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Resenha 2

Gabriela Rodrigues Botelho

Artigo: Interculturalidade, idendade e decolonialidade: desafios políticos e


educacionais (R. M. Fleuri)

Interculturalidade: conceito em debate

O autor inicia o artigo explicando que tanto multiculturalismo quanto interculturalidade são
conceitos em disputa e que por isso surgem inúmeras variações conceituais desses termos.
Essa variação dificulta o trabalho na escola e na criação de políticas públicas, pois pode
acontecer de se usar um termo, mas não haver uma aplicação condizente com seu conceito ou
sua proposta de aplicação não especificar a vertente que o mesmo abrange (como
interculturalidade crítica, funciona, relaciona/ multiculturalismo liberal, liberal de esquerda e
etc.). Por outro lado, essa dificuldade demonstra o quanto é complexo abarcar a diversidade
sem apagar as diferenças e o quanto esse trabalho necessita certas especificidades de acordo
com o contexto.

Interculturalidade: o desafio da colonialidade

O autor explica que a coloniadade são resquícios do colonialismo e que são definidas quatro
esferas nas quais essa estrutura se fundamenta: a colonialidade do poder que se relaciona a
diferença racial; a colonialidade do saber que legitima apenas conhecimentos eurocentrados e
desqualifica outras formas de saber; a colonialidade do ser que subalterniza os sujeitos
colonizados; e a colonialidade da natureza que nega a relação humano-natureza, separando
essa forma de contato, bem como a relação humano-espiritualidade. Assim, o autor defende
que a interculturalidade crítica, com base em Walsh, é uma forma de reconhecer o outro e
dialogar no sentido de desmontar tais estruturas de poder.

Interculturalidade e justiça: o Estado-Nação em cheque


De acordo com o autor, o Estado passa a estar em cheque pois para fazer justiça e romper com
a colonialidade engendrada em suas estruturas é preciso repensar suas bases desde aspectos
jurídicos e de direitos em relação aos povos originários até o reconhecimento destes como
pensadores do espaço no qual vivem a ponto de terem seus próprios conceitos e regras de vida
para entender e manter sua existência e da existência da natureza.
Nesse sentido é preciso também, assumir que o Estado sempre teve uma política injusta com
estes povos e que para romper com esse modelo político implica reconhecer a
multiculturalidade do Estado, bem como, a gestão do mesmo a partir de diversas realidades.
Isso faz repensar as leis, a educação, o trato com o meio ambiente, as línguas faladas e
ensinadas no país, as epistemologias que embasam os estudos para políticas públicas e em
diversos âmbitos, o trato não subalternizado com o outro, a ideia de patrimônio, cultura e
identidade além de interesses e políticas econômicas entre outros aspectos.

Interculturalidade e políticas educacionais indígenas

O autor explica que a interculturalidade no contexto indígena se refere ao reconhecimento da


cultura e conhecimentos indígena e não a sobreposição da cultura e conhecimentos ocidentais
como foi feito durante muito tempo. Devido a essa educação colonizadoras muitos indígenas
não reconhecem sua própria identidade o que dificulta o trabalho intercultural, porém a
proposta é valorizar o que se mantém de cultura e saberes tradicionais e ensinar o que a
cultura ocidental tem a oferecer de modo que essas pessoas não se sintam estrangeiros em
suas próprias terras.

Interculturalidade: reconsiderar as identidades “indígenas”

Fleuri aponta para a necessidade do Estado e da sociedade reverem o imaginário criado sobre
os povos indígenas e entender que eles são sujeitos de sua própria história. A partir desse
entendimento será possível pensar de fato em interação cultural, diálogo ou troca de culturas.

Interculturalidade e decolonialidade na prática educativa

Para o autor a interculturalidade e a decolonialidade se fazem ao percebemos o que há de


colonial em nossa prática profissional e ao ouvirmos o outro, sabendo que não temos todas as
respostas e que a percepção desse outro e relação a essa nova cultura com a qual está tendo
contato pode ser um caminho para entendê-lo e para de fato construir uma relação igualitária.

Educação intercultural: decolonializar o poder e o saber

Com base nas ideias expostas e a partir dos exemplos citados em diversos contexto da
América Latina e do Brasil, é possível compreender que para Fleuri não basta simplesmente
reconhecer a diversidade, é preciso que os pensamentos diversos juntos construam novas
bases que não tenham a matriz colonial como estrutura.

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