| ARTIGO ORIGINAL |

Técnicas de Gastrostomia: Comparação quanto a custos

e regiões em que são realizadas
Gastrostomy techniques: a comparison of costs and geographic regions where they are performed

Júlia Sant’Anna de Farias1, Luis Otávio Behrensdorf2, Letícia Oliveira de Menezes3, Renato Azevedo da Silva4

RESUMO

Introdução: A gastrostomia é utilizada, principalmente, quando há indicação de nutrição enteral, mas não pode haver deglutição
por mais de 30 dias ou quando há necessidade de descompressão gástrica. Este trabalho tem como objetivo comparar os custos das
gastrostomias para o Sistema Único de Saúde e relacioná-los com as realizadas nas regiões no Brasil nos últimos 10 anos. Métodos:
Foram coletadas informações de custos e número de realizações da plataforma DATASUS das seguintes gastrostomias: por laparo-
tomia, laparoscópica, endoscópica percutânea e oncológica. Resultados: O método mais utilizado foi a por laparotomia (80,35%),
seguido da endoscópica (16,71%) e a videolaparoscópica (2,92%). Essa porcentagem variou de acordo com a região analisada, sendo a
endoscópica realizada predominantemente na Região Sul (26,78%) e Sudeste (18,69%). Nesse período, é possível notar uma crescente
utilização da gastrostomia endoscópica e videolaparoscópica, tendo esses procedimentos aumentado 647,03% e 353,03%, respectiva-
mente. Com relação ao custo, observa-se que a gastrostomia endoscópica tem um custo médio de R$ 590, se encaixando como AIH
procedimento especial; já a por laparotomia tem custo médio da AIH principal de R$ 670, e a videolaparoscópica de R$ 530, porém
as duas últimas, quando totalizado o valor da internação, resultam no valor de R$ 1.896 e R$ 1.539, respectivamente. Conclusão: Há
uma tendência ao aumento da realização da gastrostomia endoscópica, pela redução de custos e tempo de realização. Já a videolapa-
roscópica tende a ser a segunda opção, sendo que a por laparotomia deverá ser usada apenas quando as outras forem contraindicadas.

UNITERMOS: Gastrostomia, Custos e análise de custos, Nutrição enteral

ABSTRACT

Introduction: Gastrostomy is mainly used when there is indication for enteral nutrition but no swallowing for more than 30 days or when gastric decom-
pression is required. This work aims to compare gastrostomy costs to the Unified Health Care and to relate them with procedures performed in different
Brazilian regions in the last 10 years. Methods: We collected information on the costs and number of procedures from the DATASUS platform referring
to the following types of gastrostomies: via laparotomy, laparoscopy, percutaneous endoscopy, and oncological procedures. Results: The most frequently used
method was laparotomy (80.35%), followed by endoscopic (16.71%) and laparoscopic procedures (2.92%). This percentage varied according to geographic
regions, and endoscopic procedures were predominantly performed in the South (26.78%) and Southeast regions (18.69%). During this period, we noticed a
growing number of endoscopic and laparoscopic gastrostomies: the use of these procedures grew 647.03% and 353.03%, respectively. Regarding their costs,
the endoscopic gastrostomy has a mean cost of R$ 590.00 when classified as IHA Special Procedure; the laparotomy procedure has a mean cost of main
IHA of R$ 670.00; the laparoscopic procedure has a mean cost of R$ 530.00. Procedures performed via laparotomy and laparoscopy, however, result in
total costs of R$ 1,896.00 and R$ 1,539.00, respectively, when considering hospitalization costs. Conclusion: There is an increasing trend of endoscopic
gastrostomies due to their lower costs and shorter duration. Laparoscopic gastrostomies tend to be the second choice, whereas laparotomy procedures should be
used only when the other two are contraindicated.

KEYWORDS: Gastrostomy, Costs and Cost Analysis, Enteral Nutrition

1
Acadêmica do curso de Medicina da Universidade Católica de Pelotas (Acadêmica do curso de Medicina da Universidade Católica de Pelotas)
2
Acadêmico do curso de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (Acadêmico do curso de Medicina da Universidade Federal de Pelotas)
3
Mestre (Professora da Universidade Católica de Pelotas)
4
Mestre (Professor da disciplina de Clínica Cirúrgica da Universidade Católica de Pelotas; Preceptor da Residência de Cirurgia Geral da Universidade
Católica de Pelotas; Cirurgião Geral; Cirurgião do Aparelho Digestivo; Endoscopista.)

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TÉCNICAS DE GASTROSTOMIA: COMPARAÇÃO QUANTO A CUSTOS E REGIÕES EM QUE SÃO REALIZADAS Farias et al.
INTRODUÇÃO
A gastrostomia é um procedimento que tem como ob-
jetivo proporcionar uma melhor qualidade de vida para
aqueles pacientes que apresentam um grau de disfagia inca-
pacitante na presença de via digestiva funcionante ou que
necessitem de descompressão gástrica, sendo indicada para
aqueles que precisem do uso de sonda nasogástrica por um
tempo superior a um mês (1). Ela possibilita o aporte nu-
tricional e hídrico para esses pacientes, além de contribuir
para a prevenção de pneumonia aspirativa.
A primeira técnica criada para a realização desse pro-
cedimento ocorreu em 1876, chamada de Gastrostomia
por laparotomia (2), a qual necessita ser realizada no bloco
cirúrgico, com o paciente sob indução anestésica, sendo
realizado um corte mediano supra umbilical para acessar
a cavidade peritoneal e localizar o estômago (3). No ano
de 1980 foi descrita a técnica da gastrostomia endoscópica
percutânea por Gauder et al (4), que é um método minima-
mente invasivo, sendo possível a sua realização em nível
ambulatorial com indução anestésica. Outa opção é a gas-
trostomia por videolaparotomia, técnica pouco invasiva,
que começou a ser aplicada em 1990, tendo indicação nos
casos em que não é possível o meio endoscópico (5). Essa
técnica também necessita ser realizada no bloco cirúrgico,
sob indução anestésica, mas não expõe tanto a cavidade
abdominal ao meio externo.
A principal indicação para esses procedimentos é a dis-
fagia, sendo ela de origem primária ou secundária. Como
causas primárias, temos os acidentes vasculares encefálicos,
representando um total de 40,7% dos pacientes, doenças
neurológicas degenerativas (34,7%), colagenoses e trau-
mas, sendo menos significativos. Já as causas secundárias
são os processos obstrutivos, causados por tumorações de
cabeça, pescoço e esôfago (13,3%) (6).
Outro caso em que a gastrostomia pode ser empregada
é em pacientes que necessitam de descompressão gástrica e
encontram-se agitados, em estado psicótico ou são idosos.
Nesses casos, essa técnica é utilizada para evitar os riscos
da sonda nasogástrica e proporcionar um maior conforto
para o paciente (7).
As contraindicações para a realização desse procedi-
mento são a presença de ascite, hapatomegalia, obesidade,
ressecção gástrica anterior ou presença de aderências, que
impossibilite levar o estômago até a parede abdominal para
a realização da trasiluminação. As contraindicações relati-
vas são a presença de carcinoma ou processo inflamatório
na parede abdominal ou gástrica, pelo risco de dissemina-
ção da patologia após a realização do processo (8).
A gastrostomia endoscópica possui algumas limitações
específicas inerentes à técnica, como a obstrução dos seg-
mentos superiores do trato digestório por tumorações ou
estenoses, impossibilitando a passagem do aparelho.
O objetivo do presente artigo é comparar o custo do
governo federal com os tipos de gastrostomia para o Siste-
ma Único de Saúde (SUS) e relacioná-lo com a quantidade
256
de procedimentos nas diversas regiões do Brasil nos últi-
mos 10 anos, traçando um panorama da implementação
das novas técnicas ao longo desse período.
MÉTODOS
O presente estudo trata-se de uma análise transversal e
quantitativa dos procedimentos de gastrectomia realizados
através do SUS entre os anos de 2009 e 2018 em todo o
território nacional. Para a coleta dos dados, foram usadas
as informações disponíveis na plataforma DATASUS aces-
sada no mês de maio de 2019.
Os dados coletados foram dos seguintes procedi-
mentos com os seus respectivos códigos: Gastrosto-
mia 0407010211; Gastrostomia Videolaparoscópica
0407010220, Gastrostomia em Oncologia 0416040098 e
Gatrostomia Endoscópica Percutânea 98003020.
As informações escolhidas para serem analisadas, entre
os dados disponíveis, foram quanto ao custo dos diferentes
procedimentos e as regiões em que se utilizam mais cada
um. Para a tabulação dos resultados, foi usada a ferramenta
TABNET, disponível na plataforma DATASUS.
O procedimento intitulado Gastrostomia oncológica
foi retirado da lista de procedimentos realizados pelo SUS
em 2013 e incluído na gastrostomia, por se tratarem da
mesma técnica. Por isso, para a análise dos dados, foram
computados junto com a gastrostomia por laparotomia
os números das gastrostomia oncológicas realizadas antes
desse período.
RESULTADOS
No período de janeiro de 2009 a dezembro de 2018, um
total de 113.799 pacientes realizou gastrostomia no Brasil
através do Sistema Único de Saúde, tendo um custo total
para o governo de aproximadamente R$ 75 milhões. Dos
procedimentos, 48,52% foram realizados na Região Su-
deste, 20,37% na Região Sul, 17,85% na Região Nordeste,
9,20% na Região Centro-Oeste e 4,00% na Região Norte.
Entre esses procedimentos, teve-se uma porcentagem
de 80,35% de gastrostomia por laparotomia, 16,71% en-
doscópica e 2,92% videolaparoscópica. Sendo essa porcen-
tagem variável dentro das regiões, conforme apresentado
na Tabela I, com a Região Sul sendo a maior utilizadora da
gastrostomia endoscópica percutânea (26,78%), a Região
Norte a com um maior uso da gastrostomia por videolapa-
roscópica (5,02%) e a Região Nordeste a com maior uso da
gastrostomia por laparotomia (91,74%).
Durante esse período, ocorreu um aumento de 647,03%
do uso de gastrostomia endoscópica percutânea, enquan-
to a gastrostomia videolaparoscópica teve aumento de
353,03% e 172,40% da gastrostomia por laparotomia. Po-
rém, esse aumento da utilização dos procedimentos que
demandam uma tecnologia mais avançada não foi igual
nas diferentes regiões do país. O aumento da gastrosto-
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 TÉCNICAS DE GASTROSTOMIA: COMPARAÇÃO QUANTO A CUSTOS E REGIÕES EM QUE SÃO REALIZADAS Farias et al.
Tabela 1 - Porcentagem de realização dos diferentes métodos de
gastrostomia nas regiões brasileiras nos anos de 2009 a 2018 -
Fonte: Produção hospitalar (SIH/SUS)
mia endoscópica percutânea na Região Centro-Oeste foi
de 1864,28%, onde passou de um total de 14 para 261 pro-
cedimentos, seguido da Região Norte (733,33%, de 6 para
44), Sul (698,84%, de 173 para 1209), Sudeste (582,62%, de
328 para 1911), e Nordeste (497,22%, de 36 para 179). Já o
aumento da gastrostomia videolaparoscópica foi de 4400%
no Norte do país com 1 procedimento realizado em 2009
para 44 em 2018, procedido do Nordeste (950%, 14 para
133), Sul (419,23%, 26 para 109), Sudeste (221,05%, 95
para 210) e Centro-Oeste (209,09%, 11 para 23).
A gastrostomia por laparotomia, procedimento com o
maior tempo de uso, foi a que apresentou aumento menos
significativo em praticamente todas as regiões da federação,
sendo que no Norte teve acréscimo de 317,70%, sucedido
das regiões Centro-Oeste (246,70%), Nordeste (191,81%),
Sul (165,02%) e Sudeste (147,03%).
Com relação ao custo médio de cada tipo de procedi-
mento, o mais oneroso é a gastrostomia por laparotomia,
com um custo médio de R$ 669,47 por procedimento, se-
guido da gastrostomia endoscópica percutânea, R$ 590,57
e gastrostomia videolaparoscópica, R$ 529,22. Porém, é
necessário salientar que a gastrostomia endoscópica é um
procedimento ambulatorial, sem necessidade de interna-
ção, ao contrário das outras.
O custo médio da AIH na gastrostomia por laparoto-
mia foi de R$ 1972,22, com uma média de permanência
hospitalar de 11,6 dias. Já a gastrostomia videolaparoscópi-
ca tem o valor médio de AIH de R$ 1539,55 com o tempo
médio de internação equivalente à laparotomia, 11,5 dias.
DISCUSSÃO
Teve-se também um crescimento significativo da gas-
trostomia por laparotomia nos últimos anos, apesar da
implementação de novas técnicas de realização desse pro-
cedimento, justificado por novas intervenções terapêuti-
cas, as quais resultam em uma maior expectativa de vida
e a necessidade de medidas que melhorem a qualidade de
vida desses pacientes, que é um dos principais benefícios
desse procedimento.
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O fato de a implementação de novas tecnologias ocor-
rer primeiro em regiões economicamente favorecidas in-
terfere para que a maior porcentagem do procedimento
endoscópico percutâneo seja maior nas regiões Sudeste e
Sul. Essa modalidade necessita de investimentos em equi-
pamentos e qualificação profissional, que acabam se ampa-
rando pela redução de custos para o sistema. Essa necessi-
dade de aquisição de aparelhagem também está presente na
técnica videolaparoscópica, mas nessa, notamos uma certa
equidade de realização dessa nas diferentes regiões.
Na análise de custos, quando é considerado não só o
valor por procedimento, mas também o tempo e valor de
internação, a gastrostomia endoscópica percutânea é a op-
ção menos onerosa para o sistema, tendo uma tendência
de implementação cada vez maior. Quando comparada a
gastrostomia por laparotomia com a gastrostomia video-
laparoscópica, essa última tem vantagem tanto no valor do
procedimento quanto no valor total da internação.
Esse avanço na implementação da tecnologia aplicada
à saúde, evidenciado nos resultados obtidos, vai ao encon-
tro de dados internacionais, em que esses novos procedi-
mentos ganharam evidência antes de serem difundidos no
Brasil (1,5,8). Por ser relativamente nova a utilização dessas
técnicas em nosso país, principalmente da gastrostomia
videolaparoscópica, não temos muitos dados na literatura
nacional sobre o tema, mas, entre os trabalhos publicados
sobre esse assunto, é notória a visão positiva sobre elas
(2,3).
CONCLUSÃO
A utilização dos procedimentos que demandam uma
maior tecnologia e treinamento profissional tipicamente
ocorre primeiro nos grandes centros, para depois se difun-
dir para outras regiões, e isso não foi diferente com a im-
plementação de novas técnicas de gastrostomia.
Ainda tem-se muito que evoluir na substituição do
meio de realização desse procedimento, mas por serem as
técnicas endoscópica e videolaparoscópica relativamente
recentes, muitos centros ainda não estão preparados para
a implementação dessas, mas podemos ver um aumento
significativo da realização desses novos métodos no passar
de 10 anos.
Apesar deste gasto inicial com a preparação de pro-
fissionais e aquisição de equipamentos, a longo prazo a
gastrostomia endoscópica percutânea possui um custo
consideravelmente menor para o sistema, tendo em vista
que esse é um procedimento muito usado atualmente e só
tende a crescer a demanda com o aumento da expectativa
de vida e preocupação cada vez maior com a qualidade de
vida dos pacientes.
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TÉCNICAS DE GASTROSTOMIA: COMPARAÇÃO QUANTO A CUSTOS E REGIÕES EM QUE SÃO REALIZADAS Farias et al.
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Recebido: 18/8/2019 – Aprovado: 16/12/2019
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