Pesquisa e projeto de

pesquisa
Guilherme Grané Diniz
Conclusão (da aula anterior)
• De maneira geral, apesar de haver objeções relevantes, podemos concluir que o Direito é um
saber científico cujas conclusões são limitadas pela validade da lei.
• Os métodos do estudo jurídico podem ser divididos e organizados em torno dessa questão:
métodos mais propriamente jurídicos (dogmáticas) ou diretamente interdisciplinares (zetéticas).
• Isso não significa que o estudo das disciplinas zetéticas não precise passar pela reflexão sobre a lei nem que o
estudo das disciplinas dogmáticas não precise de interdisciplinaridade.
• Ao tratarmos de um tema, podemos pensar em abordagens em uma ou outra via:
• Uma determinada conduta é justa ou é lícita;
• Como um instituto é socialmente praticado ou como ele deve ser corretamente interpretado;
• Como opera uma determinada instituição ou como ela é definida e concebida legalmente.
• Igualmente, podemos pensar em um trabalho que atinja um dos três graus de profundidade:
• Proponha-se a interpretar um ou outro trecho da lei ou de outra fonte do Direito;
• Busque, a partir dessa interpretação, construir um ou mais conceitos jurídicos;
• Busque sistematizar conceitos ou mesmo toda uma área do saber jurídico.
• Antes de entrarmos nos detalhes das metodologias possíveis, vamos tratar de alguns elementos
básicos e preliminares da pesquisa.
Introdução
• Do que observamos até este ponto do curso, método é o percurso através
do qual pretendemos chegar a conhecimentos novos com algum grau de
certeza, mesmo que não absoluta.
• Pensando essa ideia de método como percurso, todo método envolve um
planejamento prévio.
• De um ponto de vista prático, muitas pesquisas não têm bons resultados pois lhes
falta um planejamento anterior adequado.
• Esse planejamento prévio é o que chamamos de “projeto de pesquisa”.
• Toda pesquisa necessariamente se inicia pela construção cuidadosa de um projeto.
• O projeto não precisa ser necessariamente seguido à risca, mas ele nos dará uma
guia inicial sobre como proceder à pesquisa.
Projeto de pesquisa
• O projeto de pesquisa é um documento no qual são planejados de
antemão diversos elementos materiais e formais da pesquisa a se
realizar.
• Como gênero da escrita acadêmica, o projeto de pesquisa é composto
de uma série de elementos bem definidos.
• Cada instituição define elementos específicos ou denomina de maneiras
diferentes as partes. No entanto, de maneira geral, ele sempre será composto
de alguns elementos típicos.
• Em diversas instâncias da vida acadêmica, o projeto de pesquisa será
fator seletivo.
• Dominar a forma do projeto de pesquisa será relevante tanto para o
desenvolvimento da pesquisa quanto para essas instâncias seletivas.
Problemática
• Uma pesquisa só é feita devido à percepção da necessidade de se tratar de certos temas e
questões.
• A pesquisa se insere em uma comunidade científica, na qual existem temas e questões controversos, a serem
resolvidos.
• É neste trecho da problemática que entra a escolha do nosso objeto de pesquisa.
• O objeto não é a mesma coisa que um tema. Essa distinção é muito importante na pesquisa jurídica. P. ex.:
• Tema: Direito de família;
• Objeto/problemática: o Direito de família brasileiro comporta indenização por abandono afetivo?
• É um erro comum que a pesquisa se proponha a explorar de maneira genérica um tema. Isso é objeto da
escrita de manuais e compêndios, não de monografias.
• Também é preciso distinguir problemática de problema:
• Problema: O sistema judiciário brasileiro está sobrecarregado;
• Objeto/problemática: O sistema recursal do processo civil brasileiro propicia uma sobrecarga do sistema judiciário?
• Um problema é uma questão concreta da realidade que demanda solução. A problemática é uma questão
teórico-conceitual, que precisa ser respondida e elucidada.
• Na construção da problemática, não basta enuncia-la. É preciso mostrar exatamente em que
sentido que o objeto que será explorado é tema de controvérsias acadêmicas na área de estudos.
Objetivos
• Por regra, em uma pesquisa em humanidades o objetivo será comprovar as hipóteses referentes à
problemática levantada.
• O objetivo está para a problemática como a resposta para a pergunta.
• Assim como a problemática não é um problema, o objetivo não precisa ser uma solução.
• As respostas às quais a pesquisa pode chegar podem ser negativas, aporéticas ou até mesmo uma reformulação do problema inicial.
• A hipótese é provisória. A pesquisa não precisa necessariamente comprová-la, e ela pode ser modificada ao longo do processo.
• Eventualmente, os objetivos podem ser também mais diretos e práticos, como:
• Concepção de um projeto de lei;
• Proposta ou efetivação de uma ação social ou política pública;
• Patenteação de uma ideia, etc.
• Sobretudo em pesquisas mais extensas, como de mestrado ou doutorado, é comum que haja mais de um
objetivo.
• O objetivo primário ou direto é a construção da resposta à problemática;
• Objetivos secundários podem estar ligados à implementação de aspectos práticos dessa resposta, divulgação científica,
análise de questões acessórias, etc.
• Novamente, não basta enunciar qual nossa hipótese de trabalho. É preciso mostrar porque entendemos que
ela é viável e coerente com o estado atual da questão.
Justificativa
• Toda pesquisa, mesmo quando não financiada, consome recursos. Nesse
sentido, é preciso justificar sua relevância.
• A justificativa é a passagem do projeto de pesquisa na qual consideramos
os impactos teóricos e práticos (se houver) da resolução da problemática
proposta.
• Precisamos mostrar que:
• A problemática levantada é relevante em nosso campo disciplinar, precisando ser discutida ou
rediscutida;
• A abordagem proposta será capaz de evidenciar aspectos novos da questão, ou responder a
problemas que ainda estão em aberto.
• A justificativa será especialmente relevante quando a pesquisa envolver o
aporte de recursos públicos.
Fundamentação teórico-metodológica
• Até este ponto, o projeto de pesquisa visou delimitar aspectos materiais da
pesquisa. Os próximos pontos visam pensar aspectos formais.
• A fundamentação teórico-metodológica é o ponto no qual efetivamente
proporemos qual o método a ser adotado, identificando o procedimento
geral e suas várias etapas.
• Ainda trataremos em detalhes sobre as várias opções metodológicas mais específicas
que podemos realizar para a consecução do trabalho.
• Todo método está fundamentado em um certo quadro teórico.
• Antes de se decidir por um método específico, é preciso pensar qual a concepção de
pesquisa que se está mobilizando.
• Nem toda abordagem teórico-metodológica é adequada para todo objeto. É preciso
pensar a escolha do método em função da problemática e dos objetivos a se
resolver.
Cronograma
• O cronograma da pesquisa é um elemento ao qual por vezes se dá pouca
atenção, mas que é, na verdade, um dos mais importantes.
• Tendo definido os vários passos da pesquisa na etapa anterior do projeto, é
no cronograma que disporemos a consecução desses passos no tempo.
• Um cronograma bem elaborado, que distribua de maneira razoável as etapas da
pesquisa ao longo do ano, facilitará muito o sucesso final do trabalho.
• Em um bom cronograma é preciso que haja margem para atrasos e desvios, bem como que se
leve em consideração outras atividades que estão simultaneamente acontecendo durante o
período.
• Um cronograma mal elaborado ou com execução muito falha leva a um processo
difícil na pesquisa.
• Sobretudo, o mais importante é começar a organização do trabalho de
pesquisa com antecedência e mantê-lo com regularidade, de maneira a
evitar que haja concentração das atividades em poucos momentos.
Avaliação N1
• Proponha os seguintes elementos de uma possível pesquisa:
• Título;
• Objeto/problemática (com uma breve explicação de em que consiste a questão
analisada e do porquê esse objeto ser uma problemática relevante);
• Objetivos (com uma breve descrição da hipótese de pesquisa e por que ela parece
plausível);
• Em havendo tempo, já começar a pensar na justificativa e na bibliografia.
• Observações importantes:
• Entrega no e-mail guilhermegranediniz@gmail.com até dia 12/04;
• Colocar nome no trabalho;
• Assunto do e-mail deve ser: Avaliação N1 – Metodologia da Pesquisa Jurídica – Nome
do aluno;
• Incluir bibliografia das obras citadas no trabalho (não precisa trazer bibliografia
prospectiva).
Referências
• BITTAR, Eduardo. Metodologia da Pesquisa Jurídica. São Paulo:
Saraiva. 2019.
• ECO, Umberto. Como se faz uma Tese. São Paulo: Perspectiva. 2008.
• QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo; FEFERBAUM, Marina (coords.).
Metodologia da Pesquisa em Direito. São Paulo: Saraiva. 2019.