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Leonor Castro 2022/2023

Direito Penal I

📌 CASOS PRÁTICOS – VE E PRI

Caso Prático 1:
A, cleptomaníaca, furta a carteira que B deixa em cima da mesa de um bar. Quando se
prepara para sair do local, na posse da dita carteira, A apercebe-se que C, segurança desse
bar, vem atrás de si, insistindo que aquela carteira pertence a B e que, por isso, A tem de a
devolver. A tira, então, uma faca que traz no bolso e dá um golpe na perna de C, que fica,
de imediato, imobilizado pelo ferimento. Julgada e condenada, entendeu o Tribunal que A
devia cumprir 2 anos de prisão pelas ofensas à integridade física produzidas em C e 1 ano
de internamento pelo furto.
Quid iuris quanto ao modo de cumprimento destas sanções por parte de A? Justifique a
sua resposta à luz da classificação do nosso sistema como sendo tendencialmente
monista.

- Furto: artigo 203.º (pena até 3 anos)


- Inimputável: artigo 20.º nº1
- Medida de segurança: artigo 91.º nº1 +92.º nº2 suscetível pelo juízo de perigosidade
- Integridade física: artigo 143.º (pena até 3 anos)
- Imputável: artigo 13.º e 14.º (dolo)
- Pena até 3 anos suscetível pelo juízo de culpa
- Viriato na execução: artigo 99.º nº1

O ato praticado por A aquando do furto da carteira de B encontra-se regulado pelo artigo
203.º do Código Penal (CP) sendo este punível até 3 anos de prisão. Contudo, uma vez que A
é cleptomaníaca – anomalia psíquica, é consequentemente vista como inimputável ao
abrigo da lei portuguesa por força do artigo 20.º nº1 pelo que lhe deve ser aplicada uma
medida de segurança suscetível pelo juízo de perigosidade, sendo esta, o internamento
(artigo 91.º nº1). O internamento de A não se pode estender por mais de 3 anos, sendo este
o limite máximo da pena correspondente ao crime praticado.
Já o ato praticado por A aquando da ação violenta em que golpeia a perna de C encontra-se
regulado como sendo uma violação à sua integridade física, presente no artigo 143.º nº1,
sendo também punível com pena máxima de 3 anos de prisão. Relativamente a este ato
criminoso, A é considerada como imputável ao abrigo da lei tendo esta agido com dolo
(artigo 13.º e 14.º nº1). Deste modo, deve ser-lhe aplicada uma pena de prisão tal como é
referido o enunciado, de 2 anos.
Contudo, uma vez que foi aplicado ao mesmo sujeito dois tipos de medidas sancionatórias –
pena e medida de segurança, verifica-se no presente caso um viricato na execução, presente
no artigo 99.º. Assim, segundo o nº1 desse mesmo artigo, deve ser primeiramente aplicada
a medida de segurança e posteriormente a pena de prisão, sendo esta descontada pelo
tempo aplicado na medida de segurança. Deste modo, deve ser aplicada a medida de
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segurança de um ano e posteriormente a pena de prisão devendo esta, por força do nº2, ser
descontada passando a ser apenas de um ano e podendo ser realizada através de liberdade
condicional, desde que esta se revele compatível com a defesa da ordem jurídica e da paz
social.
Tal é possível devido ao monismo do nosso sistema, que permite que ao mesmo agente,
pela prática de factos diversos, sejam aplicadas duas medidas sancionatórias, ambas
privativas da liberdade – uma pena de prisão e uma medida de segurança (internamento).

Caso Prático 2:
Sabendo que:
C cumpriu uma pena de 13 anos de prisão efetiva por homicídio.
C cumpriu uma pena de 7 anos de prisão efetiva por roubo.
C é impulsivo e conflituoso, manifestando um comportamento não conforme ao direito e
revelando uma total ausência de arrependimento pelas suas práticas.
C cometeu agora, no passado dia 18 de Setembro, um crime de ofensa à integridade física
grave, pelo qual deveria ser-lhe aplicada pena de prisão efetiva de 6 anos.
Refira-se à possibilidade de C ser punido com uma pena diferente. Em que termos?
Justifique a sua resposta.

- Ofensa à integridade física grave: artigo 144.º (pena de 2 a 10 anos)


- Pena relativamente indeterminada (artigo 83.º)

C poderia ser punido com uma pena diferente.


Uma vez que este tinha no seu histórico criminal já duas penas de prisão efetivas de período
superior a 2 anos, tendo o facto praticado por este a 18 de setembro sido caracterizado
como um facto danoso cuja pena aplicada seria, também ela, superior a 2 anos, poder-lhe-ia
ser aplicado o regime da “pena relativamente indeterminada”, presente no artigo 83.º.
Segundo este, qualquer indivíduo que pratique um crime doloso cuja pena de prisão seja
efetiva e com um período de tempo superior a 2 anos – ex.: crime à ofensa à integridade
física grave cuja pena vai entre 2 a 10 anos, e que tenha cometido anteriormente dois ou
mais crimes dolosos, a cada um dos quais tenha sido aplicada a prisão efetiva também por
um período superior a dois anos, é punido com uma pena relativamente indeterminada
sempre que a avaliação conjunta dos factos bem como da personalidade do agente revelem
uma acentuada inclinação para o crime. Tal situação verificou-se no seguinte caso uma vez
que é observada no indivíduo C um carácter impulsivo e conflituoso conjuntamente com um
comportamento não conforme com o direito e que revela uma total ausência de
arrependimento pelas suas práticas criminais também referidas no enunciado, veem-se
completos os dois pressupostos “pessoais” para a aplicação da pena bem como os
pressupostos criminais devido às suas práticas criminais.
Por sua vez, a pena relativamente indeterminada tem um mínimo correspondente a 2/3 da
pena de prisão que concretamente caberia ao crime cometido (2/3 de 6= 4 anos) e um
máximo de 6 anos acrescidos à mesma (12 anos) podendo justificar-se a mesma, até aos 6
anos de prisão, com a culpa do agente; e dos 6 aos 12 anos, com a personalidade do
mesmo.

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Caso Prático 3:
A, que sofre de uma anomalia psíquica que o impede de controlar os impulsos sexuais
para visionar filmes pornográficos com crianças e adultos com aparência de criança, foi
condenado a um internamento de dois anos por factos praticados nesse contexto. Na
mesma altura, no entanto, A havia furtado um computador de uma superfície comercial,
precisamente com o intuito de poder satisfazer os seus desejos. O computador foi
avaliado em 1600 euros e A foi condenado por um crime de furto, numa pena de prisão de
três anos. Quid iuris quanto à forma de execução destas sanções? Justifique.

- Inimputável: artigo 20.º em razão de anomalia psíquica


- Medida de segurança: artigo 91.º nº1 +92.º nº2 suscetível pelo juízo de perigosidade
- Internamento de 2 anos
- Furto: artigo 203.º (pena de prisão até 3 anos)
- Imputável: artigo 13.º e 14.º (dolo)
- Pena até 3 anos suscetível pelo juízo de culpa
- Viriato na execução: artigo 99.º nº1

O ato praticado por A, uma vez que este sofre de uma anomalia psíquica que o impede de
controlar os impulsos sexuais para visionar filmes pornográficos com crianças, é sujeito a
uma medida de segurança por força da sua inimputabilidade (artigo 91.º nº1 e 20.º) – o
internamento, tal como está presente no enunciado.
Já o ato praticado por A aquando do furto do computador encontra-se regulado pelo artigo
203.º sendo este punível até 3 anos de prisão. Relativamente a este ato, A é imputável
perante a lei uma vez que agiu com dolo segundo o artigo 13.º e 14.º nº1 pelo que este é
sancionado com a pena de prisão com período efetivo de 3 anos, como enuncia o seguinte
caso.
Contudo, uma vez que foi aplicado ao mesmo sujeito dois tipos de medidas sancionatórias –
pena e medida de segurança, verifica-se no presente caso um viricato na execução, presente
no artigo 99.º. Assim, segundo o nº1 desse mesmo artigo, deve ser primeiramente aplicada
a medida de segurança e posteriormente a pena de prisão, sendo o tempo desta
descontado pelo tempo da medida de segurança. Deste modo, deve ser aplicada a medida
de segurança – o internamento de dois anos e posteriormente a pena de prisão devendo
esta, por força do nº2, uma vez que se encontra cumprido por medida de segurança mais de
metade do tempo total da pena de prisão, ser realizada através de liberdade condicional,
desde que esta se revele compatível com a defesa da ordem jurídica e da paz social.
Tal é possível devido ao monismo do nosso sistema, que permite que ao mesmo agente,
pela prática de factos diversos, sejam aplicadas duas medidas sancionatórias, ambas
privativas da liberdade – uma pena de prisão e uma medida de segurança (internamento).

Caso Prático 4:
Considere que:
A cumpriu uma pena de 10 anos de prisão efetiva por violação.
A cumpriu uma pena de 11 anos de prisão efetiva por homicídio.
A pagou uma pena de multa no valor de 2000 euros por um crime de Injúria.
A é conhecido por ameaçar e agredir de forma gratuita.

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A praticou no mês passado um crime de burla, pelo qual deverá ser-lhe aplicada pena de
prisão efetiva de 3 anos.
a) Refira-se à possibilidade de A ser punido com uma PRI. Em que termos? Justifique a sua
resposta.
Uma vez que este tinha no seu histórico criminal já duas penas de prisão efetivas de período
superior a 2 anos, tendo o facto praticado por este no mês passado sido caracterizado como
um facto danoso cuja pena aplicada seria, também ela, superior a 2 anos (pena de prisão
por burla – artigo 217.º), poder-lhe-ia ser aplicado o regime da “pena relativamente
indeterminada”, presente no artigo 83.º.
Segundo este, qualquer indivíduo que pratique um crime doloso cuja pena de prisão seja
efetiva e com um período de tempo superior a 2 anos – ex.: crime por burla que estabelece
pena de prisão até 3 anos), e que tenha cometido anteriormente dois ou mais crimes
dolosos, a cada um dos quais tenha sido aplicada a prisão efetiva também por um período
superior a dois anos, é punido com uma pena relativamente indeterminada sempre que a
avaliação conjunta dos factos bem como da personalidade do agente revelem uma
acentuada inclinação para o crime. Tal situação verificou-se no seguinte caso uma vez que é
observada no indivíduo A um carácter agressivo sendo este conhecido por ameaçar e
agredir de forma gratuita, veem-se completos os dois pressupostos “pessoais” para a
aplicação da pena bem como os pressupostos criminais devido às suas práticas criminais.
Por sua vez, a pena relativamente indeterminada tem um mínimo correspondente a 2/3 da
pena de prisão que concretamente caberia ao crime cometido (2/3 de 3= 2 anos) e um
máximo de 6 anos acrescidos à mesma (9 anos) podendo justificar-se a mesma, até aos 6
anos de prisão, com a culpa do agente; e dos 6 aos 12 anos, com a personalidade do
mesmo.

b) Considere agora que A foi condenado em todas aquelas três primeiras penas, mas ainda
não as cumpriu totalmente, por não ter tido tempo útil para tal, na medida em que tem
apenas 23 anos. Quid iuris?
Tendo A menos de 25 anos, o disposto no artigo 83.º é aplicável se este tiver cumprido pelo
menos um ano de pena, por força do artigo 85.º nº1. Nesse caso, encontrando-se na mesma
preenchidos os pressupostos referidos acima referentes à personalidade do agente bem
como uma boa consideração dos factos, este poderá cumprir: no mínimo, 2/3 das penas
concretas ou seja, 6 anos e 3 meses relativamente à pena de prisão por violação, 7 anos e 3
meses relativamente à pena por homicídio e 2 anos relativamente à pena de prisão pelo
crime de burla; e no máximo, um acréscimo de 4 anos das penas concretas, ou seja: 14 anos
relativamente à pena de prisão; 15 anos relativamente à pena por homicídio; e 7 anos
relativamente à pena de prisão por burla.

c) Considere agora que, pelo crime de burla, A deveria ser condenado numa pena de 1 ano
de prisão. Poderá ser punido com uma PRI? Justifique.
Neste caso, não pode ser aplicada uma pena relativamente indeterminada uma vez que não
se encontra reunido o pressuposto presente no artigo 83.º nº1 relativamente à prática de
um crime doloso sujeito a pena de prisão efetiva por mais de dois anos. Deste modo, terá de
ser aplicada a pena concreta do crime, correspondente a um ano de prisão.

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📌 CASOS PRÁTICOS – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Caso Prático 1:
A perseguiu B, atriz revelação de uma novela da TVI, de Abril de 2013 a Fevereiro de 2014,
aparecendo-lhe de surpresa nos estúdios de gravação, dando-lhe presentes,
comparecendo em todos os eventos públicos em que B participava, referindo-se-lhe
exaustivamente em publicações de Facebook e no seu blog “B – um amor para toda a
vida”. B, profundamente inquieta com toda esta situação, apresentou queixa contra A em
Janeiro de 2014, mas o processo acabou arquivado na medida em que não foi possível
subsumir as condutas de A nem nos crimes contra a honra, nem nos crimes contra a
reserva da vida privada. Sabendo que, pela Lei 83/2015, de 5 de Agosto, o CP português
passou a prever, no seu artigo 154.º - A, o crime de “Perseguição”, diga se é possível
condenar, depois disso, A, pelos factos cometidos. Justifique.
A, nos termos do artigo 1.º nº1, nunca poderia ser punido pelos factos uma vez que estes
não eram possíveis de pena por lei anterior ao momento da sua prática. Ademais, este
também não poderia ser punido nos termos do artigo 2.º nº4 uma vez que quando as
disposições penais vigentes no momento da prática do facto forem distintas das
estabelecidas em leis posteriores, é aplicado o regime que se mostrar mais favorável ao
agente, pelo que A nunca poderia ser punido pois falhou o Princípio da Irretroatividade
Penal.

Caso Prático 2:
A apresentou queixa ao Ministério Público contra a sua colega de quarto B por esta se ter
apropriado de um seu colar de pérolas de valor não inferior a 10.000 euros. No final do
inquérito, o MP arquivou o processo por ter formado a convicção de que B se limitou a
usar o colar numa festa, sem intenção de se apropriar do mesmo. A requereu a instrução,
alegando que se provou que o colar foi usado sem a sua autorização. Pediu que B fosse
submetida a julgamento por furto de uso, uma vez que o bem usado tem um valor
equivalente ao dos objetos mencionados no art.º. 208.º do CP. Deverá o juiz de instrução
deduzir despacho de pronúncia contra B?
O furto de uso é crime quando se fala em automóveis ou outros veículos motorizados,
aeronaves, barcos ou bicicletas (artigo 207.º) – ainda que sem intenção de apropriação. No
entanto, uma das características da lei penal é ser estrita, ou seja, existe um princípio que
proíbe o recurso à analogia no direito penal. Assim, o facto de B se ter apropriado do colar
de A, sem intenção de se apropriar dele, não constituiu um crime. É então excluída a
responsabilidade penal. Contudo, ainda que excluída a responsabilidade penal, B poderá ser
responsabilizado civilmente, nomeadamente, por danos não patrimoniais – Princípio da
Unidade da Ordem Jurídica.

📌 CASOS PRÁTICOS – APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO


Caso Prático 1:
A e B, naturais do Porto, foram casados durante 10 anos, tendo em conjunto o filho C,
nascido em 2014. Divorciados desde 2019, A e B chegaram a acordo sobre a regulação do
exercício das responsabilidades parentais relativamente ao seu filho C, tendo este ficado a
residir com a mãe, A, mas recebendo visitas frequentes do seu pai B, que acabou por se

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mudar para o Algarve, mas vem frequentemente ao Norte. Numa das visitas do B ao seu
filho C, em Maio de 2021, tendo ambos saído para passear por Serralves, B acabou por
agredir com violência C, depois de este lhe ter revelado que muito certamente não
passaria de ano. Para o efeito, B usou, entre outras coisas, o seu cinto, o que provocou em
C dores fortes e equimoses variadas. Ao saber do episódio, A apresentou queixa contra B,
por um crime de violência doméstica relativamente ao filho de ambos, C, mas B acabou
acusado apenas por ofensas à integridade física, na medida em que não se preencheu o
elemento típico da coabitação entre agente e vítima para que se pudesse falar, no caso,
em crime de violência doméstica. Sabendo que pela lei 57/2021, de 16 de Agosto, se
prescindiu daquele elemento típico quando está em causa a violência praticada sobre
descendente, diga se B, que está hoje a ser julgado, pode ser punido nos termos do art.
152.º do CP. Justifique.

- Maio 2021: violência doméstica por parte de B a C: artigo 152.º nº1 c) + nº3 a) – pena de 2
a 8 anos
- Falta de elemento de coabitação
- Acusado de ofensa à integridade física: artigo 143.º - pena de 3 anos
- Ofensa à integridade física grave (?): artigo 144.º alínea c) – pena de 2 a 10 anos
- Agosto 2021: lei que prescinde o elemento de coabitação

A maio de 2021, B agrediu com violência C, seu filho, no decorrer de uma visita realizada ao
Porto – onde este residia, usando, entre outras coisas, o seu cinto provocando fortes dores,
bem como equimoses variadas a C. Face a tal acontecimento, sua mãe, A, apresentou
queixa alegando para tal um crime de violência doméstica uma vez que se encontravam
preenchidos os requisitos ao abrigo do artigo 152.º nº1 alínea c) e nº3 alínea a) do Código
Penal (CP). Contudo, no momento da prática do facto danoso, era ainda acrescentado um
requisito de coabitação entre o agente, B, e a vítima, A, que não se encontrava preenchido
na medida que C residida com a sua mãe, A, no Porto e o seu pai, B, se encontrava a viver no
Algarve fazendo apenas visitas frequentes a C.
Deste modo, na altura da prática do facto, por falta desse requisito, B foi acusado apenas do
crime de ofensas à integridade física, presente no artigo 143.º CP, ficando assim sujeito a
uma pena de prisão com duração máxima de 3 anos.
Acontece que, a agosto do mesmo ano, a lei 57/2021 de 16 de agosto, prescindiu o requisito
de coabitação entre agente e vítima para que se pudesse tratar de um crime de violência
doméstica passando, neste caso, B a poder ser acusado do mesmo, na medida em que assim
se verificariam preenchidos todos os pressupostos. Contudo, por força do Princípio da
Legalidade, presente no artigo 1.º nº1 e nº3 do CP, “só pode ser punido criminalmente o
facto descrito e declarado passível de pena por lei anterior ao momento da sua prática” e “o
facto considera-se praticado no momento em que o agente atuou”, respetivamente, não
podendo, por isso, B ser punido por uma lei que viu a sua existência – agosto 2021, após o
momento da prática do fato criminoso – maio 2021. Ademais, caso aconteça que as
disposições penais vigentes no momento da prática do facto punível sejam diferentes das
estabelecidas em leis posteriores, o que se verifica, é sempre aplicado o regime que
concretamente se mostrar mais favorável ao agente pelo que, no caso concreto, é aplicado
o regime de ofensas à integridade física uma vez que as suas consequências – máximo 3
anos de prisão, são mais reduzidas do que o regime de violência doméstica – máximo 8 anos

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de prisão por força do artigo 152.º nº1 alínea c) e nº3 alínea a), podendo o agente ainda ser
sujeito a penas acessórias de proibição de contacto com a vítima e de obrigação de
frequência de programas específicos de violência doméstica por força do nº4 do mesmo
artigo.
Conclui-se, assim, que B, estando hoje a ser julgado, não pode ser punido nos termos do
artigo 152.º do CP por força dos artigos 1.º nº1, 2.º nº1 e nº4, e 3.º do Código Penal.

Caso Prático 2:
Suponha que em Agosto de 2020, A praticou o facto X, que constituía um crime, punível
com pena de prisão até 3 anos. Julgado e condenado por esse facto, A começou a cumprir
uma pena de um ano de prisão no dia 18 de Outubro do mesmo ano. No entanto, uma
alteração ao Código Penal de Janeiro de 2021 revogou a norma que previa aquele crime.
Quid Iuris?
- Agosto 2020: A praticou um facto – X, que constituída crime punível com pena até 3 anos
de prisão
- Outubro 2020: começou a cumprir uma pena de prisão
- Janeiro 2021: alteração ao CP que revoga a norma que previa o crime X

Neste caso, aplica-se o regime que se encontra ao abrigo no artigo 2.º nº2 do Código Penal,
na medida em que o facto X, punível segundo a lei no momento da sua prática – agosto de
2020, deixa de o ser uma vez que uma lei nova, resultante da alteração ao Código Penal a
janeiro de 2021, revogou a norma que previa o crime do facto X. Deste modo, apesar de A
ainda estar a cumprir a pena relativamente ao facto X, deixa de o fazer a partir do momento
em que a alteração ao Código Penal entrar em vigor.

Caso Prático 3:
Durante um período de grande perturbação nos transportes públicos, e por essa
circunstância, foi aprovada uma lei que punia com prisão até seis meses quem circulasse
naqueles transportes sem bilhete para o efeito. A, indivíduo avesso a regras, decidiu fazer
uma viagem de Coimbra para Lisboa, no Intercidades, sem comprar bilhete, passando toda
a viagem a tentar esconder-se do responsável pela verificação dos bilhetes, B. Perto de
Vila Franca de Xira, B encontra finalmente A e, depois de se envolverem numa grande
discussão, B faz A sair nesta estação.
Seis meses depois, quando a situação já é mais calma, é aprovada nova lei que vem agora
punir com coima quem circule em transporte público sem bilhete para o efeito.
Sabendo que, quando A é levado a julgamento, já está em vigor a lei nova, diga se e como
será punido A. Justifique a sua resposta.

A decidiu fazer uma viagem de Coimbra a Lisboa sem comprar bilhete e, quando abordado
pelo responsável da verificação dos bilhetes, B, foi obrigado a sair na respetiva estação.
Aquando do momento da prática do facto, este era punível com pena até seis meses – lei
temporária aplicada por força das circunstâncias vigentes na altura - período de grande
perturbação nos transportes públicos. Contudo, quando A foi levado a julgamento, já havia
entrado em vigor uma nova lei que punia, pelo mesmo facto, com uma coima.
Sendo a lei que se encontrava em vigor aquando da prática do facto de A, uma lei
temporária, esta tem o seu período de aplicação visto num determinado período de tempo,

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sendo punível durante o mesmo na medida em que A será julgado tendo por base a lei
temporária que estabelece como punição a pena até 6 meses de prisão por força do artigo
2.º nº3 do Código Penal.

Caso Prático 4:
Em virtude de um período de sucessivas greves na CP, foi aprovada uma lei que punia
com pena de prisão até seis meses quem circulasse naqueles transportes sem bilhete para
o efeito. A decidiu, ainda assim, viajar num comboio para o qual já não existiam bilhetes
disponíveis e fazer, de pé, a viagem entre Coimbra e Braga. Três meses depois foi
aprovada uma nova lei, segundo a qual a circulação sem bilhete passou a ser punida
com pena de prisão de seis meses a um ano.
Sabendo que, quando A é levado a julgamento, está em vigor a lei nova, diga como será
punido A. Justifique a sua resposta.
Aquando do momento da prática do facto, este era punível com pena até seis meses – lei
temporária aplicada por força das circunstâncias vigentes na altura - período de grande
perturbação nos transportes públicos. Contudo, quando A foi levado a julgamento, já havia
entrado em vigor uma nova lei que punia, pelo mesmo facto, com uma coima.
Sendo a lei que se encontrava em vigor aquando da prática do facto de A, uma lei
temporária, esta tem o seu período de aplicação visto num determinado período de tempo,
sendo punível durante o mesmo na medida em que A será julgado tendo por base a lei
temporária que estabelece como punição a pena até 6 meses de prisão por força do artigo
2.º nº3 do Código Penal lei que se encontrava em vigor no momento da prática do facto.

Caso Prático 5:
Suponha que, em Abril de 2020, e tendo em conta a situação de pandemia que se
começara a viver, foi aprovada uma lei segundo a qual passou a ser punido com pena de
prisão até um ano “quem, intencionalmente, tossir sem máscara e num espaço fechado”.
Em Julho, e por causa do abrandamento da taxa de contágio, foi aprovada uma nova lei
pela qual aquele comportamento passou a ser punido com pena de multa. Em Outubro,
numa fase de novo aumento do número de casos de infetados em Portugal, foi aprovada
uma terceira lei, fixando como pena para aquela conduta prisão até 6 meses. Todas as leis
fixavam o seu período de vigência desde a data da publicação até ao final da pandemia. A
tossiu, sem máscara, dentro de uma sala de aula, no dia 8 de Maio de 2020 e é julgado em
Novembro deste mesmo ano. Qual a lei aplicável ao caso? Justifique.
Lei em vigor na altura do facto: lei de abril 2020 – pena de prisão até 1 ano
Lei em vigor na altura do julgamento: lei de outubro 2020 – pena de prisão até 6 meses

Todas as presentes leis são leis temporárias, na medida em que têm o seu período de
vigência fixado desde a data de publicação até ao final da pandemia pelo que, é então
aplicada a lei que se encontrava em vigor no momento da prática do facto – lei de Abril
2020: ultraatividade das leis temporárias.

Caso Prático 6:
Em Abril de 2018 foi aprovada uma lei (1) segundo a qual passavam a ser punidos,
com pena de prisão até três anos, todos aqueles que ateassem fogueiras ao ar livre e em
zona de palha seca.

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Em Julho, a referida lei foi substituída por outra (2), passando aquele comportamento a
ser punido com pena de prisão até dois anos.
Mas, em Agosto, a pena de prisão passou para até quatro anos (3).
Em Outubro, porém, uma quarta lei (4) veio fixar para aquele mesmo comportamento,
novamente, a pena de prisão até três anos.
B ignorou todos os avisos da proteção civil e resolveu fazer uma queimada no seu quintal,
com palha seca, no dia 3 de Junho de 2018.
Supondo que B está hoje a ser julgado, diga qual a lei aplicável ao caso. Justifique.

Lei 1, 2 e 3: lei temporária – artigo 2.º nº3


Lei 4: lei normal

Facto ocorrido a junho de 2018 – lei 1 em vigor (pena de prisão até 3 anos)

Todas as presentes leis são leis temporárias, na medida em que têm o seu período de
vigência fixado desde a data de publicação até ao final da pandemia pelo que, é então
aplicada a lei que se encontrava em vigor no momento da prática do facto – lei de Abril
2020: ultraatividade das leis temporárias.

Caso Prático 7:
Suponha que A praticou determinado facto em Setembro de 2020, numa altura em que este
facto era punido com prisão até 1 ano (Lei 1). Entretanto, em Janeiro deste ano, entrou em
vigor uma lei (Lei 2) que passou a punir o facto X com uma coima. Desde Agosto, porém, o
facto X, devido à aprovação de uma nova lei (Lei 3), é punido com multa. A está hoje a ser
julgado. Refira, justificando legal e doutrinalmente a sua resposta, qual a lei aplicável.

- Lei 1: em vigor em setembro 2020 (prisão até 1 ano)


- Lei 2: em vigor em janeiro 2022 (coima)
- Lei 3: em vigor em agosto 2022 (multa)
- A julgado em 2022

Descriminalização, isto é, não condenação do indivíduo por força do art.º 2.º nº2 CP e tendo
respeito pelo Princípio da Retroatividade da Lei Mais Favorável.

Caso Prático 8:
A, de 25 anos, abusou sexualmente da sua vizinha B, de 5, durante o período em que esta
passou a viver apenas com a avó, na sequência da emigração dos seus pais. Os factos
remontam aos meses de Março, Abril e Maio de 2017. Julgado e condenado em Dezembro
de 2018, B cumpre, neste momento, pena de 9 anos de prisão. Supondo que o legislador
português tivesse aprovado uma lei, em Julho deste ano, segundo a qual o crime em causa
passaria, no máximo, a ser punido com uma pena de prisão até 7 anos, diga em que
termos poderá esta alteração influenciar a situação prisional de A. Justifique.

Caso Prático 9:

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Quid Iuris se A, B e C, julgados e condenados respetivamente a 6, 12 e 14 anos de prisão


em 2015, veem, hoje, o tipo legal de crime no qual foram subsumidas as suas condutas ser
alterado no sentido de prever como pena máxima 6 anos de prisão? Justifique.

Caso Prático 10:


Em 2014, A e B cometeram em coautoria o crime X. Suponha que nessa data tal crime era
punido com pena de prisão de 2 a 8 anos. Perseguidos pelas autoridades, só A foi
encontrado e levado a julgamento, tendo B fugido para o estrangeiro. Em 2016, A foi
condenado numa pena de prisão de 7 anos, não tendo interposto recurso. Em 2020 a pena
aplicável ao crime cometido por A e por B passou a ser de prisão de 2 a 6 anos. Em 2020 B
foi finalmente encontrado, julgado e condenado.
a) Por que lei deve B ser punido?
b) Poderá A beneficiar do regime mais favorável da nova lei?
c) Mas imaginemos agora que B tinha afinal sido encontrado, julgado e condenado em
2019, numa pena de prisão de 4 anos. Poderá beneficiar, de algum modo, da
despenalização que, entretanto, se verificou?

Caso Prático 11:


Ana praticou determinado facto em Novembro de 2019, quando este facto era punido
com pena de prisão. Suponha que, em Fevereiro de 2021, foi aprovada uma lei pela qual o
mesmo facto passou a ser punido com coima e que, no passado dia 5 de Abril, entrou em
vigor uma última lei prevendo que o facto seja punido com pena de multa. Ana está hoje a
ser julgada. Indique, justificando, qual a lei aplicável ao caso.

Caso Prático 12:


Em 2016, António cometeu um crime de contrabando, punível com prisão até 2 anos (L1).
Em 30 de Novembro de 2018, o contrabando foi descriminalizado (L2). Em 2020, entrou
em vigor uma nova lei que voltou a punir o contrabando, agora com prisão até 1 ano (L3).
Esta última lei continha uma norma segundo a qual as suas disposições retroagiam os seus
efeitos a 1 de Dezembro de 2018. O processo-crime relativo ao crime praticado por
António atingiu a fase de julgamento em 2022, encontrando-se em vigor L3. Suponha que
é o/a juiz/juíza a quem cabe elaborar a decisão do caso e pronuncie-se,
fundamentadamente, sobre qual das leis deve ser aplicada ao caso e quais as respetivas
consequências.

Caso Prático 13:


Em Dezembro de 2020, Beatriz, regressando a casa, no seu automóvel, depois de um
jantar em casa de amigos, foi mandada parar numa operação stop. Soprado o balão,
acusou uma taxa de álcool no sangue de 1,1 g/l. Por isso, foi-lhe aberto um processo de
contraordenação, com vista a sancioná-la pela prática da infração contraordenacional de
condução em estado de embriaguez. No dia 1 de Janeiro de 2021 entrou em vigor nova
legislação rodoviária, que passou a qualificar como crime a condução de veículo em via
pública com uma taxa de álcool no sangue igual ou superior a 1 g/l. Logo após a entrada
em vigor desta nova lei, a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária remeteu o
processo de Beatriz para o Ministério Público, para que este acusasse Beatriz por crime de
condução de veículo em estado de embriaguez. Quid juris?

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Leonor Castro 2022/2023

📌 CASOS PRÁTICOS – APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO


Caso Prático 1:
Durante o mês de Agosto, A, casado com B, envenenou a mulher com intenção de a matar
durante as férias que gozavam no Funchal. Detido imediatamente pelas autoridades, A foi
acusado do crime de homicídio qualificado na forma tentada pois B acabou por
sobreviver.
a) Sabendo que ambos são alemães, poderá A ser julgado pelos tribunais portugueses?
Será a lei penal portuguesa aplicável ao caso?

Sim, por força do artigo 7.º nº1 – Critério da Ação, conjuntamente com o artigo 4.º -
Princípio da Territorialidade, independentemente da nacionalidade dos agentes, tendo o
facto sido praticado em território português, terá de ser julgado pelos tribunais
portugueses.

b) E se, em vez disso, A enviou um manuscrito envenenado, ainda na Alemanha, para o


hotel onde se hospedaria com a mulher e com a indicação de que lhe fosse entregue no
segundo dia de estadia, o que veio a acontecer, tendo B, no entanto, ainda assim,
sobrevivido graças à rápida intervenção de um médico que se encontrava no mesmo
hotel?
Pode ser na mesma aplicada a lei portuguesa na medida em que, apesar de ter começado a
“ação” na Alemanha aquando do envio do manuscrito, o resultado esperado – o homicídio,
tinha como intenção ser praticado em Portugal pelo que se aplica o disposto no artigo 7.º
nº2 – Critério do Resultado Esperado e do artigo 4.º alínea a), uma vez que o facto foi
praticado em território português.

Caso Prático 2:
A português viaja numa aeronave portuguesa com destino a Espanha. Após aterrar em
Madrid, A, ainda a bordo, agride B, espanhol, causando-lhe ofensas à integridade física
graves (art.º 144º CP). Podem os tribunais portugueses julgar este facto?
Uma vez que o facto foi praticado ainda a bordo da aeronave portuguesa, é aplicável ao
mesmo a lei portuguesa por força do artigo 4.º alínea b) podendo, sim, os tribunais
portugueses julgar este facto que tem como consequência a pena de prisão de 2 a 10 anos.

Caso Prático 3:
A, espanhol, e B, portuguesa, comemoravam mais um aniversário de namoro, em Paris,
quando se envolveram numa violenta discussão, tendo B acabado por esbofetear A com
violência. Sabendo que ambos regressaram a Portugal dois dias depois do episódio de
violência, diga em que condições poderão os tribunais portugueses ser competentes para
julgar a situação.
Tendo o facto sido praticado fora do território português, remete-se ao artigo 5.º CP, em
concreto, o seu nº1 alínea e) uma vez que foi praticado por um português contra um
português – Princípio da Nacionalidade Ativa. Aquando da aplicação do artigo 5.º nº1 alínea
e) é necessária a reunião de determinados requisitos, dos quais: o agentes serem
encontrados em Portugal, o que se verifica com o seu regresso; forem também puníveis
pela legislação do local onde se encontravam, o que se verifica; e que a extradição não
possa ser concedida, o que também se verifica por força do artigo 33.º nº3 CRP.

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Leonor Castro 2022/2023

Por sua vez, não tendo o agente sido julgado no país da prática do facto, França, tem lugar a
aplicação da lei portuguesa ao facto praticado por este – artigo 6.º nº1. Contudo, o facto é
julgado segundo a lei do país onde foi praticado o facto, sobrepondo-se esta à lei
portuguesa, sempre que a consequência for mais favorável ao agente – artigo 6.º nº2.
Assim, B será julgada sendo-lhe aplicada a lei que lhe for concretamente mais favorável (a
lei portuguesa ou a lei francesa).

Caso Prático 4:
A, francês, cometeu 3 homicídios qualificados em França. A polícia francesa andava à sua
procura para o prender, mas A conseguiu fugir para Portugal. Sabe-se que as vítimas são
portuguesas e que em França o delinquente seria punido com pena de prisão perpétua.
Uma vez em Portugal, A pode ser julgado pelos tribunais portugueses?

- Facto praticado fora de Portugal – França (artigo 5.º): homicídio qualificado


- Vítimas portuguesas: Princípio da Nacionalidade Passiva
- Agente encontra-se em Portugal

Tendo o facto sido praticado fora do território português, remete-se ao artigo 5.º CP, em
concreto, o seu nº1 alínea e) uma vez que foi praticado por um estrangeiro (francês) contra
um português (3 vítimas) – Princípio da Nacionalidade Passiva. Aquando da aplicação do
artigo 5.º nº1 alínea e) é necessária a reunião de determinados requisitos, dos quais: o
agente ser encontrado em Portugal, que se verifica na medida em que este fugiu para cá;
for também punível pela legislação do local onde se encontravam, o que se verifica uma vez
que lhe seria aplicada a pena de prisão perpétua; e que a extradição não possa ser
concedida, o que também se verifica por força do artigo 33.º nº4 CRP.
Por sua vez, não tendo o agente sido julgado no país da prática do facto, França, tem lugar a
aplicação da lei portuguesa ao facto praticado por este – artigo 6.º nº1. Contudo, o facto é
julgado segundo a lei do país onde foi praticado o facto, sobrepondo-se esta à lei
portuguesa, sempre que a consequência for mais favorável ao agente – artigo 6.º nº2.
Assim, A será julgado sendo-lhe aplicada a lei portuguesa, uma vez que esta apresenta como
consequência a pena de prisão com mínimo de 8 e máximo de 25 anos (artigo 131.º e 132.º
nº1), sendo mais favorável do que a lei francesa, que aplicaria a pena de prisão perpétua.

Caso Prático 5:
Na sequência de uma mega investigação, encontraram-se várias provas de que A,
português, residente no Líbano, se havia juntado a um grupo armado que projetava vários
ataques suicidas na Europa, revelando documentos dos Serviços Secretos portugueses,
relativos à salvaguarda da população em território nacional. Refira-se à possibilidade de
este ser punido pela lei penal portuguesa (art. 316.º - violação de segredo de Estado)?

- Nacionalidade do agente: portuguesa – Princípio da Nacionalidade Ativa


- Facto praticado no estrangeiro: artigo 5.º
- Segredo de Estado: artigo 316.º (pena de 2 a 8 anos) – Princípio da Defesa Nacional

Tendo o facto sido praticado fora do território português – Líbano, remete-se ao artigo 5.º
CP, em concreto, o seu nº1 alínea e), uma vez que este foi praticado por um português

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Leonor Castro 2022/2023

contra portugueses através da revelação dos documentos dos Serviços Secretos – Princípio
da Nacionalidade Ativa. Aquando da aplicação do artigo 5.º nº2 alínea e) é necessária a
reunião de determinados requisitos, dos quais: o agente ser encontrado em Portugal,
requisito este que desde logo não se verifica preenchido na medida em que o agente, A,
encontra-se a residir no Líbano. Não preenchido um dos requisitos, não pode ser aplicado o
regime previsto na alínea e) nº1 do artigo 5.º.
Contudo, encontrando-se a ser violado o Segredo de Estado, presente no artigo 316.º, pode-
se remeter para a alínea a) nº1 do mesmo artigo, na medida em que esta engloba os crimes
praticados ao abrigo dos artigos 308.º a 321.º, no qual este se insere. Segundo esta alínea,
pode relativamente ao ato praticado ser aplicada a lei penal portuguesa estabelecendo esta,
para a violação do Segredo de Estado, uma pena de prisão de, no mínimo 2, e no máximo 8
anos de prisão.

Caso Prático 6:
A, realizador francês, mas residente em Portugal, viajou para França com o intuito de
concluir uma nova curta metragem. Nesta, usou B, jovem francesa de 14 anos. A voltou
para Portugal. Sabendo que a curta metragem em causa era de conteúdo pornográfico e
que a jovem B foi usada como protagonista, diga em que termos poderão os tribunais
portugueses julgar A pelo crime previsto e punível nos termos do artigo 176.º/1,b) do CP.
Justifique a sua resposta.
- B, menor
- Agente estrangeiro, residente em Portugal
- Ato praticado em França

O facto presente foi praticado no lugar em que A agiu – França, por força do artigo 7.º nº1.
Tendo o facto sido praticado fora do território português – França, remete-se ao artigo 5.º
CP, em concreto, o seu nº1 alínea d), uma vez que o crime presente se encontra ao abrigo
do artigo 176.º nº1 alínea b); a vítima do mesmo é considerada menor (14 anos) e o agente
reside habitualmente em Portugal, apesar de ser de nacionalidade francesa.
Deste modo, concluiu-se que pode e deve ser aplicada a lei penal portuguesa de acordo com
o artigo 176.º alínea b), 7.º nº1 e 5.º nº1 alínea d) ii. Contudo, uma vez que o agente não foi
julgado no país onde foi realizado o facto, pode, no julgamento, este ser julgado tendo pela
lei do país onde este foi realizado, sobrepondo-se esta à lei portuguesa, sempre que se
mostrar mais favorável ao agente (artigo 6.º nº2).

Caso Prático 7:
A, americano, cometeu no seu país um crime punido com pena de morte e refugiou-se em
Portugal. Será a lei penal portuguesa aplicável a este caso?

O facto presente foi praticado no lugar em que A agiu – América, por força do artigo 7.º nº1.
Tendo o facto sido praticado fora do território português, remete-se ao artigo 5.º CP, em
concreto ao seu nº1 alínea f), uma vez que foi praticado por um estrangeiro – americano,
encontrado em Portugal, tendo este sido o lugar onde A se refugiou. Ademais, a extradição
foi requerida, mas não pode ser concedida por força do artigo 33.º nº6 CRP.
Deste modo, e não tendo A sido ainda julgado no território no qual foi cometido o facto,
este pode ser julgado ao abrigo da lei portuguesa por força do artigo 6.º nº1 e nº2, sendo

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Leonor Castro 2022/2023

aplicado ao mesmo a lei penal que se mostrar mais favorável ao agente, sendo, neste caso,
a lei portuguesa, que em nenhum caso tem como consequência a pena de morte sendo,
portanto, qualquer consequência mais favorável ao agente que esta.

Caso Prático 8:
A bordo de uma aeronave espanhola e na sequência de um desentendimento durante o
voo, A, italiano, matou B, português. Assim que a aeronave aterrou em Madrid, A foi
detido pelas autoridades. Julgado e condenado em Espanha, A começou a cumprir a sua
pena de 10 anos de prisão em Março de 2019. No passado mês de Dezembro, A, porém,
conseguiu evadir-se da prisão, refugiando-se num monte alentejano, propriedade de um
amigo alemão. Serão os tribunais portugueses competentes para julgar A? Poderá a lei
penal portuguesa aplicar-se ao caso?

O facto presente foi praticado no lugar em que A agiu – aeronave espanhola, pelo que é
considerado praticado fora do território português por força do artigo 7.º nº1. Tendo o facto
sido praticado fora do território português, remete-se ao artigo 5.º CP, em concreto ao seu
nº1 alínea e) uma vez que foi praticado por um estrangeiro -A, italiano, contra um
português – B – Princípio da Nacionalidade Passiva, no qual a vítima é de nacionalidade
portuguesa. Aquando da aplicação do artigo 5.º nº1 alínea e) é necessária a reunião de
determinados requisitos, dos quais: o agente ser encontrado em Portugal – o que se verifica
com a sua fuga pós-prisão; for também punível pela legislação do local onde este se
encontrava, o que se verifica na medida em que A se encontrava em Espanha a cumprir uma
pena de prisão; e que a extradição não possa ser concedida, o que também se verifica por
força do artigo 33.º nº4. Assim, há de se aplicar o artigo 6.º nº1 juntamente com o artigo
82.º tendo que decorrer um desconto entre o tempo que A ficou preso em Espanha, tendo
que ser descontados quase 3 anos. Por sua vez, será aplicado a A o regime penal da lei que
lhe for mais favorável por força do artigo 6.º nº2 – ou a lei portuguesa ou a lei espanhola.

Caso Prático 9:
Belmiro, português emigrante no Luxemburgo, veio a Portugal no passado mês de Agosto,
para passar umas férias com a sua família. Preocupado com a situação de desemprego do
seu irmão Carlos, convence-o a ir consigo para o Luxemburgo, onde acredita que poderá
ser mais fácil procurar um novo emprego nesta fase difícil que o mundo atravessa. Carlos
nunca antes saíra de Portugal, mas, embora receoso, acabou por aceitar o desafio do
irmão. Já no Luxemburgo, e não se adaptando à sua nova vida naquele país, Carlos
desentende-se com Belmiro e pede-lhe dinheiro emprestado para regressar a Portugal.
Como Belmiro não acede àquele seu pedido, Carlos aproveita um momento em que o
irmão não está em casa e, conhecendo o segredo do cofre da casa, tira 15.000 euros que
Belmiro ali tinha guardados. Carlos acredita que, com esse dinheiro, poderá viver uns
tempos de modo confortável em Portugal e procurar mais calmamente um novo emprego.
Carlos regressa a Portugal a 15 de Outubro. Belmiro, inconformado com o sucedido,
cortou relações com o irmão e pretende saber se o irmão pode ser punido em Portugal
pelo crime que cometeu. Supondo que é advogado e que Belmiro o procura, como
caracterizaria juridicamente a situação ao seu cliente? Justifique a sua resposta.

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Leonor Castro 2022/2023

- Agente (Carlos) de nacionalidade portuguesa & vítima (Belmiro) de nacionalidade


portuguesa: artigo 5.ºnº1 alínea b)
- Facto praticado fora de Portugal: Luxemburgo (artigo 7.º nº1)

O presente facto foi praticado no lugar em que o agente – Carlos agiu – Luxemburgo, por
força do artigo 7.º nº1, mas, uma vez que tanto o agente – Carlos, como a vítima – Belmiro,
são agentes de nacionalidade portuguesa, tendo assim o facto sido cometido de português
contra português, aplica-se o regime encontrado ao abrigo do artigo 5.º nº1 alínea b) sendo,
assim, Belmiro julgado obrigatoriamente pela lei penal portuguesa por força do disposto nos
artigos 6.º nº3 e 5.º nº1 alínea b).
Assim, sendo julgado pela lei portuguesa, Carlos será julgado pelo crime de furto qualificado
por força do artigo 201.º nº1 alínea a), sendo punido com pena de prisão até cinco anos ou
600 dias de multa.

Caso Prático 10:


José, português emigrante em França, recebeu a notícia de que a sua mãe, residente
numa aldeia do alto Minho, havia sido insultada, nesse mesmo dia, por um seu vizinho,
Manuel. Muito agastado com o sucedido, José ligou de imediato aos seus irmãos Pedro e
Xavier e convenceu-os que a afronta à mãe não podia passar sem resposta, devendo ser
dada uma lição a Manuel, instigando-os a dar-lhe uma sova. Animados pela instigação de
José, Pedro e Xavier fizeram uma espera a Manuel, agredindo-o a murros e pontapés
durante cerca de 10 minutos. Regressado a Portugal, para celebrar a época de Natal, José
foi detido por suspeita de instigação dos seus irmãos na agressão de que foi vítima
Manuel. Confrontado com esta suspeita, José defendeu-se alegando que não pode ser
processado em Portugal já que à data dos factos se encontrava em França, onde
reside. Quid juris?

O presente facto foi praticado no lugar em que o agente – Pedro e Xavier agiu, tendo por
isso sido praticado em Portugal por força do artigo 7.º nº1. Ocorrendo o facto em Portugal,
basta que um dos seus comparticipantes esteja em Portugal pelo que, sendo José instigador,
de nacionalidade portuguesa e tendo o facto ocorrido em Portugal, é como se José tivesse
praticado o seu ato de “instigação” também em Portugal, sendo aplicado o Critério da
Territorialidade presente no artigo 4.º alínea a).
Deste modo, pode sim José ser processado pela lei portuguesa por força dos artigos
previamente mencionados.

Caso Prático 11:


A, chileno, assaltou um banco no Japão. Descoberto o facto, A é julgado e condenado
naquele país a uma pena de prisão perpétua. Ao fim do primeiro ano de cumprimento da
pena, A evade-se para Portugal. Em que circunstâncias poderá A ser julgado no nosso país
pela prática do referido crime? À luz de que lei? Terá alguma relevância o facto de o
agente ter cumprido um ano de prisão no Japão? Justifique a sua resposta, mobilizando os
elementos legais e doutrinais relevantes.

O presente facto foi praticado no lugar em que o agente – A agiu, tendo por isso sido
praticado no Japão por força do artigo 7.º nº1. Desta forma, tendo ocorrido o facto fora de

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Leonor Castro 2022/2023

Portugal remete-se para o artigo 5.º nº1 alínea f), uma vez que o agente é estrangeiro –
chileno e foi encontrado em território português aquando da sua evasão. Deste modo, A
poderá ser julgado pela lei portuguesa tendo, para tal, que ser descontado o tempo que
este cumpriu na prisão no território onde se encontrava – 1 ano, por força do artigo 82.º e
6.º nº1. Assim, poderá ser aplicada a lei portuguesa ao facto caso esta se mostre mais
favorável ao agente.

Caso Prático 12:


Bernardo é proprietário de uma empresa sediada na Guarda. Certo dia, tem uma reunião
com Paco nas instalações dessa empresa, destinada a persuadir este cidadão espanhol a
investir no seu negócio, que se encontra a braços com grandes dificuldades financeiras.
Para esse efeito, Bernardo apresenta a Paco relatórios e contas falsificadas, que levam
Paco a acreditar na boa situação financeira e económica da empresa. Já em Espanha, Paco
faz uma transferência de 100.000 euros da sua conta bancária espanhola para a conta de
Bernardo. Logo que recebe os fundos, Bernardo utiliza-os para pagar dívidas pessoais,
causando assim um grave prejuízo a Paco e cometendo, dessa forma, um crime de burla,
previsto e punido pelo art. 217.º do CP. Ao ser julgado pelo crime cometido, Bernardo
argumenta que lhe deve ser aplicável a lei espanhola, por lhe ser concretamente mais
favorável, visto que, entretanto, os crimes de burla haviam sido amnistiados naquele
país. Pronuncie-se sobre a pretensão de Bernardo, justificando a sua resposta no plano
legal e doutrinal.

Caso Prático 13:


A e B, italianos residentes em Portugal, enviam de um correio de Lisboa uma encomenda
armadilhada para C, também italiano, residente em Itália, com intenção de o matar. A
encomenda acaba, porém, por extraviar-se e nunca chegar ao seu destino. Diga se e em
que termos A e B poderão ser julgados em Portugal. Justifique legal e doutrinalmente a
sua resposta.

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