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Departamento de Direito.
Monografia submetida como requisito parcial para obtenção do grau de licenciatura em Direito
Penal
HUAMBO
2024
I
Instituto Superior Politécnico Católico do Huambo – ISPOC
Departamento de Direito.
Monografia submetida como requisito parcial para obtenção do grau de licenciatura em Direito
Penal
O orientador
___________________________________
Dr.Victorino Upuli
II
Dedicatória
III
Agradecimentos
Agradeço primeiramente à Deus pelo Dom da Vida, pela saúde, sabedoria e por várias vezes guiar-
me;
Agradeço aos meus pais Manuel Wandalica e Maria Massosse, por tudo quanto fizeram por mim
para que eu tivesse uma formação de qualidade;
Redigir uma monografia requer o esforço e empenho do autor e de terceiros, sem os quais não
seria possível desenvolver a investigação, daí que aproveito esta oportunidade para expressar a
minha gratidão;
Agradeço ao meu orientador, Dr. Victorino Upili, por aceitar ser meu orientador e por me abrir o
horizonte de investigar, pelos sábios ensinamentos e pela orientação prestada. Agradeço aos meus
colegas e amigos pelos seus conselhos e por me ajudarem em vários pontos da monografia que
suscitaram dúvidas;
Agradeço a todos aqueles que durante essa caminhada sempre estiveram comigo e nunca deixaram
de acreditar em mim.
IV
Epígrafe
V
Resumo
No presente trabalho, propusemo-nos em abordar a problemática do Excesso de Prisão Preventiva
na Província Judicial do Huambo, procuraremos traçar algumas linhas sobre a evolução histórica
jurídico-processual penal angolana no que toca a Prisão Preventiva; a Prisão Preventiva como sub-
espécie das medidas processuais penais de natureza cautelar; vamos ainda descrer sobre a
correlação entre a Prisão Preventiva e Detenção; constituição do Estatuto de arguido. Deste modo
falaremos ainda dos prazos da Prisão Preventiva e por último do Excesso de Prisão Preventiva na
Província Judicial do Huambo causas e consequências. A aplicação da medida de prisão preventiva
constitui uma medida de coação processual penal que recolhe opiniões contrárias por parte da
comunidade académica e da sociedade em geral.
No decurso da investigação, demostrou-se que a prisão preventiva é uma medida de coacção que
implica a privação da liberdade do arguido antes da sua culpabilidade ser definitivamente
declarada depois do trânsito em julgado da decisão contraditória. A sua aplicabilidade tem
obrigatoriamente de respeitar o princípio da proporcionalidade em todas as suas vertentes,
princípio este que é a emanação do princípio constitucional da presunção de inocência, que impõe
que qualquer limitação à liberdade do arguido anterior à condenação com trânsito em julgado deve
não só ser socialmente necessária, mas suportável, cabendo ao juiz a competência para aplicar esta
medida como guardião dos direitos e liberdade do arguido. Deste modo, a prisão preventiva em
alguns casos pode se desencadear em um excesso de prisão preventiva quando forem esgotados os
prazos da prisão preventiva e ainda assim o detido continua preso preventivamente por razões da
natureza do crime ou por outro motivo.
VI
Abstrat
In the presente work, we set out to address the problen of excessive Preventive Detention in the
Judicial Province of Huambo, we will seek to draw some lines on the historical evolution of the
Angolan legal and criminal procedure regarding Preventive Delention, Preventive Detention as
sub-species of criminal procedural measures of a precautionary nature, we will also describe the
correlation between Preventive Detention and Detention, constitution of the accused statute in this
way, we will also talk about the deadlines for Preventive Detention and final the Excessive
Preventive Detention in the Judicial of Huambo, causes and consequences. The application os the
preventive detention measure cosntitutes a measure of criminal procedural coercion that gathers
opposing opinions from the academic community in general.
During the investigation, it was demonstrated that preventive detention is a coercive measure tha
envolves depriving the defendant of his freedon before his guilt is definitively declrared afther the
contradictory decisionhas become final. Its applicability must necessarily respect the principle of
proportionality in all its aspects, a principle that is the emanation of the constitutional principle of
the presumption of innocence, which imposes that any limitation on the defendant`s freedom pior
to the final conviction must not only be social necessary, but bearable, with the judge having the
competence to apply this measure as guardian of the defentant`s rights and freedom. Thus,
preventive detention in some cases may reult in excessive pre-trial detention period has expired
and the detainee remains in pre-trial detention for reasons related to the nature of the crime or for
another reason.
VII
INDICE GERAL
VIII
1.9.5.Substituição da prisão preventiva pela liberdade provisória ............................................ 30
1.9.6. Prisão Preventiva versus Pena de Prisão ......................................................................... 31
1.10. O Juiz de garantia como aplicador da prisão preventiva na fase de instrução preparatória:
conceito e competência. ............................................................................................................. 32
1.10.1.Impedimentos ao juiz de garantia ( artigo 316º) ............................................................. 34
1.11. Garantias do Arguido no Sistema Processual Penal Angolano ........................................ 35
IIº Capítulo: Implicações ligadas ao excesso de prisão preventiva, razões e consequências ........ 36
2.1. Morosidade processual penal: conceito e causas. .................................................................. 36
2.2. O excesso de prisão preventiva na Comarca do Huambo: razões ..................................... 37
2.3. Prazos de duração máxima da prisão preventiva .................................................................. 38
2.4. Requerimento para alteração da medida de coação ............................................................ 39
2.5. Libertação do arguido sujeito a prisão preventiva ................................................................. 42
2.6 .................................................................................................................................................. 42
2.7. Habeas Corpus .................................................................................................................... 43
2.7.1. Conceito e espécie de Habeas Corpus ............................................................................. 44
2.7.2. Natureza Jurídica e finalidade do Habeas Corpus ........................................................... 45
2.7.3 Constrangimentos na aplicação judicial do habeas corpus ............................................... 48
IIIº Capítulo Análise dos resultados .............................................................................................. 50
CARACTERIZAÇÃO DA METODOLOGIA ......................................................................... 50
3.2. Tipo de pesquisa quanto aos objectivos ............................................................................. 50
3.3. Tipos de pesquisa quanto a abordagem do problema científico ......................................... 51
3.4. Dados da provedoria de justiça ........................................................................................... 51
3.5. Dados dos Serviços Penitenciários do Huambo (Comarca do Cambiote).......................... 52
Conclusão ...................................................................................................................................... 54
Recomendações ............................................................................................................................. 55
Referências Bibliográficas ............................................................................................................ 56
Anexo ............................................................................................................................................ 58
IX
SIGLAS E ABREVIATURAS
Artº Artigo
CC Código Civil
Cfr Confira (veja-se, confrontar)
Cit Citado
CPA Código Penal Angolano
CPPA Código de Processo Penal Angolano
CRA Constituição da República de Angola
Ed Edição
MP Ministério Público
Ibid Ibidem (o mesmo autor, a mesma obra, páginas diferentes)
In Fine Última Parte
Ivi mesmo autor, mesma obra e mesma página
Lda Limitada
Nº Número
Ob Obra
Op.cit Obra Citada
Pág Página
PGR Procuradoria Geral da República
PP Páginas
Séc Século
SIC Serviço de Investigação Criminal
Vol Volume
X
INTRODUÇÃO
A Constituição da República de Angola quanto aos direitos, liberdades e garantias fundamentais,
postula que «todos gozam de direitos, liberdades e garantias constitucionalmente consagrados e
estão sujeitos aos deveres estabelecidos na constituição e na lei», nos termos do art. 22° nº 1. E
continua, «para a defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos
procedimentos judicias caracterizados pela celeridade e prioridade de modo a obter Tutela efectiva
e em tempo útil contra ameaça ou violação desses direitos, nos termos do art. 29° n° 5». «O Estado
respeita e protege a pessoa e a dignidade da pessoa humana» nos termos do art. 31° n° 2, «ninguém
pode ser privado da liberdade, excepto nos casos previstos pela constituição e pela lei nos termos
do art.36° n° 2». E todas essas disposições conformam com o Direito Internacional mormente a
Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Ora, a Prisão Preventiva é uma das medidas de coação dentre tantas que a lei processual penal
prescreve, pressupõe a perda da liberdade pessoal pelo arguido e só deve ser aplicada se verificados
certos e determinados pressupostos que se hão de ser amplamente desenvolvidos no trabalho
definitivo. A prisão preventiva está igualmente associada a ideia de que desaparecido o receio que
esteve na base da sua aplicação ou seja, uma vez esgotados os prazos máximos legalmente
estabelecidos para a sua manutenção, se deve repor a liberdade do arguido a ele sujeito.
1
A expressão Jus manendi, ambulandi eunde ultro citroque significa o direito de poder se deslocar de um lugar para
outro. Cfr. Fernando FABIÃO, A Prisão Preventiva. Braga: Editora Cruz, 1964, p.5
10
De facto, ao retirar o arguido do meio familiar, profissional e social em que se encontra inserido,
sem que a sua culpa esteja provada, este fica desde já sujeito ao ´´julgamento da opinião pública``,
ficando com a sua honra e credibilidade afectadas, mesmo que a sua inocência venha a ser
estabelecida.
As consequências da sua passagem pelo meio prisional, com subsequente reprovação social a ela
associada podem vir a inviabilizar a sua possibilidade de reinserção social na vida social e
profissional, sobretudo num contexto económico em que os índices de desemprego são, ainda
elevados, e construir um estigma que o irá acompanhar ao longo da sua vida.
Portanto, a disposição constitucional, nos termos do art.36° n° 2 abre uma excepção quando diz
«excepto nos casos previstos pela constituição e pela lei». Quer isso dizer que existem situações
que fazem com que os direitos e liberdades sofram restrições, ocorrido o facto criminoso, (típico,
ilícito e culposo) desencadeando assim mecanismos processuais penais dentre tantas a detenção.
A detenção que leva a apresentação do detido à autoridade judiciária competente e submetido ao
1º interrogatório judicial de arguido detido e a ele é aplicada as medidas de coação pessoal sendo
a mais grave a Prisão Preventiva pelo Juiz de Garantia. Deste modo, a presente monografia vai
debruçar-se sobre o Excesso de Prisão Preventiva na Província Judicial do Huambo.
Para melhor se atingir os objectivos propostos, a monografia está dividida em três capítulos. No
primeiro capítulo, apresentamos a noção de prisão preventiva, a evolução histórica jurídico
processual penal da prisão preventiva, prisão preventiva em instrução preparatória, prisão
preventiva na fase de julgamento, prisão preventiva face à presunção de inocência, distinção da
prisão preventiva e outras medidas de coacção pessoal, prisão preventiva vs detenção, prisão
preventiva vs medida de segurança e por último o Juiz de Garantia como aplicador da prisão
preventiva na fase de instrução preparatória.
11
Problema científico
O problema científico aqui, passa por analisar a violação dos direitos do arguido ou detido quando
são excedidos os prazos de prisão preventiva, sabemos nós que a lei estabelece prazos quanto a
prisão preventiva, então nos perguntamos porquê exceder esses prazos previstos na lei?
Objectivo geral
Analisar as situações que estão na base da violação dos direitos e garantias dos arguidos e porquê
são excedidos os prazos.
Objectivos específicos
1. Descrever teoricamente o tema em estudo;
2. Analisar a morosidade no processo penal;
3. Estudar atentamente os motivos do excesso de prisão preventiva.
Justificativa
A liberdade é um direito inerente a pessoa humana, o direito a liberdade é um direito reconhecido
pela Constituição e pela Lei.
Quanto, a escolha do tema cingiu-se na violação do direito a liberdade e dos prazos da detenção
ou prisão preventiva do arguido ou detido na fase de instrução preparatória e não só, são direitos
fundamentais para qualquer pessoa, e desta feita postas em causa as garantias dos direitos,
liberdades fundamentais em violação às regras constitucionais a respeito e demais, sobretudo o
direito processual penal garante da aplicação em casos concretos.
Com o excesso de prisão preventiva não se viola somente a Constituição e leis ordinárias como
também a Declaração Universal do Homem.
12
Iº CAPÍTULO- A PRISÃO PREVENTIVA: NOÇÃO, QUADRO CONSTITUCIONAL E
OUTRAS MEDIDAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE
1.Nocão de prisão preventiva
A Prisão Preventiva acontece nos casos em que se considerar inadequadas ou insuficientes as
medidas de coacção estabelecidas nos artigos antecedentes e o crime for doloso, punível com
prisão superior, no seu limite máximo, a 3 anos e existirem fortes indícios da sua prática pelo
arguido, o magistrado judicial competente pode, oficiosamente ou sob promoção do Ministério
Público, impor-lhe a medida de prisão preventiva. 2
Do nosso ponto de vista a lei, ao dizer que ela é efectuada para colocar o arguido à disposição da
entidade competente durante a fase de instrução preparatória, abre margens para que os seus
aplicadores sintam -se tentados a recorrer constantemente a ela com o fim de facilitar a produção
da prova para a acusação e de levar o arguido a colaborar com a investigação, com a descoberta
da verdade, desvirtuando por completo a função e as finalidades da prisão preventiva. Pois,
tratando-se de uma medida restritiva de direitos e liberdades do arguido, teria sido mais feliz o
legislador se, na referida noção, tivesse deixado claro a sua função protectora do processo e da
garantia da justiça penal. A título de exemplo, poderia definir a prisão preventiva como uma
medida privativa da liberdade do arguido através da sua confinação num estabelecimento
prisional com o fim de evitar que o mesmo perturbe o normal andamento do processo ou se furte
à acção penal.
Mais tarde, a prisão assumiu um carácter repressivo e correctivo, quando passou a integrar as penas
a aplicar. Segundo Michel Foucault (1977), a pena de prisão surgiu num contexto histórico
(séculos XVIII e XIX) de moderação das punições, antes mais gravosas, e num quadro de
humanidade e de justiça social.3 Pretendia-se, assim fazer passar uma imagem de civilização e
clemência, com o objectivo de criar ´´uma justiça que se diz igual, um aparelho jurídico que se diz
2
Cfr., artº 279º, nº 1, do CPP.
3
Michel FOUCAULT. Vigiar e punir. História da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes 1977 p. 205.
13
autónomo4. Com a pena de prisão, apanágio de uma sociedade civilizada pretendia-se reabitar o
criminoso para que ele pudesse retornar à sociedade. Assim, a prisão tinha como objectivo
regenerar o detido e devolvê-lo à sociedade como um cidadão útil.
“O Cárcere se inventou para guarda dos Réus, do que para pena deles”, no período medieval, a
prisão preventiva tinha como objectivo prender os arguidos enquanto se dava início à ação judicial5
Assim o objectivo da prisão não era a punição, mas a manutenção do criminoso sob custódia até
ao seu julgamento e aplicação da respectiva sentença, que no caso de ser considerado um perigo
para a sociedade, se traduziria pela pena de morte, muitas vezes pela força6.
A prisão preventiva, que na Peníssula Ibérica remonta aos tempos da reconquista, foi adaptada aos
usos e costumes portugueses e a sua aplicação foi regulada, com fins cautelares, nas Ordenações
Afonsianas, Manuelinas e mais tarde nas Filipinas. De um modo geral, ninguém podia ser preso
sem culpa formada e sem ordem do magistrado, com exceção nos casos de flagrante delito e
quando o crime cometido fosse punido com pena de morte, caso em que deveria ser provada em
oito dias, caso contrário o preso deveria ser imediatamente solto7.
Segundo Silva, apesar de a aplicação da prisão preventiva ter como finalidade manter o criminoso
encarcerado até ao julgamento, nos casos em crime não era particularmente gravoso, este podia
sair em liberdade desde que pudesse garantir que não iria fugir à justiça, prestando fiança, seguro
e ou homenagem8.
Deste modo em termos de legislações que abordaram matérias sobre a prisão preventiva temos:
4
Ibidem, p. 207.
5
ROCHA, João Luís de Moraes. Ordem Pública e Liberdade individual- Um estudo sobre a prisão preventiva.
Coimbra: Almedina 2005, p. 22.
6
Ibidem, p. 23 .
7
Ibidem, p. 25.
8
Germano Marques da SILVA. Curso de Processo Penal II 3ª edição. Lisboa: Verbo 2002, p. 283.
14
Todas essas Leis e Decretos- Leis, abordaram de forma geral aquilo que vem a ser a prisão
preventiva e foram alteradas pela Lei n.º 39/20 de 11 de Novembro, Lei que aprova o novo código
de Processo Penal Angolano.
Contudo, ela reconhece e garante aos cidadãos nacionais e estrangeiros, o direito à liberdade, como
resulta do princípio geral da universalidade constante do seu artigo 22º, o qual estabelece que: 1.
Todos gozam dos direitos, das liberdades e das garantias constitucionalmente consagrados e estão
sujeitos aos deveres estabelecidos na Constituição e na lei. 2. Os cidadãos angolanos que residem
ou se encontrem no estrangeiro gozam dos direitos, liberdades e da protecção do Estado e estão
sujeitos aos deveres consagrados na Constituição e na lei. 3. Todos têm deveres para com a família,
a sociedade e o Estado e outras instituições legalmente reconhecidas e, em especial o dever de: a)
respeitar os direitos, as liberdades e a propriedade de outrem, a moral, os bons costumes e o bem
comum; b) respeitar e considerar os seus semelhantes sem salvaguardar e reforçar o respeito e a
tolerância recíprocos9.
9
Cfr., art. 22ºCRA.
15
o direito de não ser submetido a experiência médicas ou científicas sem consentimento prévio,
informado e devidamente fundamentado.10
O direito à liberdade encontra ainda tutela constitucional nos artigos 56º e 57º, sendo que o
primeiro estabelece a garantia geral da sua inviolabilidade ao determinar que: 1. O Estado
reconhece como invioláveis os direito e liberdades fundamentais consagrados na Constituição e
cria condições políticas, económicas e socias, culturais, de paz e estabilidade que garantam a sua
efectivação e promoção, nos termos da Constituição e da lei. 2. Todas as autoridades públicas têm
o dever de respeitar e de garantir o livre exercício dos direitos e das liberdades fundamentais e o
cumprimento dos deveres constitucionais e legais11. É nosso entendimento que este preceito
constitucional impõe, no ordenamento jurídico angolano, a liberdade como regra.
Por sua vez, o artigo 57º, sob a epígrafe ‘«restrições de direitos, liberdades e garantias», embora
não o faça expressamente, fixa, a nosso ver, a excepção à regra constante do preceito anterior ao
estatuir que: 1. A lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias nos casos expressamente
previstos na Constituição, devendo as restrições limitar-se ao necessário, proporcional e razoável
numa sociedade livre e democrática, para salvaguardar outros direitos ou interesses
constitucionalmente protegidos. 2. As leis restritivas de direitos, liberdades e garantias devem
revestir carácter geral e abstrato e não podem ter efeito retroativo nem diminuir a extensão nem o
alcance do conteúdo essencial dos preceitos constitucionais12.
10
Cfr., art. 36ºCRA.
11
Cfr., art. 56º e 57º CRA.
12
Cfr., art. 37ºCRA.
16
3. A prisão preventiva é obrigatória: a) nos crimes de genocídio e contra a humanidade; b) nos
crimes de organização terrorista, terrorismo e financiamento do terrorismo.
4. É ilegal a prisão preventiva destinada a obter indícios de que o arguido cometeu o crime
que lhe é imputado.
A proibição da aplicação da prisão preventiva sempre que seja possível aplicar outra medida
de cocção significa que, desde que qualquer das outras medidas se revele adequada e
suficiente para acautelar os fins processuais visados com a aplicação da medida de coacção,
deve ser sempre aplicada a menos grave, sendo que a prisão preventiva é a mais grave de
todas. Não podemos perder de vista que o princípio da presunção da inocência é uma
garantia fundamental, pelo que a imposição de restrições à liberdade só são de admitir na
medida da sua estrita necessidade para a realização dos fins do processo.13
É de recordar que a competência para a aplicação da prisão preventiva é exclusiva do juiz de
garantia que, na fase de instrução preparatória, só a pode aplicar se houver requerimento
prévio do MºPº e que, nas fases posteriores, pode aplica-la oficiosamente, ouvido o MºPº, sob
pena de nulidade.
Deste ponto de vista a instrução decorre desde o início ao fim do processo, da instauração até à
audiência de discussão e julgamento.
13
Cfr., Germano Marques da SILVA Op. Cit., p. 399
14
Vasco A. Grandão RAMOS. Direito Processual Penal, Noções Fundamentais. 5ª edição: Editora, Faculdade de
Direito- U.A.N, Luanda 2009. Pág. 276.
17
A prisão preventiva é regulada pela lei nº 39/20, de 17 de Novembro ( Lei que aprova o novo
código de processo penal angolano )15.
A lei nº39/20, de 17 de Novembro prevê duas situações da detenção que iremos desenvolver mais
adiante:
Ora, do ponto de vista prático, a exequibilidade da detenção em flagrante delito não se considera
fácil para o cidadão comum, porque para além de exigir força física bastante para vergar a vontade
do infrator ( de se escapar a qualquer custo), ela requer, que o detentor se certifique, de antemão,
que o sujeito cometeu um crime passível de pena de prisão, sob pena de ao invés de estar a aplicar
15
Afonso Avelino Miguel COMIDANDO, Estudo Sobre a Problemática da Prisão Preventiva Sem Culpa Formada,
Editora, Lito Tipo LDA. Luanda 2013, pág. 13.
16
Manuel Cavaleiro de FERREIRA, Curso de Processo Penal II, op. Cit. Pág 388.
17
Vasco A. Grandão RAMOS., Direito Processual Penal Noções Fundamentais, Op. Cit. p. 224.
18
Ivi.
18
uma medida de coacção processual, poder incorrer no crime de rapto ou ofensa simples à
integridade física ( artigos 175º e 159º do CPA).
A prisão em flagrante delito não pode ser efectuada quando o suspeito praticou o acto em
circunstâncias que afastam a ilicitude do seu comportamento, como é o caso do consentimento do
ofendido ( artigo 34º do CPA, conjugado com o artigo 340º do CC), legítima defesa ( artigos 31º
do CP, conjugado com o artigo 337º do CC, estado de necessidade ( artigo 339º do CC, por força
do princípio da unidade da ordem jurídica).
Deste modo, a prisão feita por um particular encerra alguma complexidade e melindre, seja
como for, um bom chefe de família tem uma certa noção dos crimes que contêm alguma gravidade,
crimes públicos e semi-públicos19. E assim se compreende, porque as normas penais não são mais
do que a expressão da consciência jurídica da comunidade, o reconhecimento daqueles valores
(bens jurídicos) cuja tutela constitui um factor decisivo para a estabilidade social.
Sendo de aceitar este ponto de vista, concluímos que não obstante o particular que se proponha
a executar a prisão em flagrante delito seja juridicamente leigo, sabe avaliar a gravidade ou não do
crime praticado pelo suspeito que pretende ´´prender``. Achamos, contudo, que seria forçoso
condenar a simples captura, enquanto acto inicial da prisão preventiva, feita na suposição errónea
de se verificarem os pressupostos do flagrante delito, sendo tal acto material enquadrável no artigo
338º do CC, não sendo, por isso, responsabilizado civil nem penalmente sob pena de a incerteza
poder pôr em causa o espírito de solidariedade entre os membros da comunidade; só não seria
assim se o seu erro não fosse relevante, logo indesculpável.
“Seja como for, aconselha-se que o captor seja cauteloso, na medida em que são direitos
fundamentais alheios que estão em causa, devendo em caso de dúvida, limitar-se a ajudar as
autoridades investigadoras e instrutoras, exigindo ao suspeito que se identifique
convincentemente, para que possa ser facilmente encontrado, sob pena de também, não se
conseguir levar o infrator a juízo”20.
Contudo, o exercício, pelo cidadão comum, da faculdade de prender preventivamente em
flagrante delito está igualmente condicionado pela atitude do ofendido ou de certas pessoas, porque
em determinados crimes, o impulso processual depende da acusação particular (crimes
particulares) ou da participação de certas pessoas (crimes semi-públicos). Entendemos nós que
nestas situações, se o titular do poder de despoletar o procedimento criminal não quiser exercer o
seu direito, é vedado ao pretendente captor, sequer entregar (à força) o infrator às autoridades, sob
19
Cfr., Afonso Avelino Miguel COMIDANDO, Estudo Sobre a Problemática da Prisão Preventiva Sem Culpa
Formada, Op. Cit, p. 16.
20
Ivi
19
pena de poder incorrer no mínimo, na prática do crime de ofensa simples à integridade física, como
já foi referido acima. Ou seja, a captura, como acto inicial, é legal. Porém, já não seria legítimo
que o captor passasse por cima da vontade do titular do direito de queixa ou de participação do
crime às autoridades.
Ao praticar um acto de detenção, o particular que assim age exerce um poder de Autoridade
Pública, porque a lei atribui supremacia da sua vontade sobre a do detido- e contra o qual não é,
nem regra, legítimo qualquer direito de defesa21. É um acto material que se assemelha à legítima
defesa e acção directa. Com efeito, estando um crime a ser cometido contra si ou contra terceiro,
a actuação do detentor corresponde, pelo menos numa primeira fase, a uma autêntica legítima
defesa tal como vem tipificado no artigo 337º do CC. Se, diversamente, actuar num momento em
que o crime, contra si, tiver acabado de ocorrer, podemos com as devidas adaptações, considerar
que ao prender o infrator, o cidadão está a praticar como que uma acção directa, nos termos do
artigo 336º nº 2, in fine, do Código Civil, o qual estabelece que “a acção directa pode consistir na
apropriação ou noutro algo análogo”, embora possa não estar a agir mais- directamente- em defesa
da sua propriedade ( porquanto esta pode ter-se perdido definitivamente), mas age com intuito de
garantir a segurança contra o criminoso.
Por tudo quanto foi dito, resta-nos concluir que age em legítima defesa e por acção directa
ou detendo alguém em flagrante delito- não é no fundo um agressor em auto-defesa, mas um órgão
da ordem jurídica. O direito não pode nunca ceder perante o ilícito, a agressão, sendo ilícita, não
lesa apenas um singular interesse jurídico, mas viola concomitantemente a própria ordem jurídica
e, portanto, o interesse comunitário. Pelo que se diz que quem age em legítima defesa, também
está a defender a ordem jurídica geral e não apenas aquele particular interesse atacado22.
21
Afonso Avelino Miguel COMIDANDO, Estudo Sobre a Problemática da Prisão Preventiva Sem Culpa Formada,
Op. Cit, p. 19.
22
Cfr.,Orlando RODRIGUES, Direito Penal ( Apontamentos), Sumário das aulas proferidas aos alunos do 3º Ano da
Faculdade de Direito-UAN, 2003, p.138.
20
1.5. Detenção fora do flagrante delito: conceito e requisitos.
A prisão fora do flagrante delito é aquela que ocorre fora das situações referidas no artigo
254º do CPPA. Ou seja, é a detenção feita depois de o crime se ter consumado. Fora do flagrante
delito, a detenção só pode ter lugar por mandado das autoridades judiciárias ou ordem das
autoridades de polícia criminal, desde que se verifiquem os pressupostos legais 23.
A detenção fora do flagrante delito é uma medida processual cujos requisitos passamos a
descrever: 1. Os mandatos de detenção são passados em triplicado e devem conter, sob pena de
nulidade: a) A identificação da pessoa a deter, com menção do nome e, se possível, a residência e
mais elementos que possam identifica-la e facilitar a detenção; b) A identificação e a assinatura da
autoridade judiciária ou de Polícia Criminal competente; c) A identificação do facto que motivou
a detenção e das circunstâncias que legalmente a fundamentam.
O nº 2 do mesmo artigo estabelece que no caso previsto na alínea d) do nº1 do artigo 250º do
CPPA, o mandado deve conter ainda a indicação da infracção cometida, a pena ou a medida de
segurança aplicada e a sentença que a decretou, o detido é exibido o mandado de detenção e
entregue uma das cópias.
A detenção fora do flagrante delito está sujeita a pressupostos formais e pressupostos
materiais. Os pressupostos formais são o mandado das autoridades judiciárias ou a ordem das
autoridades de polícia criminal e estão estabelecidos no artigo 255º do CPPA. Os pressupostos
materiais relativamente aos mandados do Ministério Público é a admissibilidade da prisão
preventiva; estão também estabelecidos no artigo 255º do CPPA.
23
Cfr., Germano Marques da SILVA, Op. Cit, pág. 188.
21
Se após ter decorrido o prazo, e não obstante a violação da lei, o detido for presente ao juiz, pode
ainda ser-lhe aplicada uma medida de coacção, nomeadamente a prisão preventiva ou terá de ser
ordenada a sua libertação?
Pensamos que uma coisa é a ilegitimidade resultante do excesso do prazo, outra bem
diversa é a aplicação da medida de coacção. Assim, independentemente das consequências do
excesso do prazo, nada impede que o juiz aplique ao arguido uma medida de coacção,
nomeadamente a prisão preventiva.
Trata-se de uma prisão com maiores garantias, não só porque os seus fundamentos poderão ser
apreciados mais ponderadamente e com melhores elementos de prova, como ainda porque
ordenada numa nova fase processual em que houve, nomeadamente, a possibilidade de se
manifestar o princípio do contraditório.
24
Vasco. A Grandão RAMOS, Direito Processual Penal, Noções Fundamentais. Op. Cit, p. 229.
25
Ivi .
22
1.8. A Prisão Preventiva Face à Presunção de Inocência
Numa primeira aproximação, o princípio da presunção de inocência consagrado no nº 2. Do art.º
67º da CRA dispõe que: presume-se inocente todo cidadão até ao transito em julgado da sentença
de condenação. 26
26
Cfr. Rui PINHEIRO; Artur MAURÍCIO, A Constituição e o Processo Penal. Editora Coimbra 2007. p.81.
27
Jorge de Figueiredo DIAS, Direito Processual Penal. Vol. I. Coimbra: Editora Coimbra 1974, p.214.
28
Rui PATRÍCIO- O Direito Fundamental à Presunção de Inocência. Revistado a Propósito do Novo Código de
Processo Penal de Cabo Verde. In: Separata Revista Direito e Cidadania. Praia- Cabo Verde: 2005, pp. 11-12. Ano 7,
nº 22. Na mesma linha, PATRÍCIO, Rui- A Presunção da Inocência no Julgamento em Processo Penal: Alguns
Problemas. Coimbra: Editora Almedina, 2012, pág. 38.
23
as teses processualistas que entendem não haver conflito entre o referido princípio e a prisão
preventiva sempre que a esta última forem atribuídos fins intraprocessuais.29 Entendemos que a
última posição é a mais acertada, pois, sendo a prisão preventiva uma medida instrumental ao
processo, não pode prosseguir fins extraprocessuais.
Todavia, o mesmo autor considera que o princípio da presunção de inocência impõe que só as
necessidades processuais do caso em concreto podem legitimar a aplicação de medidas de cocção
e que, entre as medidas admissíveis e adequadas, seja aplicada a menos gravosa.
Somos do mesmo entendimento que Jorge Miranda/ Vital Moreira que, ao analisarem o princípio
da presunção de inocência, anotam que os perigos que estão na base de aplicação das medidas de
coacção não podem ser apreciados em abstrato, mas apenas em função dos indícios recolhidos
concretamente no processo, tendo em conta o princípio fundamental de que o arguido deve ser
tratado no processo como presumível inocente e, por força disso, as medidas que restringem
direitos e liberdades devem revestir natureza excepcionl.31 Entendimento que demostra claramente
o desajuste constitucional do regime regra e obrigatório da prisão preventiva em Angola, regime
esse que entre nós, não se compatibiliza com o princípio da presunção de inocência.
É bem verdade que a prisão preventiva como medida de coacção de carácter cautelar, em certo
sentido, choca com a presunção de inocência, pelo simples facto de tratar-se da restrição da
29
André SZESZ. O Juízo de Periculosidade na Prisão Preventiva, Editora Fórum, Belo Horizonte 2014. p. 107.
30
Cfr., Germano Marques da SILVA. Op. cit., pág. 348.
31
Jorge MIRANDA; Rui MEDEIROS. Constituição Portuguesa Anotada, tomo I, 2ª edição, Editor Wolters Kluwer/
Coimbra Editora, Coimbra 2010. p. 723.
32
Leonir BATISTI, Presunção de inocência Dogmática nos Instrumentos Internacionais e Constituições do Brasil e
Portugal. Lisboa: Universidade de Lisboa Faculdade de Direito, 2006/ 2007, pp. 108-109.Relatório de Documento
em Ciências Jurídico-Políticas.
24
liberdade, sendo certo que a liberdade para muitos é considerada o maior bem, expressaríamos nós
depois da vida.33
De qualquer modo, nunca é demais lembrar o perigo da prisão de um inocente, na medida em que,
no instituto da prisão preventiva o que está em jogo a liberdade do arguido no momento em que
ainda não se emitiu um juízo incontestável sobre a culpabilidade do mesmo, o risco de ver privado
a liberdade de forma irreparável de um arguido que vem a ser julgado inocente é muito grande,
mas também não esquecer que ao lado deste risco existe um outro opoente, do Estado deixar em
liberdade indivíduos sobre os quais há uma fundada suspeito de perigosidade.34
Pelo motivo acima exposto, consideramos que o instituto prisão preventiva é, sim lícito, mesmo
com consagração do princípio da presunção de inocência. Este princípio é um resultado do
princípio in dúbio pro reo35. Mas esta afirmação não é unânime na doutrina, Rui Pinheiro e Artur
Maurício salientam que:
33
Ibidem, p. 111.
34
PINHEIRO, Rui; MAURÍCIO, Artur, op. Cit.,pp. 89-90.
35
No mesmo sentido, Germano Marques da SILVA, Op.cit., p. 205; Gomes CANOTILHO e Vital MORREIRA, op cit.,
3ª ed., pp. 203-204. Ou ver 4ª ed., vol. I, p.82; Cavaleiro de FERREIRA, op. Cit.,p 212.
36
Rui PINHEIRO; Artur MAURÍCIO, Op. cit., pp. 85-86.
25
antes de a sua culpa ser definida pelo trânsito em julgado da decisão penal do mérito37, deste
modo considera-se que o princípio da presunção de inocência garante um estatuto ao arguido
de ser tratado como inocente.
Contudo, é de realçar que o sentido da presunção de inocência varia em função das posições
político-ideológicas defendidas: as teses que atribuem contornos mais rígidos ao princípio
visam priorizar direitos e garantias individuais, sendo que no polo oposto encontram-se as teses
que alegam maior flexibilidade e dão realce à função estatal de realização da justiça penal e de
proteção do processo.
Podemos definir a prisão preventiva como uma medida cautelar que consiste na privação da
liberdade de uma pessoa antes do julgamento final de seu processo criminal. Ela é aplicada com o
objectivo de garantir a instrução processual, evitar a fuga do acusado ou impedir a continuidade
da actividade criminosa40. Não é fácil definir a detenção. A lei não o faz nem competia fazê-lo,
cumprindo ao intérprete caracterizá-la. Mas Manuel Monteiro Cavaleiro Valente define a detenção
37
Cfr., Mário TORRES- suspensão de funcionários ou agentes como efeito de pronúncia ou condenação criminal.
Revista do Ministério Público, nº 26, 1986 (abril/junho), p.171.
38
Manuel Monteiro Guedes VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, Op. cit., 6ª ed., p.421
39
Ibidem,p.424
40
http://www.migalhas.com.br/depeso/381951/o-que-e-prisão-preventiva, acesso 5 de Janeiro de 2024, Huambo,
10:30m.
26
como como uma medida privativa da liberdade meramente cautelar ou de polícia41. A execução
da detenção é efectuada pelo funcionário de justiça ou por qualquer agente policial, desde que
munidos dos mandados em triplicado, um dos exemplares do mandado tem de ser entregue ao
detido, no acto da detenção, para que este lhe deva obediência. Outro dos exemplares será entregue
ao director do estabelecimento prisional e o terceiro será junto ao processo42.
Quanto a duração: a prisão preventiva os seus prazos estão previstos no artº 283º. Do CPPA e os
mesmos variam segundo a fase em que o processo se encontra. Quanto a detenção, os prazos estão
previstos no artº 250º nº1 do CPPA.
Se o detido for apresentado ao juiz, quer para se sujeitar a julgamento no processo sumário, quer
para interrogação judicial e para aplicação ou execução de uma medida de coação, a detenção tem
a duração no máximo de 48 horas. Em caso de assegurar a presença imediata do detido perante a
autoridade judiciária em um acto processual, a detenção nunca poderá ultrapassar as 24 horas.
Quanto à finalidade a prisão preventiva tem a finalidade de evitar a fuga ou perigo de fuga; perigo
de perturbação do decurso da instrução do processo, nomeadamente perigo de para aquisição,
conservação ou veracidade da prova ou evitar a continuidade do acto criminoso.
A detenção tem como finalidade submeter o detido em flagrante delito julgamento sumário, ou a
sua apresentação ao magistrado judicial competente para o primeiro interrogatório judicial ou para
aplicação, alteração ou substituição de medida de coacção, pessoa em relação à qual, em processo
contra si instaurado, indícios de ter cometido um crime, de garantir a presença, imediata ou no
mais curto prazo possível e sem ultrapassar as 24 horas, do detido perante a autoridade judiciária
ou Órgão de Polícia Criminal, em acto processual43.
Deste modo podemos concluir tendo em conta o regime acima exposto que a prisão preventiva e
a detenção têm em comum a privação da liberdade de uma pessoa, não obstante cada uma
apresentar características próprias, o que as tornam diferentes uma da outra.
41
Manuel Monteiro Guedes VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, Op. cit., 6ª ed., p. 422
42
Germano Marques da SILVA, Curso de processo penal, edição Universidade Católica Editora, Unipessoal, Lda,
2014, p.193.
43
Cfr., als. a), b) e c) do art 250º CPPA.
44
Cfr., artº279º, nº 1 do CPPA.
45
Cfr., artº 251º, do CPPA.
27
1.9.2. Prisão Preventiva versus Medida de Segurança de internamento.
A prisão preventiva como acima citada, é uma medida cautelar que consiste na privação da
liberdade de uma pessoa antes do julgamento final de seu processo. Enquanto que a medida de
segurança de internamento de inimputável consiste no internamento em estabelecimento de cura,
tratamento ou segurança, sempre que por virtude da anomalia psíquica e da gravidade do facto
praticado, houver fundado receio de que venha a cometer outros factos da mesma espécie46.
Quanto a sua execução: a prisão preventiva é executada na prisão, a medida de segurança de
internamento decorre em estabelecimento de cura, tratamento, ou seja, numa unidade de saúde
mental não prisional47.
Quanto à sua finalidade: a prisão preventiva tem como finalidade de natureza processual, evitar a
fuga ou perigo de fuga; perigo de perturbação do decurso da instrução do processo; nomeadamente
perigo para aquisição, conservação ou veracidade da prova. Enquanto que a medida de segurança
de internamento tem como finalidade o tratamento a que deve ser submetido o autor de crime com
o fim de curá-lo ou, no caso de tratar-se de portador de doença mental incurável, de torná-lo apto
a conviver em sociedade sem voltar a delinquir.
Em boa verdade, a prisão preventiva é o instituto que vai mais longe na compreensão de direitos
fundamentais. Ela visa, grosso modo, restringir a liberdade de um arguido que tenha cometido um
crime e que em virtude do mesmo, a lei não permite que lhe seja aplicada como outra medida de
coacção processual, a caução ou o termo de identidade e residência.
46
Cfr., art º101º, do CPA.
47
Germano Marques da SILVA, Op.cit, p. 88. Ver também Manuel CAVALEIRO de, Op.cit., p. 59.
28
avolumando processos nos tribunais cujos julgamentos são realizados à revelia de arguido que
dificilmente são encontrados, pela sua deficiente localização.
“A prisão preventiva, tal como já referimos, vai mais longe na compreensão dos direitos
fundamentais, visto que ela permite a prossecução de maior eficácia do processo penal, mas por
outro lado, menor protecção de direitos fundamentais”48.
O instituto do habeas corpus é pro-libertate, logo protege mais os direitos fundamentais do que
prossegue a eficácia do processo penal.
Contudo, sabido que é, de que a nossa população em Angola, pouco ou nada conhece sobre este
tão valioso instrumento de defesa dos direitos fundamentais. Habeas corpus, mormente pela falta
de cultura jurídica, necessário se torna que o Estado crie condições institucionais, para que a sua
aplicabilidade esteja ao alcance de todos os cidadãos.
48
Santos CLÁUDIA, Lições Teóricas de Direito Processual Penal II, Faculdade de Direito da Universidade de
Coimbra 2012, p. 30.
49
Ibidem, p.32.
29
No caso da alínea d), a inaplicabilidade cessa com a cura do familiar doente ou com o decurso de
um período dos 60 dias, no máximo.
Em todos os casos referidos nos pontos anteriores, compete ao magistrado judicial enquanto
subsistir a situação de inaplicabilidade, substituir, por despacho fundamentado, a prisão preventiva
por domiciliária e sujeitar cumulativamente o arguido a outras medidas de coacção com elas
compatíveis.
O arguido preventivamente preso poderá ser libertado, mediante termo de identidade ou caução.
São estas as duas formas que assume a liberdade provisória, que substitui a prisão efectuada em
obediência a objectivos de natureza processual52.
A liberdade sob caução é o sucedâneo que desde longa data foi estabelecido pelas leis para
diminuir o campo de aplicação prática da prisão preventiva, nos casos em que ela é considerada
legítima, a concessão da liberdade ao arguido mediante caução pretende assegurar os objectivos
da prisão preventiva, servindo-se do interesse do próprio arguido53.
Deste modo, a caução força-o a cumprir os seus deveres processuais como arguido, porque suscita
o interesse a esse cumprimento, fazendo funcionar o aludido interesse como motivo de aceitação
50
Cfr., art. 281º do CPPA.
51
Vasco Grandão RAMOS, Direito Processual Penal, noções fundamentais, 6ª edição, Escolar Editora, 2013, p. 232.
52
Ibidem, p. 233.
53
Manuel Cavaleiro de FERREIRA, Curso de Processo Penal II, Lisboa 1956, p. 441.
30
das obrigações processuais. Com a prisão preventiva o detido é coagido àquele cumprimento; com
a liberdade caucionada, o arguido é impelido, sob a ameaça tangível de perder o valor da caução
e a mesma liberdade a cumprir voluntariamente os seus deveres no processo.
Portanto, a prisão preventiva poderá ser substituída pela liberdade provisória mediante a caução
que poderá ser efectuada por depósito ou penhor, por hipoteca ou por fiança.
Quanto aos fins das penas uma óptica de prevenção geral, pode-se dizer que as penas pretendem
evitar que as pessoas em geral cometam crimes, é destinada ao controle da violência, na medida
em que busca diminuí-la e evitá-la. Numa ótica da prevenção especial, pode-se verificar que o
direito penal, ao submeter um indivíduo a uma sanção por um crime que ele cometeu, pretende
evitar que esse individuo cometeu a cometer crimes. Essa teoria da prevenção especial actua tanto
para assegurar a sociedade contra os indivíduos que cometem actos infracionais por intermédio da
intimidação do agente e de quem o sabe punido, quanto para que este agente não venha a cometer
futuros delitos, pois a pena teria carácter educativo.
54
Germano Marques da SILVA, Op. cit ., 2ª edição, vol II p. 236. Ou ver 5ª edição., pp 344-345.
55
Manuel Cavaleiro de FERREIRA, Curso de Processo Penal. Vol. II. Lisboa 1956, p. 404.
56
Cfr., nº 1 e 2 do art. 44º CPA.
31
1.10. O Juiz de garantia como aplicador da prisão preventiva na fase de instrução preparatória:
conceito e competência.
``O direito opera por comandos abstratos, mas a realidade forçada destes comandos efectua-se
por imposição judiciária. O juiz é o intermediário entre a norma e a vida: é o instrumento vivo
que transforma a regulamentação típica imposta pelo legislador na regulamentação individual
das relações dos particulares; que traduz o comando abstrato da lei no comando concreto entre
aspartes, formulado na sentença. As tarefas preliminares da actividade judicial são pois: o
apuramento do facto, da relação material a julgar, e a determinação do direito a que o facto está
subordinado57.
É neste contexto que abordamos em linhas gerais, a figura do Juiz de Garantias, o que é e que
papel desempenha ou deverá desempenhar, visto que já está em exercício de funções no nosso
País.
Afinal, o que vem a ser o Juiz de garantias? É nada mais nada menos que um magistrado que
aparece durante a investigação criminal na fase de instrução preparatória.
57
Manuel A. Domingos ANDRADE, Ensaio sobre a Teoria da interpretação das Leis. 4ª Edição, Coimbra: Amado
Editor, 1987, p.111.
32
Do ponto de vista histórico, essa figura não é nova, existindo em outros ordenamentos jurídicos,
quer na América Latina, como é o caso da República do Chile e República Fedarativa do Brazil,
quer na Europa mais especificamente na Alemanha, Itália, Espanha e Portugal, este último como
uma figura próxima que se designa Juiz de Instrução.
Todos esses ordenamentos jurídicos têm, de uma forma geral, regras expressas nos seus Códigos
de Processo Penal, no sentido de haver uma separação entre os órgãos jurisdicionais de controlo
da investigação preliminar e de julgamento do respectivo processo penal, com vista à máxima
imparcialidade possível. Com a entrada em função dos juízes de garantias no ordenamento jurídico
Angolano os cidadãos verão os seus direitos reforçados em termos de garantir os direitos
fundamentais de defesa, sempre que sentirem que os mesmos foram violados. “ Os cidadãos têm
uma entidade imparcial, independente e isenta que está em condições d ajuizar, sem quaisquer
parcialidades, se a medida a ser tomada é a mais adequada e se deve ser aplicada ou não”.
O Juiz de garantia surge para garantir que a todas as pessoas em conflito com a lei lhes seja
assegurado um processo justo e equitativo, de modo que aquilo que são as suas garantias de defesa
como o princípio da presunção de inocência seja salvaguardado.
De uma forma concisa, o Juiz de Garantias cuida das decisões jurisdicionais durante as fases de
instrução preparatória aplicar medidas de coacção,`` apreciar as reclamações suscitadas dos actos
do Ministério Público que aplique medidas cautelares em instrução preparatória, proceder ao
primeiro interrogatório judicial de arguido detido. Compete ainda ao magistrado judicial
competente, durante a fase de instrução preparatória: Peritagens ou exames susceptíveis de ofender
a integridade, a reserva da intimidade ou o pudor das pessoas, Escutas telefónicas e actos com eles
relacionados e qualquer outra acto, nos casos em que a lei determinar que seja o juiz a conceder a
autorização58``. E durante a fase de instrução contraditória compete ao magistrado judicial tomar
em consideração as indicações constantes do requerimento para a abertura da instrução
contraditória, mas não está sujeito a elas, devendo, na descoberta da verdade investigar os factos
e proceder com autonomia e independência, podendo ordenar oficiosamente a realização das
diligências que entender necessárias59.
Na fase de instrução preparatória pode ocorrer, por exemplo a tomada de medidas de coacção
pessoal de prisão preventiva, prisão preventiva domiciliária, interdição de saída do País, a medida
de garantia patrimonial de caução económica ou o arresto preventivo, ou outras nomeadamente,
58
Cfr., art. 313 e 314 do CPPA.
59
Cfr., art. 334º nº 1 e 2 do CPPA.
33
ordenar buscas, revistas e apreensões a escritórios de advogados, consultórios médicos, além de
outros locais protegidos, tudo isso deverá ser autorizado pelo Juiz de Garantias.
Significa que os processos penais passam a ser acompanhados por dois juízes: o Juiz de Garantias,
no âmbito das fases de instrução preparatória e de instrução contraditória, e outro Juiz na fase de
Julgamento.
Trata-se de uma figura consentânea ao princípio do acusatório consagrado pela nossa CRA e pelo
CPPA, que assegura a imparcialidade de forma muito mais efectiva. Impõe-se destacar o disposto
no artº 179, nº1 da CRA:
Os juízes são independentes no exercício das suas funções e apenas devem obediência a
Constituição e a Lei.
- Qualquer acto, nos casos em que a lei determinar que seja o juiz a conceder a autorização;
O juiz deve ser neutral, isso quer dizer imparcial. Uma garantia fundamental da decisão judicial e
da justiça processual está de as decisões serem tomadas com distância em relação aos interesses
em apreço. O principio da imparcialidade aplica-se não só aos funcionários públicos como também
aos juízes, a independência e a imparcialidade são pressupostos básicos da realização da justiça.
Para melhorar assegurar a independência e imparcialidade dos juízes, o Estado de direito confiou
a magistratura a magistrados de carreira, o juiz não recebe orientações do Estado. E para assegurar
a independência pessoal do juiz, ele é nomeado vitalicamente é inamovível, e para assegurar a
34
imparcialidade o juiz é excluído do processo quando os seus interesses pessoais são atingidos pelo
caso a decidir , quando ele seja familiar próximo de um interessado no processo ou quando se
verifique um factor gerador de desconfiança que possa abalar a simples aparência de
imparcialidade60.
Uma das mais importantes expressões do direito de defesa é o direito de audiência ou audição que
se realiza por meio dos interrogatórios. Sendo que a finalidade de alguns desse interrogatório é,
principalmente, além de tomar conhecimento da imputação, a imputação é o juízo positivo ou
afirmativo, seja qual for a sua consistência suspeita, probabilidade ou certeza sobre a origem do
facto criminoso na verdade de determinar pessoa, representa precisamente a atribuição do facto a
essa pessoa como seu, a pessoa sobre a qual recai esse juízo é o imputado. Permitir que o arguido,
através do seu ponto de vista dos factos e das provas que possui ou tiver a possibilidade de
produzir, a refutar, e mais tarde poder induzir na descoberta da verdade, na definição e aplicação
da lei na efectivação da justiça penal e na escolha da medida cautelar a ser aplicada.63
60
Cfr., artº 35º e 46º do CPPA.
61
Cfr., art. 63º da CRA .
62
Cfr., art. 67º da CRA.
63
Vasco Grandão RAMOS, Op. cit., p. 132.
35
IIº CAPÍTULO: IMPLICAÇÕES LIGADAS AO EXCESSO DE PRISÃO PREVENTIVA,
RAZÕES E CONSEQUÊNCIAS
«Para Fazzalari, o processo penal consiste numa estrutura técnica normativa de actos jurídicos
coordenados em sequência que se desenvolvem no binómio tempo-espaço de acordo com o modelo
legal, em que o acto antecedente é o pressuposto para a realização do seguinte e assim
sucessivamente, até chegar ao procedimento final»64.
O processo penal é, ensina Grandão Ramos, a sucessão de actos, actividades e formalidade que
têm por fim a realização do direito penal e com ela, o restabelecimento da ordem ofendida por
comportamentos humanos, legalmente definidas como crimes65.
Em síntese podemos dizer que o Processo Penal é um sistema normativo de actos, actividades e
formalidades coordenados em sequência, os quais se desenvolvem no espaço e no tempo, segundo
regras definidas por lei, subordinando ao restabelecimento da ordem ofendida por comportamentos
humanos ofensivos de bens jurídicos legalmente tidos como imprescindíveis para a manutenção
da sociedade.
Morosidade processual é um conceito jurídico indeterminado que não se identifica somente com
o mero transcurso do tempo dos prazos processuais, tal conceito exige uma análise do conteúdo
concreto em cada caso, atendendo a críticas objectivos congruentes com seu enunciado genérico.
A construção teórica da duração dos processos deve distinguir a duração necessária do processo-
o prazo razoável necessário à defesa dos direitos individuais e colectivos dos cidadãos-da
morosidade, ou seja toda a duração irrazoável ou excessiva do processo, desnecessária à protecção
das partes intervenientes.
64
Elio FAZZALARI, Instituições de Direito Processual, Campinas: Bookseller, 2006, p. 114.
65
Grandão RAMOS, in Direito Processual Penal- Noções Fundamentais, Op.cit, 2003, pág. 12.
66
Conceição GOMES, Os Atrasos da Justiça, Fundação Francisco Manuel Santos, Relógio D´ Água, Editora Lisboa,
2011, p.32.
36
poderá equivaler à duração necessária ou incluir para além desta, procedimentos processuais que
venham a ser qualificados, num determinado momento, como de morosidade legal (excesso de
formalismo ou formalismo desnecessário).
A morosidade processual penal corresponde à duração do processo penal que exceda, de acordo
com as circunstâncias do caso, o prazo mínimo necessário para a defesa dos direitos individuais e
colectivos bem como para a definição mais adequados à dialéctica dos mesmos.
Justamente porque ainda que a lei cuide de estabelecer alguns prazos para a conclusão de
determinadas fases do processo penal, há ampla margem para o julgador no caso concreto, avaliar
se o referido prazo aplica-se ou não, isto porque, conforme entendimento de Juízes e Tribunais,
certas investigações podem demorar período superior ao estabelecido pela lei em virtude da
chamada complexidade do caso e isso leva a grande maioria dos prazos estabelecidos pela lei não
serem cumpridos pela Polícia e pelo Poder Judiciário, por inúmeras razões peculiares a cada
repartição.
67
Ibidem, p. 51.
37
Há de se ter em conta que existe muita demanda nos Tribunais por isso, a demora nos processos.
Porém é papel do advogado pressionar e relembrar que cada processo se refere a uma ou mais
vidas e que por mais que seja compreensível a morosidade, ninguém pode pagar quanto mais o
arguido ou investigado preso, por culpa exclusivamente dos Órgãos de Justiça, ainda que
estejamos diante de um crime grave que requer que sejam ouvidas muitas testemunhas, por
exemplo não merece o arguido permanecer segregado em virtude da demora do Serviço de
Investigação Criminal ou do Tribunal. Não se pode cumprir pena antes da condenação, uma vez
que no sistema processual angolano o princípio da presunção da inocência nos termos do artigo
67º nº2 da CRA.
Por vezes as razões apontadas para o atraso são a morosidade processual, a extensa pauta de
audiências, o número de investigações, a falta de recursos humanos nas instituições de justiça e
processos que assolam a Justiça angolana esses sãos alguns dos principais motivos do excesso de
prisão preventiva que trouxemos.
O nº2 do artigo 283º dispõe que os prazos referidos no nº1 podem ser alargados respectivamente
para 6,8,14 e 20 meses, quando se tratar de crime punível com pena de prisão superior, no seu
limite máximo, a 5 anos e o processo se revestir de especial complexidade, em função do número
de arguidos e ofendidos, do carácter violento ou organizado do crime e do particular
circunstancialismo em que foi cometido. Estes prazos são, porém, de duração máxima até que
tenha havido condenação com trânsito em julgado, mas a lei não permite que o prazo máximo se
esgote independentemente do estádio de desenvolvimento do procedimento, antes estabelece
prazos máximos de duração até à prática de certos actos ou verificada a consolidação de certos
efeitos.
38
Os prazos de duração máxima até à condenação em primeira instância e até à condenação
transitada em julgado são prorrogáveis por mais quatro meses, tendo havido recurso para o
Tribunal Constitucional ou suspensão do processo para julgamento de questão prejudicial.68
Os prazos estabelecidos nos números anteriores são suspensos durante o internamento hospitalar
do arguido, sempre que a presença deste seja necessária à continuação da investigação. De realçar
que o tempo de detenção e o de prisão domiciliária cumpridos pelo arguido contam para efeito de
determinação do prazo decorrido, como tempo de prisão preventiva.
A medida de coacção de prisão preventiva só pode ser alterada se se verificarem, após a sua
aplicação, a modificação de quaisquer dos pressupostos que fundamentam essa mesma aplicação.
A revogação e a substituição de medidas de coacção podem ter lugar por iniciativa do próprio juiz,
ou a requerimento do arguido ou do Ministério Público em seu favor quando verificar que69:
a) Não foram aplicadas nas circunstâncias em que a lei permite a sua aplicação;
b) As circunstâncias deixaram de as justificar.
68
Cfr., nº 4 do art 283º do CPPA.
69
Cfr., nº 1 do art. 267º do CPPA.
39
Porém, tratando-se de medidas privativas de liberdade (prisão preventiva e prisão preventiva
domiciliária), o juiz deve reexaminar regularmente os seus pressupostos.
Existem algumas regras especiais quanto à extinção de certas medidas de coacção. A prisão
preventiva e a prisão preventiva domiciliária extinguem-se logo que for proferida sentença
condenatória, ainda que haja recurso, se o período da pena aplicada não for superior à prisão
preventiva ou a prisão domiciliária já sofrida. Caso a medida tenha sido uma caução e o arguido
seja condenado em pena de prisão, a caução só se extingue com o início da execução desta pena.
Por fim, todas as medidas de coacção têm prazos máximos de duração legalmente definidos.
Para melhor compreensão, trouxemos um modelo de requerimento que iremos apresentar como
exemplo:
AO
DIGNÍSSIMO PROCURADOR DA
REÚPLICA JUNTO DOS SERVIÇOS
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL DO
HUAMBO
=HUAMBO=
Participação nº 2023
Proc nº
ASSUNTO: PEDIDO DE LIBEDADE PELA EXTEMPORANEIDADE DA DETENÇÃO
O Advogado
41
2.5. Libertação do arguido sujeito a prisão preventiva
A prisão preventiva extingue-se pelo decurso do prazo máximo de duração. Extinta, o arguido é
posto em liberdade ( art. 284º).
Se a liberdade tiver lugar por se terem esgotados os prazos de duração máxima da prisão
preventiva, o Juiz pode sujeitar o arguido a qualquer das outras medidas de coacção legalmente
admissíveis, previstas nos artigos (270º, 271º, 272º e 276º do CPPA).
A extinção da prisão preventiva em virtude do decurso do prazo máximo legalmente admitido para
a sua duração, não impede que o arguido possa ser novamente preso preventivamente por outro
processo e que, por isso, nem sequer chegou a ser posto em liberdade, se a prisão preventiva nesse
outro processo já tinha sido decretada.
Esgotadas as razões que fundamentam a prisão preventiva, deve o arguido ser posto em liberdade,
nº3 do artigo 284º do CPPA.
Nos termos do artigo 296º dispõe que quem for detido ou preso ilegalmente pelas razões
estabelecidas no nº 4 do artigo 290º e na situação de detenção e prisão manifestamente ilegais for
mantido, pode requerer ao Tribunal competente que o Estado o indemnize pelos danos sofridos.
O artigo. 5º, nº5 da Convenção Europeia dos Direitos do Homem dispõe de modo análogo que
qualquer pessoa vítima de prisão ou detenção em condições contrárias às disposições deste artigo
tem direito a indemnização.
Embora a privação da liberdade também se verifique por força da obrigação da prisão preventiva
domiciliária (art 277º), o art. 296º apenas se refere à detenção e à prisão preventiva, excluindo a
prisão preventiva domiciliária.70
70
José da Costa Pimenta CONTRA, Código de Processo Penal, Anotado, p. 545
71
Germano Marques da SILVA, Curso de Processo Penal II, Op, Cit. p. 266
42
2.7. Habeas Corpus
O instituto do Habeas Corpus em Angola, remonta do ano 1929, aquando da entrada em vigor do
Código de Processo Penal em Portugal e, consequentemente em Angola enquanto colónia
portuguesa. Este Código regula duas espécies ou tipos de providências processuais. Porém, para o
nosso estudo, interessa-nos apenas a providência do habeas corpus, que vem prevista no artigo 68º
da CRA conjugado com os artigos 288º a 295º do CPPA.
Decorridos mais de 15 anos, sem habeas corpus no ordenamento jurídico angolano, pelas razões
que preferimos avançar no próximo subtema, só foi possível restaura-lo com as alterações
introduzidas pela Lei nº 23/92, de 16 de setembro, a então Lei Constitucional.
De acordo com o artº 42º nº1 dessa Lei Constitucional, Contra o abuso de poder por virtude de
prisão ou detenção ilegal, há habeas corpus a interpor perante o tribunal judicial competente, pelo
próprio ou qualquer outro cidadão”. O nº2 do mesmo artigo estabelece que “Lei própria regula o
habeas corpus.
Do exposto, percebe-se claramente que o artigo 42º da referida Lei Constitucional veio repor em
vigor os preceitos, havidos como revogados, dos artigos 351º e seguintes do antigo Código de
Processo Penal, que poderão, em consequência, aplicar-se com as devidas adaptações, nada
impede que os cidadãos possam doravante, exercer esse direito, depois que estejam reunidos os
respectivos pressupostos73.
De lá para cá, o Instituto do habeas corpus acompanhou todas as revisões constitucionais, inclusive
a última revisão constitucional de 2021. Assim, a actual Constituição consagra o habeas corpus no
art.º 68º. O nº 1. Estabelece genericamente que todos os cidadãos têm direito à providência de
habeas corpus contra o abuso do poder, em virtude de prisão ou detenção ilegal, a interpor perante
o Tribunal Competente. Já o nº 2 prevê, de forma mais específica, quanto à legitimidade para o
seu requerimento, que a providência do habeas corpus pode ser requerida pelo próprio ou por
72
Vasco A. Grandão RAMOS, Direito Processual Penal- Noções Fundamentais, Luanda, editora. Faculdade de
Direito/ UAN, 2009, Op.cit. p. 298.
73
Ibidem, p.299.
43
qualquer pessoa no gozo dos seus direitos políticos. E o nº 3 dispõe que “Lei própria regula o
processo de habeas corpus.
Para o professor Alexandre de Morales, o habeas corpus é uma garantia individual ao direito de
locomoção, consubstanciada em uma ordem dada pelo juiz ou tribunal ao coator, fazendo cessar a
ameaça ou coacção à liberdade de locomoção e em sentido amplo- o direito do indivíduo de ir vir
e ficar.
Maia Goncalves e Germano Marques Da Silva definem o habeas corpus como um modo de
impugnação de detenções ou prisões ilegais que funciona quando, por virtude de afastamento de
qualquer autoridade da ordem jurídica, os meios legais ordinários deixam de poder garantir
eficazmente a liberdade dos cidadãos e um direito subjectivo (direito-garantia) reconhecido para a
tutela de um outro direito fundamental, dos mais importantes, o direito à liberdade pessoal,
respectivamente.
António B. Alves define o habeas corpus como “remédio constitucional, contra o acto de
ilegibilidade, ou de abuso de poder, configurador de constrangimento à liberdade de locomoção.
Esse constrangimento pode efectivar-se na prisão ou detenção, bem como revestir forma de
ameaça ao direito de ir e vir.
44
2.7.2. Natureza Jurídica e finalidade do Habeas Corpus
A grande questão que se levanta neste ponto, é de saber se o habeas corpus é um recurso ou é
simplesmente uma providência extraordinária (direito à tutela jurisdicional efectiva). Coloca-se
esta questão porque muito se tem discutido a nível da doutrina e da jurisprudência sobre a sua
natureza jurídica.
Entendemos nós que as palavras do ilustre professor Germano Marques Da Silva são as mais
indicadas para começarmos esta abordagem, no entender do professor:
«O habeas corpus, é uma providência extraordinária para protecção da liberdade e não um processo
de reparação de direitos ofendidos. Assim, se a finalidade do habeas corpus é a proteger e não
reparar, somos de opinião que estamos perante uma providência, com fim cautelar e não de um
recurso, com fim meramente restabelecedor dos direitos violados. Em boa verdade, aos recursos
pertence a função de obter a reforma de uma decisão eventualmente injusta, pelo que ao Tribunal
Supremo é vedado substituir-se ao tribunal detentor da jurisdição do processo. Deste modo o habeas
corpus não pode ter por objecto a apreciação da bondade ou irregularidade das decisões judicias,
somos tentados a concluir que o habeas corpus é uma providência extraordinário»74.
O habeas corpus tem a finalidade de proteger a liberdade individual do abuso de poder, em clara
concordância com a função do poder judicial que o aplica: a de assegurar ou garantir os direitos
fundamentais. Concluímos esta ideia dizendo que, o habeas corpus não é mais do que a
intervenção do poder judicial, como remédio extraordinário para pôr fim abusos de poder, que
sejam ofensivos do direito à liberdade.
Aqui chegado, e assente que está a ideia de habeas corpus como uma providência extraordinária,
a questão colocada “ ab initio” modifica-se. O que interessa agora saber é se o habeas corpus
como providência extraordinária que é, pode coexistir com a figura do recurso. Em bom rigor, o
habeas corpus e o recurso ordinário, são duas soluções para o mesmo problema. Ambas as
figuras servem para atacar decisões consideradas ilegais. Compete ao preso, em princípio,
decidir de qual dos meios processuais se quer aproveitar, consoante os fundamentos da sua
pretensão, para fazer frente à ilegalidade cometida e que está a pôr em causa a sua liberdade.
Parece que nada obsta, pois, à apreciação do pedido de habeas corpus o facto de poder ser ou ter
sido interposto recurso da decisão que aplicou a prisão. Nestes casos, pede-se, é um especial
74
Germano Marques da SILVA, Curso de Processo Penal II, Op.cit. p.262.
45
cuidado e exigência na análise do pedido de habeas corpus, sob pena de se banalizar o ser uso e
provocar, consequentemente, um entupimento do Tribunal Supremo com pedidos infundados de
habeas corpus, além do mais, é fácil apurar quando se está perante uma situação de abuso de
poder e quando se está perante uma decisão judicial discutível em sede de recursos. Não
podemos, por isso, concordar com as vozes que falavam desta figura tão relevante como uma
figura subsidiária, só pelo simples facto de ser caracterizada como um meio extraordinário. De
facto, só assim é, porque se destina a fazer cessar situações anormais, extraordinárias e de
gravidade extrema: perante isto, seria insustentável a teoria de que o habeas corpus estava
dependente da impossibilidade de recorrer, isto é, entendia-se que o habeas corpus era inovável
apenas quando não existisse outro meio legal para se obter a apreciação da questão suscitada.
Não era este o entendimento mais correcto, chegando a haver (inclusive) quem falasse numa
duvidosa bondade da jurisprudência quando, tratando o habeas corpus como uma providência
extraordinária, julgava inadmissível a sua existência simultaneamente com o recurso ordinário.
AO
Meritíssimo Juíz e Presidente de
Comarca do Tribunal do Huambo
=HUAMBO=
46
corpus”, por extemponeidade da prisão preventiva do detido, datada desde do dia 03 de Março
à 22 de Outubro de 2023, perfazendo um total de sete (7) meses sem Pronúncia.
I
O arguido foi indiciado no crime de associação criminosa, previsto e punível no nº2 do artigo
296º do Código Penal Angolano, conforme os autos relata;
II
E que, Acusação em nossa posse e a prisão decretada pelo Digno Mstº Público, só aconteceu,
pelo facto do arguido ter sido suspeito de cometer o referido crime, que o levou a internar desde
do dia 03 de Março do corrente ano;
III
No primeiro interrogatório, o detido foi claro em esclarecer os factos, e reforçado pelo
Mandatário Judicial, de que; o crime, não foi cometido por ele o (detido) mas sim foi cometido
pelas crianças citadas, (cfr os autos) que por sinal são seus cunhados e residem em sua casa, o
que apesar deste génio esclarecimento, nada valeu as pretensões do Digno Magistrado do Mstº
Público;
IV
A pare do sucedido, o Mandatário Judicial, solicitou a Instrução contraditória nos termos do
artigo 332º do Código do Processo Penal Angolano.
V
O que lamentavelmente a Instrução Contraditória não foi admitida pelo que, o Tribunal alegou
ter sido remetido fora dos prazos;
VI
O que o Tribunal esqueceu que o Mandatário Judicial, apesar de estar legalmente constituído,
NÃO FOI DEVIDAMENTE CITADO, (cfr nos autos), se assim acontecesse (a citação) teria
lógica da contagem de prazos;
VII
Aliais, o processo fala por si. “ NÃO FOMOS NOTIFICADOS DA ACUSAÇÃO”,
VIII
Outrossim, o Tribunal devia considerar que, o facto do crime ser de natureza patrimonial, e o
facto deste (detido) ter devolvido os bens trazido pelas crianças em sua casa, e nos termos dos
artigos 138º, e 299º do Código Penal Angolano, pode-se considerar Outras causas da extinção do
crime pelo facto de não ter natureza grave;
IX
Aliais, já não podemos chorar pelo leite derramado, mas sim solicitamos a liberdade do detido
nos termos da al) b) do artigo 283º do Código do Processo Penal Angolano,
47
X
A defesa requer nos termos acima expostos, a LIBERDADE do detido por excesso da prisão
preventiva;
Pelo que
Esperamos pelo deferimento
Os advogados
_______________________________
As referidas leis ordinárias que restauram o Habeas corpus (Lei Cosntitucional de 1992 e a
Constituição de 2010) sempre avocaram uma Lei própria que havia de regular a sua aplicação- o
que nunca aconteceu até aos dias de hoje beliscando, em certa medida, a sua efectiva aplicação já
75
Baltazar Irineu da COSTA, Instituto do Habeas-corpus no processo penal angolano, Tese de mestrado na área, de
especialização em ciências Juridico-forenses apresentada à Faculdade de Direito da Universidade de Cuimbra,
Cuimbra 2015, p. 52.
48
que se afigura como uma exigência técnico jurídica dos operadores judiciários face as
controvérsias acima referidas.
Concorrem ainda na tímida aplicação desse instituto a falta ou fraca cultura jurídica dos cidadãos
sobre as garantias de defesa e liberdade individual, agravando o facto de ser reduzido o número de
cidadãos que recorrem aos serviços de assistência judiciária por razões financeiras- já que também
a via de patrocínio judiciário é perniciosa pelos transtornos burocráticos na sua solicitação à Ordem
dos Advogados, mormente a aquisição do atestado de pobreza nas Administrações Municipais.76
76
Ivi.
49
IIIº CAPÍTULO ANÁLISE DOS RESULTADOS
A metodologia científica está preocupada com a forma de realizar uma investigação, uma vez que
procura identificar e indicar os procedimentos, ferramentas e métodos mais apropriados para se
fazer ciência num determinado ramo do saber78.
Dentro da metodologia científica está o método científico que vem a ser um conjunto de
processos que devem ser empregados na investigação, isto é, uma forma de racionar e agir para
estudar e explicar um objecto.79
77
Mariana MARCONI, Fundamentos de Metodologia Científica, 4ª Edição. São Paulo, Editora Atlas S.A, 2007.
78
Demo, PEDRO, Introdução à metodologia da ciência, 2ª Edição Atlas, São Paulo, 1985, p.19
50
geral, isto é, um conhecimento mais aprofundado e claro sobre o assunto buscando novas
dimensões e reuni-las para poder formular o questionário e conduzir devidamente a pesquisa.
Em 2022 a Provedoria de Justiça no âmbito das suas competências foi notificada com 17
casos de excesso de prisão preventiva:
Sendo que no Iº Trimestre de 2022 esta instituição registou 11 casos de excesso de prisão
preventiva;
Deste modo, importa realçar que estes casos de excesso de prisão preventiva nem todos
foram solucionados ou resolvidos devido a natureza do crime cometido pelos detidos. Porém, no
âmbito das suas competências a Provedoria de Justiça recorreu da providência de Habeas Corpus
para pôr em liberdade alguns dos detidos que se encontravam em excesso de prisão preventiva
51
com crimes de tráfico de arma , ofensa a integridade física com uma moldura penal de 1 ano ou
com a de multa até 120 dias, nos termos do artigo 159º CPPA, e crimes de homicídio
preterintencional sendo que a natureza dos crimes por eles cometidos os favorecia a beneficiarem
desta providência de habeas corpus que permite que sejam postos em liberdade.
Porém, pela natureza do crime no âmbito das suas competências a Provedoria de Justiça através
da Providência de Habeas Corpus solicitou a liberdade desses detidos.
Masculino-574;
Feminino-10;
Masculino-691;
Feminino-16;
Estrangeiros-2.
52
o caso da superlotação nas Prisões como também viola os direitos e garantias do arguido
constitucionalmente consagrados.
53
CONCLUSÃO
Na ordem jurídica angolana, o arguido goza do principio constitucional de presunção de inocência
ao longo da marcha processual, mas ele tem de suportar, nos casos de inadmissibilidade de
liberdade provisória, encargos com a sua sujeição à prisão preventiva até que haja no processo um
despacho de arquivamento da acusação, de não pronúncia ou uma sentença absolutória transitada
em julgado, para que possa ver a sua liberdade restituída. Isto porque contra si recaí uma suspeita.
Ora essa situação acaba por causar danos irreparáveis, não só ao arguido que posteriormente venha
a ser declarado inocente, mas também aos seus próximos, sobretudo quando aquele era o único
garante do sustento familiar.
As presunções legais não podem servir, por si só, de fundamento para a imposição da prisão
preventiva ao arguido, é essencial, para a sua aplicação, a existência nos autos de fortes indícios
de que o arguido em liberdade constitui uma ameaça grave de perturbação do processo, ou de
escapar à acção penal. Por outro lado, a ele deve ser sempre garantida a possibilidade de se
defender da referida medida, sendo, por isso, necessário que lhe seja dado a conhecer, sem
excepções, as razões que fundamentam a sua prisão.
Durante a nossa pesquisa contatamos que a prisão preventiva é uma medida de coacção pessoal e
é aplicada ao arguido sempre que se considerar inadequadas ou insuficientes as outras medidas de
coacção e o crime for doloso, punível com prisão superior no seu limite máximo, a 3 anos e
existirem fortes indícios da sua prática, a prisão preventiva é a medida mais grave dentre as outras
medidas de coacção pessoal. De realçar que os princípios da necessidade, da adequação e da
subsidiariedade devem presidir sempre a prisão preventiva não só no momento da aplicação, mas
também devem servir de base para a sua manutenção.
Portanto, concluímos que o excesso de prisão preventiva acontece naqueles casos em que foram
esgotados todos os prazos da prisão preventiva e ainda assim o arguido continua preso em alguns
casos por conta da natureza do crime que cometeu e o Juiz acha por bem o manter ainda em prisão
preventiva e noutros casos o excesso acontece por conta da morosidade processual que existe nos
Tribunais, SIC e PGR violando assim os direitos e garantias constitucionalmente consagrados
quanto ao direito dos detidos. Essa morosidade em alguns casos se deve a falta de recursos
humanos nessas instituições.
Deste modo, sempre que estivermos diante de um caso de excesso de prisão preventiva e essa
prisão for ilegal o arguido tem o direito à liberdade constitucionalmente consagrada através da
providência do Habeas Corpus.
54
Recomendações
Depois da recolha de dados e informações que nos foram dadas temos as seguintes recomendações:
55
Referências Bibliográficas
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1
http://www.migalhas.com.br/depeso/381951/o-que-e-prisão-preventiva, acesso 5 de Janeiro de
2024, Huambo, 10:30m.
TESE
COSTA, Baltazar Irineu da, Instituto do Habeas-corpus no processo penal angolano, Tese de
mestrado na área, de especialização em ciências Juridico-forenses apresentada à Faculdade de
Direito da Universidade de Cuimbra, Cuimbra 2015.
LEGISLAÇÕES COMPLEMENTARES
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE ANGOLA, imprensa Nacional, Luanda 2011
CÓDIGO CIVIL, imprensa Nacional, Luanda 1996
CÓDIGO PENAL ANGOLANO; Lei 39/20 de 11 de Novembro, imprensa Nacional, Luanda
2020
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL ANGOLANO, Lei 39/20 de 11 de Novembro, imprensa
Nacional, Luanda 2020
57
Anexo
Questionário feito na Provedoria de Justiça do Huambo
58