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São Paulo
2003
SUMÁRIO
Nesse sentido, o trabalho aborda como são estruturadas estas diferentes metodologias e
quais são suas fundamentações teóricas, terminando com a comparação entre o método
de fluxo de caixa descontado e o modelo de Edwards-Bell-Ohlson. Com base em
pesquisas empíricas realizadas em outros países são exploradas as principais
características, vantagens e desvantagens de cada método bem como a importância da
informação contábil para a aplicação de cada um deles.
2
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................4
2. FACES DO VALOR..........................................................................................................5
4. CONCLUSÕES ..............................................................................................................49
5. BIBLIOGRAFIA..............................................................................................................50
3
1. INTRODUÇÃO
A literatura1 que aborda esse tema, conhecido por valuation, tem se concentrado na
disseminação do conceito de fluxo de caixa descontado, que diz que o valor de uma
empresa é o somatório dos valores projetados do fluxo de caixa livre calculados a valor
presente. Essa é, também, a metodologia predominante na prática, sendo, no Brasil,
considerada inclusive para disputas jurídicas como na determinação do valor de emissão
de ações de uma companhia, no cálculo do valor a receber pelos investidores quando
existir direito de recesso dos acionistas dissidentes de determinadas decisões, nas
Ofertas Públicas de Ações (OPA) por alienação de controle, nas OPAs por cancelamento
de registro e nas OPAs por aumento de participação.
Contudo, nos últimos anos tem sido desenvolvida uma nova metodologia de valuation
baseada em informações contábeis. Essa metodologia é conhecida por modelo de Ohlson
e vem sendo solidificada desde 1995, ano em que James Ohlson publicou seu trabalho
intitulado Earnings, book values and dividends in equity valuation. Ohlson desenvolveu um
modelo de valuation que explica o valor de uma firma com base nas suas informações
contábeis. Esse fato se torna ainda mais interessante na medida que a comunidade
financeira nacional e internacional pouco considerava as informações contábeis nos
modelos de valuation “com a premissa de que a Contabilidade é baseada em valores
históricos” (PARIENTÉ, 2003, p.1).
1
V. Damodaran, Copeland, Koller & Murrin, Brigham & Ehrhardt, Brigham, Gapenski & Ehrhardt, Brealley & Myers, e outros.
4
2. FACES DO VALOR
DAMODARAN (1999, p.1) começa seu conceituado livro sobre valuation dizendo que
“todo ativo, seja financeiro ou real, tem valor.” Ainda complementa ressaltando que “a
chave para investir nesses ativos e gerenciá-los com sucesso não reside na compreensão
do montante deste valor, mas nas fontes do valor.”
Não é exagero, então, dizer que a definição de valor compreende aspectos subjetivos,
momentâneos e inerentes a cada indivíduo e a cada organização social. O valor atribuído
para um ativo depende, basicamente, da utilidade que este trará para seu consumidor.
Em algumas situações a mensuração da utilidade de um bem para um indivíduo se torna
um exercício muito complicado. Outras vezes, o tipo de mercado em que o ativo é
negociado torna difícil a realização do valor justo2 daquele bem. Nesses casos os
modelos de avaliação tornam-se ineficientes e muitas vezes não provêem adequada
valoração. Isso porque os modelos de precificação de ativos possuem algumas
2
Definido pelo Financial Accounting Standard Board (FASB) como sendo o montante pelo qual um ativo/passivo pode ser negociado
em uma transação entre partes não relacionadas quando nenhuma das duas está atuando sob pressão.
5
premissas, como por exemplo a de que o ativo é negociado em um ambiente competitivo,
e essas são essenciais na determinação do valor a ser alcançado.
DAMODARAN (1997, p. 183) escreve que "a questão de se os mercados são eficientes e,
em caso contrário, onde residem as ineficiências, é básica para a avaliação de
investimentos. Se os mercados forem, de fato, eficientes, o preço de mercado fornece a
melhor estimativa de valor, e o processo de avaliação se torna o de justificar o preço de
mercado. Se os mercados não forem eficientes, o preço de mercado pode se desviar do
valor real, e o processo de avaliação é direcionado para a obtenção de uma estimativa
razoável de seu valor. Aqueles que fazem boas avaliações, então, serão capazes de obter
retornos maiores que outros investidores, devido à sua capacidade de identificar
empresas super e subvalorizadas."
MARTINS et. al. (2001, p.263) discorrem que “ao avaliar uma empresa, objetivamos
alcançar o valor justo de mercado, ou seja, aquele que representa, de modo equilibrado, a
potencialidade econômica de determinada companhia. Entretanto, o preço do negócio
6
somente será definido com base na interação entre as expectativas dos compradores e
vendedores. Não existe um valor correto para um negócio. Pelo contrário, ele é
determinado para um propósito específico, considerando as perspectivas dos
interessados “. MARTINS et. al. (2001, p. 264) complementam dizendo que “ o processo
de avaliação envolve uma série de decisões subjetivas. A percepção dos agentes perante
um empreendimento pode variar. Enquanto alguns destacam as ameaças, outros
enfatizam as possibilidades de implementação de ajustes estratégicos geradores de bons
retornos. Logo, a identificação do valor de uma empresa depende tanto do sujeito que a
avalia quanto do objeto avaliado.”
Nos modelos de valuation de empresas que serão aqui mais abordados (fluxo de caixa
descontado e modelo de Ohlson), as influências na valoração do ativo são captadas pelo
desenho dos fluxos futuros de caixa/lucros. Esses modelos avaliam os benefícios
econômicos futuros dando uma medida acurada de qual é o valor monetário
correspondente ao valor do ativo com as informações disponíveis em determinado
momento. Implicitamente neles estão contidas as premissas de que as informações
necessárias para a projeção dos fluxos de caixa/dividendos são perfeitamente conhecidas
e assimiladas pelos agentes no mercado, de que a estrutura de mercado para a
negociação do ativo é concorrencial, de que as possibilidades de arbitragem são
rapidamente reconhecidas pelos agentes econômicos e de que a avaliação pressupõe
valores de ordem econômica e financeira.
7
• descontinuidade, em desmanche ou liquidação; e
• continuidade, em marcha ou going concern."
Segundo FAMÁ e LEITE (2003, p.2) “a ligação conceitual entre estes dois tipos de
avaliação (modelos baseados em ativos e passivos contábeis ajustados, e fluxos
descontados) pode ser percebida quando analisamos uma empresa com um fluxo de
8
caixa contínuo (constante) e uma taxa de retorno do ativo (realizada) igual à taxa de
retorno requerida:
FC r real B rB
Valor = = = =B
r r r
3
Para uma demonstração ver Penman (1997)
9
MARTINS et. al.(2001, p. 265) relatam que “entre os aspectos que dificultam a utilização
de demonstrações contábeis para a obtenção de razoável aproximação do valor
econômico de uma empresa destacam-se:
Assim, há a necessidade de, na maioria das vezes, ajustes nos valores contábeis dos
ativos e passivos da entidade para que possa ser feita uma avaliação adequada do valor
do negócio.
(
⎡ r real − r
Valor = B + ⎢
) ⎤⎥ B
⎢ r ⎥
⎢⎣ ⎥⎦
10
Deste modo o valor de mercado de uma ação depende das expectativas de crescimento
da empresa (termo entre colchetes) e do valor contábil de seus ativos (B). O segundo
termo dessa equação pode ser interpretado como o valor dos ativos intangíveis da
empresa (goodwill).
A metodologia do fluxo de caixa descontado tem por base o conceito de que o dinheiro
tem valor diferente no tempo. Ela diz que o valor de um ativo é o somatório dos valores
presentes dos seus fluxos de caixa futuros (esperados). No caso de empresas, que
podem ser consideradas como ativos geradores de caixa, podemos aplicar essa
metodologia de forma consistente.
Esquematicamente temos:
t =n
CFt
Valor = ∑
t =1 (1 + r ) t
4
Valor =
FC r real B rB + r real B − rB rB
= = = +
(
r real − r B )
= B+⎢
(
⎡ r real − r ) ⎤⎥ B
r r r r r ⎢ r ⎥
⎣⎢ ⎦⎥
11
onde,
n = vida útil do ativo
CFt = fluxo de caixa esperado no período t
r = taxa de desconto refletindo o risco inerente aos fluxos de caixa esperados
Segundo COPELAND, KOLLER e MURRIN (2000, p.66), “na técnica do DCF [discounted
cash flow], o valor de uma empresa consubstancia-se nos fluxos de caixa previstos para o
futuro, descontados a uma taxa que reflita o risco associado a estes fluxos.”
COPELAND, KOLLER e MURRIN (2000, p.22) fazem a observação de que "o valor (fluxo
de caixa descontado) é a melhor métrica porque é a única medida que requer
informações completas". Prolongam seu raciocínio dizendo que " para se entender a
criação de valor é necessário que seja utilizada uma visão de longo prazo, que se
gerencie todos os fluxos de caixa na demonstração de resultados e no balanço
patrimonial, e que se entenda como comparar fluxos de caixa de períodos diferentes em
uma base ajustada pelo risco." Complementam dizendo que " é praticamente impossível
tomar boas decisões sem informações completas e nenhuma outra métrica usa
informação completa."
Muitos autores sugerem que o fluxo de caixa descontado é a maneira pela qual o agente
econômico faz suas avaliações no tocante a investimentos no mercado financeiro.
STEWART (1991, p.2) comenta que “(...) o que realmente determina os preços das ações,
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a evidência prova, é o caixa, ajustado pelo tempo e risco, que os investidores esperam
receber ao longo da vida da empresa. O que o mercado quer não é lucro agora, mas sim
valor agora...(...)”
Sendo o fluxo de caixa uma medida que requer informações completas, torna-se
importante entender a complexidade das informações necessárias para a utilização dessa
metodologia. Diferentes ativos têm capacidades distintas de gerar fluxos de caixa.
Existem ativos em que os fluxos de caixa são constantes e previsíveis, enquanto em
outros ativos há um grau elevado de incerteza com relação a seus fluxos de caixa futuros.
Isso acontece, por exemplo, com títulos de renda fixa e títulos de renda variável. No
primeiro tipo, o fluxo é determinado por parâmetros conhecidos e com base em valores
comumente pré-determinados5. Mesmo que sua taxa de retorno seja variável, o que
ocorre em determinados títulos de renda fixa, há o conhecimento de qual é a composição
da taxa que irá remunerar o investimento, possibilitando assim maior grau de
previsibilidade da geração dos fluxos futuros gerados pelo ativo. No segundo caso, os
fluxos são totalmente incertos e não existe conhecimento do valor da remuneração do
investimento. Assim, a previsibilidade dos fluxos gerados por ativos de renda variável
torna-se complexa; muitas vezes, para sua mensuração “científica” são demandados
instrumentos estatístico -matemáticos.
No caso da valuation, claramente são tratados ativos com fluxos de caixa futuros e com
certo grau de incerteza. Isso porque os fluxos de caixa futuros de uma corporação são
influenciados por inúmeras variáveis internas e externas a ela. Como exemplo, pode ser
dito que as decisões que os executivos tomam são variáveis aleatórias e influenciam nos
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fluxos de caixa da empresa, assim como a política macroeconômica dos governos com os
quais a entidade tem alguma relação. Muitos outros fatores também influenciam o
desempenho da empresa, e a modelagem desses elementos é tarefa bastante complexa.
5
Há os casos de títulos pré-fixados com relação à taxa de juros mas pós-fixados no que diz respeito a um
determinado índice inflação, por exemplo.
14
A terceira forma pela qual o acionista pode gerar fluxo de caixa com o seu investimento
acontece quando ocorre ganho de capital. Basicamente, isso acontece quando o mercado
em que a empresa é negociada atribui um valor maior à ação que o acionista possui do
que o valor real (considerando a correção inflacionária) por ele pago. Assim, ele pode se
desfazer de sua ação recebendo um valor maior do que aquele que foi investido.
∞
divt
P0 = ∑
t =1 (1 + k e )
t
onde:
P0 = Valor da Empresa (ação)
div = dividendos + juros sobre capital próprio totais (por ação)
ke = custo do capital próprio
Como o modelo básico de fluxo de dividendos (FD) considera que as projeções serão
feitas até o infinito, várias versões do modelo de desconto do fluxo de dividendos têm sido
desenvolvidas com bases em hipóteses sobre o crescimento futuro dos fluxos. O modelo
de Gordon, clássico na avaliação de uma ação com crescimento estável dos fluxos de
dividendos, relaciona o valor de uma ação com seus dividendos esperados no período
subseqüente à avaliação, com a taxa exigida de retorno da ação e com a taxa esperada
de dividendos. Esse modelo é dado por:
Div1
P0 =
Ke − g
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onde:
P0 = Valor da Empresa (ação)
div = dividendos + juros sobre capital próprio totais (por ação)
ke = custo do capital próprio
g = taxa de crescimento perpétua dos dividendos
O valor da empresa seria, então, representado pelo valor presente dos dividendos
esperados durante os períodos de alto crescimento e de transição mais o valor presente
do preço final no início do último período de crescimento estável. Seria dado por:
Lt (1 + g a ) t × ia t = n 2 divt
t = n1
Ln 2 (1 + g n ) × in
P0 = ∑ +∑ +
t =1 (1 + k e ) t
t = n1+1 (1 + k e )
t
(k en − g n )(1 + k en ) n
onde:
P0 = Valor da Empresa
div = dividendos + juros sobre capital próprio totais
ke = custo do capital próprio na fase de alto crescimento
ken = custo do capital próprio na fase de crescimento estável
Lt = lucro no período t
Ln = lucro no período de crescimento estável
ga = taxa de crescimento na fase de alto crescimento (durante n1 períodos)
gn = taxa de crescimento na fase crescimento estável
ia = índice de payout na fase de alto crescimento
in = índice de payout na fase de crescimento estável
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Para DAMODARAN (1997, p.258) esse " é o mais geral dos modelos porque não impõe
nenhuma restrição ao índice de payout." O mesmo autor conclui que " esse modelo
remove muitas das restrições impostas por outras versões do modelo de desconto de
dividendos. Em troca, no entanto, exige uma quantidade muito maior de dados - índices
payout, taxas de crescimento e betas específicos para cada ano. Para empresas em que
há a interferência substancial no processo de estimativa, os erros nesses dados podem
sobrepujar quaisquer benefícios que provenham da flexibilidade adicional do modelo."
Esse modelo é interessante de ser aplicado para empresas em que se espera que, além
das alterações do crescimento do fluxo de dividendos ao longo do tempo, também sofram
alterações em outras dimensões - em particular políticas de pagamento e risco.
DAMODARAN (1997, p.260) diz que " é o mais adequado para empresas que estão
crescendo no momento a uma taxa extraordinária e dos quais se espera que mantenham
essa taxa por um período inicial, após o qual se espera que a vantagem diferencial da
empresa se esvaia, levando a declínios graduais na taxa de crescimento até uma taxa
estável."
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Além do apresentado anteriormente, podem ser levantadas duas questões interessantes
quando analisamos estes modelos:
1. Para Modigliani e Miller a política de dividendos é irrelevante para o valor da
empresa. Como, então, pode ser atribuído valor a uma empresa simplesmente
pela modelagem do comportamento de seus dividendos?
2. Algumas empresas adotam uma política de não distribuição de dividendos. Se o
valor de uma companhia é calculado de acordo com seu fluxo de dividendos,
como valorar este tipo de empresa?
Dentro desse contexto WHITE, SONDHI e FRIED [1997] comentam que a avaliação
baseada em dividendos fornece mais informação acerca da alocação de lucros de uma
empresa do que sobre o seu valor.
As empresas podem emitir diversos tipos de ações. Os tipos "puros" são as ordinárias
(que dão direito a voto nas Assembléias Gerais) e as preferenciais (têm direito de
preferência no recebimento de dividendos ou outra preferência qualquer determinada
estatutariamente). Entretanto, a empresa pode adicionar pelo seu estatuto diversas
características adicionais às ações que emitirá. Algumas podem ter direitos que outro tipo
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de ação da mesma empresa não possui. Contudo existem certos direitos dos acionistas
que são considerados "direitos essenciais" pela lei da SAs. Segundo AMENDORALA
(2002, p.36 ) "eles são assim denominados devido a normas de ordem pública que nem o
estatuto social e nem a Assembléia Geral poderão deles privá-los". Os direitos dos
acionistas que se encaixam nessa definição são os seguintes:
Serão expostos, então, mais detalhadamente os mais relevantes direitos essenciais dos
acionistas na medida que eles são fundamentais para a definição do preço de mercado de
uma ação pelo investidor.
O artigo 202 da lei das S.A., o qual dispõe sobre a participação dos acionistas nos lucros
da sociedade, diz que essa participação acontece por meio da política de dividendos da
companhia (distribuição em dinheiro com base no resultado contábil), que pode estar
estabelecida no estatuto ou não.
Segundo a ótica da lei das S.A. existe a figura do dividendo obrigatório, do dividendo
prioritário, dos dividendos fixos e dos dividendos mínimos. O dividendo obrigatório é
aquele que está expresso no estatuto e ao qual todos os acionistas têm direito. O
dividendo prioritário é aquele destinado às ações preferenciais que tenham preferência no
recebimento de dividendos. AMENDORALA (2002, pg. 37) diz que "a diferença essencial
entre dividendo obrigatório prioritário é que no primeiro caso a empresa está obrigada a
pagá-lo a todos acionistas e no segundo é uma opção dela atribuí-lo com prioridade ou
não aos acionistas apenas detentores de ações preferenciais. São prioritários porque, não
6
Acionistas que não detêm o controle da companhia.
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havendo lucros para distribuir para todos acionistas, os detentores desse direito
receberão com prioridade em relação aos demais."
Ainda, há mais duas formas nas quais os dividendos podem ser pagos. A primeira é o
dividendo fixo, que corresponde a determinado índice fixado pelos estatutos sobre o
capital social ou sobre o lucro líquido. Esse tipo de direito exclui a participação de seus
detentores nos dividendos remanescentes, que serão destinados aos demais acionistas
na forma estabelecida pelo estatuto. E, finalmente, existe o dividendo mínimo, que
quando disposto no estatuto da empresa, equipara a distribuição paga aos acionistas
ordinaristas com a distribuição feita aos acionistas preferencialistas. AMENDORALA
(2002, pg.37-38) ressalta que se existir a figura do dividendo mínimo no estatuto da
empresa e "a companhia decidir distribuir 30% do lucro para as ações ordinárias, embora
os estatutos tenham estabelecido um mínimo de 25%, deverá também distribuir 30% para
as preferenciais".
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2.4.2. FLUXO DE CAIXA LIVRE
Segundo SILVA (2001, pg. 148), “para fins de avaliação, o uso do fluxo de caixa livre
(FCF) é uma opção relevante. Ele é gerado pela empresa após a dedução dos impostos,
investimentos permanentes e variações esperadas no capital circulante líquido. Em outras
palavras, seria o montante disponível para todos os fornecedores de recursos. Por isso,
os pagamentos dos encargos das dívidas são desconsiderados.”
COPELAND, KOLLER e MURRIN (2000, p. 124) comentam que ”o valor das operações é
igual ao valor das projeções dos fluxos de caixa livres (FCF) descontados a seu valor
presente. O FCF é igual ao resultado operacional da empresa depois dos impostos , mais
custos que não envolvem caixa (ex. depreciação), menos investimentos em capital de giro
operacional, imobilizado e outros ativos. Ele não incorpora fluxos de caixa relativos a
financiamentos, como despesas de juros ou dividendos (...) O FCF é a variável correta
para esse modelo de avaliação (DCF), porque reflete o caixa gerado pelas operações que
está disponível a todas as fontes de capital da empresa, tanto na forma de ações quanto
na forma de dívida(...).”
21
Pode-se esquematizar o fluxo de caixa livre (FCF) de uma empresa como:
Portanto, no conceito do Fluxo de Caixa Livre (FCF) são considerados os valores do fluxo
de caixa proveniente exclusivamente pelas atividades operacionais, líquido de impostos e
tributos, diminuídos do caixa necessário aos investimentos em capital de giro e em ativos
fixos. O conceito de FCF tem como base a avaliação da capacidade de geração de
recursos livres resultante dos ativos da entidade. Resumidamente pode ser dito que ele é
o montante disponível para todos fornecedores de recursos. Por isso deve ser apurado
antes dos pagamentos das dívidas (principal e juros).
Uma visão muito interessante é apresentada por MARTINS e MARTINS (2003, p.3) onde
relatam que “(...) interessa avaliar em última instância, a capacidade geradora de recursos
livres dos ativos da empresa e esse é o “valor da firma”; desse montante se deduz o valor
de mercado do passivo financeiro existente na data-base da avaliação e, finalmente, a ele
se agrega o valor do ativo financeiro nessa mesma data base para então se chegar ao
valor do patrimônio líquido.”
O conceito de FCF é a base inicial para o cálculo do valor econômico da empresa (com
base no fluxo de caixa livre para a firma) e do valor para os acionistas (com base no fluxo
de caixa livre para os acionistas).
DAMODARAN (1997, p.274) diz que o fluxo de caixa no conceito do acionista " é uma
medida daquilo que a empresa pode pagar como dividendos." Por motivos diversos, o
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fluxo de dividendos, montante que a empresa realmente pagou/pagará aos acionistas,
pode ser diferente do fluxo de caixa líquido dos acionistas, valor gerado pela empresa.
A classificação feita por DAMODARAN (1997, P.274) quanto aos motivos pelos quais o
fluxo de dividendos é, normalmente, diferente dos fluxo de caixa líquido dos acionista
considera:
O fluxo de caixa para os acionistas representa o fluxo líquido após os efeitos de todas as
dívidas tomadas para completar o financiamento da empresa (fluxos de caixa vinculados
aos juros, amortizações e novos endividamentos). Para o cálculo do valor do patrimônio
líquido no conceito do acionista (VEA) é utilizado o FCF e dele são deduzidos os valores
do resultado financeiro líquido de seus efeitos tributários, adicionando-se algebricamente
as amortizações e os ingressos de novos passivos financeiros. Nesse momento temos o
fluxo de caixa livre para os acionistas (FCFA). O FCFA pode ser mensurado da seguinte
maneira:
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FCFA = Lucro Líquido + Depreciação - Desembolsos de Capital - ∆ Capital de Giro -
Amortização de Dívida + Novas emissões de Dívida
Posteriormente, esse valor é descontado pela taxa de custo de capital próprio (Ke) e então
são adicionados os ativos financeiros a valor de mercado na data da avaliação.
Matematicamente teríamos:
∞
FCFt + RFt + NCTt
VE A = (∑ ) + AF
t =1 (1 + Ke) t
onde,
VEA= valor do patrimônio líquido no conceito do acionista
FCFt= fluxo de caixa livre no período t
RFt = resultado financeiro no período t [pode ser positivo (receita) ou negativo (despesa)]
NCT = necessidade de capital de terceiros [pode ser positiva (novas dívidas) ou negativa -
(amortizações de dívidas)]
Ke = custo de capital próprio
AF = Ativos Financeiros a valor de mercado na data da avaliação
MARTINS e MARTINS (2003, p. 3) constatam que “assim, quer-se, de forma direta, medir
o valor do patrimônio líquido da empresa, e não primeiramente o valor da firma. Só que, já
que se tem, nesse conceito, o fluxo de caixa livre que sobra para o acionista (já estão
descontados os efeitos dos capitais de terceiros no fluxo de caixa projetado), a taxa de
desconto utilizada é unicamente a que representa o custo do capital próprio.”
A partir do conceito do FCF podemos calcular o fluxo de caixa livre para a firma (FCFF) e
conseqüentemente o valor do patrimônio líquido no conceito da firma. Os fluxos de caixa
livres para a firma são a soma dos fluxos de caixa para todos os detentores de direito da
empresa. A literatura tradicional7 nos diz que a partir do FCF descontado pelo custo médio
ponderado de capital (WACC), - esse seria o FCFF – e do somatório dos valores de
7
MARTINS E MARTINS (2003) sugerem e demonstram matematicamente que o uso do WACC como taxa
de desconto no FCFF é inadequado para a valoração da firma, dependendo das premissas assumidas.
24
mercado dos ativos e passivos financeiros na data da avaliação se dá o valor do
patrimônio líquido. Matematicamente seria:
∞
FCFt
VE F = ∑ −D
t =1 (1 + WACC ) t
onde,
VEf = valor do patrimônio líquido no conceito da firma
FCFt= fluxo de caixa livre no período t
WACC = custo médio ponderado de capital
D = somatório dos valores de mercado dos ativos e passivos financeiros na data da
avaliação
DAMODARAN (1997, p.296) descreve que "as diferenças entre o FCFF e FCFA advêm
primariamente dos fluxos de caixa associados com dívida - pagamentos de juros,
pagamento de principal e novos endividamentos - e outros direitos não relacionados ao
patrimônio, como dividendos preferenciais (no caso norte americano8). Para empresas
que mantêm um nível desejado de endividamento, que financiam suas despesas e
necessidades de capital de giro com essa combinação de dívidas e patrimônio e utilizam
os títulos de dívida emitidos para financiar pagamentos de principal, o FCFF será maior
do que o FCFA."
9
2.5. EXEMPLIFICAÇÃO DA DIFERENÇA ENTRE O VEA E VEF
8
Onde as ações preferenciais praticamente são, todas elas, do tipo dividendo fixo, sem participação nos lucros
remanescentes, funcionando muito mais como ações com direitos a juros do que com ações com direito a
dividendos.
9
Exemplo adaptado do livro Avaliação de Empresas: Da mensuração Contábil à Econômica de MARTINS,
et. al.(2001, p.276).
25
BALANÇO PATRIMONIAL (em $)
Como informação adicional, suponhamos que os ativos não operacionais têm, na data da
avaliação, valor realizável líquido de $ 60.000.
A dívida (financiamento) será liquidada em 10 anos. Vamos supor duas hipóteses para o
custo da dívida:
1) 4% ao ano;
2) 20% ao ano.
26
encerrando suas portas com o caixa de $ 10.000 (foi considerado o fechamento da
empresa para evitar o cálculo da perpetuidade ou da taxa de crescimento dos lucros e/ou
dividendos). Todo o lucro será distribuído ao final de cada ano. O excedente de caixa será
dado como devolução de capital. O custo do capital próprio (Ke) é de 15% ao ano.
Considerando a primeira hipótese (custo da dívida de 4%), teríamos no caso do valor dos
acionistas:
Receita Líquida 300.000 300.000 300.000 300.000 300.000 300.000 300.000 300.000 300.000 300.000
Custo dos Produtos Vendidos (200.000) (200.000) (200.000) (200.000) (200.000) (200.000) (200.000) (200.000) (200.000) (200.000)
Lucro Bruto 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000
Despesas Operacionais (63.000) (63.000) (63.000) (63.000) (63.000) (63.000) (63.000) (63.000) (63.000) (63.000)
Depreciação e Amortização (10.000) (10.000) (10.000) (10.000) (10.000) (10.000) (10.000) (10.000) (10.000) (10.000)
Despesas Financeiras (4.000) (4.000) (4.000) (4.000) (4.000) (4.000) (4.000) (4.000) (4.000) (4.000)
Lucro (Prejuízo) Líquido do Exercício 23.000 23.000 23.000 23.000 23.000 23.000 23.000 23.000 23.000 23.000
+ Depreciação/Amortização 10.000 10.000 10.000 10.000 10.000 10.000 10.000 10.000 10.000 10.000
FCF 33.000 33.000 33.000 33.000 33.000 33.000 33.000 33.000 33.000 33.000
FLUXO DESCONTADO @ 15% 28.696 24.953 21.698 18.868 16.407 14.267 12.406 10.788 9.381 8.157
Portanto, o valor presente dos fluxos futuros de caixa da empresa seria $ 165.619. O valor
presente do fluxo de caixa proveniente da liquidação dos ativos e passivos circulantes
($10.000) é de $2.472 e o valor realizável dos ativos não operacionais é, agora, de
$60.000. Assim, teríamos o valor do patrimônio líquido utilizando-se o conceito do
acionista, no valor de $ 228.091, montante 52% superior ao valor do patrimônio líquido
contábil de $150.000.
Para a segunda hipótese (kd =20%) teríamos o seguinte fluxo de caixa livre:
FLUXO DESCONTADO @ 15% 14.783 12.854 11.178 9.720 8.452 7.350 6.391 5.557 4.832 4.202
Esse seria o único valor diferente da alternativa que considera o custo da dívida como
4%. Portanto, o valor do patrimônio líquido seria de $147.791 (inferior ao PL contábil). A
tabela abaixo sumariza esses resultados:
27
Cálculo do VEa
(EM $) Kd=4% Kd=20%
Vale salientar que apesar dos resultados serem diferentes nas duas alternativas acima, a
capacidade de geração de lucro e de caixa dos ativos da empresa é a mesma nas duas
alternativas; o caixa operacional é o lucro líquido antes da depreciação e antes das
despesas financeiras, valor equivalente, portanto, a $ 37.000 ao ano.
28
os $ 272.884 de valor de ativos líquidos operacionais da empresa e o patrimônio líquido
de $ 147.792 na visão dos acionistas.
Resumidamente tem-se:
Assim, quem for vender, sabendo dessas informações, inclusive quanto ao custo de
oportunidade do adquirente, quererá colocar o " lucro" do valor da dívida no negócio, e
chegar aos $ 228.091 (valor para o acionista). Já o comprador tentará avaliar por $
172.884 (valor líquido da empresa). Talvez nessa faixa seja precificado o negócio.
Mas, e se essa dívida não for transferível? E se existir, contratualmente, seu vencimento
imediato caso a empresa seja alienada? Nesse caso, o valor da empresa não passa dos $
172.884.
Com a dívida de 20% ao ano (superior ao custo de oportunidade do capital próprio o que,
convenhamos, não deveria ocorrer), o comprador tentaria pagar os $ 147.792 (valor para
o acionista), atribuindo a ela seu valor presente de $ 125.093, e o vendedor tentaria
estimá-la no valor de hoje, de $ 100.000, pedindo os $ 172.884 pela empresa.
Se a dívida não pudesse ser resgatada antecipadamente, sob pena, por exemplo, de uma
multa de 50%, então a empresa não valeria mesmo mais do que os $ 147.791 (valor para
29
o acionista), apesar de seus ativos líquidos operacionais valerem $ 272.884 e a dívida ter
um valor contábil de $ 100.000.
Vale a pena salientar que por causa da influência do valor das dívidas, muitas empresas
têm seu valor de mercado aumentado quando entram em concordata.
Conceito da Firma
Conceito do Acionista
MARTINS, et. al.(2001,p. 280) ainda complementam seu exemplo ressaltando que:
" Outro ponto interessante é que no caso dos bancos comerciais, seu passivo é todo ele
praticamente operacional, ou seja, faz parte do negócio e não se vai, como regra, avalia-
lo à parte por não ser liquidável na aquisição. Daí, para a sua avaliação, não ser aplicável
o conceito do valor da empresa, e sim o valor para o acionista. "
MARTINS, et. al.(2001,p. 281) escrevem que " nessa categoria de modelos de avaliação
(fluxo de caixa descontado), as cinco principais variáveis são as seguintes:
30
1. fluxo relevante de caixa: o patrimônio de uma empresa vale aquilo que consegue
gerar de caixa no futuro;
2. período de projeção: o fluxo de caixa deve ser projetado para um espaço de tempo
que permita sua precisão com razoável confiança;
3. valor da perpetuidade ou residual: os fluxos de caixa não cobertos pelo período de
projeção devem ser quantificados (perpetuidade com ou sem crescimento ou valor
residual ou terminal);
4. condições do endividamento financeiro;
5. taxa de desconto: a taxa de juro usada para descontar fluxos de caixa ao seu valor
presente deve ser aquela que melhor reflita o custo de oportunidade e os riscos."
2.6.1.PERÍODO DE PROJEÇÃO
31
SILVA (2001, pg. 151) complementa dizendo que “a definição do período de tempo que a
previsão do fluxo de caixa levará em conta pode ser efetuada considerando uma série de
muitos intervalos (cem anos, por exemplo) ou diminuindo o número de intervalos (cinco ou
dez anos, por exemplo) e incluindo o valor da perpetuidade. O atual nível tecnológico
permite considerar uma longa série de intervalos (primeira alternativa) com relativa
facilidade. Assim procedendo, reduz-se o risco de equívocos relacionados com as
simplificações subjacentes aos modelos matemáticos, nem sempre óbvias.
Todavia, as projeções exigem a identificação dos componentes relevantes e o
desenvolvimento de hipóteses e perspectivas que sirvam de base para o estabelecimento
de cenários prováveis que serão experimentados pela empresa. Na medida que isso é
feito para um horizonte de tempo muito prolongado, muitos esforços de planejamento
serão despendidos para estimar variáveis cada vez mais incertas. Em termos práticos,
pode-se trabalhar com períodos de projeções que variam entre 5 e 10 anos, dependendo
do grau de previsibilidade das variáveis. Isso exige a inclusão do valor estimado da
perpetuidade.”
Conclui-se, então, que há um trade off entre o período de projeção dos fluxos de caixa, o
uso da perpetuidade, os esforços provenientes de projeções longas e a acurácia do
modelo. Em termos práticos, o que tem sido mais usual, na percepção do que é utilizado
no mercado, é a projeção do fluxo de caixa para um período de cinco a dez anos, seguido
do cálculo a valor presente da perpetuidade.
2.6.2. PERPETUIDADE
32
muito pessimistas ou excessivamente otimistas. A fórmula para o cálculo da perpetuidade
é dada por:
FCFt × (1 + g )
Perpetuidade =
WACC − g
Onde,
FCFt = Fluxo de Caixa Livre no último período da projeção;
WACC = custo médio ponderado de capital; e
g = taxa de crescimento do fluxo de caixa livre.
Custo de capital é definido por ROSS, WESTERFIELD e JAFFE (1997, p.254) como o
retorno que a empresa deve obter em sua aplicação de capital para não sair perdendo e
pode ser interpretada como o custo de oportunidade associado à aplicação de capital pela
empresa. Se uma empresa está disposta a iniciar um novo projeto, ele terá um valor
presente líquido positivo somente se sua taxa de retorno for superior ao que outras
alternativas10 oferecem em aplicações de riscos similares. Esse retorno mínimo exigido é
10
Alternativas não necessariamente vinculadas com o mercado financeiro.
33
chamado de custo de capital associado ao projeto. Quando se expande esse conceito
para a empresa como um todo, pode-se dizer que o seu custo de capital é o retorno
exigido da empresa. É o que chamamos de custo médio ponderado de capital (WACC). É
médio e ponderado porque uma empresa pode conseguir inúmeras maneiras para a
captação de recursos e esses recursos podem ter custos diferentes.
D1 D2 Dn D0 (1 + g ) D0 (1 + g ) 2 D0 (1 + g ) n
P0 = + + = + +
(1 + r ) (1 + r ) 2 (1 + r ) n (1 + r ) (1 + r ) 2 (1 + r ) n
D0 × (1 + g ) D1
P0 = =
KE − g KE − g
D1
KE =
P0 + g
34
Como K E é o retorno exigido pelos acionistas podemos considerá-lo como o custo de
capital próprio da empresa.
Com esses dados e algumas estimações podemos calcular o custo do capital próprio
exigido com os acionistas. Para se fazer essas estimações podemos utilizar os dados
históricos ou nos basearmos em previsões do mercado. Existem vantagens e
desvantagens na aplicação desse método. Uma grande vantagem é a simplicidade na sua
utilização, porém alguns problemas práticos ocorrem na sua aplicação. Um problema
evidente é quando erramos nossa estimação da taxa de crescimento. Outro é que
devemos aplicá-lo em casos em que os dividendos cresçam a uma taxa relativamente
constante e uniforme dos dividendos. E finalmente, esse modelo não considera o risco do
crescimento da taxa estimada de maneira explícita.
A SML traça o relacionamento entre risco e retorno para os ativos existentes no mercado.
E como o modelo considera o equilíbrio entre todos os ativos existentes no mercado, a
11
Linha de mercado de títulos - maiores detalhes no livro Corporate Finance de Stephen Ross (1995)
35
SML descreve a relação risco-retorno entre todos eles. As figuras abaixo demonstram
esse fato:
A partir do enfoque da SML, e de que todos os ativos estão sobre ela situados, pode ser
feita a seguinte relação:
E ( RE ) − R f
= [ E ( Rm ) − R f ]
βE
onde,
E ( RE ) = Retorno esperado do ativo;
R f = Taxa de retorno do ativo livre de risco;
36
β E = Beta do ativo;
E ( Rm ) = Retorno esperado de mercado.
E ( R E ) = R f + β E × [ E ( Rm ) − R f ]
Esse resultado é idêntico ao famoso CAPM (capital asset pricing model) e demonstra que
o retorno esperado de um ativo depende de três fatores (ROSS, WESTERFIELD e
JAFFE, 1995, p.252):
O valor puro do dinheiro no tempo, medido pela taxa livre de risco - esta é a
recompensa por simplesmente esperar pela devolução de seu dinheiro aplicado,
sem risco;
A recompensa por assumir risco sistemático - medido pelo prêmio por risco da
carteira de mercado, [ E ( Rm ) − R f ] . Esse componente é a recompensa que o
Usando esse enfoque, podemos estimar o retorno requerido pelos agentes de mercado
pela aplicação de seu capital em determinado ativo. Omitindo os operadores da
esperança matemática, chegamos a:
K E = R f + β E × ( Rm − R f )
onde,
K E = custo do capital próprio.
Para a utilização desse enfoque é preciso que se conheça uma taxa livre de risco, uma
estimativa do prêmio por risco da carteira de mercado e uma estimativa do beta relevante.
37
Podemos nos basear nos dados históricos do mercado financeiro de empresas que atuem
no mesmo setor da economia e teremos uma medida mais voltada a realidade das
empresas.
K E é possível o cálculo do custo de capital total de uma empresa. Esse custo total é
chamado mais corretamente de custo médio ponderado de capital (WACC).
38
pagos 10% de juros e 30% de imposto de renda, o verdadeiro custo é de 1000x0.1x(1-
0.3)/1000, que é igual a 0.07 ou 7%. Chamaremos a alíquota de imposto de renda de T.
Para clarificar um pouco mais o efeito positivo decorrente da exclusão dos juros
incidentes sobre o capital de terceiros suponhamos o seguinte:
• Uma empresa faz um financiamento no início do ano de $ 1.000, no qual pagará
10% de juros anuais, com prazo de 5 anos;
• A empresa tem uma política de dividendos de 35% do seu lucro operacional antes
dos juros e do imposto de renda (EBIT);
• A taxa do imposto de renda é de 30%.
= Acréscimo/(Decréscimo) no PL 0 (30)
39
se tem que E(capital próprio) mais D(capital de terceiros) deve ser igual a V(valor
combinado de mercado do capital de terceiros e do capital próprio). Fazendo essa
intersecção chega-se a:
100%=D/V+E/V
O WACC é o retorno que a empresa deve obter sobre seus ativos para manter o mesmo
valor de suas ações. Também é o retorno exigido sobre qualquer investimento da
empresa que possua o mesmo risco das operações da empresa. Foi comentado sobre a
taxa de desconto que deve ser utilizada pela empresa na avaliação de seus fluxos de
caixa. O WACC é a taxa mais apropriada para se utilizar quando os fluxos de caixa
possuem riscos semelhantes aos da empresa como um todo. O problema, todavia, reside
na necessidade de se admitir a manutenção, pela vida toda, dessa proporção entre capital
próprio e de terceiros.
Embora tenha suas origens teóricas fundamentadas na década de 60, o modelo como é
hoje conhecido foi formulado por Ohlson em 1995. De acordo com o modelo de avaliação
baseado no fluxo descontado de dividendos:
12
Tópico baseado no artigo: O Modelo de Avaliação de Empresas de Edwards-Bell-Ohlson (EBO) – Aspectos Práticos e
Teóricos, de autoria de FAMÁ, Rubens e LEITE, Eduardo. VI SEMEAD. São Paulo, 2003.
40
∞
P0 = ∑
dt
t =1 (1 + r )t (0.1)
onde,
P0 = Valor de mercado de uma companhia
dt = Dividendos no período t
r = ke = taxa de retorno requerida
A principal premissa do EBO é o conceito de clean surplus que impõe que todas as
transações que, com exceção das transações com os acionistas, modifiquem o patrimônio
líquido da companhia, passem pelas contas de resultado. A partir daí é apresentado o
clean surplus relationship, dado pela expressão:
Bt = Bt −1 + Et − dt ⇒ dt = Et − ( Bt − Bt −1 )
(0.2)
onde,
∞ Et − ( Bt − Bt −1 )
P0 = ∑
t =1 (1 + r )t (0.3)
41
E1 − ( B1 − B0 ) E2 − ( B2 − B1 ) ∞ Et − ( Bt − Bt −1 )
P0 = + +∑
(1 + r ) (1 + r ) 2
t =3 (1 + r )t
⎡ E rB0 ⎤ ⎡ E2 rB1 ⎤ ∞ Et − ( Bt − Bt −1 )
(1 + r ) ⎥⎦ ⎢⎣ (1 + r ) (1 + r ) (1 + r ) (1 + r )2 ⎥⎦ ∑
B1 B2 B1
=⎢ 1 − + B0 − ⎥+⎢ − + − ⎥+
⎢⎣ (1 + r ) (1 + r ) (1 + r )t
2 2
t =3
⎡ E − rB0 ⎤ ⎡ E2 − rB1 ⎤ ( t t −1 )
∞ E − B −B
∑
B2
= B0 + ⎢ 1 ⎥+⎢ ⎥ − + t
⎢⎣ (1 + r ) ⎥⎦ ⎢⎣ (1 + r ) ⎥⎦ (1 + r ) (1 + r )t
2 2
t =3
∞
Et − rBt −1
P0 = B0 + ∑
t =1 (1 + r )t (0.4)
∞
( ROE t − k e ) × Bt −1
P0 = B 0 + ∑ (0.4.1)
t =1 (1 + k e ) t
onde,
ROE = Retrono sobre o Patrimônio Líquido
Ke = r = taxa de retorno requerida ou custo do capital próprio
O numerador desse somatório pode ser definido como o lucro residual (ou lucro anormal)
para escrever a fórmula básica do modelo EBO:
∞
Eta
P0 = B0 + ∑
t =1 (1 + r )t (0.5)
O valor patrimonial da firma é composto por seu valor contábil mais o valor presente de
todos os seus lucros extraordinários (acima da remuneração exigida pelos acionistas)
futuros. Até aqui é possível argumentar se esse modelo não sofre dos mesmos problemas
dos modelos baseados em fluxos descontados: a estimação de um termo contínuo.
42
A grande diferença está no fato dos testes empíricos demonstrarem que os lucros
extraordinários convergem para zero rapidamente na maioria dos casos, podendo o valor
patrimonial ser avaliado da seguinte forma:
P0 = B0 + ∑
T
Eta
+
( PT − BT )
t =1 (1 + r ) t
(1 + r )T
Onde o período de estimação explícita (T) pode ficar entre 5 e 10 anos e o último termo
da equação representa o valor presente do prêmio de mercado acima do valor contábil.
Esse fato pode ser explicado por:
∞ ∞
Eta Eta PT − BT
PT = BT + (1 + r ) ∑ ∑
T
⇒ =
t = T +1 (1 + r ) t
t = T +1 (1 + r ) t
(1 + r )T
Os autores argumentam que mesmo que uma empresa consiga proteger suas fontes de
lucros extraordinários por muito tempo através de patentes e licenças exclusivas, é
improvável que continue gerando novas fontes de lucros extraordinários indefinidamente.
Portanto, os lucros realizados seriam reinvestidos em taxas “normais” de rentabilidade. É
justamente essa propriedade de convergência que torna o modelo EBO tão atraente.
43
A figura anterior, extraída de PENMAN e NISSIN (1999), mostra como a mediana do lucro
residual de 10 carteiras formadas por diferentes empresas, ordenadas inicialmente pelo
lucro residual, converge rapidamente para zero.
A aplicação desse modelo pode ser feita independente das regras contábeis adotadas
pela empresa. Devido à natureza autocorretiva da contabilidade, as distorções são
compensadas ao longo do tempo de forma que se tornam irrelevantes. Por exemplo, se o
valor do patrimônio inicial (B0) for alto, então o termo (rBt) dos lucros anormais serão
menores. O contrário também é verdade. Isso não significa que o método contábil é
irrelevante.
O maior problema teórico do modelo de lucros residuais diz respeito à não manutenção
da equação de alocação de lucros no nível das ações13. Para que essa relação seja
mantida, é preciso que: (i) a quantidade de ações em circulação seja constante; e (ii) o
preço de emissão de novas ações seja igual ao valor contábil das ações existentes (book
value per share - bvps). É muito improvável que essas condições ocorram na maioria das
empresas negociadas em bolsa.
13
Ohlson [2000]
44
A importância desse modelo nas novas teorias contábeis é abordada por LOPES (2002,
p. 107):
“Assim, verifica-se que o modelo apresentado permite, de acordo com as premissas
estabelecidas, avaliar o valor de mercado da empresa por meio de variáveis contábeis,
sem que haja dependência direta do modelo contábil adotado. Esse resultado é
fundamental para a teoria contábil moderna na medida em que realiza uma ligação
importante entre a informação emanada pela contabilidade e a moderna teoria de
finanças. Essa relação traz para a contabilidade uma importância grande na avaliação de
organizações. Esse novo papel da contabilidade não está baseado em considerações
normativas, mas em uma dedução analítica lógica dentro do mainstream da teoria de
finanças.”
"O valor de mercado estimado de uma empresa não deveria ser afetado pelo método de
avaliação utilizado, então se torna importante assegurar que os métodos de valuation
sejam conceitualmente equivalentes uns com os outros", relata PLENBORG (2002, p.6).
BERNARD (1995) documenta que empregando somente os primeiros quatro anos dos
dados previstos, o método EBO explica 68% do preço da ação de uma empresa,
enquanto a metodologia do fluxo de dividendos explica somente 29%. PLENBORG
45
(1999), encontrou resultados similares quando comparou as informações relativas ao
fluxo de caixa e lucros de empresas dinamarquesas, dizendo que quatro anos de lucros
acumulados explicam 22% da variação do preço das ações das empresas, enquanto que
para o mesmo período de tempo os fluxos de caixa livres acumulados explicam menos
que 1% da variação do preço das ações. PLENBORG (2002, p.9) conclui que "esses
resultados indicam que o período de projeção necessário na metodologia EBO é menor
do que o necessário nas metodologias de DCF e fluxo de dividendos descontados."
Os estudos de PENMAN e SOUGIANNIS (1998) e FRANCIS et. al. (2000) sugerem que
a metodologia EBO reflete um valor mais acurado da empresa do que as metodologias do
FD e do DCF. No entanto, essa conclusão é oposta à de equivalência teórica entre os
modelos, que deveriam resultar nos mesmos valores estimados para a firma. PLENBORG
(2000) aponta que esses três métodos de avaliação resultam no mesmo valor estimado
de uma empresa na prática se as mesmas premissas forem aplicadas. Ainda segundo
PLENBORG (2002, p.10) "isto indica que nem PENMAM e SOUGIANNIS nem FRANCIS
et. al. consideraram que as mesmas premissas precisam ser aplicadas. O exame dos
métodos por eles aplicados também demonstra essa afirmação. Por exemplo, a taxa de
crescimento utilizada para a estimação do valor terminal foi escolhida arbitrariamente
entre zero e quatro por cento em ambos os estudos. Então, a ligação entre as
demonstrações financeiras consolidadas e os inputs nos diferentes métodos de avaliação
provavelmente é inconsistente. Além disso, ambos os estudos parecem ignorar que o
crescimento geralmente afeta o fluxo de caixa negativamente.Eles ajustam a taxa de
crescimento sem o correspondente ajuste no fluxo de caixa. Finalmente, a metodologia do
DCF mensura o valor da firma de uma perspectiva do acionista e do financiador (VEf)
46
enquanto a metodologia do lucro residual (EBO) mensura o valor da firma na perspectiva
do acionista (Vea)". Pode-se, então, dizer que quando aplicadas de modo consistente, as
metodologias do DCF e EBO deveriam resultar em estimativas iguais para o valor da
empresa.
PLENBORG (2002, p.10) continua seu raciocínio dizendo que "embora os testes feitos por
PENMAN e SOUGIANNIS (1998) e FRANCIS et. al. (2000) não sejam melhores do que
as premissas em que estão baseados, seus resultados provêem algumas percepções
interessantes na avaliação da firma. Se a metodologia de valuation não for
adequadamente empregada (como na utilização da taxa de crescimento nos cálculos do
valor terminal), os métodos resultam em estimativas diferentes para o valor da empresa."
Esse ponto também é abordado por OLSSON (1998, p.12): " ... tipicamente são feitas
diferentes premissas simplificadoras no decorrer da implementação de diferentes modelos
- e diferentes premissas podem causar diferenças substanciais nos resultados das
estimações."
As simplificações que foram citadas por PLENBORG (2002) e que causam viés nas
estimativas do valor da firma são as seguintes:
Nesse sentido, pode ser dito que é bastante difícil preterir algum dos métodos citados,
dizendo qual deles seria superior. Contudo, a desadequação dos parâmetros necessários
nas metodologias do DCF e do EBO afetam a estimativa do valor das empresas. Para
47
PLENBORG (2002, p.19) ."... o impacto desses tipos de simplificações nas premissas dos
modelos é mais significativo quando a metodologia do fluxo de caixa descontado é
utilizada, em comparação à metodologia do lucro residual."
Assim, pode-se dizer que o DCF, ao ter uma forte influência do valor terminal, recebe
maior impacto das premissas adotadas nas taxas de desconto do que a metodologia EBO
que tem como componente o valor do patrimônio líquido contábil na data da avaliação.
Pelo exposto até aqui, pode ser dito que um aspecto importante, se não essencial, é a
qualidade das projeções dos fluxos. As variáveis a serem projetadas no DCF e no EBO
são diferentes, o que implica que os analistas devem se focar em diferentes aspectos
quando estão conduzindo a valoração de uma empresa seguindo alguma dessas
metodologias. O ROE ("retorno sobre o patrimônio líquido") é um indicador baseado em
números contábeis e, como foi visto no tópico 2.7, na equação 0.4.1, é uma das variáveis
a ser utilizada na valuation pelo método EBO, enquanto o FCF é parte essencial na
metodologia do DCF. Alguns estudos têm examinado a predição dos lucros e do fluxo de
caixa. PLENBORG (1996) relatou que as séries relativas aos lucros são mais estáveis
que diversas medidas de fluxo de caixa, incluindo o fluxo de caixa livre. SHROFF (1998)
constatou que os lucros têm variância menor, maior correlação com os retornos e maior
habilidade de predição para retornos do que o fluxo de caixa. DECHOW, KOTHARI e
WATTS (1998) descobriram que os lucros presentes são uma melhor previsão do fluxo de
caixa futuro do que o fluxo de caixa presente.
48
de demonstrações financeiras. Então, como a base das projeções está em números
contábeis, e no regime de competência, parece lógico estimar o valor das empresas com
base em conceitos e índices financeiros derivados da contabilidade por regime de
competência e da análise de demonstrações financeiras, o que favorece o método EBO.
4. CONCLUSÕES
Finalmente, pode ser dito que é difícil apontar a superioridade de um dos métodos
citados, pois cada um tem seus pontos fortes e fracos e se adaptam de maneira diferente
em situações distintas. Nesse sentido, para a realidade brasileira, há um espaço grande
de pesquisa empírica a ser explorado na tentativa de consolidar os diferentes métodos de
valuation.
49
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