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Resolução de Casos Práticos – Direito Penal

Caso Prático I

Cândida, portadora de doença infectocontagiosa, no dia 20 de outubro de 2021,


injetou substância psicotrópica no jardim da praceta da sua casa, onde várias
crianças brincam diariamente, e lançou a seringa para o chão. No mesmo dia,
Denise, de 7 anos, ao apanhar a bola, fere-se com a seringa que Cândida lançou
para o chão.

No dia 29 de outubro de 2021, Cândida, enquanto CEO da empresa VIA.BEM,


deslocou-se a Buenos Aires para fechar um negócio da empresa. Em Buenos
Aires, no hotel onde estava hospedada, Cândida encontra Ernesto, contabilista
da VIA.BEM, e pergunta-lhe se já emitiu as faturas com os dados alterados de
modo a poderem beneficiar dos €25.000,00 a serem suportados pela
seguradora da Argentina. Ernesto afirma que já tratou de tudo e a VIA.BEM vai
ganhar muito mais do que esse valor.

No dia 12 de novembro de 2021, Cândida regressa a Lisboa num voo da L ATAM.


Em pleno voo, Cândida vê Francisca, mulher rica da sua terra, conhecida por
andar com joias caras, dirige-se-lhe e com a ameaça de uma seringa infetada,
exige que lhe entregue todas as joias que tem na sua carteira pessoal. Como
Francisca não acede ao seu pedido, Cândida espeta-lhe a seringa no braço e diz-
lhe que se gritar injeta-lhe o produto que lhe provocará a morte imediata.
Francisca, apavorada e com dores, entrega-lhe a mala com as suas joias no valor
de €6.100,00. Perante a situação, o pessoal de cabine consegue neutralizar
Cândida e detêm-na. Chegados a Lisboa, entregam Cândida à Polícia.

Quid iuris?

Resolução:

(1º parágrafo)

- 20 de outubro de 2021 (art.º 3)

- Jardim da praceta de sua casa (art.º 7)

- Portadora de doença infectocontagiosa (art.º 283 – propagação de doença)

- Lançou a seringa para o chão (art.º 32 do Decreto-Lei n.º 15/93)

- Denise fere-se com a seringa que Cândida lançou para o chão [art.º 144, c) e d)]

- Dolo eventual (art.º 14, n.º 3)


- De acordo com o princípio da subsidiariedade, aplica-se o art.º 144, d), uma vez que
Denise, de 7 anos, feriu-se com a seringa contaminada com SIDA provocando-lhe
perigo para a vida

- Cândida vai ser punida com pena de prisão de 2 a 10 anos (art.º 144, d)

- Crime público

- Bens jurídicos em causa são a vida, a saúde pública e a integridade física

(2º parágrafo)

- 29 de outubro de 2021 (art.º 3)

- CEO da empresa VIA.BEM (pessoa coletiva) – art.º 11

- Buenos Aires (art.º 5, g) e 7)

- ‘’Dados alterados’’ [art.º 256, b) com pena de prisão até 3 anos ou pena de multa
com agravação do art.º 11, n.º 2, a), a Cândida, enquanto CEO da empresa e o
contabilista enquanto funcionário, têm pena agravada segundo o art.º 256, n.º 4 com
pena de prisão de 1 a 5 anos

- Bem jurídico em causa é o património

- A falsificação de documentos levou a burla qualificada [art.º 218, n.º 2, a)], pena de
prisão de 2 a 8 anos

- Trata-se de um crime semipúblico

- Dolo (art.º 14, n.º 1)

(3º parágrafo)

- Dolo (art.º 14, n.º 1)

- 12 de novembro de 2021 (art.º 3)

- Regressa a Lisboa num voo da LATAM [art.º 5, b) ou e)]

- Ameaça (art.º 153 com pena de prisão de até 1 ano ou pena de multa de 120 dias)
de uma seringa infetada e exige que lhe entregue todas as joias

- Crime semipúblico
- Cândida espeta-lhe a seringa no braço [art.º 144, d) – ofensa à integridade física
grave com pena de prisão de 2 a 10 anos e art.º 283, n.º 1, a) – propagação de doença
infeciosa] – MESMOS BENS JURÍDICOS (VIDA E INTEGRIDADE FÍSICA)

- Francisca entrega a mala (art.º 210 – quem ‘’(...) por meio de violência contra uma
pessoa de ameaça ou perigo iminente para a vida (...) é punido com pena de prisão de
1 a 8 anos’’

- Roubo (bem jurídico – património e integridade física)

- Chegados a Lisboa, entregam Cândida à Polícia [art.º 5, b)]

- Tanto a pessoa singular (Cândida) como a pessoa coletiva (Ernesto) são condenadas

Crime de integridade física grave – 2 a 10 anos


Roubo – 1 a 8 anos
Propagação – 1 a 8 anos
Falsificação de documentos – 1 a 5 anos
Burla qualificada – até 5 anos ou multa até 600 dias

Caso Prático II

A Assembleia da República, face às críticas a que Portugal foi sujeito no último


relatório referente ao número de presos com pena de prisão inferior a cinco anos,
aprovou a Lei Z, que alterou os artigos 203.º e 204.º do CP e entrou em vigor no dia 3
de dezembro de 2021:

‘’Artigo 1.º
Alteração ao Código Penal

203.º Furto
Revogado.

204.º Furto qualificado


1 – Quem furtar coisa móvel ou animal alheios:
a) ...; a j) ...;
é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa até 100 dias.
2 – Quem furtar coisa móvel ou animal alheios:
a) ...; a
g) ...;
é punido com pena de prisão até cinco anos ou pena de multa até 600 dias.
3 - ....
4 - ....

Artigo 2.º Subtração de coisas móveis e animais alheios


Quem, com ilegítima intenção de apropriação para si ou para outra pessoa, subtrair
coisa móvel ou animal alheios é punido com uma coima de €250,00 a €2.500,00.’’

Ao dia de hoje, Bento encontra-se a cumprir uma pena de prisão efetiva de 4 anos 2
meses pela prática do crime de furto qualificado, p. e p. pelo artigo 204.º, n.º 1, alínea
e) do CP, desde o dia 21 de janeiro de 2018, conquanto Carlos encontra-se a ser
julgado pela prática de crime de furto qualificado, p. e p. pelo artigo 204.º, n.º 2, alínea
c) do CP. Daniel encontra-se acusado pela prática do crime de furto, p. e p. pelo artigo
203.º do CP, e o seu primo encontra-se, desde 15 de setembro de 2021, a cumprir
pena efetiva de prisão de um ano pela prática de crime de furto, p. e p. pelo artigo
203.º do CP.

Quid iuris?

Resolução:

Bento (encontra-se a cumprir pena de prisão):


 Momento da prática do facto – 21 de janeiro de 2018 (art.º 3)
 Crime – furto qualificado [art.º 204, e)] com pena de prisão de 5 anos ou com
pena de multa até 600 dias
 Encontra-se a cumprir pena de 4 anos 2 meses pelo que sairia em liberdade em
2022
 Bem jurídico tutelado é o património
 Trata-se de um crime público

Carlos (encontra-se a ser julgado):


 Crime – furto qualificado [art.º 204, n.º 2, c)] com pena de prisão de 2 a 8 anos
 Trata-se de um crime público

Daniel (acusado de):


 Crime – furto (art.º 203) com pena de prisão até 3 anos ou pena de multa
 Trata-se de um crime semipúblico

Primo de Daniel (encontra-se a cumprir pena efetiva de prisão):


 Momento da prática do ato – 15 de setembro de 2021 (art.º 3)
 Crime – furto (art.º 203) com pena de prisão até 3 anos ou pena de multa
 Trata-se de um crime público

As alterações da lei nova que entrou em vigor a 3 de dezembro de 2021 são:


 Art.º 203 revogado, tendo entrado em vigor o art.º 2 Subtração de coisas
móveis e animais alheios ‘’Quem, com ilegítima intenção de apropriação para si
ou para outra pessoa, subtrair coisa móvel ou animal alheios é punido com uma
coima de €250,00 a €2.500,00.’’
 Art.º 204 alterado, sendo que no n.º 1 deixou de se tratar de uma pena de
prisão até 5 anos ou pena de multa até 600 dias, passando a ser uma pena de
prisão até 3 anos ou com pena de multa até 100 dias. No n.º 2 deixou de ser
pena de prisão de 2 a 8 anos e, atualmente, trata-se de pena de prisão até 5
anos ou pena de multa até 600 dias.

Segundo o art.º 2, n.º 2 do CP, ‘’O facto punível segundo a lei vigente no momento
da sua prática deixa de o ser se uma lei nova o eliminar do número de infrações; neste
caso, e se tiver havido condenação, ainda que transitada em julgado, cessam a
execução e os seus efeitos penais’’.
Deste modo, Carlos, Bento e o primo de Daniel beneficiam da alteração ao Código
Penal, da entrada em vigor desta nova lei. Tanto Bento como Daniel encontram-se a
cumprir prisão efetiva (condenação já transitou em julgado) e Carlos que se encontra a
ser julgado preenchem os pressupostos do art.º 2, n.º 2 do CP. O primo de Daniel não
beneficiará, uma vez que está a ser acusado e ainda nem foi condenado.
Bento foi condenado por furto qualificado, em 21 de janeiro de 2018, segundo o
art.º 204, e) do CP com pena de prisão de 5 anos ou com pena de multa até 600 dias,
pelo que se encontra a cumprir pena no momento em que a nova Lei Z entra em vigor.
A nova Lei Z, que implica uma pena de prisão até 3 anos ou pena de multa até 100
dias, é mais favorável ao arguido, do que aquela a que foi sujeito no momento da
prática do ato.
Carlos encontra-se a ser julgado por furto qualificado, segundo o art.º 204, n.º 2, c)
do CP com pena de prisão de 2 a 8 anos, contudo, a nova Lei Z, com entrada em vigor a
3 de dezembro de 2021, estipula uma pena de prisão até 5 anos ou pena de multa até
600 dias. A nova Lei Z favorece o arguido, tendo um intervalo menor e a possibilidade
de pena de multa, contudo, não há resposta relativamente aos anos de prisão que
Carlos teria sido condenado.
Se Carlos for considerado culpado pelo crime de furto, de acordo com o art.º 203
do CP, apenas terá de pagar uma coima.
Primo de Daniel encontra-se a cumprir pena efetiva de prisão por crime de furto (a
15 de setembro de 2021 - art.º 3), tendo em conta o art.º 203 do CP com pena de
prisão de 1 ano. A nova Lei Z entrou em vigor 3 meses depois do primo de Daniel ter
cometido o crime, aplicando-se, atualmente, uma coima de €250,00 a €2.500,00 que é
mais favorável à pena de prisão de 3 anos ou pena de multa à qual foi condenado.
Deste modo, de acordo com o art.º 2, n.º 4 do CP, a nova Lei Z favorece o arguido,
o primo de Daniel pode sair da prisão e pagar a coima.

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