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21º Curso de Licenciatura em Enfermagem

Departamento de Enfermagem

Unidade Curricular: Enfermagem II – Saúde, Família e Comunidade

Ano letivo 2020/2021

Trabalho escrito individual de avaliação contínua –


Estudo de Caso 2

Discente: Maria Beatriz Azenha Enes Jorge Docentes: Prof. Ana Paula Gato
Prof. Andreia Cerqueira

Prof. Edgar Canais

Prof. Hugo Franco

Prof. Paula Leal


Março de 2021
21º Curso de Licenciatura em Enfermagem
Departamento de Enfermagem

Unidade Curricular: Enfermagem II – Saúde, Família e Comunidade

Ano letivo 2020/2021

Trabalho escrito individual de avaliação contínua –


Estudo de Caso 2

Discente: Maria Beatriz Azenha Enes Jorge, Docentes: Prof. Ana Paula Gato
200528004 Prof. Andreia Cerqueira

Prof. Edgar Canais

Prof. Hugo Franco

Prof. Paula Leal


Março de 2021

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Avaliação da Família
Para se realizar a avaliação da família é habitual a utilização do Modelo de Calgary de
Avaliação Familiar (MCAF). O MCAF é uma estrutura multidimensional que tem como finalidade a
avaliação de uma família tendo em conta três categorias principais: uma avaliação estrutural, uma
avaliação funcional e uma avaliação de desenvolvimento. (Cecilo et. al, 2014) (Silva et. al, 2009)

O MCAF permite que o enfermeiro adquira um conhecimento mais aprofundado sobre a


família, incluindo as suas relações internas e externas, forças e problemas, identificando, assim, as
necessidades da família. (Cecilo et. al, 2014)

Explanado, sumariamente, o MCAF, será realizado neste trabalho o estudo de caso de uma
família, onde serão utilizados os instrumentos do modelo para se proceder à avaliação da família,
nomeadamente o genograma e o ecomapa. Serão também utilizados, para se proceder à avaliação
da família, a psicofigura de Mitchell e a escala de Graffar.

Genograma da família
O genograma é definido como um mapa que relaciona as diferentes gerações de uma
família e que é caracterizado por ser uma representação esquemática e gráfica do padrão familiar,
onde são identificados os relacionamentos de uma família. (Muniz & Eisenstein, 2008) (Arias, 2017)
Assim, está representado na figura 1 o genograma da família em estudo.

Figura 1 - Genograma da família.

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Ecomapa da família

Tal como o genograma, o ecomapa também é uma representação gráfica, mas que
identifica as relações atuais da família com o meio onde habita, os padrões organizacionais da
família permitindo que se entendam as necessidades e os recursos da família. (Agostinho, 2007)
(Santos, 2019) Na figura 2 está representado o ecomapa da família em estudo.

Figura 2 - Ecomapa da família.

Iniciando a análise deste ecomapa pela relação das filhas A e J com a escola podemos
concluir que a relação é muito forte, uma vez que as meninas afirmam gostar muito da escola. As
gémeas frequentam também com agrado as aulas de música da Sociedade Recreativa e Musical,
existindo assim uma relação boa entre esta Sociedade e a família, já que o agrado das gémeas
contribui positivamente para o bem estar da família. Sendo que o local onde vivem não apresenta
uma grande variedade de opções relativamente a transportes públicos, a família recorre ao
autocarro escolar disponibilizado pela Câmara Municipal para que os filhos possam frequentar a
escola, existindo uma relação de dependência para com a Câmara Municipal. Ainda sobre os filhos
do casal, o filho J trabalha à hora nos tempos livres para poder ajudar a família, apresentando assim
a família uma relação de dependência para com o trabalho do filho J.

Relativamente ao Sr. A, é facilmente entendível pela leitura deste caso que o seu
desemprego resulta numa instabilidade familiar, dado que, ao estar desempregado, passa muito
tempo na rua com outros homens que se encontram na mesma situação, gastando a maioria do
pouco subsídio de desemprego que recebe em bebida e jogo. Dado isto, apesar do Sr. A gostar de
passar tempo com essas companhias, é prejudicial para a família.

A situação do filho F, que não frequenta a escola, não está empregado e chega de
madrugada a casa preocupando a mãe, é mais uma situação prejudicial para a família. Aliada a esta
situação, a mãe (Sra. M.R) suspeita que o filho F consome substâncias ilícitas, por conta das

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companhias que tem. Assim, apesar do filho F gostar das suas companhias, estas também afetam
negativamente a família num todo, causando conflitos.

A família conta com o serviço de apoio domiciliário da Misericórdia local para a realização
dos cuidados de higiene da avó F, pelo que relação da família com a Misericórdia é uma relação de
dependência.

Em relação aos habitantes da aldeia, a maior parte deles apoiam bastante a Sra. M.R,
existindo uma relação muito boa. Ainda sobre a Sra. M. R, esta é forçada a trabalhar a terra para
vender no mercado, uma vez que o subsídio do Sr. A é maioritariamente gasto em jogo e a família
precisa de preencher as necessidades básicas, havendo uma relação de dependência da família com
o mercado e as vendas lá efetuadas pela Sra. M. R. Por fim, e na continuidade das necessidades da
família, esta recorre ao apoio alimentar de uma IPSS, apresentando uma relação de dependência,
e também ao apoio dos pais da Sra. M. R, que enviam roupa e dinheiro para ajudar a família, tendo
a família uma relação boa e também de dependência com os avós maternos.

Psicofigura de Mitchell da família


A psicofigura de Mitchell é a representação gráfica das relações inter-familiares, isto é, das
relações entre os membros do mesmo agregado familiar. (Caeiro, 1991) Na figura 3 está
representada a psicofigura de Mitchell da família em análise.

Figura 3 - Psicofigura de Mitchell da família.

Analisando a figura 3, entende-se que o pai, Sr. A, apresenta um desinteresse geral pela
família, tendo ainda relações conflituosas com a esposa, Sra. M.R, e com o filho J. Relativamente a
conflitos na família, os dois filhos mais velhos, F e J, entram facilmente em conflito e, o filho F entra
também por vezes em conflito com a mãe, Sra. M.R.

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A avó F, por sua vez, tem uma relação muito especial de afeto com a neta mais nova, M, e
uma relação boa com a nora.

Relativamente à Sra. M.R, ela tem uma boa relação com os restantes membros da família
mantendo uma relação especial com as filhas, A, J e M, com quem tem relações muito boas e
próximas.

Escala de Graffar

A escala de Graffar é uma ferramenta que permite a estratificação social através da análise
de 5 critérios: a profissão, o nível de instrução, as fontes do rendimento familiar, a habitação e o
bairro onde se insere, sendo que cada um destes critérios a uma pontuação que varia entre um e
cinco. Através da soma dos pontos obtidos pela família encontra-se a classe social a que a mesma
pertence. (Sousa et. al, 2010)
A escala de Graffar desta família foi realizada consoante os rendimentos da Sra. M.R, dado
que o Sr. A está desempregado e recebe subsídio de desemprego.
A nível profissional, a Sra. M.R é caracterizada como uma trabalhadora indiferenciada, uma
vez que é doméstica e trabalha a terra junto da sua casa para poder vender no mercado, sendo que
as vendas são imprevisíveis e, assim, a principal fonte de rendimento da família é incerta.
Relativamente à escolaridade, a Sra. M.R, apesar de ter concluído só o 10º ano de escolaridade,
tem a escolaridade obrigatória. A família reside numa aldeia em Vale de Lampas, que é uma zona
antiga, habitando uma casa térrea que necessita de reparações, com quintal, 4 quartos e uma casa
de banho, caracterizando-se a habitação como uma habitação com cozinha e wc degradada.
Após somados os pontos referentes a cada parâmetro da escala de Graffar, o agregado
familiar tem uma pontuação final de 20 pontos, inserindo-se na classe média baixa.

Tarefas de Saúde
De modo a introduzir quais as tarefas de saúde mais pertinentes a desenvolver pela família
para que seja possível atingirem um ambiente familiar mais saudável e equilibrado, é pertinente
que se avalie o desenvolvimento familiar relativamente aos estadios de desenvolvimento e aos
laços e vínculos.

Inicie-se por se analisar os estadios de desenvolvimento, recorrendo ao ciclo de vida de


Duvall. O ciclo de vida de Duvall é composto por 8 fases de desenvolvimento cujo foco é a existência

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de filhos e a sua fase de educação escolar, desde o nascimento até à morte dos dois progenitores.
(Branco, 2013)

De acordo com o ciclo de vida de Duvall esta família encontra-se na fase V, uma vez que o
casal tem filhos adolescentes, apresentando ainda tarefas relacionadas com a fase IV, já que tem
filhas em idade escolar e com a fase III, dado que tem uma filha com 3 anos (idade pré escolar).

Relativamente aos laços e vínculos, começando pelos pais, o casal apresenta uma relação
distante, desapegada, conflituosa e com fraca comunicação. Continuando a expor as relações do
pai, o Sr. A, para além de ter uma relação de desapego com toda a família, tem uma relação também
conflituosa com o seu filho mais velho, o filho J. Por outro lado, a mãe, a Sra. M.R tem uma boa
relação com todos os membros do agregado familiar, tendo alguns conflitos com o seu filho mais
velho, o filho F e relações extremamente apegadas com as duas gémeas (filha A e filha J) e com a
filha mais nova, a filha M. Como já foi também referido neste trabalho, a avó paterna F apresenta
uma relação de forte apego à neta mais nova (filha M) e os filhos mais velhos, filhos F e J, têm uma
relação conflituosa.
Após a explanação do estadio de desenvolvimento da família, bem como dos seus laços,
segue-se a enumeração das tarefas pertinentes de serem implementadas pela família para que esta
atinja um equilíbrio saudável.
Começando pela tarefa mais clara, a família deve trabalhar a sua comunicação. Seria
importante que a comunicação entre o casal fosse mais eficaz de modo a que pudessem partilhar,
entre os dois, o sustento e gestão da família. Para isso, talvez fosse necessário que o Sr. A arranjasse
um emprego para poder contribuir para a economia da família e, também, para estar ocupado
durante o dia, deixando de ter tempo para beber e jogar. Assim, talvez fosse possível melhorar a
comunicação entre o casal e também fomentar uma melhor relação com o resto do agregado
familiar.

Para além da comunicação entre o casal, é também pertinente trabalhar a comunicação


entre o Sr. A e o filho J, dado que estes têm uma relação conflituosa. No entanto, considero que a
comunicação entre os dois seria melhorada aquando do arranjo de emprego por parte do Sr. A e,
também, quando o Sr. A desempenhasse o seu papel de figura paternal presente.
É ainda essencial que seja fomentada uma comunicação mais produtiva entre a Sra. M.R e
a o filho mais velho (filho F). Eles têm uma relação com alguns conflitos e a Sra. M.R tem suspeitas
de que o filho consome substâncias ilícitas. Assim, seria uma possível tarefa que estes dois
elementos da família conversassem abertamente sobre os motivos que levam o filho mais velho a
chegar tão tarde a casa e se realmente as suspeitas da mãe são suportadas por acontecimentos

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reais. Num caso afirmativo, seria necessário entender-se o motivo que levou o filho F a consumir
esse tipo de substâncias e, a partir daí, tentar arranjar uma estratégia para solucionar esse
problema. Outra sugestão para este filho seria a promoção da reintegração do mesmo na
sociedade, tentando, talvez, o arranjo de um emprego, que lhe desse uma rotina e o permitisse
apoiar também a família.
Relativamente ao filho J, considero que seria pertinente que o casal entendesse em que
estado emocional, psicológico e físico o filho se encontra, uma vez que trabalha e estuda ao mesmo
tempo. Talvez, com o pai empregado, o filho pudesse deixar de trabalhar e concentrar-se nos
estudos.

Focalizando agora a situação do filho A, que apresenta um deficit de atenção, seria


importante que a família ponderasse se o apoio e atenção dão ao filho é suficiente ou se é
necessária a procura de um apoio mais específico, nomeadamente procurando uma instituição ou
apoio escolar que pudessem melhorar o desempenho o filho ou, em último caso, ponderar a
hipótese de um apoio mais especializado.
No caso da filha M, que apresenta dificuldade de socialização, talvez fosse uma tarefa
apropriada considerar colocar a filha numa atividade que a menina gostasse ou, até, que a menina
fosse para uma creche.
Por último, é também importante que a família acompanhe a avó F, nomeadamente na sua
dificuldade de mobilização e na diabetes. Se a senhora apresentar uma dificuldade de mobilização
muito elevada talvez seja necessário considerar a utilização de um MAM. Quanto à diabetes é
necessário que a família saiba sempre se a doença se encontra controlada.

Consulta domiciliária – planeamento


Uma consulta domiciliária pauta-se por ser um momento de assistência de saúde que é
exercido sobre um indivíduo, família ou comunidade. A consulta ao domicílio é um instrumento
bastante utilizado no que toca à prestação de cuidados de enfermagem, uma vez que permite ao
profissional de saúde avaliar de perto a realidade da família, identificando como a família se
relaciona entre si e qual a relação da família com o trabalho e restantes obrigações e a vida social.
Assim, permite ao profissional adaptar o plano de cuidados de modo adequado para melhor
responder às suas necessidades. (Pereira, 2012)

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A consulta domiciliaria compreende quatro fases: planeamento, execução, registo e
avaliação e existem dois tipos de visita domiciliária distintos: a visita domiciliária preventiva e a
visita domiciliária para diagnóstico, tratamento e reabilitação. (Fernandes et. al, 2019)

Assim, a visita domiciliária realizada terá um caráter preventivo, na medida em que


pretende atuar na prevenção de problemas e na promoção da saúde, tentando identificar e avaliar
fatores de risco que possam prejudicar a família, tendo também o objetivo de tentar prestar apoio
à família. Posto isto, tendo como base de planeamento as informações dadas no Guia Orientador,
segue-se o planeamento da consulta domiciliária.
Numa primeira instância, seria pertinente analisar a história familiar e a história dos
antecedentes de saúde de cada elemento do agregado familiar, uma vez que a família apresenta
um historial de complicações como neoplasias, AVC e hipertensão. No seguimento desta análise é
pertinente também entender o tipo de alimentação da família e, no caso de não ser a mais
adequada, tentar realizar uma sessão de educação para a saúde a esta família onde seriam
abordadas estratégias para que a sua alimentação se torne mais adequada e saudável.
Depois desta análise, seria também importante:

• Iniciar com uma tentativa de construção de uma relação de confiança com a família, de modo
a promover uma facilidade de comunicação e abertura por parte dos diferentes membros do
agregado familiar, para melhor entender o sentimento de cada um.
• Tentar compreender os motivos principais que geram uma relação conflituosa entre o casal, e
apelar à comunicação entre eles, trabalhando em conjunto com o casal. Entender os motivos
que levam o Sr. A a passar tanto tempo fora e o que o leva ao elevado gasto monetário – se
existir um vício em jogo, ponderar o recurso a ajuda profissional. Seria também pertinente
avaliar o interesse em arranjar um emprego e sugerir a procura.
• Avaliar o que a família sente relativamente ao desinteresse do pai pela família, especialmente
junto das pessoas com quem ele tem maiores conflitos, o filho J e a esposa Sra. M.R bem como
da sua mãe, avó F, que se sente desamparada.
• No seguimento do sentimento de desamparo da avó F, seria importante conversar com a
senhora para avaliar o nível de solidão que sente e um possível risco de depressão, uma vez
que esta condição é comum em pessoas idosas. Além disto, a senhora apresenta dificuldade
na mobilização, assim, é necessário que se avalie o risco de queda e a força muscular da
senhora (com recurso às escalas de Morse e de Council, respetivamente), e se a senhora
precisa de utilizar um meio auxiliar de marcha (MAM) e, em caso positivo, entender se a família
dispõe de meios para o adquirir ou se é necessário contactar alguma instituição e se será

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necessário realizar uma educação para a saúde onde se instruirá a senhora e a família para a
utilização correta de um MAM. Tendo em conta que a avó também tem diabetes tipo II é
necessário entender se os diabetes estão controlados e quais os valores normais da senhora,
tentando também compreender se a família tem conhecimento destes valores e de como deve
atuar para controlar em caso de descontrolo.
• Em conversa com o filho J, tentar compreender como este filho se sente, uma vez que trabalha
e estuda – perceber se está fisicamente, psicologicamente ou emocionalmente cansado,
devido ao esforço que faz e se sente falta de apoio uma vez que, com o desinteresse do pai,
pode sentir falta de uma figura paternal. É necessário entender também se o cansaço pode ser
derivado do sentimento de obrigação em desempenhar um papel familiar que devia ser
desempenhado pelo pai. Por último, é importante avaliar o porquê de ser fácil entrar em
conflito com o irmão mais velho, filho F, e entender se os motivos são relacionados com os
motivos da existência de conflitos com o pai. Após avaliado, seria importante apelar à
comunicação aberta entre os dois.
• Para avaliar o filho F, e averiguar se as suspeitas da mãe relativas ao consumo de substâncias
ilícitas são uma realidade, seria pertinente averiguar o assunto junto do filho F. Para isso,
poderia ser uma estratégia perguntar a sua opinião relativamente aos gastos excessivos do
padrasto e também tentar compreender quais as suas ambições para o futuro: se gostaria de
continuar a estudar ou se pretende arranjar um emprego. No caso de confirmação do consumo
de substâncias ilícitas talvez pudesse ser planeada uma sessão de educação para a saúde sobre
vícios comuns nos adolescentes, mostrando sempre empatia e disponibilidade de
compreensão e ajuda, explanando algumas opções de como as pessoas podem largar os vícios.
• Relativamente ao filho A, que apresenta deficit de atenção, é necessário que se perceba se
este filho está a ser acompanhado, e, no caso de não estar a ser, tentar ponderar junto da
família a necessidade de apoio especializado, como apoio ao estudo – que por vezes existe na
escola – ou a procura de instituições, como IPSS, que tenham esse tipo de serviços, acessíveis
à família.
• Tentar também entender que atividades poderiam agradar à filha M, que tem uma dificuldade
de socialização. Seria pertinente procurar uma atividade que agradasse à menina, como por
exemplo a música – como as gémeas – para que fosse facilitado o processo de socialização.
Também poderia ser ponderado que a filha M começasse a frequentar uma creche, que fosse
possível de suportar pela família.

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• Avaliar as condições domiciliárias, tentando entender se as reparações necessárias
comprometem a saúde e o bem-estar familiar e procurando por possíveis fatores que
potenciem o risco de queda à avó F.
• Tentar compreender como se sente emocionalmente a Sra. M.R, e de que forma o cansaço
extremo que sente a está a afetar, se existe um risco de depressão e se é necessário procurar
ajuda psicológica. Sendo a Sra. M.R a cuidadora informal da família seria também peritnente
instruí-la com estratégias de gestão de stress.

No final da visita é necessário que se façam os registos. É importante que se avaliem os resultados
atingidos e se ficaram resultados por atingir que possam ser trabalhados numa próxima consulta a
agendar consoante a disponibilidade familiar.

Diagnósticos de Enfermagem
Ao analisar esta família é de fácil compreensão algumas forças mas, essencialmente, alguns
problemas. De entre as forças analisadas destacam-se a forte relação entre a mãe e as três filhas e
também a ajuda que os filhos dão à mãe, nomeadamente o filho J que trabalha nos tempos livres
para ajudar em casa. Dos problemas, destacam-se o desinteresse do pai na restante família, a falta
de comunicação e a facilidade no surgimento de conflitos, nomeadamente entre a mãe e o pai, o
pai e o filho J e entre os irmãos J e F e o cansaço da mãe por desempenhar o papel de cuidador e
de sustento, embora conte com o apoio dos filhos. Após esta análise, levantei dois diagnósticos de
enfermagem que considero prioritários, tendo em conta a realidade que a família atravessa:
comunicação familiar comprometida e coping do cuidador comprometido.
Comunicação familiar comprometida: O foco Comunicação familiar comprometida define-
se como “comunicação comprometida” (CIPE, 2015, p.47) – sendo “comunicação” definido como
“comportamento interativo: dar e receber informações utilizando comportamento verbais e não-
verbais face a face ou com meios tecnológicos sincronizados ou não sincronizados – e o juízo
“comprometido” define-se como “juízo positivo ou negativo: estado julgado como negativo,
alterado, comprometido ou ineficaz” (CIPE, 2015, p. 93). Esta família apresenta variados problemas
de comunicação que resultam, muitas vezes, em conflitos. O facto de o Sr. A estar desempregado
e, por isso, passar muito tempo fora de casa a jogar e a beber faz com que o Sr. A demonstre
desinteresse pelo seu agregado familiar e, este desinteresse – juntamente com o elevado gasto
monetário em jogo – pode gerar várias conversas entre o casal que rapidamente podem evoluir
para discussões ou conflitos, devido à falta de comunicação (ou de oportunidades de comunicação)
evidente entre o casal. É ainda incontestável que a comunicação entre o Sr. A e o filho J não é

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saudável, uma vez que também têm uma relação conflituosa, sendo possível que o filho J, que
trabalha à hora nos tempos livres para ajudar a mãe, sinta que está a realizar os deveres do pai –
que está desempregado e passa os dias fora de casa, não ajudando e gastando ainda o pouco
dinheiro do subsídio em jogo e bebida, dinheiro esse que faz falta à família. É possível que o filho J
entre em conflito com o pai na medida em que pode sentir a falta do pai e da figura paternal.
Relativamente à relação entre os dois irmãos mais velhos, o filho J e o filho F, esta também é
conflituosa. Estes conflitos podem existir no seguimento das atitudes menos positivas do filho F,
uma vez que este não trabalha nem estuda e gasta o seu tempo com companhias que a família
suspeita de não serem as melhores e que também suspeitam que o filho F consome substâncias
ilícitas. É natural que exista a possibilidade do filho J entre em conflito com o irmão mais velho (filho
F) dado que o filho J estuda e trabalha para ajudar em casa e o filho F, que tem tempo para também
arranjar um trabalho e apoiar a família, não mostra interesse em fazê-lo. Existem ainda alguns
conflitos entre a mãe (Sra. M.R) e o filho mais velho (filho F) que podem surgir no seguimento do
possível consumo de substâncias ilícitas, da constante chegada a casa de madrugada ou do facto
deste filho não estudar e não mostrar interesse em arranjar um trabalho para ajudar a família.
Posto isto, e sendo que uma comunicação ineficaz ou inexistente podem gerar um mau ambiente
familiar ou até, em casos extremos, a cisão da família, é imperativo que este diagnóstico seja
levantado e, posteriormente, trabalhado juntamente da família. (Pires, 2014)

Coping do cuidador comprometido: segundo a CIPE (2015), Coping do cuidador define-se


como “Coping” (CIPE, 2015, p. 50) – sendo “Coping” definido como “Atitude: gerir o stress e ter
uma sensação de controlo e de maior conforto psicológico” (CIPE, 2015, p.50) – e comprometido é
definido como juízo positivo ou negativo: estado julgado como negativo, alterado, comprometido
ou ineficaz” (CIPE, 2015, p. 93). Foi referido, pela mãe (Sra. M. R) que se sente cansada, uma vez
que desempenha o papel de cuidador – na medida em que toma conta da casa, dos filhos e também
da sogra, gerindo as necessidades de todos os elementos da família – e o papel de sustento – uma
vez que, apesar de ser doméstica e gerir a família, ainda trabalha a terra para vender produtos
agrícolas no mercado de modo a arranjar dinheiro para cobrir as necessidades da sua família, não
contando com o apoio do marido que está desempregado e que, para além do subsídio de
desemprego que recebe ser pouco ainda gasta a maior parte em jogo. Este cansaço que a Sra. M.
R sente necessita de ser avaliado e monitorizado com especial atenção uma vez que este cansaço
levado ao extremo pode resultar em complicações maiores, nomeadamente a existência do risco
de uma depressão. (CUF, 2015) É importante ter em consideração o cansaço da Sra. M.R porque,
além de ser exaustivo para a Sra. M.R, o seu cansaço pode trazer repercussões à estrutura familiar
já que a Sra. M.R é o pilar da família.

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