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Revolta da Maria da Fonte

A revolta da Maria da Fonte foi muito mais do que um simples episódio local. Para além da
sua história significativa para o país, ficou também marcada por ser a primeira revolta
feminina da nossa história. “Maria da Fonte” é um fenômeno plural, pois até aos dias de
hoje, mesmo tendo alguns nomes em maior destaque, não temos uma confirmação de
quem realmente foi a Maria da Fonte. Por isso, este é um nome simbólico a todas as Marias
que, da pequena aldeia de Fontarcada, fizeram ecoar o seu grito por todo o país, mesmo que
inicialmente essa não tivesse sido a sua intenção.
A Póvoa de Lanhoso, a partir da segunda metade do século XIX, sofreu alterações que
marcaram todo o país na transição entre o antigo regime e o liberalismo, como foi o caso de
um enorme conjunto de reformas que foram promovidas no seguimento da implantação do
mesmo. A questão da soberania popular e a alteração no surgimento de novos cargos
políticos, sobretudo a nível da administração, fizeram com que passassem a existir
autoridades de eleição popular e de representantes da administração central, que eram
nomeados para as localidades. Em 1842 é nomeado o administrador do concelho, José
Joaquim Ferreira de Melo e Andrade, um senhor com ideias cabralistas, que acabou por
marcar toda a história da Póvoa de Lanhoso, e que assim permaneceu no cargo até ao
período da revolta da maria da fonte, onde este acaba por ser demitido.
As primeiras movimentações da revolta surgiram em abril de 1846, onde começou por
existir uma reação a algumas leis. Era o caso da lei das estradas, que consistia na
obrigação dos camponeses trabalharem gratuitamente para o estado por quatro dias por
ano, na abertura e arranjo de caminhos, e as lei da saúde que, segundo a mesma, estava
estritamente proibida a continuação dos enterramentos dos defuntos no interior das igrejas,
obrigando assim a que os mortos fossem sepultados fora das mesmas (apontando para a
criação de cemitérios).
Com isto, e entre outros problemas, são impostos novos impostos, e claramente as
mulheres da Póvoa de Lanhoso revoltam-se contra todo este conjunto de mudanças, mas
sobretudo contra a figura do administrador do concelho, tendo como principal pretexto a lei
da saúde. Estas, enterraram então uma amiga (defunta) no interior do templo de
Fontarcada, contrariando todas as autoridades e dando início a uma revolução marcada
para toda a nossa história. Claro está que, no meio de todo o acontecimento, algumas
mulheres ficaram presas na antiga prisão da PVL, mas não por muito tempo, pois as
restantes mulheres revoltosas conseguiram “planear” um assalto e libertaram-nas.
Este movimento acabou por transmitir uma mensagem para o exterior, ao ponto de, mesmo
tendo terminado a revolta na região, esta continuou e alastrou-se, não só por concelhos
próximos, como também por todo o país. De norte a sul, apenas se deu definitivamente por
encerrada, com o afastamento de Costa Cabral da governação.
Após isso, Portugal guardou na Maria da Fonte um enorme símbolo, tanto a nível da
literatura, das artes e da música, como pela luta pela justiça em Portugal. Maria da Fonte
ficará para a história como uma heroína, mas sobretudo como um grupo de mulheres que
tiveram a ousadia de se revoltar contra as autoridades e o poder instituído, fazendo assim a
diferença.

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