Em uma civilização globalizada e modernizada como a que vivemos atualmente,
a incorporação dos recursos tecnológicos ao cotidiano é uma constante que impacta substancialmente nas atividades humanas. Nesse contexto, as novas tecnologias e, mais especificamente as da informação e da comunicação (TICs), contribuem para a disseminação maciça e rápida de dados, notícias e fatos, promovendo esclarecimentos, interconectividade e gerando conhecimento. Diante dessa imponente expansão das tecnologias e das consequentes modificações sociais, percebe-se que a apropriação da informação adquire suma relevância, atuando como mola propulsora do exercício da reflexão e posicionamento críticos por parte dos cidadãos. No contexto organizacional, vê-se despontar novos paradigmas, que sinalizam para redimensionamentos na forma das organizações sistematizarem e compartilharem informações com seus stakeholders (públicos de interesse). Nas instituições públicas brasileiras, a busca por uma maior eficiência nas práticas e procedimentos que revertam em provimento eficiente das demandas da população compreende a preocupação com os processos comunicacionais e com a garantia de transparência dos atos da “máquina pública”. As repadronizações impostas pela necessidade de novos modelos de administração pública no que diz respeito ao reaparelhamento do Estado e no repensar o seu papel perante a sociedade civil intentam, assim, construir bases para a consolidação dos instrumentos de participação popular na tomada de decisões e, principalmente, dos mecanismos regulatórios de auditoria em ações que envolvam recursos públicos. Consoante a essa perspectiva de modernização tecnológica, os órgãos públicos têm demonstrado iniciativas quanto ao aperfeiçoamento dos processos informatizados, implementado desde sites bem estruturados, com todos os conteúdos sobre a composição, a função, os programas e os gastos de ministérios e secretarias, por exemplo, até portais de ouvidoria virtual. Além disso, há que se destacar o fato de disponibilizarem o acesso, na modalidade online, a serviços públicos que antes eram somente presenciais, como por exemplo: o preenchimento do formulário da declaração de imposto de renda e o seu envio à Receita Federal, ambos efetivados por meio eletrônico; a consulta, via web, da tramitação de processos judiciais; a emissão de certidões e documentos com certificação digital; o acompanhamento e a participação, como pessoa física ou jurídica, em licitações por meio virtual, como os pregões eletrônicos, dentre outros. Afinizadas aos ideais de “boa governança”, muitos são os benefícios, sejam de caráter técnico sejam de caráter social, da adoção destas medidas, e não apenas para a população, mas também para o próprio serviço público de modo geral, uma vez que facilitam a operacionalização de processos, evitam que o cidadão tenha que se deslocar até a sede física do(s) órgão(s) público(s), evitam as filas nos guichês de atendimento, conferem maior agilidade a procedimentos simples, promovem a redução de custos e de insumos (menor emissão de papel, menos tinta para impressão) e, principalmente, democratizam mais o acesso aos serviços, conteúdos e documentos públicos. A legitimação da democracia também se dá por meio do estabelecimento, pelos governos, de maneiras inovadoras de referendar a parceria entre o que se entende pela “tríplice hélice”, ou seja, sociedade civil, poder público e segmento privado. Ao passo que as instituições orientadas pelos preceitos tradicionais de gestão pública prezam pela hierarquização e centralização de poder, a popularização da informação sinaliza o rompimento desse paradigma, fomentando a emancipação de todos os atores envolvidos nos processos sociais e sugerindo relações mais horizontalizadas e participativas. Contudo, embora se evidenciem avanços na condução de políticas públicas voltadas à participação democrática, um dos pontos críticos da informatização de alguns serviços públicos reside em questões como “analfabetismo digital” e “exclusão digital”. Infelizmente no Brasil, devido às desigualdades sociais que permeiam a estrutura da população, grande parte das pessoas pertencentes às classes de baixa renda ou não tem acesso aos equipamentos tecnológicos, ou tem, mas desconhece onde e como consultar as informações ou como manipulá-las. Face às considerações acima expostas, entende-se que um dos maiores desafios dos entes públicos é a erradicação desses entraves, de forma a garantir que toda a população, ou pelo menos a maior parte dela, possa usufruir plenamente dos serviços online, e não apenas uma reduzida parcela que, atualmente, é a que domina tal linguagem digital. Nesse sentido, é preciso comprometimento dos governantes em implementar eficientes políticas públicas de acesso às tecnologias de informação, a fim de que estas instrumentalizem os indivíduos a exercerem ativamente a cidadania.
A Lei de Acesso à Informação e os entraves burocráticos na Administração Pública Estadual: uma análise dos desafios da implantação da Lei de Acesso à Informação na Administração Pública