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Curso de Gestão Empresarial

Matemática Financeira
Introdução à Matemática Financeira

Unidade de Aprendizagem 08

Objetivos da unidade de aprendizagem


Apresentar rendas não uniformes e rendas diferidas

Competência
Declarar as informações relevantes para resolução de problemas
financeiros com rendas não homogêneas e rendas diferidas.

Habilidades
Associar informações ao enunciado da questão e
aplicar fluxos de caixa.

Moeda: Reis, cunhada em conjunto pelas Casas da Moeda do Rio de Janeiro e Lisboa a partir de 1778 2.
Fonte: Imagens: Coleção Eduardo Rezende - http://www.moedasdobrasil.com.br
Apresentação

Na UA7 aprendemos a série de pagamentos iguais e periódicos. Porém


são comuns as transações financeiras em que ocorrem pagamentos e
investimentos de diferentes valores e até mesmo sem qualquer
periodicidade. Nesta unidade estudaremos as séries de pagamentos que
seguem uma progressão aritmética ou uma progressão geométrica.
Estudaremos ainda as séries diferidas, com períodos de carência, prática
bastante comum no mercado.

A identificação dos dados em um fluxo de caixa torna-se muito útil,


facilitando a visualização dos valores distribuídos nos períodos e o
entendimento do proposto no problema.

A “entrada” antecipada que pode ser exigida na assinatura do contrato e


pagamentos variáveis previstos na transação, assim como os
investimentos irregulares, comuns para micro ou médios empresários e
profissionais liberais, serão analisadas na próxima unidade de
aprendizagem.

Os conhecimentos de cálculo do valor atual, do valor futuro e das


prestações, já estudadas em UAs anteriores serão a base para a
compreensão das situações apresentadas em UA8.

Assim, vamos aprender!

UA8– Série de Pagamentos – Parte 2 3


Para começar

Para séries variáveis em progressão aritmética ou em progressão


geométrica é possível estabelecer a uniformidade e atribuir fórmulas para
o cálculo de valor atual e montante.

Seguramente você já ouviu em apelos comerciais: “primeira prestação só


para maio!”, que significa um período de carência para o início da
amortização (já usamos este termo?) da dívida. A carência não interfere
no juro efetivo cobrado, o montante considerará toda a “bondade” do
comerciante.

Também são comuns as “parcelas intermediárias” na aquisição de imóveis


em construção, o popular “na planta”. A transação funciona assim: o
comprador paga determinado valor no aceite do contrato, é o “sinal”; inicia
os pagamentos parciais ainda durante a construção; periodicamente paga
prestações adicionais de valor mais elevado; finalmente continua a
amortizar as prestações estabelecidas no empréstimo cedido
normalmente por bancos ou financeiras. Todo o montante pago pelo
comprador antes da “entrega das chaves” gera o “caixa” necessário à
empreiteira para a finalização do empreendimento. A empreiteira pode
utilizar fundos próprios parcialmente ou ter acesso à financiamento a taxas
módicas.

O marido, que havia concordado em comprar um aspirador de pó, quase


caiu duro quando a mulher chegou em casa com um modelo luxuosíssimo.
“Por que tanto escândalo? Não vai nem custar mais caro. Basta pagar
mais seis prestações.”

UA8– Série de Pagamentos – Parte 2 4


Encontrei esta anedota na folha de face de meu precioso caderno utilizado nas aulas da
especialização em Matemática Financeira. Não sei a autoria nem mesmo de onde
recortei a “piadinha”.

Você deve estar rindo muito. Se continua sério, tenho duas suposições, ou está
realmente de mau humor ou precisa reforçar seus estudos em Matemática Financeira.

Séries variáveis progressivas

Iniciaremos com a série em progressão aritmética crescente


postecipada, também denominada série em gradiente.

A fim de estabelecer fórmulas é sempre mais simples visualizar o problema


com dados de exemplo. Vamos iniciar supondo que se faça cinco
investimentos periódicos de valores crescentes em PA com primeiro termo
de R$ 10,00 e razão de mesmo valor. A razão é o gradiente da série.

No primeiro período aplicamos R$ 10,00, no segundo R$ 20,00 e assim


sucessivamente até o quinto período. Queremos saber o montante no
quinto período, com os investimentos submetidos a uma taxa de juros
compostos i.

O fluxo de caixa abaixo ilustra nosso investimento.

UA8– Série de Pagamentos – Parte 2 5


Se transportarmos os valores para o final do período teremos:

FV = 10 (1+i)4 + 20 (1+i)3 + 30 (1+i)2 + 40 (1+i)1 + 50 (1+i)0

Este cálculo é bastante simples para poucas aplicações, mas se


imaginarmos uma longa sequência de períodos, precisamos estabelecer
uma fórmula no Excel ou nós mesmo montar tal fórmula. Afinal, nem
sempre o computador e o Excel estarão disponíveis. Mas se soubermos
desenvolver uma fórmula, até mesmo naufragados em ilha deserta
poderemos nos divertir com os cálculos.

Para isto vamos decompor a série em cinco subséries, com termos iguais
a 10, conforme esquema abaixo.

S1 é a soma da série composta por 5 termos de R$ 10,00 aplicados a partir


do primeiro período, S2 é a soma da série com 4 termos de R$ 10,00,
aplicados a partir do segundo período e assim sucessivamente até a última
série com um único termo de R$ 10,00.

Cabe-nos somar as cinco séries para obter FV.

Lembremos que a série de pagamentos periódicos iguais obedece a

1  in  1
fórmula FV  PMT , portanto:
i

UA8– Série de Pagamentos – Parte 2 6


1  i5  1 1  i4  1 1  i3  1 1  i2  1 1  i  1
FV  10  10  10  10  10
i i i i i

10  1  i5  1 
FV  1 i  5
i  1 i  1 

Ih, não acompanhou os cálculos?

Vamos lá:

➢ os termos comuns 10 e i foram “tirados em evidência”;


➢ identificamos uma PG de primeiro termo (1+i) e de razão (1+i);
➢ foi efetuada a soma dos termos da PG que você aprendeu na UA1.

Agora, para generalizar a fórmula, vamos simbolizar o valor constante de


R$ 10,00 por G e considerar n prestações, obtendo:

G  1  in  1 
FV 

1  i n

i  i 

E se quisermos obter o valor atual? É fácil, basta dividir por (1+i) n e


teremos:

 1  i 1  i  1  n 
G  n 
PV 
i.1  in  i 

Se os pagamentos seguem uma série em progressão aritmética


decrescente é mais prático calcular inicialmente PV. Usando os mesmos
valores do desenvolvimento acima:

UA8– Série de Pagamentos – Parte 2 7


PV  10
1  i5  1  10 1  i4  1  10 1  i3  1  10 1  i2  1  10 1  i  1
i.1  i5 i.1  i4 i.1  i3 i.1  i2 i.1  i

10  1  i5  1  1  i5  1  i  1  i5  1  i2  1  i5  1  i3  1  i5  1  i4 



PV 
i  1  i5 

PV 

10  51  i  1  1  i  1  i  1  i  1  i
5 2 3 4

i  1  i5 

➢ perceba que calculamos a soma dos termos com o m.m.c. (1+i)5;


➢ novamente identificamos uma PG de primeiro termo 1 e razão (1+i).

Então:



5

1.1  i  1  
10  1 i  1 
PV  5  
i  1  i5 
 
 

PV 
10 
5
1  i5  1
i  1  i5 .i 

Generalizando:

G  1  in  1
PV  n
i  1  in .i 
e

G  n 1  i  1 
n 
FV  n1  i 
i  i 

Quanta álgebra fizemos! Delicioso, não foi?

UA8– Série de Pagamentos – Parte 2 8


Para séries em progressão geométrica também podemos estabelecer
fórmulas. Podemos aplicar uma série com prestações geométricas se
quisermos investir sempre um valor atualizado pela inflação. Assim nossa
razão é q = 1+.

Usando as mesmas simbologias anteriores, teremos:

G G.q G.q2 G.qn1


PV    
1  i 1  i2 1  i3 1  in
q
identifica mos uma PG de razão
1 i
   q n 
    1 
 1   1  i  
PV  G  
1 i  q
 1 
  1 i  
  

finalmente:

n
 q 
  1
 
PV  G 1  i
q  1  i

e o valor futuro:

n
 q 
  1
 1 i 
FV  G .1  in
q  1  i

No momento da verdade desta unidade, você poderá usar as fórmulas


que aqui estabelecemos, em vários exercícios.

UA8– Série de Pagamentos – Parte 2 9


Séries de pagamentos diferidos
Diferir significa postergar, adiar, deixar para depois. Uma série de
pagamentos diferidos é a série com carência, isto é, as prestações só
começam a ser pagas após um período inicial.

Um fluxo de caixa ilustra tal situação:

Há duas maneiras de calcular o valor presente nas séries de pagamentos


diferidos.

1º procedimento:

Calculamos as n prestações com a fórmula de renda postecipada,


deslocando as prestações para o período m.

O valor presente no período m (PVm) obtido é PVm  PMT


1  i  1
n
.
1  i .i
n

Transportamos PVm para o primeiro período, dividindo por PVm por (1+i)m.

Teremos:

PVm
PV 
1  im

PMT
1  i  1
n

PV 
1  i .i
n

1  im

UA8– Série de Pagamentos – Parte 2 10


1  in  1
PV  PMT
1  in  m .i

Na HP12C não se esqueça de verificar se está com o comando end.

Mas isto significa mais uma fórmula a memorizar (li seu pensamento, não
foi?). Vamos facilitar tudo pensando de uma forma mais prática.

2º procedimento:

Calculamos PVm+n para m+n prestações, desprezando a carência.


Calculamos PVm para as prestações que foram consideradas no período
de carência.

O valor presente procurado será a diferença entre PVm+n e PVm.

Muito mais fácil, não é?

Exemplo sempre ajuda:

Uma loja de móveis vende um arquivo de escritório por 5 prestações


mensais de R$ 400,00 com 90 dias de carência. Considerando uma taxa
de juros mensal de 2%, determinar o valor à vista do arquivo.

Os dados são:

➢ PMT = 400
➢ n=5
➢ m = 2 (cuidado, a carência é de 3 meses, então m = 3-1)
➢ i = 2%

UA8– Série de Pagamentos – Parte 2 11


1  0,025  1
PV  400  1.812,17
1  0,025  2 .0,02

ou fazemos:

1  0,027  1 1  0,022  1
PV  400  400  2588,79  776,62  1.812,17
1  0,02 .0,02
7
1  0,02 .0,02
2

Se o objetivo é encontrar o valor futuro nas séries diferidas, basta


multiplicar o valor presente por (1+i)m+n.

Antena parabólica

No FIES, programa governamental de financiamento estudantil,


ocorre o sistema de pagamento de rendas diferidas. Têm direito
ao FIES estudantes de cursos de graduação não gratuito (não é o
seu caso, que bom!) aprovados pelo MEC. Cursos de licenciatura
têm juros de amortização menores.

Pela lei 12.202/2010, publicada no DOU em 14/01/2010, os


contratos de FIES, assinados a partir do primeiro semestre
2010, passam a contar com prazo de carência de 18 meses
a partir do término do prazo de utilização bem como o prazo
de amortização será de até 3 vezes o prazo de utilização.

UA8– Série de Pagamentos – Parte 2 12


Dessa forma um contrato FIES passa a ter 3 fases distintas:

1 - PRAZO DE UTILIZAÇÃO: Prazo contado a partir do


primeiro mês de ingresso no FIES até o último mês do prazo
de utilização (considera-se os semestres suspensos ou
encerrados sem início de amortização). Nessa fase o
estudante paga a cada 3(três) meses prestações de juros de
até R$ 50,00, nos meses MARÇO, JUNHO, SETEMBRO e
DEZEMBRO.

2 - PRAZO DE CARÊNCIA: O prazo de carência é opcional


e pode ser de até 18 meses imediatamente subsequentes
ao PRAZO DE UTILIZAÇÃO. Nessa fase as prestações têm
a mesma regra do PRAZO DE UTILIZAÇÃO.

3- PRAZO DE AMORTIZAÇÃO: Imediatamente


subsequentes ao PRAZO DE CARÊNCIA até 3 vezes o
PRAZO DE UTILIZAÇÃO (o simulador adota exatamente 3
(três vezes). Nessa fase o sistema calcula a prestação pela
tabela PRICE em função do saldo devedor do contrato no
dia da mudança para essa fase, da taxa de juros e do prazo
dessa fase.

Durante as fases PRAZO DE UTILIZAÇÃO e PRAZO DE


CARÊNCIA, os juros excedentes ao valor da prestação são
incorporados ao saldo devedor do contrato no mês da sua
apuração (cálculo).

fonte: https://www3. caixa.gov.br/fies/ asp/Simulador/ Simulador.asp

UA8– Série de Pagamentos – Parte 2 13


E agora, José?

Nesta unidade vimos alguns tipos de séries de pagamentos não uniformes.


Você percebeu como um pouco de conhecimento de álgebra facilita nosso
entendimento de fórmulas. Álgebra não assusta, álgebra resolve.
Não apresentamos muitos exercícios e exemplos de aplicação, portanto,
o Momento da Verdade é imprescindível para um real aprendizado.
Na próxima UA estudaremos projetos com rendas variáveis e períodos
variáveis. Vai ser divertido, tudo ensinado por exemplos.

BIBLIOGRAFIA DE APOIO

VIEIRA SOBRINHO, JOSÉ DUTRA. Matemática Financeira. 7 ed. São


Paulo: Atlas Editora, 2000.

ALMEIDA, JARBAS THAUNAHY SANTOS DE. Matemática Financeira.


1 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016.

SAMANEZ, CARLOS PATRÍCIO. Matemática Financeira: Aplicações à


Análise de Investimentos. 5 ed. São Paulo, Pearson Prentice Hall,
2010.

CRESPO, A. A. Matemática Comercial e Financeira fácil. 13 ed. São


Paulo: Saraiva, 2002.

VANNUCCI, LUIZ ROBERTO. Cálculos Financeiros aplicados e


avaliação econômica de projetos de investimento. 1 ed. São Paulo:
Textonovo, 2003.

TEIXEIRA, JAMES; DI PIERRO NETTO, SCIPIONE. Matemática


financeira. 1 ed. São Paulo; Makron Books, 1998.

UA8– Série de Pagamentos – Parte 2 14

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