apoia e não nas palavras ofensivas utilizadas para manifestá-lo” (fls.
48).

No que se refere à imunidade profissional, invocada pelo Apelado, de


fato o Estatuto da OAB, Lei n° 8.906/94, traz em seu artigo 7º, § 2º aduz que “O
advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou
desacato2 puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade,
em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos
excessos que cometer”.

A imunidade profissional invocada, porém, não é absoluta. O


exercício da mesma deve se dar consoante o disposto nos artigos 44 e 45 do Código de
Ética e Disciplina da OAB, de forma urbana e polida:

“Art. 44. Deve o advogado tratar o público, os colegas, as autoridades e os


funcionários do Juízo com respeito, discrição e independência, exigindo igual
tratamento e zelando pelas prerrogativas a que tem direito.

Art. 45. Impõe-se ao advogado lhaneza, emprego de linguagem escorreita e polida,


esmero e disciplina na execução dos serviços”.

O respeito às prerrogativas dos advogados é fundamental para o


Estado Democrático de Direito, contudo, não lhes é permitido, sob o manto de uma
suposta imunidade absoluta, ofender qualquer pessoa que participe do processo.

Ao contrário, o advogado, reconhecidamente indispensável à


administração da justiça, deve ser o primeiro a dar exemplo a seu cliente de como se
2
decisão do STF proferida na ADI n. 1127: “(...) por maioria, julgou parcialmente procedente a ação
para declarar a inconstitucionalidade da expressão "ou desacato", contida no § 2º do artigo 7º (...)”
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

portar perante o Poder Judiciário.

Tal dever de conduta, antes de mera recomendação, é dever legal


imposto no artigo 78, caput, do CPC. Senão, vejamos:

“Art. 78. É vedado às partes, a seus procuradores, aos juízes, aos membros do
Ministério Público e da Defensoria Pública e a qualquer pessoa que participe do
processo empregar expressões ofensivas nos escritos apresentados”.

A discussão trazida nestes autos não é nova e, em situações similares,


assim já decidiu o Colendo Superior Tribunal de Justiça:

“RESPONSABILIDADE CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. DANOS MORAIS E IMUNIDADE JUDICIAL DO ADVOGADO.
OFENSAS A PROMOTOR DE JUSTIÇA. EXCESSOS CONFIGURADOS.
REVISÃO DO VALOR DA REPARAÇÃO. CABIMENTO. AGRAVO
PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Não há violação do art. 535 do CPC/73 quando o eg. Tribunal estadual aprecia
a controvérsia em sua inteireza e de forma fundamentada.
2. "A imunidade conferida ao advogado para o pleno exercício de suas funções
não possui caráter absoluto, devendo observar os parâmetros da legalidade e da
razoabilidade e não abarcando violações de direitos da personalidade,
notadamente da honra e da imagem" (AgInt no REsp 1.879.141/MS, Rel.
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, j. em
12/4/2021, DJe de 16/4/2021).
3. "A configuração do dano moral pressupõe uma grave agressão ou atentado a
direito da personalidade, capaz de provocar sofrimentos e humilhações intensos,
descompondo o equilíbrio psicológico do indivíduo por um período de tempo
desarrazoado" (REsp 1.653.865/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, j. em 23.5.2017, DJe de 31.5.2017).
4. No caso, pela descrição dos fatos trazida no v. acórdão recorrido, observa-se
que a situação exposta denota circunstância excepcional, ensejadora de reparação
por danos morais, pois houve excessos na atuação do advogado ora recorrente,
importando significativa e anormal violação a direitos da personalidade do
promovente, especialmente durante entrevista a órgão de imprensa, na qual o
recorrente indevidamente imputou, ao Promotor de Justiça recorrido, condutas
ofensivas, exorbitando dos deveres profissionais.
5. O valor arbitrado pelas instâncias ordinárias a título de indenização por danos
morais pode ser revisto nas hipóteses em que constatado excesso, distanciando-se
dos padrões de razoabilidade e proporcionalidade. Na hipótese, o montante fixado
pelas instâncias ordinárias mostra-se passível de revisão.
6. Agravo interno a que se dá parcial provimento para reduzir o montante da
indenização fixada a título de danos morais.
(AgInt no AREsp n. 765.290/SP, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, DJe
de 14/2/2022.)”

“AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. DANOS


MORAIS. INDENIZAÇÃO. JULGAMENTO MONOCRÁTICO. POSSIBILIDADE.
PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. OFENSA.
INEXISTÊNCIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

OCORRÊNCIA. CARÊNCIA DA AÇÃO. PRECLUSÃO CONSUMATIVA.


FUNDAMENTO NÃO IMPUGNADO. SÚMULA Nº 283/STF. ATO ILÍCITO.
CONDUTA CRIMINOSA. IMPUTAÇÃO . OFENSA À HONRA. DANO MORAL
CONFIGURADO. REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA Nº 7/STJ. ESTATUTO DA OAB. IMUNIDADE PROFISSIONAL
RELATIVA. LEGALIDADE E RAZOABILIDADE. DIREITOS DA
PERSONALIDADE. VIOLAÇÃO. NÃO ABRANGÊNCIA.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de
Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. O Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de ser possível ao relator
dar ou negar provimento ao recurso especial, em decisão monocrática, nas hipótese
s em que há jurisprudência dominante quanto ao tema ou se tratar de recurso
manifestamente inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado
especificamente os fundamentos da decisão recorrida (artigo 932, III e IV, do
Código de Processo Civil de 2015).
3. Na hipótese, inexiste afronta ao princípio da colegialidade e/ou cerceamento de
defesa, pois a possibilidade de interposição de agravo interno contra a decisão
monocrática permite que a matéria seja apreciada pela Turma, afastando eventual
vício.
4. Não viola os arts. 489, § 1º, II, e 1.022, I e II, do Código de Processo Civil de
2015 nem importa em negativa de prestação jurisdicional o acórdão que adota
fundamentação suficiente para a resolução da causa, porém diversa da pretendida
pelo recorrente, decidindo de modo integral a controvérsia posta.
5. A ausência de impugnação de um fundamento suficiente do acórdão recorrido
enseja o não conhecimento do recurso, incidindo o disposto na Súmula nº 283/STF.
6. No caso concreto, rever o entendimento da Corte local, de houve ofensa à honra
em virtude de ato ilícito praticado pela agravante, que indevidamente imputou ao
agravado condutas criminosas e ofensivas, caracterizando o dano moral,
demandaria o reexame fático-probatório dos autos, procedimento inadmissível em
recurso especial devido ao óbice da Súmula nº 7/STJ.
7. A imunidade conferida ao advogado para o pleno exercício de suas funções não
possui caráter absoluto, devendo observar os parâmetros da legalidade e da
razoabilidade e não abarcando violações de direitos da personalidade,
notadamente da honra e da imagem.
Aplicável, portanto, a inteligência da Súmula nº 568/STJ.
8. Agravo interno não provido.
(AgInt no REsp n. 1.879.141/MS, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,
Terceira Turma, DJe de 16/4/2021.)”

“DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ADVOGADO. OFENSA A


MAGISTRADO. EXCESSO. INAPLICABILIDADE DA IMUNIDADE
PROFISSIONAL. DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. ILEGITIMIDADE PASSIVA
DOS CLIENTES REPRESENTADOS. VALOR DOS DANOS MORAIS.
- A imunidade profissional, garantida ao advogado pelo Estatuto da Advocacia
não alberga os excessos cometidos pelo profissional em afronta à honra de
quaisquer das pessoas envolvidas no processo, seja o magistrado, a parte, o
membro do Ministério Público, o serventuário ou o advogado da parte contrária.
Precedentes.
- O advogado que, atuando de forma livre e independente, lesa terceiros no
exercício de sua profissão responde diretamente pelos danos causados, não
havendo que se falar em solidariedade de seus clientes, salvo prova expressa da
'culpa in eligendo' ou do assentimento a suas manifestações escritas, o que não
ocorreu na hipótese.
- O valor dos danos morais não deve ser fixado de forma ínfima, mas em patamar
que compense adequadamente o lesado, proporcionando-lhe bem da vida que
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

apazigue as dores que lhe foram impingidas.


Recurso Especial parcialmente provido.
(REsp n. 932.334/RS, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe de
4/8/2009.)”
Corroborando o exposto, é imperativo trazer à baila, trecho de decisão
de relatoria do saudoso Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, que afirma que “não é
razoável admitir e estimular o uso de expressões ofensivas em nossos tribunais,
sobretudo quando dirigidas por um profissional do Direito” (REsp 163.221/ES, Quarta
Turma, DJ 08.05.2000).

Assim, no caso em tela, restou devidamente comprovado o dano moral


e, por conseguinte, o dever de indenizar.

No que tange à fixação do quantum indenizatório, o valor da


reparação deverá ser correspondente à lesão, de forma não só a compensar o dano
sofrido, mas também a impor ao ofensor uma sanção que o leve a rever seu
comportamento com vistas a evitar a repetição do ilícito.

Deve-se levar em conta, dentre outros aspectos, a gravidade, a


extensão, a duração e a natureza da lesão; a condição econômica, social e política do
lesante e do lesado; o dolo ou culpa do agente; e a prova do dano, para que os objetivos
sancionatório e compensatório sejam atingidos.

Importante, também, que o valor de danos morais seja arbitrado


segundo critérios de moderação e proporcionalidade, com vistas a impedir o
enriquecimento ilícito do lesado.
Assim sendo, em atenção aos critérios acima mencionados e
considerando a situação fática, entendo que a fixação do valor da indenização a título de
danos morais no importe de R$ 3.000,00 (três mil reais) atende bem as funções punitiva
e pedagógica, devendo incidir correção monetária desde o arbitramento (Súmula 362 do
STJ) e juros de mora de 1% (hum por cento) ao mês desde a data da citação art. 405 do
Código Civil.
Em razão da sucumbência, condeno o Apelado ao reembolso das
custas e despesas processuais, além do pagamento de honorários que fixo por equidade
no importe de R$ 1.000,00 (mil reais), nos termos do artigo 85, § 8º, do CPC.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

III Conclusão

Ante o exposto, conheço e DOU PARCIAL PROVIMENTO AO


RECURSO, nos termos do voto.

Encaminhe-se cópia dos autos para a Ordem dos Advogados do Brasil,


para a apuração de infrações ético/disciplinares.

L. G. Costa Wagner

Relator
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 45612
Apelação Cível nº 1011147-96.2020.8.26.0004
Comarca: São Paulo
Apelante: Edson Luiz Benisse
Apelado: Kleber do Espirito Santo

DECLARAÇÃO DE VOTO - DIVERGENTE

Data venia do nobre Relator, observo que as expressões


supostamente difamatórias e injuriosas atribuída ao autor da presente ação
indenizatória, conforme bem observado pelo d. magistrado “a quo”, “...estão
ligadas aos fatos discutidos na ação trabalhista, destinando-se apenas a
manifestar reprovação a sua conduta naquele específico contexto processual,
sem que daí se possa extrair qualquer intenção de prejudicar a sua honra ou a
sua imagem.”
As acusações ainda que, nitidamente desrespeitosas, fizeram
parte de um contexto processual determinado, e guardavam estreita relação
com a defesa da ação trabalhista que fora ajuizada contra Edson Dias de
Souza, constituinte do aqui réu.
Não verifiquei, no caso concreto, o abuso do direito de
imunidade judiciária do advogado, o aqui réu Kléber do Espírito Santo, em
prejuízo à honra e à imagem do aqui autor. As expressões utilizadas tiveram o
nítido intuito de sustentar a defesa apresentada na reclamatória trabalhista em
juízo.
A despeito de não figurarem como expressões polidas ou de
bom tom, certo é que não são capazes de macular a honra do autor, diante do
contexto em que proferidas. Assim, ainda que se possa considerar reprovável
a atitude do réu quanto às expressões utilizadas, se encontravam elas
conectadas com a tese de defesa, e não forram irrogadas de modo gratuito.
Ainda, observo que o art. 133 da CF/88, dispõe que o
advogado é “inviolável por seus atos e manifestações no exercício da
profissão, nos limites da lei”. O Estatuto da Advocacia, Lei nº 8.906/94, por sua
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

vez, traz em seu artigo 7º, § 2º, a seguinte regra: “o advogado tem imunidade
profissional, não constituindo injúria, difamação puníveis qualquer
manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora
dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos
que cometer”.
As expressões e críticas deduzida pelo aqui réu, na
reclamação trabalhista, friso, referem-se aos fatos discutidos na causa,
destinando-se a defender os direitos de seu constituinte naquele específico
contexto processual, não havendo intenção de prejudicar a honra ou a imagem
do aqui autor.
É por isso, como adverte Yussef Cahali, que “a jurisprudência
tem se mostrado cautelosa quanto a reconhecer a pretensa responsabilidade
civil dos advogados em razão de ofensa à honra através de processo judicial”
(Dano Moral, 2ª. Edição, RT, p. 323).
No mesmo sentido: “DANO MORAIS - Alegação de ofensa
verbal proferida em juízo por advogada contra a parte contrária - Ausente
caracterização de conduta ilícita apta a ensejar reparação por danos morais,
porquanto a manifestação da patrona guardava direta relação com a causa -
Ato praticado no exercício da atividade - Indenização indevida - Sentença
mantida - RECURSO NÃO PROVIDO. É de rigor, pois, a manutenção “in
totum” do decreto de extinção da ação.” (Apelação nº
1003488-43.2014.8.26.0587, 10ª Câmara de Direito Privado, Rel. Élcio Trujilo,
j.10.05. 2016).
“APELAÇÃO - Ação Indenizatória por Danos Morais -
Pretensão de reparação em razão de suposta ofensa irrogada em peça
processual por advogado da parte “ex adversa” - Sentença de improcedência
Inconformismo - Descabimento - Caso em que que não se verifica a existência
de potencial lesivo nos termos utilizados pelo advogado réu, o que, além de
ser inerente ao exercício da advocacia, não pode ser elevado à categoria de
abalo moral passível de indenização - Recurso desprovido.” (Apel.
1001278-72.2020.8.26.0372, 9ª Câmara de D. Privado, Rel. Des. José Aparício
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Coelho Prado Neto, j. 30/11/2011).


Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

LÍGIA ARAÚJO BISOGNI


3ª Juíza
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Este documento é cópia do original que recebeu as seguintes assinaturas digitais:

Pg. inicial Pg. final Categoria Nome do assinante Confirmação


1 9 Acórdãos LUIZ GUILHERME DA COSTA WAGNER JUNIOR 19673B50
Eletrônicos
10 12 Declarações de LIGIA CRISTINA DE ARAUJO BISOGNI 1862AD6F
Votos

Para conferir o original acesse o site:


https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informando o processo
1011147-96.2020.8.26.0004 e o código de confirmação da tabela acima.

Você também pode gostar