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METODOLOGIA EM NEUROLINGUÍSTICA

Edwiges Maria Morato

“Todo símbolo, isolado, parece morto. O que é que lhe dá vida? – Só


o uso lhe dá vida. Tem, então, em si o sopro da vida? Ou é o uso que é o sopro
da vida?” (WITTGENSTEIN, Investigações Filosóficas, 1958, § 432, grifos do
autor)

Introdução

Este capítulo pretende apresentar e discutir em termos gerais aspectos teórico-


metodológicos da Neurolinguística, campo de estudos interdisciplinar dedicado às
relações entre linguagem, cérebro e cognição. A propósito da demarcação fronteiriça do
campo, afirma Morato:

Há quem atribua o início da Neurolinguística, como o fazem


Bouton (1984) ou Lecours e Lhermitte (1979), à publicação, em
1939, do livro Le Syndrome de Désintégration Phonétique, de
Alajouanine, Ombredane (neurologistas) e Durand (foneticista).
Há também os que consideram a Neurolinguística um ramo
(Luria, 1976) ou um subconjunto (Hécaen, 1972) da
Neuropsicologia, o que significa circunscrevê-la ao campo de
estudo das perturbações verbais decorrentes de lesões cerebrais.
Para autores como Whitaker e Whitaker (1976), em função de
seu complexo objeto, a Neurolinguística seria uma área
“francamente interdisciplinar” que relaciona linguagem e
comunicação humana com algum aspecto do cérebro ou da
função cerebral. Por seu turno, Menn e Obler (1990) procuram
definir a área por meio de seu objetivo, que é, segundo as
autoras, teorizar sobre o “como” a linguagem é processada no
cérebro. (MORATO, 2012a, p. 168)

Mais recentemente, em um livro de caráter introdutório, Ahlsén define a


Neurolinguística como o estudo da relação entre diferentes aspectos da função cerebral
associada à linguagem e à comunicação. Para a autora, que não limita o campo a
estudos em torno do contexto patológico, cabe à Neurolinguística “explorar como o
cérebro compreende e produz linguagem e comunicação”. (AHLSÉN, 2006, p. 3)
A tendência geral do campo revela clusters de influência que, distintos em
perspectiva e objetivos, têm atuado na agenda da Neurolinguística e na demarcação
2

fronteiriça de seus interesses teóricos e empreendimentos metodológicos. Segundo


Ahlsén (2006, p. 38):

Os grupos de influência que predominam em Neurolinguística


durante os anos 1970 e 1980, e até os dias de hoje, combinam as
seguintes partes:
(a) a clássica influência dos modelos Lichtheim-Geschwind,
(b) o estruturalismo linguístico e/ou gramática gerativa,
(c) os testes de psicologia, estudos de grupo com uso da
estatística (mais recentemente, também estudos de caso), (d)
modelagem serial e (e) terapia de tipo neoclássico, ou
"neuropsicologia cognitiva" (na terminologia de Howard &
Hatfield, 1987 ).
Outro grupo baseia-se na tradição neuropsicológica russa, isto
é, aquela ancorada nas ideias de Vygotsky e de Luria,
juntamente com ideias de uma teoria geral dos sistemas
(Bertalanffy, 1968).
Um terceiro grupo, que tem se desenvolvido mais recentemente
em Neurolinguística, é baseado em ideias filosóficas,
antropológicas e linguísticas no campo da Pragmática.
(tradução nossa)

Distintas perspectivas e formas de conceber as relações entre linguagem, cérebro


e cognição podem ser encontradas em Neurolinguística; podemos encontrar no campo
um verdadeiro mosaico de modos de investigação, híbridos ou complementares, a elas
associado: métodos experimentais e observacionais, quantitativos e qualitativos,
transversais e longitudinais.
É possível também encontrar várias combinações das influências mencionadas
acima no campo da Neurolinguística, bem como o desenvolvimento de diversas
interfaces permitidas pela agenda científica da Linguística e das Neurociências.
Ao se dedicar à descrição e à análise da estrutura, organização e funcionamento
da linguagem, a Neurolinguística tem expandido mais recentemente seus interesses
teóricos, indo além do foco no sistema linguístico e seus diferentes níveis de
constituição, voltando-se também à estruturação e gestão das práticas discursivas, ao
processamento textual, aos contextos locais e sociais de produção e interpretação do
sentido, às semioses não verbais, aos processos cognitivos com os quais
compreendemos e atuamos no mundo (dentre os quais a memória, a atenção, a
percepção, a gestualidade, etc.), à preocupação com a constituição do corpus e sua
visibilidade (MORATO, 2012a).
Disciplina híbrida, a Neurolinguística mantém relações estreitas com as
Neurociências, servindo-se de uma complexa e variada metodologia desenvolvida nesse
3

campo: estudo da linguagem e da comunicação após lesões cerebrais por meio de vários
recursos metodológicos, como os testes diagnósticos, a observação da linguagem e da
comunicação em ambientes naturais de produção, as simulações computacionais, a
elaboração de modelos de processamento linguístico e cognitivo por meio de técnicas
cada vez mais sofisticadas (porque funcionais e temporais, não apenas estruturais) de
imageamento cerebral.1
Com relação às Neurociências, a Neurolinguística compartilha um conjunto de
interesses em torno do velho problema mente-cérebro:

Como o cérebro reage diante das dificuldades linguísticas e


cognitivas que se impõem após o dano neurológico? Como se
desenvolve a plasticidade cerebral e como ela atua no
desenvolvimento e no declínio cognitivo? Como as crianças
desenvolvem e usam a linguagem? Qual é a responsabilidade do
cérebro em relação aos processos cognitivos, e qual seria a
responsabilidade destes em relação ao cérebro, sua estrutura e
seu funcionamento? Em que medida é possível “visualizar”
substratos cerebrais do processamento linguístico e cognitivo?
(MORATO, 2012a, p. 171)

Nascida no seio dos estudos naturalistas da Medicina dos séculos XVIII e XIX,
não seria exagero considerar que uma parte expressiva da pesquisa produzida no campo,
notadamente a que se dedica ao contexto patológico, deriva ou é caudatária do chamado
método clínico - método no qual se forja como ciência na melhor tradição racional-
empirista da época.
A herança naturalista e fenomenológica, tão cara às descrições neurobiológicas
dos processos mentais e seus sintomas, encontrou no positivismo filosófico e no
estruturalismo linguístico um ambiente intelectual capaz de promover o
desenvolvimento da Neurolinguística no decorrer do século XX. Entretanto, esse
aparato teórico deixa de fornecer explicações sobre achados empíricos que foram
tornando evidente a necessidade de superação de explicações ad hoc e de elaboração de
construtos teóricos que pudessem enfrentar os desafios colocados aos que se interessam
pelo “problema” mente-corpo.

1
Ver, a propósito, uma discussão crítica de Coulson (2007) a respeito de resultados obtidos por método
de investigação cerebral não invasiva, em especial, potenciais evocados, bem como das possibilidades de
investigação da atividade cerebral implicada no processamento de construções linguísticas complexas
(como ironia, compreensão de chistes, frames, etc.). Ver, ainda, estudos de orientação experiencialista,
tais como os de Gallese e Lakoff (2005) e de Bergen e Chang (2005), bem como os afiliados à Teoria
Neural da Linguagem (Feldman, 2006).
4

Modelos ou construtos teóricos mais abrangentes e consistentes do ponto de


vista das vias explicativas encontradas para a questão cognitiva e seu “oceano de
motivações” (SALOMÃO, 2010)2 foram pouco a pouco superando as primeiras
explicações baseadas na correlação anátomo-clínica e no localizacionismo estreito que
alocava as funções mentais em sedes ou regiões altamente circunscritas no cérebro:
referimo-nos às inflexões funcionalistas, interacionistas e sociocognitivistas3 admitidas
pelo campo nas últimas décadas, de modo a priorizar a investigação da linguagem, do
cérebro e da cognição em uso, no contexto de práticas humanas situadas social e
culturalmente; referimo-nos ao aumento do interesse pelo estudo da co-ocorrência de
processos semióticos nas atividades de significação e de comunicação, bem como pela
integração das dimensões biológica e sociocultural das atividades mentais; referimo-nos
à arbitragem qualificada de metodologias variadas e à preocupação com a constituição
do corpus e com a visibilidade dos dados de pesquisa; referimo-nos à introdução
decisiva das discussões sobre ética e recepção social no tocante às relações entre o
normal e o patológico e às práticas diagnósticas de patologias linguístico-cognitivas,
como as afasias e a Doença de Alzheimer; referimo-nos à integração de instrumentos
biotecnológicos (como os recursos de neuroimagem, exames de potencial evocado
relacionados a evento/ERPs, etc.) e corpora constituídos em situações de uso nos
estudos sobre linguagem e cognição.
Esse quadro de interesses mais recente do campo tem permitido a expansão de
perspectivas e métodos de investigação, de modo a colocar em xeque, entre outras
coisas, os testes psicométricos tradicionais - essencialmente metalinguísticos -
utilizados na avaliação da linguagem patológica e na correlação anátomo-clínica.
A discrepância observada entre comportamentos neuropatológicos e
comportamentos cotidianos (cf. LOCK, 2011), por seu turno, tem estimulado no terreno

2
A cognição (inclusive a cognição linguística) é um conjunto de processos motivados, como lembra
Salomão (2010): “pela evolução biológica, pela neurobiologia, pela história da língua, pela própria língua
como sistema emergente sincronicamente, pela situação discursiva, pelas intenções e restrições de que é
portador o sujeito que fala (ou que interpreta)”. A recusa de uma “mente descarnada de seus usuários”,
nesse sentido, não deixa de apontar distintas reflexões e métodos no campo da Linguística, assim como
ocorre no campo da Neurolinguística. Tal percepção se torna mais forte quando levamos em conta a
maneira como é tratado o biológico e o corporal na discussão da problemática cognitiva, ou, mais
especificamente, como são estudados os processos cerebrais implicados na cognição e vice-versa.

3
O que reúne essas distintas, porém assemelhadas perspectivas, em linhas gerais, é a tese segundo a qual
a práxis social é responsável pela modulação da experiência linguístico-cognitiva, de modo tal que
circunscreve os tipos e as possibilidades da nossa relação com o mundo. Nessa perspectiva, reconhece-se
que a cognição é resultado - e não um antecedente - da interação dos indivíduos com o mundo.
5

das práticas clínicas a criação de modelos teóricos e procedimentos investigativos mais


complexos, centrados nas ações dos indivíduos e suas interações com o mundo social.
Com isso, procedimentos diagnósticos sumários e dados de imageamento cerebral
deixam de ser a (única) fonte de informações sobre conteúdos mentais, normais ou
patológicos.
Influenciada pelos movimentos funcionalistas e interacionistas desenvolvidos no
campo da Linguística a partir de meados do século XX, a pesquisa neurolinguística tem
se colocado mais recentemente o desafio de investigar aspectos formais e discursivos da
produção e da compreensão da linguagem em circunstâncias de uso e de prática
cotidiana.
Nesse movimento de expansão de seu objeto, a Neurolinguística passa a
convocar de maneira mais incisiva a presença da Linguística Funcionalista,
Sociocognitiva e Interacionista na investigação das relações entre cérebro, linguagem e
cognição.
Enfraquecido, o modelo biomédico que tradicionalmente marca o campo,
calcado no método científico do século XIX, modifica-se frente a questões postas por
construtos teóricos de base funcionalista e sociogênica. Isso é particularmente
importante para as novas concepções de cérebro e de mente que se foram forjando a
partir do esgotamento de modelos neurobiológicos fortemente modularistas e do
surgimento de construtos teóricos baseados na noção de cognição social4 que, entre
outras coisas, defendem uma concepção de mente “não descarnada de seus usuários”
(SALOMÃO, 1999).
A inflexão interacionista e sociocognitiva observada no terreno da Linguística 5 e
no das Ciências da Cognição6 a partir de meados do século XX se deixa ver na agenda
da área e na rediscussão de alguns de seus temas fulcrais. Assim é que podemos
observar na literatura neurolinguística a reanálise da semiologia linguística e
neuropsicológica tradicional das patologias, o estreitamento das relações entre o
linguístico e o cognitivo e a discussão sobre a prática diagnóstica, não mais confinada à

4
Segundo Tomasello (1999/2003), a cognição social, intersubjetiva e perspectivada, pode ser entendida
como a “[...] capacidade de cada organismo compreender os co-específicos como seres iguais a ele, com
vidas mentais e intencionais iguais às dele” (TOMASELLO, 2003, p. 7).

5
Cf. SALOMÃO (1999), MARCUSCHI (2002), MONDADA e DUBOIS (1995/2003), MORATO
(2004).
6
Cf. TOMASELLO (1999/2003), VARELA, THOMPSON e ROSCH (1992), KOCH e CUNHA-LIMA
(2004), SALOMÃO (2010).
6

esfera médica e sim estendida a todo o corpo social (a respeito das implicações dessas
(re)discussões nos estudos sobre a afasia e a Doença de Alzheimer, ver, entre outros,
MORATO, 2012a, 2010a; SÉ, 2011; CRUZ, 2008).
De qualquer modo, não podemos deixar de considerar que, de fato, o método
clínico ainda impregna fortemente algumas disciplinas científicas que se firmaram
enquanto tais ao final do século XIX. Assim, não deixamos de nos deparar, à hora atual,
com reflexões, impasses e dilemas próprios de dicotomias clássicas que marcam esse
início do campo, tais como sensório-motor, mente-corpo, percepção-ação, conceptual-
linguístico.
A postulação de uma relação de dicotomia entre os termos aludidos acima, como
muitos autores têm apontado, limita a compreensão da cognição humana e mesmo as
torna um mistério insondável; também a relação de homologia, observe-se, impede que
compreendamos mais especificamente a forma pela qual agimos sobre a realidade ou a
interpretamos e compartilhamos. A equivalência entre os elementos postos em relação,
ou a primazia do primeiro elemento do binômio sobre o segundo ancora ainda um
argumento nem sempre explicitado, como observa Morato (2012b): a indistinção entre
homem biológico e homem social, a partir do que o segundo acaba, via de regra,
subordinado ao primeiro, num processo de naturalização da dimensão sociocultural da
atividade cerebral. A tese de um "cérebro social", na expressão de Ehrenberg (2008),
traz de forma prioritária ou decisiva para o campo das ciências biológicas o tratamento
de questões classicamente abordadas pelas ciências sociais (como a empatia, a
intersubjetividade, a cultura, a interação):

Para uma parcela das Neurociências, a cognição humana - e a


cognição social – torna-se hoje uma questão biológica decisiva,
uma espécie de “naturalismo às avessas”, um “naturalismo
como idéia social” (EHRENBERG, 2007, 2008). Podemos
apontar alguns exemplos das questões que podem ser
levantadas a partir desse naturalismo. Para o que interessa à
reflexão sobre metaforicidade, vale dizer que uma perspectiva
neurobiológica estreita, ao aventar, por exemplo, uma
correlação direta neural para o processamento de metáforas
convencionais, deixa de levar em conta, entre outras coisas, que
a convenção – seja na linguagem, seja em outros processos
cognitivos - deriva do fato de que a convenção faz parte da
natureza humana. (MORATO, 2012b, p.180)

A questão do método no campo da Neurolinguística: o nascimento da clínica


7

A Neurolinguística, como procuramos apontar na seção anterior, se desenvolve


inicialmente no ambiente descritivista e classificatório das ciências naturais.
Foucault é um dos autores que nos ajudam a entender as implicações atuais
desse legado7. Segundo o autor (1963/1977), podemos observar entre o século XVIII e
o XIX uma diferença importante na formulação discursiva da doença e do método para
investigá-la. Para o autor, “o aparecimento da clínica, como fato histórico, deve ser
identificado com o sistema destas reorganizações”:

não foi, portanto, a concepção de doença que mudou


primeiramente, e em seguida a maneira de reconhecê-la; nem
tampouco o sistema de sinais foi modificado e, em seguida a
teoria; mas todo o conjunto e, mais profundamente, a relação da
doença com este olhar a que ela se oferece e que, ao mesmo
tempo, ela constitui ... não há separação a fazer entre teoria e
experiência. (FOUCAULT, 1977, p.101)

Constituído no século XIX, o método clínico baseia-se na relação entre signo e


sintoma – que estaria “mais próximo do essencial e da inacessível natureza da doença”.
As funções do signo, bem como da nomeação da doença, são enunciadas pelo autor da
seguinte forma: o signo “prognostica o que vai se passar; faz a anamnese do que se
passou; diagnostica o que ocorre atualmente (...) Através do invisível, o signo indica o
mais longínquo, o que está por baixo, o mais tardio” (1977, p.102).
Na virada do século XVIII para o XIX, essa perspectiva referencialista se
encontra no coração do método clínico: ela supostamente permite ao investigador (no
caso, o médico ou o neuropatologista) que nomeia uma doença conhecê-la em sua
essência:
Não é à toa que o final do século XVIII marcou a preocupação
com a terminologia, com o jargão técnico, com a classificação
das doenças à maneira de uma classificação de fenômenos da
natureza, como o faziam os botânicos, por exemplo. (...) Vimos
que, para Foucault, praticamente tudo, no método clínico, está
relacionado com a doença, com o sintoma. A mudança que
ocorre entre os séculos XVIII e XIX está ligada à emergência
do olhar do médico no campo dos sinais e dos sintomas.
(MORATO, 2010a, p. 37-38)

7
Há outros autores que também se dedicam à história social das práticas médicas e da constituição da
clínica, como Roy Porter (1991/1994), Denis Forest (2005) ou Margaret Lock (2011).
8

De forma distinta do pensamento do século anterior, que toma o sintoma como


índice da doença, agora o sintoma descrito se confunde com ela: “tudo na doença é
fenômeno de si mesma” (FOUCAULT, 1977, p.135). Não surpreende, pois, como
assinala Lanteri-Laura (1989), que toda a rede semiológica das patologias de linguagem
se ancora nessa transformação do sintoma em um significante linguístico. A linguagem
(ou um ideal de língua) torna-se uma mina de informações a respeito de conteúdos
mentais8.
Como assinala Canguilhem (1995), a classificação nosográfica encontra no
século XIX um substrato nos conhecimentos adquiridos pela anatomia patológica. Nas
palavras do autor, que via continuidade e não mera ruptura entre o normal e o
patológico:

essa evolução resultou na formação de uma teoria das relações


entre o normal e o patológico, segundo a qual os fenômenos
patológicos nos organismos vivos nada mais são que variações
para mais ou para menos, dos fenômenos fisiológicos
correspondentes. Semanticamente, o patológico é designado a
partir do normal, não tanto como a ou dis, mas como hiper ou
hipo. Essa teoria não defende absolutamente a tese de que saúde
e doença sejam opostos qualitativos, forças em luta, apesar de
conservar a confiança tranquilizadora que a teoria ontológica
deposita na possibilidade de vencer tecnicamente o mal. (p.53)

A investigação das afasias, alterações de linguagem decorrente de lesões


adquiridas no sistema nervoso central que têm ocupado um lugar de destaque entre os
temas abordados pela Neurolinguística, é constituída e fortemente marcada pela
influência do método clínico do século XIX. Tanto a correlação anátomo-clínica, quanto
a psicometria são elementos que normalmente têm funcionado como método de
estabelecimento da semiologia (ou sintomatologia) da síndrome afásica, base por sua
vez do diagnóstico e da conduta clínico-terapêutica: “A nomeação de doenças envolve
classificação, promove o prognóstico e indica a terapia” (PORTER, 1994, p.365).

8
Como salienta Morato (2010a, p. 27): Ao fazer referência ao termo semiologia para se referir aos
sintomas e sinais de doenças, a tradição médica tem consagrado uma relação de quase sinonímia entre
signo e sintoma, entre semiologia e sintomatologia, entre estruturas ideológicas e práticas de
institucionalização de ciências médicas e sociais, temas profunda e criticamente estudados por Michel
Foucault em vários de seus livros, tais como Doença mental e psicologia (1975[1954]), O nascimento da
clínica (1977[1963]), As palavras e as coisas (1995[1966]), A arqueologia do saber (1987[1969]) e A
ordem do discurso (1995[1970]).
9

Se não podemos negar que o método clínico tem sofrido modificações desde os
meados do século XX, ele ainda impõe implicações e desafios aos neurolinguistas. A
título de exemplificação, podemos mencionar alguns deles:

 preservação da classificação tradicional das afasias e de outras patologias,


ancorada nas dicotomias já aludidas na seção anterior;
 relação ainda fortemente instrumental das Ciências Médicas e das
Neurociências com as teorias linguísticas;
 rigidez de estruturas diagnósticas, baseadas em modelos estritamente
biomédicos.

A agenda da Neurolinguística

Atualmente, os estudos sobre a afasia e mesmo sobre o contexto patológico não


correspondem à totalidade dos temas abarcados pela Neurolinguística. Resumidamente,
elencamos, abaixo, os principais temas que têm integrado a agenda da Neurolinguística
nos últimos anos (cf. MORATO, 2012a):

 estudo do processamento normal e patológico da linguagem, oral e escrita;


 estudo dos mecanismos cognitivos que constituem as habilidades linguísticas;
 estudo da repercussão dos estados patológicos no funcionamento da
linguagem;
 estudo e discussão da semiologia das afasias, da Doença de Alzheimer e de
outros contextos neuropsicolinguísticos;
 estudo das condições neurolinguísticas da surdez e do bilinguismo;
 estudo (neuro)linguístico e sociocognitivo do envelhecimento normal e
patológico;
 estudo da relação linguagem-cognição em contextos não necessariamente
patológicos;
 a questão do método: constituição do corpus, sistema de notação e tratamento
dos dados;
 discussão de aspectos éticos e jurídicos relacionados ao contexto da pesquisa
neurolinguística.
10

No tocante aos métodos empregados pela Neurolinguística, podemos pensar


também em clusters de influência. A área tem se servido de uma complexa e variada
metodologia, tanto quantitativa e experimental, quanto qualitativa e observacional:
estudo da linguagem e da comunicação após lesões cerebrais por meio de vários
recursos analíticos, como testes diagnósticos, observações pormenorizadas realizadas
em ambientes naturais, protocolos de estudo com foco em determinados processos e
modelos de ação e enquadres cognitivos, simulações computacionais e técnicas de
imageamento cerebral.
Nesse cenário, a análise linguística de dados obtidos no contexto patológico,
bem como o estudo sistemático da relação entre linguagem, cérebro e cognição em
diferentes contextos de produção permite diferentes e prolíferos movimentos teóricos:

 colabora com o entendimento dos processos normais de aquisição e


desenvolvimento da linguagem e da cognição;
 promove a construção de teorias “pontes” no interior da própria Linguística;
 atua na relação interdisciplinar entre a Linguística e outras áreas do
Conhecimento;
 contribui para o desenvolvimento teórico e prático de atividades clínico-
terapêuticas.

As arbitragens interdisciplinares e suas implicações metodológicas da


Neurolinguística

De maneira breve e esquemática, e levando em conta as influências que recebe


de relações interdisciplinares que mantém com outras áreas do Conhecimento, podemos
apontar certos aspectos teórico-metodológicos de algumas das tendências observadas no
campo da Neurolinguística.
A pesquisa de natureza clínico-terapêutica é, sem dúvida, a primeira tendência a
ser assinalada. Ligada ao próprio nascimento do campo e fundadora de sua prática
científica, ocupa parte expressiva da agenda da pesquisa neurolinguística, ainda bastante
inspirada no método clínico. Outras tendências que destacaremos no escopo deste
capítulo são de cunho psicolinguístico, de caráter predominantemente experimental, e
11

de cunho sociocognitivo, de caráter predominantemente observacional, cujos interesses


principais recaem no estudo da linguagem e da cognição em situações de uso e de
interação. Vejamos a primeira e mais forte tendência teórico-metodológica do campo, a
pesquisa clínica.

Abordagens biomédica e social na pesquisa clínica e nas práticas diagnósticas

A Neurolinguística em muito deriva dos estudos dedicados às afasias


(Afasiologia) desenvolvidos inicialmente por médicos, na segunda metade do século
XVIII. Apenas em meados do século XX, com os trabalhos de Roman Jakobson
(1954/1981), surgem as abordagens propriamente linguísticas das alterações de
produção e compreensão da linguagem decorrentes de lesões cerebrais adquiridas.
Herdeiro desse início marcado pela emergência e consolidação da prática clínica
(e do “olhar clínico”, nos termos de Foucault, 1977/1963), o modelo biomédico
normalmente investiga e diagnostica a afasia

por meio de exames de neuroimagem, consultas clínicas e


baterias específicas de testes-padrão.9 Por vezes, isso também é
feito com o concurso da observação rica e detalhada do
comportamento geral do paciente, bem como de entrevistas com
ele e seus familiares e próximos. (MORATO, 2010a, p.26-7)

Em um modelo biomédico, como afirma Cruz (2008), a questão diagnóstica


torna-se questão central por inúmeras razões, dentre as quais: i) necessidade social de
procedimentos avaliativos das competências humanas, de condutas profiláticas, de
intervenções clínico-terapêuticas, de levantamentos epidemiológicos, etc.; ii)
necessidade de estabelecimento de parâmetros e métodos considerados precisos de
diagnóstico diferencial e de determinação do grau de severidade das patologias

9
Vale lembrar, a propósito, que os testes diagnósticos clássicos utilizados na área de Neuropsicologia e
de Neurolinguística em geral dedicam-se a certos aspectos da linguagem, chamados metalinguísticos (tais
como nomeação, descrição ou repetição de palavras e frases), ancorados em uma forte tradição gramatical
baseada na palavra como unidade de análise. Em suma, são tarefas baseadas em formas
descontextualizadas e relacionadas a si mesmas (como a relação paradigmática entre palavras, o
processamento de proposições, a evocação de gestos articulatórios) e menos afeitas a situações de uso
cotidiano, pragmático e discursivo da linguagem. Curiosamente, os protocolos destinados à investigação
de estados mentais e ao diagnóstico de Doença de Alzheimer se servem de tarefas linguísticas que
integram os testes de diagnóstico e estudo das afasias, como o Teste de Boston (GOODGLASS e
KAPLAN, 1972), o de Anne-Lise Christensen (1974), o PALPA (KAY, LESSER e COLTHEART,
1992), o M1Alpha (NESPOLOUS, LECOURS et al., 1986), etc. Entre os que são comumente utilizados
na investigação e diagnóstico de estados mentais, mencionamos o Mini-Mental State/MNS (FOLSTEIN e
FOLSTEIN, 1975) e o Teste Cognitivo de Cambridge/CAMCOG (ROTH et al., 1986).
12

linguísticas e cognitivas; iii) uso de metodologias e critérios admitidos como válidos na


investigação científica e na constituição de diagnósticos; iv) estabelecimento de
bioindicadores de patologias cuja origem ainda está por ser conhecida ou confirmada; v)
identificação social dos profissionais que atuam na orientação da conduta preventiva,
indicação de medidas comunitárias e intervenção clínico-terapêutica.
Os temas predominantes do modelo biomédico relativamente à Doença de
Alzheimer, por exemplo, como ressalta Cruz (2008), estão voltados para os riscos,
prevenção e descoberta de biomarcadores, bem como para a identificação de
predisposições genéticas. Essa agenda, ressalta a autora, define a pertinência do que é
considerado como tema, corpus e dado na pesquisa biomédica.
No ponto em que estamos, poderíamos indagar: quais as consequências da
racionalização da prática diagnóstica em termos metodológicos, presente nas baterias de
teste-padrão e na correlação anátomo-clínica? O que fazer, por outro lado, quando esses
dispositivos metodológicos não são tomados como fonte exclusiva ou principal das
informações sobre patologia e normalidade?
Se levarmos em conta que nossos processos cognitivos foram se mostrando – já
em tempos em que sequer existia o tomógrafo - não redutíveis à intimidade do tecido
neural (cf. LURIA, 1949/1973), o não organicismo se encontra hoje entre as fortes
tendências no campo das Neurociências, assim como os estudos centrados no uso e nos
contextos variados de interação se confirmam como tendência importante no campo dos
estudos linguísticos.
No campo das Neurociências convivem métodos de investigação mais invasivos
da atividade cerebral, por meio de estudos eletrofisiológicos em pacientes com lesões e
técnicas de neuroimagem que atingem não apenas camadas superiores do córtex, mas
todo o cérebro (inclusive regiões mais profundas, como a região do hipocampo, o
sistema límbico e a área subcortical, como a região de tronco cerebral), e métodos
menos ou não invasivos, mais ou menos superficiais, que envolvem bioeletricidade e
mobilização hemodinâmica. Estes últimos, cumpre observar, nem sempre são
considerados dispositivos metodológicos confiáveis para correlações precisas entre
processos linguísticos e cerebrais, patológicos ou não.
Apesar dos formidáveis avanços no campo, os recursos biotecnológicos de que
dispomos ainda não explicam com precisão como o cérebro funciona e como interage
com processos simbólicos e é por eles influenciado e constituído. Tal situação chama
ainda mais a atenção para a relevância das análises observacionais e experimentais dos
13

processos linguísticos e cognitivos, que se constituem de fato na face teórica e empírica


mais perceptível da colaboração da Linguística com os estudos que envolvem
linguagem, cérebro e cognição.
Com relação à perspectiva não estruturalista no campo da Neurolinguística,
podemos mencionar os estudos que se pautam pela análise conversacional das práticas
de linguagem de indivíduos cérebro-lesados (ULATOWSKA et al. 2010; LESSER e
MILROY, 1993; FERGUNSON, 1996; DAMICO et al., 1999; KLIPPI, 2000;
SCHEGLOFF, 2003; LEIBING e COHEN, 2006; GOODWIN, 2003; CHAPMAN et
al., 1998, dentre muitos outros), bem como aqueles que, a partir de dados obtidos por
meio de protocolos de estudo ou observação de contextos naturais de produção e
compreensão de linguagem de indivíduos com afasia e com Doença de Alzheimer
procuram teorizar sobre processos patológicos e não patológicos de (re)estruturação e
funcionamento da linguagem e da cognição de uma forma geral.
Tanto uma, quanto outra linha de trabalho coloca em xeque a clássica definição
estruturalista de afasia enquanto alteração essencial da capacidade de realizar operações
metalinguísticas e de Doença de Alzheimer enquanto alteração essencialmente mental
(isto é, não linguística):

A tese de que as afasias e as demências afetam respectivamente


o linguístico e o cognitivo tomados como dimensões
dicotômicas (e não distintas) do conhecimento dificulta uma
compreensão abrangente do que se encontra preservado ou
alterado, e do que se reorganiza após o comprometimento
cerebral. (MORATO, 2012b, 184)

Estudos que vimos desenvolvendo no grupo de pesquisa “Cognição, Interação e


Significação” (COGITES)10 sobre interpretação e produção de metáforas e expressões
formulaicas (idiomatismos e provérbios) por indivíduos afásicos e com Doença de
Alzheimer demonstram que sua interpretação e uso têm mais a ver com o seu contexto
enunciativo, no qual comparecem sistemas inter-semióticos, enquadres sociocognitivos,
relevância contextual, etc., do que com o grau – maior ou menor – de metaforicidade.
(MORATO et al., 2012a, 2012b, 2010a). Estudos de processos neurofisiológicos da
figuratividade chamam a atenção para os limites e os alcances da correspondência (feita

10
http://cogites.iel.unicamp.br
14

por neuroimagem e eletrofisiologia, como os potenciais evocados relacionados a


eventos/ERPs) entre atividade cerebral e processos linguísticos complexos:

Coulson faz alusão a modelos de compreensão de metáfora


baseados em estudos de processamento cerebral que indicam
que a linguagem metafórica e a compreensão literal exibem um
curso similar em relação ao tempo gasto e recrutam um
conjunto também similar de geradores neurais (COULSON e
MATLOCK, 2001; GIBBS, 1994; GIORA, 1997;
GLUCKSBERG, 1998). Mais do que uma dicotomia, tais
estudos sugeririam um continuum entre o literal e o metafórico.
Outros autores interessados no processamento do elemento
metafórico, com base em tarefas que contrasta ERPs de
metáforas familiares e não familiares observaram que a
complexidade da tarefa teria a ver com a relevância do contexto
de produção da metáfora, independentemente da familiaridade
do indivíduo com ela (PYNTE et al, 1996). A eletrofisiologia,
por sua vez, não indicou haver diferença qualitativa na atividade
cerebral associada à compreensão da linguagem metafórica e
literal. Perspectivas teóricas que postulam um continuum ou
falam em acesso direto (GIBBS, 2002; GLUCKSBERG, 1998)
apontam uma inclinação relacional e pragmática no estudo da
relação cérebro-linguagem. Contudo, tais construtos não
chegam a formular um modelo específico sobre a atividade
cerebral da metáfora. De todo modo, os achados empíricos
apresentados são interessantes, como os que indicam que a
maior duração do tempo de processamento neurocognitivo de
metáforas não familiares se deve à integração do sentido
figurado com o contexto de produção, e não a uma evocação
obrigatória (e posterior rejeição) do sentido literal (GIBBS,
2002) (...).
Futuros estudos, sobretudo aqueles que não se realizam apenas
no ambiente experimental, que levem em conta unidades de
análise maiores do que a palavra (como textos e diálogos) e que
considerem os contextos de produção e a presença de semioses
coexistentes à significação, tal como a informação visual, por
exemplo, poderão incrementar o conhecimento sobre a
atividade cerebral envolvida em construções linguísticas
complexas. (MORATO, 2012b, p. 197-8)

Ao destacarmos nas pesquisas que temos desenvolvidos em torno de fenômenos


como metaforicidade, atividade referencial e inferencial, processos de ordem meta e
gestão de processos conversacionais, procuramos compreender um pouco melhor os
aspectos linguísticos e cognitivos que marcam não apenas a carência afásica ou
demencial, como também a forma de constituição de processos não patológicos de
significação e de comunicação. No limite, vias explicativas para ambos os contextos –
patológico e não patológico - acabam por superar os modelos meramente biomédicos,
15

baseados em biomarcadores não de todo definidos ou conclusivos e em métodos de


investigação linguística e cognitiva sumários, descontextualizados, quase caricaturais.
O enfoque na natureza sociocognitiva de fenômenos linguístico-interacionais por
meio da observação das operações realizadas pelos indivíduos em contextos de uso abre
possibilidades maiores de compreensão de seus enquadres cognitivos de interpretação e
produção de sentido, bem como da atividade cerebral concernida.
Como é possível supor, novos conhecimentos e metodologias têm questionado o
método clínico tradicional no terreno mesmo das preocupações médico-terapêuticas.
Modelos sociais de práticas diagnósticas têm sido reconhecidos no contexto de várias
áreas do Conhecimento (como a Psicologia, a Sociologia, a Medicina) e tem apontado
as consequências dos preconceitos e injunções sofridas por indivíduos com
comprometimento neuropsicológico/neurolinguístico. De fato, a preocupação recente
com a recepção social de patologias como as afasias e a Doença de Alzheimer, bem
como de realidades linguísticas não patológicas, como a surdez, revela o que muitos já
indicam como movimentos de mudança de paradigma, pelo menos no que toca o
enfrentamento social da questão cognitiva (GRAHAM, 2006).
A prática diagnóstica, dessa forma, diz respeito a todo o corpo social, e não
apenas ao médico, ao clínico ou às pesquisas biomédicas. Duchan e Kovarsky (2005), a
propósito, chamam a atenção para a concepção de diagnose enquanto prática cultural e
situada que se constitui como “um processo e um produto da interação social e do
discurso cotidiano” (DUCHAN e KOVARSKY, 2005, p. 01).
Surgindo como antagonista ou ao menos como complementar ao modelo
biomédico, o modelo social, amparado em metodologias observacionais, qualitativas e
heurísticas (por vezes, chamadas de “estudos de caso”), tem se preocupado com as
implicações ético-discursivas da recepção social dos diagnósticos e tem rejeitado
procedimentos supostamente objetivos do método clínico tradicional, como as baterias
de teste-padrão, em geral tomadas como fonte exclusiva de explicação sobre estados
neurolinguísticos patológicos ou sadios. Além disso, o modelo social procura salientar
em termos teóricos e metodológicos as discrepâncias encontradas entre o
“comportamento cotidiano” e o “comportamento neuropatológico” (LOCK, 2006) de
indivíduos cérebro-lesados, bem como enfatizar as vantagens da análise da “cognição-
em-interação” para o entendimento de processos (normais ou patológicos) do
funcionamento cerebral.
16

A partir de uma perspectiva sociologicamente interessada da prática diagnóstica,


a determinação da Doença de Alzheimer, por exemplo, poderia ser ampliada com
relação aos temas predominantes da pesquisa clínica, chamando a atenção para: i) as
implicações éticas e psicossociais da precocidade e do caráter probabilístico do
diagnóstico da Doença de Alzheimer; ii) os termos da distinção entre envelhecimento
normal e senilidade; iii) as implicações de diversas ordens do metadiscurso científico
veiculado na sociedade em torno da Doença de Alzheimer e outros processes
neurodegenerativos (LYMAN, 1989; BALLENGER, 2006; BERRIOS, 1990;
HOLSTEIN, 1997; BEACH, 1987; CRUZ, 2008; DIAS, 2012).
Entre os motivos das rejeições ao modelo social se encontra, além de questões
metodológicas pontuais, a falta de um discurso mais consistente que possa substituir
uma posição “anti-biologista tout court” difícil de ser sustentada hoje em dia, em
função do avanço das Neurociências e também de perspectivas teóricas que partem da
integração constitutiva entre corpo e mente (VARELA, THOMPSON E ROSCH, 1991;
LAKOFF E JOHNSON, 1999; TOMASELLO, 1999/2003; GALLESE e LAKOFF,
2005, dentre outros).
Em relação ao que se discute nesta seção, parece-nos que está ainda por ser
construída uma ponte conceitual e metodológica entre o modelo biomédico e o social:

Ainda que notemos uma quase hegemonia do modelo


biomédico em nosso meio (clínico), podemos perceber que na
prática um modelo híbrido já é construído socialmente, ainda
que forma pouco prescritiva, inscrevendo-se seja nas consultas
médicas e no ensino médico, seja no metadiscurso científico,
sobretudo os de cunho interdisciplinar. (DIAS, 2012, p.85)

Abordagens psiconeurolinguísticas

Vimos, na seção anterior, alguns aspectos da influência do modelo clínico


tradicional na pesquisa neurolinguística, ao qual se associam o estruturalismo e o
formalismo linguístico (cf. AHLSÉN, 2006).
Tanto as técnicas de neuroimagem, quanto os protocolos de estudo, observação
de contextos variados de produção e compreensão da linguagem e simulação
computacional da atividade cognitiva têm constituído recursos metodológicos desse
empreendimento teórico mais tradicional do campo de estudos neurolinguísticos.
17

O princípio metodológico dominante da tendência clínica tradicional é a


documentação e a avaliação da condição patológica (perda ou alteração da linguagem e
da cognição, por exemplo), o levantamento semiológico das patologias para efeitos de
classificação dos quadros nosológicos, a correlação anátomo-clínica obtida pela
comparação dos resultados de neuroimagem, demonstração da simulação computacional
e interpretação neurolinguística dos dados linguísticos derivados da aplicação de testes
diagnósticos e protocolos experimentais.
A revisão ou a revitalização dessa abordagem, por meio de abordagens
funcionalistas da arquitetura cerebral, acentua a interface da Neurolinguística com as
Neurociências, as Ciências Cognitivas (em especial, com o conexionismo) e a
Linguística (em especial, com perspectivas cognitivas, computacionais e
comunicacionais). Tais influências têm impacto no modelo biomédico tradicional e
apontam para a necessidade de sua expansão, modificação ou superação.
Tomemos, a título de exemplificação das circunstâncias desse movimento
teórico-metodológico, um dos temas da agenda da Neurolinguística e das
Neurociências.
Entre as indagações postas por diferentes tendências da pesquisa
neurolinguística e neuropsicológica está a que se volta para a atuação de ambos os
hemisférios cerebrais no tratamento da informação e dos processos textuais da fala e da
escrita, na gestão da comunicação, na compreensão e produção do discurso, na
figuratividade, nas regras pragmáticas que presidem e orientam a utilização da
linguagem e os comportamentos humanos, no processamento de inferências de diversas
naturezas, na manipulação de diferentes contextos de ação, nos enquadres cognitivos
estabelecidos pelos indivíduos a fim de tornar possível a compreensão dos objetos e
estados de coisas do/no mundo.
Ainda que já possamos compreender vários aspectos da relação entre o
hemisfério cerebral direito (HD) e o esquerdo (HE) e seu papel na estrutura e no
funcionamento da linguagem, as pesquisas sobre imagem cerebral e eletrofisiologia
ainda investigam a identificação da responsabilidade de ambos no tratamento do
discurso, especialmente em função da complexidade de fenômenos que demandam
praticamente todos os sistemas cognitivos e a ação coordenada de várias regiões
cerebrais (portanto, de ambos os hemisférios, que dificilmente podem ser tomados como
isolados e em relação de dicotomia).
18

Se há quem defenda a hipótese de processamento cerebral específico ou


especializado para componentes isolados do sistema linguístico (fonético, fonológico,
morfológico, sintático, semântico), o mesmo não se pode afirmar com relação a
construções linguístico-cognitivas complexas, tomadas em situações de uso. Com isso,
evidências que possam correlacionar de maneira direta e precisa, por meio de técnicas
de neuroimagem (tal como a ressonância magnética funcional/fMRI ou a tomografia por
emissão de pósitron/PET) processamento cerebral e construções linguísticas e cognitivas
complexas (como a ironia, a metaforicidade, a construção gramatical, a produção e
compreensão de inferência) ainda parecem estar no horizonte da Neurolinguística.
Entre os achados teóricos obtidos pelas abordagens funcionalistas está a
rediscussão da velha tese da dominância hemisférica para o processamento da
linguagem e de outros processos cognitivos, ora enfraquecida (MORATO, 2012b)11.
Também as evidências empíricas da plasticidade cerebral (GARDNER, 1985) e da
teoria da mente (TOMASELLO, 1999/2003) ajudam a colocar uma pá de cal na velha
tese do localizacionismo.
Seja pela atenção dada à participação integrada dos hemisférios cerebrais no
processamento do discurso, da aquisição de segunda língua e da figuratividade, seja pela
atenção dada às relações entre conceptualização e experiência sociocultural, os estudos
psiconeurolinguísticos têm implicado significativos avanços na compreensão de
processos linguístico-cognitivos.
Estudos comparativos entre indivíduos com e sem comprometimento
neurológico são também outro desafio do campo, e podemos afirmar que estamos ainda
no início desse tipo de empreendimento teórico-metodológico. Muitos são os desafios
que se colocam: estabelecimento de critérios teóricos e metodológicos de seleção das
tarefas linguísticas utilizadas no estudo ou no experimento, problemas de várias ordens
derivados da tradução de testes e experimentos criados originalmente em outra língua,
decisões relativas à constituição do corpus da pesquisa e dos “dados diagnósticos”,

11
Entre os autores que defendem uma forte distinção entre o hemisfério cerebral direito (HD) e o
esquerdo (HE) podemos mencionar Springer e Deutsch (1998) e Bradshaw e Nettleton (1983). Para eles,
o HE, associado ao saber linguístico e racional, é responsável pela organização estrutural da linguagem,
enquanto o HD, associado ao saber pragmático e emocional, é responsável pelo seu caráter funcional.
Outros autores, contudo, questionam a forte distinção entre os dois hemisférios ou chamam a atenção para
a participação qualificada do HD no processamento da linguagem (St. George et al., 1999; Robertson et
al., 2000; Beeman, Bowden e Gernsbacher, 2000; Rinaldi et al., 2002; Winner e Gardner, 1977).
19

consideração de variáveis sociolinguísticas e dos quadros neuropsicológicos


apresentados pelos sujeitos, consideração dos diferentes graus de severidade dos
quadros nosológicos, documentação clínica fornecida ou disponível para a comprovação
de diagnósticos, estabelecimento de critérios de visibilidade e tratamento dos dados
obtidos (sistemas de transcrição), forma de apresentação do estudo ou da testagem aos
sujeitos da pesquisa, etc.
A influência mais recente da pragmática linguística, bem como dos estudos do
processamento textual e da atividade discursiva tem dinamizado não apenas o
framework mais tradicional da Neurolinguística, voltado para metodologias de cunho
experimental e pautado preferencialmente pelo contexto patológico, mas também a
agenda voltada para o processamento da linguagem e da cognição em contextos
aquisicionais (em especial, a aquisição e desenvolvimento de segunda língua) e pelo
interesse crescente por contextos não patológicos (como o estudo do envelhecimento,
dos contextos de ensino e aprendizagem da língua de sinais, por exemplo).
À pergunta “como investigar as relações entre cérebro e linguagem?”, as
tendências afiliadas às linguísticas da significação (em contraposição às “linguísticas do
significante”, cf. MARCUSCHI e SALOMÃO, 2004, p.24-25) têm respondido de forma
variada. Certamente, as influências das Neurociências e da Linguística acima
mencionadas se deixam ver também aqui, mas se diferenciam substancialmente em
termos da inflexão teórica, de cunho mais funcionalista, interacional e sociocognitivo.
O desenvolvimento das Neurociências e da Linguística observado nos estudos
sobre a dimensão multimodal da comunicação humana, a produção e a compreensão da
linguagem em uso, a coexistência de semioses nos processos interativos, bem como no
interesse mais recente por processos implicados na figuratividade, nas atividades
inferenciais, na construção e organização de enquadres cognitivos (como frames,
modelos cognitivos, etc.) e na construção discursiva da referência procura colocar em
outras bases o velho problema linguagem-mente. A análise da corporeidade e da
conceptualização, por exemplo, levada a cabo pelos estudos sociocognitivos da
metáfora e da figuratividade, procura superar as dicotomias clássicas ainda presentes no
campo, como a que envolve mente e corpo (MORATO, 212b).
Podemos, no ponto em que estamos, levantar alguns desafios colocados para as
abordagens de caráter mais interacionista da pesquisa neurolinguística:
20

 desenvolvimento de estudos mais sistemáticos e constituição de corpora


envolvendo linguagem e cognição em uso, em contexto, em interação;
 aprofundamento da preocupação com a visibilidade dos dados, algo
importante para as teorias que imbricam atos linguísticos, cognitivos e sociais;
 desenvolvimento da investigação neurolinguística acerca da estrutura e do
funcionamento da atividade cerebral em circunstâncias e contextos naturais de uso.
 desenvolvimento de biotecnologias que investiguem a relação entre
linguagem e cérebro em uso de modo não redutível a um comportamentalismo vulgar 12;
 aprofundamento da articulação entre métodos qualitativos e quantitativos de
pesquisa, de modo a enfrentar melhor, entre outras coisas, os riscos do relativismo e as
vicissitudes de um e de outro, como o tempo dispensado à coleta ou à transcrição dos
dados e a “homogeneização dos sujeitos” (MORATO, 2012b).

A contribuição dos pressupostos e métodos da Linguística pós-estruturalista

Ao expandir seus interesses para além da Afasiologia e se constituir no campo


de estudos que hoje reconhecemos como Neurolinguística, muitas foram as arbitragens
desenvolvidas por este domínio híbrido interessado nas relações entre linguagem,
cérebro e cognição.
Um dos desafios da Neurolinguística tem sido levar em conta o arcabouço
teórico-metodológico da ciência da linguagem. Nesse sentido é que a área tem
expandido seus interesses para além da descrição de processos gramaticais (prosódicos,
fonológicos, morfológicos, semânticos, sintáticos), isto é, os relativos ao sistema:

Na área da Pragmática e da Análise da Conversação, a


Neurolinguística procura sustentação para o estudo da
estruturação e da gestão da interação, bem como da
competência linguística e comunicativa dos falantes; para o
reconhecimento e da manipulação das chamadas “leis
conversacionais” e das intenções dos interactantes; para o

12
A respeito dessas iniciativas, ver, a propósito, Gallese e Lakoff (2005), que discutem o papel do sistema
sensório-motor no conhecimento conceptual, com base nos achados das Neurociências; ver, ainda, uma
discussão de Coulson (2007) a respeito de resultados obtidos por método de investigação cerebral não
invasiva, em especial, potenciais evocados, na investigação da atividade cerebral implicada no
processamento de construções complexas (como ironia, compreensão de chistes, frames, etc.). Ver,
também, estudos de orientação experiencialista, tais como os da Gramática de Construções Corporificada
(Bergen e Chang, 2005) e os da Teoria Neural da Linguagem (Feldman, 2006).
21

reconhecimento e da manipulação de normas pragmáticas que


orientam o uso social da linguagem, bem como a produção e a
interpretação de inferências e dos vários atos de fala presentes
na comunicação.
Do mesmo modo, é a preocupação com a estrutura e o
funcionamento da linguagem que leva a Neurolinguística à
Linguística Textual e aos estudos da textualização e da
referenciação (Koch, 20022004; Marcuschi, 2007, 2008;
Cavalcante et al., 2005; Koch, Morato e Bentes, 2005), das
relações formais e discursivas entre fala e escrita (Marcuschi,
2001) dos diferentes aspectos do contexto que emolduram a
significação linguística (Koch, 2002; Van Dijk, 2008; Hanks,
2008) e da constituição dinâmica dos gêneros textuais orais e
escritos (Hanks, 2008; Marcuschi, 2008; Koch e Elias, 2006;
Bentes e Rezende, 2008).
A Neurolinguística articula-se com as teorias sociolinguísticas
e discursivas para estudar a categorização social dos falantes, a
constituição de comunidades de fala, os enquadramentos ou
frames interacionais, a dinâmica de papéis enunciativos nas
práticas com e sobre a linguagem, as marcas de subjetividade
exibidas de forma explícita ou implícita pelos falantes, a
emergência de pressupostos culturais que constituem a rede de
significações observada em contextos enunciativos.
Se as contribuições da Linguística de Corpus referem-se à
importância dos critérios utilizados na constituição do corpus e
sua visibilidade teórica e metodológica, o diálogo com a
Psicolinguística aprofunda, por seu turno, o interesse já
tradicional da Neurolinguística pela aquisição e processamento
da linguagem.
Com a Linguística Cognitiva a Neurolinguística mantém
relações que se pautam, sobretudo, pela investigação de
processos semântico-pragmáticos e de aspectos figurativos ou
metafóricos da linguagem e de todo tipo de construção
linguístico-conceptual complexa (ironias, inferências,
provérbios, construções gramaticais, frames etc.), bem como de
semioses verbais e não verbais co-ocorrentes nos atos de
comunicação (Salomão, 1999). (MORATO, 2012a, p. 190-191)

Todas essas interfaces, que certamente não totalizam as interações da


Neurolinguística com a ciência da linguagem, estão comprometidas com os
empreendimentos analíticos ou metodológicos que são próprios às distintas áreas da
Linguística.
Nesse cenário, tais áreas ou domínios da Linguística, envolvidos de algum modo
com a “problemática cognitiva”, podem ser considerados linguísticas cognitivas no
mesmo sentido que o de certos domínios das Ciências Cognitivas que se reuniram a
partir de anos 1970 em torno de um compromisso (sócio)cognitivista que se firmaria
como a tentativa de observar a linguagem como situada e essencialmente ligada à
22

atividade humana e seus esquemas, enquadres ou regimes de ação, como lembram


Lakoff e Johnson (1999).

Considerações finais: desafios e perspectivas para a Neurolinguística

Sendo o problema corpo-mente um tema que tem exigido uma arbitragem


interdisciplinar, não é à toa que as disciplinas que se interessam pela problemática
cognitiva têm se constituído como um verdadeiro mosaico de inteligibilidade frente a
essa questão, ainda que mais recentemente uma agenda de questões teóricas e
metodológicas esteja de alguma forma ordenando o campo.
A ordenação de um campo interdisciplinar leva em conta, a um só tempo,
questões comuns e questões particulares de vários domínios do Conhecimento. Para o
interesse da Neurolinguística, podemos mencionar, dentre outras, a centralidade da
linguagem, o foco na dimensão multimodal da significação e da comunicação, o papel
epistemológico reservado à interação, a integração de sistemas cognitivos. No plano
analítico, esse panorama chama a atenção para uma articulação de métodos (qualitativos
e quantitativos, observacionais e experimentais, etc.) de investigação.
Dentre as questões que ainda merecem ser tratadas pelo campo, mencionamos as
que nos parecem desafiadoras para as disciplinas científicas voltadas à problemática
cognitiva, como a Neurolinguística e a Linguística Cognitiva (cf. SALOMÃO, 2010):

 a natureza da categorização e de nossas estruturas conceituais, bem como do


papel da experiência na construção conceitual;
 uma melhor compreensão das interações existentes entre o sistema linguístico
e outros sistemas cognitivos, bem como das estruturas neuronais e processos que
subjazem à linguagem;
 a constituição da cognição social;
 a sustentação empírica de uma concepção funcionalista e dinâmica de
cérebro, cuja plasticidade está baseada não apenas em mecanismos anátomo-fisiológicos
ou sensoriomotores, mas em processos de natureza sociocognitiva.

Uma última palavra poderia ser dedicada ao aludido compromisso


interdisciplinar dos estudos neurolinguísticos.
23

Se a interdisciplinaridade em Neurolinguística ou em Neurociências tem sido


vista como uma espécie de “mal necessário”, ela não deixa, por outro lado, de constituir
um domínio empírico que representa um modo peculiar de apreensão da linguagem e da
cognição. O maior investimento teórico e metodológico que a Neurolinguística tem
feito nos últimos tempos tem sido precisamente aquele que merece ser por ela
aprofundado: reconciliar linguagem, cérebro e cognição com processos que lhes são
afeitos, dentre eles, a interação humana.

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