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O Luteranismo

No próximo dia 31 de outubro comemora-se os 491 anos da chamada ‘Reforma


Protestante’, um importantíssimo acontecimento religioso, iniciado em 1517 contra
os absolutistas poderes da igreja católica romana, daquela época

Luiz Mardos Cavalcante


Advogado. Leigo católico
luizmardos@uol.com.br
artigos, igrejas, teologia, mov sociais
brasil

No próximo dia 31 de outubro comemora-se os 491 anos da chamada ‘Reforma


Protestante’, um importantíssimo acontecimento religioso, iniciado em 1517 contra
os absolutistas poderes da igreja católica romana, daquela época. Na qualidade de
mero leigo católico, considero que a Reforma contribuiu para balizar e disseminar
as liberdades de culto religioso, demais liberdades de consciência e a consolidação
do renascimento humano em todo Ocidente.

ORIGEM E EVOLUÇÃO

O líder inspirador da Reforma Protestante foi o sábio monge católico e agostiniano


Martinho Lutero, nascido em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, Saxônia-
Turíngia, na Alemanha. Ordenado sacerdote, em 1507, em 1510, foi enviado a
Roma para tratar de assuntos da sua ordem agostiniana junto à Cúria Romana.
Homem extremamente íntegro e de elevada cultura humanística, ali chegando,
ficou chocado com a frivolidade, o nepotismo e a corrupção. Em decorrência disso,
começaram suas divergências com o papa e o alto clero da igreja romana de então.
Tal ruptura, ocorrida em 1517, foi marcada por sua grande coragem em publicar as
95 teses, afixadas na histórica catedral de Wittenberg, nas quais preconizava a
reforma no interior da igreja católica. No ano seguinte, 1518, Lutero teve a
imensurável ousadia de se contrapor ao todo poderoso sumo pontífice Leão X e
seus intermediários cardeais de então, que angariavam insaciáveis lucros pelas
vendas de indulgências aos fiéis, enquanto absolvia seus pecados. Estudou muito a
igreja primitiva; porém, sua proposta não era criar a ‘igreja protestante’,
denominação essa surgida somente em 1529. Esse doutor em teologia pretendia
renovar a igreja católica, pois para ele, a igreja cristã precisava de quatro pilares
ou princípios, sem os quais desmoronaria: 1. Graça; 2. Fé; 3. Escritura; 4. Cristo.

A resposta da igreja católica às suas ‘95 Teses’ (link para arquivo com as teses
salvo em ediane) foi a excomunhão; porém, manteve-se convicto do mais puro
cristianismo e iniciou a tradução da Bíblia para o alemão para que todo povo leigo e
não somente os privilegiados latinistas clérigos tivessem direito de ler os
evangelhos.

Em 1546, Lutero deu o último suspiro e o ar da sua magnânima existência


transformou-se num invencível vento que se irradiou e contagiou para toda terra.
Lutero é legado universal e irrestrito, não só dos luteranos, dos cristãos, de outros
religiosos, inclusive católicos, como eu, mas também de todo cidadão e cidadã que
ousa se levantar conta o absolutismo, a força e o terror, sem desmoronar.

Em 1555, uma grande vitória aconteceu, a paz de Augsburg, na qual o imperador


do sacro império romano-germânico reconheceu que naquele território havia duas
diferentes confissões: a católica e a luterana e, com isso, o luteranismo ficou
estabelecido no centro e no norte da Alemanha e nos países escandinavos, de onde
depois se expandiu para outros países da Europa e depois para outros Continentes.
Além do luteranismo, a igreja reformada ou o protestantismo se subdividiu em
outros ramos (calvinismo, presbiterianismo, anglicanismo, etc). O luteranismo é a
irmã primogênita e as pentecostais ou neopentecostais as mais recentes, muito
disseminadas no Brasil, como a Assembléia de Deus, Igreja Universal entre outras.

O LUTERANISMO NO BRASIL

Os primórdios do luteranismo no Brasil remontam à imigração alemã, resultado da


política imperial brasileira de colonização. Os primeiros grupos se fixaram em Nova
Friburgo – RJ, em 1823, portanto, há mais de 184 anos; e em São Leopoldo – RS,
em 1824, formando comunidades, que, hoje, constituem a Igreja Evangélica de
Confissão Luterana no Brasil (IECLB), com sede em Porto Alegre – RS. Mas,
existem outras comunidades luteranas (Igreja Evangélica Luterana do Brasil - IELB,
fundada há mais de cem anos, em São Pedro, no Rio Grande do Sul, criada por
missionários estadunidenses, provenientes do Estado de Missouri, bem como outras
igrejas luteranas de menor porte, tais como a Igreja Luterana Livre, Igreja
Luterana Finlandesa do Brasil e outras de orientação pentecostal ou
neopentecostal).

A ação diaconal da IECLB, realizada através das áreas de apoio & solidariedade;
desenvolvimento e formação de comunidades; saúde comunitária; formação de
grupos; educação popular; assistência; defesa dos Direitos Humanos; cidadania
tem se colocado a serviço de pessoas empobrecidas; crianças e adolescentes em
situação de risco social; idosos; pessoas com deficiência; mulheres; mães sozinhas;
pessoas enfermas; dependentes químicos; movimentos populares (1).

EXPERIÊNCIA NA IGREJA LUTERNA

Conheci a igreja luterana, ou mais precisamente a IECLB em novembro de 1993,


quando, na condição de advogado, fui contratado pelo Conselho Indigenista
Missionário para assessorar juridicamente um campo de trabalho dessa igreja na
Amazônia, junto às comunidades indígenas, onde permaneci, até fins de 1996. A
princípio, morei em Cacoal, município do Estado de Rondônia, trabalhando junto
aos Povos Indígenas Suruí, Cinta Larga e Zoró, que habitavam na região do
Aripuanã, situado nos territórios de Rondônia e Mato Grosso; depois me mudei com
minha família para Porto Velho, capital daquele Estado, onde meu trabalho se
estendeu a outras etnias indígenas da região.

Em Rondônia, a presença luterana é muito importante, sendo constituída por


descendentes de imigrantes alemães, originários principalmente do Espírito Santo e
de outros Estados do sul do Brasil. Apesar das minhas atividades terem sido
estritamente técnico-jurídicas em relação às demandas indigenistas juntos às
associações indígenas ou indigenistas, aos órgãos de proteção dos mesmos, como
FUNAI, Procuradoria da República e Justiça Federal, etc. num contexto de
devastação ecológica, conflitos de terras etc., convivi estreitamente com os
luteranos; passeava pelas suas produtivas colônias com belas casas ajardinadas,
onde era recebido com muito calor humano por onde passava. Observava bem a
simplicidade dos seus pastores, cuja formação acadêmica é elevada, e que
desempenhavam papel extraordinário na integração das comunidades. Lá, naquele
Estado, percebia que a grande marca dos luteranos era a comunhão e a partilha
entre toda a comunidade. Jamais vi qualquer proselitismo ou fanatismo religioso, o
que muito me impressionou; ao contrário, apenas espaço aberto, participativo e
convidativo, além de muitas ações conjuntas de naturezas ecumênicas com outras
igrejas, sobretudo com a igreja católica, que não apenas naquela região, mas em
todo Brasil vive, há muito tempo, sob os reflexos de uma nova prática religiosa,
com base no Concílio Vaticano II, das Conferências de Medellín e de Puebla e da
CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), numa postura de espiritualidade
integral, a partir da realidade e da problemática local, o que sempre favoreceu a
organização dos indígenas e da sociedade civil envolvente.

IGREJA LUTERNA EM FORTALEZA

Há mais de dez anos foi fundada a igreja luterana em Fortaleza. Desde o início
acompanhei a luta para a congregação da comunidade fortalezense que, a princípio,
se reunia nas casas dos membros luteranos; depois, com a edificação do templo em
um bairro periférico, a igreja, além de abrigar os cultos religiosos, é também um
local de apoio às comunidades adjacentes carentes que, sem dúvida nenhuma,
muito intercambiaram cultural e espiritualmente com os luteranos.

Por fim, ante esse significativo aniversário, expresso os meus votos de felicidade e
de prosperidade para todos luteranos. E, em reconhecimento, agradeço pela
sempre cordial acolhida dessa confissão, sobretudo ao reverendíssimo Pastor
Marcos Antonio Rodrigues, que, há poucos dias, com muita espiritualidade e poesia,
celebrou os 80 anos da minha mãe, o que deixou nossa família Cavalcante em
estado de graça.

Nota:

(1) Conferir em www.luteranos.com.br]

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