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COMENTÁRIOS TÉCNICOS E CONTRIBUTOS OPP
Contributo OPP
Livro Branco – O Presente e o Futuro do SNS
O presente documento surge como iniciativa da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) e
enquanto contributo para o desafio lançado pelo Governo com o objectivo de promover a reflexão e
a construção de um Livro Branco subordinado ao tema “Presente e Futuro do Serviço Nacional de
Saúde”.
A OPP é uma associação pública profissional que representa e regulamenta a prática dos
profissionais de Psicologia que exercem a profissão de Psicólogo em Portugal (de acordo com a Lei
nº 57/2008, de 4 de Setembro, com as alterações da Lei nº 138/2015, de 7 de Setembro). É missão
da OPP exercer o controlo do exercício e acesso à profissão de Psicólogo, bem como elaborar as
respectivas normas técnicas e deontológicas e exercer o poder disciplinar sobre os seus membros.
As atribuições da OPP incluem ainda defender os interesses gerais da profissão e dos utentes dos
serviços de Psicologia; prestar serviços aos membros em relação à informação e formação
profissional; colaborar com as demais entidades da administração pública na prossecução de fins de
interesse público relacionados com a profissão; participar na elaboração da legislação que diga
respeito à profissão e nos processos oficiais de acreditação e na avaliação dos cursos que dão acesso
à profissão.
Neste sentido, a OPP julga pertinente oferecer um contributo para a reflexão e a discussão em
torno do Presente e do Futuro do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Começamos por analisar alguns
desafios, actuais e futuros, que se colocam à Saúde em Portugal, no geral, e depois, ao papel da
Psicologia e aos Psicólogos, em particular.
Entre esses desafios, ocupa lugar de destaque a Saúde, uma vez que constitui um elemento crucial
da qualidade de vida de uma população saudável e é, inegavelmente, um componente fundamental
de uma economia e de uma sociedade sustentáveis e prósperas. A produtividade económica, o
desempenho educativo, o envolvimento cívico e a cidadania activa, assim como a resiliência social
dependem da Saúde da população.
Os desafios de Saúde que enfrentamos são complexos, multinível e multifacetados. Não existem
soluções simples nem isoladas para as doenças crónicas, a obesidade, os problemas de Saúde
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O aumento da esperança média de vida e do número de anos que vivemos já está a transformar a
sociedade e a economia, levantando diversas questões que vão desde o financiamento dos cuidados
de saúde, às medidas de protecção social ou às dimensões que é necessário promover para que a
qualidade de vida e o bem-estar acompanhem o prolongamento da vida.
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Cada vez mais a velhice traz também sintomas de Demência. Segundo o relatório de Saúde mais
recente (OECD, 2017), Portugal é o quarto país da OCDE com mais casos de Demência, com 19,9
casos por mil habitantes – um valor superior à média dos 35 países avaliados. Estima-se que existam
182 mil portugueses com Demência e que, em 2037, a prevalência das Demências em Portugal
aumente para os 32,5 por mil habitantes. Esta realidade acarreta custos muito elevados, reflectindo
uma sobrecarga para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e para a economia das famílias. Assume-se
que as Demências sejam a principal causa de gastos na Saúde relativas a indivíduos acima dos 65
anos. Em 2015 estimou-se que 76.250 portugueses diagnosticados com Demência receberiam
fármacos anti demenciais, representado um encargo financeiro de 37 M€/ano.
Para além de uma pirâmide demográfica envelhecida, há que constatar ainda o desequilíbrio entre a
natalidade desejada e o índice de natalidade em Portugal.
As evidências científicas sobre o impacto dos comportamentos e estilos de vida nas principais causas
de mortalidade e morbilidade são contundentes. Sabemos que comportamentos como fumar,
consumir álcool em excesso, hábitos alimentares pouco saudáveis, falta de exercício físico e
comportamentos sexuais de risco podem contribuir determinantemente para um elevado número
de doenças.
Por exemplo, entre os principais factores de risco para o aparecimento da Diabetes, quer nas
crianças quer nos adultos, estão os hábitos de exercício físico e alimentares, assim como o excesso
de peso. A Diabetes (tipo 2) constitui um dos grandes desafios de Saúde Pública que enfrentamos
hoje em dia e é, em larga medida evitável: a adopção de estilos de vida saudável, que incluam a
prática de actividade física e uma alimentação equilibrada, pode evitar cerca de 70% dos casos de
Diabetes. Neste sentido, poder-se-ia eliminar ou reduzir esta doença através da facilitação de
mudanças comportamentais e da adopção de estilos de vida saudáveis.
AS DNT são responsáveis pela perda potencial de 3,4 milhões de anos de vida produtivos nos países
da União Europeia e explicam mais de 70% dos custos de Saúde da OECD. Na Europa causam quase
86% das mortes e 77% do encargo com a doença, aumentando a pressão nos sistemas de Saúde, no
desenvolvimento económico e no bem-estar de grande parte da população, particularmente aquela
com mais de 50 anos. Simultaneamente são responsáveis pelo aumento das desigualdades em
Saúde e estão associadas a um gradiente socioeconómico e a diferenças de género significativas.
Estas doenças desenvolvem-se mais cedo nas populações vulneráveis e levam à morte mais
precocemente e mais frequentemente.
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fica claro que só é possível garanti-la intervindo naqueles que são os determinantes sociais e
comportamentais do bem-estar e da Saúde dos cidadãos.
Se, como vimos, a Saúde depende e é influenciada por um conjunto de determinantes sociais e
comportamentais que abrangem todas as áreas da sociedade – desde a política, à economia, ao
ambiente ou à educação – então, a Saúde deve ser tida em consideração em todos os sectores da
sociedade e sempre que são tomadas decisões importantes, as consequências para a Saúde devem
ser ponderadas.
A própria Organização Mundial da Saúde (OMS, 1946) define Saúde enquanto um “estado de bem-
estar físico, mental e social completo e não meramente a ausência de doença”. E, portanto, a
amplitude deste estado de bem-estar vai muito para além daquilo que o sector da Saúde pode
proporcionar sozinho.
A Saúde não pode ser enquadrada isoladamente, as perspectivas focadas exclusivamente na Saúde
devem ser alargadas a perspectivas mais holísticas e multinível. A capacidade de influenciar os
determinantes sociais e comportamentais da Saúde implica a colaboração intersectorial, implica
que outros sectores reconheçam o impacto do seu trabalho na Saúde e destruam os silos existentes,
construindo e integrando novas parcerias que promovam a Saúde, a equidade e a sustentabilidade.
É necessário um compromisso de todas as áreas de governação com a Saúde numa abordagem
“Saúde em todas as políticas”.
Para além de acções do governo e dos decisores dos diferentes sectores sociais, a promoção da
Saúde envolve ainda acções de indivíduos, famílias, comunidades, organizações e influenciadores
sociais.
Dentro e fora do SNS é necessário apostar nas acções de prevenção, de promoção da Saúde e do
desenvolvimento das pessoas. Não sendo viável desenvolver um sistema de Saúde sustentável sem
capacitar os profissionais de Saúde e os cidadãos para os comportamentos e competências de
prevenção e promoção da Saúde, é imperativo mudar o paradigma remediativo actual. É
fundamental proporcionar, de modo planeado e sistemático, meios para que os profissionais de
Saúde, os cidadãos, as famílias e as comunidades possam actuar em prol das mudanças sociais
necessárias, da superação das desigualdades e da melhoria das condições e qualidade de vida, quer
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Estas medidas e os resultados que podem produzir estão inextricavelmente relacionados, fazendo
parte de uma solução complexa que envolve a mudança de comportamentos.
A Literacia e Educação para a Saúde dizem respeito à forma como os indivíduos compreendem
informação acerca da Saúde (Física e Psicológica) e dos cuidados de Saúde e de como a aplicam às
suas vidas, utilizando-a para tomar decisões e interagir com os profissionais de Saúde. A literacia
para a saúde está relacionada com a capacidade de autogestão da doença e outros resultados de
saúde, constituindo também o primeiro passo para promover a participação e o empowerment dos
cidadãos para que realizem escolhas e decisões de saúde de modo informado e se envolvam
activamente nas decisões que impactam a sua Saúde (incluindo a definição de políticas e serviços de
Saúde). Este representa ainda um elemento chave para assegurar a acessibilidade dos Serviços de
Saúde e melhorar a capacidade do SNS para responder a desafios de Saúde emergentes. O acesso à
informação e ao conhecimento, no geral, e a Literacia em Saúde, em particular, são pré-requisitos
para uma sociedade que se quer manter saudável.
As competências enumeradas são essenciais para adoptar e manter estilos de vida saudáveis
(sobretudo no que diz respeito à alimentação e ao exercício físico) que, por sua vez, são essenciais
no processo de envelhecimento activo. Por isso, para além da promoção de competências
transversais de vida e de autocuidado, as estratégias de promoção de estilos de vida saudáveis e do
envelhecimento activo passam, por exemplo, por desmistificar crenças erróneas e preconceitos,
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Estas medidas de capacitação e cidadania activa devem ser implementadas não apenas no
contexto da Saúde, mas nos diversos contextos de vida dos cidadãos: laboral, escolar, social e
comunitário. Por isso, é fundamental estabelecer parcerias com autarquias, escolas e empresas,
por exemplo, que permitam capitalizar e dinamizar localmente os esforços de prevenção e
promoção da Saúde junto dos cidadãos.
Garantir uma abordagem da Saúde Mental e Psicológica ao longo de todo o ciclo de vida,
desde medidas que tenham como objectivo prevenir e gerir os problemas de Saúde
(Psicológica) Materna durante a gravidez e o pós-parto; aos programas de apoio às famílias
e ao desenvolvimento de competências parentais; à estimulação do envelhecimento activo.
Promover a paridade de estima entre a Saúde Mental e Psicológica e a Saúde Física, uma
vez que não há Saúde sem Saúde Mental e Psicológica.
Reforçar o papel e a relevância dos Primeiros Socorros Psicológicos, de modo a que possa
existir um apoio psicológico de primeira linha para cidadãos afectados por acontecimentos
de crise, enquanto parte dos cuidados básicos de Saúde. Os Primeiros Socorros Psicológicos
promovem o funcionamento adaptativo dos cidadãos confrontados com um acontecimento
de crise, assim como a redução dos factores de risco para o desenvolvimento de problemas
de Saúde Mental e Psicológica.
1.3.2. Demências
Estratégias de prevenção e redução dos factores de risco. Uma vez que os estilos de vida
contribuem significativamente para o risco de desenvolver uma Demência, é necessário
ajudar a população a modificar os seus comportamentos e a adoptar estilos de vida
saudáveis, assim como promover o envelhecimento activo e saudável.
Nas últimas três décadas assistimos a uma consciência crescente dos desafios significativos, a nível
emocional, interpessoal, familiar, vocacional e funcional, que os indivíduos que sofrem de doenças
oncológicas experienciam e a forma como estes desafios podem afectar o seu estado geral de
saúde e a sua qualidade de vida (e até mesmo os resultados de saúde associados à doença
oncológica, comprometendo a adesão e a eficácia dos Cuidados de Saúde).
Incluir, nos primeiros passos dos cuidados oncológicos, um rastreio do distress psicológico,
da ansiedade e da depressão, através de instrumentos construídos e validados para a
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população portuguesa. Estudos apontam para que o distress psicológico entre doentes
oncológicos atinja os 47% e que entre 30% a 40% apresentem problemas de ansiedade e/ou
depressão.
Cada vez mais, as condições de vida e o bem-estar no trabalho não são influenciadas somente pela
segurança e pela Saúde nos locais de trabalho, consideradas apenas na sua dimensão mais física,
mas também pela Saúde Psicológica, por factores psicossociais, como as relações interpessoais, as
exigências colocadas aos colaboradores, ou a organização do trabalho, por exemplo. De acordo com
a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2010) um Local de Trabalho Saudável é aquele em que
todos os membros da organização (empregadores, gestores e colaboradores) cooperam com vista
ao melhoramento contínuo dos processos de protecção e promoção da saúde, da segurança e do
bem-estar. Enquanto os riscos para a Saúde Física associados a más condições de trabalho estão
cada vez mais controlados, auditados e são cada vez melhor geridos, com os riscos psicossociais tal
não sucede e os problemas de Saúde Psicológica relacionados com o trabalho traduzem-se, hoje,
num conjunto significativo de consequências nefastas quer para o trabalhador, quer para o
empregador e organizações, quer para os serviços públicos de saúde e de segurança social onde
estes problemas têm impacto. Dentre os principais riscos psicossociais é possível enumerar o
stresse ocupacional, o assédio (moral e sexual), a violência no trabalho, a síndrome de burnout, a
adição ao trabalho, a fadiga e carga mental no trabalho, assim como o trabalho nocturno e o
trabalho por turnos.
Dentre os Riscos Psicossociais tem ganho relevância, nos últimos anos, o equilíbrio entre a vida
pessoal/familiar e profissional e outros associados à ausência de fronteiras entre o trabalho e o
lazar. O progresso tecnológico transformou o mundo do trabalho e contribuiu para que as fronteiras
entre o trabalho e a vida profissional se tenham tornado mais difíceis de estabelecer e identificar. A
emergência da internet e das ferramentas que lhe estão associadas (por exemplo, emails ou
plataformas de mensagens instantâneas) podem fazer com que os colaboradores sintam que estão
sempre conectados com o trabalho e que responder rapidamente a todos os emails e mensagens é
sinal de bom desempenho, continuando a trabalhar quando estão fora do local e do horário de
trabalho. A incompatibilidade entre os papéis laborais e os papéis familiares pode causar conflitos e
tensões em ambos os contextos. Por isso é fundamental promover o equilíbrio entre a vida
profissional e pessoal e familiar, permitindo aumentar os níveis de bem-estar físico e mental e
prevenir problemas de Saúde.
Considerando esta realidade, é prioritário que haja uma vigilância da Saúde que inclua os riscos
psicossociais, neuropsicológicos e o bem-estar dos colaboradores das organizações e um processo
contínuo de prevenção e gestão destes riscos, que assegure a segurança, a saúde (física e
psicológica) e a qualidade de vida dos colaboradores.
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Dado o seu impacto inter-sectorial e o contributo positivo ou negativo que pode ter na
sustentabilidade do SNS, defendemos que a Saúde Ocupacional deve ser enquadrada enquanto
área da Saúde Pública e não matéria exclusiva de regulação laboral.
É imperativo facilitar uma maior integração das tecnologias da Saúde na gestão da comunicação
entre os profissionais de Saúde e os cidadãos, assim como maximizar o potencial das tecnologias
para a promoção da Saúde.
Neste âmbito é ainda de referir que a OPP defende a rápida e total implementação do SClínico em
todas as Unidades de Saúde, tendo estado envolvida no desenvolvimento de terminologias e
procedimentos de report de actos psicológicos através do sistema informático de gestão do SNS
SClínico. Com o desenvolvimento desta ferramenta espera-se que haja uma comunicação
interprofissionais mais eficaz, tornando mais fácil identificar grupos de intervenção prioritária,
responder a necessidades (listas de espera, intervenções mais integradas e centradas nas pessoas,
...), bem como a referenciação entre diferentes especialidades.
O investimento financeiro no SNS (ou na Saúde a partir de outros sectores da sociedade) deve
privilegiar modelos de financimento por resultados: resultados do ponto de vista dos utentes do
SNS (qualidade de vida, experiência com os cuidados de saúde ou capacidade de auto-cuidado, por
exemplo), dos Profissionais de Saúde (por exemplo, qualidade de vida profissional ou resultados
clínicos relevantes), da população geral (esperança média de vida ou expectativa de vida saudável,
por exemplo) e resultados do ponto de vista do sistema de saúde (cuidados de Saúde seguros e de
qualidade, alocação eficaz de recursos, equilíbrio e estabilidade financeira, por exemplo). É
necessária uma mudança de paradigma, encaminhando-nos para modelos de gestão e avaliação (e
monitorização) dos cuidados de saúde com base em resultados de Saúde, de modo a atingir um
financiamento baseado na criação de valor em Saúde.
Para além disso, não é possível continuar a investir a maior parte do orçamento da Saúde na
remediação, quando sabemos que a sustentabilidade (social e financeira) do SNS só será possível
apostando na prevenção e na intervenção nos determinantes sociais e comportamentais da Saúde.
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O SNS reúne, actualmente, um total de 917 Psicólogos, distribuídos pelos Cuidados de Saúde
Hospitalares (50%), pelos Cuidados de Saúde Primários (23%) e Outros serviços (27%).
Para além destes números significarem uma cobertura insuficiente quanto ao rácio
internacionalmente recomendado de Psicólogo/número de utentes (1/5.000; NHS Scotland), há
ainda uma distribuição territorial muito assimétrica e pouco adequada às necessidades e
características da população.
Para além destes benefícios, o contributo da Psicologia e dos Psicólogos é indissociável de uma
agenda nacional que vise promover comportamentos e estilos de vida saudáveis e prevenir os
factores de risco e os determinantes sociais e comportamentais da Saúde. A Psicologia é uma das
ciências que mais contribui para a compreensão e o conhecimento sobre os aspectos motivacionais,
cognitivos e inconscientes dos hábitos e comportamentos humanos fundamentais para iniciar e
manter acções que prenivam doenças e promovam a Saúde, o bem-estar e a qualidade de vida em
diferentes contextos. As metodologias e intervenções psicológicas podem garantir mudanças
comportamentais efectivas, sustentadas e associadas a ganhos em Saúde a longo prazo. Ampla
evidência científica demonstra a eficácia e os resultados positivos, estáveis e duradouros da
intervenção psicológica no desenvolvimento saudável e no bem-estar (físico e psicológico) dos
cidadãos; no aumento da qualidade e da satisfação com a vida, da resiliência; na diminuição da
mortalidade/morbilidade e das desigualdades em Saúde; assim como na resposta aos determinantes
sociais e comportamentais da saúde e à promoção de estilos de vida saudáveis.
Neste sentido, os Psicólogos podem dar um contributo crucial na implementação das estratégias de
prevenção, promoção da Saúde e desenvolvimento das pessoas, nomeadamente na promoção da
Literacia em Saúde, dos auto-cuidados e da auto-regulação, das competências transversais de vida,
da adopção de estilos de vida saudáveis, do envelhecimento activo, da resiliência e do
empowerment da população.
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Neste modelo de futuro, valorizam-se e trabalha-se a partir das competências dos cidadãos, por
oposição aos seus défices e incapacidades. E os Psicólogos, por inerência do seu Perfil Funcionar e
dos actos em saúde que podem realizar enquanto Psicólogos, terão um papel fundamental na
avaliação das competências e capacidade funcional dos indivíduos e no desenvolvimento e
promoção dessas competências capacidades.
Na verdade, o trabalho dos Psicólogos é central para a Saúde Pública do futuro, pelo papel que
podem desempenhar na informação das políticas públicas com os insights comportamentais da
ciência psicológica, através da consultoria junto dos sistemas e decisores políticos para a construção
de estratégias e políticas públicas intersectoriais que visem melhorar a Saúde, a acessibilidade aos
Cuidados de Saúde e a diminuição das desigualdades.
Fica claro que dada a relevância dos factores comportamentes na avaliação, diagnóstico, tratamento
e reabilitação da maior parte dos problemas de Saúde, os Psicólogos devem ser incluídos no fluxo
dos percursos de Saúde do SNS, articulando-se com os restantes profissionais. A intervenção dos
Psicólogos deve ser transversal em relação a todas as especialidades médicas que integram o SNS
nos diferentes níveis de cuidados.
Acresce a estes contributos, o papel dos Psicólogos na humanização dos cuidados de Saúde, mais
do que na construção de políticas de gestão humanizada, mas efectivamente na humanização das
práticas e das relações que se estabelecem no contacto com o SNS, promovendo a melhoria da
comunicação e da qualidade das relações interpessoais entre profissionais e entre profissionais e
utentes; a mudança de comportamentos organizacionais que se traduzam em promiximidade e foco
no utente e nas suas necessidades; a integração dos familiares e cuidadores informais do utente nos
cuidados prestados; ou a potenciação da autonomia e da auto-determinação dos utentes.
Tendo em conta a mais valia que os Psicólogos representam para o SNS, para além da necessidade
de reforço dos Recursos Humanos nos Serviços de Psicologia, o papel do Psicólogo deve ser
valorizado pelo próprio SNS, quebrando-se a vigente estigmatização associada ao acto de consultar
apoio psicológico. Além disso, e enquanto profissional com autonomia científica e técnica para
prestar cuidados de Saúde, deve usufruir das mesmas condições de trabalho que os demais
profissionais de saúde, no que se refere a questões contratuais, recursos e condições físicas de
trabalho, oportunidades de liderança e autonomia nas suas iniciativas laborais, usufruem. É
essencial reforçar o papel da organização das “carreiras” no contexto do SNS, garantindo condições
de investimento em recursos de melhoria das práticas, a progressão e a formação contínua, o
desenvolvimento pessoal e profissional em contexto de Saúde. Enquadra-se aqui também a
necessidade de investir na aquisição de instrumentos e provas psicológicas para os serviços de
Saúde, permitindo melhores e mais fundamentadas avaliações psicológicas.
Uma vez que todos os cidadãos têm direito de acesso a cuidados psicológicos de qualidade no
âmbito do SNS, defendemos que devem existir núcleos/unidades/serviços de Psicologia nos
Cuidados de Saúde Primários, nos Cuidados Hospitalares e nos Cuidados Continuados Integrados,
mantendo a sua autonomia científica, técnica e funcional simultaneamente com a sua integração
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Conclusão
Acreditamos num presente e num futuro em que todos possam ser tão saudáveis quanto possível ao
longo de todo o ciclo de vida. Acreditamos num país que promove a coesão social, o bem-estar e o
desenvolvimento pessoal de todos os cidadãos, onde seja possível viver, trabalhar e envelhecer em
ambientes saudáveis e sustentáveis. Acreditamos num país que proporciona um acesso à Saúde
atempado, equitativo e de elevada qualidade a todos.
Neste sentido, a OPP defende um SNS de acesso universal, que integre uma estratégia concertada e
multissectorial de promoção a Saúde, do bem-estar, das competências e do desenvolvimento
pessoal, assim como da qualidade de vida dos cidadãos, focando-se em metas de sustentabilidade,
inclusão e coesão social, e cidadania activa.
Sublinhamos a disponibilidade para funcionar como um parceiro activo do SNS, contribuindo com
comunicação e partilha de informação e conhecimento, no sentido de desenvolver um Sistema de
Saúde sustentável, promover a Saúde da população e reduzir as desigualdades na Saúde.
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Sugestão de Citação:
Ordem dos Psicólogos Portugueses (2018). Contributo OPP – Livro Branco: O
Presente e o Futuro do SNS. Lisboa
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