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RESUMO

A eletroforese é uma técnica laboratorial simples que fraciona proteínas presentes em diversos
tipos de fluido, levando em consideração suas cargas elétricas e/ou seu peso molecular. A
técnica utiliza forças eletroforéticas e eletroendosmóticas, onde um pólo positivo (ânodo) e
outro negativo (cátodo) geram um potencial elétrico, que promove a migração proteica,
gerando diferentes bandas, representadas por albumina e globulinas alfa, beta e gama. Dois
métodos de eletroforese são utilizados atualmente, sendo eles: a eletroforese convencional por
zonas e a eletroforese capilar. No primeiro método, as proteínas migram através dos poros
presentes em suportes como acetato de celulose, gel de agarose ou poliacrilamida, formando
zonas de proteínas no eletroforetograma. Já no segundo, as proteínas são separadas pelo seu
tamanho e por outras propriedades físico-químicas, através do fluxo em um tubo capilar.
Desta forma, o objetivo do presente trabalho é apresentar uma breve revisão sobre a
eletroforese de proteínas, destacando as principais técnicas existentes e proteínas fracionadas,
além de sua aplicação e importância ambiental.
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HISTÓRICO

Michaelis, em 1909, anunciou em seus estudos os fundamentos da eletroforese pois


percebeu que as proteínas, quando submetidas a um campo elétrico, realizam movimento, o
que permitia que fossem separadas em frações. Diversos cientistas começaram então a
trabalhar para aperfeiçoar o conhecimento revelado por Michaelis, podendo citar-se:
Sverdberg, Scott, Theorell e Tiselius, sendo este último responsável por embasar toda a
metodologia relacionada a eletroforese utilizada nos dias de hoje. Falando ainda sobre o
bioquímico Tiselius, ele ganhou prêmio Nobel ao relatar o fracionamento de proteínas séricas
por eletroforese, onde as separações ocorriam em meio líquido. Tal descoberta teve
empregabilidade no auxílio ao diagnóstico clínico, mas por ser de difícil aplicação ficou
restrito somente a algumas instituições de ensino.
Após a descoberta de Tiselius, Linus Pauling e colaboradores demonstraram avanços
na eletroforese em papel filtro, mas que não recebeu demasiada atenção por apresentar
dificuldades na visibilidade do fracionamento e quantificação. A verdadeira revolução
aconteceu quando, em 1953, os imunologistas Curtis Willians e Perre Grabar desenvolveram
a imunoeletroforese para separar as frações proteicas a partir da precipitação de anticorpos
utilizando-se de uma fina película de gel de ágar. A partir deste momento então temos o início
do que conhecemos por “eletroforese em gel”, sendo esta a precursora de várias outras
metodologias envolvendo diferente tipos de material em gel, como por exemplo o gel agarose,
que é uma purificação do ágar.
Graças a esse grande avanço, o soro, plasma, líquor ou hemolisado de hemoglobinas
passaram a ser utilizados para exame e, pelo fato de ser o mesmo suporte de gel, viabilizou-se
a rotina laboratorial. Deste período para frente outros a eletroforese passou a ser amplamente
utilizada na biomedicina e bioquímica, transitando por metodologias e tipos de géis
diferentes, tendo cada uma de suas propriedades positivas e negativas referentes ao seu uso.
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ELETROFORESE

O termo eletroforese é usado para descrever a migração de uma partícula carregada sob
influência de um campo elétrico. Sob condições de corrente elétrica constante, a força de
deslocamento de uma partícula é resultado da carga efetiva, da molaridade do tampão e da
resistência do meio usado como suporte (ECKERSALL, 2008, apud Oliveira et al., 2015).

O princípio físico da eletroforese é bastante simples: partículas com carga elétrica são
aceleradas quando colocadas em um campo elétrico; essa força de propulsão é rapidamente
balanceada pela força de fricção do meio, nesse momento as partículas movem-se à uma
velocidade constante, proporcional à corrente elétrica.

O nome "eletroforese" se origina do sufixo “forese”, que significa "migração" ou


"movimento". O prefixo “eletro” indica o uso da eletricidade para fazer a migração das
moléculas.

O fluxo migratório é determinado pelo peso molecular, na qual moléculas de menor


peso migram mais rápido que as de maior peso, formando as bandas características que serão
visualizadas posteriormente.
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A mobilidade de uma partícula em um campo elétrico depende de alguns itens:

 Sinal da carga: orienta o sentido da migração ao polo do sinal oposto;


 Intensidade da carga: o deslocamento é proporcional à intensidade da carga;
 Grau de dissociação: a carga depende do pH do meio, que deve ser estabilizado
pelo uso de tampões Anfóteros (substância que se pode comportar como um
ácido ou como uma base);
 Força do campo elétrico;
 Distância entre os eletrodos: o caminho percorrido é proporcional à força do
campo que se mede pelo gradiente de voltagem (volts/cm);
 Tempo de corrida: o caminho percorrido é diretamente proporcional ao tempo de
corrida;
 Tamanho e forma da partícula;
 viscosidade e temperatura do meio onde esta se move;
 Concentração eletrolítica do meio: cada partícula com carga elétrica se circunda,
por atração eletrostática, de íons de sinais contrários. Essa nuvem iônica tende a
migrar em sentido contrário, reduzindo a velocidade da partícula central.

A técnica utiliza forças eletroforéticas e eletroendosmóticas, onde um polo positivo


(ânodo) e outro negativo (cátodo) geram um potencial elétrico. Este potencial promove a
migração das moléculas carregadas e, dependendo do peso molecular e da carga elétrica,
percorrem distâncias distintas, gerando diferentes bandas. As frações separadas são
observadas a partir de um corante e quantificadas por densitometria ou eluição. Os resultados
são expressos em percentagem de concentração das diversas frações e em forma gráfica. A
taxa de migração das moléculas pode ser afetada pelo pH, força iônica e composição do
sistema tampão usado (MCPHERSON, 2011, apud Oliveira et al., 2015).

Moléculas com carga negativa migram para o polo positivo (ânodo) e moléculas com
carga positiva migram para o polo negativo (cátodo). Em razão de algumas partículas serem
substâncias anfóteras, ou seja, capazes de adquirirem carga positiva ou negativa em função do
pH, é indispensável manter constante o pH do meio durante a eletroforese, pelo uso de
soluções-tampão.
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Cada partícula migra independentemente, mantendo sua estrutura e suas propriedades.


O que torna a eletroforese aplicável a todos os íons, desde inorgânicos até moléculas mais
complexas, incluindo também partículas macroscópicas portadoras de carga elétrica, é o fato
de suas características não sofrerem alterações.

Dependendo do suporte que utilizamos para a eletroforese e da natureza das


macromoléculas, pode-se separá-las mais com base na carga ou mais com base em seu
tamanho. Os suportes em gel apresentam grande capacidade de separar as moléculas com base
no tamanho molar.

Para a realização dessa técnica, é necessário um conjunto de sistemas formado por um


suporte de fracionamento, uma cuba de eletroforese, uma fonte de voltagem e uma solução
tampão. O suporte pode ser de acetato de celulose, gel de agarose ou poliacrilamida e tubos
capilares. A cuba é um equipamento formado por dois compartimentos preenchidos com
solução tampão, formando os eletrodos, sendo um positivo e o outro negativo. A fonte de
voltagem é um aparelho que transforma a corrente alternada em contínua, podendo ter a
intensidade regulada. É essa fonte que determina a polaridade dos compartimentos da cuba. A
solução tampão é formada por água, sal ácido e sal básico. Tal solução pode ser ácida ou
alcalina, sendo específica para cada tipo de eletroforese, dada pelo grau de molaridade ou
força iônica da solução (NAOUM, 2012, apud Oliveira et al., 2015).

A eletroforese movimenta íons através de um suporte estabelecido. A troca iônica entre


as partículas e os grupos eletricamente carregados que compõe o suporte geram um
movimento elétrico de baixa intensidade em direção oposta ao sentido da eletroforese. Esse
movimento intrínseco é denominado eletroendosmose. Esse fenômeno atrasa o
desenvolvimento eletroforético, elevando a intensidade de calor da eletroforese. Nos suportes
de ágar e poliacrilamida, a eletroendosmose tem importância significativa e está diretamente
ligada a pureza e qualidade do gel, bem como, da sua espessura. Quanto mais puro e menos
ionizável o gel, menor será o efeito eletroendosmótico e quanto mais espesso o gel maior será
a eletroendosmose (NAOUM, 2012, apud Oliveira et al., 2015).
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ELETROFORESE EM GEL

A Eletroforese em gel é uma técnica usada para separar fragmentos de moléculas (como
DNA, RNA e proteínas) com base no tamanho e carga. Esse tipo de eletroforese envolve a
passagem de uma corrente através de um gel contendo as moléculas de interesse. Em função
de seu tamanho e carga, as moléculas vão se mover através do gel em diferentes direções ou
em diferentes velocidades, o que permite que sejam separadas umas das outras.

Para a separação das moléculas nesta técnica, tem-se que levar em consideração o
tamanho da molécula, sendo que as de menor massa migram mais rapidamente do que as de
maior, pois possuem mais agilidade de mobilidade. Em alguns casos o formato da molécula
também influencia, uma vez que dependendo do formato as mesmas terão mais facilidade de
migrar pelo gel.

Passo a passo da Eletroforese em Gel

A eletroforese em gel ocorre dentro de uma matriz ou gel que possibilita a corrida da
amostra. O gel é introduzido dentro de uma caixa de gel. Uma extremidade da caixa é ligada a
um eletrodo positivo, enquanto a outra extremidade é ligada a um eletrodo negativo. O corpo
principal da caixa, onde o gel é colocado, é preenchido com uma solução tampão específica
para eletroforese que fornece as condições ideais para a passagem da corrente e a manutenção
do valor do pH.

Em uma extremidade, o gel tem cavidades semelhantes a bolsos chamadas poços feitos
com um pente, onde as amostras são pipetadas. A extremidade do gel com os poços fica
voltada para o eletrodo negativo. A extremidade sem poços (para a qual os fragmentos das
moléculas vão migrar) fica voltada para o eletrodo positivo. Uma vez que o gel esteja na
caixa, as amostras devem ser cuidadosamente transferidas para os poços.

A seguir, a caixa é ligada e a corrente começa a fluir através do gel. As moléculas


carregadas começam a se mover através da matriz de gel. Quando a energia é ligada e a
corrente passa através do gel, diz-se que o gel está correndo.

A voltagem típica para o gel de agarose correr é na faixa de 80 - 120 V. Uma voltagem
maior faz o gel correr mais rápido, mas também pode derretê-lo se a corrida levar um longo
tempo. Uma voltagem mais baixa faz o gel correr mais lentamente.
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Após a corrida do gel, os fragmentos são separados por tamanho. Os fragmentos


maiores estão perto da extremidade superior do gel (eletrodo negativo, onde eles começaram),
e os fragmentos menores estão próximos da extremidade inferior (eletrodo positivo).

Uma vez que os fragmentos tenham sido separados, pode-se examinar o gel e ver o
resultado da eletroforese. Quando um gel é pigmentado com um corante que se liga à amostra
e depois colocado sob luz UV, os fragmentos da amostra brilham, o que permite a
visualização da amostra presente em diferentes locais ao longo da extensão do gel.

Uma "linha" bem definida de amostra em um gel é chamada de banda. Cada banda
contém um grande número de fragmentos de amostra do mesmo tamanho e todos os que
viajaram, como um grupo, para a mesma posição. Um fragmento único de amostra (ou até
mesmo um pequeno grupo de fragmentos) não seria visível por si só em um gel.
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ELETROFORESE EM GEL DE AGAROSE

Os géis para Eletroforese em gel são muitas vezes feitos de um polissacarídeo chamado
agarose, que vem na forma de flocos secos em pó. Quando a agarose é aquecida em um
tampão (água com alguns sais) e deixada para esfriar, forma um gel sólido ligeiramente mole.
Esse endurecimento é feito em um local apropriado, o mesmo local onde será feita a corrida
da amostra. Um detalhe importante é a colocação de um pente no gel durante o
endurecimento. O pente cria poços que são utilizados para a colocação das amostras. No nível
molecular, o gel é uma matriz de moléculas de agarose que são mantidas unidas por ligações
de hidrogênio e formam micro poros.

A agarose consiste num polissacarídeo linear de galactose e um derivativo de galactose


associados através de ponte de hidrogênio. É composta de unidades de b-D-galactopiranose
com ligação 1,3 e 3,6 anidro-a-L-galactopiranose com ligação 1,4. Essa unidade básica de
agarobiose é repetida cerca de 4.000 vezes, formando longas cadeias com peso molecular
médio de 120.000 Daltons. Também podem ocorrer no polissacarídeo, grupos com carga,
tipicamente piruvato e sulfato. Esses grupos são responsáveis por várias propriedades da
agarose, e a seleção cuidadosa de matéria prima para o preparo da agarose controla a
qualidade para fins específicos. O gel de agarose é um polissacarídeo linear não absorvível,
não fermentável e atóxico, extraído de diversos gêneros de algas marinhas. Apresenta em sua
composição diversas substâncias como fibras, sais minerais e proteínas, que podem interferir
na migração proteica, principalmente pelo efeito eletroendosmótico. Por isso, a pureza do ágar
utilizado é que vai determinar o sucesso do fracionamento das proteínas (NAOUM, 2012).

O gel pode ser facilmente preparado no laboratório, tornando a técnica prática e de


baixo custo. A concentração da agarose varia de 0,5 a 2%, e é o que determina o tamanho do
poro do gel, de forma que quanto mais concentrado for a agarose, menor serão os poros do
gel. É utilizado tanto na rotina laboratorial quanto em pesquisas científicas (AZEVEDO,
2003, apud Oliveira et al., 2015). Apesar de fracionar as proteínas em apenas cinco a sete
regiões, apresenta algumas vantagens. Dentre estas, destacam-se a possibilidade de a técnica
ser automatizada, o que facilita e agiliza a execução; o tamanho variável dos poros,
permitindo a separação de diversos tipos de moléculas, desde lipoproteínas à ácidos nucleicos;
e a qualidade da resolução do fracionamento proteico é melhor. A principal desvantagem da
eletroforese em gel de agarose é a fragilidade do filme utilizado, necessitando de equipamento
caro para preservá-lo (CÉRON et al., 2010, apud Oliveira et al., 2015).
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ELETROFORESE EM GEL DE POLIACRILAMIDA

O gel de poliacrilamida é formado por um processo de polimerização vinílica da


acrilamida, um monômero, e da bisacrilamida, tendo a participação de catalizadores, como a
riboflavina ou o persulfato de amônio. O gel é uma matriz constituída de um polímero de
acrilamida com ligações cruzadas de N, N-metil-bis-acrilamida, cuja porosidade da malha
pode ser escolhida. Quanto maior a concentração de acrilamida, menores serão os poros da
malha formada.

Em géis como o de poliacrilamida, o meio funciona como uma peneira, retardando


preferencialmente as moléculas grandes, fazendo com que sejam separadas pelo seu tamanho.

Esse suporte permite o fracionamento proteico tanto pelo sistema nativo, que separa as
proteínas levando em consideração apenas as cargas elétricas (PAGE), quanto pelo sistema
desnaturante, que solubiliza as proteínas em um tampão contendo um reagente desnaturante,
sendo o SDS (dodecil sulfato de sódio) o mais empregado. Para isso, a preparação do gel de
poliacrilamida pode ser individualizada para diferentes faixas de peso molecular de
substâncias que serão processadas, levando em consideração a concentração do gel, já que
poros menores permitem a passagem de proteínas menores. O detergente aniônico (SDS)
interage com as cadeias peptídicas das proteínas, promovendo a desnaturação destas, que
ficam com cargas negativa. Assim, a separação ocorre apenas pela diferença de peso
molecular, caracterizando a técnica conhecida como SDS-PAGE (ECKERSALL, 2008, apud
Oliveira et al., 2015).

Após esse tratamento, as proteínas são aplicadas no topo de um gel de poliacrilamida e


submetidas a uma corrente elétrica, fazendo com que elas migrem através da malha de
acrilamida em direção ao polo positivo. Neste tipo de gel a corrida é feita em cubas verticais,
e o corante utilizado é o mesmo da eletroforese em gel de agarose.

Quando comparada com as demais técnicas, a eletroforese em gel de poliacrilamida é a


que apresenta melhor resultado pois possibilita a visualização de proteínas com concentrações
séricas baixas e identificação de 15 a 20 proteínas. Apesar disso, o emprego dessa técnica na
rotina laboratorial torna-se inviável devido à dificuldade de execução da mesma, limitando-se
a casos específicos e pesquisas científicas (RADKTE, 2003, apud Oliveira et al., 2015).

Apesar das vantagens, o gel de poliacrilamida é menos utilizado, uma que que a
poliacrilamida é muito tóxica e difícil de ser preparada.
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APLICAÇÕES DIVERSAS

Veterinária: A eletroforese das proteínas séricas é um importante método para


quantificação de proteínas presentes em diversos tipos de amostras, com o objetivo de auxiliar
no diagnóstico, prognóstico e curso de diversas doenças. Na medicina veterinária, várias
técnicas têm sido empregadas, sendo as mais utilizadas a eletroforese em acetato de celulose,
em gel de agarose e em gel de poliacrilamida, permitindo a visualização de cinco a sete
bandas proteicas. A aplicabilidade dessas técnicas visa fornecer informações importantes
sobre vários aspectos (ECKERSALL, 2008).
Na década de 1950, a eletroforese já era utilizada para identificar e
padronizar as proteínas presentes no plasma seminal de bovinos, a fim de relacionar os
achados com a fertilidade dos animais e avaliar as proteínas após congelamento do sêmen
(JOBIM et al., 2003; CASTRO et al., 2004). Vários meios têm sido utilizados, desde o gel de
amido, passando pelo acetato de celulose e gel de poliacrilamida, sendo este último o mais
utilizado e recomendado (TEIXEIRA et al., 2009).
Geralmente, a eletroforese é realizada como exame de triagem, sendo uma importante
ferramenta na clínica veterinária, por fornecer informações relevantes sobre o estado geral dos
animais, bem como uma avaliação sistêmica frente a algum processo inflamatório ou
infeccioso. Alguns trabalhos comparam a eletroforese das proteínas séricas de animais
saudáveis e animais com doenças específicas, analisando quais as principais alterações no
traçado eletroforético, constatando a maneira como o organismo responde à injúria (VIEIRA,
2009; FRANÇA et al., 2011; GEROU-FERRIANI et al., 2011).
O uso da eletroforese no universo científico veterinário tem aumentado
consideravelmente, não apenas por fornecer informações específicas, mas por colaborar com
o diagnóstico de enfermidades quando associada à avaliação do quadro clínico e anamnese.
Uma área que tem explorado essa técnica é a de animais silvestres, visando obter mais
informações sobre as espécies em questão. Os dados concernentes à essa classe de animais
são escassos, dificultando a avaliação do estado fisiológicos destes. Por isso, trabalhos
científicos estão sendo realizados a fim de se estabelecer parâmetros fisiológicos de proteínas
séricas fracionadas por eletroforese, de animais tanto de vida livre quanto de cativeiro, com a
intenção de auxiliar, posteriormente, na avaliação clínica de outros animais da mesma espécie
(FAVERO et al., 2004; SANTAROSA et al., 2005; PIRES et al., 2008; FONTEQUE et al.,
2009).
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A eletroforese também contribui com o imunodiagnóstico, ao ser utilizada em técnicas


como a de Western blotting, que detecta, caracteriza e quantifica múltiplas proteínas,
realizando a imunodetecção, mesmo daquelas proteínas que estão em baixas quantidades
(MIGUEL et al., 2012). A técnica ainda pode ser empregada na reprodução animal,
auxiliando na sexagem de espermatozóides, fracionando proteínas presentes nas membranas
destes (SCOTT, 2014).
Uma outra ferramenta da eletroforese explorada por diversos pesquisadores é a
investigação do estado imunológico de neonatos, a fim de saber a eficiência do colostro, bem
como a resposta individual na absorção e produção de imunoglobulinas (FAGLIARI et al.,
1998; GODOY et al., 2006; HILL et al., 2007; FABRETTI et al., 2014).
Na área de produção animal, a eletroforese demonstrou ser um importante aliado, ao
permitir a avaliação da eficiência da dieta no ganho de peso de bovinos (COSTA et al., 2006);
a identificação e quantificação de proteínas musculares de frangos de corte também foi
possível com o auxílio da técnica (FIGUEIRA, 2011). A composição protéica do leite também
é determinada pela eletroforese (PETERS et al., 2012). Além de contribuir com o diagnóstico
e o prognóstico de várias doenças, a eletroforese também tem sido empregada na indústria
alimentícia, com a finalidade de identificar fraudes em alimentos de origem animal, como
leite e carnes. Já foi possível identificar a adição de soro de leite em bebidas lácteas (SOUZA
et al., 2000), adulteração de leite caprino com leite bovino (EGITO et al., 2006), presença de
soro de queijo em leite cru (LEITE & NICOLAU, 2006), bem como a presença de substâncias
não cárneas ou proteínas de outras espécies em produtos cárneos (DAGUER et al., 2010).
Muitos são os benefícios do emprego da eletroforese, justificando sua evolução na
medicina veterinária. Além de auxiliar no esclarecimento de doenças, expressa alterações
fisiológicas que podem ajudar no diagnóstico diferencial em algumas situações. A análise das
frações de proteínas séricas permite uma melhor compreensão da fisiologia de diversas
espécies, além de permitir o acompanhamento da evolução de diversas doenças
(STOCKHAM & SCOTT, 2011).
Ciência forense: A partir de amostras biológicas que contenham células, e que
ficaram na cena do crime, realiza-se a extração do material genético (fragmentos de DNA)
contido nessas células, os quais são, então, processados usando eletroforese em gel. A
separação e detecção destes fragmentos resulta em um padrão único de bandas, a impressão
digital genética. Este padrão é usado para comparar o DNA do suspeito com DNA encontrado
no local do crime.
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Para análise do DNA: O DNA apresenta uma carga essencialmente constante por
unidade de massa, assim estas moléculas podem ser separadas em géis de agarose ou de
poliacrilamida em função somente de seu tamanho ou conformação espacial. Os géis são
utilizados como matriz, por onde serão corridas as amostras com fragmentos de diferentes
tamanhos, neste sentido os géis atuaram com “crivos moleculares”, impedindo o
deslocamento das moléculas de um pólo ao outro da cuba de eletroforese. Quanto maior for a
molécula mais difícil será a passagem da mesma pelo emaranhado do gel. O procedimento
para separar RNA e proteínas segue o mesmo princípio.
Para análise de proteínas: A eletroforese também pode ser utilizada para a análise de
proteínas. Proteínas apresentam diferentes cargas totais líquidas dependendo do conjunto de
aminoácidos que as compõem, assim como conformações espaciais que varia de acordo com
suas funções desempenhadas no organismo. O desenvolvimento de técnicas para se separar
proteínas somente foi possível com a utilização de um detergente denominado SDS (Dudecil
Sulfato de Sódio) que carrega as proteínas negativamente. Esta técnica utiliza o gel de
poliacrilamida como matriz, que apresenta ligações altamente cruzadas, que dificultam a
passagem das moléculas e tornando mais eficaz a separação de fragmentos menores. A
técnica é mais comumente chamada de eletroforese de poliacrilamida-SDS.
As moléculas de SDS quando em solução ligam-se às regiões hidrofóbicas das
moléculas protéicas, causando o seu desdobramento em cadeias polipeptídicas mais simples e
estendidas e carregando-as negativamente a proteína. Além do detergente SDS é adicionado
também o β- mercapto etanol, um agente utilizado para romper as ligações dissulfeto nas
proteínas (formado entre átomos de enxofre – é representado por S-S).
Além das aplicações apresentadas acima, a eletroforese em gel também pode ser
utilizada em diversos outros contextos mais específicos como, por exemplo: teste de
paternidade, diferenciação de espécies ou linhagens, engenharia genética e detecção de
diferentes patógenos como vírus, bactérias e fungos.
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APLICAÇÃO AMBIENTAL

A torta de mamona (Ricinus communis) é o subproduto da remoção do óleo de rícino,


sendo empregada como fertilizante orgânico concentrado, uma vez que mantém todos os
ingredientes (exceto o óleo), o que garante a germinação e crescimento dos vegetais. O
emprego deste material reduz os custos com transporte e mão de obra, sendo que uma carga
de torta substitui quatro de cama de frango ou oito de adubo de origem bovina. Por ser rico
em proteínas, fornece nutrientes para a micro-fauna, que confere textura e garante o
ecossistema necessário para o desenvolvimento das culturas, além de livrá-las de pragas. Um
de seus componentes principais é a ricinina, um inseticida natural que também apresenta
efeito sobre os nematóides do solo. A ricina é uma proteína estável que, uma vez dentro da
célula, inibe a síntese protéica, causando a morte celular.
O potencial de contaminação das águas superficiais e subterrâneas pode ser
investigado pelo estudo da mobilidade que fornece informação de fundamental importância
no estudo da dinâmica de poluentes orgânicos. Tal estudo é efetuado com base no movimento
descendente do composto através do solo. Empregam-se colunas cromatográficas
substituindo-se as fases estacionárias convencionais, como sílica e alumina, modificadas ou
não, pelo solo sob investigação, utilizando-se a água como fase móvel. A coluna
cromatográfica é dividida em faixas ou zonas. O tamanho das faixas é estabelecido de acordo
com os intervalos de fator de retenção (Rf) definidos de acordo com a distância percorrida
pelo poluente, servindo para sua classificação como pouco, médio ou muito móvel.
Na eletroforese em gel, as amostras (soluções contendo a ricina) são tratadas em
coluna de D-galactose para a remoção de outras proteínas, adiciona-se o extrato na coluna,
mantendo contato por alguns minutos. As demais proteínas com água desionizada são eluídas,
descartando-se este eluato. A ricina foi eluída com solução de D-galactose contendo NaCl.
Assim, é adicionada uma quantidade de solução tampão contendo β-mercaptoetanol a uma
alíquota de eluato. Esta mistura é fervida por alguns minutos. Logo depois aplica-se em gel de
poliacrilamida 15% e efetua a eletroforese com uma diferença de potencial de 120 v por 2 h.
Este teste é necessário para o entendimento da dinâmica destas substâncias no ambiente a fim
de avaliar o risco de contaminação dos lençóis subterrâneos. Após a adição da torta de
mamona (Ricinus communis) em amostra de solo adicionou-se água gradativamente
avaliando-se o eluato para determinar a presença de ricina e ricinina. Para a detecção de
ricina, empregou-se a análise eletroforética em gel. Tal informação é de grande relevância
uma vez que estes compostos são considerados tóxicos agindo sobre diversos animais.
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REFERÊNCIAS

 E. Oliveira et al., ELETROFORESE: CONCEITOS E APLICAÇÕES.


ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p.
2015;
 Homepage: <http://kasvi.com.br/principios-da-tecnica-de-eletroforese/>.
Acesso em: 28 de maio de 2018;
 Homepage: <https://pt.khanacademy.org/science/biology/biotech-dna-
technology/dna-sequencing-pcr-electrophoresis/a/gel-electrophoresis>. Acesso em:
28 de maio de 2018;
 Homepage: <https://www.portalsaofrancisco.com.br/biologia/eletroforese>.
Acesso em: 28 de maio de 2018;

 Homepage: <http://kasvi.com.br/como-a-pcr-e-utilizada-na-ciencia-forense/>.
Acesso em 23 de maio de 2018;
 Homepage: <https://biointerativas.wordpress.com/2009/04/10/o-que-e-
eletroforese/>. Acesso em 23 de maio de 2018;
 Homepage:
<http://www.conhecer.org.br/enciclop/2015c/agrarias/Eletroforese.pdf>. Acesso em
23 de maio de 2018;
 Homepage: <https://www.infoescola.com/bioquimica/eletroforese>. Acesso
em 25 de maio de 2018.

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