XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Criação musical e solfejo: entre lógica e percepção
114 (Resumo)
Gustavo Rodrigues Penha (penha.gustavo@gmail.com)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Problema/questão A prática musical calcada no paradigma da escrita (Delalande, 2007) tem o solfejo como um operador de grande importância. Em sua concepção mais comum, o solfejo é tido como um processo de decodificação de informações notadas em partituras ou tablaturas, com sua subsequente enunciação sonora acústica ou mental. O solfejo é também compreendido também como uma disciplina do ensino musical formal, que tem como objeto justamente o ensino dos códigos de notação e de seus modos de decodificação. Entretanto, a partir do século XX, com a proposta de Pierre Schaeffer (1998[1967]) de um Solfejo do objeto sonoro, o solfejo se abre a novos campos de experiência musicais, e pode finalmente ser compreendido de novas maneiras. Objetivos Potencializar o conceito de solfejo, não limitando-o às suas concepções mais tradicionais, para compreende-lo também como um operador musical que: 1) funciona como um filtro seletivo de linhas expressivas durante um processo atual de percepção (a partir da concepção de percepção de Henri Bergon (1999[1896]); 2) estabelece uma relação estrita entre determinada lógica musical e a subsequente produção de tais ou quais efeitos perceptivos na escuta. Principais contribuições As principais contribuições que a presente pesquisa traz é a expansão do campo de atuação do conceito de solfejo. Implicações Do ponto de vista perceptivo, ao funcionar como um filtro seletivo na escuta, o solfejo é o que faz com que uma escuta selecione, em função da motivação implicada no ato da escuta, tais ou quais linhas expressivas em detrimento de outras. É nesse sentido que a análise musical se serve de diferentes tipos de solfejos: um solfejo formal, fraseológico, das relações harmônicas, das relações métricas e rı́tmicas, etc. Já do ponto de vista em que é considerado uma relação entre uma lógica do fazer musical e os subsequentes efeitos perceptivos na escuta produzidos por tal lógica, o solfejo é efetivamente criador, de modo contı́nuo, de novas maneiras de perceber e de sentir. É a partir dessa concepção que se pode considerar que toda invenção musical ocorre principalmente por processos de experimentação que resultaram em novos solfejos, tais como, no século XX: solfejo concreto, solfejo espectral, solfejo concreto instrumental, solfejo de texturas e massas, etc. Assim, o solfejo apresenta-se não mais como uma disciplina do ensino musical, mas antes como um operador musical em constante transformação, expandindo seus meios de atuação com o desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias e, eventualmente, criando novos modos de perceber e de sentir musicais. Palavras-chave Criação musical, análise musical, escuta, percepção, solfejo. Referências Bergson, Henri. (1999[1896]). Matéria e memória, tr. br. Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes. Delalande, François. (2007). De uma tecnologia a outra: cinco aspectos de uma mutação da música e suas consequências estéticas, sociais e pedagógicas. In: Valente, Heloı́sa de A. Duarte (Org.). Música e mídia: novas abordagens sobre a canção. São Paulo: Via Lettera. Schaeffer, Pierre. (1998[1967]). Solfège de l'objet sonore. Paris: INA GRM.
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