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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 6 a.

VARA CRIMINAL DA
COMARCA DE GUARULHOS - ESTADO DE SÃ O PAULO - SP
Autos nº: 1501574-96.202!.8.26.0535
Controle no. 757-21
, egípcio, casado, padeiro, portador do RNM no. F184742-K, CPF no. , residente e
domiciliado na CEP:. , por intermédio de sua defensora constituída, vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 396 e 396-A do Có digo Penal,
apresentar
RESPOSTA A ACUSAÇÃ O
pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos.

1. DA SÍNTESE PROCESSUAL:
O Ministério Pú blico da Comarca de Guarulhos, no dia 29 de novembro de 2021, ofereceu
denú ncia contra o Acusado, por ter este, em tese, cometido o crime descrito no artigo 215 A
do Có digo Penal .
Consta da denú ncia que, no dia10 de junho de 2021, por volta das 18h15min, na Avenida
Santana do Mundaú , no. 680, Bonsucesso, nesta Cidade e Comarca, o acusado, praticou atos
libidinosos contra a vitima, Monalizi, sem a sua anuência, com o objetivo de satisfazer a
pró pria lascívia.
Por conta da denú ncia oferecida, o MM. Juiz da Comarca recebeu a exordial acusató ria,
determinando a citaçã o do Acusado para apresentar defesa da acusaçã o que lhe fora
imputada, e por meio deste petitó rio, apresenta tempestivamente sua defesa.
É a síntese necessá ria.

2. DA PRELIMINAR.
DA NULIDADE DO DEPOIMENTO PRESTADO A AUTORIDADE POLICIAL
Art. 193. Quando o interrogando não falar a língua nacional, o interrogatório será feito por meio de intérprete.
(Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)

O Acusado é egípcio, e infelizmente o mesmo fala e entende muito pouco nossa língua
pá tria, e a ele nã o foi oferecida em momento algum a presença de um intérprete, ficando
sua defesa naquele momento totalmente prejudicada, requisito essencial para a plena
compreensã o dos questionamentos e para a coleta do seu depoimento.
"O conduzido preso se encontra em situação de vulnerabilidade, em que tem contra si disparado o aparato de
força estatal, e, no momento da prisão, encontra-se em disparidade de forças. Se isso é evidente, quanto mais em
relação ao conduzido estrangeiro, uma vez que está em situação de" especial vulnerabilidade ", conforme
assinalado por Clara Fernández Carron em sua obra El Derecho a Interpretación y a Traducción em los Procesos
Penales , apontando para a necessidade de garantia da qualidade da tradução e interpretação."
Imperioso lembrar que o ato em tela seja invalidado. Sujeito que é ao regime geral dos atos
administrativos, deve ser revisto ou repetido.
Impõ e-se de igual modo que nã o possa servir como meio de prova, uma vez que se
encontra eivado da mais palpá vel nulidade, tendo o poder de converter o processo que
busca a justiça numa ferramenta de injustiça.
Desse modo, pede-se a este Juízo que seja desarraigado do processo esse elemento colhido
no depoimento do acusado perante a autoridade policial, saneando-se o processo para
regular processamento do feito.
Neste sentido requer a Vossa Excelência a nulidade do depoimento do acusado feito pelas
autoridades policiais na data dos fatos, bem como os termos da audiência de custodia por
nã o ser oferecido ao Acusado um interprete.

3. DO MÉRITO.
No presente feito foi imputada ao Acusado a prá tica do crime de IMPORTUNAÇÃ O SEXUAL
(artigo 215 A , do Có digo Penal), por ter supostamente ter passado o penis ereto, nas
nadegas da vitima.
Ocorre que na data dos fatos, e o Acusado, por nã o saber ler o letreiro, primeiramente havia
pegado um ô nibus errado, e ao verificar que estava indo para um lugar incerto, desceu e
pegou o ô nibus que estava a vitima. Ressaltando que era um dia chuvoso e o ô nibus estava
desumanamente lotado.
Já no interior do coletivo, o Acusado foi empurrado por outros passageiros, indo a cima da
vitima,
O acusado, na data estava com suas chaves no bolso da frente, iria descer no pró ximo
ponto, e neste momento foi necessá rio passar novamente pela vitima, por que iria descer
no pró ximo ponto, neste instante a Vitima começou a gritar e sem entender o que estava
acontecendo, foi agredido pelos outros passageiros, e, posteriormente, o motorista parou o
coletivo na frente da 4a. Delegacia, onde foi dada voz de prisã o ao mesmo.
Em ato continuo sem entender o que estava acontecendo e sem lhe dar oportunidade de
defesa, os Policias o prenderam em flagrante delito, vale lembrar que o Acusado entende
muito pouco a Nossa Língua Pá tria e a ele nã o foi lhe dado ao direito de um interprete, e
sem entender o que estava acontecendo e com medo do que pudesse acontecer se calou
perante a autoridade policial, ou seja, o Acusado nã o conseguiu explicar o que havia
acontecido e demonstrar o mal entendido que havia acontecido, o que restara devidamente
comprovado na instruçã o, absolvendo-o ao final.
Excelência, o crime que esta sendo imputado ao Acusado, é muito difícil de ser defendido,
tendo em vista que o pró prio artigo, é defesa para desclassificaçã o de um crime maior,
afastando assim qualquer forma de tutela ao agente, tendo em vista que basta a palavra da
vitima, e ainda o entendimento jurisprudencial permanece desfavorá vel ao agressor neste
sentido, baseado no fundamento que nestes casos a violência é presumida.
Mas o que nã o se pode esquecer que cada fato e cada conduta sã o marcados por
características peculiares, o artigo em tela, por ser um crime comum, o mesmo nã o nos da
chance de defesa, infelizmente o resultado independe da pró pria vontade do agente. O que
vale deveria ser a atual intençã o do agente, devendo ter o DOLO de atingir o resultado, o
que nã o houve e restara provado ao final.
Claro que o crime descrito no artigo 215a do CP, nã o pode ser considerado conduta
aprovada pela sociedade, mas devemos ficar atentos para que nã o seja aplicado
erroneamente.
O Estado nã o consegue dar conta de regular a vida em sociedade, desta forma, sem que se
ofenda a dignidade humana. Nenhum inocente deve ser punido, à custa da incerteza de um
ordenamento jurídico sem equilíbrio.
È direito de o passageiro receber um serviço adequado nos transportes pú blicos, mas todos
nó s sabemos o desafio diá rio de quem é obrigado a usá -lo, em dias normais já existe
aglomeraçã o, o excesso de passageiros, imagine em um dia de chuva, chega a ser desumano.
Neste sentido, infelizmente o pró prio Estado nos dá a formula perfeita para um mal
entendido como o caso em tela, ou seja:
- dia chuvoso e lotaçã o desumana do transporte pú blico .
Sendo assim, a prá tica do crime de Importunaçã o Sexual, com o objetivo de satisfazer a
pró pria lascívia pode ser considerado como algo muito subjetivo, o que demanda cautela
por parte das autoridades na interpretaçã o da legislaçã o e aplicaçã o no caso concreto, para
que nã o se incrimine qualquer gesto como conduta típica do crime em questã o.
Por fim, a ausência de qualquer um dos requisitos ou uma situaçã o diferente da que esta
prevista em lei, jamais poderá ser penalizada, no caso em tela, em nenhum momento ouve a
intençã o do Acusado em satisfazer sua lasciva.
Hodiernamente, a apresentaçã o de resposta à acusaçã o tem se revelado mero formalismo
processual, porquanto as teses neste momento argü idas nã o produzem qualquer efeito
jurídico, tendo em vista que o que vale no crime descrito é ú nica e exclusivamente a palavra
da vitima.
Cumpre salientar que foi oferecido ao Acusado, acordo de nã o persecuçã o penal, porem o
mesmo nã o aceitou por ter certeza mais que absoluta que nã o cometeu crime algum contra
a vitima.
Por derradeiro, diante de tudo que foi argü ido neste petitó rio, requer que o Acusado seja
ABSOLVIDO, tendo em vista a ausência de dolo no fato ocorrido e devidamente exposto.
Porem, caso nã o seja Vosso entendimento, requer a Vossa Excelência a SUSPENSÃ O
CONDICIONAL DO PROCESSO, em vista que o acusado faz jus, por estarem presentes todos
os requisitos para tanto previstos no art. 89, da Lei 9.099/95 c/c art. 77, do CP.
Assim, ante ao todo o exposto, requer seja aplicada tal medida de forma sumá ria, como
forma de justiça, deixando de prolongar o sofrimento e penú ria oriunda de um processo
criminal que poderia ser abreviado neste momento em face da aplicabilidade dos institutos
despenalizadores alhures tratados.
4.DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:
A) O arquivamento do processo , por falta de justa causa para a açã o, bem como a
absolviçã o sumá ria , nos termos do art. 397, do CPP;
B) Nã o sendo o Vosso entendimento, requer a produçã o de provas por todos os meios
admitidos em direito e, posteriormente, seja proferida sentença absolutó ria consoante
os artigos 386, VI e VII, do CPP; Subsidiariamente, requer a aplicaçã o do benefício da
suspensã o condicional do processo , e, finalmente, de penas restritivas de direito.
C) Requer a nulidade dos depoimentos pessoais do Acusado, bem como seja nomeado um
tradutor, tendo em vista que o mesmo é egípcio em tem muito pouco entendimento de
nossa língua pá tria,
D) Requer seja oficiada a empresa de ô nibus TRANSURBANO, para fornecer as imagens do
interior do coletivo na data dos fatos, para melhor elucidaçã o dos fatos.
Nestes termos,
Pede e espera deferimento.
Guarulhos, 06 de dezembro de 2021
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