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DIREITO PENAL I

CASOS PRÁTICOS — LEI PENAL NO TEMPO

Caso I
Abel faz Berta abortar, com o seu consentimento (artigo 140.º, n.º 2, do Código Penal). Abel não
é médico.

⎯ Imagine que (analise as várias hipóteses separadamente, tendo em conta as alterações à


lei penal e os seus eventuais efeitos relativamente à situação jurídico-penal de Abel):
a) Abel provocou o aborto através de uma substância de efeito demorado, com previsão de
concretizar a interrupção da gravidez em duas semanas. Quando ministrou tal substância a Berta,
o aborto consentido não era punido. Uma semana depois, é aprovada entra em vigor a norma
constante do artigo 140.°, n º 2, do Código Penal. Duas semanas depois, Berta abortou.
b) Abel provocou o aborto durante a vigência do artigo 140.°, n.º 2, do Código Penal, mas,
enquanto está a ser julgado, entra em vigor uma norma que despenaliza o aborto;
c) Abel cumpre pena de prisão a que foi condenado em virtude do seu crime, quando entra em
vigor uma norma que despenaliza o aborto;
d) Abel foi condenado em 2 anos e 6 meses de prisão, e já cumpriu 2 anos da pena. No dia em que
cumpre 2 anos no Estabelecimento Prisional, chega-lhe a notícia de que entrou em vigor uma
norma que, alterando o artigo 140.º, n.º 2, do Código Penal, fixa a pena máxima para o crime em
questão em 2 anos de prisão;
e) Abel foi condenado em 2 anos e 6 meses de prisão, e já cumpriu 6 meses da pena. Entra em
vigor uma norma que, alterando o artigo 140.º, n.º 2, do Código Penal, fixa a pena máxima para o
crime em questão em 2 anos de prisão;
f) Abel praticou o facto em Janeiro de 2006. Em Fevereiro, entra em vigor uma norma que,
alterando o artigo 140.º, n.º 2, do Código Penal, fixa a pena máxima para o aborto consentido em
dois anos de prisão. Em Março, esta norma é revogada e substituída por uma outra que repõe em
vigor o regime anterior. Abel é julgado em Abril;
g) Abel está a ser julgado, quando entra em vigor uma norma que, alterando o artigo 140.º, n.º 2,
do Código Penal, fixa em 4 anos de prisão a pena máxima aplicável a este crime e estabelece uma
atenuação especial da pena nos casos em que o aborto seja provocado em pessoa que esteja na
dependência económica do agente. Esta circunstância atenuante verifica-se face a Berta;
h) Preocupada com o grande número de mortes ocorridas na sequência de abortos clandestinos, a
Assembleia da República aprova uma lei que agrava em 1/3 as penas de todos os crimes de aborto
clandestino verificados dentro do ano subsequente. Abel pratica o facto na vigência desta norma,
mas só é julgado dois anos depois, quando a mesma já não estava em vigor (estando em vigor,
novamente, a redação atual do artigo 140.°, n.º 2, do Código Penal);
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i) Quando Abel praticou o facto, o artigo 140.°, n.º 2, do Código Penal, remetia para lei posterior,
a aprovar após referendo, a cominação da pena aplicável aos crimes de aborto. Esta lei entrou em
vigor após Abel ter provocado o aborto em Berta.
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Caso II
A. Em 13 de Novembro de 2015, Carlos conduz na autoestrada o seu novo descapotável,
acompanhado de Valentina, sua namorada. De modo a exibir à companheira aquilo a que chama o
“domínio do animal”, Carlos efetua perigosíssimas ultrapassagens, violando grosseiramente as
regras da circulação rodoviária e colocando em perigo a vida dos outros automobilistas. Em 20 de
Novembro de 2015, entra em vigor uma lei que altera o artigo 291.º, n.º 1, do Código Penal,
suprimindo o trecho “e criar deste modo perigo para a vida ou para a integridade física de outrem,
ou para bens patrimoniais alheios de valor elevado”. A mesma lei diminui ainda o limite máximo
aí referido para 2 anos de prisão (mantendo a pena de multa como alternativa). Carlão é julgado
em 21 de Dezembro. Quid iuris?
B. Suponha agora que 11 de Novembro de 2015, uma Lei tinha revogado o artigo 291.º do Código
Penal. Em Novembro, aquela lei é declarada inconstitucional com força obrigatória geral pelo
Tribunal Constitucional. Carlos é julgado em 21 de Dezembro.
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Caso III
Helga é uma aluna da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e Possidónio é docente da
cadeira de Direito dos Disparates Públicos na mesma faculdade. Possidónio sente uma forte
atração por aquela aluna. Muito ciumento, incapaz de suportar os olhares que outros alunos lançam
a Helga, Possidónio decide sequestrá-la, com o objetivo de a impedir de participar no concurso
Miss FDUL, agendado para os dias 15, 16, 17 e 18 de Setembro de 2013. Para isso pede ajuda a
Castor, seu irmão gémeo.
Fiel ao plano de Possidónio, Castor consegue fazer uma cópia das chaves da casa de Helga e
entrega-as ao irmão em 12 de Setembro de 2013.
No dia 15 de Setembro, Possidónio entra muito cedo em casa de Helga e tranca-a a no quarto.
Possidónio mantém Helga como sua prisioneira até 19 de Setembro, dia em que descobre que esta
usa uma peruca. Muito desgostoso, põe-na fora de casa, dizendo que nunca mais a quer ver.
Ainda muito assustada, Helga desabafa com os seus colegas e estes transmitem a notícia do crime
ao Ministério Público. Possidónio é julgado em Dezembro de 2018.

⎯ Imagine que:
A. Em Outubro de 2013 entra em vigor uma lei que altera o artigo 158.º, n.º 2 do Código Penal.
Considere as seguintes hipóteses separadamente:
a) Acrescentando uma alínea h) onde se lê: “For praticada em casa da vítima”. Na resposta
a esta hipótese, imagine que o sequestro não durou mais de dois dias;
b) Substituindo, por um lado, a atual redação da alínea a) por: “For praticada em casa da
vítima”. Diminuindo em um terço, por outro lado, o limite máximo da moldura abstrata da
pena;
c) Substituindo a expressão “dois dias”, constante da alínea a), pela expressão “três dias”.
Aumentando ainda, por um lado, o limite máximo da moldura abstrata da pena em um terço.
Acrescentando ao artigo, por outro lado, o seguinte n.º 4: “O procedimento criminal depende
de queixa”;
d) Acrescentando o seguinte trecho (depois da redação das alíneas): “e desde que a privação
da liberdade seja realizada em casa da vítima”.

B. Em Novembro entra em vigor uma lei que aumenta para o dobro os prazos previstos no artigo
122.º, n.º 1 do Código Penal.
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C. Em Abril de 2014, entra em vigor uma lei que acrescenta ao artigo 158.º do Código Penal o
seguinte n.º 4: “O procedimento criminal depende de queixa”.
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Caso IV
A. Movido pelo seu ódio a Bernardo, Alberto oferece-lhe uma lata de atum envenenado em 8 de
Novembro de 2013. Inconsciente de quaisquer motivos para suspeitar da simpática oferta,
Bernardo arruma a lata na dispensa, vindo a abri-la apenas em Novembro de 2015. Após a ingerir,
a sua morte foi imediata.
Imagine que uma Lei — que altera o artigo 131.º fixando a pena máxima em 20 anos de prisão —
entra em vigor:
a) Em Dezembro de 2015.
b) Em Dezembro de 2014.
c) Em 7 de Novembro de 2013.

B. Movido pelo seu ódio a Bernardo, e sabendo que este, todas as segundas, terças, quartas e
quintas, almoça atum com ameixas, Alberto oferece-lhe quatro latas de atum envenenado no dia
10 de Novembro de 2013. Tal como Alberto esperava, Bernardo come uma lata de atum com
ameixas em cada um dos quatro dias que se seguem, acabando por morrer na sexta, dia 15. Vem a
comprovar-se que teriam bastado apenas três pratos de atum com ameixas para matar Bernardo.
Imagine que uma Lei — que altera o artigo 131.º fixando a pena máxima em 20 anos de prisão —
entra em vigor na quinta-feira, dia 14 de Novembro.
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Caso V
Movido por ódio sádico, Rómulo sequestra Hermínia durante uma semana (desde o dia 10 de
Novembro de 2013 até ao dia 16), dando à vítima apenas atum com ameixas para esta matar a
fome.
Imagine que no dia 15 de Novembro entra em vigor uma lei que altera o artigo 158.º, n.º 2, fixando
a pena máxima em doze anos de prisão.
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Caso VI
Comente a seguinte afirmação: “o princípio da proibição da retroatividade desfavorável deve de
ser ajustado perante normas que regulam as medidas de segurança, uma vez que, nesses casos, o
critério determinante não pode ser o momento da prática do facto mas antes o momento de
determinação da medida adequada à perigosidade revelada pelo agente”.

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