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TICs aplicadas à governança pública.

Luciane Bizzi

Em uma civilização globalizada e modernizada como a que vivemos atualmente,


a incorporação dos recursos tecnológicos ao cotidiano é uma constante que impacta
substancialmente nas atividades humanas. Nesse contexto, as novas tecnologias e, mais
especificamente as da informação e da comunicação (TICs), contribuem para a
disseminação maciça e rápida de dados, notícias e fatos, promovendo esclarecimentos,
interconectividade e gerando conhecimento.
Diante dessa imponente expansão das tecnologias e das consequentes
modificações sociais, percebe-se que a apropriação da informação adquire suma
relevância, atuando como mola propulsora do exercício da reflexão e posicionamento
críticos por parte dos cidadãos. No contexto organizacional, vê-se despontar novos
paradigmas, que sinalizam para redimensionamentos na forma das organizações
sistematizarem e compartilharem informações com seus stakeholders (públicos de
interesse).
Nas instituições públicas brasileiras, a busca por uma maior eficiência nas
práticas e procedimentos que revertam em provimento eficiente das demandas da
população compreende a preocupação com os processos comunicacionais e com a
garantia de transparência dos atos da “máquina pública”. As repadronizações impostas
pela necessidade de novos modelos de administração pública no que diz respeito ao
reaparelhamento do Estado e no repensar o seu papel perante a sociedade civil intentam,
assim, construir bases para a consolidação dos instrumentos de participação popular na
tomada de decisões e, principalmente, dos mecanismos regulatórios de auditoria em
ações que envolvam recursos públicos.
Consoante a essa perspectiva de modernização tecnológica, os órgãos públicos
têm demonstrado iniciativas quanto ao aperfeiçoamento dos processos informatizados,
implementado desde sites bem estruturados, com todos os conteúdos sobre a
composição, a função, os programas e os gastos de ministérios e secretarias, por
exemplo, até portais de ouvidoria virtual. Além disso, há que se destacar o fato de
disponibilizarem o acesso, na modalidade online, a serviços públicos que antes eram
somente presenciais, como por exemplo: o preenchimento do formulário da declaração
de imposto de renda e o seu envio à Receita Federal, ambos efetivados por meio
eletrônico; a consulta, via web, da tramitação de processos judiciais; a emissão de
certidões e documentos com certificação digital; o acompanhamento e a participação,
como pessoa física ou jurídica, em licitações por meio virtual, como os pregões
eletrônicos, dentre outros.
Afinizadas aos ideais de “boa governança”, muitos são os benefícios, sejam de
caráter técnico sejam de caráter social, da adoção destas medidas, e não apenas para a
população, mas também para o próprio serviço público de modo geral, uma vez que
facilitam a operacionalização de processos, evitam que o cidadão tenha que se deslocar
até a sede física do(s) órgão(s) público(s), evitam as filas nos guichês de atendimento,
conferem maior agilidade a procedimentos simples, promovem a redução de custos e de
insumos (menor emissão de papel, menos tinta para impressão) e, principalmente,
democratizam mais o acesso aos serviços, conteúdos e documentos públicos.
A legitimação da democracia também se dá por meio do estabelecimento, pelos
governos, de maneiras inovadoras de referendar a parceria entre o que se entende pela
“tríplice hélice”, ou seja, sociedade civil, poder público e segmento privado. Ao passo
que as instituições orientadas pelos preceitos tradicionais de gestão pública prezam pela
hierarquização e centralização de poder, a popularização da informação sinaliza o
rompimento desse paradigma, fomentando a emancipação de todos os atores envolvidos
nos processos sociais e sugerindo relações mais horizontalizadas e participativas.
Contudo, embora se evidenciem avanços na condução de políticas públicas
voltadas à participação democrática, um dos pontos críticos da informatização de alguns
serviços públicos reside em questões como “analfabetismo digital” e “exclusão digital”.
Infelizmente no Brasil, devido às desigualdades sociais que permeiam a estrutura da
população, grande parte das pessoas pertencentes às classes de baixa renda ou não tem
acesso aos equipamentos tecnológicos, ou tem, mas desconhece onde e como consultar
as informações ou como manipulá-las.
Face às considerações acima expostas, entende-se que um dos maiores desafios
dos entes públicos é a erradicação desses entraves, de forma a garantir que toda a
população, ou pelo menos a maior parte dela, possa usufruir plenamente dos serviços
online, e não apenas uma reduzida parcela que, atualmente, é a que domina tal
linguagem digital. Nesse sentido, é preciso comprometimento dos governantes em
implementar eficientes políticas públicas de acesso às tecnologias de informação, a fim
de que estas instrumentalizem os indivíduos a exercerem ativamente a cidadania.

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