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O Home que virou trabalho: seus impactos na saúde mental dos

colaboradores

Introdução
O trabalho home office, ou tele trabalho ou trabalho remoto, tem se
tornado uma realidade cada vez mais presente nas organizações modernas.
Com o avanço da tecnologia e a crescente demanda por flexibilidade e
conciliação entre vida profissional e pessoal, tal modalidade de trabalho
mostra-se uma alternativa viável e vantajosa para muitos profissionais e
empresas. Nesse contexto, é essencial compreender as implicações
psicológicas e organizacionais que o trabalho home office traz consigo.

Objetivo:
O objetivo principal é investigar os efeitos psicológicos do trabalho home
office sobre os indivíduos e as organizações, compreendendo como essa
modalidade influencia o bem-estar dos profissionais e a qualidade de vida.
Neste sentido, o presente trabalho apresenta estratégias e práticas eficazes
para a promoção da saúde mental e do engajamento dos colaboradores que
trabalham remotamente. Finalmente, por meio dessa pesquisa, espera-se
contribuir para o avanço do conhecimento na área da psicologia organizacional
e do trabalho, bem como oferecer subsídios práticos para promover a
adaptação saudável e eficiente dos profissionais ao trabalho home office.
Com base nessa análise, identificar-se-ão estratégias e práticas eficazes
para promover a saúde mental e o engajamento dos colaboradores no
ambiente de trabalho remoto. Também pretendemos explorar as percepções
dos profissionais em relação à qualidade de vida, ao equilíbrio entre vida
pessoal e profissional e à satisfação no trabalho no contexto do home office.
Por fim, este trabalho tenciona promover a conscientização sobre a
importância do bem-estar e da saúde mental no contexto do trabalho remoto,
além de fornecer subsídios teóricos e práticos para melhorar a adaptação dos
profissionais e organizações a essa modalidade de trabalho em constante
crescimento.
O surgimento do tele trabalho ou home office
O surgimento do tele trabalho, também conhecido como home office, é
resultado de uma série de fatores sociais, tecnológicos e organizacionais. A
rápida evolução da tecnologia da informação e comunicação, juntamente com
as mudanças nas demandas e expectativas dos trabalhadores, contribuíram
para a popularização dessa modalidade de trabalho flexível.
De acordo com alguns estudiosos, o conceito de tele trabalho remonta à
década de 1970, quando o acesso à tecnologia de computação e
telecomunicações começou a se expandir (OLSEN, 2012). O desenvolvimento
de computadores pessoais e o advento da internet possibilitaram a realização
de tarefas profissionais fora do ambiente tradicional de escritório.
Diversas teorias e abordagens têm sido utilizadas para explicar o
surgimento e a adoção do tele trabalho. A teoria do equilíbrio trabalho-vida
pessoal destaca a importância do tele trabalho na busca por um maior
equilíbrio entre as demandas profissionais e as necessidades pessoais e
familiares dos trabalhadores (CLARK, 2000). Essa modalidade permite uma
maior flexibilidade para conciliar os compromissos profissionais e pessoais,
resultando em um maior bem-estar e satisfação dos colaboradores.
Outra abordagem relevante é a teoria da economia de custos
transacionais, que destaca os benefícios econômicos do tele trabalho para as
organizações (WILLIAMSON, 1985). Ao permitir que os funcionários realizem
suas atividades de forma remota, as empresas podem reduzir custos
relacionados a espaço físico, deslocamentos e infraestrutura de escritório.
Além disso, o tele trabalho pode levar a uma maior produtividade e eficiência,
uma vez que os colaboradores podem trabalhar em um ambiente mais
confortável e livre de distrações.
Embora o home office tenha se tornado mais comum em tempos
recentes, a pandemia de COVID-19 acelerou sua adoção em larga escala.
Com as restrições impostas pelo distanciamento social e o fechamento de
escritórios, muitas empresas foram obrigadas a adotar o trabalho remoto como
uma medida de contingência. Isso levou a uma rápida transformação nas
práticas de trabalho, onde o home office se tornou uma necessidade e uma
realidade para muitos trabalhadores.
Portanto, o surgimento do tele trabalho ou home office é resultado da
convergência de avanços tecnológicos, mudanças nas demandas dos
trabalhadores e necessidades organizacionais. Diversas teorias explicam sua
adoção e sua relevância para a conciliação entre trabalho e vida pessoal, bem
como para os benefícios econômicos das organizações. A pandemia de
COVID-19 acelerou sua adoção em larga escala, trazendo desafios e
oportunidades para as empresas e para os profissionais de Psicologia
Organizacional no gerenciamento dessa modalidade de trabalho flexível.

O avanço do home office


Com o avanço da tecnologia e o surgimento da pandemia da COVID-19,
o home office tornou-se uma opção cada vez mais comum para as empresas e
trabalhadores. Nesse contexto, a gestão do home office é um tema relevante
para a Psicologia Organizacional, que tem como objetivo analisar e
compreender o comportamento humano nas organizações. A pandemia da
COVID-19 gerou uma rápida adaptação dos trabalhadores ao trabalho remoto,
que antes era uma modalidade voluntária associada a motivações saudáveis
de maior qualidade de vida, equilíbrio trabalho-família e redução de despesas
(BARROS & SILVA, 2010; GASPAR, BELLINI et al., 2014; LEGENTIL, 2020;
PEREIRA JUNIOR & CAETANO, 2009). No entanto, a resistência à
implantação ou à expansão do trabalho remoto por parte das organizações
resultou na maioria das organizações experimentando pela primeira vez o
trabalho remoto de caráter compulsório, sem qualquer preparação material ou
psicológica para essa repentina transição.
A intensidade com que os trabalhadores fazem o trabalho remoto
(quantidade de dias por semana) influencia os resultados, passando, por
exemplo, de um promotor de equilíbrio trabalho-família para um promotor de
conflito trabalho-família (GAJENDRAN & HARRISON, 2007). Tal aspecto
auxilia a reflexão sobre as características do trabalho que podem levar os
trabalhadores a apresentarem percepções distintas daqueles que trabalham
presencialmente na mesma organização, ainda que o conteúdo das suas
tarefas não tenha sido modificado, conforme Abbad et al. (2019).
Para melhor reflexão a respeito das demandas de aprendizagem
relacionadas ao trabalho remoto, é importante superar a crença de que a
modalidade se restringe à transição entre espaços dedicados ao trabalho. Esse
pensamento limitante tende a tornar a fase de adaptação ainda mais
desafiadora, especialmente em cenários nos quais as lacunas de
conhecimentos e habilidades requeridas pela migração do trabalho presencial
para o home office não foram supridas antes da pandemia.

As vantagens e desvantagens do home office


O home office, também conhecido por trabalho remoto, tem sido cada
vez mais adotado por empresas em todo o mundo. Essa modalidade apresenta
uma série de vantagens, como por exemplo a flexibilidade de horário, que
permite aos funcionários adaptarem suas jornadas de trabalho às suas
necessidades pessoais. Além disso, o home office elimina deslocamentos
diários, resultando em economia de tempo e custos de transporte. Aumento da
produtividade também é uma vantagem apontada, já que os profissionais
podem trabalhar em um ambiente mais tranquilo e com menos interrupções. No
entanto, o trabalho remoto também apresenta desafios, como o isolamento
social e a dificuldade em estabelecer limites entre trabalho e vida pessoal. A
comunicação e colaboração podem ser afetadas, exigindo o uso eficiente de
ferramentas tecnológicas. Destacam se algumas vantagens e desvantagens a
seguir:
 Flexibilidade de horário: O trabalho remoto permite que os funcionários
tenham mais flexibilidade para definir seus horários de trabalho,
adaptando-se às suas necessidades pessoais. Isso pode levar a um melhor
equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, resultando em maior satisfação e
engajamento dos funcionários.

 Redução dos deslocamentos: Eliminar a necessidade de se deslocar


diariamente para o escritório resulta em economia de tempo e custos
associados ao transporte. Além disso, a redução do tráfego e da poluição
pode ter impactos positivos no meio ambiente.
 Aumento da produtividade: Pesquisas recentes sugerem que o trabalho
remoto pode levar a um aumento na produtividade. Um estudo realizado
durante a pandemia de COVID-19 mostrou que os trabalhadores remotos
relataram níveis mais altos de produtividade e concentração, devido à
redução de distrações e interrupções do ambiente de escritório (PIQUERO
et al., 2020).
 Melhor qualidade de vida: O home office pode proporcionar aos
funcionários uma melhor qualidade de vida, permitindo que eles tenham
mais tempo para se dedicar a atividades pessoais, como cuidar da família,
praticar exercícios ou buscar interesses pessoais. Isso pode resultar em
maior bem-estar geral.

Desvantagens do home office:


 Isolamento social: Trabalhar em casa pode levar ao isolamento social,
uma vez que os funcionários não estão em um ambiente de escritório onde
podem interagir pessoalmente com colegas de trabalho. A falta de
interação social pode ter impactos negativos na saúde mental e no bem-
estar dos funcionários.
 Dificuldade na separação entre trabalho e vida pessoal: O trabalho
remoto pode levar a uma sobreposição entre a vida profissional e pessoal,
tornando mais difícil estabelecer limites claros. Isso pode levar a uma maior
carga de trabalho e a problemas de saúde, como estresse e exaustão.
 Comunicação e colaboração limitadas: A interação face a face no
escritório facilita a colaboração, a troca de informações e a resolução
rápida de problemas. No trabalho remoto, a comunicação pode ser
desafiadora, especialmente quando depende de ferramentas digitais. A
falta de comunicação efetiva pode prejudicar a colaboração e a eficiência,
segundo Piquero et al., 2020).
 Dependência de tecnologia/ hiperconexão: O trabalho remoto depende
de uma infraestrutura tecnológica confiável, incluindo acesso à internet
estável e dispositivos adequados. Problemas técnicos ou falhas de
conectividade podem interromper a produtividade e a comunicação eficaz.
Além disso, o trabalho em home office contribui para uma hiperconexão do
trabalhador, isto é, conectado a todo momento por meio de celulares,
notebooks e outras mídias.
Principais psicopatologias relacionadas ao home office
Embora apresente inúmeras vantagens, como maior flexibilidade e
eliminação de deslocamentos, o home office também pode desencadear certas
psicopatologias que precisam ser consideradas e gerenciadas para preservar o
bem-estar mental dos indivíduos. A seguir, algumas das principais
psicopatologias relacionadas ao home office:

Isolamento social: O trabalho remoto pode levar a um maior isolamento


social, pois os indivíduos têm menos interações face a face com colegas de
trabalho e amigos. A solidão prolongada pode levar ao desenvolvimento de
ansiedade, depressão e outros transtornos relacionados ao isolamento.

Estresse e ansiedade: A pressão para cumprir prazos, a falta de separação


entre o trabalho e a vida pessoal, a sensação de estar sempre "conectado" e a
incerteza em relação à segurança do emprego podem aumentar os níveis de
estresse e ansiedade. A ausência de um ambiente de trabalho adequado e a
dificuldade de estabelecer limites claros entre o trabalho e o tempo de
descanso também podem contribuir para esses problemas.

Depressão: A falta de interações sociais, o isolamento prolongado e a


monotonia do ambiente doméstico podem desencadear sentimentos de
tristeza, desesperança e desmotivação, característicos da depressão. A falta
de uma rotina estruturada e a ausência de estímulos sociais também podem
agravar os sintomas depressivos.

Dificuldades de organização e produtividade: Trabalhar em casa requer


disciplina e habilidades de organização para evitar distrações. A falta de
supervisão direta e a necessidade de autocontrole podem levar a problemas de
produtividade e procrastinação. A frustração resultante dessas dificuldades
pode afetar negativamente o bem-estar mental dos indivíduos.

Síndrome de burnout: O home office pode aumentar o risco de burnout


devido à falta de separação clara entre o trabalho e a vida pessoal. A sensação
de estar sempre disponível, combinada com a falta de limites e a dificuldade
em estabelecer uma rotina equilibrada, pode levar a altos níveis de exaustão
física e mental.
A Psicologia Organizacional
O trabalho remoto tem se tornado uma realidade cada vez mais presente
nas organizações, especialmente diante das transformações impostas pela
pandemia de COVID-19. Essa modalidade de trabalho traz consigo uma série
de vantagens e desafios, demandando a atuação dos psicólogos
organizacionais em diversas áreas.
Nesse contexto, os psicólogos organizacionais desempenham um papel
fundamental. Eles podem atuar na orientação e no suporte aos colaboradores,
auxiliando-os na adaptação ao trabalho remoto, na gestão do tempo, no
estabelecimento de limites saudáveis e na promoção do equilíbrio entre vida
pessoal e profissional. Além disso, podem fornecer treinamentos e
capacitações sobre habilidades socioemocionais e de autogerenciamento,
ajudando os colaboradores a lidarem com os desafios do home office.
Os psicólogos organizacionais também podem colaborar com as
empresas no desenvolvimento de políticas e práticas adequadas ao trabalho
remoto, como a definição de metas claras, prazos realistas e o estabelecimento
de canais eficazes de comunicação e colaboração. Eles podem orientar as
lideranças no gerenciamento de equipes remotas, incentivando uma cultura
organizacional que promova o bem-estar dos colaboradores e a eficiência nas
atividades. Além disso, os psicólogos organizacionais podem auxiliar as
organizações na identificação e no monitoramento dos impactos do trabalho
remoto na saúde mental e no engajamento dos colaboradores. Por meio de
pesquisas de clima organizacional e avaliações psicossociais, eles podem
fornecer informações valiosas para a tomada de decisões estratégicas e a
implementação de ações preventivas e de intervenção quando necessário.

Em resumo, os psicólogos organizacionais desempenham um papel


essencial no contexto do trabalho remoto, atuando em áreas como adaptação
dos colaboradores, promoção de qualidade de vida, gestão do tempo e
estabelecimento de limites saudáveis, desenvolvimento de habilidades
socioemocionais, suporte às lideranças e monitoramento do impacto do
trabalho remoto na saúde mental e no engajamento dos colaboradores. Sua
atuação é fundamental para garantir o bem-estar e o sucesso das equipes no
ambiente de trabalho remoto.

Conclusão
A gestão do home office é um tema relevante e desafiador para as
empresas e para os profissionais de Psicologia Organizacional. A transição
para o trabalho remoto requer uma abordagem cuidadosa, considerando não
apenas os aspectos técnicos e operacionais, mas também os impactos na
saúde mental, no engajamento e no bem-estar dos colaboradores.
Para enfrentar esse desafio, é crucial que as organizações estejam
preparadas para lidar com essa nova forma de trabalho. Isso envolve investir
em tecnologias e infraestrutura adequadas para garantir a conectividade e a
comunicação eficazes entre as equipes remotas. Ferramentas colaborativas,
plataformas de videoconferência e sistemas de gerenciamento de projetos
podem ser essenciais nesse contexto.
Além disso, é fundamental estabelecer uma cultura organizacional que
promova a transparência, a confiança e o apoio mútuo. Os líderes
desempenham um papel crucial nesse sentido, sendo responsáveis por
fornecer orientação clara, definição de metas realistas e feedback constante.
Eles devem estar atentos ao bem-estar dos colaboradores, oferecendo suporte
emocional, flexibilidade e promovendo o equilíbrio entre vida pessoal e
profissional.
Os profissionais de Psicologia Organizacional desempenham um papel
importante nesse cenário, contribuindo com seus conhecimentos e habilidades
para ajudar as organizações a enfrentarem os desafios do home office. Eles
podem oferecer treinamentos e capacitações sobre habilidades de trabalho
remoto, gestão do tempo, estabelecimento de limites saudáveis e
desenvolvimento de resiliência. Além disso, podem realizar avaliações de
saúde mental e bem-estar dos colaboradores, identificando possíveis
problemas e oferecendo intervenções adequadas.
Uma abordagem proativa também é fundamental. As empresas devem
promover ações preventivas, como programas de promoção da saúde mental,
incentivo à prática de atividades físicas e estímulo ao equilíbrio entre trabalho e
vida pessoal. A criação de espaços virtuais para interação social e troca de
experiências também pode ser benéfica, minimizando o sentimento de
isolamento e fortalecendo os laços entre os colaboradores.
A avaliação de desempenho no contexto do home office também merece
atenção. É importante que as organizações estabeleçam critérios claros e
justos, considerando as particularidades desse ambiente de trabalho. As metas
e indicadores de desempenho devem ser adaptados às demandas do trabalho
remoto, levando em conta fatores como autonomia, produtividade, colaboração
e resultados alcançados.
Em suma, a gestão do home office requer uma abordagem integrada,
que considere tanto os aspectos técnicos quanto os impactos na saúde mental
e no engajamento dos colaboradores. Os profissionais de Psicologia
Organizacional desempenham um papel fundamental nesse processo,
oferecendo suporte e orientação às empresas e aos colaboradores. Com uma
gestão eficaz, o home office pode se tornar uma modalidade de trabalho
produtiva, saudável e satisfatória para todas as partes envolvidas.

Referências:
Ribeiro dos Santos, P., & Sueli Padilha, N. (2021). O HOME QUE VIROU
OFFICE: SAÚDE MENTAL NO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E O
DIREITO À DESCONEXÃO NO CONTEXTO DE PANDEMIA. Constituição,
Economia E Desenvolvimento: Revista Eletrônica Da Academia Brasileira De
Direito Constitucional , 13(25), 291-311. Recuperado de
https://www.abdconstojs.com.br/index.php/revista/article/view/397
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impactos-da-pandemia-para-o-trabalhador-e-suas-relacoes-com-o-trabalho.pdf

https://books.google.com.br/books?hl=pt-PT&lr=&id=2-
h5EAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT8&dq=PSICOLOGIA+ORGANIZACIONAL+E+DO
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