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Licenciatura em Ciência

Política

Economia Política

2 – Escolas de pensamento da
economia política

Ano lectivo 2020/2021

Samuel de Paiva Pires


sspires@iscsp.ulisboa.pt
2 – Escolas de pensamento da economia política
Os economistas políticos heterodoxos (Clift 2014, 91-3; Menz 2017, 21-30)

• Max Weber (1864-1920). Economia e Sociedade (1921). A Ética Protestante e o


Espírito do Capitalismo (1905).

• Rejeita o materialismo histórico de Marx, enfatiza o papel de factores


socioculturais, religiosos, políticos e ideológicos no funcionamento do Estado e da
sociedade e no comportamento dos indivíduos.

• O Estado moderno detém o monopólio da violência legítima e assenta numa


burocracia que toma decisões fundadas na racionalidade legal, sendo idealmente
impessoais e politicamente neutras. Isto permite até certo ponto conter as
influências das pressões sociais, não obstante o Estado reflectir, também até certo
ponto, os interesses dos actores socioeconómicos.

• O ascetismo, a ideia de aperfeiçoamento pessoal e a crença na meritocracia e na


recompensa pelo trabalho árduo patentes no protestantismo enformam o espírito
do capitalismo conforme se desenvolveu no noroeste da Europa e, por extensão,
nas possessões coloniais. Fazer dinheiro tornou-se uma virtude. Em combinação
com o Estado moderno, o capitalismo opotenciou
2 o desenvolvimento económico.
2 – Escolas de pensamento da economia política
Os economistas políticos heterodoxos (Clift 2014, 91-3; Menz 2017, 21-30)

• Thorstein Veblen (1857-1929). The Theory of the Leisure Class (1899). The Theory
of Business Enterprise (1904).

• Na esteira de Schmoller, desenvolve uma abordagem institucionalista. Rejeita a


ideia de homo economicus, considera que os indivíduos agem motivados pela sua
posição relativa na sociedade e enquadrados pelas instituições existentes.

• A classe rentista nos EUA, que não se envolve no processo produtivo, desenvolveu
padrões de consumo ostentatório de bens de luxo que as classes médias procuram
emular, o que denominou por conspicuous consumption, que nada tem de
comportamento racional, tratando-se de uma forma de afirmação de estatuto
social que visa provocar a inveja de terceiros. Crítica do consumismo.

• O estilo de vida da classe do lazer gera aversão ao trabalho e a procura do sucesso


fácil, até pelas empresas, que passam a limitar as inovações propostas pelos
engenheiros e a produção de produtos de elevada qualidade e se concentram em
tentar manipular o mercado e o consumidor para obter lucros rapidamente. A
classe rentista e os seus gestores beneficiam de estruturas de mercado
monopolistas e oligopolistas. Veblen propôs que o controlo das empresas seja
delegado em engenheiros e cientistas focados
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na eficiência e qualidade.
2 – Escolas de pensamento da economia política
Os economistas políticos heterodoxos (Clift 2014, 91-3; Menz 2017, 21-30)

• Joseph Schumpeter (1883-1950). Capitalismo, Socialismo e Democracia (1942).

• Destruição criativa no centro da inovação capitalista cujo motor é o


empreendedor, principal força do progresso tecnológico e social pela sua acção
disruptiva que cria novos bens e serviços.

• Paradoxalmente, seria também o ponto fraco do capitalismo, visto que o sucesso


dos empreendedores levaria ao desenvolvimento de um capitalismo corporativista,
em que gestores profissionais assumem o papel de administradores e limitam o
empreendedorismo e a inovação.

• A prosperidade do capitalismo leva ao surgimento de uma classe de intelectuais


que, frustrados por não atingirem o estatuto e a riqueza dos empreendedores bem-
sucedidos, procuram virar a opinião pública contra as grandes empresas e a
propriedade privada. O dinamismo do capitalismo daria lugar a uma economia
socialista, em que o Estado passaria a ter controlo sobre os meios de produção e
tomaria as decisões sobre o que e como produzir.
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2 – Escolas de pensamento da economia política
Os economistas políticos heterodoxos (Clift 2014, 91-3; Menz 2017, 21-30)

• John Kenneth Galbraith (1908-2006). The Affluent Society (1958). The New
Industrial State (1967).

• Contrastou o aumento da riqueza privada nos EUA com o problema crescente da


pobreza pública, criticando a confiança no mercado livre, que não produz
suficientes bens públicos (infraestruturas) e contribui para perpetuar o estado de
coisas existente.

• Caracterizou a economia dos EUA como dominada pelos interesses de grandes


empresas que, dadas as suas quotas de mercado, os departamentos de marketing
e planeamento e o interesse em manterem a estabilidade do mercado de que
retiram os seus lucros, levam a que não exista um verdadeiro mercado livre, com
concorrência perfeita, como postulado pela escola neoclássica. As leis da oferta e
da procura não se aplicam devido à manipulação dos consumidores, à hierarquia
das mega-empresas com a sua ‘tecnoestrutura’ elitista (gestores e técnicos que
ganhavam influência em detrimento dos accionistas) e ao poder que as grandes
empresas acabam por deter. Isto levaria a um crescente descontentamento com o
capitalismo que acabaria por dar lugar a uma economia socialista.
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2 – Escolas de pensamento da economia política
Os economistas políticos heterodoxos (Clift 2014, 91-3; Menz 2017, 21-30)

• Karl Polanyi (1886-1964). A Grande Transformação (1944).

• Duplo movimento: analisa a ascensão da economia de mercado concluindo


que qualquer tentativa de “disembedding” a economia de mercado da
sociedade leva a uma reacção política e social.

• Os mercados não são neutrais nem naturais, são construções social e


politicamente enquadradas, pelo que a tentativa de separar os processos de
mercado das condições de trabalho e de vida leva à reacção por parte dos
trabalhadores que se organizam em sindicatos e partidos políticos, acabando
por conduzir à criação de instituições que mitiguem o impacto do laissez-faire.
Este duplo movimento é necessário para impedir que as desigualdades
produzidas pelo mercado sabotem o funcionamento da democracia.

• Antecipou o “embedded liberalism” do pós-II Guerra Mundial e o seu trabalho


ganhou importância recentemente no contexto da globalização pós-1989.
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2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo (Clift 2014, 94-6; Menz 2017, 30-33)

• John Maynard Keynes (1883-1946). The Economic Consequences of the Peace


(1919). The General Theory of Employment, Interest and Money (1936).

• Integrou a delegação britânica à Conferência de Paz de Paris (1919) e liderou a


delegação à Conferência de Bretton Woods (1944).

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2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo. Contexto: Primazia da Escola Clássica e Neoclássica (primado
da microeconomia)

Primazia do mercado e do mecanismo


de preços: supply side economics Racionalidade dos
[todos os preços são flexíveis – agentes económicos
ajustamento automático]

A generalidade dos sectores de


actividade funciona em contexto de
concorrência perfeita
[agentes são price-takers]

O papel do Estado resume-se a Respeito pelos direitos


funções muito específicas, associadas
à eficiência (regulação) e, dentro de de propriedade
certos limites, à redistribuição

Contexto histórico: Século XIX e início 8do século XX [Liberalismo Económico]


2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo. Contexto: Anos 1920-1939 (Capitalismo, crises e o regresso do
Estado)

Pós 1 ª GG: Divergência entre economistas


Proteccionismo A) Crise revela desequilíbrio temporário
. Optimismo generalizado (Liberais)
. Ascensão dos EUA B) Crise revela contradições fundamentais
. Crescimento económico 1929 Crash Bolsa do sistema capitalista (Marxismo)
. Liberalismo: Markets rule… Colapso do C) Crise é consequência do predomínio
sistema
financeiro
da finança sobre a economia
[intervenção mais activa do Estado
com políticas económicas e sociais]
Institucionalismo
Keynesianismo
[EUA]
[Europa]
.Thorstein Veblen
(1857-1929) Dimensão colectiva dos John M. Keynes Não existem mecanismos
fenómenos económicos (1883-1946) automáticos de equilíbrio
Contexto histórico e a dinâmica A análise clássica e neoclássica
das instituições: os indivíduos traduzem situações particulares
tomam decisões nesse contexto . Teoria Geral do Emprego, do
Juro e da Moeda (1936)

A lei de Say não resolve os


Os mercados são uma instituição desequilíbrios: o papel da
particular, entre muitas outras, procura é fundamental
que sustentam as relações
económicas entre indivíduos
Evolução e mudança na A intervenção do Estado é
economia, não o equilíbrio fundamental, para salvar o
capitalismo, não para o liquidar
2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo: a ascensão da macroeconomia

• “Antes de Keynes, a maioria dos economistas e dos decisores políticos aceitava os


altos e baixos dos ciclos económicos como sendo tão inevitáveis como as marés.
Estas ideias estabelecidas há muito deixaram-nos desprotegidos face à Grande
Depressão dos anos 1930. Mas com o seu livro de 1936, A teoria Geral do
Emprego, do Juro e do Dinheiro, Keynes deu um enorme salto intelectual. Keynes
apresentou um duplo argumento: primeiro, argumentou que é possível a
persistência nas economias de mercado de desemprego elevado e de capacidade
subutilizada; além disso argumentou que as políticas governamentais orçamental
e monetária podem influenciar o produto e assim reduzir o desemprego e
encurtar as recessões económicas. (…) Ainda que actualmente poucos economistas
acreditem que a acção do governo pode eliminar os ciclos económicos, como a
economia de Keynes parecia prometer, nem a economia nem a política económica
foram as mesmas desde a grande descoberta de Keynes” (Samuelson & Nordhaus
2005, 407).

• Inflexibilidade dos preços e dos salários. Importância da procura (demand side


economics). Importância da intervenção do Estado (equilíbrio de mercado
neoclássico é um caso particular).
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2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo: a ascensão da macroeconomia
MACROECONOMIA
“Análise que trata o comportamento da economia como um todo no que respeita ao
Produto, ao rendimento, ao nível de preços, ao comércio externo, ao desemprego e a
outras variáveis económicas agregadas” (Paul Samuelson)

Ideias a reter
. Estudo do conjunto da actividade económica (grandes agregados);

. Agregação de actividades semelhantes levadas a cabo por agentes distintos


[Famílias; Empresas; Estado; Resto do Mundo]

. Definição de políticas económicas que possam agir sobre os agregados

. Não existe conflito entre a Macroeconomia e a Microeconomia: apenas diferença de perspectivas de


análise (a Macro ignora os comportamentos individuais; a Micro assume os grandes agregados como
constantes num dado período)

. Dois horizontes temporais:


- curto prazo: ciclos económicos (conjuntura): inflação/deflação; emprego/desemprego
- longo prazo: crescimento económico (estrutura); desigualdades; nível de vida
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Não existe equilíbrio
automático no mercado
de trabalho: salários são
rígidos e não resolvem o
problema do
desemprego

Critica a Lei de Say: a


Expectativas:
ingrediente Keynesianismo oferta não gera a sua
fundamental própria procura porque
. Cabe ao Estado actuar
(embedded as pessoas não investem
sobre as expectativas liberalism) todo o seu rendimento:
preferência pela liquidez

A procura (agregada) é
que vai determinar o
nível da oferta e o
crescimento económico

PIB = C + I + G + X – M
(PIB= Consumo + Investimento + Despesa governamental + Exportações – Importações)

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2 – Escolas de pensamento da economia política
Ciclos económicos

• Flutuações do Produto, Preços, Emprego.


• Fases: Expansões; Pico (viragem); Recessões; Fundo (viragem).
• Recorrentes, mas não são periódicos (duração, ocorrência).
• Vários tipos: Juglar (7-11), Kuznets (15-25), Kondratiev (45-60).
• Política Económica: Alisar os ciclos. Os
13 ciclos são indesejáveis.
2 – Escolas de pensamento da economia política
Ciclos económicos

Fonte: Mankiw.
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2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo (Clift 2014, 94-6; Menz 2017, 30-33)

• No contexto de uma recessão, o Estado deve aumentar a despesa pública


para estimular a procura agregada, contrariando o ciclo económico (política
orçamental contracíclica).

• Em resposta à Grande Depressão, Keynes destacou o papel positivo da


procura, confiança e expansão da despesa pública para a actividade
económica: “If the Treasury were to fill old bottles with banknotes, bury them
at suitable depths in disused coalmines which are then filled up to the surface
with town rubbish, and leave it to private enterprise on well-tried principles of
laissez-faire to dig the notes up again (...) there need be no more
unemployment and, with the help of the repercussions, the real income of the
community, and its capital wealth also, would probably become a good deal
greater than it actually is. It would, indeed, be more sensible to build houses
and the like; but if there are political and practical difficulties in the way of
this, the above would be better than nothing.”

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2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo: o problema do desemprego (Stilwell 2012, 268-71)

• Explicações clássicas e neoclássicas: Segundo a Lei de Say, a oferta cria a


procura, pelo que o desemprego não poderá resultar de insuficiente procura
por bens e serviços.

• Pode ser devido a outras razões, desemprego estrutural (características dos


empregos oferecidos diferem das características dos indivíduos – associado ao
desemprego de longa duração) ou desemprego friccional (indivíduos
procuram empregos com determinadas características e as empresas
procuram trabalhadores com determinadas características, sendo que a
procura do emprego adequado e do trabalhador adequado leva algum
tempo).

• Pode ainda explicar-se por os salários serem mais elevados do que as


empresas podem pagar. Um mercado de concorrência perfeita corrigirá este
problema automaticamente, com a oferta e procura de trabalho a ajustarem-
se levando ao equilíbrio. Isto só não acontece se o governo estabelecer um
salário mínimo ou os sindicatos organizarem os trabalhadores para
recusarem salários abaixo de um determinado nível.
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2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo: o problema do desemprego (Stilwell 2012, 268-71)

• Recomendações clássicas e neoclássicas: o mercado de trabalho funciona


como qualquer outro mercado, pelo que se a oferta de mão-de-obra excede a
procura por parte das empresas, o mercado ajustar-se-á através do
mecanismo dos preços, no caso, do preço do factor trabalho, os salários, que
descerão.

• Isto aumenta a procura por trabalho, com as empresas a empregarem mais


trabalhadores devido à descida dos salários e se tiverem confiança que
conseguem vender mais bens e serviços. O mercado atinge o equilíbrio e o
desemprego elevado é erradicado. Se persistir, deve-se a algum impedimento
externo que o Estado deve eliminar (ex.: sindicatos).

• Mas os cortes salariais, segundo Keynes, pioram o problema do desemprego.


Com menores rendimentos, os trabalhadores gastam menos em bens e
serviços, as empresas têm de vender menos e consequentemente reduz-se a
sua procura por trabalho, aumentando o desemprego. Ou seja, ocorre uma
diminuição da procura agregada por bens e serviços, a que as empresas
respondem cortando o seu investimento e reduzindo a capacidade produtiva.
Gera-se um ciclo vicioso de contracção económica.
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2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo: o problema do desemprego (Stilwell 2012, 268-71)

• A análise de Keynes: as taxas de desemprego nos EUA e Reino Unido eram


demasiado elevadas para serem explicadas pela mudança de empregos ou
pela acção dos sindicatos. O mercado de trabalho não opera de forma igual a
outros mercados. Os salários tendem a ser rígidos quanto à possibilidade de
descida.

• Recomendação: aumentar a procura agregada através da expansão da


despesa pública para procurar alcançar o pleno emprego. A construção de
infraestruturas públicas cria trabalhos no sector da construção. Os
trabalhadores desta sector vão aumentar a procura de comida, carros, roupa,
etc., o que cria trabalhos para os trabalhadores destes sectores. O aumento de
rendimentos leva ao aumento de despesa, que estimula o aumento do
produto e cria mais postos de trabalho. Efeito multiplicador. Ocorre um ciclo
virtuoso de expansão económica.

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2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo: o problema do desemprego (Stilwell 2012, 268-71)

• A prioridade de Keynes era o principal problema da década de 1930, a


persistência de elevado desemprego.

• Porém, estimular a procura agregada, no curto prazo, tende a conduzir a um


aumento dos salários e dos preços dos bens e serviços, ou seja, a um aumento
da inflação. Esta pode ser controlada através da diminuição da despesa
pública e/ou políticas de controlo da massa monetária em circulação e/ou
aumento das taxas de juro.

• “Na prática, os governos vão ter de escolher se preferem implementar


políticas económicas (política monetária, política fiscal e orçamental) que
visem estimular a procura agregada e promover a criação de emprego, mas
estando disponíveis para suportar o crescimento da inflação; ou, pelo
contrário, se preferem manter um controlo severo sobre o crescimento dos
preços, à custa de um maior risco de estagnação do crescimento económico e
de aumento do desemprego” (Costa 2011, 215).
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2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo (Clift 2014, 94)

• A observação de que os mercados podem não conseguir gerar níveis de


procura adequados, poder de compra e, consequentemente, o pleno
emprego, persistindo desemprego elevado e capacidade subutilizada, tem
grandes implicações políticas.

• Constitui uma falha de mercado e desafia as assunções clássicas e


neoclássicas sobre a relação entre o público e o privado, entre o Estado e o
mercado.

• Keynes recomendou a intervenção do Estado para sustentar as relações


sociais capitalistas e corrigir as falhas inerentes ao funcionamento dos
mercados.

• A revolução keynesiana levou a alterações na abordagem à política


económica dos Estados e nas assunções sobre o papel do Estado na
economia.
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2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo (Clift 2014, 94-5)

• Nas fases recessivas do ciclo económico, o Estado pode criar emprego para
compensar a diminuição do emprego no sector privado e através do
investimento e despesa pública pode investir em programas de obras
públicas, conseguindo assim alisar o ciclo.

• Através das políticas orçamental e monetária, se necessário aumentando o


défice orçamental, pode levar à estabilização económica.

• A despesa pública tem um efeito multiplicador, produz um aumento de


rendimento superior ao aumento da despesa, gerando um efeito em cadeia
que leva a sucessivos aumentos de despesa e rendimento.

• Mas estas medidas devem ser temporárias, apenas adoptadas em períodos


de recessão, em que o governo aumenta a procura até que mais fontes
privadas aumentem a procura.

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2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo: objectivos fundamentais da política macroeconómica
Objectivos Agregados Exemplos de indicadores
Nível Produto Interno Bruto (PIB)
adequado/elevado e Taxa de variação em cadeia do PIB real
Produto
crescimento do PIB per capita
produto
Hiato do produto
Taxa de desemprego
Nível elevado de
Taxa de emprego
emprego e redução do Emprego
desemprego Taxa de variação trimestral da população
desempregada
Índice de Preços no Consumidor (IPC)
Estabilidade do nível de Taxa de variação homóloga do IPC
Nível Geral
preços (taxa de inflação
de Preços Taxa de inflação anual
reduzida)
Índice de inflação subjacente
Outros Objectivos: Equilíbrio externo; Equilíbrio das Finanças Públicas; (re)Distribuição
de rendimento, etc.

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2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo: política macroeconómica
Política Orçamental e Fiscal
Decisões que determinam a quantidade e a composição das despesas e receitas públicas:
• Despesa pública (Gastos e Transferências do Estado);
• Impostos.

Política Monetária

Controlo da oferta de moeda para determinar as taxas de juro.

Política Comercial e Cambial

Medidas tendentes a dinamizar relações equilibradas com o exterior.

Política Estrutural
Políticas governamentais no sentido de reformar a estrutura subjacente, ou as instituições da
economia.
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2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo: o circuito económico

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2 – Escolas de pensamento da economia política
O keynesianismo

• https://www.youtube.com/watch?v=qtAeINU3FKM

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2 – Escolas de pensamento da economia política
A Escola Austríaca

• Carl Menger (1840-1921), Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914), Friedrich


von Wieser (1851-1926). Opostos à Escola Histórica Alemã no Methodenstreit.

• Ludwig von Mises (1881-1973) e Friedrich A. Hayek (1899-1992).

• Individualismo metodológico, rejeição dos métodos matemáticos e ênfase no


papel da teoria económica.

• Teoria subjectiva do valor.


• Marginalismo.
• Custo de oportunidade.
• Problema do cálculo económico.
• Teoria monetária dos ciclos económicos.

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2 – Escolas de pensamento da economia política
Friedrich Hayek

• Estudou economia, filosofia e psicologia na Universidade de Viena, onde se


doutorou em direito (1921) e ciência política (1923).

• Professor na LSE (1931-1950), Universidade de Chicago (1950-1962) e


Universidade de Friburgo (1962-1968). Após a reforma, Universidades da
California, Salzburgo e Friburgo.

• Fundou a Sociedade Mont Pelérin em 1947, com Karl Popper, Mises, Milton
Friedman, Frank Knight, Michael Polanyi.

• Prémio Nobel da Economia em 1974.

• As suas ideias influenciaram os governos de Margaret Thatcher e Ronald


Reagan (neo-liberalismo e New Right).

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2 – Escolas de pensamento da economia política
Friedrich Hayek

• Carreira dividida em duas fases. Até à década de 1940 dedica-se


principalmente à economia. Primeiro particpa no debate do cálculo
socialista, Hayek e Mises vs. Oskar Lange, Abba Lerner e Fred Taylor.

• Debate com Keynes. Com base na teoria austríaca dos ciclos económicos,
Hayek argumenta que nos períodos de recessão, frequentemente, os bancos
centrais injectam liquidez na economia artificialmente através da impressão de
moeda e/ou mantendo as taxas de juro baixas para encorajar o investimento
em vez da poupança. Em combinação com o sistema de reservas fraccionárias,
isto leva à expansão do crédito barato, aumentando a inflação e conduzindo a
uma excessiva e alavancada concessão de créditos pelos bancos a muitos
malinvestments. Isto envia sinais errados aos produtores, cria uma disparidade
entre preferências dos consumidores e a estrutura produtiva. Para se
realinharem, é inevitável uma redução da massa monetária e dos preços
(diminuição da inflação) onde for possível. Ao período de crescimento (boom)
sucede o período de recessão e correcção (bust), com liquidação dos maus
investimentos, restrições de crédito e realocação de recursos.
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2 – Escolas de pensamento da economia política
Friedrich Hayek

• Da perspectiva de Hayek, o processo produtivo deve ser antecedido pela


poupança e não baseado na expansão do crédito, que distorce a estrutura de
produção e torna a inflação endémica num sistema que requer, em cada novo
ciclo, uma cada vez maior expansão monetária para manter o nível de
actividade económica, tornando a eventual deflação (bust) mais drástica do
que se fosse realizada no início do ciclo (Gamble 1996, 161)

• É a intervenção estatal que provoca as crises. Keynes abre a porta ao


aumento do intervencionismo estatal e, da sua perspectiva, o processo
produtivo precede a poupança.

• O receio de que o intervencionismo e planeamento estatal em economias de


mercado possa levar a economias centralizadas como a da Alemanha Nazi e
da União Soviética levam Hayek a escrever O Caminho para a Servidão (1944),
entrando na segunda fase da sua carreira, em que se dedica não só à
economia, mas principalmente à ciência política, teoria política, direito e
filosofia da ciência. 29
2 – Escolas de pensamento da economia política
Friedrich Hayek

• Em carta a Hayek a respeito de O Caminho para a Servidão, Keynes comenta


que está de acordo com a generalidade da obra, mas questiona Hayek sobre
onde é que traça a linha a partir da qual o intervencionismo leva ao caminho
para a economia centralizada e o totalitarismo.

• A restante carreira de Hayek pode ser vista como uma forma de responder a
esta questão, ou seja, de identificar as áreas em que o Estado deve envolver-
se, qual o papel do Estado em relação à sociedade civil e à economia. Artigos
essenciais da primeira fase, como “Economics and Knowledge” e “The Use of
Knowledge in Society” foram incluídos em Individualism and Economic Order
(1948).

• The Constitution of Liberty (1960). Thatcher: “This is what we believe in”.

• Law, Legislation and Liberty (3 vols, 1973, 1976 e 1979).

• The Fatal Conceit (1988).


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2 – Escolas de pensamento da economia política
Friedrich Hayek: o edifício teórico hayekiano

• Individualismo falso, racionalismo construtivista ou dogmático. Francis Bacon


e René Descartes. Enciclopedistas, Jean-Jacques Rousseau, fisiocratas (Hayek
1980).

– Conhecimento técnico, ordem de organização, mudança revolucionária,


economia planificada com comandos específicos.

• Individualismo verdadeiro, racionalismo evolucionista, crítico ou


tradicionalista. Iluministas Escoceses (Bernard Mandeville, David Hume, Adam
Ferguson, Adam Smith), Burke, Alexis de Tocqueville e Lord Acton (Hayek
1980).

– Conhecimento tácito, ordem espontânea, mudança evolucionária,


economia de mercado com regras de conduta gerais.

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2 – Escolas de pensamento da economia política
Friedrich Hayek: o edifício teórico hayekiano

Democracia liberal Marxismo, fascismo, totalitarismo


Ordem espontânea (kosmos, grown Ordem de organização (taxis, made
order, complexa; sociedade civil, order, simples; sociedades fechadas)
sociedades abertas)
Regras de conduta (economia de Comandos específicos (economia
mercado) planificada)
Conhecimento tácito/prático Conhecimento técnico (centralizado)
(disperso)
Racionalismo crítico, evolucionista ou Racionalismo cartesiano, dogmático
tradicionalista ou construtivista
Mudança evolucionista (gradual, Mudança revolucionária (abrupta,
reformista, engenharia social parcial) frequentemente total, engenharia
social utópica)
Pluralismo (tolerância) Monismo (intolerância)

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2 – Escolas de pensamento da economia política
Friedrich Hayek: o edifício teórico hayekiano

• Cataláxia: nome que adopta para a economia de mercado assente na ordem


espontânea. Do grego katallatein ou katallassein, significa trocar, admitir na
comunidade e transformar um inimigo em amigo. É uma ordem gerada pelo
“mútuo ajustamento de muitas economias individuais num mercado”, cujos
agentes actuam de acordo com regras como o reconhecimento da
propriedade privada e contratos, sem terem um propósito comum ou uma
hierarquia de fins específicos (Hayek 1998 vol. 2, 108).

• O sistema de preços: os preços contêm e sinalizam informação num mercado


livre, o conhecimento tácito, que está ausente de uma economia centralizada.
A tentativa de centralizar a informação sinalizada pelos preços num plano
racional centralizado destrói a informação contida nos preços.

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2 – Escolas de pensamento da economia política
Friedrich Hayek: o edifício teórico hayekiano

• O papel do Estado: Hayek não defende o Estado mínimo (administração da


justiça e defesa contra inimigos externos), considerando que nas sociedades
Ocidentais avançadas, além das funções daquele, compete ao Estado, através
da tributação, providenciar bens e serviços que o mercado não produz ou,
pelo menos, não de forma adequada, e através do direito, regular o mercado
evitando concentrações e abusos de poder como nos oligopólios e
monopólios, permitindo que a competição e a inovação operem livremente
(Hayek 1998, vol. 3).

• Hayek não propunha resistir a todo o tipo de planeamento, mas sim ao


planeamento centralizado característico das economias socialistas, que
substitui a ordem espontânea por uma ordem de organização que define
objectivos específicos para os indivíduos. Na ordem espontânea, os indivíduos
prosseguem os seus próprios objectivos à luz de regras de conduta gerais,
que o Estado ajuda a manter exercendo a coerção de forma geral e previsível,
não arbitrária, como nos campos da tributação e da regulação.

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2 – Escolas de pensamento da economia política
Friedrich Hayek: o edifício teórico hayekiano

• A safety net (Hayek 2007, 148): “There is no reason why, in a society which
has reached the general level of wealth ours has, the first kind of security
should not be guaranteed to all without endangering general freedom. (...).
there can be no doubt that some minimum of food, shelter and clothing,
sufficient to preserve health and the capacity to work, can be assured to
everybody. (...).

• “Nor is there any reason why the state should not assist the individuals in
providing for those common hazards of life against which, because of their
uncertainty, few can make adequate provision. Where, as in the case of
sickness and accident, neither the desire to avoid such calamities nor the
efforts to overcome their consequences are as a rule weakened by the
provision of assistance – where, in short, we deal with genuinely insurable
risks – the case for state’s helping to organize a comprehensive system of
social insurance is very strong. (...)

• “But there is no incompatibility in principle between the state’s providing


greater security in this way and the preservation of individual freedom.”
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2 – Escolas de pensamento da economia política
Friedrich Hayek

• https://www.youtube.com/watch?v=SHsCkinrCPE

Keynes vs. Hayek:


• https://www.youtube.com/watch?v=d0nERTFo-Sk
• https://www.youtube.com/watch?v=GTQnarzmTOc

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