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Capítulo Do Livro Peer Instruction
Capítulo Do Livro Peer Instruction
APRENDIZAGEM ATIVA
Introdução
A estratégia peer instruction foi criada pelo professor de Física Eric Mazur,
da Universidade de Harvard, na década de 1990. Mazur percebeu que
precisava mudar seu modo de ensinar quando observou que seus alunos
conseguiam resolver problemas aplicando dados em fórmulas memo-
rizadas, mas não eram capazes de resolver problemas em diferentes
contextos, pois não entendiam o conceito implícito.
O professor concluiu que as aulas expositivas, em que passava horas
replicando o que estava nos livros e em suas notas, eram uma ilusão tanto
para ele quanto para os alunos. Mazur achava que estava ensinando de
forma eficiente e os alunos, memorizando fórmulas e algoritmos para
resolver problemas, achavam que estavam aprendendo. Os alunos eram
capazes de calcular com operações conhecidas, mas tinham dificuldade
em fazer suposições e estimativas, desenvolver modelos e aplicá-los
(MAZUR, 2015).
Com o propósito de fazer os alunos compreenderem os conceitos
implícitos aos problemas, Mazur criou a estratégia de aprendizagem
denominada peer instruction. De acordo com o próprio Mazur (2015, do-
cumento on-line), “[...] os objetivos básicos da peer instruction são: explorar
a interação dos alunos durante as aulas expositivas e focar a atenção dos
alunos nos conceitos que servem de fundamento”. Além disso, é possível
desenvolver competências como “[...] o domínio de múltiplas linguagens,
2 Peer instruction
Feedback
Antes de aplicar a estratégia, o professor precisa definir o sistema de votação
que será utilizado. É possível usar as mãos, flashcards, clickers ou plataformas
de votação na Web.
Peer instruction 3
https://qrgo.page.link/kBxCF
Peer instruction 5
Além disso, Mazur (2015) apresenta outros critérios que considera básicos
para os testes conceituais, mas que afetam diretamente o desempenho do
professor em sala de aula, como os listados a seguir.
Aplicando a estratégia
Müller et al. (2017) mostram que não existem muitos estudos acerca da im-
plementação na educação básica, pois a maior parte se encontra na educação
superior. Isso não significa que a peer instruction não esteja sendo aplicada
na educação básica. Araújo e Mazur (2013) apresentam sua aplicação no
ensino médio, principalmente nas disciplinas de Física e de Matemática. No
ensino superior, as pesquisas sobre a peer instruction também predominam
nos cursos de exatas, como Física, Matemática e Engenharia, primeiramente
em países da América do Norte, depois na Europa, na Ásia e na América do
Sul (MÜLLER et al., 2017).
6 Peer instruction
1. O professor faz uma curta apresentação, entre sete a dez minutos, enfa-
tizando os elementos centrais de um conceito ou de uma ideia.
2. Em seguida, apresenta uma questão de múltipla escolha, o chamado teste
conceitual, dando de um a dois minutos para os alunos pensarem em
silêncio. O professor pode usar um cronômetro (que os alunos possam
ver) para marcar o tempo.
3. Logo após, os alunos podem votar individualmente pelo sistema esco-
lhido pelo professor: mãos, flashcards, clickers ou aplicativos da Web.
4. Com acertos entre 30% e 70%, os alunos discutem a questão com
os colegas, durante dois a três minutos, argumentando porque a sua
escolha é a correta.
5. Os alunos votam novamente. O professor apresenta o resultado, faz uma
explanação e segue para um novo tópico e uma nova questão.
Se o número de acertos for menor que 30%, o professor volta a explicar o con-
ceito, pois, a questão pode ser dificultosa, podendo ter sido mal interpretada ou,
simplesmente, os alunos estejam com dificuldade em compreender o conceito.
Se o número de acertos for maior que 70%, a questão pode estar fácil demais. O
professor pode explicar a resposta, argumentando sobre a pertinência da alterna-
tiva correta e apontando o que está incorreto nas demais alternativas. Ele também
pode fazer outra pergunta sobre o mesmo assunto ou optar por seguir direto para
o próximo tópico.
Peer instruction 7
Questão conceitual
(alunos respondem para si)
Votação I
Nova
questão
Professor revisita Discussão em
Explanação
o conceito pequenos grupos
Próximo
tópico
Votação 2
Para assistir a um exemplo de como a peer instruction se aplica a uma aula de Biologia,
acesse o link a seguir.
https://qrgo.page.link/L8Ssp
Como usar?
Ao escolher uma estratégia de metodologia ativa é preciso ter clareza do resul-
tado de aprendizagem que busca ser alcançado. Podemos dizer, por exemplo,
que o problem based learning (PBL) pode ser usado no desenvolvimento da
análise e avaliação. O design thinking, que trabalha a produção de protótipos,
está direcionado ao desenvolvimento da criação. O brainstorming pode não
estar relacionado diretamente com o desenvolvimento de um nível cognitivo,
mas é uma etapa inicial da estratégia de aprendizagem por projetos que de-
senvolve aplicação, análise e avaliação.
A peer instruction desenvolve a compreensão e tem como objetivo o en-
tendimento de conceitos. Ao argumentar e tentar defender sua resposta, o
aluno precisa explicar, exemplificar, inferir, ilustrar; ou seja, demonstrar que
ele está trabalhando o nível cognitivo da compreensão.
O propósito de uma aula expositiva é explicar os conceitos; Os alunos
podem, ou não, compreender dessa forma, mas em muitos casos, o professor
obtém essa resposta somente no dia da avaliação. A peer instruction é uma
maneira de aproveitar o tempo de aula de forma mais produtiva. O feedback
imediato do que está sendo estudado possibilita recursos ao professor para
se certificar de que os alunos estão no caminho da aprendizagem. O impacto
do feedback para os alunos serve para que tenham consciência de que com-
preenderam o conceito ou de que ainda precisam aprender.
Um ponto muito importante na aplicação da peer instruction é a realização
de atividades prévias, que podem ser de leitura, vídeo ou podcast. Essas ati-
vidades podem fazer parte de outras duas estratégias de aprendizagem ativa:
a sala de aula invertida e a just in time teaching.
Peer instruction 9
ARAÚJO, I. S.; MAZUR, E. Instrução por colegas e ensino sob medida: uma proposta para
o engajamento dos alunos no processo de ensino-aprendizagem de física. Caderno
Brasileiro de Ensino de Física, v. 30, n. 2, p. 362–384, ago. 2013. Disponível em: https://
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CAMPAGNOLO, R. et al. Uso da abordagem peer instruction como metodologia ativa
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